domingo, 5 de agosto de 2012

O Pecado Mora ao Lado

Eu não poderia deixar passar em branco aqui no blog a data dos 50 anos sem Marilyn Monroe. Eu sempre estou escrevendo sobre a atriz aqui, como todos os visitantes podem conferir. Também estou sempre trazendo textos sobre a atriz no blog Cinema Clássico. De fato é um prazer escrever sobre ela, um ícone que tenho especial carinho. Para relembrar que tal falar sobre "O Pecado Mora ao Lado"? Esse é um dos marcos de sua filmografia. Richard Sherman (Tom Ewell) é um maridão que fica sozinho em seu apartamento após sua esposa e filho irem passar as férias de verão fora de Nova Iorque. Adorando sua provisória liberdade ele começa a soltar a imaginação, imaginando diversas situações inusitadas. A nova vizinha do andar de cima, uma linda e sensual loira (Marilyn Monroe), atiça ainda mais seu imaginário. 

 “O Pecado Mora ao Lado” é um dos filmes mais lembrados de Marilyn Monroe. A cena em que ela deixa sua saia levantada com o vento vindo do metrô abaixo entrou definitivamente no inconsciente coletivo, virando símbolo de toda uma era do cinema americano da década de 50. Para a época a cena era muito ousada e chocou os conservadores. A imagem acabou virando a marca registrada da atriz, inclusive esse vestido sempre é copiado quando se quer fazer alguma referência a Marilyn em filmes, livros e até bonecos que reproduzem esse momento. Recentemente inclusive foi erguida uma estátua gigante da atriz nessa exata sequência. Apesar da importância em sua carreira da “saia ao vento” ela também trouxe vários problemas pessoais para a atriz. Acontece que justamente na noite em que filmaram essa cena o marido de Marilyn na época, o jogador de beisebol aposentado Joe Di Maggio, resolveu aparecer no set sem avisar. Como ele era um italiano casca grossa ficou chocado ao ver sua esposa exibindo as pernas e as calcinhas para um bando de marmanjos no meio da rua. Quando voltaram para casa ele a agrediu fisicamente, o que acabou virando o estopim da separação do casal. 

Essa seria mais uma crise para o diretor Billy Wilder administrar durante as complicadas filmagens. Marilyn, como sempre, deu muito trabalho ao diretor. Chegava atrasada, esquecia diálogos e tinha acessos de pânico antes de entrar em cena. Uma atitude bem diferente de seu colega de elenco, Tom Ewell, sempre muito profissional. Mesmo assim, como sempre acontecia aliás, quando o resultado chegou nas telas todos viram novamente a estrela da atriz brilhar. Ela está magnífica nesse papel que sequer tem nome, sendo identificada apenas como “The Girl” (a garota). A estrutura do filme não nega sua origem teatral (o roteiro foi escrito em cima da peça "The Seven Year Itch" de George Axerold). Tudo se passa praticamente dentro do apartamento do personagem Sherman. Em 90% do filme temos apenas Tom Ewell em divertidos monólogos ou em dueto ao lado de Marilyn. Basicamente ele imagina diversas situações que podem ou não se materializar na realidade, tudo em cima da chamada “coceira dos sete anos”, quando os maridos caem na rotina de casamentos monótonos e procuram por aventuras com mulheres mais jovens e bonitas. Tudo é desenvolvido com muito humor e ironia, bem ao estilo de Wilder. “O Pecado Mora ao Lado” é um filme divertido, irônico e um marco na carreira do cineasta Billy Wilder, que com apenas uma cena despretensiosa conseguiu construir um verdadeiro ícone cultural da história do cinema americano.  

O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch, Estados Unidos, 1955) Direção: Billy Wilder / Roteiro: Billy Wilder, baseado na peça de George Axeroid / Elenco: Marilyn Monroe, Tom Ewell, Evelyn Keys, Sonny Tuftis / Sinopse: Richard Sherman (Tom Ewell) é um maridão que fica sozinho em seu apartamento após sua esposa e filho irem passar as férias de verão fora de Nova Iorque. Adorando sua provisória liberdade ele começa a soltar a imaginação, imaginando diversas situações inusitadas. A nova vizinha do andar de cima, uma linda e sensual loira (Marilyn Monroe), atiça ainda mais seu imaginário. [

Pablo Aluísio.

sábado, 4 de agosto de 2012

Sete Anos no Tibet

O filme "Sete Anos no Tibet" foi baseado no livro autobiográfico de Heinrich Harrer, um alpinista austríaco que a serviço do Terceiro Reich tentou escalar um dos maiores picos do mundo mas que foi preso por tropas inglesas no começo da II Guerra Mundial. Após um período como prisioneiro de guerra na Índia, Heinrich (interpretado no filme por Brad Pitt) consegue escapar, indo parar no distante e isolado Tibet (ou Tibete), um país teocrático liderado por uma criança que na crença religiosa local seria a reencarnação de uma alma iluminada conhecida como Dalai Lama. O ocidental então acaba se tornando próximo do líder tibetano justamente durante a truculenta ocupação chinesa na região após o líder comunista chinês Mao Tsé Tung decretar o Tibet como parte da República Popular da China. "Sete Anos no Tibet" é um sensível drama que mostra um choque de civilizações terrível. De um lado a cultura religiosa milenar do povo Tibetano. Do outro o pulso forte do socialismo ateu de Mao. Pacífico por natureza e convicção a população daquele país teve que lidar com o regime linha dura socialista da China, em um novo governo brutal e sanguinário que considerava toda e qualquer religião um veneno para o desenvolvimento do Estado.

Uma das questões mais interessantes que me lembrei ao rever "Sete Anos no Tibet" foi que na época de seu lançamento vários filmes trataram da ocupação chinesa no Tibete mas de uns anos para cá o tema sumiu de pauta do cinema americano, isso apesar de estarmos longe de uma solução para a situação internacional daquela região. O que aparenta ter acontecido foi que Hollywood parece ter descoberto o mercado chinês para seus filmes atualmente. Impossível ignorar um mercado consumidor de um bilhão de pagantes de entradas de cinema. Assim o tema do Tibete acabou sendo varrido discretamente para debaixo do tapete pela indústria americana de entretenimento o que é uma pena pois violações de direitos internacionais nunca deveriam sair de cena. Tirando as questões políticas de lado "Sete Anos no Tibet" é sem dúvida uma ótima película, com tudo o que o cinéfilo mais consciente tem direito: um bom roteiro, um tema relevante, excelentes interpretações de todo o elenco e ótima reconstituição de época. Alem disso como ignorar a maravilhosa fotografia? Enfim, todos os requisitos para um grande filme estão aqui, por isso se ainda não assistiu não deixe de conferir.

Sete Anos no Tibet (Seven Years in Tibet, Estados Unidos, 1997) Direção: Jean-Jacques Annaud / Roteiro: Becky Johnston baseado no livro de Heinrich Harrer / Elenco: Brad Pitt, David Thewlis, BD Wong, Mako / Sinopse: Heinrich Harrer (Brad Pitt) é um alpinista austríaco que tenta escalar um dos maiores picos do mundo mas acaba sendo preso por tropas inglesas no começo da II Guerra Mundial. Após um período preso na Índia, Heinrich (interpretado no filme por Brad Pitt) consegue escapar, indo parar no distante e isolado Tibet (ou Tibete) onde acaba se tornando próximo do líder tibetano, o Dalai Lama.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Filmografia Comentada: Carey Mulligan

Ela me chamou a atenção pela primeira vez no excelente filme "Educação". De lá pra cá tem surpreendido pelas boas atuações em produções instigantes e inteligentes. Charmosa, sofisticada e muito sutil, Carey tem tudo para despontar como uma grande estrela. A atriz britânica tem demonstrado grande bom gosto na escolha de seus personagens que mesmo quando coadjuvantes conseguem chamar a atenção. Em seu novo filme "My FairLady" ela interpretará um papel à la Audrey Hepburn o que é muito conveniente uma vez que ambas as atrizes possuem o mesmo feeling de sofisticação e elegância. Agora é esperar para ver. A seguir algumas resenhas de filmes da jovem atriz. 

