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quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A Última Sessão de Cinema

O tema desse filme é a desilusão. Basta conhecer a história que o filme conta para entender a nuance desse roteiro. Entre a 2ª Guerra Mundial e a Guerra da Coreia, dois jovens que vivem em Anarene, uma pequena cidade no Texas, precisam enfrentar os desafios da vida adulta. Eles se parecem fisicamente, mas mentalmente e emocionalmente, vivem em diferentes planos, sendo que enquanto Duane (Jeff Bridges) é agressivo, Sonny (Timothy Bottoms) é bem mais sensível. Boa parte do tempo deles é passado no pequeno cinema da cidade e no salão de sinuca. Enquanto Duane tenta se firmar frequentando festas de embalo, Sonny é iniciado no sexo por Ruth Popper, a frustrada esposa do seu treinador. Porém, independente do que aconteça, a cidade está morrendo silenciosamente e lentamente enquanto a vida deles tomam rumos inesperados.

O roteiro do filme sempre foi bastante elogiado por ter inovado em sua narrativa, que é mais baseada em episódios esporádicos do que numa linha de narração mais tradicional. Os jovens do filme aos poucos vão entendendo que fazem parte de um círculo sem fim, que se repete de geração em geração. O clima de melancolia está em todas as cenas, trazendo uma sensação de tédio e desespero ao espectador. É uma produção que revista hoje em dia soa bem desconfortável, seca, sem qualquer tipo de facilitação para aquele que se atreve a ver a obra.

Até hoje é considerada a obra prima do diretor Peter Bogdanovich - e com toda a razão. É em essência um filme fundamentado em ótimas atuações e diálogos precisos. Nâo é para menos que seus dois Oscars foram pelo trabalho do elenco. Ben Johnson venceu o prêmio de melhor ator coadjuvante e Cloris Leachman de melhor atriz coadjuvante. Além deles, brilha também a intensidade da atuação de Jeff Bridges, ainda bem jovem, mas já demonstrando que tinha muito talento e, é claro, Cybill Shepherd, que está linda, também muito jovem e carismática. Curiosamente ela só se tornaria uma verdadeira estrela com a série "A Gata e o Rato" na TV americana durante os anos 80. Enfim, um verdadeiro clássico cult, muito rico em desenvolver as nuances e complexidades psicológicas de seus personagens. Para ver e entender melhor os rumos do cinema independente americano durante os anos 1970.

A Última Sessão de Cinema (The Last Picture Show, Estados Unidos, 1971) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Peter Bogdanovich / Roteiro: Larry McMurtry, Peter Bogdanovich / Elenco: Timothy Bottoms, Jeff Bridges, Cybill Shepherd, Ben Johnson, Ellen Burstin, Cloris Leachman / Sinopse: O filme conta a história de jovens em uma pequena cidade decadente do interior do Texas. Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor ator coadjuvante (Ben Johnson) e melhor atriz coadjuvante (Cloris Leachman).

Pablo Aluísio. 

O Profundo Mar Azul

Título no Brasil: O Profundo Mar Azul
Título Original: The Deep Blue Sea
Ano de Produção: 1955
País: Inglaterra
Estúdio: London Film Productions
Direção: Anatole Litvak
Roteiro: Terence Rattigan
Elenco: Vivien Leigh, Kenneth More, Eric Portman, Emlyn Williams, Moira Lister, Arthur Hill

Sinopse:
O filme "O Profundo Mar Azul" nos mostra a história de Hester Collyer (Vivien Leigh), uma mulher reprimida que embora tente seguir os padrões sociais vigentes em relação ao casamento, acaba sucumbindo aos seus desejos mais inconfessáveis. Ao trair seu marido, acaba sendo acusada de adultério, caindo em uma espécie de marasmo social onde acaba sofrendo todos os tipos de preconceitos possíveis e imagináveis.

Comentários:
Mais um excelente drama da carreira de Vivien Leigh que infelizmente ainda se mostra um tanto desconhecido do grande público nos dias atuais. Baseado na peça teatral de Terence Rattigan (que assina o roteiro), o projeto nasceu justamente quando a própria Leigh assistiu a peça original em Londres em 1953. Ela imediatamente entrou em contato com o autor e comprou os direitos da obra para ser levada ao cinema. A atriz, muito sensível e corajosa, queria enfocar a situação das mulheres que sofriam preconceitos dentro da sociedade inglesa após se divorciarem de seus maridos. O peso se tornava ainda mais insuportável quando elas eram, sob o ponto de vista da sociedade, as culpadas pelo fim do casamento. O interessante é que o roteiro, extremamente bem escrito, tenta demonstrar que na realidade não existem culpados nesse tipo de problema conjugal, pois se a mulher realmente procura os braços de um outro homem isso significa apenas que o casamento como laço de amor e paixão já estava destruído. Ótimos diálogos e atuação sensível de Vivien Leigh deixam ainda mais interessante a produção. Um tema que ainda continua atual, mesmo tantas décadas depois de seu lançamento original. Um clássico dramático imperdível. Filme indicado ao BAFTA Awards nas categorias de melhor roteiro e melhor ator (Kenneth More).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Capricho

Mais um momento menor da filmografia da atriz Doris Day, aqui em uma fase mais avançada em sua carreira, já caminhando para o final da década de 1960 que de certa forma iria marcar também o fim de sua fase de maior popularidade na indústria do cinema americano. O seu estilo não iria sobreviver ao chamado verão do amor, quando o movimento hippie tomou conta da cultura e da contracultura dos Estados Unidos. Dentro desse contexto pouca coisa era mais fora de moda e ultrapassada do que as personagens que Doris Day interpretava nas telas. Para os jovens da época ela aparecia apenas como uma estrela dos tempos de seus pais, tempos mais inocentes. A história era bem na linha de seus filmes do passado. Patricia Foster (Doris Day) é a executiva de uma indústria de cosméticos francesa sediada em Paris que é enviada até os Estados Unidos para espionar o que os concorrentes estão inventando para o mercado mundial. Lá acaba tendo que lidar com um gerente metido a galã que deseja conquistá-la, para por sua vez, também roubar os segredos da antiga empresa em que Foster trabalhou.

De certa maneira eu esperava muito mais dessa comédia dos anos 60. O filme foi dirigido pelo ótimo Frank Tashlin, que realizou os melhores filmes de Jerry Lewis, também era protagonizado pela estrela Doris Day. Para completar tinha um roteiro esperto, que transformava a personagem de Doris em uma espiã industrial dentro de uma grande empresa americana de cosméticos. Tudo parecia se encaixar bem mas... infelizmente o filme é bem fraco, com medo de ousar, ir além! Essa foi uma das últimas aparições de Doris Day no cinema - mais dois filmes e ela encerraria sua carreira de uma vez por todas. Doris que estava tão brilhante em tantos filmes ao lado de Rock Hudson aqui está visivelmente no controle remoto.

O conhecido talento para comédias não se repetiu. Doris Day parece aborrecida com o roteiro que tem em mãos. Ela surge assim declamando seu texto sem nenhum empenho ou motivação. Parece até mesmo entediada em cena. Nunca tinha visto ela tão mal em um filme como aqui! Para resumir seu trabalho é muito abaixo da média e Doris afunda o filme. Para piorar tentaram transformar Richard Harris numa espécie de "Rock Hudson inglês", ou seja, o mesmo personagem de Rock nos filmes ao lado de Doris, a do Playboy que é um verdadeiro conquistador barato que sai dando em cima de todas as garotas que conhece. Isso também não deu certo. No final tudo o que sobra para o espectador é uma grande decepção cinematográfica.

