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terça-feira, 8 de junho de 2021

Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão

Título no Brasil: Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão
Título Original: A Midsummer Night's Sex Comedy
Ano de Produção: 1982
País: Estados Unidos
Estúdio: Orion Pictures
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Elenco: Woody Allen, Mia Farrow, José Ferrer, Julie Hagerty, Tony Roberts, Mary Steenburgen

Sinopse:
Um inventor maluco e sua esposa convidam dois outros casais para uma festa de fim de semana em uma romântica casa de verão no interior.  E na casa de campo começam os jogos de sedução e também de humor, uma vez nem todos possuem o jeito certo para seduzir.

Comentários:
Esse é considerado um dos filmes fracos do Woody Allen. Nem os críticos que sempre parecem estar ao seu lado apreciaram muito esse filme. Há coisas bem diferentes aqui. Woody Allen deixou sua Nova Iorque querida, onde realizou praticamente todos os seus filmes, para rodar um filme em um lugar mais rural, no campo, longe da cidade grande. Sua intenção era fazer uma espécie de paródia em cima de duas obras de Shakespeare, "Sonho de uma noite de verão" e "A tempestade". Deu certo? Não muito. Eu fiquei com a impressão que ele não conseguiu passar todas as referências que queria nesse roteiro. Além disso o humor inteligente não se fez tão presente. Assim tudo o que sobra é um filme bem esquecível que não vai definitivamente agradar a todo mundo - e nem muito menos aos fãs mais exigentes de Woody Allen.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de março de 2021

A Nave da Revolta

Um filme clássico de guerra, sempre lembrado em listas de melhores do gênero. A história é das mais interessantes. O capitão Philip Francis Queeg (Humphrey Bogart) assume o comando do navio de guerra denominado Caine, durante a Segunda Guerra Mundial. Há anos a embarcação está precisando de reparos, além de contar com uma tripulação insubordinada e relapsa. Sua linha de comando dura e com forte ênfase nos menores detalhes, leva seu grupo de oficiais a entender que ele estaria passando por algum tipo de problema mental. Durante uma tempestade o tenente Steve Maryk (Van Johnson) resolve assumir o controle do navio. Seria esse um ato heroico ou um motim?

Logo no começo do filme a Marinha dos Estados Unidos deixa claro que nunca houve um motim na sua história e tudo o que o espectador irá assistir é mera ficção baseada no romance escrito por Herman Wouk, que inclusive venceu o Pulitzer, o mais prestigiado prêmio de literatura dos EUA. Certamente uma medida de precaução por parte das forças armadas. Afinal um motim é uma das piores coisas que podem acontecer dentro de um navio de guerra. É a quebra total e completa da hierarquia militar, colocando em risco a vida das pessoas, não apenas da tripulação, como também da sociedade em geral.

O roteiro é muito bem escrito, com destaque para quatro personagens centrais. O primeiro é o próprio capitão Queeg (Bogart), um militar que não aceita o menor deslize em relação ao regulamento da marinha. Para isso toma decisões absurdas que vão contra o bom senso. Também apresenta claros sinais de que não está bem mentalmente. O primeiro a perceber isso é o tenente Tom Keefer (MacMurray) que de certa forma se torna o estopim da destituição de seu comandante e Maryk (Johnson) que resolve arriscar tudo em um ato de extrema coragem para salvar o navio.

Nessa tabuleiro de tensões ainda há espaço para um recém saído tenente da academia militar, Willie Keith (Robert Francis), um jovem inexperiente que sequer consegue sair da sombra de sua mãe dominadora. O filme tem excelentes cenas para a época, com destaque para o momento em que o Caine enfrenta uma terrível tempestade. Depois do motim todos vão parar em uma corte marcial e o enredo dá uma guinada, virando um drama de tribunal militar. É sem dúvida um dos grandes filmes da carreira de Humphrey Bogart que inclusive concorreu ao Oscar de melhor ator. Em suma, temos aqui uma verdadeira obra prima do cinema clássico.