Não Me Abandone Jamais - Um grupo de crianças órfãs nasce e cresce sob o controle do Estado. Eles são afastados do mundo exterior e pouco sabem sobre seu passado. Na fase adulta uma dessas garotas começa a se questionar sobre sua situação pessoal e sai em busca por respostas. O que a levará a descobrir uma realidade terrível sobre sua origem. Devo confessar uma coisa: esse foi um dos filmes mais perturbadores que assisti nos últimos anos. Não vou aqui revelar o grande segredo dele mas antecipo dizer que conforme ele foi passando fui ficando cada vez mais absorvido e impressionado. Tudo é passado e mostrado numa terrível normalidade, dentro de uma situação completamente cruel para não dizer o mínimo. Esse sim é o tipo de roteiro e argumento que quanto menos se falar melhor para os que irão assistir ele. Eu adoraria revelar e debater mais sobre essa situação terrível pelo qual os personagens passam e vivem mas não quero estragar a surpresa de ninguém. Só digo que é muito original (e muito deprimente). O elenco todo está muito bem. Desde a gracinha Carey Mulligan, passando por Keira Knightley (muito magra em decorrência do papel) mas o filme pertence mesmo a Charlotte Rampling. É incrível como grandes mestres da arte de interpretar precisam de tão pouco para dominar completamente a cena. A Charlotte (que sou fã desde Angel Heart) aqui aparece em 3 ou 4 cenas mas na última que aparece arrasa. Em uma frase e em um olhar ela resume todo o filme de forma avassaladora. Grande momento. Enfim, aconselho que leia o menos possível sobre o filme (sempre tem um critico que estraga tudo antes do tempo) e vá assistir ao filme como eu fui, sem saber quase nada. Só assim vocês terão a possibilidade de apreciar tanto quanto eu apreciei. Recomendo muito o filme. Por fim fica a bela frase que resume um dos aspectos mais interessantes de seu argumento: "Não fazíamos isso para enxergar suas almas. Fazíamos para saber se vocês tinham almas".  

Shame - Uma vez que o casamento se tornou uma instituição fora de moda e cafona as pessoas nos dias atuais procuram alternativas para suprir suas necessidades emocionais e sexuais. "Shame" lida justamente com isso. No filme acompanhamos a rotina de Brandon Sullivan (Michael Fassbender), um nova-iorquino bem situado, com bom emprego e um apartamento bem localizado. Sua vida sexual e emocional se resume a breves encontros com garotas para sexo casual que conhece pela cidade. Seu cotidiano porém muda com a chegada de sua irmã Sissy (Carey Mulligan). Ela é bonita, atraente e assim como Brandon também adota um estilo de vida liberal. "Shame" na realidade é uma pequena crônica sobre a vida sexual do homem moderno. O personagem principal é um solteiro em Nova Iorque, com toda a liberdade moral e sexual a que tem direito. Assim não se furta em aproveitar todas as oportunidades que a grande cidade tem a lhe oferecer. O problema é que diante de tal grau de permissividade sua procura pelo sexo oposto logo acaba se tornando um ciclo vicioso sem limites. A realidade de Brandon em pouco tempo foge de seu controle e ele se torna um viciado em sexo anônimo e pornografia. É a velha metáfora de que a liberdade desacompanhada de responsabilidde e comprometimento pode facilmente se tornar lesiva. O elenco de Shame é bom e o destaque vai para Carey Mulligan. Além de ser uma gracinha ela é talentosa e carismática. A atriz tem aparecido em diversas produções que se destacaram nos últimos anos como "Educação", "Drive" e "Não me Abandone Jamais". Sua personagem é muito interessante dentro da trama de "Shame" uma vez que logo cria uma desconfortável tensão sexual com seu próprio irmão dentro do apartamento onde vivem. Já Michael Fassbender está apenas correto. O diretor negro Steve McQueen (homônimo do famoso ator) escolheu uma produção naturalista, com uso de longos planos sequência. Sua opção em explorar o nu frontal dos atores pode vir a desagradar algumas pessoas mas particularmente achei uma decisão acertada uma vez que o filme tem como tema a sexualidade de seus personagens e como tal não poderia adotar atitudes de falso moralismo com eles. Aliás sua posição de não levantar qualquer bandeira moralista é um de seus pontos mais positivos. Em suma "Shame" tenta entender a vida sexual das pessoas que vivem dentro de uma sociedade tecnológica e liberal. Só o fato de levantar esse tema para debates já o torna extremamente válido.  

Educação - A festa do Oscar premia blockbusters comerciais vazios como Avatar e ignora filmes menores mas com muito mais qualidade como esse lírico e instrutivo "Educação" O filme não teve maior repercussão quando foi exibido em poucas salas aqui no Brasil. Uma pena, pois privou o público de conhecer um belo retrato da sociedade inglesa no pós guerra. No filme somos apresentados a Jenny Mellor (Carey Mulligan) uma jovem estudante que anseia por uma vida melhor da que atualmente leva. Entediada com a vida banal e com a repressão moralista da rígida sociedade britânica da época ela resolve fazer o impensável naqueles tempos ao se envolver com um homem bem mais velho. Nem é preciso dizer o que tal decisão significaria em sua vida pessoal, em especial entre seus pais. Isso era algo como uma bomba sendo explodida dentro de seu núcleo familiar. A temática do roteiro foi inspirada em fatos reais e mostra como era o impacto de um relacionamento assim visto sob a ótica de uma típica família suburbana de Londres daquele período. A personagem interpretada por Carey Mulligan é uma garota inteligente, que está prestes a ir para a universidade. Impaciente, ela procura alguma aventura emocional mais transgressora antes de ingressar definitivamente na chamada vida adulta. O argumento explora bem a ruptura que surge daí pois ao tomar uma decisão precipitada (típica de adolescentes) a personagem se vê jogada de forma abrupta nas responsabilidades de um relacionamento adulto. Além do roteiro bem escrito "Educação" também tem uma produção caprichada. A reconstituição de época do filme é do mais alto nível, tudo recriado com excelente bom gosto e finesse. Para quem gosta da chamada cultura vintage é um prato cheio. Já Carey Mulligan é um caso á parte. Mesclando ingenuidade com sensualidade ela traz à tela uma dose extra de carisma. Sua personagem, com toques de Lolita, certamente mexerá com o imaginário sexual dos quarentões. O roteiro também é muito bem escrito pois se contenta em apenas narrar os acontecimentos de forma espontânea e natural, sem cair nos perigos da simples e pura condenação moral. Enfim, recomendo "Educação" para o público que procura por um filme relevante do ponto de vista histórico. Uma produção que consegue mostrar velhos tabus e costumes que hoje em dia são totalmente ultrapassados mas que ainda teimam em persistir nas camadas mais conservadoras e atrasadas de nossa sociedade.  

Drive - Drive é um filme seco, cru e pra falar a verdade bem cruel. O clima é totalmente insípido. O personagem Driver (que não tem nome e é interpretado por Ryan Gosling) é esquisito, quase não fala e não parece transparecer emoções. Até seu "quase relacionamento" com Irene (feito pela sempre gatinha Carey Mulligan) é destituído de calor verdadeiramente humano. A postura em cima desses personagens me deixou surpreso mas não vi isso como algo negativo por parte do roteiro. Na realidade entendi a intenção dos roteiristas em elaborar quase um "não personagem", ou seja, alguém sem passado, sem nome, sem objetivos, que apenas existe mas não interage bem com outras pessoas (a não ser quando se trata de ser violento e cruel). Talvez por ser tão árido o filme seja bem melhor nas cenas de assalto e perseguições. A sequência inicial, por exemplo, é uma das melhores coisas de todo o filme pois achei realmente muito bem feita e editada. O elenco de apoio também é um dos pontos altos do filme. Cheio de estrelas da tv como Christina Hendricks (Mad Men), Bryan Cranston (Breaking Dad) e Ron Perlman (Sons of Anarchy). Fiquei impressionado também pela participação de Albert Brooks, fazendo um personagem completamente fora de seu habitual, um sujeito envelhecido e violento, que dá o tom ao resto da estória. Enfim, é isso. Drive não é um filme fácil, leve e nem pipoca. No saldo final esse é seu grande mérito.  

Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme - Eu não levava muita fé nesse "Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme". Isso porque já faz tanto tempo desde o lançamento do Wall Street original em 1987 que o público atual dificilmente se lembraria do fio da meada daquela estória. É o que eu denomino de continuação tardia, tardia demais é bom frisar. Além disso o projeto desde que foi anunciado sempre me pareceu apenas uma tentativa de ressuscitar a decadente carreira de Michael Douglas no cinema, ainda mais agora já que ele já está com idade avançada e sofrendo de uma doença grave. Eu pensei sinceramente que tudo seria uma nulidade, um ato de desespero de Douglas e Stone atrás do sucesso há muito perdido. Confesso que me enganei em termos. Esse novo Wall Street até que é digno, bem escrito, um bom filme afinal. Para falar a verdade tem mais conteúdo do que o primeiro, que se focava demais apenas nos aspectos técnicos do mundo financeiro. Esse aqui também tem disso mas o roteiro é muito mais humano e a família de Gordon Gekko ganha mais destaque. Ele não é apenas um tubarão unidimensional de Wall Street. Dessa vez Oliver Stone trouxe mais profundidade ao personagem Gekko. Ele é mostrado em cena com problemas familiares, problemas de relacionamento e isso no final trouxe muito ao resultado final. No Wall Street de 1987 o roteiro centrava fogo no relacionamento entre Gekko e um pupilo (interpretado por Charlie Sheen que aqui no 2 faz uma pontinha bem humorada). Naquele ano Charlie Sheen estava sendo apontado como um novo Tom Cruise, ele vinha do sucesso "Platoon" do mesmo diretor Oliver Stone e era um ator mais do que promissor. Depois como todos sabemos ele afundou sua carreira com drogas e prostitutas. Já o elenco aqui está muito bem, com destaque para Michael Douglas e a gracinha Carey Mulligan (que despontou para o sucesso com o filme "Educação") O ponto fraco no quesito atuação porém é novamente de Shia LaBeouf, que não adianta tentar pois é um ator muito fraco, chegando a comprometer o filme em certos momentos. Em papel central tudo o que ele consegue em cena é confirmar sua fama de profissional medíocre. De qualquer forma Oliver Stone (em aparições à la Hitchcock) segura as pontas nessas horas. A fina ironia de tudo nessa continuação fora de hora porém é saber que apesar do filme falar sobre dinheiro o tempo todo, ele mesmo não conseguiu fazer grana nas bilheterias pois seu resultado comercial foi considerdo pífio. Com esse resultado Hollywood deve finalmente enterrar a franquia. Por essa nem Gordon Gekko esperava... Em breve novas resenhas serão acrescentadas à lista.  

Pablo Aluísio.

Sobrenatural

"Sobrenatural" tenta revitalizar os filmes de casas mal assombradas. É mais um produção que cria todo um clima sombrio com o único objetivo de assustar os espectadores. Para isso ele se utiliza de várias fórmulas que já são bem manjadas para os fãs do gênero. Se você já viu uma cena em que tudo está em silêncio e de repente surge um som ensurdecedor, que obviamente vai lhe dar um tremendo susto, então já sabe de antemão do que se trata "Sobrenatural". O roteiro segue bem por esse tipo de situação, não apenas uma mas várias vezes. Eu particularmente acho esse tipo de situação muito clichê e apelativa mas certamente há todo um público jovem que frequenta os cinemas atualmente que vai gostar desse tipo de coisa. Que o diga os produtores que tiveram um ótimo lucro com o filme. Produção extremamente barata e de baixo orçamento "Sobrenatural" caiu no gosto do público e rendeu mais de 100 milhões de dólares em bilheteria, um resultado fantástico para um produto tão despretensioso como esse, sem nenhum grande nome no elenco e nem um gasto excessivo em marketing e promoção. Aqui temos realmente um caso de propaganda boca a boca que levou muita gente aos cinemas, inclusive no Brasil, onde o filme também fez sucesso.

Um dos atrativos do elenco de "Sobrenatural" é a presença da simpática atriz australiana Rose Byrne do seriado "Damages" (uma das melhores coisas a surgir na TV americana nos últimos anos). A atriz que se sai muito bem em personagens dramáticos e no limite acabou curiosamente tendo seu maior sucesso nos cinemas com uma comédia leve e descompromissada, dirigida ao público feminino, "Missão Madrinha de Casamento". Aqui ela está mais adequada ao seu estilo de interpretação. Ao seu lado surge em cena o sumido Patrick Wilson. "Sobrenatural" foi dirigido pelo cineasta malaio James Wan. Embora praticamente um novato na direção ele tem no curriculum o roteiro do sucesso "Jogos Mortais". Como diretor ele demonstra saber bem as regras do jogo embora soe repetitivo na maioria das vezes. De qualquer forma esse "Sobrenatural" conseguiu lhe trazer o primeiro sucesso de bilheteria em sua carreira. Em conclusão podemos dizer que "Sobrenatural" é um terror pouco marcante, feito para fazer sucesso em salas multiplex pelo mundo afora, e que cumpriu sua meta pois, para alegria do estúdio, caiu no gosto popular. Não vai mudar sua vida mas pode vir a ser um entretenimento mediano no final da noite. Arrisque.

Sobrenatural (Insidious, Estados Unidos, 2010) Direção: James Wan / Roteiro: Leigh Whannell / Elenco: Patrick Wilson, Rose Byrne, Ty Simpkins / Sinopse: Uma típica família norte-americana de classe média se muda para uma nova casa sem saber que o local guarda terríveis segredos. Seu filho acaba sendo a maior vítima dos acontecimentos sobrenaturais que se manifestam no lugar.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Assassinato por Encomenda

Título no Brasil: Assassinato por Encomenda
Título Original: Fletch
Ano de Produção: 1985
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Michael Ritchie
Roteiro: Gregory McDonald, Andrew Bergman
Elenco: Chevy Chase, Joe Don Baker, Dana Wheeler-Nicholson, Richard Libertini, Tim Matheson

Sinopse:
Fletch (Chase) é um misto de jornalista e detetive particular que entra em um caso cheio de mistérios e questões não solucionadas, envolvendo um milionário que tem muito a esconder.

Comentários:
Todo ator de cinema sonha em emplacar alguma franquia cinematográfica de sucesso. O comediante Chevy Chase conseguiu emplacar duas franquias, essa do Fletch e aquela outra das Férias Frustradas. Foi uma segurança para sua carreira, se bem que se formos analisar tudo com mais realismo essas duas franquias não eram lá essas coisas. Eram, vamos colocar nesses termos, mini franquias, com sucessso limitado. Porém em uma época em que as locadoras de vídeo estavam de vento em popa, era lucratividade certa. Mesmo que os filmes não se tornassem sucesso de bilheteria nos cinemas, sempre se pagavam quando chegavam no mercado de vídeo. E filmes, como esse, que eram menos pretensiosos então encontravam seu nicho de mercado ideal. Assim me lembro dos filmes do Fletch, nas prateleiras das antigas locadoras dos anos 80. Eh, saudade!

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O Inverno da Alma

O filme "Winter´s Bone" é seco, duro e frio. Logo no começo somos apresentados a Ree (a linda Jennifer Lawrence) que só tem um objetivo: descobrir onde está seu pai, um sujeito procurado pela policia local por "cozinhar" Metanfetamina (uma droga muito popular entre os pobres americanos). O filme sensibiliza porque a garota só tem 17 anos, dois irmãos ainda na infância e uma mãe com problemas mentais. Ela não tem dinheiro para sustentar sua família e precisa encontrar seu pai pois caso contrário será despejada do local onde vive. O filme não poupa o espectador, toda a dureza da situação é colocada sem amenizações. Tudo é muito sórdido e com uma caipirada de dar arrepios! O destaque do filme é a atriz Jennifer Lawrence que teve aqui seu primeiro papel de destaque. A jovem está aos poucos se tornando uma estrela pois acaba de estrelar o grande sucesso de bilheteria "Jogos Vorazes" além de participar da nova série de filmes da franquia X-Men. Definitivamente tem tudo para estourar nos próximos anos e se tornar uma star de primeira grandeza.