Capricho (Caprice, Estados Unidos, 1967) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Frank Tashlin / Roteiro: Jay Jayson, Frank Tashlin / Elenco: Doris Day, Richard Harris, Ray Walston, Jack Kruschen, Edward Mulhare / Sinopse: O filme mostra os bastidores da indústria de cosméticos, onde Patricia Foster (Doris Day) acaba se tornando espiã de importantes segredos industriais.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

À Sombra de um Gigante

Clássico do cinema americano, filme produzido e lançado na década de 1960. Qual é a história do filme? Após o fim da segunda grande guerra mundial, o coronel David 'Mickey' Marcus (Kirk Douglas) volta para a vida civil. Advogado de formação, ele retorna para seu escritório em Nova Iorque, mas é logo procurado por um grupo de judeus que pedem por sua ajuda. Há uma nova nação e um novo exército. É preciso mais do que nunca alguém que tenha experiência de guerra na liderança das forças armadas de Israel. O país criado em cima do território da Palestina é cercado por inimigos por todos os lados e Marcus é chamado para organizar um exército com os jovens idealistas que estavam dispostos a lutar por Israel. Detalhe: eles não não tinham  qualquer tipo de experiência nesse campo ou treinamento militar. Esse filme conta uma história importante na formação do Estado de Israel, quando surgiu a necessidade de criar e estruturar as forças armadas daquela jovem nação. 

Como não havia experiência militar entre os jovens que se mudaram para aquela região após a criação do país, foi necessário a contratação de militares experientes para coordenar e desenvolver todos esses preparativos. O personagem interpretado por Kirk Douglas é justamente um desses homens que vão para Israel para dar os primeiros movimentos na criação de uma força militar poderosa naquela região. Todos os eventos que vemos no filme são inspirados em fatos históricos reais. Depois do que aconteceu na II Guerra, dos tristes e lamentáveis eventos do holocausto, o povo judeu, como era de esperar, precisava agora se armar e se tornar uma potência militar para proteger todos os membros de sua nação. E os militares americanos tiveram um papel importante nessa reestruturação, contribuindo com seus conhecimentos e experiência no campo de batalha. Os resultados foram excelentes, a tal ponto que em poucos anos Israel se tornou a maior potência militar do Oriente Médio. Inclusive seu teste de fogo não iria demorar muito. Em pouco tempo o país entraria em guerra com o Egito e se sairia vencedor desse conflito.

O diretor Melville Shavelson fez um bom trabalho para a United Artists. Por causa do tema a produção contou com a boa vontade de um excelente grupo de atores de Hollywood. Há três astros no filme, todos campeões de bilheteria na época. Além de Kirk Douglas, o elenco ainda trazia o grande John Wayne em um papel coadjuvante e o cantor Frank Sinatra, em um papel ainda menor. E aqui temos aquele velho problema que sempre surgia em filmes com grandes elencos. Não havia espaço para todos. Sempre alguém era desperdiçado em cena. Foi justamente o caso de John Wayne e Frank Sinatra. Seus personagens são até importantes na história, mas os atores não contaram com tempo suficiente para desenvolvê-los bem. De qualquer forma procure relevar esse aspecto. O filme já é importante apenas pelo tema histórico mostrado. Todo o resto são apenas pequenos detalhes cinematográficos.

À Sombra de um Gigante (Cast a Giant Shadow, Estados Unidos, 1966) Estúdio: United Artists / Direção: Melville Shavelson / Roteiro: Melville Shavelson, baseado na obra de Ted Berkman / Elenco: Kirk Douglas, John Wayne, Yul Brynner, Frank Sinatra, Angie Dickinson, Senta Berger / Sinopse: O filme conta a história de um veterano militar americano que é contratado pelo Estado de Israel para ajudar na criação das forças armadas daquele país, em um momento histórico em que Israel estava se formando politicamente.

Pablo Aluísio.

A Patrulha da Esperança

Clássico filme de guerra. Qual é a história? O coronel Pierre Raspeguy (Anthony Quinn) e seus homens ficam cercados por um grande exército de libertação nacional em Dien Bien Phu na Indochina. Depois da derrota, são feitos prisioneiros e após algum tempo são finalmente libertados quando a França desiste de sua intervenção militar no país. De volta à Paris tudo o que o coronel deseja é retornar para o campo de batalha e ele consegue seu objetivo ao ser designado para comandar uma tropa de elite a ser enviada para a Argélia, colônia francesa que luta por sua independência. Filme tecnicamente muito bem realizado, com ótimas sequências de batalha e ação, mas novamente um pouco confuso sob o aspecto político. O filme começa na Indochina, que naquele momento tentava se livrar do poderio e domínio do imperialismo francês. Os soldados liderados por Anthony Quinn estão encurralados e a única saída é a rendição aos inimigos. Depois de algum tempo presos, são finalmente libertados depois que a França se conscientiza que aquela guerra é uma perda inútil de homens, equipamentos e dinheiro. 

O curioso aqui é chamar a atenção para o fato de que após a retirada da França da Indochina, que passaria a se chamar Vietnã, iria se abrir um vácuo de poder na região, o que iria resultar na intervenção dos Estados Unidos. E isso, anos depois, iria dar origem também à Guerra do Vietnã. Um grande desastre militar para os americanos. Depois que voltam para a França, a tropa comandada pelo Coronel  Raspeguy (Anthony Quinn) é novamente enviadas para o front, só que dessa vez na Argélia, e lá começam a combater os argelinos que lutam pela independência de seu país! Pois é, o fato é que esse roteiro tem como protagonistas soldados que estavam sempre lutando pelo imperialismo de Paris contra povos que apenas tinham como objetivo sua libertação desse tipo de colonialismo anacrônico. Assim o roteiro derrapa nesse aspecto, pois tem um viés equivocado, trazendo a mesma visão que iria levar à guerra da Argélia e até mesmo à guerra do Vietnã, duas experiências que França e Estados Unidos jamais iriam esquecer por causa do tamanho do desastre que foi.

Porém, tirando esse aspecto político de lado, o espectador terá um filme de guerra bastante eficiente, com ótimas tomadas de combate como atrativo, em especial a cena final onde rebeldes argelinos e tropas francesas se enfrentam numa montanha com ruínas da época do império romano ao fundo. Nesses tempos o cinema não tinha recursos digitais para recriar esse tipo de combate em computadores e nada do tipo. Tudo era feito de forma real, com centenas de milhares de figurantes, explosões, veículos de guerra, etc. E filmar tudo em lugares desertos tornava a produção ainda mais complicada. Então é isso, "Lost Command" não tem uma visão política correta daquele período histórico, mas se salva pela grandeza de suas cenas de ação e guerra, o que hoje em dia é certamente o que mais irá atrair o fã de cinema clássico.

A Patrulha da Esperança (Lost Command,  Estados Unidos, 1966) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Mark Robson / Roteiro: Jean Lartéguy, Nelson Gidding / Elenco: Anthony Quinn, Alain Delon, George Segal / Sinopse: Militares franceses veteranos da guerra da Indochina são enviados novamente para o campo de batalha, no norte da África, onde forças rebeldes argelinas lutam pela independência de sua nação do imperialsmo francês.

Pablo Aluísio.

domingo, 17 de janeiro de 2021

Comboio Para o Leste

Em 1943, ainda na época da II Guerra Mundial, o astro de Hollywood Humphrey Bogart atuou nesse clássico do cinema. Na época o grande receio dos navios mercantes que cruzavam os mares era a presença ameaçadora de submarinos da marinha da Alemanha nazista. Diversas embarcações foram afundadas nesse período histórico. O filme conta uma dessas histórias. Um petroleiro americano é afundado por um submarino alemão e os sobreviventes passam 11 dias no mar em uma balsa. Sua única possibilidade de salvação é o navio "Sea Witch" que está se dirigindo até o porto de Murmansk no Atlântico Norte. Esse foi o primeiro filme de Humphrey Bogart após ele realizar o maior filme de sua carreira, o clássico "Casablanca". Como se pode ver pelo enredo, Bogart ainda estava empenhado no esforço de guerra dos aliados, o que era de esperar pois o filme foi realizado em 1943 e a Segunda Guerra Mundial ainda assolava o mundo. O filme explora a chamada batalha do Atlântico Norte, quando vários navios mercantes foram afundados por submarinos alemães. Os nazistas não tinham o menor receio de atirar em navios civis, levando pessoas e cargas. Obviamente mais um crime de guerra dos seguidores de Hitler.

