quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Seu Único Desejo

Título no Brasil: Seu Único Desejo
Título Original: One Desire
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Jerry Hopper
Roteiro: Lawrence Roman, baseado no livro de Conrad Richter
Elenco: Anne Baxter, Rock Hudson, Julie Adams, Natalie Wood
  
Sinopse:
Clint Saunders (Rock Hudson) ganha a vida trabalhando no cassino de Tacey Cromwell (Anne Baxter). Eles mantém um romance que já dura anos. Realmente se gostam muito. O problema é que Clint tem ambições maiores na vida. Ele deseja ir embora, para uma nova cidade, procurando por um novo recomeço. Inicialmente Tacey hesita em lhe seguir, mas depois resolve deixar tudo para trás para junto a Clint e seu pequeno irmão Nugget (Barry Curtis) começar um novo lar. Nas primeiras semanas tudo vai muito bem, até que Clint começa a mostrar interesse numa bela e rica jovem da sociedade, Judith Watrous (Julie Adams), a filha de um senador. Para surpresa de Clint a garota também se mostra logo interessada por ele começa a fazer de tudo para levá-lo ao altar, deixando Tacey em uma situação realmente complicada e delicada. 

Comentários:
Belo filme! Realizado em uma das fases mais produtivas e bem sucedidas da carreira do ator Rock Hudson, o filme investe em um triângulo amoroso entre Clint (Hudson), Tacey (Baxter) e Judith (Adams). O primeiro é um sujeito pobre com muitas ambições. Ele quer deixar a profissão de carteador em cassinos para buscar algo melhor, talvez um bom emprego como bancário já que ele tem muita habilidade com números em geral. Para isso se muda para uma nova cidade no oeste ao lado da fiel e dedicada Tacey (Baxter). É o começo do século XX e as oportunidades estão por toda parte. Na nova localidade Clint vê uma oportunidade de subir na vida ao cortejar a rica Judith, filha de um senador! Seria a forma de subir rápido na vida, sem muito esforço. O problema é que ele está comprometido com Tacey. Como resolver esse problema? O roteiro é tão bem escrito que de repente somos surpreendidos com reviravoltas sutis que usam a ganância de Clint como suporte para os eventos que vão acontecendo. Judith que no começo parece ser uma jovem correta logo começa a conspirar para destruir o romance de Clint e Tacey, ao mesmo tempo em que a desmoraliza perante a comunidade por causa de seu passado de corista e garota de salão em cassinos do leste. 

A situação se torna tão tensa que tudo vai parar na justiça onde Tacey, indefesa, acaba sendo praticamente banida da cidade. Enquanto isso Clint vai caindo cada vez mais na teia arquitetada por Judith que de boa moça realmente não tinha nada. O mais interesse é que diante tudo que vai acontecendo em cena ficamos na dúvida se Clint é realmente um canalha ou apenas mais uma vítima das armações de Judith. Além da boa trama de autoria do romancista Conrad Richter o filme ainda se destaca pelas boas atuações de todo o elenco e uma participação que chamará bastante a atenção dos cinéfilos que gostam de filmes clássicos. Fazendo o papel de uma jovem órfã surge a futura estrela Natalie Wood, que convence tanto na caracterização de uma moleca sapeca como da de uma jovem adolescente rebelde que deseja fugir com o amor de sua vida (na realidade um homem casado que só lhe trará infelicidades). Anne Baxter também está maravilhosa. Sua personagem é de uma mulher mais velha que larga tudo por um grande amor, mas que depois vê seus sonhos de felicidade ruírem por causa de uma concorrente bem mais jovem e bem mais rica. Já Rock Hudson segue em sua linha tradicional, a do galã boa pinta, disputado por todas as mulheres. O diferencial é que seu papel é muito bem construído pelo roteiro, sempre deixando o espectador em dúvida sobre suas reais intenções. Em suma, mais um belo drama romântico dos anos 50, com o melhor que o cinema americano da época poderia oferecer ao público.

Pablo Aluísio.

Mombasa, a Selva Negra

Título no Brasil: Mombasa, a Selva Negra
Título Original: Beyond Mombasa
Ano de Produção: 1956
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: George Marshall
Roteiro: James Eastwood, Richard English
Elenco: Cornel Wilde, Donna Reed, Christopher Lee, Ron Randell, Leo Genn
  
Sinopse:
Quando o americano Matt Campbell (Cornel Wilde) chega à África para se unir ao seu irmão em uma exploração de minas de ouro, descobre que ele foi brutalmente assassinado. As suspeitas recaem sobre guerreiros leopardos provenientes de uma tribo remota que jamais fez contato com a civilização. A explicação não convence muito Campbell que resolve ir até o lugar da morte de seu irmão para investigar. Assim é formado um grupo que adentra a selva, não sem antes passar por inúmeros desafios e perigos nessa aventura em direção ao coração do continente negro.

Comentários:
Um bom filme de aventura passado na África selvagem. O roteiro foge um pouco da pura temática de homens brancos ocidentais sobrevivendo aos desafios do continente africano para também investir no mistério da morte do protagonista do filme. Quem o teria matado? Teria sido o caçador Gil Rossi (Christopher Lee, em um papel bem diferente em sua carreira), um especialista em safáris que teria muito a ganhar com a morte do irmão de Matt? Ou o próprio sócio dele, Eliot Hastings (Ron Randell), para se apoderar das riquezas da mina de ouro recém descoberta? Até mesmo o missionário evangélico Ralph Hoyt (Leo Genn) poderia ter cometido o crime por ter interesses na região! Como se vê o roteiro segue nessa linha ao estilo Agatha Christie onde o espectador precisa descobrir a identidade do verdadeiro assassino no meio daquelas pessoas que formam o grupo de expedição que vai até as regiões mais distantes da África. Dentre elas também não podemos nos esquecer da Antropóloga Ann Wilson (Donna Reed) que está naquele continente justamente para estudar as origens da humanidade. 

O roteiro, que foi escrito baseado no conto "The Mark of the Leopard" de James Eastwood, também abre espaço para um pouco de romance e até mesmo humor, como era bem comum em filmes como esse na época. Há até margem para algumas tiradas irônicas quando, por exemplo, o personagem interpretado por Cornel Wilde satiriza a visão romântica que os americanos tinham da África. Ao descer de um barco ele encontra casualmente uma turista que reclama dos mosquitos e do mal cheiro da região, ao qual responde: "Estava esperando pelo quê? Humphrey Bogart?" - uma clara referência ao filme "Uma Aventura na África" que ajudou na formação dessa visão romântica e boba daquelas terras inóspitas. Outra fato digno de nota é que parte do filme foi rodado nas ruínas da cidade antiga de Gedi, no Quênia. As origens dessa comunidade antiga até hoje são debatidas, sendo que alguns historiadores acreditam que teria sido o primeiro posto comercial árabe na África da história, algo que se perdeu nas areias do tempo. Enfim, fica aqui a dica de "Mombasa, a Selva Negra" para quem gosta de filmes nesse estilo, com bastante elementos de aventura e mistério.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

O Gavião do Mar

Título no Brasil: O Gavião do Mar
Título Original: The Sea Hawk
Ano de Produção: 1940
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Michael Curtiz
Roteiro: Howard Koch, Seton I. Miller
Elenco: Errol Flynn, Brenda Marshall, Claude Rains, Flora Robson
  
Sinopse:
1585. Duas grandes nações lutam entre si para dominarem os mares. A Espanha prepara o lançamento de uma grande armada, com navios de longo alcance, fortemente armados. A Inglaterra precisa de tempo antes de produzir sua própria frota. A rainha Elizabeth I tem inclusive dúvidas se isso seria uma boa solução para as tensões com a Espanha. Enquanto não constrói seus próprios navios de guerra ela se utiliza de corsários, piratas clandestinamente apoiados pela coroa. Chamados de "Gaviões do Mar" eles pilham embarcações estrangeiras em busca de ouro e riquezas que estão vindo do novo mundo, das Américas recém descobertas. Entre esses capitães se destaca Geoffrey Thorpe (Errol Flynn) que está disposto a uma grande aventura nos mares da América Central. O plano é roubar o ouro que os espanhóis estão prestes a levar para seu país. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhores Efeitos Especiais, Melhor Direção de Arte, Melhor Som e Melhor Trilha Sonora.

Comentários:
Outra excelente parceria entre o astro maior da Warner na época, Errol Flynn, e o diretor Michael Curtiz. O roteiro não poderia ser mais adequado para Flynn pois ele próprio tinha muita experiência em viagens ao redor do mundo (na juventude tinha sido marinheiro por longo tempo). Assim se mostrou a escolha perfeita para viver esse corsário inglês que roubava e pilhava navios da Espanha de Felipe I. Na surdina contava com o apoio da própria coroa inglesa, pois não poderia haver uma ajuda oficial por parte da rainha Elizabeth I, haja vista que os corsários em geral não passavam de piratas. Em pleno auge da exploração colonial espanhola, os navios viajavam pelos sete mares abarrotados de ouro das civilizações Inca, Maia e Azteca. Como nesse período histórico a Inglaterra ainda não contava com uma marinha real forte o suficiente para vencer a armada ibérica, começou a contratar o serviço de mercenários dos mares, os corsários, que faziam todo o trabalho sujo, roubando essas riquezas que já tinham sido roubadas dos nativos da América. Era uma espécie de ironia do destino. O filme é tecnicamente perfeito. A Warner construiu imensos cenários em seus estúdios reproduzindo as antigas naus da época em que o enredo se passa. Tudo é extremamente minucioso nesse aspecto. As cenas de ação, com ataques e batalhas navais, são excepcionalmente bem realizadas. Curtiz era realmente um artesão no que diz respeito a esse gênero de aventuras nos mares. 

