segunda-feira, 2 de novembro de 2020
Convenção das Bruxas
Um aspecto que me decepcionou nesse filme foi o visual das bruxas. A maquiagem do filme original é muito superior à desse remake. As bruxas aqui não viram criaturas horrendas como no original. No primeiro filme tínhamos a caricatura tradicional de uma bruxa clássica. Aqui a coisa ficou mais sutil e sem graça. Elas ficam carecas, claro, exibem um sorriso à la Dália Negra, mas nada muito além disso. Onde está Del Toro, que sempre foi muito criativo na criação de criaturas monstruosas? Boatos maliciosos (não sei se são verdadeiros) dão conta que a atriz Anne Hathaway se recusou a ficar muito feia em cena. Pode haver algum fundo de verdade nisso. Atrizes são bem egocêntricas, de forma em geral. No mais, nenhuma surpresa. Os fãs da série "Todo Mundo Odeia o Chris" vão ter um pequeno sabor de nostalgia. Acontece que a narração em off foi feita pelo comediante Chris Rock. Impossível não lembrar da série que muitos adoram. Para um feriado de Halloween até que iria cair bem. Agora pesadelo de bruxa mesmo teve a Warner Bros. Investiu mais de 100 milhões de dólares na produção desse remake e foi atingido em cheio pela pandemia do novo coronavírus. Na impossibilidade de recuperar o investimento nos cinemas, que seguem em sua maioria fechados, o jeito foi apelar para o Streaming, porém sem os mesmos resultados comerciais. Milhões de dólares foram perdidos nessa crise.
Convenção das Bruxas (The Witches, Estados Unidos, Inglaterra, 2020) Direção: Robert Zemeckis / Roteiro: Robert Zemeckis, Kenya Barris, Guillermo del Toro / Elenco: Anne Hathaway, Octavia Spencer, Chris Rock, Stanley Tucci / Sinopse: Um garotinho e sua avó precisam enfrentar um grupo de bruxas que se reúnem em um hotel de luxo. Elas querem transformar todas as crianças do mundo em ratinhos, para que possam esmagá-los depois. Roteiro escrito a partir do livro infantil original escrito por Roald Dahl.
Pablo Aluísio.
sábado, 4 de agosto de 2018
Histórias Cruzadas
E o que ela encontra? O racismo mais disfarçado, um misto de preconceito racial com preconceito social. Relegadas a baixos salários e longas jornadas de trabalho, as empregadas domésticas negras eram mesmo consideradas seres humanos de segunda categoria. O filme porém procura não criar um estilo de panfleto social, indo mais nas sutilezas, sem exagerar na dose. Em termos de elenco, onde predominam elas, as mulheres, temos excelentes atuações. Passando pela jovem e bem intencionada personagem interpretada por Emma Stone e passando pela integridade moral e experiência de vida da Aibileen de Viola Davis. Um filme muito bom mesmo, com excelente reconstituição de época, tudo valorizado pelo roteiro socialmente consciente. Uma boa oportunidade para os americanos se olharem no espelho.
Histórias Cruzadas (The Help, EUA, 2011) Direção: Tate Taylor / Roteiro: Tate Taylor, baseado na obra de Kathryn Stockett / Elenco: Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer, Bryce Dallas Howard, Mike Vogel, Allison Janney / Sinopse: Durante a década de 60 a jovem Skeeter (Emma Stone), uma recém formada que tem planos de ser tornar escritora, decide escrever um livro retratando o cotidiano das empregadas domésticas negras do sul dos EUA. Em busca de material para seu texto ela consegue o apoio de Aibileen (Viola Davis), governanta de um amigo. Através dela Skeeter começa a ouvir também outras empregadas domésticas de sua cidade, dando forma ao seu livro que acabaria revelando um lado nada lisonjeiro das relações patroas e empregadas no sul racista americano
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 10 de janeiro de 2018
A Forma da Água
Título Original: The Shape of Water
Ano de Produção: 2017
País: Estados Unidos
Estúdio: Fox Searchlight Pictures
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro, Vanessa Taylor
Elenco: Sally Hawkins, Octavia Spencer, Michael Shannon, Richard Jenkins, Doug Jones, Stewart Arnott
Sinopse:
Elisa Esposito (Sally Hawkins) é uma mulher solitária que trabalha como faxineira numa instalação de segurança máxima do governo americano. Durante mais um dia de trabalho, ela descobre que em uma das salas do lugar existe uma criatura estranha, vivendo acorrentada e sendo estudada por cientistas. Em pouco tempo ela se aproxima dela e forma um estranho vínculo emocional com o esquisito ser. Filme premiado pelo Globo de Ouro nas categorias de Melhor Direção (Guillermo del Toro) e Melhor Trilha Sonora Incidental (Alexandre Desplat). Também indicado nas categorias de Melhor Filme - Drama e Melhor Roteiro Original.
