sexta-feira, 12 de abril de 2019

O Justiceiro Cego

Título no Brasil: O Justiceiro Cego
Título Original: Blindman
Ano de Produção: 1971
País: Estados Unidos, Itália
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Ferdinando Baldi
Roteiro: Tony Anthony, Vincenzo Cerami
Elenco: Tony Anthony, Lloyd Battista, Ringo Starr

Sinopse:
Blindman (Tony Anthony) é um pistoleiro cego, mas mortal, que é contratado para escoltar cinqüenta noivas arranjadas por correspondência até seus futuros maridos, mineiros da corrida do ouro. Durante a travessia seu parceiro de negócios resolve mudar de ideia, vendendo as mulheres para um famigerado bandido, Domingo (Lloyd Battista). Caberá a Blindman salvar as mulheres, cumprindo o que havia contratado.

Comentários:
Western Spaghetti que contou com dinheiro americano do estúdio Fox para sua finalização. A premissa é obviamente bem absurda (como convinha ao estilo) e conta com um interesse a mais para os fãs dos Beatles, a presença do baterista Ringo Starr interpretando um personagem chamado Candy. O músico há anos tencionava se tornar ator de cinema e com o fim de seu famoso grupo resolveu investir na nova carreira, com resultados irregulares, pois mesmo tendo participado de bons filmes também não escapou de fazer parte de bombas cinematográficas constrangedoras. A estrela do filme porém é o ator americano Tony Anthony (de "O Forasteiro Silencioso", "O Pistoleiro e os Bárbaros", "Um Homem, um Cavalo, uma Pistola" e "Um Dólar Entre Os Dentes") que dá vida ao personagem principal, Blindman, o justiceiro cego. Curioso que esse papel tem certas semelhanças com o herói dos quadrinhos Demolidor, pois sua deficiência visual não o impede de ser um atirador impecável pois apesar de não ver seus alvos ele desenvolveu um sexto sentido que lhe dá a exata posição e distância de seus inimigos em duelos mortais. Em suma, um faroeste ítalo-americano bem divertido que até hoje é lembrado pelos amantes do gênero. Vale a pena rever e caso ainda não tenho assistido, corra atrás.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

O Revólver de um Desconhecido

Título no Brasil: O Revólver de um Desconhecido
Título Original: Chuka
Ano de Produção: 1967
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Gordon Douglas
Roteiro: Richard Jessup
Elenco: Rod Taylor, Ernest Borgnine, John Mills, Luciana Paluzzi, Louis Hayward
   
Sinopse:
Um destacamento da cavalaria americana chega em um forte destruído por nativos rebeldes. Todos os militares estão mortos e as mulheres desaparecidas. No local é encontrado o revólver de uma marca que nunca fez parte do arsenal usado pelo exército americano. Ditando seu relatório o Coronel do pelotão começa a contar em flashback tudo o que aconteceu naquela tragédia terrível para as forças armadas de sua nação.

Comentários:
Ótimo western que traz um roteiro muito bem escrito que procura, acima de tudo, desenvolver com capricho todos os personagens da trama. Entre eles o mais interessante é justamente o pistoleiro Chuka (Rod Taylor). Após viajar pelo deserto ele chega casualmente em um distante e isolado forte da quarta cavalaria americana. Lá conhece todos os tipos de militares, dos bons aos maus, a começar pelo próprio comandante, o Coronel Stuart Valois (John Mills) que foi designado para aquele posto distante justamente por causa de seu temperamento inadequado, agravado pelo alcoolismo. Seu imediato, o Major Benson (Louis Hayward), não é melhor, pois acaba se tornando um oficial desmoralizado por cometer atos bárbaros contra o inimigo, inclusive abusos sexuais frequentes contra índias capturadas. O único membro daquela tropa que parece ter algum respeito por sua farda é justamente o Sargento Otto Hahnsbach (Ernest Borgnine). Ele mantém uma fidelidade canina em relação ao seu Coronel, mesmo estando a tropa à beira de um motim. Se dentro do forte as coisas não andam bem, fora dos portões a situação é ainda mais grave pois uma aldeia inteira se prepara para invadir o posto militar avançado. Famintos e desesperados só restam aos índios destruir as forças de ocupação do homem branco para roubar armas e alimentos. Excelente enredo aliado a uma ótima direção do cineasta Gordon Douglas tornam esse faroeste americano um maravilhoso exemplo do que de melhor era produzido na época no gênero. Um pequeno clássico que merece ser redescoberto.

Pablo Aluísio.

Trágica Emboscada

Título no Brasil: Trágica Emboscada
Título Original: The Savage
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: George Marshall
Roteiro: L.L. Foreman, Sydney Boehm
Elenco: Charlton Heston, Susan Morrow, Peter Hansen

Sinopse:
Quando apenas era uma criança, James 'Jim' Aherne Jr (Charlton Heston) presenciou toda a sua família ser morta durante um ataque de nativos à caravana na qual viajava. Resgatado por uma tribo rival Sioux acaba sendo adotado pelo cacique de seu novo clã. Os anos passam e ele recebe o nome de "War Bonnet" entre seus pares. Com a quebra de um tratado firmado entre as tropas da cavalaria e a tribo Sioux, os tambores de guerra voltam a soar nas montanhas. A questão é: será que Aherne estará mesmo disposto a enfrentar o homem branco em um campo de batalha ou sua lealdade aos índios falará mais alto?

Comentários:
Charlton Heston aqui interpreta um homem branco criado no meio dos índios Sioux, o que não deixa de ser muito curioso, pois o ator acabou desenvolvendo uma de suas atuações mais físicas, já que "The Savage" é em essência um bangue-bangue típico dos anos 50, com muitas cenas de combate e ação envolvendo índios e a cavalaria americana. O tom dramático é dado pela dualidade vivida pela personagem de Heston, afinal se ele é um branco de nascença como se comportará caso exploda uma guerra entre os soldados e os índios Sioux? Um dos destaques da produção vem da bonita fotografia. O filme foi todo rodado na Carolina do Sul, nas montanhas conhecidas como Black Hills, uma região muito agraciada por belezas naturais. O roteiro só deixa a desejar mesmo na indecisão quase sempre constante do personagem principal, pois Inicialmente ele se coloca ao lado da paz, porém depois que sua irmã adotiva é morta por engano por soldados, ele volta atrás para armar um emboscada fatal para os militares enviados por Washington. E isso é apenas o começo pois haverá ao longo do filme outras reviravoltas. Charlton Heston também surge meio esquisito com figurinos indígenas e cabelos com trancinhas. Para quem o associa a filmes como "Ben Hur" e "Os Dez Mandamentos" certamente haverá uma dose de surpresa com seu visual fora do comum. No mais é isso, uma boa fita, valorizada também por um certo romantismo em relação ao estilo de vida e cultura dos Sioux.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Conspiração

Charlie Sheen interpreta Bobby Bishop, um jovem e promissor assessor do Presidente dos Estados Unidos. Sua vida profissional, como se pode perceber, está no auge. Tudo muda quando ele é procurado por um antigo professor da universidade de Direito, que lhe avisa que há uma grande conspiração envolvendo sociedades secretas, como a maçonaria, se formando para tirar o Presidente do poder. Agora ele é o alvo! Filme com roteiro muito bom que acabou fracassando nas bilheterias por culpa do ator Charlie Sheen. Como se sabe Sheen esteve sempre envolvido em escândalos e polêmicas. No começo da carreira Hollywood tentou transformá-lo em um novo Tom Cruise, mas isso obviamente não deu certo. Aliás Sheen ainda não perdeu o jeito para se envolver em todos os tipos de problemas. Recentemente ele assumiu estar com AIDS, além de ser viciado em crack. Deixando isso tudo de lado, todas as revistas de fofocas e a vida escandalosa de Sheen e suas matérias na imprensa marrom, sensacionalista, esse "Shadow Conspiracy" serviu para demonstrar o quanto ele poderia ser interessante apenas atuando nas telas de cinema.

O roteiro tem ótimas sacadas e o elenco é dos melhores, com direito a uma pontinha do escritor Gore Vidal como um senador conservador, mulherengo e crápula. A ironia veio no fato de que Vidal era um dos grandes representantes do movimento gay nos EUA. No mais o filme disseca o lado da podridão da política americana, com seus conchavos e conspirações. Esse é considerado também o filme mais inteligente do cineasta George P. Cosmatos, mais conhecido por "Rambo II - A Missão" e "Stallone Cobra". Infelizmente como o filme fracassou esse também acabou sendo seu último filme. Em Hollywood dificilmente se dá uma segunda chance a um diretor, não importando seus sucessos do passado.

Conspiração (Shadow Conspiracy, Estados Unidos, 1997) Estúdio: Hollywood Pictures / Direção: George P. Cosmatos / Roteiro: Adi Hasak, Ric Gibbs / Elenco: Charlie Sheen, Donald Sutherland, Linda Hamilton, Ben Gazzara, Stephen Lang, Gore Vidal. / Sinopse: Uma grande conspiração se instala nos mais altos escalões do poder dos Estados Unidos. Salve-se quem puder!

Pablo Aluísio.

Ninguém Deseja a Noite

Josephine Peary (Juliette Binoche) é uma francesa que decide ir até a gelada e distante Groenlândia (uma ilha próxima ao polo norte do planeta) em busca do marido, um aventureiro que está em busca de glória nas neves da região. Durante sua expedição Josephine acaba conhecendo uma nativa chamada Allaka (Rinko Kikuchi) do povo esquimó, criando uma nova visão da vida e do mundo. O grande mérito desse filme vem da presença da sempre interessante Juliette Binoche. Ela interpreta essa mulher, fútil, mas corajosa, que decide ir até uma região distante e isolada do mundo em busca de aventuras e novas experiências pessoais.

Como se pode perceber temos aqui um filme com teor até mesmo feminista. Não é para menos, o filme foi dirigido por uma cineasta, Isabel Coixet, que valoriza a todo momento aspectos pessoais de sua protagonista. Apesar de ser passado na Groenlândia (os jogadores de War se lembram bem desse lugar), a produção não tem a pretensão de ser uma aventura na neve ou algo parecido. Ao contrário disso valoriza aspectos humanos dos personagens em geral. Como é um filme francês era até mesmo previsível que algo assim acontecesse. Há inclusive um forte teor social, da velha escola, colocando os nativos como pessoas ingênuas e boas que supostamente seriam corrompidas pelos valores da civilização! Pois é, um novo retrato do velho estigma do "bom selvagem".