Por essa razão o filme conta com pelo menos duas sequências inesquecíveis. A primeira acontece quando o navio comandado pelo capitão Thorpe (Flynn) resolve enfrentar um navio da frota de Felipe I. Após uma intensa troca de tiros de canhões finalmente os piratas comandados por Flynn invadem o navio inimigo. Ótima sequência que não envelheceu em absolutamente nada (mesmo tendo sido feito há mais de 70 anos!). Um primor de competência técnica. A outra cena que chama bastante atenção ocorre quando o personagem interpretado por Errol Flynn começa a se livrar da pesada pena de galés que lhe foi imposta pela coroa espanhola, quando criminosos eram acorrentados nos porões das naus para servirem como remadores. Essa sequência inclusive tem uma semelhança incrível com "Ben-Hur", com uma situação extremamente semelhante. A única nota de desgravo que teria a escrever em relação a esse filme seria sobre o fato do roteiro ter deixado de lado a grande guerra que se travaria nos mares entre Espanha e Inglaterra. Os acontecimentos que vemos acontecem na véspera disso acontecer. Tudo bem, isso se deve em parte também ao fato dos roteiristas terem priorizado mais a estória pessoal do capitão Thorpe e não propriamente tudo o que aconteceu entre as duas grandes nações naquele período tão conturbado. Mesmo com essa observação não há realmente o que reclamar em termos de qualidade e excelência cinematográfica, pois "Gavião dos Mares" é de fato uma maravilha da sétima arte, sendo muito provavelmente a melhor aventura dos sete mares já feita até hoje! Um marco da história do cinema clássico americano.

Pablo Aluísio.

O Espadachim Negro

Título no Brasil: O Espadachim Negro
Título Original: The Black Knight
Ano de Produção: 1954
País: Inglaterra
Estúdio: Warwick Film Productions
Direção: Tay Garnett
Roteiro: Alec Coppel, Dennis O'Keefe
Elenco: Alan Ladd, Peter Cushing, Patricia Medina, André Morell
  
Sinopse:
John (Alan Ladd) é um humilde ferreiro que fabrica espadas nos tempos de reinado do lendário Rei Arthur (Anthony Bushell). O que poucos desconfiam é que o vil Sir Palamides (Peter Cushing) pretende destruir a corte de Camelot, conspirando para matar o Rei e seus cavaleiros. Para isso usa de falsos guerreiros vikings que supostamente estariam destruindo os castelos dos principais nobres da corte. O vilão deseja que o Rei Mark (Patrick Troughton) reine no lugar do deposto Arthur por toda a Inglaterra. Para combater esse plano maquiavélico, John resolve incorporar o Cavaleiro Negro, um misterioso herói que lutará pela justiça e por Arthur.

Comentários:
O ator Alan Ladd (1913 - 1964) foi um dos grandes astros do western americano. Basta lembrar do grande clássico "Os Brutos Também Amam" para entender bem isso. Pois bem, em 1954 ele aceitou o convite de produtores britânicos para atuar em uma produção bem diferente em sua carreira. Ao invés de interpretar um cowboy em mais uma produção de faroeste ele aqui surgiria como um verdadeiro cavaleiro medieval! Ao assistir ao filme a única conclusão que cheguei foi a de que esse estilo definitivamente não caiu muito bem para Ladd. Ele está bem apático no papel de um cavaleiro negro que tenta salvar a corte do Rei Arthur. Estão lá todos os cavaleiros da távola redonda, os cenários medievais, os castelos, o figurino colorido típico da época, as donzelas, mas nada disso parece funcionar muito bem. O principal defeito desse filme vem de seu roteiro que soa muito mal escrito e cheio de clichês em todos os momentos. A trama é das mais singelas que você possa imaginar, quase em linguagem de história em quadrinhos. Há um rei virtuoso (Arthur), um vilão sarraceno inescrupuloso (interpretado por Peter Cushing, maquiado para parecer ser um autêntico mouro) e é claro o herói, o próprio ferreiro John (Ladd) que nos momentos necessários se transforma no misterioso Cavaleiro Negro, defensor da justiça e da honra (com ecos que lembram demais outro personagem famoso, o Zorro!). Embora perca pontos em termos de roteiro e enredo, o fato é que o filme como um todo tem boa e bonita produção. 

A direção de arte aliás é um dos pontos favoráveis para se assistir até o fim. Mesmo em situações claramente absurdas - como a tentativa de usar o famoso monumento de Stonehenge como um templo de adoração ao deus Sol, confundindo épocas históricas diferentes - os belos figurinos compensam a falta de um conteúdo melhor em termos de roteiro. A estória estraga um pouco o filme pois é por demais boba e derivativa, mas o visual, as armaduras, os duelos, as capas, as armas medievais, tudo isso acaba ajudando bastante para compensar os pontos fracos. Dessa maneira temos que admitir que infelizmente as coisas não funcionaram muito bem. Tudo culpa do fraco texto e da atuação preguiçosa e fora do tom de Alan Ladd. Ele parece sonolento e depressivo em várias cenas, algo que não combinou com a proposta de ser um herói de filmes de aventura. Para falar a verdade ele só trabalhou durante onze dias nas filmagens, sendo substituído por um dublê depois nas várias cenas de ação. Pelo jeito não estava mesmo com muita vontade de fazer o filme. Muito provavelmente se Errol Flynn estivesse nesse papel as coisas teriam sido bem melhores. Com Ladd tudo o que temos mesmo é um protagonista que em nenhum momento chega a empolgar. Então é isso, "The Black Knight" é um filme visualmente bem bonito, mas igualmente vazio em seu conteúdo.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Labirinto de Paixões

Título no Brasil: Labirinto de Paixões
Título Original: The Spiral Road
Ano de Produção: 1962
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Robert Mulligan
Roteiro: John Lee Mahin, Neil Paterson
Elenco: Rock Hudson, Burl Ives, Gena Rowlands
  
Sinopse:
1936. Um jovem médico chamado Dr. Anton Drager (Rock Hudson) chega para trabalhar numa isolada e distante colônia holandesa no Pacífico Sul. A região é foco de doenças tropicais graves como lepra, peste negra e cólera. Drager deseja trabalhar ao lado do veterano Dr. Brits Jansen (Burl Ives) pois quer usar sua experiência em sua pesquisa que pretende publicar quando estiver de retorno à Europa. Só que Jansen, embora seja um excelente médico, não está preocupado com esse tipo de detalhe. Ele quer mesmo é ajudar aquelas comunidades nativas. Drager chega para trabalhar ao seu lado justamente quando explode uma epidemia de peste negra causada por pulgas de ratos selvagens. A única saída é queimar toda a vila. E isso é apenas o começo de seus serviços naquele lugar esquecido por Deus. Filme vencedor do Bambi Awards na categoria de Melhor Ator (Rock Hudson).

Comentários:
"Labirinto de Paixões" é um drama que explora a dura vida de médicos holandeses em colônias situadas nas distantes ilhas ao redor de Bornéu, nos mares do sul. O protagonista interpretado por Rock Hudson está lá para cumprir um contrato de cinco anos com a companhia das Índias orientais, mas na verdade não tem a menor intenção de viver ali. Ele pretende recolher informações valiosas para suas pesquisas para depois se consagrar no meio acadêmico europeu. Só que o dia a dia como médico naquele cenário tropical deslumbrante e também avassalador não é nada fácil. Drager (Hudson) conhece missionários religiosos que vivem lá, inclusive um bondoso casal de estrangeiros que dedicou toda a sua vida para erguer e cuidar de uma colônia de leprosos. A esposa inclusive pagou caro pela sua missão, sendo ela própria contaminada pela terrível lepra. Esse tipo de dedicação ao próximo até o abala internamente, mas Drager prefere continuar com seus objetivos. Ele também nutre um sentimento de certa rejeição aos valores religiosos pois na verdade é ateu - embora seja filho de um pastor. Ao se deparar com a oportunidade de trabalhar ainda mais adentro da floresta, em um ponto avançado praticamente abandonado, Drager acaba se vendo frente a frente com seu próprio modo de ser e pensar. 

A vida no limite colocará suas convicções à prova, principalmente após ter que enfrentar um nativo misterioso, que se diz feiticeiro e dono de poderes malignos envolvendo magia negra. O roteiro desse filme é bem rico. Ele começa como drama, depois traz pitadas de romance (com o relacionamento entre o personagem de Rock Hudson e a doce Els de Gena Rowlands) e finalmente termina como aventura, com doses de psicologismo exacerbado. O arrogante médico de Hudson é tragado pelas forças da natureza e passa por um período de enlouquecimento e delírio. Essas cenas, já na terça parte final do filme, trazem uma boa oportunidade de Rock mostrar que não era apenas um galã de cinema. De barba grande e roupas em farrapos, ele se sai muito bem. Gostei de sua força de vontade em expressar a terrível tortura psicológica pela qual passa seu personagem. Por fim merecem elogios também a inspirada interpretação de Burl Ives. Imenso, arrebatador e desenvolvendo uma personalidade complexa, ele é um dos grandes atrativos para se conferir esse filme que pode ser até mesmo considerado surpreendente.