Nesse filme o ator Humphrey Bogart interpretou um personagem heroico que a Warner quis vender como uma espécie de "Sargento York", uma produção clássica de enorme sucesso na época. Na realidade, se formos analisar bem, pouca coisa pode ser comparada. Esse filme com Bogart tem produção bem mais modesta, fotografia em preto e branco e mostra sinais da dificuldade técnica da época em recriar as batalhas entre submarinos e a Marinha americana, que na época usava cargas de profundidade para destruir as frotas alemãs de U-Boats. Movimentado, não tenta ser o que não é, pois no fundo é uma produção de ação e aventura, com muita mensagem de patriotismo para quem estava no front de guerra. Um clássico para se divertir, acima de tudo.

Comboio Para o Leste (Action in the North Atlantic, Estados Unidos,  1943) Estúdio: Warner Bros / Direção: Lloyd Bacon, Byron Haskin / Roteiro: John Howard Lawson, Guy Gilpatric / Elenco: Humphrey Bogart, Raymond Massey, Alan Hale / Sinopse: O roteiro desse clássico dos filmes de guerra explora o afundamento de navios mercantes por parte da marinha da Alemanha nazista durante a II Guerra Mundial. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor roteiro original (Guy Gilpatric).

Pablo Aluísio.

O Homem Invisível

Título no Brasil: O Homem Invisível
Título Original: The Invisible Man
Ano de Produção: 1933
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: James Whale
Roteiro: R.C. Sherriff
Elenco: Claude Rains, Gloria Stuart, William Harrigan, Henry Travers, Una O'Connor, Forrester Harvey

Sinopse:
Baseado na obra do imortal H.G. Wells, o clássico do cinema "O Homem Invisível" conta uma história de terror e suspense. O Dr. Jack Griffin (Claude Rains), um cientista renomado, consegue encontrar a fórmula da invisibilidade. Após resolver experimentar em si mesmo a estranha substância começa a sentir os efeitos danosos que modificam não apenas seu corpo mas também sua mente que começa a se deteriorar de forma gradual.

Comentários:
Um clássico do cinema de horror americano. O filme lançado na década de 1930 ainda hoje surpreende por causa da incrível imaginação de seus realizadores. Imagine realizar uma obra como essa, naquela época distante, onde poucos eram os recursos em termos de efeitos especiais. Para contrabalancear isso há um primoroso trabalho técnico, lidando com pequenos truques de câmera e maquiagem que funcionaram excepcionalmente bem. Some-se a isso o fato do diretor James Whale ter privilegiado as tomadas de suspense e você terá uma pequena obra prima em mãos. O roteiro, baseado na clássica estória do escritor (e gênio) H.G.Wells, novamente lida com o medo dos rumos perigosos que a ciência poderia tomar. Curiosamente o enredo também explora muito bem questões como ética na ciência e os limites do conhecimento humano. O próprio cientista se torna vítima e algoz ao mesmo tempo de suas experiências. Lançado em pleno verão de 33 o filme acabou se tornando um grande campeão de bilheteria, principalmente pela garotada que lotava as sessões para curtir essa inovadora ideia. Era o nascimento da cultura pop americana, impulsionada por filmes como esse, gibis, música e literatura de bolso.

Pablo Aluísio.

sábado, 16 de janeiro de 2021

Josey Wales - O Fora da Lei

"Josey Wales - O Fora da Lei" é um clássico faroeste da carreira do ator e diretor Clint Eastwood. Na história temos o protagonista, Josey Wales (Clint Eastwood), um pequeno rancheiro que vive da terra ao lado de sua esposa e seu filho. Sua vida passa por uma tragédia pessoal quando um grupo de soldados da União entra em sua propriedade e mata sua mulher e o garoto pelo simples fato da família ser sulista do Missouri. Não contentes, ainda colocam fogo na casa do rancho. Apunhalado, Josey não consegue salvar sua amada família. Depois de recuperado, entra nas fileiras das tropas confederadas para lutar contra o exército que massacrou seus familiares. Lá cria fama de bom atirador e soldado valente. Ao final da guerra civil fica sem rumo certo. mas não entrega suas armas ao inimigo, o que faz com que seja caçado e procurado por caçadores de recompensas e oficiais do exército americano pelos lugares mais inóspitos do oeste americano."The Outlaw Josey Wales" é um ótimo western, bem acima inclusive de outros faroestes clássicos estrelados por Clint Eastwood. Seu personagem Josey Wales é muito bem escrito. Um veterano confederado que entra na guerra para se vingar das tropas federais. Se negando a se render, ele leva em frente sua própria guerra pessoal contra os soldados da União. O personagem assim funciona como um símbolo do sentimento sulista e confederado dos Estados Unidos, que com muito orgulho jamais aceitou a derrota no conflito mais sangrento da história americana.

Clint Eastwood também capricha na caracterização de seu papel, fazendo um sujeito de poucas palavras. mas rápido no gatilho que tem um hábito horrível, mas muito divertido, de sair cuspindo fumo mascado em todo lugar! Até o pobre cachorrinho que o segue pelo deserto vira alvo! Ao seu lado brilha a honesta interpretação de Chief Dan George que interpreta um velho índio, cansado de guerra, desiludido pelas mentiras contadas pelo homem branco ao longo de todas aquelas décadas. Esse foi o sexto filme dirigido por Clint Eastwood, produzido por sua própria companhia de cinema, a Malpaso Company. Impossível negar que ele já mostra uma maturidade incrível na direção, não deixando o filme cair no marasmo ou no lugar comum em nenhum momento. O roteiro escrito pelo futuro cineasta Philip Kaufman de "Os Eleitos" e "A Insustentável Leveza do Ser", entre outros, certamente ajuda muito para o belo resultado final. É um texto muito bem escrito, com ótimo desenvolvimento, sem qualquer erro em seu enredo. Mesmo cenas mais fortes como a da tentativa de estupro coletivo promovida por um grupo de comancheros em cima da personagem de Sondra Locke (que se tornaria mulher de Clint na vida real) não soam fora do contexto ou desproporcionais. Tudo está em seu devido lugar. Em suma, um grande faroeste que não pode faltar na coleção de nenhum fã do gênero. Clint Eastwood mais uma vez está perfeito no velho oeste. Não deixe de assistir.

Josey Wales - O Fora da Lei
(The Outlaw Josey Wales, Estados Unidos,  1976) Estúdio: Warner Bros, Malpaso Company / Direção: Clint Eastwood / Roteiro: Philip Kaufman, baseado no livro de Forrest Carter / Elenco: Clint Eastwood, Sondra Locke, Chief Dan George, Bill McKinney / Sinopse: Josey Wales é um homem em busca de vingança. Após a morte de sua família, de forma covarde, ele parte para se vingar de todos os que cometeram esse crime. Todos os soldados da União devem pagar. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor música (Jerry Fielding).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Cavalgada dos Proscritos

Em 1980 chegou aos cinemas esse bom western intitulado "Cavalgada dos Proscritos". Na história o famoso criminoso do velho oeste Jesse James (James Keach) e seu irmão Frank James (Stacy Keach) resolvem formar um bando de assaltantes de bancos e trens no Missouri do século XIX, poucos meses depois do fim da guerra civil. Ao lado dos irmãos Youngers eles colocam as pequenas cidades do oeste em pavorosa. Para enfrentá-los a agência de investigação Pinkerton envia seus melhores homens. Esse é mais um filme enfocando a lendária figura do fora da lei Jesse James (1847 - 1882). O roteiro procura inovar bastante na forma como conta essa história. Assim ao invés de focar exclusivamente na figura de Jesse James, o texto procura também desenvolver os outros homens de seu bando, em especial os irmãos Youngers, que cavalgaram por muitos anos ao lado de Jesse. 