Ninguém Deseja a Noite (Nadie Quiere La Noche, França, Espanha, 2015) Estúdio: Audiovisual Aval SGR / Direção: Isabel Coixet / Roteiro: Miguel Barros / Elenco: Juliette Binoche, Rinko Kikuchi, Gabriel Byrne / Sinopse: Uma francesa decide ir morar numa longe e fria ilha, distante de tudo e todos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 9 de abril de 2019

Amor Estranho Amor

Walter Hugo Khouri foi um caso único no cinema brasileiro. Com excelentes contatos na Embrafilme conseguiu manter uma média fantástica de produções regulares ao longo de toda a sua carreira (foram no total 27 filmes, praticamente um a cada ano). Isso em um tempo em que era muito complicado para um cineasta manter qualquer regularidade em sua filmografia. Pois bem, Khouri fazia um cinema de autor, onde seu principal protagonista era quase sempre um alter ego dele mesmo. O que notabilizou esse filme para sempre, tornando o mais conhecido de toda a sua filmografia, foi o fato de trazer a até então modelo Xuxa Meneghel interpretando a personagem Tamara, uma prostituta que acaba seduzindo um jovem menino no bordel onde trabalha. Obviamente que um papel assim tão explosivo acabou cobrando um preço e tanto para Xuxa, uma vez que em poucos anos ela se tornaria uma badalada apresentadora infantil da Rede Globo, vendendo milhões de discos e fazendo um enorme sucesso em seu auge, entre as crianças. De repente sua presença nesse filme se tornou extremamente embaraçosa, fazendo com que ela conseguisse banir o filme das locadoras e depois de praticamente todos os lugares possíveis. Com a internet a coisa ficou bem mais complicada para ela pois as suas cenas podem ser facilmente encontradas. Antes de procurar é bom saber que não são sensuais ou excitantes, mas apenas deprimentes.

E afinal de contas qual foi o motivo para tanto escândalo? Além de surgir nua em cena há uma sequência em particular no filme em que ela seduz e leva para a cama um garoto - uma coisa simplesmente inimaginável no mundo de hoje, mas que na época de lançamento do filme soava até mesmo como algo natural tendo em vista a história que o diretor queria contar. "Amor Estranho Amor" não é, revisto hoje em dia, um belo exemplo do cinema nacional. Na verdade pode até ser considerada uma pornochanchada tardia, já na decadência do gênero. Não há como negar que o filme acabou se notabilizando mesmo por outras coisas (a nudez da Xuxa, por exemplo) e não por suas qualidades artísticas. Mesmo assim vale a pena ser visto nem que seja uma única vez para matar a curiosidade. Como obra cinematográfica porém realmente deixa bem a desejar. É bem apelativa e sem muito conteúdo.

Amor Estranho Amor (Brasil, 1982) Direção: Walter Hugo Khouri / Roteiro: Walter Hugo Khouri / Elenco: Vera Fischer, Tarcísio Meira, Xuxa Meneghel, Marcelo Ribeiro / Sinopse: Homem relembra seu passado, inclusive sobre suas primeiras experiências sexuais.

Pablo Aluísio.

Cidade Oculta

Eu me recordo que esse filme nacional foi lançado em VHS no Brasil no selo Manchete Vídeo. E depois de algum tempo foi exibido na própria Rede Manchete, canal que hoje não mais existe. Como eu era um adolescente cheio de hormônios explodindo por todos os lados, o que mais me chamou atenção aqui foi a presença da atriz Carla Camurati. Eu achava ela linda. Uma bonita loira de olhos azuis que de vez em quando presenteava seus fãs com generosas cenas de nudez. Nesse "Cidade Oculta" ela não se desnudou tanto como em outros filmes, mas isso não importava. Nos anos 80 um seio à mostra já era uma vitória e tanto.

Em relação ao filme em si foi até elogiado pela crítica da época. Não era comum, ou melhor dizendo, era praticamente zero a chance de um filme brasileiro tentar seguir os passos do cinema noir dos Estados Unidos. Esse filme tentou justamente isso. O resultado pode ser considerado um pouco irregular, mas a coragem dos realizadores em ir por esse caminho merece todos os nossos elogios.

Cidade Oculta (Brasil, 1986) Direção: Chico Botelho / Roteiro: Arrigo Barnabé, Chico Botelho / Elenco: Arrigo Barnabé, Carla Camurati, Cláudio Mamberti / Sinopse: Na noite de Sâo Paulo se misturam os mais variados tipos que vão de ladrões, policiais corruptos e mulheres fatais.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

A Mula

Clint Eastwood tem 88 anos de idade. Aposentadoria? Nem pensar! Tanto que nesse seu novo filme ele não se contentou em apenas atuar. Ele também produziu, dirigiu e escreveu parte do roteiro! Incrível mesmo sua disposição para seguir em frente no cinema. E como não poderia deixar de ser, ele aqui interpreta um octogenário que vê sua vida mudar. Sua fazendinha de plantação de flores é tomada pelo banco. Sem dinheiro e com problemas na família ele decide então aceitar um serviço que parece fácil (mas só parece). Ele deve ir até uma garagem de um posto de gasolina para receber uma "encomenda" a ser levada até um certo destino. O pagamento é excepcional. Claro que ele sabe que se trata de drogas, mas como já está no final de sua jornada nem pensa muito e aceita o tal serviço.

Assim se torna mais uma "mula" de um cartel de drogas mexicano. Como é um velho senhor não desperta suspeitas nos policiais que acaba esbarrando pelo caminho. É o "disfarce" perfeito. No começo as coisas vão muito bem. Ele ganha bastante dinheiro, a ponto inclusive de comprar uma nova camionete zero, último modelo, tinindo de nova. Porém aos poucos o cerco policial vai se fechando. A quantidade de drogas transportada é absurda, em certa ocasião ele chega a levar 300 kilos de uma cidade para outra e por isso o DEA (departamento anti-drogas) começa a ficar no seu encalço. Clint continua o mesmo ator carismático de sempre. Basta sua presença na tela para justificar qualquer filme, só que aqui, pela primeira vez, podemos ver com nitidez o peso da idade no ator. Ele tem uma certa dificuldade para falar e andar. As costas curvadas mostram os efeitos do tempo. Não é para menos, já que ele está próximo dos 90 anos! De qualquer maneira é sempre um prazer rever o bom e velho Clint. A dignidade pessoal aliás está mais forte e presente como nunca. Poucos conseguiram essa proeza.

A Mula (The Mule, Estados Unidos, 2018) Direção: Clint Eastwood / Roteiro: Clint Eastwood, Sam Dolnick, Nick Schenk / Elenco: Clint Eastwood, Bradley Cooper, Dianne Wiest, Laurence Fishburne, Taissa Farmiga, Michael Peña / Sinopse: Velho senhor, já na beira dos 90 anos, decide aceitar a oferta de serviço de "mula" de traficantes mexicanos. Ele terá que transportar drogas de uma cidade para outra em sua velha camionete. A intenção é despistar, com sua aparência de senhor idoso, a polícia que começa a investigar o caso.

Pablo Aluísio.

O Sétimo Filho

A única coisa que me fez assistir a esse filme foi a presença de Jeff Bridges no elenco. Ele, em minha opinião, está naquela categoria de atores que fazem o cinéfilo encarar qualquer coisa, mesmo filmes fracos ou meramente medianos. Nessa última categoria se classifica esse filme de fantasia, meio fora de moda, com roteiro cheio de clichês. A Universal gastou quase 100 milhões de dólares em sua produção, mas o resultado final é bem decepcionante. Bridges interpreta um caçador de bruxas e feiticeiras na idade média. Uma de suas principais rivais é a misteriosa Malkin (interpretada por Julianne Moore, outro bom motivo para assistir). O tal sétimo filho é o assistente de Bridges na estória. Deveria ser o protagonista, mas o ator que o interpreta, chamado Ben Barnes, quase coloca tudo a perder. Ele é bem ruinzinho.

Assim sobram efeitos especiais (alguns bem feitos, outros nem tanto), um clima de aventura medieval e um roteiro bem fraquinho, que só serve para dar uma desculpa para as cenas de ação. O interessante é que o filme foi feito visando atrair o público da China. Isso mesmo, é uma produção entre China e Estados Unidos. Nos cinemas americanos o filme fracassou, mas conseguiu gerar lucro no país da grande muralha. Então o estúdio se saiu com uma desculpa esfarrapada, dizendo que o roteiro não era lá essas coisas porque foi simplificado, para o público chinês. Justificando assim parece até que o público chinês de cinema não prima muito pela inteligência. Melhor teria sido o silêncio. No final das contas o filme não me aborreceu, embora igualmente não tenha me surpreendido em nada. Em termos de originalidade nesse universo de fantasia, não há nada mesmo a encontrar. Tudo mais do mesmo.

O Sétimo Filho (Seventh Son, Estados Unidos, China, 2014) Direção: Sergei Bodrov / Roteiro: Charles Leavitt , Steven Knight / Elenco: Jeff Bridges, Julianne Moore, Ben Barnes, Alicia Vikander / Sinopse: O Mestre Gregory (Bridges) ganha a vida caçando feiticeiras e bruxas. Agora terá seu maior desafio, enfrentar a poderosa Malkin (Moore) que busca vingança, pois no passado foi aprisionada por ele em uma cova, bem no meio do deserto.

Pablo Aluísio.

domingo, 7 de abril de 2019

Wild Bill - Uma Lenda No Oeste

Cinebiografia de Wild Bill Hickok, um dos mais conhecidos nomes da mitologia do velho oeste americano. Veterano da Guerra Civil americana, condutor de diligências, Xerife, jogador inveterado e pistoleiro de aluguel, Wild Bill foi um dos mais temidos homens de seu tempo. Extremamente hábil no gatilho ele desafiou grandes nomes de sua época.  A vida de Bill foi movimentada desde seus primeiros anos. Aos 18 anos se uniu às tropas do General Lee e foi lutar ao lado do exército da confederação. Lá conheceu e se tornou amigo de Buffalo Bill. Ao sair do exército foi perambular pelo oeste selvagem e se envolveu em vários duelos que ficaram famosos pois foram fartamente noticiados pela imprensa, garantindo sua fama em todo o país.