Pablo Aluísio.

Robur, o Conquistador do Mundo

Título no Brasil: Robur, o Conquistador do Mundo
Título Original: Master of the World
Ano de Produção: 1961
País: Estados Unidos
Estúdio: American International Pictures (AIP)
Direção: William Witney
Roteiro: Richard Matheson, baseado na obra de Jules Verne
Elenco: Vincent Price, Charles Bronson, Henry Hull, Mary Webster
  
Sinopse:
No século XIX um gênio enlouquecido, o Capitão Robur (Vincent Price), decide erradicar todas as guerras do mundo. A bordo de uma maravilhosa máquina voadora chamada Albatroz, ele lança ultimatos a todos os governos do mundo: ou eles param de se armar para promoverem guerras internacionais entre si ou então ele destruirá todas as capitais das grandes nações ao redor do planeta. Robur está decidido a cumprir todas as suas ameaças, mas antes terá que enfrentar John Strock (Charles Bronson), um funcionário do departamento de defesa dos Estados Unidos que está disposto a destruir todos os planos megalomaníacos do insano Robur.

Comentários:
Mais uma adaptação para o cinema da obra literária do genial escritor Júlio Verne (1828 - 1905). Na realidade podemos dizer que Verne foi praticamente o inventor da literatura fantástica e de ficção científica, onde ele procurava antecipar o que aconteceria no futuro. Antes da própria invenção do avião, Verne nesse livro acabou antecipando em muitos anos o aparecimento do uso militar de aeronaves. Como se sabe Verne foi um escritor muito produtivo, lançando praticamente um livro novo a cada ano. Ele era muito popular em sua época e por essa razão várias estórias de sucesso eram readaptadas em novas aventuras como novos personagens. Esse é o caso do personagem Rubor. Lançado originalmente em 1886 no livro "Robur, o conquistador!" ele era na verdade uma readaptação do próprio Nemo de "Vinte Mil Léguas Submarinas", lançado em 1870. A única mudança significativa vinha do fato de Robur viajar em um dirigível, enquanto Nemo cruzava os mares em seu submarino Náutilus. Ambos eram gênios incompreendidos, que defendiam uma bela causa, mesmo usando para isso de métodos completamente errados para atingirem seus objetivos supostamente nobres. 

Já o filme "Robur, o Conquistador do Mundo" não contou com uma grande produção como aconteceu no caso de Nemo para a Disney. Aqui os efeitos especiais, que já não eram tão bons na época de seu lançamento, envelheceram dramaticamente com o tempo. Tudo vai soar muito jurássico para o público atual. Mesmo assim o filme conseguiu manter seu charme por causa da presença de bons atores, em especial Vincent Price como Rubor. Ator de formação teatral, ele consegue em cena manter a atenção, principalmente por causa de seu romantismo fora de moda, de seus ideais impossíveis de alcançar e de uma certo ingenuidade na luta por seus valores. O pior deles é combater as guerras mundiais com ainda mais violência! Já Charles Bronson está novamente interpretando um personagem secundário. Por essa época o ator era especializado em interpretar apenas papéis de apoio para astros de Hollywood. A direção de arte procura, com seus poucos recursos, recriar o mundo vitoriano de Verne. Pena que hoje em dia não consiga mais causar qualquer impacto visual por causa da precariedade dos efeitos especiais que o tempo tratou de destruir ainda mais. O que salva o filme como um todo, ainda nos dias de hoje, são os maravilhosos personagens criados pelo escritor Júlio Verne, sua mensagem de pacifismo equivocado e, é claro, a dose nostálgica que certamente se abaterá sobre os mais velhos. Pensando bem um remake moderno até que não seria uma má ideia. De qualquer maneira deixo a dica de uma produção da época em que Hollywood era mais inocente e criativa.

Pablo Aluísio.

domingo, 20 de novembro de 2016

O Vale das Paixões

Título no Brasil: O Vale das Paixões
Título Original: This Earth Is Mine
Ano de Produção: 1959
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Henry King
Roteiro: Casey Robinson, baseado na obra de Alice Tisdale Hobart
Elenco: Rock Hudson, Jean Simmons, Claude Rains, Francis Bethencourt, Cynthia Chenault, Dorothy McGuire, Kent Smith, Anna Lee.
  
Sinopse:
Após viver por praticamente toda a sua vida em Londres, a jovem Elizabeth Rambeau (Jean Simmons) retorna para viver na grande fazenda de seu avô na Califórnia. Rico produtor de uvas, ele agora vê seu outrora glorioso império em risco já que está vigorando nos Estados unidos a Lei Seca que proíbe a venda de bebidas alcoólicas. Para seu neto John (Rock Hudson) a única saída seria a venda da produção para gangsters e contrabandistas de Chicago, algo que deixa o velho patriarca completamente contrariado e ofendido, já que ele sempre primou pelo trabalho e pela honestidade. Mesmo usando de táticas ilegais, a elegante e refinada Elizabeth acaba ficando atraída por seu primo John, relevando suas falhas de caráter. O problema é que sua tia já lhe arranjou um casamento com um rico proprietário de terras, o culto, mas frívolo, Andre Swann (Francis Bethencourt). Filme indicado ao Golden Globes na categoria de Melhor revelação feminina (Cynthia Chenault).

Comentários:
Belo filme. É um daqueles dramas americanos dos anos 50 que investe nos problemas e atritos envolvendo um grande clã familiar, ricos donos de terras na Califórnia (no Napa Valley), que precisam agora se adequar aos novos tempos e aos novos desafios. A família Rambeau vive das vinheiras a perder de vista, mas ao mesmo tempo precisa superar velhos traumas envolvendo seus membros. O caso de John Rambeau (Rock Hudson) é um deles. Ele é filho bastardo da filha do velho patriarca, fundador do império de terras. No passado sua mãe se envolveu com o marido de sua própria irmã, caso amoroso escandaloso que acabou gerando John. Todos na família conhecem esse escândalo, mas ninguém ousa tocar no assunto. Criado assim como se fosse um pária (seu avô nunca gostou dele), John resolve apostar tudo para ficar rico e próspero. Para isso vale tudo mesmo, até se aliar com o mundo do crime de Chicago. Pior do que isso, ele começa a intimidar todos os pequenos produtores de uvas da região que não aceitam entrar em seu esquema. Afora todos esses conflitos John ainda precisa se acertar com sua prima, a bonita Elizabeth. Criada na Europa ela tem um refinamento que é bem estranho para John. Mesmo sendo tão diferentes entre si acabam se apaixonando, só que a tia deles pretende que Elizabeth se case com um rico herdeiro da região, tudo com o objetivo de unir as vinícolas, aumentando ainda mais seu poder e riqueza. Um casamento forjado, meramente de interesse, que tem pouco a ver com sentimentos verdadeiros. 

Do elenco três nomes se destacam. O primeiro é o do próprio Rock Hudson. Ele sempre procurou interpretar personagens acima do bem e do mal, íntegros e honestos. Aqui temos uma pequena exceção, pois seu John Rambeau é um tanto dúbio em seus princípios éticos. Ele não está muito interessado em saber o que é certo, mas sim em ficar rico, a todo custo. Jean Simmons também surpreende, apesar de seu papel ser menos interessante. Sua Elizabeth se resume em uma beldade, uma heroína de filmes desse estilo. Pelo menos está bem bonita em cena, diria até exuberante. Por fim há a grande interpretação do veterano Claude Rains que dá vida ao velho patriarca Philippe Rambeau. Mesmo diante de uma grande crise causada pela Lei Seca ele se recusa a deixar de ser um homem honesto e respeitador das leis de seu país. Um fazendeiro tradicional que sabe o valor que tem. Filme muito bom, com personagens complexos e bem desenvolvidos, tudo abrilhantado pelos excelentes cenários naturais de uma Califórnia que unia o velho sonho americano aos desafios de um novo tempo, de uma nova era. Vale a recomendação para os fãs de filmes clássicos.

Pablo Aluísio.

Um Yankee na R.A.F.

Título no Brasil: Um Yankee na R.A.F.
Título Original: A Yank in the R.A.F.
Ano de Produção: 1941
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Henry King
Roteiro: Darrell Ware, Karl Tunberg
Elenco: Tyrone Power, Betty Grable, John Sutton, Reginald Gardiner
  
Sinopse:
1941. Os Estados Unidos ainda não entraram na II Guerra Mundial. Eles procuram pela neutralidade em relação ao caos que se instala na Europa. A Inglaterra está em guerra com a Alemanha Nazista e o piloto americano Tim Baker resolve aceitar uma tentadora proposta para pilotar aviões ingleses sobre a Alemanha. O governo daquele país oferece mil dólares por missão, uma pequena fortuna na época. Em Londres Tim, por mero acaso, acaba reencontrando a corista e cantora Carol Brown (Betty Grable), uma garota que ele namorou no passado, mas que resolveu deixar de lado sem maiores explicações. Ele quer voltar para ela antes da próxima missão, mas Carol não cede aos seus galanteios, pois definitivamente não quer ser enganada novamente. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhores Efeitos Especiais (Fred Sersen e Edmund H. Hansen).