Há três grandes cenas nessa produção que merecem menção. A primeira quando o grupo fica encurralado numa casinha de madeira no pé da montanha. Cercados pelos Pinkertons eles precisam descer um desfiladeiro em debandada debaixo de uma chuva de tiros. Outra cena muito boa é o tiroteio final ocorrido nas ruas de uma cidadezinha de Minnesota. Nessa sequência em particular o estilo do diretor Walter Hill homenageia o grande Sam Peckinpah ao filmar tudo em câmera lenta, mostrando todos os mínimos detalhes da violência do confronto entre bandidos e policiais. Por fim há a cena que abre a história. Nesse momento o que é valorizado é a tensão pois o grupo está em um banco, cercado por homens da lei do lado de fora. Curiosamente o bando de Jesse James é formado por três grupos de irmãos no elenco, os Carradines (David, Keith e Robert), os Quaids (Dennis e Randy) e os Keachs (James e Stacy), tudo contribuindo para o excelente resultado final desse western que é certamente muito recomendado para os fãs do gênero.

Cavalgada dos Proscritos (The Long Riders, Estados Unidos, 1980) Estúdio: United Artists, MGM / Direção: Walter Hill / Roteiro: Bill Bryden, Steven Smith / Elenco: David Carradine, Stacy Keach, Dennis Quaid, Keith Carradine, Robert Carradine, James Keach, Stacy Keach, Randy Quaid, Nicholas Guest / Sinopse: No velho oeste americano o criminoso e pistoleiro Jesse James decide formar uma quadrilha especializada em roubos a bancos e ferrovias. Assim que os primeiros crimes são cometidos, um grupo de homens da lei começa a caçar os bandidos. Filme indicado ao Cannes Film Festival.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

A Noite da Emboscada

Título no Brasil: A Noite da Emboscada
Título Original: The Stalking Moon
Ano de Produção: 1968
País: Estados Unidos
Estúdio: National General Production Inc
Direção: Robert Mulligan
Roteiro: Alvin Sargent, Wendell Mayes
Elenco: Gregory Peck, Eva Marie Saint, Robert Forster, Russell Thorson, Frank Silvera, Lonny Chapman

Sinopse:
Um destacamento da cavalaria americana acaba encontrando uma mulher branca no meio de um bando de Apaches acampados no meio do deserto. Há muitos anos ela fora raptada por guerreiros da tribo e lá, feita prisioneira, acabou tendo um filho mestiço. Agora, em liberdade, ela pretende voltar para sua cidade natal e para isso acaba contando com a preciosa ajuda de Sam Varner (Gregory Peck), um batedor civil do exército que agora tem planos de voltar para seu rancho, localizado no Novo México. Tudo parece correr bem até que Sam descobre que o pai do garoto índio que viaja ao lado da mãe, está em busca deles. O conflito então se tornará inevitável.

Comentários:
Mais um ótimo western estrelado pelo grande ator Gregory Peck. O filme tem muitas peculiaridades que o tornam mais do que interessante. Um deles é a posição da mulher branca que tendo um filho mestiço com um guerreiro Apache (não por vontade própria, mas por ser prisioneira) acaba sentindo ela própria todo o preconceito racial contra os índios naquela região. Para piorar tudo, ela ainda tem que contar com o fato da incerteza pelo que lhe espera no mundo dos brancos, pois seus parentes mais próximos foram mortos quando ela foi raptada e paira uma dúvida sobre se ainda existem parentes distantes vivos para a cidade onde ela quer retornar, Columbus. E como reagirá sua família branca ao ter que lidar com um filho mestiço, fruto de estupro por parte do pai do garoto? São questões melindrosas que o roteiro não discute abertamente, mas que deixa bem subentendido.

Como o próprio nome do filme sugere, grande parte do filme se passa no rancho do personagem interpretado por Peck quando ele e os demais sofrem uma emboscada mortal do guerreiro Salvaje (Nathaniel Narcisco). Esse por sua vez é muito bem explorado pelo roteiro pois quase nunca se mostra totalmente, mais parecendo uma sombra na colina, espalhando mortes terríveis por onde passa. O duelo final entre Sam (Peck) e Salvaje assim se torna muito esperado pelo espectador e quando isso acontece certamente não decepciona. Também era de se esperar, pois o diretor Robert Mulligan também assinou outras pequenas e grandes obras primas como "O Sol É Para Todos" (com o mesmo Peck no elenco) e "Quando Setembro Vier" (ótima comédia romântica com o galã Rock Hudson). Assim deixo a recomendação desse "A Noite da Emboscada" para os fãs de faroestes clássicos. É um item para se ter na coleção de qualquer admirador desse gênero cinematográfico.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Joana D'Arc

Grande clássico do cinema, contando a história de uma das personagens mais famosas da Idade Média. No século XV, em plena guerra dos cem anos entre Inglaterra e França, surge uma pobre camponesa chamada Joana (Ingrid Bergman) afirmando que Deus teria lhe dado uma missão divina. Ela deveria marchar com as tropas francesas para expulsar o invasor inglês de seu país. Ainda mais, após a vitória ela deveria ajudar a colocar no trono o futuro Rei Carlos VII (José Ferrer). Animados pela presença da vidente em suas fileiras, o exército francês começa uma série de campanhas vitoriosas contra as tropas do exército do Rei britânico Henrique VI, virando completamente os rumos do sangrento conflito. Após atingir seus objetivos, concretizando o que diziam suas vozes a agora adorada pelo povo, Joana D'Arc, de apenas 19 anos, acaba sendo traída e enviada para um tribunal religioso corrompido pela coroa da Inglaterra. Seu destino acaba se tornando trágico. Excelente filme histórico, dirigido por Victor Fleming, o mesmo cineasta do clássico imortal "E O Vento Levou". Aqui temos uma das personagens históricas mais conhecidas de todos os tempos, Jeanne d'Arc (1412 - 1431). Heroína francesa, ela se tornaria santa católica séculos depois de sua morte, quando o Papa Bento XV finalmente reconheceu que seu julgamento foi uma grande farsa, comandada por interesses políticos ingleses. Afinal ela seria considerada a grande responsável pelas derrotas sofridas pelas tropas do Rei Henrique VI.

Joana foi um símbolo, tanto do ponto de vista religioso como político. De certa forma ela foi usada pelos franceses como um sinal divino de que, naquela guerra que parecia interminável, Deus estaria do lado da França. Isso de fato aumentou a moral do exército francês que a partir daí colecionou vitórias e mais vitórias contra os ingleses. Infelizmente Joana estava do lado de um Rei francês corrupto, fraco e frívolo chamado Carlos VII, que não pensou duas vezes em praticamente vendê-la aos ingleses em troca de uma grande soma em dinheiro. Nas mãos dos inimigos foi montado um julgamento completamente parcial que tinha como único e exclusivo objetivo a enviar para a fogueira para ser queimada como herege e bruxa. E de fato os ingleses a chamavam de feiticeira durante as sangrentas batalhas das quais participou. A produção é de excelente nível. Indicada a vários Oscars e vencedor do prêmio nas categorias de Melhor Figurino e melhor direção de fotografia. O filme se revelou tão complicado de se filmar que o estúdio contratou três diretores, sendo que todos eles foram premiados com o Oscar. A atriz Ingrid Bergman encarna a guerreira com perfeição. Ora inocente, ora seguidora de uma fé cega, Joana logo cai nas mãos de traidores que nem pensaram duas vezes antes de a enviar para um terrível martírio. Temos que reconhecer que há uma clara simplificação na história de Joana no filme. Isso é até fácil de entender pois a intenção não era fazer um épico com três ou mais horas de duração. Assim a trama política que envolveu Joana na vida real foi simplificada para dar mais agilidade ao roteiro, decisão que se mostra acertada pois o filme realmente tem um desenvolvimento excelente, jamais cansando o espectador.