Lidar com um nome tão conhecido do velho oeste pode ser complicado. Felizmente o filme é muito bom, interessante e bem editado. Ao invés de contar cronologicamente a história de Wild Bill o diretor optou por narrar os últimos momentos de vida dele, onde aos poucos sua história é relembrada em diversos flashbacks (em preto e branco, na maioria das vezes). O filme é curto, pouco mais de 90 minutos, o que torna insuficiente para mostrar toda a vida do famoso personagem (que foi de tudo um pouco na vida, desde caçador de búfalos a xerife de cidades perigosas como Deadwood). Talvez apenas uma minissérie conseguiria contar todas as histórias envolvendo Wild Bill.

Tecnicamente muito bem escrito, o roteiro romanceou alguns aspectos da vida do famoso pistoleiro para trazer mais interesse à trama. São pequenas licenças que o roteirista pede para a história real dos fatos, nada muito comprometedor. A mais significativa dessas mudanças foi a relação que os roteiristas criaram entre o assassino de Wild Bill e um amor do passado dele, algo inexistente na vida do famoso pistoleiro. Obviamente que ambos os personagens existiram realmente, mas Jack McCall, o assassino de Bill (que seria enforcado por esse crime) não era filho de Susannah Moore, a antiga namorada de seu passado. Essa foi apenas uma tentativa de trazer mais dramaticidade ao filme.

Jeff Bridges está muito bem no papel e todo o elenco de apoio é acima da média, principalmente Ellen Barkin como Calamity Jane, outra personagem que foi imortalizada pelo cinema em diversos filmes ao longo desses anos. Fazendo às vezes de narrador o filme ainda traz o ótimo John Hurt no papel de um amigo inglês de Wild Bill. Jeff Bridges aliás sempre se sai muito bem em faroestes, não apenas por ter o tipo certo, como também por incorporar trejeitos da época de uma forma muito convincente. Cantor de música country nas horas vagas ele parece mesmo ter um afeto especial por todo esse universo. Enfim, "Wild Bill - Uma Lenda No Oeste" pode até não ser perfeito do ponto de vista histórico, porém é um faroeste acima da média que ajuda a resgatar essa importante figura do passado.

Wild Bill - Uma Lenda No Oeste (Wild Bill, Estados Unidos, 1995) Estúdio: United Artists / Direção: Walter Hill / Roteiro: Thomas Babe, baseado no livro de Peter Dexter / Elenco: Jeff Bridges, Ellen Barkin, John Hurt / Sinopse: o filme conta a história real do pistoleiro Wild Bill que fez fama no velho oeste americano. Filme indicado ao prêmio da National Society of Film Critics Awards na categoria de Melhor Ator (Jeff Bridges). Também indicado na mesma categoria no New York Film Critics Circle Awards.

Pablo Aluísio.

Colette

Esse filme conta a história da escritora francesa Sidonie-Gabrielle Colette. E essa não foi uma história comum, típica de uma mulher de sua época. Ela era filha de um veterano de guerra, um homem honesto, mas pobre, sem recursos. Em um tempo em que as mulheres casavam oferecendo dotes aos maridos ela definitivamente não era uma futura esposa almejada por muitos. Quem acabou se interessando por ela foi um homem mais velho, um escritor meio fracassado chamado  Henry Gauthier-Villars, conhecido no meio literário como Willy. Ele contratava escritores fantasmas e depois colocava seu nome como autor. Algo nada honesto.

Então ele descobre o grande talento de sua nova esposa com as letras. Sempre endividado e à beira da falência ele colocou Colette para escrever incansavelmente. Acabou encontrando finalmente o sucesso, mas explorando sua esposa para isso. Embora os livros fossem escritos por ela, ele os assinava, levando os lucros e a fama pelo sucesso dos livros lançados. Chegava ao ponto de trancá-la em um quarto até que ela escrevesse novas páginas para os romances. Uma espécie de escravidão literária.

E então finalmente Colette decide te ruma vida independente. Ela pede o divórcio e começa um caso homossexual com marquesa Mathilde de Morny. Porém ainda havia a questão dos livros, algo que levou o ex-casal a lutar por anos e anos nos tribunais franceses. Eis aqui um bom filme, não apenas bem realizado, mas também recheado de trechos mais do que curiosos. Como escrevi essa escritora não teve uma vida comum, ao contrário disso, foi bem tumultuada, cheio de problemas. No meio de tudo havia o amor pela arte, não apenas dos livros, mas também das peças de teatro, da dança e das performances. Foi através disso que Gabrielle Colette se tornou realmente imortal.

Colette (França, Estados Unidos, Inglaterra, 2018) Direção: Wash Westmoreland / Roteiro: Richard Glatzer, Wash Westmoreland / Elenco: Keira Knightley, Dominic West, Arabella Weir, Fiona Shaw, / Sinopse: O filme conta a história da escritora francesa Gabrielle Colette, de seu casamento com Henry Gauthier-Villars (Willy), até seu romance com a marquesa Mathilde de Morny. Filme premiado pelo British Independent Film Awards.

Pablo Aluísio.

sábado, 6 de abril de 2019

O Retorno de Mary Poppins

A Disney tinha duas opções para trazer a personagem Mary Poppins de volta aos cinemas. A primeira seria fazer um remake do filme clássico original. A segunda seria produzir uma continuação. Acabou decidindo pela segunda alternativa. Esse novo filme da Mary Poppins é uma espécie de sequência do primeiro filme. Ela retorna, reencontra as crianças do primeiro filme (agora adultos, com problemas financeiros) e vai cuidar dos filhos deles. O clima de magia e inocência continua o mesmo. Há muitas canções (o filme poderia ser considerado um musical ao velho estilo) e cenas que misturam animação à moda antiga com atores reais. A produção é caprichada e de bom gosto, porém nada disso parece ter atraído a criançada dos dias de hoje.

O filme custou 130 milhões de dólares e mal conseguiu recuperar o investimento nas bilheterias dos cinemas. Era algo esperado. Esperar a mesma reação de uma criança atual como a das crianças da década de 1960 era algo que definitivamente não iria acontecer. Não se repetiria. As crianças atuais estão mais ligadas em tecnologia e games. Uma babá como Mary Poppins, mesmo com seus "poderes mágicos" não seria mesmo um atrativo para a gurizada.

De bom mesmo temos um ótimo elenco, mesmo que algumas estrelas tenham pouco espaço em cena. A premiada Meryl Streep interpreta uma prima de Mary Poppins, com direito a música e coreografia próprias. A maquiagem é pesada, mas o talento se sobressai. Colin Firth é o banqueiro sem alma que quer colocar as mãos numa casa hipotecada, justamente onde vivem as crianças que Mary está cuidando. O filme revela ainda o talento de Emily Blunt em musicais. Ela canta, dança e se sai muito bem no filme. Todos já sabiam que como atriz ela era realmente muito boa, acima da média, mas esses outros talentos ainda eram desconhecidos do grande público. De fato ela é uma artista completa.

O Retorno de Mary Poppins (Mary Poppins Returns, Estados Unidos, 2018) Direção: Rob Marshall / Roteiro: David Magee / Elenco: Emily Blunt, Meryl Streep, Colin Firth, Lin-Manuel Miranda, Ben Whishaw / Sinopse: A babá Mary Poppins (Blunt) retorna para rever as crianças que cuidou no passado. Elas agora são adultas, com problemas financeiros com o banco. Aos poucos ela vai tentando ajudar, enquanto cuida de novas crianças. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Música Original, Melhor Canção Original ("The Place Where Lost Things Go"), Melhor Figurino e Melhor Design de Produção. Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Comédia ou Musical, Melhor Atriz (Emily Blunt), Melhor Ator (Lin-Manuel Miranda) e Melhor Trilha Sonora.

Pablo Aluísio.

Kursk

Eu me recordo muito bem da história desse filme. Acompanhei pela imprensa. Em agosto de 2000 o submarino nuclear russo K-141 Kursk perdeu contato com sua frota no Mar de Barents. Era uma das máquinas de guerra mais importantes da frota do norte. Após algumas buscas descobriu-se que o submarino havia sofrido um acidente grave. Um dos torpedos explodiu dentro do Kursk. Nele havia uma tripulação de 118 homens. A maioria morreu na explosão. Apenas 20 sobreviventes tentaram pedir por socorro, batendo com martelos nas grossas camadas de aço do submarino.

O filme se concentra justamente nessa operação de salvamento. Inicialmente os russos tentaram salvar os tripulantes sobreviventes, porém como bem mostrado no filme, a frota do norte estava sucateada (um aspecto bem presente nas forças armadas russas atualmente). Feridos em seu orgulho patriótico, os comandantes da marinha russa hesitaram muito em pedir ajuda internacional. Até porque eles entendiam que isso seria uma espécie de humilhação pública perante o mundo. Enquanto decidiam o que fazer os marinheiros ficaram no fundo do oceano, esperando por um socorro que parecia nunca chegar.

Esse bom filme foi produzido pelo cineasta Luc Besson. Ele contratou pessoalmente dois excelentes atores para o elenco. O primeiro deles foi o grande Max von Sydow. Ele interpreta esse velho homem do mar, um almirante russo cheio de orgulho que não quer a ajuda dos ingleses no resgate. Já Colin Firth é o oficial inglês, que oferece os meios mais modernos para resgatar os marinheiros russos. O filme captou muito bem toda a atmosfera da tragédia do Kursk, não esquecendo de também desenvolver a vida dos marujos, de suas famílias e as perdas que sofreram. Sob o ponto de vista cinematográfico é uma bela obra. Na ótica histórica também não deixa nada a desejar.

Kursk (Bélgica, França, Luxemburgo, 2018) Direção: Thomas Vinterberg / Roteiro: Robert Rodat, baseado no livro "A Time to Die" de Robert Moore / Elenco: Max von Sydow, Colin Firth, Matthias Schoenaerts, Léa Seydoux, Peter Simonischek / Sinopse: O filme resgata a história da tragédia que envolveu o submarino nuclear Kursk em agosto de 2000.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Shazam!