O filme tem produção modesta (custou apenas dois milhões de dólares, uma mixaria para o cinema americano) mas tem um roteiro tão envolvente e um elenco tão bom que isso se torna um mero detalhe. A fotografia do Missouri é cinza, tal qual o argumento do filme. Todos os personagens tem algo a esconder e não existe um só red neck em cena que seja isento de culpa ou sordidez. A diretora Debra Granik é praticamente uma estreante mas mostra muito talento. Em todo momento ela deixa claro que o filme não vai procurar por soluções fáceis e nem vai se render a qualquer tipo de lição de moral, tão típico do cinemão americano. Aliás o bom de assistir produções independentes é justamente isso, elas fogem dos clichês que estamos tão habituados. Enfim, "Winter´s Bone" é como a vida, nem sempre é bonita de ser ver, mas pelo menos é real.

O Inverno da Alma (Winter´s Bone, Estados Unidos, 2010) Direção: Debra Granik / Roteiro: Debra Granik, Anne Rosellini / Elenco: Jennifer Lawrence, John Hawkes, Garret Dillahunt / Sinopse: Ree (Jennifer Lawrence) é uma jovem que parte em busca do paradeiro de seu pai. No caminho encontra tipos estranhos e bizarros que habitam as montanhas da região onde mora.

Pablo Aluísio

Red - Aposentados e Perigosos

Título no Brasil: Red - Aposentados e Perigosos
Título Original: Red
Ano de Produção: 2010
País: Estados Unidos
Estúdio: Summit Entertainment
Direção: Robert Schwentke
Roteiro: Jon Hoeber, Erich Hoeber
Elenco: Bruce Willis, Helen Mirren, Morgan Freeman, John Malkovich, Richard Dreyfuss
 
Sinopse:
Frank Moses (Bruce Willis) é um agente aposentado da CIA. Ele vive de uma pensão paga pelo governo dos Estados Unidos. Sua vidinha suburbana muda completamente quando descobre estar sendo alvo de uma teia de conspirações de sua antiga agência. Para sobreviver recorre aos seus antigos colegas de trabalho, os agentes aposentados Joe (Morgan Freeman), Marvin (John Malkovich) e Victoria (Helen Mirren).

Comentários:
Sinceramente falando "Red - Aposentados e Perigosos" é uma abobrinha daquelas, um besteirol que tenta conciliar comédia, filmes de espionagem e ação desenfreada (bem caricatural, é bom frisar). Tenta ser muitas coisas ao mesmo tempo mas no final não se sai bem em nada. O tiro saiu pela culatra. Complicado entender como um elenco tão interessante, formado por pessoas talentosas (como Helen Mirren e Morgan Freeman), aceitou embarcar em algo assim, um filme cujo roteiro é primário. Veteranos das telas, parecem apenas brincar em cena, nunca se levando à sério. Não teria sido melhor reunir tantos bons atores em um roteiro menos bobo? "Red" só funciona se você estiver em sintonia com seu estilo mais básico de filmes de ação, caso contrário pode se tornar um grande aborrecimento. Bruce Willis vai seguindo sua sucessão de filmes rasos e ruins. O ator já está nessa há pelo menos uma década. Sem renovação, Willis está estagnado há anos, totalmente parado no tempo. Não participa de nada mais que seja relevante ou de importância. Seus personagens hoje em dia são meras caricaturas de seus papéis do passado onde ainda conseguia chamar alguma atenção. O pior é que aqui ele está bem acompanhado de um bom elenco, mas isso não faz diferença. Confesso que ver Helen Mirren, uma atriz desse nível, em cena usando uma metralhadora antiaérea me deixou constrangido. Uma profissional desse porte fazendo cenas horríveis como essa é realmente algo a se esquecer. Um disparate sem tamanho, com certeza. Outra questão: por que fizeram um filme tão longo assim? Não ensinaram a esse diretor que abobrinhas devem ser de curta duração? Pois é, parece que não. O filme tem um duração excessiva sem estória nenhuma a contar. Enfim, "Red - Aposentados e Perigosos" é como aquela piada sem graça que parece não acabar nunca. Um momento ruim na carreira de tantos atores bons.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Spartan

Um agente secreto do governo americano (Val Kilmer) recebe a missão de resgatar a filha de uma importante autoridade norte-americana. Durante a investigação acaba descobrindo que nem tudo é o que aparenta ser. "Spartan" é um filme interessante embora não consiga fugir da burocracia estética. A produção é cinza, tensa, sem nenhum alívio para o espectador, tão sisuda que soa como telefilme em vários momentos. Achei os primeiros 60 minutos muito bons porém na terça parte final o filme decai. Isso porque o roteiro cai na armadilha daquelas situações paranóicas, bem ao estilo americano. Imagine uma teoria da conspiração levada ao extremo, é justamente isso que encontramos na conclusão de "Spartan". A situação soa fora de propósito, exagerada, extrema e nada verossímil. Também o clímax é mal explicado pois nada é suficientemente esclarecido, até porque podemos até mesmo aceitar pais que não gostam de seus filhos mas da forma como mostrada no filme a coisa toda é forçada demais.

O elenco está apenas ok. Val Kilmer, no controle remoto, tenta passar um mínimo de emoção, mas fica no meio do caminho. A culpa provavelmente nem é dele uma vez que seu personagem, inicialmente extremamente profissional, muda de atitude em um estalar de dedos, sem maiores explicações, levando o filme novamente para uma daquelas situações forçadas citadas que testam a paciência do espectador. O pior acontece com William H Macy, ótimo ator, que aqui é totalmente jogado para escanteio, resultando em um desperdício completo. Enfim, o cinema de David Mamet já viveu dias melhores e "Spartan" no final só vem para confirmar isso. Melhor seria ele deixar essa coisa de teoria de conspiração de lado para voltar a escrever sobre relacionamentos humanos.

Spartan (Spartan, Estados Unidos, 2004) Direção: David Mamet / Roteiro: David Mamet / Elenco: Val Kilmer, William H. Macy, Tia Texada, Derek Luke, Jeremie Campbell, Bob Jennings, Chris LaCentra, Johnny Messner, Ron Butler, Kristen Bell. / Sinopse: Um agente secreto do governo americano (Val Kilmer) recebe a missão de resgatar a filha de uma importante autoridade norte-americana. Durante a investigação acaba descobrindo que nem tudo é o que aparenta ser.

Pablo Aluísio.

The Sunset Limited

Um professor branco (Tommy Lee Jones) e um operário negro (Samuel L. Jackson) estão sentados numa sala de um apartamento de periferia em Nova Iorque. O personagem de Jones acaba de tentar o suicídio pulando na frente do trem Sunset Limited. Salvo no último momento por Jackson ambos agora tentam entender as razões que o levaram à tentativa de se matar. O professor é um sujeito cético, ateu, cansado da vida, sem esperanças. Após tantos anos resolve abreviar sua própria existência. Para ele nada mais é importante ou tem relevância. O velho intelectual não tem religião alguma e está convencido que a morte se resume ao nada, ao vácuo eterno. Segundo suas próprias palavras ele estaria disposto a seguir uma religião que preparasse o homem para o nada absoluto da morte e não as que estão aí que apenas prometem uma outra vida após a morte física, cheia de paraísos e anjos celestiais. Em sua visão tudo isso não passa de meras bobagens. Já o negro, um ex-presidiário que agora trabalha na empresa ferroviária, é o extremo oposto disso. Crente, profundamente religioso, tenta trazer Jesus para a pobre alma do professor. Com a bíblia sobre a mesa, eles discutem sobre Deus, vida após a morte, o nada, o tudo, o vácuo, a salvação. Baseado na peça de Cormac McCarthy, o filme tem ótimos diálogos e um conteúdo expressivo, muito filosófico e teológico que é recomendado especialmente para as pessoas mais versadas sobre esses ramos do conhecimento humano.

