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sábado, 19 de outubro de 2019

Viva Zapata!

Cinebiografia do revolucionário mexicano  Emiliano Zapata (1879 - 1919). Filho de uma família rica no México, Zapata liderou a nação na revolução mexicana de 1910 que tencionava devolver o poder ao povo daquele país. Com o descontentamento crescente da população com sua classe política e corrupta, Zapata de posse de uma retórica populista conseguiu formar um grande exército que lutou ao seu lado. Filmar a vida de Zapata era um velho projeto de Elia Kazan. Ele próprio era uma pessoa com uma visão de esquerda (que seria manchada após ser acusado de entregar seus amigos do Partido Comunista). Assim era natural que Kazan quisesse fazer o filme definitivo sobre o revolucionário. Não foi nada fácil. Poucos produtores tinham coragem de filmar a vida desse personagem histórico mexicano com receio de ser acusado de ser socialista, o que poderia transformar em um inferno a vida de qualquer um em Hollywood na década de 1950. Kazan porém não desistia fácil e realizou um belo filme.

"Viva Zapata" resistiu bem ao tempo, isso apesar de cometer alguns clichês em seu roteiro (fato que se pode perdoar porque afinal estamos falando de um filme que foi feito há mais de 60 anos). O Zapata de Marlon Brando é bem romantizado por isso, embora a caracterização do ator seja muito boa, mostrando um personagem bem verossímil e que ficou bem próximo da realidade: um homem de pouca cultura (era analfabeto), brutalizado e de poucas palavras, mas muita ação. Brando inclusive deixou crescer um enorme bigode ao estilo do verdadeiro Zapata, mas teve que aparar seu vasto bigodão por ordens do estúdio que o achou muito exagerado (o que poderia fazer a plateia rir dele, levando o filme ao ridículo). Mesmo sob protestos o bom senso prevaleceu e Brando fez o que foi determinado pelo estúdio. A atriz Jean Peters era fraca (só entrou no filme por influência de seu namorado, o milionário excêntrico Howard Hughes que literalmente a escalou no filme). Nas cenas mais dramáticas ao lado de Brando a situação fica um tanto constrangedora para o lado dela (que afinal só era uma starlet, bonita e nada mais). O filme também quase não saiu do papel. O produtor Zanuck não queria Brando para o papel e entrou com confronto direto com Kazan que não abria mão do ator. Zanuck ainda brigou com Kazan por causa da maquiagem "muito escura" que foi realizada em cima de Jean Peters. Como se vê ele era um produtor muito poderoso que procurava se meter em cada detalhe dos filmes que produzia o que irritava profundamente Kazan, sempre muito independente e cioso de seu trabalho.

Além disso o filme não pôde ser rodado no México por expressa proibição do governo daquele país que achou o roteiro "inaceitável". As filmagens então foram realizadas no Novo México, no Colorado e no Texas. As condições não eram as ideais e o custo de se "maquiar" essas localidades para parecerem o México inflaram o orçamento. Lá pelo meio do filme Brando também foi perdendo o interesse ao entender que "Viva Zapata!" faria várias concessões para se enquadrar no estilo de Hollywood. Mesmo com tantos problemas "Viva Zapata" resistiu e hoje em dia é considerado um clássico, sem a menor sombra de dúvidas. Além da direção de alto nível por parte de Kazan o filme acabou ganhando muito também com a presença de Anthony Quinn no papel do irmão de Zapata. Enfim é um dos mais interessantes filmes da carreira de Brando e Kazan, o que não é pouca coisa. "Viva Zapata!" assim se torna essencial para quem deseja conhecer a obra de Elias Kazan e Marlon Brando em sua plenitude criativa.

Viva Zapata! (Viva Zapata!, EUA, 1952) Direção: Elia Kazan / Roteiro: John Steinbeck / Elenco: Marlon Brando, Jean Peters, Anthony Quinn, Joseph Wiseman, Alan Reed / Sinopse: Cinebiografia do líder revolucionário Emiliano Zapata (Marlon Brando) que em 1910 promoveu uma grande revolução no Estado do México visando devolver o poder político ao povo daquele país, que estava cansado de sua classe política corrupta e inepta. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor ator coadjuvante (Anthony Quinn). Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor ator (Marlon Brando), melhor roteiro (John Steinbeck), melhor direção de arte, melhor música (Alex North).

Pablo Aluísio.