O personagem do Capitão Marvel é um dos mais antigos do mundo dos quadrinhos. Foi criado em 1940 e no auge de sua popularidade conseguiu vender mais quadrinhos do que o próprio Superman. Depois a editora original que o publicava faliu e os direitos foram comprados pela DC Comics. O curioso é que a nova editora não soube aproveitar bem seu potencial, o desperdiçando na maioria das vezes, algo que se repete também aqui nesse seu primeiro filme para o cinema. Convenhamos, esse roteiro não ajuda muito. Há um tom de comédia (e até pastelão) que acabou transformando o antigo herói em basicamente um bobão! Tudo bem que ele seria apenas um garoto de 14 anos em sua mentalidade, mas precisavam mesmo exagerar tanto na dose?

Assim o que temos aqui é uma versão um tanto abobada do Capitão Marvel. O enredo procura dar uma modernizada em suas antigas origens, mas só consegue ser bem sucedido em termos. Zachary Levi, o ator que interpreta o herói, é basicamente um comediante e leva seu trabalho nessa linha mesmo, a do humor. Com uma roupa cheia de enchimentos para parecer mais forte do que é, seu estilo me soou muito exagerado, desproporcional. O mais estranho é que o garoto Billy Batson tem um comportamento mais bem equilibrado do que o dele, que seria a versão adulta de Billy! Ai entra a maior contradição desse roteiro que me pareceu bem ruinzinho no que diz respeito à caracterização dos personagens.

O filme custou 100 milhões de dólares e até o momento conseguiu, à duras penas, faturar 400 milhões (no mercado americano e internacional). Provavelmente será tudo o que conseguirá atingir. Não chegou perto do grande sucesso da temporada, a do filme da Capitã Marvel. Penso que erraram a mão (mais um vez) em termos de adaptação para o cinema dos heróis da DC Comics. Agora virou uma situação de 8 ou 80. Ou tudo surge cinzento e obscuro demais ou então seu extremo oposto, bobo e infantil. A DC deve calibrar melhor seu material quando for para as telas.

Shazam! (Estados Unidos, 2019) Direção: David F. Sandberg / Roteiro: Henry Gayden, Henry Gayden, baseados no personagem dos quadrinhos criado por C. C. Beck e Bill Parker / Elenco: Zachary Levi, Mark Strong, Asher Angel, Jack Dylan Grazer, Adam Brody, Djimon Hounsou / Sinopse: O garoto de 14 anos Billy Batson acaba ganhando poderes especiais dado por um mago misterioso. Ao gritar o nome "Shazam!" se torna um super-herói com o poder de voar, desenvolver super velocidade, grande força, entre outros. Agora precisará enfrentar um vilão que deseja tomar posse de todos os seus poderes.

Pablo Aluísio.

Estrada Sem Lei

A história de Bonnie e Clyde já rendeu um clássico ao cinema. Estou me referindo a "Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas" (EUA, 1967) com Warren Beatty e Faye Dunaway. Uma obra-prima. Agora o canal Netflix resolveu contar a história dos policiais que deram fim ao casal criminoso mais famoso do século XX. Esse "The Highwaymen" conta basicamente o mesmo fato histórico, só que de um outro ponto de vista, focando nos policiais que foram atrás do casal pelas estradas americanas empoeiradas e desoladas do interior. Aqui se destacam dois personagens principais, dois veteranos, antigos membros do Texas Rangers, que unem forças para um último (e definitivo) serviço.

É uma caçada humana, com muitos momentos de tensão e violência. Obviamente que a capacidade de rastrear desses velhos homens da lei foi crucial nessa busca. Eles conseguiram antever os passos dos criminosos, chegando nas cidades antes mesmo deles irem para lá. Usando da máxima "Bandidos são como cavalos selvagens, sempre voltam para seu lar", eles utilizaram como bússola as cidades onde moravam parentes dos membros da quadrilha. Uma estratégia eficiente, que acabou dando muito certo. Em pouco tempo ficaram no rastro dos bandidos. O interessante desse roteiro é que a interação com Bonnie e Clyde é mínima, tal como se deu na vida real. Eles estão sempre presentes como alvo a ser alcançado pelos policiais, mas nunca como presença real. Apenas no momento final é que o caminho deles se cruzam de forma definitiva.

Por fim, tanbém não poderia deixar de elogiar os atores Kevin Costner e Woody Harrelson. Estão ótimos como os velhos Rangers. O papel de Kevin Costner me lembrou muito de "Os Intocáveis" quando interpretou o policial Eliot Ness. Foi ele quem prendeu o também famoso Al Capone. Tudo a ver com a grande era dos gângsters, do qual Bonnie e Clyde também fizeram parte.  Já Harrelson está em um momento maravilhoso na carreira, fazendo uma sucessão de bons filmes em série. Não poderia estar melhor no filme. Juntos eles fizeram o melhor filme com o selo Netflix que já assisti. Um excelente policial de época que poderia perfeitamente ter sido lançado no cinema, onde seguramente faria sucesso. Qualidade cinematográfica para isso certamente não lhe faltaria.

Estrada Sem Lei (The Highwaymen, Estados Unidos, 2019) Direção: John Lee Hancock / Roteiro: John Fusco / Elenco: Kevin Costner, Woody Harrelson, Kathy Bates, John Carroll Lynch / Sinopse: Durante a década de 1930 o casal de criminosos Bonnie e Clyde espalha terror pelo interior dos Estados Unidos, numa trajetória de crimes. Para localizar o casal a governadora do Texas decide contratar um velho Texas Ranger que ao lado de seu antigo parceiro ganha a estrada em busca do paradeiro dos criminosos. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

As Viúvas

O diretor Steve McQueen sempre surge nos cinemas com filmes interessantes. O forte dele não se concentra apenas na boa direção dos atores, mas também na escolha de roteiros bem escritos. Aqui temos três núcleos de personagens onde o enredo se desenvolve. O primeiro núcleo é formado por uma quadrilha de criminosos, assaltantes a bancos, liderados por Harry Rawlings (Liam Neeson). Após um roubo eles fogem à toda velocidade pelas ruas da cidade, sendo perseguidos pela polícia. O caos é completo, com tiros e explosões para todos os lados. A única lei que prevalece é a da sobrevivência.

No segundo núcleo temos dois políticos que disputam o controle de uma subsidiária da prefeitura localizada em um bairro suburbano, de população negra e pobre. Esses políticos são tão corruptos e criminosos quanto os próprios assaltantes. Todos podres. Por fim há o grupo das viúvas que dá título ao filme. Só que elas não são viúvas comuns. Pelo contrário, seus maridos foram mortos pela polícia. Uma delas passa a ser ameaçada por antigos comparsas do marido. Eles querem saber onde foi parar os dois milhões de dólares que ele roubou e escondeu. A pobre mulher não sabe de nada, mas precisa agir, antes de ser morta pelos bandidos.

O diretor Steve McQueen cria assim o cenário por onde seus personagens desfilam na tela. Não há absolutamente ninguém que preste entre eles. São todos criminosos em maior ou menor grau. Todos são gananciosos, sem escrúpulos e estão dispostos a tudo para colocarem as mãos no dinheiro roubado. É curioso que o espectador fique sem ter por quem torcer. Afinal as tais viúvas passam longe de exemplos, na verdade elas logo se tornam também criminosas, planejando um grande roubo. Claro, nem tudo sai como elas querem. Eu gostei do filme, mas fiquei um pouco incomodado por essa falta de um protagonista decente, que passe pelo menos um exemplo bom. Nem que fosse algum policial investigando os crimes, por exemplo. Do jeito que ficou "As Viúvas" mais parece um estudo de criminologia onde temos que torcer pelos menos piores ou pelos menos inescrupulosos. Vou torcer para o bandido A ou B? Não me parece ser uma decisão fácil de tomar.

As Viúvas (Widows, Estados Undos, Inglaterra, 2018) Direção: Steve McQueen / Roteiro: Gillian Flynn, Steve McQueen / Elenco: Viola Davis, Michelle Rodriguez, Elizabeth Debicki, Liam Neeson, Robert Duvall, Colin Farrell / Sinopse: Criminosos, políticos corruptos e uma quadrilha formada por viúvas de bandidos mortos, convive numa grande cidade americana infestada de crimes. O prêmio máximo será dado a quem colocar as mãos primeiro em uma bolada de dois milhões de dólares roubados de um banco da cidade. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Atriz (Viola Davis).

Pablo Aluísio.

Alita

Esse filme custou 170 milhões de dólares. Foi produzido e roteirizado pelo James Cameron e bateu de frente com a "Capitã Marvel" nas bilheterias americanas. Perdeu a disputa, mas a despeito disso conseguiu ainda faturar 400 milhões de dólares, um número que não decepcionou ao estúdio. Embora seja um espécie de filme pessoal de Cameron, ele preferiu não dirigir, passando o bastão para Robert Rodriguez. A boa notícia é que o cineasta acertou a mão em todos os detalhes, fazendo um filme mesclado (meio animação gráfica, meio atores de verdade) que funcionou excepcionalmente bem no quesito diversão.

Na realidade é uma adaptação de uma obra japonesa escrita por Yukito Kishiro, Lançado na Terra do Sol Nascente com o nome de  "Gunnm" logo caiu nas graças do público que curte mangá. E isso é fácil de entender. A protagonista é uma andróide adolescente chamada Alita, Partes de seu corpo foram achados em um ferro-velho pelo Dr. Dyson Ido (Christoph Waltz) que resolve reconstrui-la. O que ele nem desconfia é que a garotinha na verdade é uma arma de guerra, usada para invadir o nosso mundo há 300 anos. Naquele passado distante quase todo o planeta foi destruído, sobrando apenas uma cidade flutuante, enquanto o resto da humanidade passou a viver no meio do caos e da violência.

O filme funciona não apenas por ter uma excelente produção onde você consegue ver cada dólar investido, mas também por apostar em um roteiro que procura tocar no sentimento do espectador. A andróide teen é realmente fenomenal nas lutas contra outros seres futuristas, mas também tem anseios e sentimentos típicos de uma adolescente apaixonada pela primeira vez. Eu não esperava grande coisa, mas acabei gostando de praticamente tudo. O design de produção procurou copiar fielmente a imagem da personagem dos quadrinhos japoneses, o que lhe vale ter aqueles grandes olhos cheios de sentimento que conhecemos bem dos mangás. No final a porta fica aberta para futuras continuações. Terá uma sequência? Bom, esse tipo de pergunta apenas o James Cameron poderia responder.