Comentários:
Guillermo del Toro provavelmente nunca fez um filme convencional em sua carreira. Agora é que não seria exceção. Procurando se inspirar nos antigos filmes de ficção e fantasia dos anos 50, ele aqui recriou todo aquele clima de filme antigo para contar sua inusitada história. O enredo é quase uma fábula, um conto nostálgico, com uma certa inocência que não existe mais. Por isso o diretor ambientou toda a sua trama nos anos 60. Existe essa mulher, solteira e solitária, que acaba descobrindo que onde trabalha existe uma espécie de monstro capturado pelo governo americano nas selvas da América do Sul. Considerado um tipo de deus onde ele vivia, agora todos procuram estudá-lo, já que é uma espécie biológica completamente desconhecida da ciência. Um tipo de "monstro do pântano", um Amphibian Man, que acaba interagindo com a bondosa e inocente faxineira. Dessa aproximação surge a ideia de libertá-lo, uma ideia que conta inclusive com a simpatia de um dos cientistas, na verdade um espião russo infiltrado dentro daquela agência do governo dos EUA. Outro personagem muito bom é o vilão. Richard Strickland (Michael Shannon) é o responsável pela segurança do lugar. Quando ele descobre que há um plano para soltar a criatura aquática, ele imediatamente passa a usar de seus métodos violentos para inibir qualquer coisa nesse sentido. Penso que não é um filme para todos os públicos. Há uma nostalgia cinematográfica envolvida que ajuda muito o resultado final como um todo, porém há também deslizes. Guillermo del Toro ultrapassa várias vezes a linha do bom senso, inclusive criando um romance bizarro entre o monstro e a mulher solitária. Não era preciso seguir por esse lado. Uma amizade sincera entre eles já estava de bom tamanho. De qualquer forma por ser tão incomum e sui generis, essa produção ainda vale pelo menos uma sessão de cinema. Afinal não é todo dia que você encontrará um filme parecido com esse, já que não estamos mais nos distantes anos 1950.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 11 de julho de 2017
Quero Ser John Malkovich
Título Original: Being John Malkovich
Ano de Produção: 1999
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Spike Jonze
Roteiro: Charlie Kaufman
Elenco: John Cusack, John Malkovich, Cameron Diaz, Catherine Keener, Octavia Spencer, Charlie Sheen
Sinopse:
Certo dia Craig Schwartz (John Cusack) descobre que abrindo uma determinada porta ele tem acesso à mente do ator John Malkovich! Tudo o que ele vê, pensa e sente, Craig também sente. A coisa começa a sair do controle conforme ele vai ficando cada vez mais obcecado em sondar a mente do famoso ator! Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Roteiro, Melhor Direção e Melhor Atriz Coadjuvante (Catherine Keener).