Na época em que viveu, Joana teve muitos inimigos, príncipes gananciosos, nobres ateus, pequenos reinados e feudos que a queriam morta. Como forma de enxugar tudo isso os roteiristas colocaram apenas os ingleses e os borguinhões como seus inimigos viscerais. O julgamento de Joana, que ficou famoso na história, tema de inúmeros livros e filmes, também foi simplificado, contando apenas com os mais marcantes momentos. Nada disso porém traz o menor demérito ao filme que certamente continua excelente, mesmo revisto hoje em dia. Como Joana D'Arc sempre foi uma personagem muito marcante na história, o cinema de vez em quando realiza produções explorando sua enigmática biografia. São mais de 90 filmes feitos enfocado a santa guerreira medieval. Essa produção da RKO pode certamente ser considerado uma das melhores, até porque conta com a preciosa e iluminada interpretação de Ingrid Bergman, musa do cinema que ficou imortalizada no eterno clássico "Casablanca". Ela está no tom certo e em termos estéticos ficou maravilhosa com os cabelos curtos tão característicos de Joana. Também adota uma postura de grande respeito com a sua personagem, a tornando muito digna e devota, tal como os livros de história a retrataram por todos esses séculos. Assim se o tema lhe chama a atenção e a personagem lhe desperta curiosidade ou interesse, não deixe de assistir a esse clássico absoluto do cinema americano. É um filme grandioso que realmente faz jus à donzela de Orleans.

Joana D'Arc (Joan of Arc, Estados Unidos, 1948) Estúdio: RKO Pictures / Direção: Victor Fleming / Roteiro: Maxwell Anderson, Andrew Solt / Elenco: Ingrid Bergman, José Ferrer, Francis L. Sullivan / Sinopse: O filme conta a história real da jovem Joana D'Arc. Durante a Idade Média ela afirmava ter visões de Deus. Nessas visões ela teria que ir para a guerra em defesa de seu país a França, para derrotar os ingleses que invadiam suas terras. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor direção de fotografia (Joseph A. Valentine, William V. Skall e Winton C. Hoch) e melhor figurino (Dorothy Jeakins e Barbara Karinska). Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor atriz (Ingrid Bergman), melhor ator coadjuvante (José Ferrer), melhor direção de arte, melhor edição e melhor música (Hugo Friedhofer).

Pablo Aluísio.

Júlio César

Em sua carreira Charlton Heston interpretou grandes nomes da história. Foi Moisés em "Os Dez Mandamentos". Foi o guerreiro medieval El Cid em grande produção e deu vida a Ben-Hur no grande clássico da história do cinema, embora esse último seja um personagem de ficção. Assim era natural que mais cedo ou mais tarde ele fosse interpretar grandes nomes da história romana. Nesse filme ele interpreta Marco Antônio, o mais fiel aliado de Júlio César, o general que acabou se tornando o símbolo da transição da República para o Império na Roma antiga. Embora tivesse sido interpretado com brilhantismo por Richard Burton no clássico "Cleópatra", o fato é que nenhum outro ator em Hollywood parecia tão talhado para esse papel do que o próprio Charlton Heston.

Na trama voltamos no tempo, de volta ao passado glorioso de Roma. Júlio César retorna vitorioso de suas campanhas militares e almeja tomar todo o poder da república para si, deixando de lado a força do senado romano. Em reação a isso um grupo de senadores resolvem matar César para salvar o sistema republicano. Marco Antônio (Charlton Heston), o mais leal general de César, resolve então iniciar uma campanha para inflamar o povo contra os conspiradores assassinos, entre eles Brutus e Caius Cassius. A guerra civil volta a surgir nos horizontes da cidade eterna.

Essa produção da década de 1970 é uma adaptação da famosa peça de autoria de William Shakespeare. Inicialmente essa é a principal informação ao espectador. E o que isso necessariamente significa? Significa que não é um épico com grandes cenas de batalha e lutas cenográficas entre legiões romanas, não, se trata mesmo de um filme com clara linguagem teatral, com o elenco se esforçando ao máximo para declamar o rico vocabulário do texto original do grande mestre inglês. Outro ponto a se destacar é que o roteiro se apoia bastante nas figuras dos personagens Brutus e Caius Cassius, dois membros do senado romano que conspiraram para a morte de Júlio César pois esse estava obviamente querendo concentrar todo o poder em suas mãos, deixando o senado e o conceito de república completamente para trás. A trama se concentra da morte de César nos idos de março até a batalha em que Marco Antônio (Charlton Heston) e Otávio, o sobrinho e herdeiro de César, futuro imperador romano Augusto, conseguem retomar o poder em Roma. Não há sinal de Cleópatra e nem dos acontecimentos que ocorrem depois que essa aliança é formada (aliança essa que duraria pouco tempo aliás). Enfim, fica a recomendação desse bom momento de Shakespeare na sétima arte. Aqui contando com um elenco classe A.

Júlio César (Julius Caesar, Inglaterra, 1970) Estúdio: Commonwealth United Entertainment / Direção: Stuart Burge / Roteiro: Robert Furnival, baseado na obra de William Shakespeare / Elenco: Charlton Heston, Jason Robards, John Gielgud / Sinopse: Júlio César, general e político romano, acaba sendo assassinado dentro do senado romano em 15 de março de 44 a.C. Sua morte desencadeia uma série de eventos violentos, culminando numa sangrenta guerra civil.

Pablo Aluísio.

domingo, 20 de dezembro de 2020

O Suplício de Lady Godiva

Clássico do cinema americano que se destaca por trazer uma história bem diferente. E o mais curioso desse roteiro é que praticamente tudo o que se vê no filme foi baseado em fatos históricos reais. A história se passa durante a Idade Média, Naqueles tempos o Rei Edward da Inglaterra tentava unir o país, conciliando saxões e normandos. Basicamente os dois povos que formaram o reino inglês em seus primórdios. Para isso ele determinou que os nobres saxões casassem com mulheres normandas. Além disso ordenou que todos os senhores feudais abrissem mão de seus exércitos particulares para a criação de apenas um exército inglês para todo o reino unido. Contra essas propostas se levantaram alguns nobres, entre eles o Conde Lord Leofric (George Nader) que não aceitava se casar por questões políticas e nem desarmar suas próprias forças de defesa, o seu próprio exército feudal. Para contrariar o Rei Edward, ele decide então se casar com Lady Godiva (Maureen O'Hara), uma saxã da classe dos plebeus. O desafio faz com que o Rei tome várias providências contra Leofric, que teria que ser forte para enfrentar os terríveis desafios que lhe foram impostos por causa de suas fortes convicções e opiniões políticas.

O filme pode ser classificado como uma aventura medieval com vários elementos diversos em seu roteiro: romance, conspirações políticas, ação e até mesmo pitadas de humor. O filme foi produzido em uma época em que épicos medievais estavam na moda em Hollywood. Na Universal vários filmes com Tony Curtis e outros astros do estúdio estavam sendo produzidos nessa mesma ocasião. Maureen O'Hara interpreta o papel principal de Lady Godiva, uma mulher de temperamento forte e marcante, com bastante opinião própria, mesmo sendo uma mulher que viveu na Idade Média inglesa. Um fato curioso é que em várias cenas achei a atriz extremamente parecida com Rita Hayworth. Aliás Rita foi a primeira opção dos produtores para esse papel. Com sua recusa, o filme foi oferecido para Maureen O'Hara que fez um excelente trabalho de atuação.

Ao seu lado no filme foi contratado o galã George Nader. Quem leu a autobiografia do ator Rock Hudson sabe que Nader foi um dos grandes amigos de Hudson na Universal, estúdio onde ambos trabalharam por longos anos. Uma amizade que durou décadas pois eles tinham algo em comum: eram galãs da Universal e eram gays! Não podiam divulgar sua orientação sexual pois caso o fizessem naquela época teriam suas carreiras liquidadas, afinal de contas nas telas só interpretavam homens conquistadores que eram cobiçados pelas mocinhas dos filmes. George Nader aqui surge bem másculo, com voz imponente e gestos rudes. De qualquer maneira essa pequena fofoca de bastidores não atrapalha em nada a apreciação da película que é realmente muito divertida, funcionando até hoje como um bom entretenimento.