Alita: Anjo de Combate (Alita: Battle Angel, Estados Unidos, 2019) Direção: Robert Rodriguez / Roteiro: James Cameron, Laeta Kalogridis / Elenco: Rosa Salazar, Christoph Waltz, Jennifer Connelly, Mahershala Ali, Keean Johnson / Sinopse: Em um mundo pós-apocalíptico, 300 anos no futuro, a andróide Alita é resgatada do ferro-velho por um especialista chamado Dyson Ido (Christoph Waltz). Ele decide remontá-la, para reativá-la e descobre que ela não é uma andróide comum, mas sim uma máquina de guerra de origem extraterrestre.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 3 de abril de 2019

O Peso do Passado

Nicole Kidman, uma das atrizes mais belas do cinema mundial, decidiu deixar de lado o glamour e a beleza para interpretar sua personagem nesse filme. Temos aqui um roteiro bem elaborado, mostrando o peso da culpa de um passado cheio de falhas na vida da policial Erin Bell (Kidman). Atualmente trabalhando no departamento de homicídios ela recebe uma nota de dólar manchada, dentro de um envelope. É uma mensagem cifrada que ela sabe muito bem o que significa.

No passado ela trabalhou em uma missão de infiltração policial numa quadrilha de assaltantes a bancos. Fingindo ser uma mulher gananciosa acabou sendo aceita dentro do grupo. Ao seu lado, também disfarçado, trabalhou um agente do FBI com quem ela acabou tendo um relacionamento amoroso. Só que o disfarce acabou mexendo com sua mente e durante um dos assaltos nada acabou saindo como o planejado. Pior do que isso, ela decidiu agir completamente fora da lei e das suas funções de policial.

O roteiro é disperso, o que não significa ser ruim. Pelo contrário, como num jogo de cartas marcadas, tudo vai se revelando aos poucos ao espectador. A policial de Kidman tem muitos problemas pessoais. Uma filha que está namorando um vagabundo, que ela odeia. Um ex-marido problemático e um caso não resolvido de seu passado que precisa ser eliminado antes que seus superiores dentro da polícia venham a descobrir tudo. A coisa acaba se resolvendo na bala, o que definitivamente vai chocar alguns. O interessante é que a diretora Karyn Kusama deu um tirmo pesado ao filme. Tudo parece cinza e sem esperanças. Nada é colocado facilmente na tela, tudo parece sair com muita dor e esforço. Nem todos vão gostar, mas no meu caso pessoal acabei gostando bastante desse estilo. Assim deixo a dica para quem procura por um filme policial que fuja dos padrões de Hollywood.

O Peso do Passado (Destroyer, Estados Unidos, 2018) Direção: Karyn Kusama / Roteiro: Phil Hay, Matt Manfredi / Elenco: Nicole Kidman, Toby Kebbell, Tatiana Maslany, Sebastian Stan / Sinopse: Policial de Los Angeles precisa encobrir algo nebuloso de seu passado, algo que aconteceu durante uma operação de infiltração numa quadrilha de assaltantes de bancos. Sua única saída é encontrar o antigo líder do bando, para assassiná-lo antes que ele conte tudo o que sabe. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Nicole Kidman).

Pablo Aluísio.

Carrasco Americano

Dois homens acorrentados recuperam a consciência em um porão mal iluminado. Eles foram trazidos até ali por um desconhecido, um sujeito que obviamente não tem boas intenções. Aos poucos a situação bizarra começa a fazer sentido. Ok, no começo do filme você chega a pensar que está assistindo a um genérico de "Jogos Mortais", mas não é bem isso que o espera. O filme se propõe a discutir justiça em cima das falhas do sistema judiciário. Aqui o juiz vira acusado e o sujeito que supostamente seria seria o réu vira seu algoz. Uma mudança de papéis que passa a ser transmitida ao vivo pela internet. Caberá aos internautas decidirem sobre o futuro do magistrado acorrentado. Ele é ou não culpado por ter condenado um homem inocente a pena de morte?

O velho juiz é interpretado pelo ótimo Donald Sutherland, Ele tenta argumentar com seu sequestrador, tudo na base legal, da lei. Uma de suas argumentações é que obviamente aquilo nunca foi um tribunal, apenas um jogo sádico controlado por um psicopata serial. O foco também se dirige para o passado, onde uma garotinha foi morta por um pedófilo. Foi esse caso que fez com que o juiz interpretado por Sutherland enviasse um homem inocente para a cadeira elétrica. Ele errou, o sistema judiciário errou, os policiais na investigação erraram. Tudo deu errado. Agora o raptor se coloca na posição de juiz e carrasco, pronto para fazer cumprir a vontade das pessoas que assistem ao "julgamento" pela internet. Aqui o povão vira júri, sendo sua decisão soberana. Nem é preciso dizer que o juiz obviamente fica numa situação limite, afinal no meio do sadismo reinante todos parecem dispostos a condenar o magistrado à morte. Um dia da caça, outro do caçador.  É um bom filme de suspense que prende a atenção até o fim. Curto e eficiente, cumpre plenamente tudo o que prometeu.

Carrasco Americano (American Hangman, Estados Unidos, 2019) Direção: Wilson Coneybeare / Roteiro: Wilson Coneybeare / Elenco: Donald Sutherland, Vincent Kartheiser, Oliver Dennis, Paul Amato / Sinopse: Henry David Cole (Vincent Kartheiser), um sujeito visivelmente perturbado resolve fazer justiça pelas próprias mãos. Ele sequestra o velho juiz Straight (Donald Sutherland) e o coloca online na internet para seu próprio julgamento. O magistrado errou, condenando um homem inocente à morte. Agora ele será julgado pelos internautas e a pena será cumprida ali mesmo, na frente de todos.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 2 de abril de 2019

Creed II

Esse filme tem uma ligação direta com "Rocky IV" de 1985. Quem poderia esquecer do gigante lutador de boxe soviético Ivan Drago? Pois é, ele está de volta. Mas claro que não subirá ao ringue. Quem toma as honras agora é seu filho, um sujeito com muitos músculos e ódio. O alvo passa a ser Adonis Johnson, filho de Apollo, lutador que foi literalmente destruído por Drago no filme original de 1985. Assim temos mais uma revanche de sangue, onde esporte e vingança se mesclam na mesma dose. "Creed II" não é tão bom como o primeiro filme. Claro, a chegada de Drago e seu filho mantém o interesse, principalmente do fã veterano dos filmes de Stallone. Só que convivem na tela duas linhas narrativas que acabam atrapalhando o filme como um todo.

Na primeira temos o drama, com Adonis e sua esposa, prestes a terem uma filha. O medo é de que ela nasça com problemas auditivos da mãe. Essa parte do filme é bem chata e sem ritmo. Pior é que torna o filme excessivamente longo e lento, com cenas desnecessárias. Um roteiro mais enxuto nessa parte cairia muito bem. Já na outra linha narrativa, a que explora o duelo esportivo entre o americano negro em busca de vingança pela morte do pai e o gigante russo que quer o cinturão dos pesos pesados, é excelente. É o que mantém o filme de pé. Há apenas duas lutas no filme, mas elas são tão bem editadas e coreografadas que me fizeram lembrar dos bons filmes da franquia Rocky. E de quebra temos o bom e velho Stallone aqui como um Rocky na terceira idade, relembrando do passado glorioso, enquanto tenta treinar seu jovem pupilo. Um filme que se tivesse se apoiado exclusivamente no suor e nas lutas de boxe no ringue, seria mesmo perfeito como pura diversão cinematográfica.

Creed II (Estados Unidos, 2018) Direção: Steven Caple Jr / Roteiro: Sylvester Stallone, Cheo Hodari Coker, Ryan Coogler / Elenco: Sylvester Stallone, Michael B. Jordan, Dolph Lundgren, Florian Munteanu, Tessa Thompson / Sinopse: Adonis Creed (Jordan), campeão mundial de boxe dos pesos pesados é desafiado por Viktor Drago (Munteanu), filho de Ivan Drago, boxeador russo que no passado venceu seu pai nos ringues.

Pablo Aluísio.

Capitã Marvel

Eu ando muito por fora de histórias em quadrinhos... Confesso que conhecia o Capitão Marvel desde criança, mas a Capitã Marvel... olha, nunca tinha ouvido falar. Também isso é previsível pois não sou leitor de gibis. De qualquer forma... cinema sempre foi minha paixão e assim temos aqui essa nova aventura Marvel com essa personagem que, pelo que soube, sempre foi bem secundária nas revistas - isso apesar de ser uma heroína cheia de poderes! Pois bem,  aqui vão minhas impressões de leigo em comics, mas fã da sétima arte. O filme me agradou. É aquele tipo de produto que gosto de chamar de linha cósmica da Marvel, com muitos planetas e civilizações extraterrestres, seres de outras raças do universo, etc. Se você curte "Star Trek" muito provavelmente vai gostar desse filme (o roteiro até faz piadinhas sobre os trekkers, fãs de Jornada Nas Estrelas).

A atriz Brie Larson tem dois atributos que logo chamam a atenção: é muito bonita e bem carismática. Ela ganha o filme já nas primeiras cenas. Seu contraponto ao lado de Samuel L. Jackson funcionou perfeitamente bem. Sim, o elenco de um modo em geral segurou muito bem o roteiro, com destaque até para uma participação (importante dentro da trama) da veterana Annette Bening; Fazia muitos anos que a tinha visto no cinema. Então foi um reencontro agradável.  Jude Law também está adequado. Ele faz muito bem esse tipo de papel, a do sujeito que parece ser seu amigo, mas que pode estar escondendo um punhal para enfiar nas suas costas quando aparecer a oportunidade.

Em termos de produção temos efeitos especiais de luz e brilho à vontade. Só não gostei muito das cenas de lutas dentro da nave. Elas me pareceram escuras demais e em certos momentos também confusas, do tipo "quem está batendo em quem agora?". O uniforme da mocinha é nitidamente brega, mas isso faz parte do pacote e também rende algumas piadinhas ao longo do filme. Por fim é bom salientar que essa Capitã conseguiu superar a marca do 1 bilhão de dólares arrecadados ao redor do mundo! Incrível uma cifra dessas! Ela logo estará no novo filme dos Vingadores e ao que tudo indica será uma das salvadoras do universo Marvel no cinema. Isso tanto do ponto de vista das estorinhas, como também comercialmente falando. A Marvel já pode ir preparando os cofres para encher com essa fortuna nos próximos anos...