A Nave da Revolta (The Caine Mutiny, Estados Unidos, 1954) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Edward Dmytryk / Roteiro: Stanley Roberts, Michael Blankfort / Elenco: Humphrey Bogart, Robert Francis, José Ferrer, Van Johnson, Fred MacMurray, Tom Tully / Sinopse: Um motim se forma dentro de um navio de guerra da Marinha dos Estados Unidos, colocando em alerta todos os envolvidos na crise. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, melhor direção (Edward Dmytryk), melhor roteiro (Stanley Roberts, Michael Blankfort) e melhor ator (Humphrey Bogart).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Joana D'Arc

Grande clássico do cinema, contando a história de uma das personagens mais famosas da Idade Média. No século XV, em plena guerra dos cem anos entre Inglaterra e França, surge uma pobre camponesa chamada Joana (Ingrid Bergman) afirmando que Deus teria lhe dado uma missão divina. Ela deveria marchar com as tropas francesas para expulsar o invasor inglês de seu país. Ainda mais, após a vitória ela deveria ajudar a colocar no trono o futuro Rei Carlos VII (José Ferrer). Animados pela presença da vidente em suas fileiras, o exército francês começa uma série de campanhas vitoriosas contra as tropas do exército do Rei britânico Henrique VI, virando completamente os rumos do sangrento conflito. Após atingir seus objetivos, concretizando o que diziam suas vozes a agora adorada pelo povo, Joana D'Arc, de apenas 19 anos, acaba sendo traída e enviada para um tribunal religioso corrompido pela coroa da Inglaterra. Seu destino acaba se tornando trágico. Excelente filme histórico, dirigido por Victor Fleming, o mesmo cineasta do clássico imortal "E O Vento Levou". Aqui temos uma das personagens históricas mais conhecidas de todos os tempos, Jeanne d'Arc (1412 - 1431). Heroína francesa, ela se tornaria santa católica séculos depois de sua morte, quando o Papa Bento XV finalmente reconheceu que seu julgamento foi uma grande farsa, comandada por interesses políticos ingleses. Afinal ela seria considerada a grande responsável pelas derrotas sofridas pelas tropas do Rei Henrique VI.

Joana foi um símbolo, tanto do ponto de vista religioso como político. De certa forma ela foi usada pelos franceses como um sinal divino de que, naquela guerra que parecia interminável, Deus estaria do lado da França. Isso de fato aumentou a moral do exército francês que a partir daí colecionou vitórias e mais vitórias contra os ingleses. Infelizmente Joana estava do lado de um Rei francês corrupto, fraco e frívolo chamado Carlos VII, que não pensou duas vezes em praticamente vendê-la aos ingleses em troca de uma grande soma em dinheiro. Nas mãos dos inimigos foi montado um julgamento completamente parcial que tinha como único e exclusivo objetivo a enviar para a fogueira para ser queimada como herege e bruxa. E de fato os ingleses a chamavam de feiticeira durante as sangrentas batalhas das quais participou. A produção é de excelente nível. Indicada a vários Oscars e vencedor do prêmio nas categorias de Melhor Figurino e melhor direção de fotografia. O filme se revelou tão complicado de se filmar que o estúdio contratou três diretores, sendo que todos eles foram premiados com o Oscar. A atriz Ingrid Bergman encarna a guerreira com perfeição. Ora inocente, ora seguidora de uma fé cega, Joana logo cai nas mãos de traidores que nem pensaram duas vezes antes de a enviar para um terrível martírio. Temos que reconhecer que há uma clara simplificação na história de Joana no filme. Isso é até fácil de entender pois a intenção não era fazer um épico com três ou mais horas de duração. Assim a trama política que envolveu Joana na vida real foi simplificada para dar mais agilidade ao roteiro, decisão que se mostra acertada pois o filme realmente tem um desenvolvimento excelente, jamais cansando o espectador.

Na época em que viveu, Joana teve muitos inimigos, príncipes gananciosos, nobres ateus, pequenos reinados e feudos que a queriam morta. Como forma de enxugar tudo isso os roteiristas colocaram apenas os ingleses e os borguinhões como seus inimigos viscerais. O julgamento de Joana, que ficou famoso na história, tema de inúmeros livros e filmes, também foi simplificado, contando apenas com os mais marcantes momentos. Nada disso porém traz o menor demérito ao filme que certamente continua excelente, mesmo revisto hoje em dia. Como Joana D'Arc sempre foi uma personagem muito marcante na história, o cinema de vez em quando realiza produções explorando sua enigmática biografia. São mais de 90 filmes feitos enfocado a santa guerreira medieval. Essa produção da RKO pode certamente ser considerado uma das melhores, até porque conta com a preciosa e iluminada interpretação de Ingrid Bergman, musa do cinema que ficou imortalizada no eterno clássico "Casablanca". Ela está no tom certo e em termos estéticos ficou maravilhosa com os cabelos curtos tão característicos de Joana. Também adota uma postura de grande respeito com a sua personagem, a tornando muito digna e devota, tal como os livros de história a retrataram por todos esses séculos. Assim se o tema lhe chama a atenção e a personagem lhe desperta curiosidade ou interesse, não deixe de assistir a esse clássico absoluto do cinema americano. É um filme grandioso que realmente faz jus à donzela de Orleans.