Comentários:
O diretor Spike Jonze é um dos queridinhos da crítica americana. Ponto. Isso significa que não importa o que ele faça, não importa as ideias bizarras que ele transforme em filme. Sempre haverá uma multidão de críticos o elogiando, chamando de gênio, mestre, etc... Exagero puro! Não tenho dúvida que Spike Jonze tem seus méritos, ele sempre procurou fazer filmes diferentes, com tendência a se tornarem cults. Porém dizer que ele seria algum tipo de genialidade do cinema já é demais! Jornalistas em geral possuem esse tipo de cacoete irritante. Eles elegem seus preferidos e não conseguem mais dar um passo à frente. Esse "Being John Malkovich" é seguramente um dos filmes mais esquisitos dele (e olha que de obras estranhas sua filmografia está cheia!). A ideia de fazer alguém entrar na mente do ator John Malkovich funciona por mais ou menos 20 minutos. Depois disso se torna cansativo. Você se esforça para gostar, para achar tudo aquilo muito artístico, mas depois de um tempo a situação se torna bem chata. Além de cansativo o roteiro sofre daquele velho problema que conhecemos bem, a de ficar batendo na mesma tecla, cena após cena. Nada muda, as coisas vão ficando cada vez mais esquisitas e isso é basicamente tudo o que acontece. Como é também uma obra "freak" por definição e escolha, não espere maiores explicações sobre o que está acontecendo. É apenas a opção de Jonze em atrair críticas positivas sondando o surreal, a esquisitice extrema. Como puro cinema porém tudo é bem vazio e deserto de atrativos. Melhor não procurar ser John Malkovich e nem perder seu tempo com esse filme estranho e sem graça.
Pablo Aluísio.
sábado, 3 de junho de 2017
A Cabana
Nunca assisti nada igual a esse filme. A trindade sendo representada como personagens, como pessoas reais, é certamente algo original. O problema é que apesar de todas as belas intenções do roteiro o que podemos perceber é que teologicamente o texto é bem fraco. A mensagem de perdão e esperança até que é muito bem-vinda, porém a pergunta principal do protagonista (Por que Deus deixa que o mal exista?) não é muito bem respondida do ponto de vista teológico. O roteiro procura ter uma postura não alinhada às religiões tradicionais, sendo mais espiritualista, mas falha mesmo ao tentar responder uma questão tão crucial. Não é assim um filme para todos os públicos e nem esgota as questões filosóficas e de teologia que propõe. No final das contas não vai resolver a equação de natureza divina que ousou levantar. Isso é algo que inegavelmente fica pelo meio do caminho...
A Cabana (The Shack, Estados Unidos, 2017) Direção: Stuart Hazeldine / Roteiro: John Fusco, Andrew Lanham / Elenco: Sam Worthington, Octavia Spencer, Tim McGraw, Megan Charpentier, Alice Braga / Sinopse: Pai de família arrasado emocionalmente depois do assassinato de sua filha tem uma experiência surreal ao se encontrar com a própria trindade divina (pai, filho e espírito santo) na mesma cabana onde a criança foi morta por um assassino em série.
Pablo Aluísio.
domingo, 5 de fevereiro de 2017
Estrelas Além do Tempo
Agora falemos um pouco sobre o filme em si. O elenco é dos melhores, contando não apenas com o trio principal (interpretado pelas talentosas atrizes Octavia Spencer, Janelle Monáe e Taraji P. Henson) como também com atores conhecidos como Kevin Costner. Ele interpreta o diretor da agência no setor de cálculos e lançamentos. Um sujeito estressado que precisa lidar com o fato de que os russos estavam ganhando a corrida espacial naquele momento histórico. Enquanto os soviéticos colocavam o primeiro homem no espaço (o cosmonauta Iuri Gagarin), os americanos mal conseguiam sair do chão com seus foguetes desengonçados. De forma em geral há dois aspectos que precisam ser criticados nesse filme. O primeiro é que a edição não é muito eficiente, resultando em uma duração excessiva, com problemas de ritmo, fazendo com que o filme fique um pouco monótono em certos momentos. Outros aspecto que depõe um pouco contra o roteiro é que ele, em muitas ocasiões, é excessivamente maniqueísta. Obviamente deve-se reconhecer a importância dessas mulheres negras, mas sem exageros. Há momentos em que o roteiro quer provar que elas, praticamente sozinhas, foram as responsáveis pelo lançamento dos foguetes. Não precisava exagerar tanto na dose. Mesmo assim, com esses probleminhas, ainda é um filme a se conferir, principalmente para conhecer mais a fundo a história dessas pioneiras desconhecidas do programa espacial.
Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures, Estados Unidos, 2016) Direção: Theodore Melfi / Roteiro: Allison Schroeder, Theodore Melfi / Elenco: Kevin Costner, Octavia Spencer, Kirsten Dunst, Jim Parsons, Janelle Monáe, Taraji P. Henson / Sinopse: Três mulheres negras norte-americanas precisam enfrentar todas as dificuldades para se tornarem bem sucedidas na NASA. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Octavia Spencer) e Melhor Roteiro Adaptado (Allison Schroeder e Theodore Melfi).
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
A Série Divergente - Convergente
Título no Brasil: A Série Divergente - Convergente
Título Original: Allegiant
Ano de Produção: 2016
País: Estados Unidos
Estúdio: Lionsgate
Direção: Robert Schwentke
Roteiro: Noah Oppenheim, Adam Cooper
Elenco: Shailene Woodley, Theo James, Jeff Daniels, Octavia Spencer, Naomi Watts
Sinopse:
Após a vitória dos rebeldes divergentes sobe ao poder Evelyn (Naomi Watts), que começa a tomar atitudes tirânicas, com execuções sumárias de inimigos e prisões arbitrárias. Cansada de tudo Tris (Shailene Woodley) decide explorar ao lado de seus amigos o mundo além dos muros da cidade, o que acaba revelando algo que ela nem sonhara existir.
Comentários:
Terceiro filme da saga Divergente. Depois do segundo filme, que foi bem mais ou menos, eu nem ia assistir esse terceiro filme, porém como diz o ditado se começou algo, termine. Assim resolvi conferir. É a tal coisa, a escritora Veronica Roth que escreveu os livros originais parece ter caído naquela velha armadilha de dar voltas sobre si mesma. No segundo filme tudo parecia resolvido, a trama tinha chegado ao fim, os rebeldes venceram os tiranos, mas... eis que tudo volta para a estaca zero. Uma vez no poder os revolucionários logo se tornam tão tirânicos como o regime anterior, sendo que não há outro caminho a seguir a não ser... uma nova guerra! Em poucas palavras: cansativo! Ok, estamos aqui na presença de um produto teen, feito para adolescentes, mas um pouquinho de criatividade ou inovação cairia muito bem. Voltar a contar a mesma estória de novo me soa uma grande picaretagem por parte dessa escritora. Deixando isso de lado devo dizer que até gostei da produção em geral.
O filme tem bons efeitos visuais - mais do que os dois anteriores - e uma boa direção de arte. Só peca mesmo pelo roteiro, já que o livro original nunca fez muito sentido. Falando sinceramente essa trama é bem confusa, mal desenvolvida, sempre apelando para clichês de todos os tipos. De uma maneira ou outra, o fato é que essa terceira parte foi mal recebida por parte do público e crítica, o que fez com que a quarta parte no cinema fosse cancelada! (sim, as coisas ainda iriam em frente!). O estúdio porém resolveu que os fãs não ficarão sem o quarto filme, mas esse será produzido para ser exibido apenas na TV, em ritmo de orçamento modesto. Além disso o elenco original será todo substituído. A atriz Shailene Woodley (que inclusive foi presa recentemente nos EUA) está fora da quarta parte. Nada de gastos excessivos. A ordem agora é fazer um filme final, para encerrar o ciclo, porém sem gastar muito. Melhor assim, pois será mais fácil ignorar. A conclusão de tudo é simples: a série Divergente não terá mais futuro no cinema. Já era tempo. The End.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 6 de outubro de 2016
A Série Divergente - Insurgente
Título Original: Insurgent
Ano de Produção: 2015
País: Estados Unidos
Estúdio: Summit Entertainment
Direção: Robert Schwentke
Roteiro: Brian Duffield, Akiva Goldsman
Elenco: Shailene Woodley, Kate Winslet, Ansel Elgort, Theo James, Octavia Spencer, Zoë Kravitz
Sinopse:
Em um mundo dividido em facções para evitar novas guerras a jovem divergente Beatrice "Tris" Prior (Shailene Woodley) passa a ser perseguida pela poderosa Jeanine Matthews (Kate Winslet) que quer usar Tris como ferramenta para abrir um artefato que pertenceu aos fundadores. O tal objeto parece ter algo extremamente importante em seu interior, uma mensagem em forma de holograma, que trará inúmeras respostas para a humanidade. Filme indicado ao MTV Movie Awards e ao Teen Choice Awards.
