Mostrando postagens com marcador Dorothy McGuire. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Dorothy McGuire. Mostrar todas as postagens

domingo, 24 de março de 2019

A Luz é Para Todos

Philip Schuyler Green (Gregory Peck) é um jornalista e escritor californiano que vai até Nova Iorque em busca de um recomeço em sua vida. Viúvo, com um filho pequeno, morando com sua mãe, ele acaba arranjando emprego em uma conhecida revista liberal da cidade. Sua primeira pauta de artigo é o antissemitismo na América. O editor o convence a escrever uma série de textos mostrando as lutas dos judeus contra o preconceito nos EUA. Em busca de uma matéria diferente Green tem uma ideia ousada. Como quase ninguém o conhece em Nova Iorque ele decide se passar por um judeu, para assim sentir na pele o antissemitismo declarado e escondido dentro da sociedade americana.

Assim que espalha que é judeu ele logo começa a sentir a diferença. Nem todos os restaurantes aceitam reservas em seu nome, seu filho começa a ser hostilizado na escola e ele próprio acaba descobrindo para sua grande surpresa e espanto traços de preconceito em sua própria namorada, uma mulher com o qual tem planos de se casar! Até dentro da própria revista onde trabalha descobre que há uma política de não empregar candidatos em busca de trabalho que fossem judeus. Um quadro alarmante que o deixa completamente perplexo!

Esse filme "A Luz é Para Todos" é na verdade um manifesto escrito de próprio punho pelo diretor Elia Kazan (que não foi creditado como roteirista)  sobre o preconceito contra judeus dentro dos Estados Unidos. Como ele próprio era judeu transpôs para as telas muitas das situações que vivenciou em seu dia a dia, tudo mesclado ao material original escrito por Laura Z. Hobson. O produtor do filme, Darryl F. Zanuck, o chefão da Fox na época, também era judeu o que ajudou ainda mais na divulgação da mensagem que o filme tenta passar. Uma das melhores cenas do filme acontece justamente quando o personagem de Peck tenta explicar ao seu jovem filho o que é conceitualmente um judeu!

A inocência do garoto em suas perguntas acaba expondo de certa forma até mesmo a complicada definição do que seria realmente um judeu em vista da sociedade humana. Uma religião? Uma raça? Kazan, de forma inteligente deixa tudo no ar. Em outro momento interessante do filme trava-se um diálogo muito espirituoso entre um cientista judeu (obviamente inspirado na figura de Einstein) e o jornalista interpretado por Gregory Peck. Em determinado momento o sábio e espirituoso físico explica a Peck que se ser judeu for uma questão de mera religião então ele próprio não seria mais judeu, uma vez que em suas convicções pessoais, como brilhante cientista, desconfiava até mesmo da existência de um Deus, seja ele judeu ou cristão. Em conclusão podemos dizer que "A Luz é Para Todos" é um belo filme da carreira de Elia Kazan. Um pouco panfletário, é verdade, mas mesmo assim uma obra que levanta muitos questionamentos e perguntas relevantes.  

A Luz é Para Todos (Gentleman's Agreement, EUA, 1947) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Moss Hart, Elia Kazan (não creditado), baseados na obra escrita por Laura Z. Hobson / Elenco: Gregory Peck, Dorothy McGuire, John Garfieldm, Celeste Holm / Sinopse: Jornalista (Peck) se faz passar por judeu para sentir na pele os preconceitos e desafios que os judeus sentem no dia a dia dentro da sociedade americana. Vencedor do Oscar nas categorias de melhor filme (Darryl F. Zanuck), melhor diretor (Elia Kazan) e melhor atriz coadjuvante (Celeste Holm). Vencedor do Globo de Ouro nas categorias de melhor filme - drama, melhor diretor e melhor atriz coadjuvante (Celeste Holm).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Sublime Tentação

Mais um clássico de faroeste estrelado pelo mito Gary Cooper. Esse aliás é considerado um dos melhores filmes da carreira do ator. E se formos pensar sobre a riqueza da filmografia de Cooper, isso definitivamente não é pouca coisa. Ele interpreta um patriarca de uma família Quaker. Essa é uma religião muito austera e rígida em sua disciplina interna. Esse aspecto talvez leve você a pensar logo de antemão que esse é um drama pesado, com gente religiosa e fanática, mas isso é um equívoco sem tamanho. Na verdade "Sublime Tentação" passeia muito bem em diversos gêneros, apresentando inclusive divertidas cenas, onde o humor está em destaque. Pois bem, Cooper é um fazendeiro que tenta criar sua família da melhor forma possível, mas sem muitos exageros no quesito religiosidade (apesar dele ser um Quaker). Ele tem uma ótima esposa (interpretada por Dorothy McGuire) e filhos igualmente valorosos (um deles feito pelo ator Anthony Perkins, ainda bem jovem e distante de se consagrar como o psicopata Norman Bates em "Psicose" de Alfred Hitchcock). A vida no campo é dura, mas também tranquila. Aos domingos ele vai com sua família até o culto, onde aproveita para também apostar algumas corridas de charrete com um fazendeiro vizinho (algo que rende cenas bem engraçadas para o filme).

Sua vida bucólica porém chega ao fim quando explode a guerra civil americana. Exércitos da União e da Confederação começam uma grande carnificina. Como Quaker, o rancheiro Jess (Cooper) se recusa a lutar, mas isso se torna impossível a partir do momento em que a guerra vem até sua fazenda. Tropas rebeldes do sul estão chegando em suas terras e isso definitivamente não seria uma boa notícia pois eles costumavam queimar tudo por onde passavam. Como agora ele conseguirá proteger seus bens e sua família sem que para isso tenha que usar da violência? Passará por cima de suas convicções religiosas para se proteger e aos seus entes queridos? Essas perguntas parecem estar no centro de tudo. O roteiro testa os limites da família de Jess para ver até que ponto eles estariam dispostos a ir, seguindo os ensinamentos de sua religião. Com ótima produção, excelente elenco e roteiro rico e detalhista, esse western é certamente um dos melhores estrelados pelo genial Cooper que inclusive está em seu tipo habitual, a do homem simples, mas profundamente ético e honesto, que se vê diante de uma situação excepcional. A direção ficou a cargo do cineasta William Wyler, o mesmo diretor do maior clássico épico de todos os tempos "Ben-Hur". Claro que uma comparação entre as duas obras seria equivocada sob qualquer ponto de vista. Mesmo assim vale para lembrar ao fã de cinema de que esse também não é um filme qualquer. Muito pelo contrário, é um ótimo clássico western dos anos 50. Imperdível.

Sublime Tentação (Friendly Persuasion, Estados Unidos, 1956) Direção: William Wyler / Roteiro: Michael Wilson, baseado no livro de  Jessamyn West / Elenco: Gary Cooper, Dorothy McGuire, Anthony Perkins / Sinopse: Fazendeiro Quaker (Cooper) tenta defender e proteger sua família e sua fazenda durante a sangrenta Guerra Civil Americana. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Som, Melhor Música e Melhor Ator Coadjuvante (Anthony Perkins). Filme premiado com o Globo de Ouro na categoria de revelação masculina (Perkins). 

Pablo Aluísio.