A estrutura do filme é teatral. Só existem de fato dois personagens em cena que levantam as questões sobre a existência ou não de Deus. O cenário também é único. A força de Sunset Limited vem de seus diálogos, de sua proposta, das idéias que são debatidas em cena. Não há nenhuma válvula de escape em sua trama, tudo é baseado em seu texto que faz refletir e que lança questões existenciais que ficam conosco mesmo após o final do filme. Adianto que “Sunset Limited” não é um filme de conversão religiosa, nada disso. O roteiro procura sempre não tomar partido, dando chances iguais para ambos os personagens em cena. Em nenhum momento o argumento se mostra verdadeiro para o ateu ou para o religioso. As questões são expostas para que o espectador forme sua própria opinião depois. Essa certamente é sua maior qualidade. Sendo imparcial cada um irá seguir suas próprias convicções pessoais. Enfim indico “Sunset Limited” para pessoas inteligentes que gostem de filosofia, teologia e grandes temas universais. Esses certamente irão gostar da proposta singular do filme.

The Sunset Limited (Estados Unidos, 2011) Direção: Tommy Lee Jones / Roteiro: Cormac McCarthy / Elenco: Samuel L. Jackson, Tommy Lee Jones / Sinopse: Após tentar se suicidar um professor branco debate sobre ateismo, materialismo, teologia e filosofia com um operário negro da linha ferroviária que lhe salvou a vida no último segundo.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Kick-Ass - Quebrando Tudo

Dentro do lamaçal de filmes medíocres em que Nicolas Cage tem se envolvido ultimamente esse "Kick-Ass" é uma dos poucas produções que realmente se salvam. O mérito é de seu roteiro antenado com as novas gerações, fãs de games e computador, que conseguem transitar entre todos esses meios com extrema familiaridade. Foi para esse tipo de jovem high tech que o filme foi feito. Ele une várias linguagens de meios diferentes em uma experiência cinematográfica única. Sem querer ser preconceituoso mas os mais velhos, que não cresceram imersos em tantas tecnologias ao mesmo tempo, certamente vão estranhar um pouco seu ritmo alucinado e inúmeras citações que provavelmente apenas os mais jovens vão captar. "Kick Ass" também exige uma certa postura em relação a ele. É um produto totalmente pop e obviamente não se deve levar à sério demais. É puro entretenimento sem maiores consequências. 

O resultado ficou muito divertido. Também não há como negar que também é muito violento mas é um tipo de violência diferente, estilizada ao extremo, nada verossímil. Como eu disse, não se deve levar nada do que acontece em cena à sério. Mesmo assim o mercado exibidor americano resolveu aumentar sua faixa de classificação o que achei uma medida desproporcional uma vez que a violência do filme como já disse é caricatural, quase de desenho animado, e duvido que alguém vai levar algo como aquilo à sério. Não é à toa que sua principal fonte de inspiração é o universo do mundo dos quadrinhos. O destaque da produção fica com a jovem Chloë Grace Moretz. Há tempos venho prestando nessa atriz mirim (hoje já adolescente) que vem se destacando nos filmes em que aparece, mesmo quando interpreta personagens secundários. Já tive a oportunidade de escrever sobre ela, principalmente em seu trabalho realizado no remake americano de "Deixa Ela Entrar". A garota promete. Aqui sua Hit Girl domina e ofusca todos os demais personagens e atores, até mesmo Nicolas Cage. Por falar nele o ator surge bem envelhecido em cena. Obviamente ele deve ter adorado fazer o filme. Não é segredo para ninguém que seu sonho era fazer um filme como Superman. Aliás ele é fã assumido do universo dos quadrinhos. Seu personagem é uma caricatura de Batman. "Kick Ass" foi dirigido pelo Matthew Vaughn, o que é bem adequado pois certamente soube se comunicar com essa nova geração que é o público alvo do filme. Sua proximidade com o universo dos quadrinhos parece ser a tônica de sua carreira, uma vez que já trouxe para as telas os famosos personagens de Stan Lee em "X-Men: Primeira Classe" e agora prepara a sequência "Kick-Ass 2: Balls to the Wall" atualmente em pós produção. Que venha a continuação então. 

Kick-Ass - Quebrando Tudo (Kick-Ass, Estados Unidos, 2010) Direção: Matthew Vaughn / Roteiro: Jane Goldman, Matthew Vaughn baseado nos quadrinhos de Mark Millar e John Romita Jr. / Elenco: Aaron Johnson, Nicolas Cage, Chloë Grace Moretz / Sinopse: Um grupo improvável de pessoas resolvem incorporar em suas vidas reais o estilo de vida dos super-heróis de quadrinhos. Isso acaba lhes trazendo muitos problemas mas também muita ação e aventura.  

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Marilyn Monroe e Yves Montand

A produção de "Quanto Mais Quente Melhor" foi literalmente um caos. Marilyn causou todos os tipos de problemas para o diretor e elenco. Chegava às seis da tarde para gravar cenas que tinham sido programadas para às nove da manhã, não conseguia falar nem os mais simples diálogos e criava brigas e desentendimentos com todos. Chegou ao ponto de se recusar a entrar no set por achar que um dos operadores de câmera não gostava dela! A verdade pura e simples era que Monroe estava abusando cada vez mais das pílulas e da bebida. A atriz ja amanhecia tomando Champagne e não raro ficava completamente embriagada antes mesmo de ir trabalhar no estúdio. Fora isso as altas doses de Demerol a deixavam completamente confusa, sem saber direito o que fazer. Em última análise Marilyn não era uma má profissional mas sim uma pessoa simplesmente doente que precisava urgentemente de tratamento psicológico.

O Set de "Quanto Mais Quente Melhor" foi tão bagunçado que ninguém mais queria trabalhar ao lado de Marilyn. Quando a Fox anunciou seu novo filme, que seria chamado no Brasil de "Adorável Pecadora" muitos convites foram feitos. Rock Hudson, Gregory Peck e até Brando foram convidados para estrelarem ao lado de Marilyn mas nenhum deles aceitou o convite. Eles sabiam que teriam enormes dores de cabeça se fossem trabalhar com Monroe e assim simplesmente disseram não alegando uma desculpa qualquer. Diante do pavor dos astros americanos para contracenarem com Marilyn a Fox não teve outra alternativa a não ser contratar um estrangeiro para fazer o par romântico da atriz no filme. O escolhido foi o fino e sofisticado Yves Montand, que naquele momento estava vivendo o auge de seu sucesso.

De início Montand e Marilyn se deram bem. Ele era casado com a elegante Simone Signoret, que conhecendo bem a fama da atriz resolveu ficar por perto durante as filmagens. Monroe obviamente também simpatizou muito com ela e ambas começaram uma nova amizade que parecia ser sincera. Tudo parecia muito bem para todos. Infelizmente conforme as filmagens começaram os velhos problemas de Monroe ressurgiram. Ela simplesmente não aparecia no estúdio para as filmagens, deixando todos ali plantados esperando por sua chegada que nunca acontecia. No começo Montand procurou levar na esportiva mas logo percebeu que seria um enorme sacrifício trabalhar ao lado dela. Como sempre Marilyn não conseguia dizer seus diálogos, parecia desnorteada, sem saber direito o que acontecia. Arthur Miller seu marido nada podia fazer pois naquela altura de seu casamento já tinha virado uma sombra da atriz. Monroe o usava apenas para levar sua bagagem de um lado ao outro e Miller se anulou como homem.