Comentários:
Antes de qualquer coisa é bom esclarecer que se você estiver em busca de um filme com bastante ação sobre a II Guerra Mundial, bem movimentado, com várias cenas de batalha aérea pelos céus da Europa, esse "A Yank in the R.A.F." não seria dos mais indicados. Isso porque o roteiro claramente valoriza mais o romance entre a corista interpretada por Betty Grable e o piloto americano de Tyrone Power do que qualquer outra coisa. Só para se ter uma ideia do que estou escrevendo basta saber que nada mais do que dois terços do filme é quase que exclusivamente apoiado no vai e vem do namorico entre eles. Power interpreta um sujeito audacioso, galanteador, mas também bem dado a piadinhas e gracinhas. Grable é a corista que no passado foi enganada por sua lábia. Eles se reencontram na Inglaterra, nas vésperas dos Estados Unidos entrarem na guerra, e recomeça o jogo de sedução entre o casal. Power avança, mas Betty Grable contém suas cantadas. Ela aliás vai muito bem, obrigada, com mais dois outros oficiais ingleses lhe cortejando o tempo todo. 

Um deles até lhe propõe casamento! Por que daria bola para aquele americano falastrão e de certo modo enganador? Um Dom Juan tardio? Claro que no fundo ela gosta de suas investidas, mas mantém a posição de durona em relação a ele. Nesse meio tempo aproveita para cantar e encantar pois ainda era bastante jovem e bonita quando o filme foi realizado. Ela tinha apenas 25 anos quando a fita foi rodada e está realmente uma graça em cena. Já Power... bom, o estilo de seu personagem não ajuda muito. Ele é muito gaiato para que nos importemos com o que vai lhe acontecer. O roteiro tenta traçar a personalidade de alguém muito simpático e sorridente, mas que no final só o deixa meio chato e inconveniente. Pois bem, depois de 70 minutos desse romance indeciso entre Power e Grable finalmente o filme apresenta uma boa cena de ação, um bombardeiro aéreo sobre Berlim. Os efeitos especiais usados nessa sequência (com uso de maquetes e outras técnicas, inclusive desenhos animados) ajuda um pouquinho a despertar, mas o teor de ação é realmente minimizado. Assim se você estiver em busca de um bom filme de guerra, daqueles mais tradicionais, desista. Por outro lado se a procura for por um romance bem ao estilo dos anos 40 então o filme certamente lhe é indicado. Em suma, uma (quase) comédia romântica com a Guerra Mundial como pano de fundo. Até simpático, mas nada muito além disso.

Pablo Aluísio.

sábado, 19 de novembro de 2016

Gaivota Negra

Título no Brasil: Gaivota Negra
Título Original: Frenchman's Creek
Ano de Produção: 1944
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Mitchell Leisen
Roteiro: Talbot Jennings, baseado na obra de Daphne Du Maurier
Elenco: Joan Fontaine, Arturo de Córdova, Basil Rathbone
  
Sinopse:
Frustrada por um casamento infeliz, Lady Dona St. Columb (Joan Fontaine) resolve se afastar do marido que considera um tolo. Com os dois filhos ela viaja até sua antiga propriedade na costa da Inglaterra. Há muito que a velha mansão está abandonada e empoeirada. Lá porém ela se sente muito mais feliz e calma. O que ela nem desconfia é que há um navio pirata francês na costa, bem perto de sua casa. O corsário Jean Benoit Aubrey (Arturo de Córdova) está fazendo reparos em sua embarcação. Em pouco tempo se conhecem e nasce daí uma inegável e perigosa atração romântica. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Direção de Arte (Hans Dreier e Ernst Fegté).

Comentários:
Filme de piratas tradicionalmente sempre fizeram muito sucesso de bilheteria. Esse aqui é um pouco diferenciado pois ao invés de valorizar as aventuras e lutas de capa e espada se concentra mais no romance entre uma nobre inglesa que não suporta mais seu casamento falido e um pirata francês que se esconde na costa de seu país. Apesar de ser um corsário ele se mostra muito cavalheiro e galanteador, sempre pronto a falar algo bonito para ela. Não demora nada e Lady Dona fica completamente apaixonada por seu estilo e modo de viver que ela começa a associar com liberdade, algo que nunca teve em sua vida pessoal. O Latin Lover Arturo de Córdova interpreta o capitão pirata francês (apesar dele ter nascido no México). Um típico galã da época, ele tinha boa postura em cena, mas no geral não conseguia passar de um canastrão bem intencionado. Melhor se sai a estrela Joan Fontaine, a irmã mais velha (e dizem mais talentosa) de Olivia de Havilland. Seu personagem exigiu até bastante dela, principalmente no aspecto físico, porém não abriu margem para uma grande atuação pois o filme em si é apenas um romance de aventuras, com pequenos toques de bom humor (que surgem principalmente quando Joan Fontaine se tenta passar por um jovem pirata). Como eu frisei o filme como um todo não se destaca muito no quesito aventura. Não há grandes cenas nesse aspecto. A caravela La Gaivota é toda pintada de branco (ao contrário do equivocado título nacional que se chama "Gaivota Negra") e não se destaca muito se comparada a outros navios de grande porte já vistos em filmes desse tipo. A única grande novidade talvez venha pela ousadia da história (baseada no romance de Daphne Du Maurier) pois a protagonista é uma mulher adúltera, com filhos, que resolve se enamorar de um ladrão dos mares estrangeiro ao mesmo tempo em que luta contra os seus próprios compatriotas. Vamos convir que era ousadia demais para aqueles tempos tão conservadores e moralistas. Por fim se você realmente gostar do enredo sugiro uma versão feita para a TV em 1998 com Tara Fitzgerald e Anthony Delon. Bem interessante.

Pablo Aluísio.

Modas de 1934

Título no Brasil: Modas de 1934
Título Original: Fashions of 1934
Ano de Produção: 1934
País: Estados Unidos
Estúdio: First National Pictures
Direção: William Dieterle
Roteiro: F. Hugh Herbert, Carl Erickson
Elenco: William Powell, Bette Davis, Frank McHugh
  
Sinopse:
Sherwood Nash (Powell) é um vigarista do mundo da moda. Para ficar rico e ganhar muito dinheiro ele não quer se esforçar muito. Nada de quebrar a cabeça para criar belos modelos de roupas femininas. Ao invés disso ele decide simplesmente copiar e plagiar os mais belos vestidos de Paris para vender de forma barata para seu público alvo, enganando as mulheres que fazem parte de sua clientela. A jovem Lynn Mason (Bette Davis) acaba se envolvendo em uma grande confusão ao se aproximar de Nash. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Figurino (Eugene Joseff).

Comentários:
Comédia leve e bem humorada que valoriza a figura da atriz Bette Davis. Ela surge na tela ainda bem jovem, com os cabelos platinados (uma moda ainda bem recente quando o filme foi lançado) e muito à vontade desfilando o que havia de mais chic e elegante no mundo fashion daquela época. Um dos aspectos interessantes desse filme foi o fato de que, pela primeira vez, Davis se considerou injustiçada pelo cachê dez vezes menor do que recebeu o ator William Powell. Era um exemplo da diferença salarial que existia em Hollywood naqueles tempos (algo que infelizmente perdura até os dias de hoje). O personagem de Powell, como já foi escrito, é em essência um vigarista do mundo da moda, copiando os desenhos dos vestidos mais elegantes, com o objetivo de ganhar muito dinheiro com as criações alheias. Ele também precisa dar vazão a um imenso lote de penas de avestruz, que ele precisa de todo jeito voltar a transformar em moda. Isso inclusive dá origem a uma bela cena musical com coristas no palco, dançando uma bonita coreografia com as tais penas. Ficou bonito, lembrando até o nosso teatro de revista. Em suma, uma comédia musical simpática, bem ensaiada e que conta com as carismáticas presenças da dupla William Powell e Bette Davis, passando uma ótima química entre eles para a tela. Vale a pena assistir para conhecer um pouco melhor o cinema americano da década de 1930, ainda bastante influenciado pela cultura teatral da Broadway de Nova Iorque.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Águias em Alerta

Título no Brasil: Águias em Alerta
Título Original: A Gathering of Eagles
Ano de Produção: 1963
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Delbert Mann
Roteiro: Robert Pirosh, Sy Bartlett
Elenco: Rock Hudson, Rod Taylor, Mary Peach

Sinopse:
O Coronel Jim Caldwell (Rock Hudson) é designado para trabalhar no Comando Aéreo Estratégico dos Estados Unidos, em uma função de extrema importância para a defesa do país. Comandante de uma equipe altamente bem treinada de tripulantes dos poderosos aviões bombardeios B-52 o militar, recém casado, precisa conciliar suas responsabilidades profissionais com sua vida pessoal, algo que não será nada fácil.