Joana D'Arc (Joan of Arc, Estados Unidos, 1948) Estúdio: RKO Pictures / Direção: Victor Fleming / Roteiro: Maxwell Anderson, Andrew Solt / Elenco: Ingrid Bergman, José Ferrer, Francis L. Sullivan / Sinopse: O filme conta a história real da jovem Joana D'Arc. Durante a Idade Média ela afirmava ter visões de Deus. Nessas visões ela teria que ir para a guerra em defesa de seu país a França, para derrotar os ingleses que invadiam suas terras. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor direção de fotografia (Joseph A. Valentine, William V. Skall e Winton C. Hoch) e melhor figurino (Dorothy Jeakins e Barbara Karinska). Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor atriz (Ingrid Bergman), melhor ator coadjuvante (José Ferrer), melhor direção de arte, melhor edição e melhor música (Hugo Friedhofer).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Lawrence da Arábia

Esse filme é a obra prima absoluta do diretor David Lean, um dos melhores cineastas da história do cinema. Também é o auge, o ponto máximo da carreira do ator Peter O'Toole, um pico que ele nunca mais alcançaria em sua vida. São vários os adjetivos usados para essa produção realmente memorável. Grandioso, épico, maravilhoso, o cinema em sua mais qualificada essência, etc. De fato é um filme impressionante, uma produção que custou milhões de dólares e foi extremamente complicada de concluir. Também é grande em duração, com quase 230 minutos de duração. O cinéfilo precisa praticamente se preparar para encarar um filme assim, tão longo e ao mesmo tempo tão espetacular.

O curioso é que tudo estava pronto para Marlon Brando estrelar o filme. O roteiro foi pensado nele e o ator já tinha até mesmo concordado em analisar o convite, só que na última hora ele desistiu. O motivo foi frívolo. Brando afirmou que David Lean levava tanto tempo para filmar que ele provavelmente iria morrer seco no meio do deserto. Foi uma pena, mas ao mesmo tempo uma jogada do destino, porque atualmente ninguém consegue imaginar o personagem histórico sendo interpretado por outro ator. Peter O'Toole fez um trabalho tão fantástico que ele ficou para sempre marcado como o Lawrence da Arábia. E ao seu lado, no elenco, não faltaram outros nomes geniais como Alec Guinness, Anthony Quinn e Omar Sharif . Ou em outros termos, o filme também trazia a nata dos grandes atores da época.

Hoje em dia a figura de T.E. Lawrence é mais controversa do que quando o filme foi lançado. Esse inglês foi de tudo um pouco, arqueólogo, militar, agente secreto, diplomata. Para a mentalidade atual revisionista ele seria apenas um personagem a mais no jogo de dominação colonial do império britânico no Oriente Médio. Essa visão progressista mais crítica porém não se sustenta muito em meu ponto de vista. Até porque ele também foi um excelente escritor. Basta ler poucas linhas de seu mais conhecido livro, "Os Sete Pilares da Sabedoria", para bem entender isso. Porém deixando de lado essa visão mais política, o fato inegável é que o filme "Lawrence of Arabia" é mesmo cinema em seu estado mais grandioso, em sua mais pura essência. Um dos maiores clássicos da história do cinema de todos os tempos. Maior até mesmo que seu próprio protagonista.

Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia, Inglaterra, 1962) Direção: David Lean / Roteiro: Robert Bolt / Elenco: Peter O'Toole, Alec Guinness, Anthony Quinn, Omar Sharif, José Ferrer / Sinopse: O filme conta a história real do oficial britânico Thomas Edward Lawrence (1888 - 1945), um homem que teve grande importância no período colonial do império britânico no Oriente Médio. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção (David Lean), Melhor Trilha Sonora (Maurice Jarre), Melhor Edição (Anne V. Coates), Melhor Som (John Cox), Melhor Direção de Arte (John Box, John Stoll, Dario Simoni) e Melhor Fotografia (Freddie Young).