Capitã Marvel (Captain Marvel, Estados Unidos, 2019) Direção: Anna Boden, Ryan Fleck / Roteiro: Anna Boden, Ryan Fleck / Elenco: Brie Larson, Samuel L. Jackson, Annette Bening, Jude Law, Ben Mendelsohn / Sinopse: Vers (Larson), de um planeta distante, vem parar na Terra em busca de uma arma secreta que colocará fim à guerra entre sua povo e uma raça selvagem e guerreira. Só que ela acaba descobrindo um passado que desconhecia nesse novo mundo.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Bumblebee

Nessa altura do campeonato jamais pensei que iria gostar de um filme da franquia "Transformers". Afinal todos os filmes dessa série eram fracos, fruto da intensa insanidade visual do diretor Michael Bay. Mas eis que após tantos anos o estúdio resolveu trocar de direção. Entregou ao diretor Travis Knight esse novo filme e então finalmente tivemos um bom filme dessa marca. Sim, esse é um bom filme, por mais incrível que isso possa parecer. Dizem que Steven Spielberg ajudou bastante no roteiro e isso fez toda a diferença do mundo. "Bumblebee" ficou realmente diferenciado, parecendo até mesmo um filme dos anos 80 do próprio Spielberg! De longe é o melhor filme dos Transformers no cinema. Não tem nem comparação com os outros que foram lançados anteriormente.

O roteiro, como disse, é o grande achado. A história se passa nos anos 80 e tem um trilha sonora com músicas daquela época que vai trazer uma grande nostalgia ao espectador que viveu naqueles anos. Há uma protagonista bacana interpretada pela atriz carismática Hailee Steinfeld e um dos robôs mais queridos pelos fãs, o Bumblebee, que vira um fusquinha amarelo simpático. O filme ganha impulso justamente quando a garota encontra o carro em um ferro velho, sem saber que ele na verdade é um Transformer vindo de outro planeta. Assim o roteiro capricha no desenvolvimento dos personagens e nos toques de amizade e simpatia. Ficou uma graça. Um detalhe curioso desse filme é que ele na verdade é um prequel, uma pré-sequência, de todos os outros filmes. Assim todo o enredo se torna a primeira chegada de um Transformer na Terra. Eu, que esperava mais uma bomba cinematográfica, fiquei muito surpreso com a boa qualidade do filme. Quem poderia imaginar que algo assim fosse acontecer? De qualquer forma espero que não seja um caso isolado, que daqui para frente sigam o exemplo e melhorem esses filmes porque todos os demais são praticamente intragáveis!

Bumblebee (Estados Unidos, 2018) Direção: Travis Knight / Roteiro: Christina Hodson / Elenco: Hailee Steinfeld, Jorge Lendeborg Jr., John Cena / Sinopse: Após uma intensa batalha em seu planeta o Transformer Bumblebee vem parar no planeta Terra. Aqui acaba sendo levado por uma adolescente para casa, na forma de um fusquinha amarelo, só que os Decepticons descobrem seu destino através de ondas de rádio. Agora eles querem destrui-lo, custe o que custar. 

Pablo Aluísio. 

Robin Hood - A Origem

Até tentei gostar desse novo filme do Robin Hood, mas simplesmente não deu. A realidade é que o filme é fraco mesmo. Provavelmente depois de tantos filmes com o personagem (alguns clássicos, é bom relembrar) tudo parece meio saturado. E não adianta muito tentar dar uma modernizada em algo que já havia encontrado seu ponto perfeito no cinema, em um passado ainda não tão distante. Com isso temos uma versão sem maiores atrativos que me soou genérica demais e sem personalidade. Em termos de produção há alguns problemas. Parece que o ator Leonardo DiCaprio (que é um dos produtores) dormiu no ponto. Os figurinos não são muito interessantes e nem de acordo com a época medieval em que a história se passa. O Robin Hood, por exemplo, veste uma roupa que lembra demais a do Arqueiro Verde da série de TV "Arrow". Sem originalidade esse tipo de situação me incomodou um pouco.

O elenco também não é grande coisa. Taron Egerton como Robin Hood é tão genérico como o próprio filme. A filha do Bono do U2, a atriz Eve Hewson, já foi mais bonita e interessante, como na série médica "The Knick". Aqui ela desfila pela tela com uma cara de gente enjoada, pouco se importando com sua personagem. Jamie Foxx interpreta um mouro que vai atrás de Robin até a Inglaterra e acaba se tornando seu mestre em armas. Outro desperdício. O diretor Otto Bathurst não encontrou o tom certo para seu filme. Procurou fazer um filme de aventuras escapista, sem muito conteúdo, focando basicamente no público mais jovem. Acabou criando um filme sem muito valor, mero produto comercial. O filme custou 100 milhões de dólares, porém fracassou nas bilheterias americanas e internacionais. Merecido. Antes de jogar um monte de dinheiro desses em um filme é necessário primeiro escrever um bom roteiro. Algo que não fizeram. Com o fracasso é provável que Robin Hood fique mais alguns anos de fora do cinema. Isso eu definitivamente lamento.

Robin Hood - A Origem (Robin Hood, Estados Unidos, 2018) Direção: Otto Bathurst / Roteiro: Ben Chandler, David James Kelly / Elenco: Taron Egerton, Eve Hewson, Jamie Foxx, Ben Mendelsohn / Sinopse: O nobre Robin de Loxley (Egerton) é enviado para uma cruzada no Oriente Médio. Acaba ferido, voltando para a Inglaterra. Ao voltar para o lar descobre que seu castelo e seus bens foram tomados pelo corrupto xerife de Nottingham (Mendelsohn). Assim decide se vingar, se tornando um ladrão encapuzado, roubando dos ricos para dar aos pobres.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Rock Hudson - A Morte do Ator

Em seus últimos meses de vida Rock Hudson lutou bastante por sua vida. A ciência médica ainda não tinha respostas e nem cura para a AIDS e por isso ser contaminado pelo vírus era mesmo uma sentença de morte. Em busca de alguma saída o ator foi para Paris para participar de um tratamento experimental, só que não houve resultados positivos. Ele foi declinando a cada dia, até que seu médico o aconselhou a voltar para os Estados Unidos para morrer em paz. Os amigos mais próximos de Rock então o colocaram em um avião e ele voltou para Los Angeles.

Rock morreu em sua mansão que ele gostava de chamar de "O Castelo". Era uma bela propriedade nas colinas de Hollywood. Ao longo de muitos anos ele reformou o lugar, ampliando seus espaços, construindo novos quartos e um belo jardim que cuidava pessoalmente. Também providenciou toda a decoração, inspirada na arquitetura do sul da Espanha. Ele adorava o estilo ibérico europeu. Seu amigo e secretário Mark Miller diria sobre a casa: "Rock passou a vida reformando o Castelo. Foram anos e anos construindo. Quando finalmente a reforma ficou pronta, o homem também estava pronto! Ele morreu em seus aposentos que tanto amou".

Foi nesse lugar que Rock esperou pela morte. Não havia mesmo nenhum outro lugar melhor para essa passagem. Rock faleceu no dia 2 de outubro de 1985. Algumas semanas antes ele decidiu assumir sua homossexualidade publicamente, algo que tinha escondido por décadas. Também revelou que estava com AIDS, uma nova doença mortal. Esse ato de coragem de Rock teve grande repercussão na mídia mundial e ajudou muito na conscientização das pessoas sobre a doença, os preconceitos que giravam em torno dela e o incentivo na busca de uma cura pela ciência. Rock determinou que sua fortuna fosse usada numa fundação que levaria seu nome e que teria como objetivo incentivar e promover pesquisas sobre o vírus da AIDS.

Rock não queria ter um túmulo, ele preferia que seu corpo fosse cremado e suas cinzas fossem jogadas no mar. Ele havia sido marinheiro na segunda guerra mundial e nesse último ato de vontade pediu por uma despedida própria de um homem da marinha. O destino final de suas cinzas seria o fundo do oceano. Assim foi feito. Seus mais próximos amigos, Mark Miller e Tom Clark (um antigo amante) cuidaram de tudo. O espólio do ator ainda seria processado pelo último namorado fixo de Rock, Marc Cristian, que exigia uma fortuna por ter morado ao seu lado enquanto Rock definhava com AIDS. Ele alegava que Rock havia lhe escondido a doença, colocando sua vida em risco. Nos Tribunais acabou vencendo a causa, fazendo com que grande parte de sua fortuna pessoal não tivesse o destino que o ator tanto queria em seus últimos momentos de vida.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 26 de março de 2019

Rock Hudson - O Começo do Fim

Rock Hudson descobriu que estava com AIDS por um acaso. Ele havia participado de uma recepção na Casa Branca promovida pelo presidente Ronald Reagan (que havia sido ator no passado) e percebeu na foto do evento que havia uma estranha mancha em seu pescoço. No começo Rock pensou que se tratava de uma espinha inflamada, mas alertado por seu amigo e assistente pessoal Mark, resolveu ir ao médico. A consulta foi em um famoso dermatologista de Los Angeles que logo percebeu que a tal mancha não era causada por uma espinha.

Na realidade era um Sarcoma de Kaposi, um tipo raro de câncer que estava se espalhando rapidamente entre pessoas que tinham sido diagnosticadas com uma nova doença denominada AIDS (Síndrome da imunodeficiência adquirida) que atacava em especial a capacidade do organismo em se defender de doenças e enfermidades em geral. Rock ficou assustado pois sabia por matérias que havia lido na imprensa que aquela doença não tinha cura e que costumava matar em pouco tempo. O dermatologista aconselhou Rock a realizar um exame completo, com um especialista no assunto.

Uma semana depois dessa consulta o exame deu positivo para AIDS. Rock ficou apavorado. Naquele tempo ser diagnosticado com AIDS era praticamente uma sentença de morte. Pior do que isso, a doença era associada exclusivamente a homossexuais, o que destruiria publicamente a imagem do ator. Algo que ele havia passado a vida inteira escondendo (a de que na sua vida privada era gay) certamente seria explorado ao máximo pela imprensa sensacionalista quando tudo fosse descoberto e revelado pelos jornais. O primeiro a saber foi seu amigo pessoal George Nader, que obviamente guardou segredo absoluto. No íntimo George também ficou com medo de conviver com Rock pois na ignorância do surgimento da nova doença muitos tinham receio de que ela fosse transmitida no ar, como a tuberculose.