O Suplício de Lady Godiva (Lady Godiva of Coventry, Estados Unidos, 1955) Estúdio: Universal Pictures / Direção: Arthur Lubin / Roteiro: Oscar Brodney / Elenco: Maureen O'Hara, George Nader, Victor McLaglen, Eduard Franz, Leslie Bradley / Sinopse: Durante a Idade Média, uma mulher conhecida como Lady Godiva passa a ser alvo de jogadas políticas envolvendo o Rei da Inglaterra e os dois povos que formavam o povo inglês, os saxões e os normandos.

Pablo Aluísio.

sábado, 19 de dezembro de 2020

O Renegado do Forte Petticoat

O tenente Frank Hewitt (Audie Murphy) entra em atrito com seus superiores por causa da política de violência implantada contra índios que deixam as reservas determinadas por tratados entre o governo americano e as nações indígenas. Após um massacre gratuito promovido por seu coronel de batalhão, Frank decide ir até o Texas (seu local de nascimento) para alertar os fazendeiros da região dos perigos de um provável ataque de comanches, em represália às mortes nas tribos da região. Em plena guerra civil americana, poucos homens restaram nessas propriedades rurais, então Frank une um grupo de mulheres para treiná-las contra o iminente ataque dos índios. Ao mesmo tempo precisa ganhar a confiança de todas elas, uma vez que veste uma farda ianque, do exército da União, o que para muitas daquelas sulistas era um ato de traição contra as forças confederadas.

"O Renegado do Forte Petticoat" é mais um bom western da filmografia do ator Audie Murphy. Esse aqui procura inovar pois em um gênero tão masculino temos na linha de frente mulheres fortes e decididas, prontas para defender suas terras. E elas não se saem nada mal para falar a verdade! O choque ocorre em uma velha missão católica abandonada. Esse detalhe do roteiro lembra até mesmo do clássico Álamo". As semelhanças são bem claras nesse aspecto. Temos um grupo de texanas encurraladas na missão, mas lutando até o fim contra os inimigos. No caso da história mostrada nesse filme saem os mexicanos do Álamo e entram os comanches, selvagens, guerreiros que querem a expulsão do homem branco de suas terras.

Praticamente todo o enredo se desenvolve em cima dessa situação. Felizmente o roteiro é bem escrito, ágil e não deixa em nenhum momento o filme cair no tédio, o que seria previsível diante da situação única explorada pelos roteiristas. Na verdade a fita tem a duração ideal, com pouco mais de 70 minutos, algo que faltou no filme "O Álamo" que acabou sendo vítima de suas próprias pretensões. Sendo de menor duração, as cenas de ação e combate se tornam menos repetitivas, trazendo agilidade ao faroeste como um todo. Por fim uma curiosidade: Seguindo os passos de Randolph Scott, o ator Audie Murphy por essa época começou ele próprio a também produzir seus filmes. Aqui ele assina a produção ao lado de Harry Joe Brown, produtor que inclusive produziu vários filmes de western com Randolph Scott.

O Renegado do Forte Petticoat (The Guns of Fort Petticoat, Estados Unidos, 1957) Direção: George Marshall / Roteiro: Walter Doniger, C. William Harrison / Elenco: Audie Murphy, Kathryn Grant, Hope Emerson / Sinopse: Tenente da cavalaria ianque vai até o Texas para ajudar um grupo de mulheres a se defender de um ataque da tribo comanche.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

A Vingança de um Pistoleiro

Não era ainda o grande Jack Nicholson que aprendemos a gostar dentro do mundo do cinema. Na época em que escreveu o roteiro de "A Vingança de um Pistoleiro" Jack ainda era um ator em busca do estrelato, de um lugar ao sol. Como nas décadas de 1950 e 1960 o estilo western estava no auge da popularidade, Nicholson resolveu escrever seu próprio faroeste. Afinal se conseguisse vender o roteiro (e quem sabe até estrelar o filme) poderia chamar mais a atenção para si como artista. Assim Jack conseguiu um financiamento de apenas 70 mil dólares com a pequena companhia Proteus Films e partiu para o distante e desértico estado americano de Utah para as filmagens. O orçamento era mais do que apertado, as condições certamente não eram as ideais mas Jack e o diretor Monte Hellman (que tinha dirigido coisas como "A Besta da Caverna Assombrada") conseguiram realizar um filme muito eficiente, que escondia bem seus problemas de dinheiro.

A trama de "A Vingança de um Pistoleiro" é bem simples. No velho oeste um grupo de pessoas inocentes são acusadas de crimes que não cometeram. A partir do momento que todos se convencem de que eles são culpados a coisa fica realmente complicada. Fugindo de justiceiros armados os inocentes acabam virando eles próprios assassinos. O roteiro trabalha muito bem com a situação e parece querer demonstrar bem a diferença entre justiça e vingança - dois conceitos que geralmente são confundidos por todos. Também mostra a infantilidade que pode tomar conta da chamada consciência coletiva. Jack Nicholson abraça uma interpretação bem mais realista do que o público estava acostumado, já antecipando seu grande talento que em poucos anos iria brilhar em Hollywood. O curioso é que o filme anterior de Jack também havia sido um faroeste, "Disparo para Matar", inclusive com esse mesmo diretor. Será que ele planejava seguir os passos de um Randolph Scott? Bom, de uma forma ou outra os rumos de sua carreira iriam mesmo mudar definitivamente com "Sem Destino", uma odisséia pela América. Mas isso é uma outra história.

A Vingança de um Pistoleiro (Ride in the Whirlwind, Estados Unidos, 1966) Direção: Monte Hellman / Roteiro: Jack Nicholson / Elenco: Jack Nicholson, Cameron Mitchell, Millie Perkins / Sinopse: Uma trama de vingança e justiça no meio de um dos desertos mais selvagens e inóspitos do velho oeste.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Cantando na Chuva

Para muitos críticos, "Cantando na Chuva" é considerado o melhor filme musical clássico de todos os tempos. Um título realmente de respeito. E a história parodiava, com muito humor e inteligência, a transição do cinema mudo para o cinema falado. Ou seja, a história do cinema já era parte do próprio roteiro. No enredo Don Lockwood (Gene Kelly) e Cosmo Brown (Donald O'Connor) são dois aspirantes ao sucesso no mundo do cinema. Para sobreviver, topam qualquer oportunidade, até mesmo trabalhando como dublês. Na verdade são dançarinos talentosos que esperam pela grande chance em suas carreiras. Finalmente Don tira a sorte grande e começa a se destacar como galã de filmes. Para isso ele tem que contracenar com a fútil e arrogante estrelinha Lina Lamont (Jean Hagen) que embora seja bonita, tem uma voz horrorosa. Com a chegada do cinema sonoro ela fica desesperada pois basta abrir a boca em cena para que todos caiam na risada. Para consertar esse problema Don arranja para que sua namorada Kathy Selden (Debbie Reynolds) a duble. Enciumada, Lamont então exige que o nome de Kathy seja omitida dos créditos para que todos pensem que a linda voz dela seja a sua. A farsa porém logo cairá por terra.