Não demorou para que Marilyn começasse a fazer seu jogo de sedução com Montand. Eles estavam hospedados no mesmo hotel, um fino resort com luxuosos bangalôs próximos uns aos outros. Essa proximidade logo se tornou irresistível para Marilyn. Embaixo dos narizes de Arthur Miller e da esposa de Montand, eles logo começaram um apaixonado affair. De manhã quando não aparecia para trabalhar o diretor arrancando os cabelos da cabeça pedia a algum membro de sua equipe para ir chamar Marilyn em seu bangalô. Assim que começou o romance com Marilyn o próprio Yves Montand começou a se voluntariar para ir chamar Monroe. O problema é que tudo não passava de uma desculpa para mais encontros furtivos entre o casal apaixonado. Enquanto toda a equipe ficava de prontidão, Marilyn e Montand se enrolavam nos lençóis brancos da suíte da atriz. Com menos de 20% das cenas filmadas o orçamento do filme estourou. Manter todo um set em prontidão custava milhares de dólares e quando nada era realizado tudo o que restava era um enorme prejuízo para a Fox.

Assim a produção literalmente iria para o buraco. As coisas só começaram a andar de novo porque sem motivo aparente Montand resolveu cair fora daquela aventura. Numa manhã Arthur Miller quase pegara Montand de cuecas dentro do quarto de Marilyn. Temendo que um escândalo desses acabasse com sua carreira na América ele resolveu pular fora. Marilyn ficou desolada completamente. A esposa de Montand já sabia o que acontecia mas preferiu manter sua classe e elegância esperando que seu marido colocasse o juízo no lugar. Quando o filme finalmente ficou pronto e foi lançado a crítica quase que de forma unânime o classificou como uma decepção. Marilyn não estava particularmente bonita em cena, surgindo fora do peso, com olheiras visíveis (fruto da sua eterna dificuldade de dormir). O público americano também não comprou a figura estrangeira de Montand e assim a produção não conseguiu se tornar um sucesso como o anterior "Quanto Mais Quente Melhor".  

Muitos anos depois Montand finalmente assumiu o romance publicamente com sua estrela mas procurou minimizar alegando que tudo não passava de uma "aventura" e que Marilyn estava louca se pensava que ele deixaria sua esposa para viver com ela. Completou dizendo que a achava muito "Infantil, quase  uma criança" e que jamais levaria algo com ela adiante. Já  Simone Signoret amenizou: "Eu sabia que Marilyn tinha um caso com meu marido. Acredito que Arthur Miller também sabia mas nunca consegui ter raiva dela! Ela me deu de presente um lindo lenço que guardo até hoje. Está um pouco puído mas ao se dobrar bem ninguém percebe. Depois que o filme acabou ela nunca mais falou comigo pensando que eu teria ficado magoada com seu caso com meu esposo mas não, ainda a guardei como uma amiga querida, apesar de tudo". Yves Montand pensou que Marilyn o deixaria em paz quando voltasse a Paris mas não foi o que aconteceu. A atriz ainda continuou por longo tempo lhe bombardeando com telefones internacionais. Montand se esquivou como foi possível, evitando falar com ela, dizendo que tinha saído de casa, etc. Até que depois de alguns meses os telefonemas finalmente cessaram. Era mais um caso amoroso fracassado na longa lista da atriz. Mais um trauma que ela tinha que lidar em suas noites solitárias.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Batman - O Cavaleiro das Trevas

"Batman - O Cavaleiro das Trevas" é considerado a obra prima dessa nova franquia dirigida por Christopher Nolan. Existe um certo consenso de que essa seria a melhor transposição já feita do personagem para o cinema. O clima soturno, pessimista e gótico está bem acentuado. Além disso temos aqui um roteiro muito mais sombrio do que o visto em "Batman Begins". O texto explora muito bem a falta de esperança em uma cidade infestada por criminosos de todos os tipos. Dentre eles finalmente surge o Coringa numa brilhante interpretação de Heath Ledger. Aliás o filme é sempre muito mais lembrado pela caracterização do vilão mais famoso do universo de Batman do que por qualquer outra coisa. Ledger está muito inspirado em cena, assustador e insano na dose exata. O ator parece ter incorporado o papel, o que não deixa de ser algo bem assustador. Sua morte trágica logo após a conclusão do filme mitificou ainda mais seu trabalho em "Dark Knight" confirmando uma velha regra não escrita que diz que no cinema Batman sempre tem seus filmes roubados por seus vilões em cena. De fato aqui não há muito o que ponderar, o filme é de Ledger deixando Bale e seu herói em uma incômoda posição secundária dentro da trama. 

Se em "Batman Begins" se discutia a diferença entre justiça e vingança aqui em "Cavaleiro das Trevas" o foco é diferente. O argumento mostra a tentativa do Coringa em provar que até o mais honesto homem de Gotham City, o promotor Harvey Dent, pode ser corrompido. Considerado o último pilar de honradez da cidade ele logo se torna alvo do insano criminoso que quer acima de tudo demonstrar que nem os mais virtuosos cidadãos estão à salvo de passarem para o outro lado. Excelente também é a identidade que ambos os personagens Batman e Coringa parecem ter. São na verdade faces diversas de uma mesma moeda. O núcleo do elenco segue praticamente o mesmo do primeiro filme (Bale, Caine e Freeman). A única mudança mais significativa aqui acontece com a personagem de Rachel Dawes que acabou indo para as mãos de Maggie Gyllenhaal, o que não deixa de ser positivo pois ela é seguramente melhor atriz do que Katie Holmes. O diretor Christopher Nolan basicamente segue os passos do êxito do primeiro filme, ou seja, procura não deixar a trama se distanciar da realidade. O Coringa, por exemplo, está menos espalhafatoso, menos carnavalesco e mais assustador do que nas outras versões. Idem o próprio Batman, cada vez mais inseguro de sua própria posição diante dos acontecimentos. Nolan certamente encontrou o tom ideal nesse filme que é extremamente bem realizado. Agora resta esperar pela conclusão da trilogia. Espero que consiga fechar tudo com chave de ouro pois não restam dúvidas que os dois primeiros filmes são realmente primorosos.  

Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, Estados Unidos, 2008) Direção: Christopher Nolan / Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan / Elenco: Christian Bale, Heath Ledger, Morgan Freeman, Gary Oldman, Aaron Eckhart, Maggie Gyllenhaal, Michael Caine, Eric Roberts, Anthony Michael Hall / Sinopse: O Coringa (Heath Ledger) resolve se unir a máfia de Gotham City para tirar do caminho Batman (Christian Bale) que está arruinando todos os seus negócios escusos. Para tanto terão ainda que enfrentar o novo promotor da cidade, o honesto Harvey Dent (Aaron Eckhart) que logo vira alvo dos planos do Joker.  

Pablo Aluísio.

Filmografia Comentada: Burt Lancaster

Burt Lancaster nasceu em um dos bairros mais pobres de Nova Iorque. Ao longo dos anos foi construindo uma das carreiras mais significativas da história de Hollywood. Atlético e esportista o ator em busca de trabalho começou sua carreira artística no circo onde aprendeu várias técnicas que anos depois utilizaria em seus filmes. Sua carreira começou na década de 1940 e só terminou quase 50 anos depois quando seu último filme foi lançado. Participou de 88 filmes e chegou a dirigir duas de suas produções. Atuou em praticamente todos os gêneros cinematográficos, indo de dramas a westerns, passando por filmes de aventura e romance. Um marco de carisma, popularidade e simpatia. Segue abaixo resenhas de filmes com esse mito da história do cinema americano.

Vera Cruz
O filme já começa à toda mostrando o encontro da dupla central, Cooper e Lancaster, numa cena com diálogos totalmente cínicos e dúbios. De certa forma isso se repetirá em todo o restante da fita. Curioso porque até mesmo o personagem de Gary Cooper parece não ter muitos escrúpulos. Coronel do exército confederado ele agora vaga pelo deserto mexicano para vender sua mão de obra ao grupo que lhe pagar melhor, ou seja, é um mercenário. Já o personagem de Burt Lancaster é bem pior, ladrão de cavalos, mentiroso e trapaceiro, desde o começo do filme já sabemos que não há nada o que esperar dele em termos éticos. Algo que se confirma no final quando teremos o tradicional duelo no meio das ruínas de uma cidade mexicana! "Vera Cruz" foi um dos primeiros westerns em que a ação foi colocada em primeiro plano, superando até mesmo os cânones dos faroestes mais tradicionais. Muitos especialistas inclusive qualificam "Vera Cruz" como uma espécie de predecessor do que seria feito no chamado Western Spaguetti. Não chegaria a tanto mas não há como negar que os faroestes italianos iriam utilizar de vários elementos que estão presentes aqui.