Comentários:
Um filme muito curioso que tenta mostrar aspectos do cotidiano e da vida dos militares da força aérea americana bem no meio de um dos períodos mais conturbados da história daquela nação. Em meio a uma guerra fria com a União Soviética, os americanos tentavam levar uma vida normal, conciliando um estado de permanente tensão com suas vidas pessoais. É justamente em cima disso que o roteiro se desenvolve ao mostrar como a vida privada de um militar de alta patente era afetada pelo clima de ansiedade e paranóia que existia na época. Curiosamente a crítica acabou afirmando em seu lançamento que o filme era no fundo um semi-documentário por causa da extrema fidelidade que tentou reproduzir nos mínimos detalhes a vida de um Coronel naqueles anos de cortina de ferro. Há por isso também um certo humor involuntário nas cenas, principalmente quando o personagem de Rock Hudson precisa informar ao comando todos os seus passos, inclusive os mais íntimos. Enfim, uma produção que diverte e instrui em doses exatas.

Pablo Aluísio.

Gestapo

Título no Brasil: Gestapo
Título Original: Night Train to Munich
Ano de Produção: 1940
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Carol Reed
Roteiro: Gordon Wellesley, Sidney Gilliat
Elenco: Margaret Lockwood, Rex Harrison, Paul Henreid

Sinopse:
Após invadir a Tchecoslováquia as tropas nazistas começam a se apoderar do complexo industrial do país. Um homem em especial, o especialista em aço usado em armamentos Axel Bomasch (James Harcourt), logo se torna alvo dos alemães, uma vez que um de seus projetos pode ser usado para reforçar os tanques do Reich. Antes que isso venha acontecer porém Bomasch e sua filha conseguem fugir para a Inglaterra, onde passam a ser monitorados por agentes da Gestapo. O objetivo desses espiões é levar Bomasch de volta para a Alemanha, onde Hitler deseja usá-lo na indústria bélica nazista. Filme indicado ao Oscar na categoria Melhor Roteiro Original.

Comentários:
Pequena obra prima dos filmes clássicos de espionagem da década de 1940. O enredo explora os serviços de inteligência da Inglaterra e Alemanha, onde ambos disputam a posse do mesmo homem, um inventor e especialista em materiais blindados. É importante chamar a atenção para o fato de que a produção foi realizada antes da entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, por essa razão não existem personagens americanos no roteiro, uma precaução dos estúdios Fox em não despertar uma crise diplomática. Isso porém não impediu o diretor Carol Reed em transformar os alemães em vilões desalmados. De forma muito inovadora o roteiro (que inclusive foi indicado ao Oscar) já trata de temas até então pouco explorados pelo cinema americano como os campos de concentração nazistas, muito embora naquela altura ainda não se sabia exatamente quais atrocidades eram cometidas dentro de suas instalações. Rex Harrison interpreta um agente inglês que ousa ir até a Alemanha disfarçado de um major do eixo. Sua missão é libertar Bomasch e sua filha das garras nazistas numa viagem de trem até Munique (o que acaba dando nome ao filme). No geral "Night Train to Munich" tem de tudo um pouco, suspense, mistério, aventura e até mesmo romance. Para os que apreciam filmes clássicos sobre a guerra é um prato cheio.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

A Morte e a Donzela

Um Polanski pouco lembrado. Baseado na peça teatral escrita por Ariel Dorfman o filme não consegue negar em nenhum momento suas origens teatrais. E o que isso significa? Bom, basicamente que você terá pela frente uma história passada praticamente toda entre quatro paredes, com ênfase sobretudo nos diálogos. No enredo Sigourney Weaver interpreta uma ativista política, esposa de um advogado proeminente em um país latino-americano (que nunca é revelado completamente pelo roteiro), que acaba caindo numa armadilha psicológica e física. O roteiro, como não poderia deixar de ser, explora bastante a mente de pessoas que são submetidas a torturas.  Roman Polanski acabou realizando um filme duro, onde os personagens não parecem dispostos a perdoar e nem a serem perdoados.

Da vasta e importante filmografia do diretor esse é, como já escrevi, um momento mais esquecido de sua carreira. Talvez seu viés mais comercial (sim, o filme foi acusado de ser comercial demais, por mais estranho que isso possa parecer!) acabou ofuscando suas próprias qualidades como obra cinematográfica. De minha parte o filme agradou bastante, principalmente pela atuação visceral de Sigourney Weaver, que deixando de lado sua franquia "Aliens" se entregou completamente ao papel. Muito provavelmente seja seu momento mais forte nas telas. A produção foi inteiramente rodada na Europa, em especial com locações na França e na Espanha, haja visto que o diretor não pode colocar seus pés nos Estados Unidos pois pesa contra ele uma condenação por um suposto crime que teria cometido por lá na década de 1970.

A Morte e a Donzela (Death and the Maiden, Estados Unidos, Inglaterra, França, 1994) Direção: Roman Polanski / Roteiro: Rafael Yglesias / Elenco: Sigourney Weaver, Ben Kingsley, Stuart Wilson / Sinopse: Um jogo de vida ou morte entre um homem e uma mulher. Filme indicado ao Independent Spirit Awards, na categoria de Melhor Filme do Ano.

Pablo Aluísio.

Almas Gêmeas

Outro bom filme que pouca gente se lembra. O curioso é que o filme foi dirigido por Peter Jackson, bem no comecinho de sua carreira. Foi de fato a primeira produção cara, com elenco classe A, dirigida por Jackson em Hollywood. Antes disso ele não tinha feito praticamente nada e só havia chamado discretamente a atenção por causa dos estranhos filmes "Trash - Náusea Total" e "Fome Animal" (apreciados apenas pelos fãs do estilo mais podreira). É até surpreendente que um grande estúdio americano tenha apostado suas fichas em um filme como esse, que seria dirigido por um diretor underground e pouco conhecido fora de seu nicho. Apesar de ter praticamente tudo contra Jackson acabou realizando uma bonita obra de arte, muito surrealista e sensorial. "Heavenly Creatures" tem um estilo bem próprio, que mais parece um longo sonho estilizado.

A direção de arte é muito bonita e criativa e o elenco está muito bem, em especial a atriz Kate Winslet, ainda distante do estouro de "Titanic", que seria realizado alguns anos depois. Interessante também citar que o diretor James Cameron optou por ela justamente por causa desse filme, quem diria. Sua personagem tinha um estilo vitoriano de ser, o que acabou convencendo Cameron na escalação de Winslet no papel de Rose DeWitt Bukater. Já Peter Jackson também iria se consagrar nos anos que viriam, principalmente por causa de uma das franquias mais bem sucedidas da história, "The Lord of the Rings", mas claro que isso é uma outra história...

Almas Gêmeas (Heavenly Creatures, Estados Unidos, 1994) Direção: Peter Jackson / Roteiro: Peter Jackson, Fran Walsh / Elenco: Melanie Lynskey, Kate Winslet, Sarah Peirse / Sinopse: Um estranho elo liga duas almas gêmeas. Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Roteiro Original.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

O Predador

Um grupo de militares comandados pelo experiente Coronel Dutch (Arnold Schwarzenegger) vai até uma floresta da América Central para uma missão e acaba sendo surpreendido pela presença de uma estranha criatura que não parece ser desse mundo. Um filme de ficção que marcou época e que deu origem a uma franquia que até hoje tenta reencontrar o caminho do sucesso que foi alcançado por essa fita. Lançado no auge da popularidade da carreira do ator Arnold Schwarzenegger, "Predator" conseguiu mesclar ficção com ação de uma maneira especialmente bem sucedida. Os efeitos especiais foram considerados revolucionários na época de lançamento (a tal ponto que sua derrota no Oscar foi considerada uma das grandes injustiças da história da Academia).

Schwarzenegger finalmente havia encontrado um rival à altura nas telas, uma criatura alienígena que tinha prazer em caçar e matar seres humanos, arrancando suas espinhas dorsais e seus crânios para usar como meros troféus de caça. O roteiro então procurou tirar ao máximo proveito desse jogo de vida e morte no meio da selva, entre um alien armado com armas desconhecidas dos humanos e um soldado treinado para as mais sangrentas batalhas. Algumas cenas, como a de Arnold Schwarzenegger camuflado com lama, pronto para destruir seu inimigo, se tornaram muito famosas. Some-se a isso a excelente maquiagem do monstro (interpretado pelo gigante Kevin Peter Hall) e você terá em mãos um dos mais divertidos filmes de ação e ficção dos anos 1980. Simplesmente imperdível.

O Predador (Predator, Estados Unidos, 1987) Direção: John McTiernan / Roteiro: Jim Thomas, John Thomas / Elenco: Arnold Schwarzenegger, Carl Weathers, Kevin Peter Hall, Jesse Ventura / Sinopse: Um grupo de miliares fortemente armados encontram um ser vindo do espaço. E ele é um caçador. E os humanos são sua caça. Filme indicado ao Oscar de Melhores Efeitos Especiais.

Pablo Aluísio.