Rock ficou arrasado. Passou uma semana sem dormir, completamente deprimido em sua mansão. Uma de suas primeiras providências foi escrever uma série de cartas para homens com quem tinha transado, seus amantes. Rock queria avisá-los para que procurassem ajuda médica. O texto era objetivo e curto: "Estou escrevendo essa mensagem de forma anônima por motivos óbvios. Recentemente fui diagnosticado com AIDS. Como tivemos relações sexuais há pouco tempo sugiro que procure passar por exames médicos o mais rapidamente possível! Desejo boa sorte!". Na verdade Rock não tinha a menor ideia de quem teria lhe passado a doença. Uma das suspeitas caíram sobre Marc Christian, que vivia ao seu lado em sua mansão conhecida como "O Castelo".

Algumas semanas antes Marc havia confidenciado a Rock que já tinha feito programas com gays por dinheiro, ou seja, que havia trabalhado como prostituto em uma sauna nos arredores de Hollywood. Rock ficou pasmo, pois achava que Marc era um sujeito correto, que era exclusivamente heterossexual antes de conhecê-lo, pois tinha uma namorada fixa e tudo mais. Depois da revelação Rock criou uma clara aversão sobre o namorado. Começou a tratá-lo com uma certa repulsa. Sem contar nada a ele o enviou para exames médicos. Queria saber se Marc também tinha AIDS. Para sua surpresa o exame deu negativo. Não havia sido Marc o homem que o tinha contaminado. O drama de Rock porém estava longe de acabar. Ele soube que as pesquisas mais promissoras sobre a doença estavam vindo de Paris, na França. Assim numa manhã de domingo Rock fez suas malas e pegou o primeiro avião para a capital francesa. Aquela poderia ser uma das únicas chances que tinha de continuar vivo...

Pablo Aluísio.

Rock Hudson - O Começo da Carreira

Quando Rock Hudson deu baixa na Marinha Americana, onde havia servido durante a Segunda Guerra Mundial, ele retornou para a vida civil e como muitos outros como ele viu-se no momento decisivo em que tinha que decidir o que iria fazer do resto de sua vida. A vida militar havia chegado ao final e agora ele tinha que determinar um rumo para seu futuro. Há muitos anos Rock tinha um velho sonho de se tornar ator. Seria realmente maravilhoso ganhar a vida fazendo aquilo de que gostava. Quando era apenas um rapaz do meio oeste jamais contou esse desejo para ninguém, porém quando a guerra acabou ele se viu livre para fazer o que bem entendesse de sua vida. Rock serviu em um cruzador e quando esse chegou na baía de San Francisco foi recebido por uma grande festa ao som de sentimentais canções cantadas por Doris Day. Em sua autobiografia Rock recorda que jamais esqueceu esse dia pois em poucos anos ele próprio, aquele marinheiro completamente desconhecido, estaria estrelando filmes ao lado de Doris Day - quem naquela altura poderia dizer que algo assim um dia aconteceria? A primeira providência de Rock ao pisar em solo americano novamente foi ir embora em direção a Los Angeles, onde estava Hollywood, a terra onde ele tencionava realizar seus sonhos. A Universal tinha uma excelente escola de treinamento para atores iniciantes, onde belos e jovens rapazes eram treinados pelo estúdio para se tornarem futuros astros e campeões de bilheteria.

Assim numa manhã Rock pintou pela primeira vez diante dos portões da Universal. Ele já havia assinado com um agente, Henry Wilson, e tinha firmes esperanças que seria aceito para a escola. O que importava para os recrutadores da Universal naquela época nem era o fato dos aspirantes a atores terem realmente talento dramático. Na visão do presidente do estúdio o que vinha em primeiro lugar era a boa aparência, depois com o tempo, estudo e dedicação, o talento para atuar despontaria. No primeiro dia de teste Rock participou de uma sessão de fotos. O que se procurava era alguém que tivesse um ótimo perfil, que fosse alto, elegante e que incorporasse a essência do chamado "galã de cinema americano". Para sua sorte Rock se enquadrava em todos os padrões estéticos. Era alto, tinha um rosto perfeito para a câmera e um estilo que combinava muito bem com o que a Universal vinha procurando. Quem deu o aval para que Rock fosse contratado imediatamente foi o diretor Raoul Walsh. Ele sabia que Rock precisava de muito estudo e lapidação para se tornar um bom ator, mas seu ótimo visual não poderia ser dispensado. Walsh disse ao recrutador do estúdio: "Contrate esse Rock Hudson. Ele parece um herói americano das telas. Depois vamos lapidar melhor o rapaz".

Rock foi contratado naquela mesma tarde, com um pequeno salário de 1.200 dólares, algo que o deixou impressionado. Acostumado com o soldo de marinheiro aquilo era realmente fantástico, um sinal de que seu velho sonho em ser ator de cinema um dia poderia se concretizar. Para mostrar que Rock ficava ótima em cena Raoul Walsh resolveu aproveitar ele em uma ponta de seu novo filme, "Sangue, Suor e Lágrimas". Colocou Rock em um uniforme da força aérea e ficou realmente muito satisfeito com o resultado. A um assistente de direção confidenciou: "Esse jovem Rock Hudson vai ser um astro, pode ter certeza, olha a estampa dele, realmente impressionante!". Depois dessa sua primeira experiência como ator, Rock foi enviado para o centro de treinamento de novos talentos da Universal onde acabou conhecendo outros alunos, entre eles algumas futuras estrelas como Tony Curtis, Jeff Chandler e Tab Hunter.

A partir do momento em que virou um ator sob contrato da Universal tudo mudou. Suas roupas, os locais que deveria ou não frequentar, com quem sairia ou que tipo de atitude deveria adotar em público, seria determinado pelo estúdio. Rock começou a frequentar festas em Hollywood, onde seria apresentado pela imprensa pelo setor de relações públicas. Como não tinha uma namorada, a Universal determinou que deveria sair com outras alunas do departamento de treinamento da empresa. Assim Rock saía com outras aspirantes à atriz, que estavam como ele tentando alcançar o estrelato. Era uma forma de promoção dupla, tanto para ele como para suas lindas acompanhantes. Na vida pessoal Rock se tornou grande amigo de George Nader. Ele era um atlético e jovem promissor ator que nas horas vagas gostava de escrever livros de ficção científica. Nader se tornou muito próximo de Rock porque assim como o amigo também tinha um segredo a esconder da Universal: era gay e morava há anos com Mark, seu companheiro de longa data. Rock Hudson e George Nader jamais tiveram um relacionamento amoroso, mas sua amizade duraria até o fim de suas vidas. Quando morreu, Rock nomeou George e Mark como seus herdeiros, provando que aquela singela amizade nascida nos corredores da Universal seria o começo de um grande elo de ligação pessoal entre todos eles.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 25 de março de 2019

Rock Hudson - Rock e a Universal

Enquanto Rock Hudson ia se firmando dentro da Universal, ele começou a desenvolver duas paixões que jamais o abandonariam até o fim de sua vida: colecionar discos e viajar. Rock gastava um valor enorme de seu salário na compra de discos, de todos os gêneros, que colecionou com grande dedicação até sua morte. Era um aficcionado por música. Certa vez declarou: "Não consigo viver sem música. É como o ar que respiro. Mal chego do estúdio depois de um dia de trabalho duro e a primeira coisa que faço é ligar meu toca-discos". De fato Rock não curtia um novo invento que estava chegando em todos os lares durante os anos 1950, a TV, mas se esbaldava nos fins de semana, comprando todos os vinis que encontrava pela frente. Era de fato um colecionador voraz, desses que pagam pequenas fortunas por discos raros, com selos diferentes ou edições limitadas. Esse hobby encontrou alguns contratempos ao longo da vida. Quando estava no complicado processo de divórcio de sua primeira e única esposa, ela em um acesso de fúria começou a quebrar os raros exemplares que Rock havia movido montanhas para comprar.  Suas cópias raras de Ella Fitzgerald e Duke Ellington ficaram em pedacinhos em questões de minutos. Talvez por isso Rock tenha jurado aos amigos mais próximos que jamais se casaria novamente, promessa que aliás cumpriu com afinco.

Além de colecionar vinis, Rock adorava viajar pelo mundo. Assim que virou um astro em Hollywood ele começou a cruzar os céus e os mares para conhecer outras culturas, outros países. A primeira viagem que fez e o encantou foi na Itália. Rock voltaria para lá várias vezes, inclusive algumas a trabalho quando filmou filmes na região, mas nada superaria o prazer de conhecer velhos castelos e vilas medievais. Rock não era um turista tradicional, desses que compram pacotes fechados de viagem. Ele queria também sentir a emoção da aventura. Assim não raro alugava um carro em algum país europeu e saía viajando pelas estradas, sem rumo certo. Rock certa vez realizou uma longa viagem de automóvel que começou em Portugal, atravessou a Espanha, França e terminou quase nas fronteiras da cortina de ferro, a barreira erguida pela União Soviética separando os países socialistas do resto da Europa. Ele até tentou aprender algumas línguas, mas depois de várias tentativas de aprender francês reconheceu que não era sua praia. Rock se considerava velho demais para se tornar um bom aluno de língua estrangeira.

