Para muitos críticos, "Cantando na Chuva" é considerado o melhor filme musical clássico de todos os tempos. Um título realmente de respeito. E a história parodiava, com muito humor e inteligência, a transição do cinema mudo para o cinema falado. Ou seja, a história do cinema já era parte do próprio roteiro. No enredo Don Lockwood (Gene Kelly) e Cosmo Brown (Donald O'Connor) são dois aspirantes ao sucesso no mundo do cinema. Para sobreviver, topam qualquer oportunidade, até mesmo trabalhando como dublês. Na verdade são dançarinos talentosos que esperam pela grande chance em suas carreiras. Finalmente Don tira a sorte grande e começa a se destacar como galã de filmes. Para isso ele tem que contracenar com a fútil e arrogante estrelinha Lina Lamont (Jean Hagen) que embora seja bonita, tem uma voz horrorosa. Com a chegada do cinema sonoro ela fica desesperada pois basta abrir a boca em cena para que todos caiam na risada. Para consertar esse problema Don arranja para que sua namorada Kathy Selden (Debbie Reynolds) a duble. Enciumada, Lamont então exige que o nome de Kathy seja omitida dos créditos para que todos pensem que a linda voz dela seja a sua. A farsa porém logo cairá por terra.
Hoje em dia "Cantando na Chuva" é merecidamente reconhecido como um dos maiores clásssicos do cinema americano. De fato é um filme saboroso onde tudo parece se encaixar muito bem, com ótimo roteiro, canções maravilhosas e cenas de rara beleza. O curioso é que o filme não foi tão bem recebido em sua época de lançamento. Nenhum crítico mais importante o chamou de obra-prima ou qualquer coisa parecida. Houve até uma certa má vontade com o filme que, ao longo dos anos, finalmente foi ganhando o devido reconhecimento. Virou um cult movie máximo entre os cinéflios. A famosa trilha sonora não foi original. Na verdade as canções já existiam há décadas e foram reaproveitadas pela MGM durante as filmagens. E claro, deu muito certo essa combinação, com cenas excelentes, muito bem coreografadas com as músicas, todas ótimas, inesquecíveis. Não há como negar também que grande parte do charme de "Cantando na Chuva" se deve ao talento do ator e dançarino Gene Kelly. Ele estrelou alguns dos maiores musicais da Metro, mas era muito modesto em relação ao seu próprio talento.
Gene Kelly costumava dizer que o grande dançarino do cinema era Fred Astaire, que parecia um nobre ao mostrar seus passos, enquanto que ele próprio era apenas um trabalhador comum, um operário da arte, que tentava realizar uma dança simpática. Mais atlético do que Astaire, Kelly conseguia realizar números musicais que exigiam grande preparo físico, mas nem por isso deixava de ser tão cativante em cena como seu colega mais famoso. Aqui podemos notar bem isso, principalmente na principal sequência onde Gene Kelly baila na noite, debaixo de uma forte chuva, até um sisudo policial aparecer e acabar com a dança! "Cantando na Chuva" é item obrigatório para qualquer cinéfilo, um desses filmes atemporais que nunca parecem envelhecer. Uma obra-prima imortal da sétima arte. Cinema em sua mais pura essência clássica.
Cantando na Chuva (Singin' in the Rain, Estados Unidos, 1952) Direção: Stanley Donen, Gene Kelly / Roteiro: Adolph Green, Betty Comden / Elenco: Gene Kelly, Donald O'Connor, Debbie Reynolds, Jean Hagen / Sinopse: Durante a transição do cinema mudo para o cinema falado, uma arrogante estrela de cinema precisa reolver um sério problema: embora seja bonita tem uma voz simplesmente pavorosa. "Cantando na Chuva" é um dos maiores musicais da história do cinema. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor atriz coadjuvante (Jean Hagen) e melhor música (Lennie Hayton). Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de melhor ator - comédia ou musical (Donald O'Connor). Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor filme - comédia ou musical.
Pablo Aluísio.