Ladyhawke - O Feitiço de Áquila

Um casal de amantes acaba sofrendo uma maldição que os impede de se encontrar pois ambos viram animais selvagens em momentos diferentes do dia. Para quebrar o feitiço agora eles contam com a colaboração de Gaston (Matthew Broderick), um jovem acostumado a aplicar pequenos e grandes golpes por onde passa. Na década de 1980 tivemos uma safra de filmes ótima entre os anos de 1985 e 1986. Se tiver dúvidas procure por qualquer lista de produções lançadas nesses dois anos. Você certamente ficará surpreso com a quantidade de bons filmes lançados nessas duas temporadas. "O Feitiço de Áquila" também faz parte do que de melhor foi feito naqueles anos. Um misto muito bem realizado que combinava um enredo profundamente romântico com o clima de fábulas medievais. O enredo por si só já era muito bem escrito, mostrando a impossibilidade de duas pessoas que se amavam de se encontrar por causa de uma maldição que lhes havia sido imposta. Sob direção do excelente Richard Donner o elenco trazia três ótimos atores como protagonistas.

Poucas vezes Michelle Pfeiffer esteve tão bela como nessa produção. Jovem e com uma pele alva e delicada que só tornou sua personagem ainda mais enigmática, ela aqui encontrou um veículo perfeito para aquele momento em que vivia na carreira. Rutger Hauer havia brilhado em "Blade Runner" e estava em um momento de ascensão na carreira, algo que infelizmente não duraria muitos anos. Contrabalanceando o romantismo reinante entre esses dois atores, surgindo muitas vezes como alívio cômico o cast se completava com um jovem Matthew Broderick! Com todas as peças em seus lugares não é de se admirar portanto que o filme até hoje seja considerado um cult movie dos anos 1980. Romantismo à toda prova.

Ladyhawke - O Feitiço de Áquila (Ladyhawke, Estados Unidos, 1985) Direção: Richard Donner / Roteiro: Edward Khmara / Elenco: Matthew Broderick, Rutger Hauer, Michelle Pfeiffer / Sinopse: O filme conta a história de um amor medieval impossível de se concretizar. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Som e Melhores Efeitos Sonoros. Vencedor do Saturn Awards (da Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films) nas categorias de Melhor Filme - Fantasia e Melhor Figurino.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Adoradores do Diabo

Após a morte supostamente acidental de uma mulher numa cozinha, um médico de Nova Iorque descobre que ela estaria envolvida em uma rede de membros que se reúnem numa seita satânica nos porões da cidade. São fanáticos que promovem sacrifícios humanos com crianças. Para seu desespero também acaba descobrindo que seu filho é um dos alvos. Agora terá que lutar para salvar a criança das mãos dos membros dessa sanguinária seita do diabo. Um bom filme de terror que causou certa sensação em seu lançamento por tratar de um problema que só tem crescido nos últimos anos: a proliferação de seitas que se envolvem em magia negra, matando crianças em sacrifícios terríveis dirigidos para seus supostos deuses do inferno. O roteiro investe numa situação mais intelectual e procura evitar apelar o tempo todo para absurdos sensacionalistas.

Quem acaba se saindo muito bem em cena é o veterano ator Martin Sheen, que empresta todo o seu talento dramático para tornar ainda mais verdadeira a agonia pela qual seu personagem passa. Sempre fui um admirador da obra do cineasta inglês John Schlesinger que no passado dirigiu várias obras primas como por exemplo "Perdidos na Noite" e "Maratona da Morte". Sua sensibilidade cinematográfica apurada acaba trazendo grande força a esse filme que lida com um assunto tão complicado. Vale a indicação para os fãs de filmes de horror que estejam em busca de algo mais diferente do que geralmente se vê no gênero.

Adoradores do Diabo (The Believers, Estados Unidos , 1987) Direção: John Schlesinger / Roteiro: Mark Frost, Nicholas Conde / Elenco: Martin Sheen, Helen Shaver, Harley Cross / Sinopse: Pessoas de má índole se envolvem com cultos ao sobrenatural.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Joe

Depois de ficar alguns anos preso, por ter agredido um policial, Joe (Nicolas Cage) segue com sua vida. Ele mantém um pequeno negócio, onde recruta trabalhadores para envenenar árvores no meio da floresta. A intenção é retirar a mata original para a plantação de pinheiros. É um trabalho duro. Gary (Tye Sheridan) é um jovem desempregado que pede um emprego a Joe. A vida familiar dele é caótica, com sua mãe e irmã oprimidas por seu pai, um sujeito alcoólatra e violento. Tentando ajudar, Joe emprega o rapaz, mal sabendo que isso lhe trará vários problemas no futuro.

Gostei desse filme "Joe". É um dos poucos da recente safra da filmografia do ator Nicolas Cage que realmente vale a pena. Não sei bem a razão, mas Cage entrou em uma fase ruim, trabalhando em produções cada vez piores, algumas com roteiros ridículos. Bom ator certamente ele é, o que faltava era escolher melhor seus projetos. "Joe" é uma pausa muito bem-vinda na mediocridade de sua carreira mais recente. É um bom drama, com personagens interessantes e argumento coeso, que prende a atenção. O protagonista é um homem comum, um trabalhador que tenta ganhar a vida da melhor forma possível.

O diretor David Gordon Green optou por escolher uma narrativa lenta, contemplativa. Nada é muito apressado e o enredo se desenvolve em seu próprio ritmo. A vida de Joe tem muitos problemas, inclusive uma rixa violenta com um sujeito intragável, um bêbado de bar com quem sempre sai na mão quando se encontram. O cenário onde tudo se passa é uma pequena cidadezinha do sul do Texas, com aquele clima de decadência econômica que os americanos do interior conhecem muito bem. A própria atividade de Joe - a de envenenar árvores - é clandestina, pois ele é contratado pelas grandes madeireiras para fazer o serviço sujo, abrindo caminho para elas depois devastarem a floresta. Não é um personagem heroico, muito pelo contrário, é um membro da classe trabalhadora, tentando ganhar a vida. Esse realismo aliás é o grande mérito desse filme.

Joe (Joe, Estados Unidos, 2013) Direção: David Gordon Green / Roteiro: Gary Hawkins, Larry Brown / Elenco: Nicolas Cage, Tye Sheridan, Gary Poulter / Sinopse: Joe (Cage), um ex-condenado, ganha a vida na floresta ao lado de seus contratados. Sua vida muda quando conhece um garoto com problemas familiares. Ao tentar ajudá-lo Joe acaba se envolvendo em uma situação no mínimo delicada e perigosa. Filme premiado pela Austin Film Critics Association e Venice Film Festival na categoria de Melhor Direção.

Pablo Aluísio.

Nosso Fiel Traidor

Um casal em crise decide passar férias no Marrocos para tentar superar os problemas. Casualmente o marido Perry (Ewan McGregor) acaba conhecendo em um restaurante de Marrakech um russo conhecido apenas como Dima (Stellan Skarsgård). Falastrão e boa praça, logo faz amizade com o britânico, o convidando para uma festa, uma balada para a comunidade russa que vive na região. A noite acaba se estendendo além do limite e Perry no dia seguinte precisa se explicar para a esposa, até porque havia mulheres lindas no local. A intenção de Dima em fazer amizade com Perry porém vai muito além da simples amizade. Ele quer que o inglês dê ao serviço secreto de seu país um pen-drive. Acontece que Dima é o encarregado das finanças da máfia russa e quer delatar todos os membros de sua organização em troca de asilo e proteção na Inglaterra. Perry que sempre foi um homem pacato, um mero  professor universitário de poesia, acaba assim entrando em um jogo perigoso, envolvendo mafiosos e políticos corruptos do próprio parlamento britãnico.

Essa é mais uma adaptação da obra do escritor John le Carré para o cinema. Especialista em tramas de espionagem esse autor é um dos mais populares da literatura. De forma em geral considerei apenas um filme mediano. O problema nem é tanto da obra cinematográfica em si, mas sim da própria estória que conta. Quem em sã consciência aceitaria levar arquivos secretos da máfia russa para entregar ao MI6 em seu retorno para a Inglaterra? Esse é apenas um exemplo da falta de veracidade desse enredo. Outros vão surgindo, em situação inverossímeis demais para se ignorar. A única boa atuação do elenco vem por parte do trabalho do ator sueco Stellan Skarsgård. O seu mafioso russo é cheio de vida, um sujeito expansivo que precisa ir embora antes que o novo chefão da máfia o extermine. Ele pensa em sua família, tem receio que todos sejam mortos e vê naquele inglês pacata a chance de ir embora para sempre do mundo do crime. Já Ewan McGregor não está muito bem e isso é culpa do papel que interpreta, a de um marido meio bobão, bonzinho demais para ser crível. Com um penteado esquisito e cara de bobalhão, fica complicado torcer por ele em cena. Damian Lewis como o agente do MI6 se sai melhor, mas não tem o espaço adequado para desenvolver melhor seu personagem. Então é isso. Um filme bom, OK, bem produzido, mas que sofre pela própria trama que apresenta, pouco crível e verossímil.

Nosso Fiel Traidor (Our Kind of Traitor, Inglaterra, França, 2016) Direção: Susanna White / Roteiro: Hossein Amini, baseado na obra de John le Carré / Elenco: Ewan McGregor, Stellan Skarsgård, Damian Lewis, Naomie Harris, Grigoriy Dobrygin / Sinopse: Casal inglês decide ajudar mafioso russo a entregar provas para o serviço secreto inglês, se envolvendo em uma complexa rede de crime e espionagem.