Comentários:
Esse é o segundo filma da franquia "Divergente", baseada em uma série de livros de sucesso entre o público adolescente. O primeiro filme, que assisti em 2014, não me agradou muito. Como acontece com quase todas as adaptações literárias pude perceber vários problemas, inclusive a necessidade de se contar nos menores detalhes o universo onde as estórias se passavam, sem ter o tempo necessário para se fazer isso direito. Nunca li os livros escritos pela autora Veronica Roth, mas pelo que li e ouvi da opinião de fãs do material original tudo aqui ficou realmente mal adaptado, sem estrutura narrativa, com muitos erros, omissões e falhas de adaptação. Para quem acompanhou "Divergente" na literatura a coisa realmente pode parecer bem pior. No meu caso, como não estava muito interessado no material original, até posso dizer que esse segundo filme é bem mais interessante do que o primeiro. A coisa toda flui melhor e o roteiro me pareceu bem mais organizado e estruturado. Há um ciclo narrativo bem delimitado, com começo, meio e fim, sem tantas pontas soltas e inconclusivas como vimos no filme anterior. Também achei de bom gosto a produção. Em "Insurgente" capricharam mais nos efeitos especiais, criando uma bonita direção de arte. Provavelmente aprenderam com os erros que foram cometidos antes. A atriz Shailene Woodley é carismática, mas acredito que jamais chegará no nível de uma Jennifer Lawrence. Ela corre, pula, salta, briga e até tem espaço para algumas cenas levemente dramáticas. Deu conta do recado. Já a estrela Kate Winslet serve para emprestar seu nome para a produção, embora em termos de atuação também não tenha muito o que fazer. No geral não há muito mais a se extrair de um filme como esse porque ele essencialmente é um produto teen, com todas as limitações que esse tipo de mercado impõe. Não é algo indicado para maiores de 16 anos. Se não for o seu caso, aproveite, pois certamente vai se divertir.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 19 de abril de 2016
Histórias Cruzadas
Emma Stone, que nunca fez nada de muito importante (só uma listinha de filmes tolinhos e esquecíveis), mostra muito talento e desenvoltura interpretando a aspirante á escritora que ousou contar em pleno sul racista dos EUA as histórias das empregadas domésticas negras da região. Toda a hipocrisia, a falta de caráter, o racismo e a ignorância de uma sociedade que ficava chocada ao saber que uma empregada negra usava o mesmo banheiro das madames brancas. De certa forma a produção demonstra que a questão racial ainda está presente dentro da sociedade americana, principalmente em cidades sulistas onde essa questão ainda não parece ter sido totalmente superada. Enfim, ótimo trabalho assinado pelo jovem diretor Tate Taylor que mostra muita segurança e bom gosto nessa história tocante.