Hoje em dia "Cantando na Chuva" é merecidamente reconhecido como um dos maiores clásssicos do cinema americano. De fato é um filme saboroso onde tudo parece se encaixar muito bem, com ótimo roteiro, canções maravilhosas e cenas de rara beleza. O curioso é que o filme não foi tão bem recebido em sua época de lançamento. Nenhum crítico mais importante o chamou de obra-prima ou qualquer coisa parecida. Houve até uma certa má vontade com o filme que, ao longo dos anos, finalmente foi ganhando o devido reconhecimento. Virou um cult movie máximo entre os cinéflios. A famosa trilha sonora não foi original. Na verdade as canções já existiam há décadas e foram reaproveitadas pela MGM durante as filmagens. E claro, deu muito certo essa combinação, com cenas excelentes, muito bem coreografadas com as músicas, todas ótimas, inesquecíveis. Não há como negar também que grande parte do charme de "Cantando na Chuva" se deve ao talento do ator e dançarino Gene Kelly. Ele estrelou alguns dos maiores musicais da Metro, mas era muito modesto em relação ao seu próprio talento.

Gene Kelly costumava dizer que o grande dançarino do cinema era Fred Astaire, que parecia um nobre ao mostrar seus passos, enquanto que ele próprio era apenas um trabalhador comum, um operário da arte, que tentava realizar uma dança simpática. Mais atlético do que Astaire, Kelly conseguia realizar números musicais que exigiam grande preparo físico, mas nem por isso deixava de ser tão cativante em cena como seu colega mais famoso. Aqui podemos notar bem isso, principalmente na principal sequência onde Gene Kelly baila na noite, debaixo de uma forte chuva, até um sisudo policial aparecer e acabar com a dança! "Cantando na Chuva" é item obrigatório para qualquer cinéfilo, um desses filmes atemporais que nunca parecem envelhecer. Uma obra-prima imortal da sétima arte. Cinema em sua mais pura essência clássica.

Cantando na Chuva (Singin' in the Rain, Estados Unidos, 1952) Direção: Stanley Donen, Gene Kelly / Roteiro: Adolph Green, Betty Comden / Elenco: Gene Kelly, Donald O'Connor, Debbie Reynolds, Jean Hagen / Sinopse: Durante a transição do cinema mudo para o cinema falado, uma arrogante estrela de cinema precisa reolver um sério problema: embora seja bonita tem uma voz simplesmente pavorosa. "Cantando na Chuva" é um dos maiores musicais da história do cinema. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor atriz coadjuvante (Jean Hagen) e melhor música (Lennie Hayton). Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de melhor ator - comédia ou musical (Donald O'Connor). Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor filme - comédia ou musical.

Pablo Aluísio.

 


terça-feira, 24 de novembro de 2020

Lágrimas Amargas

Clássico do cinema, produzido na década de 1950 e estrelado pela atriz Bette Davis. A história é bem interessante. Um drama com toques autobiográficos, o filme "Lágrimas Amargas" narra a vida de Margie (Bette Davis), uma atriz que foi estrela no passado, mas que agora enfrenta muitos problemas em sua vida pessoal e profissional. Os estúdios já não mais a procuram para participar do elenco de seus filmes. Ela se torna uma profissional do passado que ninguém mais quer contratar. Os trabalhos que aparecem são indignos e sem dinheiro ela acaba indo morar em um pequeno apartamento muito simples, nada adequado com sua vida de luxo do passado. Para piorar, Margie procura afogar suas decepções com a bebida e acaba indo presa. Sua filha Gretchen (Wood) também não tem como lhe ajudar pois é uma jovem que já tem seus próprios problemas pessoais. De volta à liberdade, Margie decide que é hora de mudar sua vida de uma vez por todas.

Bette Davis foi uma das grandes personalidades da história do cinema americano. Ela ousou romper com o chamado Star System e procurou construir uma carreira independente e corajosa. Por ser uma mulher de atitude, enfrentou vários problemas, inclusive a falta de convites para fazer mais filmes, talvez por essa razão esse "Lágrimas Amargas" seja tão essencial para os cinéfilos entenderem quem realmente foi Bette Davis. Ela própria passaria por situações semelhantes em sua vida profissional. Vencedora do Oscar, não se importou em publicar nos classificados de um jornal de Los Angeles um anúncio em busca de trabalho. O Oscar que ela venceu inclusive é usado numa das cenas desse filme.

Não conheço nenhum outro filme da filmografia de Davis que seja tão simbólico como esse. É praticamente uma biografia da mulher corajosa e valente que ela foi em vida. Já para os que são fãs da eterna Natalie Wood, a produção tem um brinde a mais, sua participação no elenco como a filha de Bette Davis. Segundo consta, ela teria sofrido um pequeno acidente nas filmagens que quase lhe causou seu afogamento. Isso criou um trauma que lhe seguiu pelo resto da vida. Tragicamente ela morreria afogada décadas depois após um acidente até hoje mal explicado em um barco, durante suas férias ao lado do marido Robert Wagner. Fica então nossa dica de filme clássico do dia, o edificante "Lágrimas Amargas". Não deixe de assistir.

Lágrimas Amargas (The Star, Estados Unidos, 1952) Estúdio: 20th Century Fox / Direção: Stuart Heisler / Roteiro: Dale Eunson, Katherine Albert / Elenco: Bette Davis, Sterling Hayden, Natalie Wood, Warner Anderson / Sinopse: Margaret Elliot (Davis) é uma atriz que no passado foi uma estrela em Hollywood. Agora, mais velha e com problemas envolvendo alcoolismo, ela amarga um injusto ostracismo em sua vida. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor atriz (Bette Davis).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Marinheiro do Rei

Clássico dos filmes de guerra, esse "Marinheiro do Rei" segue sendo uma boa obra cinematográfica. A história se passa em um cenário onde grandes batalhas navais foram travadas. Três navios de guerra da marinha real inglesa se encontram no Atlântico Norte, protegendo embarcações de carga durante a Segunda Guerra Mundial, quando o comandante da esquadra é informado que na região se encontra um importante cruzador alemão. Para destruí-lo ele envia então dois encouraçados de sua frota. O combate travado se revela mais complicado do que se esperava. Mesmo avariado durante a batalha nos mares, o navio alemão consegue destruir um dos navios ingleses. Um dos sobreviventes acaba sendo resgatado pelos alemães, o especialista em comunicações Andrew 'Canada' Brown (Jeffrey Hunter), que agora fará de tudo para sabotar os planos da marinha nazista.

Como se pode perceber temos aqui uma produção que homenageia a bravura e a coragem dos marinheiros ingleses durante a Segunda Guerra Mundial. Esses são representados por um homem em especial, Andrew Brown (Jeffrey Hunter), que começa uma série de sabotagens contra um cruzador alemão. Esse navio de guerra sofreu uma grave explosão de um torpedo em seu casco e por essa razão precisa se esconder nas famosas ilhas Galápagos, aquelas mesmas em que Darwin realizou suas pesquisas que anos depois daria origem ao seu famoso livro "A Origem das Espécies" de 1851. Assim a parada naquela região se torna estratégica para que o navio possa passar por reparos. O filme "Marinheiro do Rei" aposta na aventura e em boas cenas de batalha naval. A marinha inglesa contribuiu ativamente com o filme, disponibilizando três navios de guerra de sua esquadra para a produção, sendo que um deles assumiu o papel do navio alemão, o Essen, uma alegoria na verdade com o famoso "Bismarck" que foi afundado pelos ingleses no mesmo conflito. O personagem interpretado pelo bom ator Jeffrey Hunter acaba virando uma espécie de "exército de um homem só" o que traz muita ação e movimentação para o filme.

O curioso é que o enredo começa quase como um romance, quando o oficial britânico interpretado por Michael Rennie (o mesmo ator de "O Dia Em Que a Terra Parou") conhece e se enamora por uma linda garota em uma viagem de trem. Eles se apaixonam e tencionam se casar mas o estouro da guerra o faz se afastar dela, nunca mais a encontrando novamente. Ele depois exerceria a função de comandante da frota de navios britânicos que entraria em batalha com o navio alemão. Essa é na verdade a linha narrativa principal do roteiro. Essa parte inicial poderia ser cortada sem nenhum problema, mas os roteiristas certamente a usaram para trazer alguma profundidade psicológica aos personagens. De qualquer maneira, o que vale mesmo são as cenas de guerra - todas muito bem realizadas. Deixo assim a recomendação dessa boa produção que procura resgatar o valor dos marinheiros ingleses durante a maior guerra que o mundo já viu.