Pablo Aluísio.

domingo, 13 de novembro de 2016

Operação Anthropoid

Em 1942, no auge da II Guerra Mundial, o governo inglês e os líderes da resistência tcheca em Londres enviaram um grupo de paraquedistas para Praga. Eles pularam além das linhas inimigas, bem no meio da floresta, e depois foram para a cidade com uma missão específica: localizar e assassinar o General Reinhard Heydrich, o terceiro homem na hierarquia do III Reich alemão, abaixo apenas de Hitler e Heinrich Himmler, o todo poderoso líder das tropas SS. Reinhard Heydrich era um nazista fanático, que ficou conhecido como o "açougueiro de Praga", por causa de seus crimes. Ele era  um criminoso de guerra capaz das maiores atrocidades, como matar homens, mulheres e crianças inocentes, apenas para provar sua autoridade diante de uma nação ocupada e barbarizada por suas tropas. Assim o General era um grande troféu para os membros da resistência contra a invasão nazista naquela nação. A missão de matar esse militar, que acabou não sendo executada com tanta perfeição, é o ponto central do roteiro desse filme.

Desnecessário dizer que se você gosta de filmes de guerra esse é certamente um dos temas mais interessantes da II Guerra. Bem conhecido de estudiosos do período. Tudo é baseado em fatos históricos reais, ideal para quem gosta da história desse conflito. Com excelente reconstituição histórica, boa produção (o filme foi produzido pelos estúdios Universal), o roteiro procura ser o mais fiel possível aos acontecimentos. Um aspecto periférico que a história mostra, que é bem importante citar, é o papel importante desempenhado pelos membros da Igreja Católica contra a expansão nazista na Europa durante aquela época tenebrosa. Bem ao contrário de certas cartilhas marxistas que caluniam a Igreja, tentando convencer a todos que foi justamente o contrário do que efetivamente aconteceu. Aliás é dentro de uma Igreja em Praga que acontece a melhor cena de todo o filme, em clímax completamente violento e insano. O elenco é formado por jovens atores, sendo o nome mais conhecido o de Cillian Murphy. Todos bem empenhados em homenagear seus personagens, que são considerados heróis até hoje pelo povo da atual República Checa. Um dos países mais belos do mundo, tão rico em história e cultura, acabou sendo também uma das primeiras vítimas de um regime atroz. No final das contas a única crítica maior que teria a fazer sobre o roteiro desse filme vem do fato dele se concentrar apenas no lado dos membros da resistência. Os roteiristas esqueceram de certa maneira de desenvolver o lado nazista da história, mostrando as atrocidades do General Heydrich. Isso teria mostrado ainda mais a urgência de toda a operação para matá-lo. No mais é com certeza um excelente filme, bem valorizado pela história edificante que conta. Está assim mais do que bem recomendado.

Operação Anthropoid (Inglaterra, França, República Checa, Estados Unidos, 2016) Direção: Sean Ellis / Roteiro: Sean Ellis, Anthony Frewin / Elenco: Cillian Murphy, Toby Jones, Jamie Dornan, Charlotte Le Bon, Anna Geislerová / Sinopse: Baseado em fatos reais o filme mostra os preparativos para a operação Anthropoid, que tinha como objetivo o assassinato do General e líder nazista Reinhard Heydrich.

Pablo Aluísio.

O Contador

Na infância Christian Wolff (Ben Affleck) foi diagnosticado como portador de uma das espécies mais raras de autismo. Seu pai, um militar linha dura, o treinou para controlar esse problema, evitando assim que ele fosse explorado por causa de seu transtorno. O objetivo era garantir uma vida normal para o garoto no futuro. Como se sabe pessoas autistas apresentam grandes problemas em relacionamentos sociais, porém são extremamente habilidosas para lidar com números, estatísticas, listas, etc. Assim Wolff acaba se tornando um auditor contábil dos mais eficientes em seu ramo profissional. Inicialmente ele começa trabalhando para grupos criminosos, extremamente perigosos e letais, entre eles a máfia italiana em Nova Iorque. Sua racionalidade acima da média o faz sobreviver nesse submundo. Suas atividades porém chamam a atenção do governo americano que resolve descobrir sua identidade. Enquanto não é descoberto, Wolff aceita mais um serviço, em uma empresa especializada em robótica e próteses para deficientes físicos.

Lá descobre um grande desfalque, um desvio de 60 milhões de dólares nas contas. Um dos sócios desviou toda essa fortuna, embolsando o dinheiro para si. A descoberta acaba em tragédia e a auditoria fica pelo meio do caminho, mas Wolff, sem saber, acaba entrando em uma armadilha mortal. Ele precisa salvar não apenas sua vida, mas também a da jovem contadora da empresa, a primeira a descobrir o rombo milionário nas contas corporativas. Eu achei bem interessante esse "O Contador". A premissa realmente é das melhores. Ter um protagonista autista já é um diferencial e tanto. Agora colocá-lo como um sujeito extremamente treinado e preparado para sobreviver até nas mais estressantes e violentas ações já achei um pouco além da conta. Em minha concepção o filme funciona muito bem até mais ou menos sua metade. Somos apresentados ao personagem de Ben Affleck, descobrimos que ele é autista, que tem problemas e transtornos mentais, etc. Tudo muito interessante. Depois que ele vira uma espécie de Rambo indestrutível o filme decai muito. O roteiro perde parte de sua graça ao explorar uma série de cenas de ação. Acho que não era bem por aí. O roteiro se tivesse focado mais no lado cerebral da trama teria sido bem melhor. De qualquer forma ainda está valendo. Não é uma obra prima, passa longe disso, mas pelo menos tenta ser um pouco diferente, fugindo em parte do lugar comum.

O Contador (The Accountant, Estados Unidos, 2016) Direção: Gavin O'Connor / Roteiro: Bill Dubuque / Elenco: Ben Affleck, Anna Kendrick, J.K. Simmons, John Lithgow / Sinopse: Christian Wolff (Ben Affleck) é um auditor contábil, com problemas de autismo, que precisa sobreviver a inimigos do passado e do presente. Ele, com os anos, se tornou um arquivo vivo que precisa ser eliminado de todas as formas possíveis.

Pablo Aluísio.

sábado, 12 de novembro de 2016

Jack Reacher: Sem Retorno

Jack Reacher (Tom Cruise) é um ex-major do exército americano que vaga pelo país em busca de algum propósito para sua vida. Ao entrar em contato com uma militar baseada em Washington DC ele acaba simpatizando com ela. Surge um flerte casual entre ambos. Sem pensar muito Jack resolve ir até a capital do país para conhecê-la pessoalmente. Quem sabe ele não consegue um encontro ou algo assim. Quando chega lá acaba descobrindo que ela está presa, acusada de espionagem! Completamente surpreso, Reacher acredita que pode haver algo por trás de sua prisão. Ela provavelmente está sendo usada como bode expiatório, principalmente após ter descoberto um caso envolvendo crimes militares em uma base no Afeganistão. Tudo leva a crer que um carregamento de armas dado como desaparecido, foi vendido no mercado negro de tráfico internacional de armas. Ao começar a investigar o próprio Reacher porém se torna alvo de suspeitas de envolvimento com espionagem e traição ao país, tendo que fugir para sobreviver.

Segundo filme estrelado por Tom Cruise no papel do ex-militar Jack Reacher. Essa é uma nova franquia no qual o ator anda apostando suas fichas. Ele não apenas atua como também produz o filme. Os direitos dos livros foram comprados por ele, ou seja, é um projeto pessoal do próprio Cruise. O problema é que o filme, apesar de ser bem realizado, não foge muito da velha fórmula desgastada dos filmes de ação. Há uma pequena trama, de fácil entendimento por trás, que serve de pretexto para cenas e mais cenas de perseguição, tiroteios e coisas do gênero. Logo se torna cansativo pela repetição e falta de novas ideias. O primeiro filme também tinha esses mesmos defeitos, mas até que me agradou por ser mais objetivo. Esse aqui peca por trazer uma personagem bem irritante e inútil para o roteiro, uma adolescente que supostamente seria a filha de Reacher. A garota só serve para ficar aborrecendo o tempo todo o casal fugitivo - e de quebra enche a paciência também do espectador. Aborrescentes deveriam ficar fora desse tipo de filme. Outro defeito é a velha mania que alguns roteiros americanos apresentam de ofender a inteligência do público. Em determinada cena, por exemplo, Cruise e sua colega conseguem fugir de uma prisão militar do exército de alta segurança sem grandes problemas. Sinceramente, momentos como esse ultrapassam qualquer sinal de bom senso. Enfim, um filme apenas mediano que parece melhor do que realmente é por causa da massiva campanha de marketing utilizada em seu lançamento.

Jack Reacher: Sem Retorno (Jack Reacher: Never Go Back, Estados Unidos, 2016) Direção: Edward Zwick / Roteiro: Richard Wenk, Edward Zwick / Elenco: Tom Cruise, Cobie Smulders, Aldis Hodge / Sinopse: Jack Reacher (Tom Cruise) é um ex-major do exército americano que acaba sendo envolvido em uma falsa acusação de espionagem de uma colega de farda. Assim ele tenta escapar da prisão (e provavelmente da morte) enquanto tenta desvendar a conspiração que existe por trás de tudo.