Pablo Aluísio. 


quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

A Nau dos Insensatos

Título no Brasil: A Nau dos Insensatos
Título Original: Ship of Fools
Ano de Produção: 1965
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Stanley Kramer
Roteiro: Abby Mann, baseado na obra de  Katherine Anne Porter
Elenco: Vivien Leigh, Simone Signoret, Lee Marvin, José Ferrer, Oskar Werner, George Segal, Michael Dunn
  
Sinopse:
Durante uma viagem de navio entre o México e a Alemanha um grupo de tripulantes e passageiros vivem seus próprios dramas pessoais, de relacionamento e até mesmo políticos. Entre os viajantes há desde uma condessa arruinada, passando por uma esnobe viúva americana, até chegando em um frustrado jogador profissional de beisebol, relembrando todos os motivos que provocaram o seu fracasso esportivo nos campos. Ligando todos eles há todos aqueles velhos sentimentos em comum, como solidão, tristeza, amargura e melancolia. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Simone Signoret), Melhor Ator (Oskar Werner), Melhor Ator Coadjuvante (Michael Dunn), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Figurino. Vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Fotografia (Ernest Laszlo) e Melhor Direção de Arte (Robert Clatworthy e Joseph Kish).

Comentários:
Esse foi o último filme da carreira de Vivien Leigh. Ela morreria apenas dois anos depois de interpretar a esnobe viúva Mary Treadwell. Foi uma bela despedida do cinema. O roteiro, uma adaptação do romance escrito por Katherine Anne Porter, procurava retratar nas pessoas que viajavam em um cruzeiro transatlântico, a própria sociedade como um todo, com todos os seus problemas, contradições, dramas e tristezas. Assim a força dramática desse enredo vinha justamente de seus personagens. A estória se passa antes da II Guerra Mundial. A Alemanha já está nas mãos dos nazistas, mas eles ainda não começaram suas perseguições aos judeus e nem suas invasões aos países vizinhos. Há muitos alemães viajando no navio e como é óbvio a delicada situação política de seu país acaba virando a tônica de vários diálogos. Entre os passageiros há inclusive um senhor judeu, Julius Lowenthal (Heinz Rühmann), que sofre todos os tipos de segregação social. Mesmo assim ele não acredita que haverá uma perseguição real na cidades alemãs. Em um momento ele solta uma pensamento que seria tristemente irônico. Ao falar sobre o nazismo ele pergunta: "Há mais de um milhão de judeus na Alemanha! O que Hitler fará com eles? Matará a todos?!". Mal sabia o tamanho da loucura do III Reich que estava por vir. Além dele outros personagens se destacam. Vivien Leigh interpreta uma solitária viúva americana muito esnobe e arrogante, mas igualmente amargurada. 

Após a morte de seu marido, um diplomata, ela passa a realizar essas viagens para despistar a solidão pessoal em que vive. Amarga e desiludida, ela sofre ao perceber que a juventude e a beleza se foram para sempre. Lee Marvin, por outro lado, é um ex-jogador de beisebol rude e bêbado que parece sempre disposto a criar alguma confusão. É curioso perceber como Marvin se saiu bem nesse papel bem dramático, algo que era bem raro em sua filmografia. Ele, que havia se especializado em interpretar vilões em filmes de western, surpreende e não fica abaixo do restante do elenco. Um dos personagens mais bem construídos e humanos é a de Simone Signoret. Ela dá vida para a Condessa, uma mulher em desgraça que acaba se apaixonando pelo médico do navio após pedir a ele alguma medicação para que conseguisse finalmente dormir. O Dr. Wilhelm Schumann (Oskar Werner), fruto de sua afeição, é um homem frustrado, desiludido com seu casamento sem amor, se resumindo a muitas obrigações que para ele já não possuem muito sentido. Sofrendo de problemas do coração, percebendo que está no fim de sua vida, ele tenta se agarrar a esse relacionamento improvável. Curiosamente um anão, Karl Glocken (Michael Dunn), acaba sendo o narrador da estória, chegando ao ponto até mesmo de dialogar com a própria plateia durante o filme. Um toque muito interessante dado pelo cineasta Stanley Kramer, que mostra muito talento para desenvolver todos os personagens do roteiro sem que em nenhum momento deixe tudo ficar chato ou arrastado (e olha que o filme tem quase duas horas e meia de duração). Então é isso, "A Nau dos Insensatos" é no fundo uma grande metáfora sobre a própria humanidade, com todos os seus problemas. Um filme acima de tudo muito humano, que vale a pena conhecer.

Pablo Aluísio.