Um dos elementos é justamente a simplificação dos roteiros em detrimento da ação incessante. A trama da produção na realidade se desenvolve praticamente toda em torno de uma diligência com carregamento de ouro que tenta chegar até o porto de Vera Cruz. No meio do caminho Cooper e Lancaster, que estão protegendo o carregamento ao lado de um pelotão do exército mexicano, vão enfrentando todo tipo de desafios, conflitos e traições (sim, todos querem no final ficar com a fortuna e para isso não medem esforços em trair qualquer um). A produção é muito boa - bem acima da média dos faroestes da época. O figurino dos mexicanos na fita pode até ser considerada exagerado, mas é fiel no final das contas uma vez que eles realmente se vestiam daquela maneira. Em conclusão Vera Cruz é um bom western, talvez um pouco prejudicado pelo excesso de personagens e pirotecnia. Vale pelo carisma de Lancaster e pela presença sempre muito digna do grande mito Gary Cooper.

Homem Até o Fim
Muito curioso esse western da década de 1950 com Burt Lancaster. O primeiro detalhe que chama a atenção é o fato de ter sido dirigido pelo próprio ator. De fato ele em toda sua longa carreira só dirigiu dois filmes, esse e "The Midnight Man", duas décadas depois. Lancaster não se sentia à vontade com as pressões inerentes a função de direção. Na realidade só aceitou dirigir "The Kentuckian" porque acreditava muito no projeto e pelo fato da United Artists ter encontrado na época grande dificuldade em escalar um diretor adequado ao filme. Antes que o projeto fosse arquivado Lancaster em um ato de coragem assumiu sua direção. O interessante é que não se saiu mal. O filme tem um clima muito agradável, uma estória cativante e uma produção bonita. Não se trata de um faroeste típico pois o bucolismo está em todas as partes do filme, nos cenários, na simplicidade cativante do personagem de Lancaster e na sua relação com o seu filho, o pequeno Elias.

Vestido com um figurino que lembra o lendário Daniel Boone, Lancaster parece ter dirigido o filme para um público bem mais jovem. Também não esqueceu do público feminino, sempre reticente com westerns, ao colocar um triângulo amoroso para ser vivido por seu personagem. A produção é leve e divertida e conta com um excelente elenco de apoio liderado por Walter Matthau em sua estréia no cinema. Ele faz um dono de mercearia bonachão e apreciador de uma boa prosa que também tem grande habilidade em usar chicotes. Sua cena usando dessa habilidade é muito boa. O filme foi baseado no livro de Felix Holt chamado "The Gabriel Horn". Para quem não se recorda Holt foi o roteirista da série de TV "Lone Ranger" que no Brasil ficou conhecido como Zorro "americano" (não o espanhol vestido de negro mas o azul do cavalo Silver e do índio Tonto). Sua habilidade para escrever estórias infanto-juvenis cativantes se sobressai aqui também. Enfim, "Homem Até o Fim" é muito agradável de se assistir. Um raro momento de Lancaster como diretor que merece ser redescoberto. Recomendo.

Quando os Bravos Se Encontram
Bob Valdez (Burt Lancaster) é um envelhecido xerife que é humilhado por um bando de malfeitores liderados por Frank Tanner (Jon Cypher). Após ser rendido pelos facínoras ele é crucificado e enviado ao deserto para morrer em agonia. Sua vingança não tardará a acontecer. "Quando os Bravos se Encontram" é um exemplo perfeito da influência do Western Spaguetti dentro do cinema americano. Não deixa de ser muito curioso assistir a um filme Made in USA tentando ser no fundo um filme de bang bang italiano! É algo como se o produto imitado começasse a querer imitar justamente os imitadores! Confuso não? Pois é justamente o que acontece aqui. Burt Lancaster faz o Valdez do título mas ele bem poderia se chamar Django. Um sujeito que a despeito de ter uma boa alma é forçado a partir para a brutalidade sem limites com suas armas em punho. O título original do filme ("Valdez está chegando!") é outro sinal claro de sua intenção de parecer um western spaguetti já que esses sempre tiveram títulos evocativos e exagerados do típo "Django não perdoa, Mata!" ou "Deus os cria e eu os Mato!". E tal como Django o Valdez mata bandidos em escala industrial, um atrás do outro, sem falhas e sem balas desperdiçadas! Um primor de pontaria e sagacidade!

Burt Lancaster, o velho ídolo de Hollywood, procura dar dignidade ao seu papel. É verdade que não há muito o que fazer diante de um personagem como Valdez que passa quase todo o filme apenas dizimando os inimigos no deserto. E por falar no deserto uma das melhores coisas de se ver aqui é a cena em que Lancaster vagueia pelas areias carregando uma cruz de madeira, agonizando. Essa cena pelo menos é bem marcante. Pena que o vilão Frank Tanner seja tão inexpressivo. Também pudera ele está sendo interpretado pelo canastrão Jon Cypher que não convence em momento algum. Barton Heyman se sai bem melhor como o bandoleiro El Segundo. Feio como o diabo o sujeito tem os colhões que faltam a Cypher. Em suma é isso, "Valdez is Coming" é uma cópia da cópia. Um western americano com cheiro de macarronada. O produto é esquizofrênico mas pode divertir se você não for um fã de faroeste mais radical e purista.

Aeroporto
Um passageiro com problemas familiares e mentais resolve fazer um ato de terrorismo em um avião comercial. Para tentar controlar a situação de caos que se instala um experiente administrador de aviação civil e um especialista em situações de crise tentam manter o aeroporto em pleno funcionamento, mesmo com uma forte nevasca chegando no local. Aeroporto de 1970 foi um dos primeiros filmes catástrofe da história do cinema. O interessante é que tecnicamente ele até pode ser considerado um filme pipoca dos anos 70 por isso mas existe uma diferença muito grande entre os filmes desse tipo daquela época e os filmes de hoje que seguem a mesma linha. O roteiro tem um cuidado todo especial em desenvolver os personagens. O diretor do aeroporto, interpretado por Burt Lancaster, por exemplo, é mostrado em suas relações familiares, os problemas com sua esposa e o reflexo de toda essa situação em sua vida profissional. Quantos filmes pipocas de hoje em dia tem esse tipo de preocupação? Nenhum, os personagens são todos vazios, ralos, sem profundidade. Vide os pipocões de James Cameron, Michael Bay e Roland Emmerich; todos eles filhos bastardos de filmes como Aeroporto.

Também gostei de rever o carismático Dean Martin. Além de ótimo cantor ele, apesar de não ser um grande ator, tinha uma persona em cena que sempre me agradou. A franquia Aeroporto ficaria conhecida depois por trazer de volta ao cinema vários veteranos das telas. Nesse temos além de Dean Martin, o sempre simpático e bom ator Burt Lancaster e George kennedy, em um bom papel. A linda Jacqueline Bisset também está no elenco. Na continuação, Aeroporto 75 os produtores trariam de volta Charlton Heston. No terceiro filme seria a vez de Jack Lemmon e por fim no último filme da série, chamado Aeroporto, o Concorde, os espectadores teriam de presente as atuações de Alain Delon e Robert Vagner. Em termos técnicos temos que concordar que os efeitos desse primeiro Aeroporto envelheceram mas de certo modo são tão discretos que não comprometem o resultado final. Enfim, pensei que o filme fosse bem mais fraco mas me enganei, tem seu charme, tem seus momentos. Vale a pena conferir.