Pablo Aluísio.

O Encontro

Richard Gere foi um dos mais populares galãs de Hollywood. Curiosamente quando seus cabelos começaram a ficar grisalhos ele não morreu como ator, como era de se supor em relação a um galã. Pelo contrário, ele assumiu a idade e começou a estrelar uma série de filmes bem interessantes, alguns bem mais relevantes do que os que ele fazia quando era apenas um rostinho bonito em Hollywood. Esse "O Encontro", devo confessar, é um dos filmes  mais humanos de sua filmografia. Gere interpreta George, um sem-teto que vaga por uma Nova Iorque cosmopolita e desalmada. Ele não tem trabalho, meios de sobreviver e nem onde ficar. Está velho e com sinais de desequilíbrio mental. Despejado de um velho apartamento caindo aos pedaços, que ele diz ser de uma amiga (possivelmente imaginária), ele acaba indo parar no lugar para onde vão todos os pobres e esquecidos da América: a rua!

E no mundo selvagem dos chamados homeless ele precisa viver a cada dia. Sem ter onde dormir procura por abrigos, muitas vezes perigosos. Vivendo da caridade alheia acaba vendendo peças de sua própria roupa para comprar bebidas alcoólicas - um velho mal que atinge muitos moradores de rua. O passado ficou para trás. Sua esposa morreu precocemente de câncer de mama e após perder o emprego, sua casa e praticamente toda a vida, acabou se tornando uma pessoa invisível, que anda pelas ruas da grande metrópole sendo ignorado pelos apressados moradores que viram o rosto sem cerimônia para a pobreza e a miséria de sua sociedade. Sua única ligação com a vida que tinha é sua filha, que trabalha como bartender em um bar de periferia. Ele tenta uma reaproximação, mas tudo é muito difícil. Ela tem mágoas por ele não ter segurado a barra quando a esposa morreu. Velhas feridas e traumas familiares que custam a cicatrizar. Gere poucas vezes esteve tão bem. Ele leva o espectador para o mundo dos que não possuem mais nada, muitas vezes, nem ao menos esperança. O clima do filme é triste de uma maneira em geral, porém a cena final, com uma clara mensagem de redenção ao seu próprio modo, nos deixam pelo menos com um pequeno e tímido sorriso nos lábios. Afinal, nesse mundo tão injusto, nem tudo está irremediavelmente perdido.

O Encontro (Time Out of Mind, Estados Unidos, 2014) Direção: Oren Moverman / Roteiro: Oren Moverman, Jeffrey Caine / Elenco: Richard Gere, Ben Vereen, Jena Malone, Steve Buscemi, Jeremy Strong, Kyra Sedgwick / Sinopse: George (Richard Gere) é um sem-teto que tenta novamente se aproximar de sua filha, que o detesta e o odeia por causa de traumas familiares do passado. Filme premiado pelo Toronto International Film Festival.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

A Série Divergente - Convergente

Título no Brasil: A Série Divergente - Convergente
Título Original: Allegiant
Ano de Produção: 2016
País: Estados Unidos
Estúdio: Lionsgate
Direção: Robert Schwentke
Roteiro: Noah Oppenheim, Adam Cooper
Elenco: Shailene Woodley, Theo James, Jeff Daniels, Octavia Spencer, Naomi Watts
  
Sinopse:
Após a vitória dos rebeldes divergentes sobe ao poder Evelyn (Naomi Watts), que começa a tomar atitudes tirânicas, com execuções sumárias de inimigos e prisões arbitrárias. Cansada de tudo Tris (Shailene Woodley) decide explorar ao lado de seus amigos o mundo além dos muros da cidade, o que acaba revelando algo que ela nem sonhara existir.

Comentários:
Terceiro filme da saga Divergente. Depois do segundo filme, que foi bem mais ou menos, eu nem ia assistir esse terceiro filme, porém como diz o ditado se começou algo, termine. Assim resolvi conferir. É a tal coisa, a escritora Veronica Roth que escreveu os livros originais parece ter caído naquela velha armadilha de dar voltas sobre si mesma. No segundo filme tudo parecia resolvido, a trama tinha chegado ao fim, os rebeldes venceram os tiranos, mas... eis que tudo volta para a estaca zero. Uma vez no poder os revolucionários logo se tornam tão tirânicos como o regime anterior, sendo que não há outro caminho a seguir a não ser... uma nova guerra! Em poucas palavras: cansativo! Ok, estamos aqui na presença de um produto teen, feito para adolescentes, mas um pouquinho de criatividade ou inovação cairia muito bem. Voltar a contar a mesma estória de novo me soa uma grande picaretagem por parte dessa escritora. Deixando isso de lado devo dizer que até gostei da produção em geral. 

O filme tem bons efeitos visuais - mais do que os dois anteriores - e uma boa direção de arte. Só peca mesmo pelo roteiro, já que o livro original nunca fez muito sentido. Falando sinceramente essa trama é bem confusa, mal desenvolvida, sempre apelando para clichês de todos os tipos. De uma maneira ou outra, o fato é que essa terceira parte foi mal recebida por parte do público e crítica, o que fez com que a quarta parte no cinema fosse cancelada! (sim, as coisas ainda iriam em frente!). O estúdio porém resolveu que os fãs não ficarão sem o quarto filme, mas esse será produzido para ser exibido apenas na TV, em ritmo de orçamento modesto. Além disso o elenco original será todo substituído. A atriz Shailene Woodley (que inclusive foi presa recentemente nos EUA) está fora da quarta parte. Nada de gastos excessivos. A ordem agora é fazer um filme final, para encerrar o ciclo, porém sem gastar muito. Melhor assim, pois será mais fácil ignorar. A conclusão de tudo é simples: a série Divergente não terá mais futuro no cinema. Já era tempo. The End.

Pablo Aluísio.

A Qualquer Custo

Ótimo filme! No enredo temos dois irmãos que se encontram após muitos anos por causa do falecimento de sua mãe. Ela morreu pobre e endividada, por causa de uma hipoteca feita para salvar seu rancho. O irmão mais velho Tanner (Ben Foster) passou muitos anos preso. De volta à liberdade acaba convencendo seu irmão mais jovem, Toby (Chris Pine), a realizar uma série de assaltos em pequenas agências bancárias de cidadezinhas perdidas no oeste do Texas. A ideia é roubar o dinheiro necessário para pagar a hipoteca do rancho da mãe, evitando assim que o banco fique com a propriedade. Após os primeiros assaltos entram em cena dois policiais veteranos. O xerife Marcus (Jeff Bridges) é um velho homem da lei, prestes a se aposentar. Seu parceiro, o mestiço Alberto (Gil Birmingham), é um excelente policial, com muita experiência em campo. O segredo para prender os dois ladrões de bancos é antecipar seus próximos crimes. Descobrir onde eles atacarão em seguida. Para isso os tiras procuram descobrir qual será a próxima agência a ser roubada. Inicia-se assim uma verdadeira caçada humana no meio da imensidão do Texas.

De certa forma esse novo filme estrelado pelo sempre ótimo Jeff Bridges é uma espécie de faroeste moderno, passado no oeste americano da atualidade. Todos os personagens são bem desenvolvidos e o filme conta com um excelente roteiro. Os dois irmãos criminosos são apresentados como pessoas comuns, que tentam sobreviver de alguma forma. O excelente ator Ben Foster interpreta o irmão mais velho, ex-presidiário, que gosta do que faz, dos crimes que comete. Ele parece adorar a adrenalina da perseguição policial, do perigo em se entrar em um banco com armas na mão anunciando um assalto. Seu irmão mais jovem, interpretado pelo ator Chris Pine (sim, o Capitão Kirk da nova franquia "Star Trek") faz o sujeito com ficha limpa que embarca nos planos alucinados de seu mano. O destaque porém vai para a ótima atuação de Bridges como o velho xerife. Experiente, com um sotaque todo característico da região, onde palavras são confundidas com resmungos ranzinzas, ele passa o filme inteiro trocando farpas com seu parceiro. Sendo ele um policial com origem mexicana, isso acaba rendendo ótimos momentos de humor, sem qualquer intenção de ser ofensivo, sendo apenas divertido. O filme tem um clímax muito bom, que me lembrou inclusive de velhos filmes de western, onde bandidos e mocinhos se enfrentam nas ingremes montanhas texanas. Um filme realmente muito bom, valorizado sobretudo por causa desse teor nostálgico de seu roteiro. Mais do que recomendado.

A Qualquer Custo (Hell or High Water, Estados Unidos, 2016) Direção: David Mackenzie / Roteiro: Taylor Sheridan / Elenco: Jeff Bridges, Ben Foster, Chris Pine, Gil Birmingham  / Sinopse: Uma dupla de policiais veteranos caça dois irmãos, assaltantes de bancos, no oeste texano. Tentando antecipar onde os próximos crimes serão cometidos, eles montam uma tocaia para aprisionar os criminosos. Filme indicado ao Cannes Film Festival.

Pablo Aluísio.