Histórias Cruzadas (The Help, EUA, 2011) Direção: Tate Taylor / Roteiro: Tate Taylor, baseado na obra de Kathryn Stockett / Elenco: Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer, Bryce Dallas Howard, Mike Vogel, Allison Janney / Sinopse: Durante a década de 60 a jovem Skeeter (Emma Stone), uma recém formada que tem planos de ser tornar escritora, decide escrever um livro retratando o cotidiano das empregadas domésticas negras do sul dos EUA. Em busca de material para seu texto ela consegue o apoio de Aibileen (Viola Davis), governanta de um amigo. Através dela Skeeter começa a ouvir também outras empregadas domésticas de sua cidade, dando forma ao seu livro que acabaria revelando um lado nada lisonjeiro das relações patroas e empregadas no sul racista americano
Pablo Aluísio.
sábado, 3 de outubro de 2015
Expresso do Amanhã
Título no Brasil: Expresso do Amanhã
Título Original: Snowpiercer
Ano de Produção:
País: Estados Unidos, França
Estúdio: Weinstein Company, Anchor Bay
Direção: Joon-ho Bong
Roteiro: Joon-ho Bong, Kelly Masterson
Elenco: Chris Evans, John Hurt, Ed Harris, Tilda Swinton, Octavia Spencer, Kang-ho Song
Sinopse:
O ano é 2031. Tudo o que restou da humanidade está viajando em um trem de alta tecnologia. O mundo lá fora está completamente congelado e inabitável. Dentro dos vagões as classes sociais foram devidamente separadas. Os pobres ocupam os últimos vagões. Há fome e desespero entre eles. O ricos e abastados vivem de forma luxuosa nos vagões dianteiros. Comandando tudo está o criador do trem, o cultuado e admirado Sr. Wilford (Ed Harris). Para acabar com todas as injustiças o jovem Curtis (Chris Evans) resolve liderar uma rebelião contra tudo o que está acontecendo. Filme vencedor do Georgia Film Critics Association na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante (Tilda Swinton).
Comentários:
O enredo é obviamente uma grande metáfora sobre a sociedade humana. O trem representa justamente isso. Após o planeta se tornar inabitável todas as pessoas que sobraram são confinadas nesse trem de última geração. As classes pobres ficam na parte de trás, sem comida adequada e condições mínimas de sobrevivência. Os ricos ficam na parte dianteira com todo o luxo e glamour que se possa imaginar. Nem precisa pensar muito para entender que a divisão de classes vira um dos fundamentos de tudo o que se vê na tela. Isso porém não deve animar muito os que valorizam o Marxismo ou teorias socialistas derivadas de seus princípios. O roteiro não vai até o fundo dessa questão e não está preocupado em levantar um debate mais sério sobre o tema. Na verdade é uma história até básica, contada sob um viés que pode ser classificado até mesmo como surreal. Há vagões que espelham a vida em nossa sociedade e que soam absurdos se olharmos com um pouquinho de bom senso. Assim ao atravessar o trem em direção ao lugar onde supostamente vive seu criador, os revolucionários liderados por Curtis (Evans) vão se deparando com vagões de fina classe, alguns adaptados para serem bonitos aquários, restaurantes e outros para serem animadas pistas de dança.
Tudo representando a futilidade e o vazio que impera nas classes ricas. Inicialmente ao tomar contato com a sinopse não me entusiasmei muito. Não gosto de filmes que passam o tempo todo tentando provar uma tese ou uma teoria social. Eles logo se tornam chatos, enfadonhos e panfletários, além de extremamente simplistas. É basicamente o que acontece aqui. O roteiro está tão empenhado em provar um ponto de vista que tudo o mais fica em segundo plano, até mesmo o bom cinema. A produção é até interessante por causa de uma direção de arte que valoriza um mundo ao mesmo tempo absurdo e surrealista, mas os efeitos digitais são fracos e nada convincentes. O elenco é encabeçado por Chris Evans, mas ele é logo ofuscado por dois veteranos que roubam o filme: John Hurt e Ed Harris. Quando contracena com esses mestres, o apagado Evans simplesmente desaparece em sua insignificância. Seu personagem também é pouco desenvolvido e nada complexo. Um herói pseudo revolucionário nada inspirador. Certamente apenas o trabalho de Hurt e Harris salvam "Expresso do Amanhã" nesse quesito. Isso porém é pouco para justificar um bom filme. O saldo final é infelizmente sensivelmente negativo.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 4 de agosto de 2015