Obviamente que sua vida pessoal e privada continuava fechada a sete chaves. Nas entrevistas promocionais Rock se mostrava simpático, alegre, e diplomaticamente fechado. Como se soube muitos anos depois Rock escondeu por décadas suas verdadeiras preferências sexuais, afinal ele era gay. Aos poucos porém isso foi deixando de ser um problema para ele, do ponto de vista estritamente pessoal. A publicação do livro "Sexual Behavior in the Human Male" de Alfred C. Kinsey, foi o ponto chave na aceitação de sua homossexualidade. Por anos Rock viveu com culpa e vergonha, se sentindo inferior ou uma aberração. O livro do professor Kinsey colocava muitos mitos ao chão. Assim o fato de ser gay não poderia ser mais considerado uma doença ou um desvio de caráter. O cientista havia concluído com suas pesquisas que a homossexualidade era algo natural na natureza. Muitos animais seguiam essa tendência e não havia nada de errado nisso. Para completar, ele afirmava em seus estudos que praticamente todos os seres humanos tinham uma tendência natural para gostar de outros humanos do mesmo gênero. Poucos eram absolutamente heterossexuais. Havia uma escala que ia da homossexualidade absoluta até a heterossexualidade completa. Os seres humanos geralmente ficavam no meio dessa escala, indo para um lado ou para o outro. Rock e a comunidade gay da Califórnia receberam com alívio essas conclusões. Afinal naquela época ser gay era algo completamente condenável, tanto do ponto de vista legal, social e até científico. Kinsey deu uma nova visão sobre o tema. Claro que Rock não iria se assumir publicamente, afinal ele interpretava galãs nos filmes e se o fato de ser gay viesse a público ele seria ridicularizado. Dentro de sua alma porém ele se sentia aliviado.

Já profissionalmente as coisas caminhavam bem. Todo fim de ano a Universal publicava uma lista de atores demitidos, dos quais ela não tinha mais interesse em continuar sob contrato. Era um momento de tensão para os jovens aspirantes a astro do estúdio. Rock temia ser demitido, mas para sua felicidade continuou dentro do cast da empresa. Outro de sua mesma turma que ganhou novo contrato foi o futuro astro Tony Curtis. Agora Rock poderia respirar mais aliviado. Como era um tipo grande, alto e forte, lembrando os pioneiros que foram para o oeste em busca de uma nova vida, Rock foi imediatamente escalado para contracenar com James Stewart e Shelley Winters no faroeste "Winchester '73". A direção seria do grande diretor do gênero Anthony Mann. O papel de Rock não era muito significante, mas tinha o espaço suficiente para que ele se mostrasse bem na tela, além disso havia bons diálogos para declamar. Era o começo de uma nova virada profissional em sua vida no cinema.

Pablo Aluísio.

Rock Hudson - Rock e as ondas!

Duas semanas antes do começo das filmagens de "Sublime Obsessão" Rock Hudson resolveu surfar com amigos em um das praias mais bonitas da Calfórnia. O que parecia um programa inofensivo de domingo virou um pesadelo na vida do ator. Uma das ondas jogou Rock contra as rochas da praia. O astro foi salvo pelos amigos Mark e George que o levaram imediatamente ao hospital. O diagnóstico foi terrível - Rock havia fraturado o braço e teria que passar por uma cirurgia ficando em recuperação por no mínimo seis semanas. Tanto tempo o tiraria de "Sublime Obsessão" o primeiro grande filme que faria, seu primeiro papel principal ao lado de uma atriz premiada e um diretor de primeira linha, Douglas Sirk. Não fazer o filme seria o mesmo que perder a grande chance de sua carreira - uma chance que provavelmente não aconteceria mais.

No meio da crise Rock implorou aos médicos uma solução mais rápida. A equipe que o atendeu lhe informou então que ele poderia deixar a cirurgia de lado, apenas isolando o local fraturado mas isso teria consequências sérias para ele nos anos seguintes - perderia parte da mobilidade de seu braço e o tratamento inadequado iria prejudicar suas articulações. Rock não pensou duas vezes e pediu pelo simples isolamento do local para não perder a chance de participar de "Sublime Obsessão".

E assim foi feito. Dentro da Universal ainda existiu uma certa resistência em Rock estrelar o filme por causa do acidente. Mas o ator conseguiu o apoio de um executivo influente que tinha se tornado seu caso mais recente. Com tudo pronto finalmente Rock conseguiu estrelar aquele que seria o primeiro grande filme de sua carreira, o primeiro que estrelaria como ator principal e que teria ótima bilheteria. A partir daí Rock Hudson iria emplacar uma incrível sucessão de sucessos que o transformaria em astro de primeira grandeza em Hollywood. Rock perdeu realmente parte da mobilidade de seu braço como os médicos lhe avisaram mas no fundo tudo valeu a pena. Ele literalmente deu o braço a torcer para se tornar um grande superstar.

Pablo Aluísio.

domingo, 24 de março de 2019

A Luz é Para Todos

Philip Schuyler Green (Gregory Peck) é um jornalista e escritor californiano que vai até Nova Iorque em busca de um recomeço em sua vida. Viúvo, com um filho pequeno, morando com sua mãe, ele acaba arranjando emprego em uma conhecida revista liberal da cidade. Sua primeira pauta de artigo é o antissemitismo na América. O editor o convence a escrever uma série de textos mostrando as lutas dos judeus contra o preconceito nos EUA. Em busca de uma matéria diferente Green tem uma ideia ousada. Como quase ninguém o conhece em Nova Iorque ele decide se passar por um judeu, para assim sentir na pele o antissemitismo declarado e escondido dentro da sociedade americana.

Assim que espalha que é judeu ele logo começa a sentir a diferença. Nem todos os restaurantes aceitam reservas em seu nome, seu filho começa a ser hostilizado na escola e ele próprio acaba descobrindo para sua grande surpresa e espanto traços de preconceito em sua própria namorada, uma mulher com o qual tem planos de se casar! Até dentro da própria revista onde trabalha descobre que há uma política de não empregar candidatos em busca de trabalho que fossem judeus. Um quadro alarmante que o deixa completamente perplexo!

Esse filme "A Luz é Para Todos" é na verdade um manifesto escrito de próprio punho pelo diretor Elia Kazan (que não foi creditado como roteirista)  sobre o preconceito contra judeus dentro dos Estados Unidos. Como ele próprio era judeu transpôs para as telas muitas das situações que vivenciou em seu dia a dia, tudo mesclado ao material original escrito por Laura Z. Hobson. O produtor do filme, Darryl F. Zanuck, o chefão da Fox na época, também era judeu o que ajudou ainda mais na divulgação da mensagem que o filme tenta passar. Uma das melhores cenas do filme acontece justamente quando o personagem de Peck tenta explicar ao seu jovem filho o que é conceitualmente um judeu!

A inocência do garoto em suas perguntas acaba expondo de certa forma até mesmo a complicada definição do que seria realmente um judeu em vista da sociedade humana. Uma religião? Uma raça? Kazan, de forma inteligente deixa tudo no ar. Em outro momento interessante do filme trava-se um diálogo muito espirituoso entre um cientista judeu (obviamente inspirado na figura de Einstein) e o jornalista interpretado por Gregory Peck. Em determinado momento o sábio e espirituoso físico explica a Peck que se ser judeu for uma questão de mera religião então ele próprio não seria mais judeu, uma vez que em suas convicções pessoais, como brilhante cientista, desconfiava até mesmo da existência de um Deus, seja ele judeu ou cristão. Em conclusão podemos dizer que "A Luz é Para Todos" é um belo filme da carreira de Elia Kazan. Um pouco panfletário, é verdade, mas mesmo assim uma obra que levanta muitos questionamentos e perguntas relevantes.  

A Luz é Para Todos (Gentleman's Agreement, EUA, 1947) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Moss Hart, Elia Kazan (não creditado), baseados na obra escrita por Laura Z. Hobson / Elenco: Gregory Peck, Dorothy McGuire, John Garfieldm, Celeste Holm / Sinopse: Jornalista (Peck) se faz passar por judeu para sentir na pele os preconceitos e desafios que os judeus sentem no dia a dia dentro da sociedade americana. Vencedor do Oscar nas categorias de melhor filme (Darryl F. Zanuck), melhor diretor (Elia Kazan) e melhor atriz coadjuvante (Celeste Holm). Vencedor do Globo de Ouro nas categorias de melhor filme - drama, melhor diretor e melhor atriz coadjuvante (Celeste Holm).

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de março de 2019

Mergulho no Inferno

Em plena Segunda Guerra Mundial o Tenente Ward Stewart (Tyrone Power) se sente muito satisfeito fazendo parte de uma esquadra de navios de guerra de longo alcance mas é transferido para um submarino americano chamado USS Corsair. Ao mesmo tempo em que vê mudanças em sua vida profissional começa a se apaixonar pela bela professora Jean Hewlett (Anne Baxter), mal sabendo que ela é, na verdade, comprometida justamente com o capitão do submarino para onde ele foi designado. As coisas pioram quando tudo é revelado! Antes porém de resolverem esse problema amoroso os marinheiros precisarão sair vivos de uma arriscada missão de ataque a uma base naval alemã perto da costa norte-americana.

Filme de guerra que mescla com doses certas um pouco de ação, romance e aventura. Tyrone Power, um dos maiores galãs da época, empresta todo seu carisma para seu personagem, um jovem tenente que tenta a todo custo conquistar uma bonita professorinha de uma escola só para moças. Há boas cenas dele tentando conquistar a garota, tudo claro dentro dos rígidos padrões morais daqueles anos. A produção é claramente financiada e ajudada pelas forças armadas americanas, especialmente a Marinha americana que cedeu sua base naval em New London, Connecticut, para as filmagens. Assim tudo o que vemos fazia realmente parte da esquadra, até mesmo os figurantes.

Por ser um filme claramente realizado para ajudar no esforço de guerra o espectador deve relevar um certo tom ufanista que o roteiro nem tenta esconder. Nos letreiros finais, por exemplo, temos até mesmo um apelo em forma de propaganda para que os espectadores comprassem no próprio cinema os chamados bônus de guerra! De qualquer maneira, a despeito disso, não há como negar o bom resultado final desse filme. Tecnicamente gostei muito também, as cenas submarinas são convincentes e o ataque final a uma base alemã na costa dos Estados Unidos é bem realizada e cheia de boas ideias, como a do bravo comandante dando instruções para sua tripulação na torre do submarino parcialmente submerso. No fim o que temos mesmo é uma obra cinematográfica que vai satisfazer todos os seus desejos de assistir a um bom filme de guerra clássico.

Mergulho no Inferno (Crash Dive, Estados Unidos, 1943) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Archie Mayo / Roteiro: Jo Swerling, W.R. Burnett / Elenco: Tyrone Power, Anne Baxter, Dana Andrews / Sinopse: O filme conta a história de um militar da marinha americana durante a segunda grande guerra mundial, seus problemas pessoais e os desafios de sua profissão no mar.

Pablo Aluísio.