Marinheiro do Rei (Single-Handed / Sailor of The King, Estados Unidos, Inglaterra, 1953) Estúdio: Twentieth Century-Fox / Direção: Roy Boulting / Roteiro: Valentine Davies, baseado no livro de C.S. Forester / Elenco: Jeffrey Hunter, Michael Rennie, Wendy Hiller / Sinopse: Durante a segunda grande guerra mundial, um marinheiro inglês se torna peça crucial na destruição de um importante navio de guerra da frota alemã que se encontra com problemas em distantes ilhas do oceano Atlêntico.  

Pablo Aluísio.

domingo, 22 de novembro de 2020

Narciso Negro

Esse filme é um grande clássico da história do cinema. A história é das mais interessantes. Uma ordem de freiras católicas envia um grupo de cinco irmãs para uma região remota, nas proximidades do Himalaia, com a missão de construir uma escola para crianças e um hospital para a população local. Numa altitude de mais de 2.800 metros acima do mar, elas tentarão estabelecer as bases de evangelização de um povo que ainda não conhece o cristianismo. As freiras são jovens e chegam numa antiga casa abandonada onde lá viviam as esposas do rei em um passado distante. É justamente nesse local que fundam um novo convento de assistência e educação para a população da região. "Narciso Negro" é um filme magnífico. Mostra bem um dos aspectos mais louváveis da igreja católica que é a evangelização em lugares remotos, situados numa verdadeira fronteira da fé cristã. Nessas regiões só existem escolas e hospitais por causa da força missionária da Igreja. No caso aqui temos cinco freiras da ordem das irmãs de Maria que vão até esse distante local para ajudar no que for possível a população local. Em termos religiosos há um templo budista também localizado nas encostas montanhosas, além de um enigmático "homem santo" que passa seus dias contemplando o horizonte em meditação. Apesar de sua profundidade espiritual nada fazem em prol do povo local. Apenas as freiras católicas se esforçam para educar e trazer assistência médica para aquelas populações. O filme mostra bem como foi complicado tentar evangelizar uma cultura tão diferente da ocidental como aquela. Nesse aspecto conseguimos entender muito bem como a Igreja Católica atuou como ponta de lança em países distantes, bem longe do mundo civilizado ocidental.

A produção é excelente, com fotografia belíssima, afinal a região do Himalaia é naturalmente linda, com suas altas montanhas com picos de neve eterna. O roteiro é extremamente bem escrito, com todas as personagens muito bem desenvolvidas. O destaque obviamente vai para Deborah Kerr que interpreta a irmã Clodagh. Apesar de jovem ela é designada como chefe da missão de evangelização, o que representará um grande desafio em sua vida religiosa. Outro destaque vai para David Farrar que interpreta um agente inglês que preserva os interesses do império britânico no local. Como único ocidental na região, ele se torna um amigo e um apoio para as freiras católicas. Essa aproximação inclusive acaba criando uma tensão sexual entre ele e as religiosas, fazendo com que o roteiro discuta ainda que sutilmente a questão do celibato dentro da Igreja católica.

"Narciso Negro" é considerado um dos melhores dramas da década de 1940, fruto é claro de seu ótimo roteiro, das atuações de excelente nível e da marcante produção. O filme até hoje chama a atenção por ter todos os elementos em perfeita harmonia. Um bom exemplo disso encontramos no clímax quando umas das freiras, esgotada pela austeridade e trabalho duro a que é submetida, tem um surto de loucura. A cena que se desenvolve ao pé do precipício, no badalar dos sinos, me fez recordar inclusive do mestre Hitchcock, por causa do ótimo clima de suspense e tensão que se desenrola nesse momento. Um primor cinematográfico. Em suma, eis aqui mais uma obra-prima que não pode faltar na coleção de nenhum cinéfilo que se preze. "Narciso Negro" é um filme que realmente merece o título de clássico da sétima arte.

Narciso Negro (Black Narcissus, Estados Unidos, Inglaterra, 1947) Estúdio: Universal Pictures / Direção: Michael Powell, Emeric Pressburger / Roteiro: Rumer Godden, Michael Powell / Elenco: Deborah Kerr, David Farrar, Flora Robson / Sinopse: Um grupo de freiras é enviada pela Igreja Católica para aturar numa ordem religiosa instalada no Himalaia, região distante, onde a população local sequer conhecer o cristianismo. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor direção de fotografia (Jack Cardiff) e melhor direção de arte (Alfred Junge). Filme premiado pelo Globo de Ouro na categoria de  melhor direção de fotografia (Jack Cardiff).

Pablo Aluísio.

Farsa Trágica

Todo cinéfilo que se preze, sabe que Vincent Price foi um dos maiores nomes dos filmes de terror na era clássica do cinema americano. Alto, elegante, geralmente emprestava sua peculiar imagem para fitas que marcaram época. Na vida pessoal era um homem muito culto, amante das artes e de fino humor. Seu bom humor inclusive pode ser conferido aqui em "Farsa Trágica" onde Vincent não se furta de rir de si mesmo. Afinal de contas saber lidar com sua imagem cinematográfica a ponto de rir dela, sem traumas ou desculpas, é o que diferencia os grande mitos dos meros narcisistas da tela. Nessa produção Vincent Price interpreta Waldo Trumbull, um agente funerário bem picareta. Ele finge enterrar as pessoas em elegantes caixões vendidos a preço de ouro para logo depois jogar os pobres falecidos na terra nua, com o objetivo de vender o mesmo caixão várias vezes para outros clientes, por anos a fio. Ele é ajudado por seu subalterno, Felix Gillie (Peter Lorre), um pobre diabo, que aguenta todas as humilhações possíveis simplesmente porque nutre uma paixão pela mulher de seu patrão. Beberrão, sem papas na língua, o personagem de Price é assumidamente um pilantra que não pensa duas vezes ao passar a perna em seus clientes.

As coisas porém andam de mal a pior. Ele tem cada vez menos enterros e sua funerária corre o risco até de ser despejada por não pagar o aluguel há um ano! Pressionado pelo proprietário do imóvel (em magistral interpretação de Basil Rathbone, o eterno interprete de Sherlock Holmes), não resta outro alternativa ao personagem de Price a não ser procurar por soluções mais radicais. Já que seu ramo é o da morte e as pessoas estão vivendo muito mais do que o esperado, ele decide então dar uma ajudinha aos velhinhos da cidade! Em situações de puro humor negro, o agente funerário começa a ele mesmo matar seus futuros "clientes". Como se pode perceber "Farsa Trágica" é uma comédia de terror das mais espirituosas e engraçadas. Vincent Price está cercado por um elenco magistral, onde vários grandes mitos dos filmes de terror da era de ouro de Hollywood estão reunidos. O grande Boris Karloff, por exemplo, está hilário como o sogro muito velho de Price. O veneno aqui é usado em cenas bem divertidas. Com esse papel ele mostra que tinha um especial talento para comédias. Sem dúvida é um dos mais divertidos filmes do gênero. Ah, e antes que me esqueça, vale a citação também do gatinho Rhubarb que consegue roubar várias cenas com sua "atuação". Enfim, não deixe de assistir a essa deliciosa e divertida comédia de humor negro no mais puro estilo britânico.

Farsa Trágica (The Comedy of Terrors, Estados Unidos, 1963) Direção: Jacques Tourneur / Roteiro: Richard Matheson / Elenco: Vincent Price, Peter Lorre, Boris Karloff, Basil Rathbone / Sinopse: Agente funerário (Price) quase falido resolve dar cabo dos velhinhos da cidade para conseguir mais "clientes" para seus serviços. O plano porém dá errado quando um deles volta da tumba para acertar suas contas com ele.

Pablo Aluísio.