Preto e Branco
Título Original: Black or White
Ano de Produção: 2014
País: Estados Unidos
Estúdio: Relativity Media
Direção: Mike Binder
Roteiro: Mike Binder
Elenco: Kevin Costner, Octavia Spencer, Gillian Jacobs, Bill Burr, Mpho Koaho
Sinopse:
Elliot Anderson (Kevin Costner) é um advogado quase aposentado que precisa lidar com a maior tragédia de sua vida, a morte de sua esposa em um acidente de trânsito. A questão se torna ainda mais delicada porque Elliot agora terá que criar sozinho sua jovem neta, uma menina negra, fruto de um relacionamento complicado de sua filha, também já falecida, com um rapaz desajustado que simplesmente foi embora após seu nascimento. A morte de sua esposa faz com que a avó paterna da garota, Rowena Jeffers (Octavia Spencer), passe a exigir a presença de sua neta em sua casa, já que em sua opinião a menina precisa agora de uma nova figura materna como referência. A idéia não parece ser a ideal para Elliot, o que acaba desencadeando uma tensão racial entre as duas famílias da menina que são de etnias e origens bem diferentes. Filme vencedor do African-American Film Critics Association (AAFCA) na categoria de Melhor Atriz (Octavia Spencer). Também indicado ao Black Reel Awards.
Comentários:
Em pouco menos de seis meses dois filmes estrelados por Kevin Costner, ambos enfocando questões raciais, foram lançados nos cinemas americanos. Em "McFarland dos EUA" (já comentado aqui no blog) tínhamos um treinador americano branco que enfrentava o desafio de treinar uma equipe formada por jovens latinos pobres. Em "Black or White" mais uma vez o mesmo argumento vem à tona, só que ao invés de explorar o problema do latino imigrante das periferias das grandes cidades, temos a tensão racial entre um advogado branco, avô de uma netinha negra e a família dela por parte de pai, que deseja ter a guarda da garotinha, mas sem o seu apoio. Quando isso acontece começam os questionamentos: Seria ele um racista, a tal ponto de negar a convivência da menina com seus parentes negros que moram numa região mais pobre e humilde da cidade? Ou apenas um sujeito devastado pela morte da esposa que não quer mais problemas em sua vida? O roteiro deixa claro desde o começo que o personagem de Costner não é um racista, mas um homem que está decidido a vencer na disputa pela guarda da criança. E quando esse tipo de disputa surge em um tribunal todas as armas parecem válidas, principalmente quando os advogados de sua avó negra (em excelente atuação de Octavia Spencer) decidem jogar sujo. A questão mais importante desse filme, principalmente para o profissional da área jurídica, é demonstrar que a ética precisa se impor ao simples desejo de vencer uma ação judicial.
Não é inventando mentiras ou impondo uma verdadeira chantagem social e emocional sobre o magistrado que se conseguirá realizar a verdadeira justiça. Há limites e esses devem ser respeitados. Qualificar alguém de racista apenas por ele ser um branco que deseja continuar com a guarda da neta negra é, além de uma calúnia infame, também um vitimismo fora de propósito, que ultrapassa qualquer tipo de ética profissional. No mais, gostei bastante da atuação de Kevin Costner. Seu personagem tem problemas com bebidas, é um bom homem, mas que se vê no meio de uma luta bem sórdida para falar a verdade. Octavia Spencer também se destaca mais uma vez. Uma atriz com muita expressividade. Sua personagem também não é a de uma má pessoa, mas apenas uma avó preocupada com o destino da criação de sua neta e que nesse processo acaba fazendo concessões demais aos seus advogados. Além deles há vários personagens secundários bem interessantes, como o jovem professor de matemática (interpretado pelo talentoso Mpho Koaho). Assim no final o que temos aqui é um roteiro articulado, bem honesto, que toca em um tema extremamente delicado. Um bom filme, ideal para uma reflexão posterior bem sincera sobre os rumos que a sociedade anda trilhando ultimamente sobre a questão racial.
Pablo Aluísio.