O Trem
Baseado em fatos reais, O Trem ( The Train - 1964), um clássico em preto e branco, retratado em 1944, numa França ainda ocupada pelo exército de Hitler, conta a história do Coronel Von Waldhein (Paul Scofield), um especialista e amante das artes. Waldhein - já sabendo que os aliados estavam muito perto de libertar a França - planeja utilizar o trem, e fugir para a Alemanha com centenas de quadros, raros e famosos, roubados do museu Jeu de Paume. O problema é que essa operação tem que ser feita em segredo, pois seus superiores nazistas são contra todas as obras impressionistas por considerá-las "arte inferior".

Um outro problema que pode liquidar as pretensões do Coronel nazista, é a Resistência Francesa, que, alertada pela curadora do museu, Mademoiselle Villard, se articula de todas as formas para impedir que o "Trem das Artes" - como ficou conhecido à época - chegue à Alemanha. Porém, o maior e mais sério entrave para Waldhein responde pelo nome de Paul Labiche (Burt Lancaster) inspetor-chefe da Estação Ferroviária, e que também vai fazer de tudo salvar as obras de arte, juntamente com a eficiente ajuda da Resistência Francesa. Com uma atuação antológica de Burt Lancaster (1913-1994) e uma direção magistral do diretor americano, John Frankenheimer (1930-2002) o longa, além de sensacional e eletrizante, é recheado de efeitos especiais, sabotagens, uma fotografia linda e um roteiro de fazer cair o queixo. Palmas também para o excelente ator britânico Paul Scofield (1922- 2008) como o Coronel Von Waldhein. Imperdível. Nota 10

Os Assassinos
Há muito tempo eu percebi que os filmes da década de 40 são bem mais realistas do que os que foram realizados nos anos 50. Na década de 50 os personagens são muito mais definidos (os mocinhos são verdadeiros poços de virtude e os bandidos são malvadões sem coração). Nos anos 40 isso não era bem assim. Veja o caso desse "Os Assassinos". Os tipos que desfilam pela tela possuem dubiedade moral, não se sabendo ao certo se na realidade são vilões ou mocinhos. Na realidade eles passeiam em um campo cinzento, sem se posicionar completamente em um lado ou outro, igual à vida real.

Na trama alguns personagens são centrais. O "Sueco", vivido por Burt Lancaster, é um boxeador fracassado que após o fim de sua carreira vive de pequenos golpes até que se une ao bando de Big Jim. De todos os envolvidos a que mais destaca essa dubiedade moral dos anos 40 é a personagem Kitty, interpretada por Ava Gardner (no auge da juventude e beleza). Femme Fatale por excelência ela será o centro de toda a trama passada no filme. "Os Assassinos" é um ótimo exemplo do cinema maduro e cínico da década de 40. Não existem propriamente bandidos ou mocinhos e seu roteiro estruturado em vários flashbacks acentua ainda mais isso. Um belo exemplar noir que deve ser conhecido pela geração cinéfila mais jovem.

O Homem de Bronze
Cinebiografia do atleta americano Jim Thorpe (Burt Lancaster) que ganhou várias medalhas de ouro durante as olimpíadas de 1912. Algumas particularidades faziam de Thorpe um esportista diferenciado. A primeira delas é que era indígena, nativo americano, o que o diferenciava e muito dos outros atletas americanos da época. Os pais de Jim fizeram todo o esforço possível para que ele continuasse seus estudos até o fim e foi justamente no meio acadêmico que Thorpe encontrou sua verdadeira vocação: os esportes. Nos EUA há grande tradição em universidades que dão bolsa integral a bons esportistas e foi assim que Jim foi subindo em sua carreira. Outro fato bem marcante na trajetória dele é que ao contrário dos demais atletas, Jim Thorpe não se limitava a apenas uma modalidade esportiva, pelo contrário, praticava todos os esportes que apareciam pela frente: atletismo, beisebol, futebol americano, saldo, hipismo, arco e flecha e mais uma série de outras categorias, se saindo bem em todas elas para surpresa geral. Não é à toa que venceu suas medalhas olimpícas no pentatlo e no decatlo. que agregam vários esportes numa só competição. Era considerado um atleta completo em sua era.

Com uma biografia tão rica assim não era de se exigir muito mais do filme. Realmente o roteiro expõe de forma bem didática toda a biografia do atleta, mostrando desde sua entrada em uma instituição de ensino do governo americano dirigido especialmente para as populações indígenas, passando pelas olimpíadas, sua bem sucedida passagem pelo time New York Giants até finalmente mostrar sua decadência pessoal e esportiva. Para quem já assistiu filmes como "Touro Indomável" fica bem fácil acompanhar a ascensão e queda de ídolos esportistas como esse. Suas biografias no fundo mostram que o esporte tanto pode redimir tais pessoas como também acentuar a queda de suas vidas pessoais. Thorpe infelizmente decaiu vítima do ostracismo e do alcoolismo. Burt Lancaster não decepciona em sua interpretação de Jim, o fazendo com garra e convicção, porém fica a sensação desagradável de ver um ator branco interpretando um personagem índio. Em plena época do Star System realmente nenhum grande estúdio de Hollywood iria investir numa produção estrelada por um nativo americano. A mentalidade da época ainda era bem atrasada e nada politicamente correta. De qualquer forma esse trabalho de Michael Curtiz (diretor de Casablanca) merece ser redescoberto. É uma obra de certa forma ufanista e que apenas toca de leve nos problemas pessoais do atleta mas que mesmo assim cumpre bem seus objetivos, imortalizando o nome de Jim Thorpe também na história do cinema.

A Embriaguez do Sucesso
É incrível descobrir que um filme como esse foi feito em 1957. Isso porque não era tão comum ver um roteiro assim, tão ácido e mórbido naquela época. Os dois atores principais em cena, Tony Curtis e Burt Lancaster, dão show de interpretação. Curtis, visto apenas como um galã da Universal pelos críticos, aqui apresenta um de seus melhores trabalhos. Está literalmente fantástico como o crápula, mentiroso, cafetão, escroque e 171 Sidney Falco. Confesso que nunca vi uma atuação dele tão boa como essa. É uma pena que Curtis não tenha se desenvolvido mais como ator dramático. Ele de certa forma se acomodou em sua imagem de galã de comédias românticas, principalmente a partir do começo da década de 60 e com vários problemas que foram surgindo ao longo dos anos (como vício em drogas) simplesmente deixou a carreira em segundo plano. Se tivesse procurado se desenvolver melhor na arte da atuação teria sido um grande nome na história de Hollywood. Já Lancaster também está excelente fazendo um verdadeiro psicopata frio, cheio de si e com uma indisfarçável paixão incestuosa por sua irmã (na pela de uma atriz fraquinha mas bonita, Susan Harrison). Muitos criticam Lancaster afirmando que ele era um ator de uma nota só (sempre atlético e com um sorriso montado no rosto). Eu não concordo inteiramente com essa opinião. Realmente em algumas produções Lancaster se apoiou em sua imagem como muleta mas nem sempre isso aconteceu. Basta lembrar do famoso (e ótimo) "O Homem de Alcatraz". Nesse "A Embriaguez do Sucesso" o ator tem uma de suas melhores interpretações. A persona que tanto utilizou em outros filmes aqui está ausente, felizmente.

Outro destaque de "Sweet Smell Of Sucess" é a forma que o diretor encontrou para contar sua estória. São ótimas tomadas de cena feitas em locação na cidade de Nova Iorque. Nos anos 50 era comum que os filmes fossem feitos em Hollywood dentro dos estúdios, geralmente com o uso de back projection (os atores atuavam na frente de uma grande tela onde o cenário da locação da cena previamente filmado era exibido). Aqui não, é fácil ver que tudo foi realmente filmado nas ruas da cidade, sem uso e artifícios como esse. Tudo combina, a sordidez da trama, a direção segura, a ótima fotografia em preto e branco e os diálogos (alguns dos melhores que já vi). Para quem gosta de filmes clássicos, com tramas envolventes e clima noir, "Embriaguez do Sucesso" é uma ótima opção.

Trapézio
Em 1956 Tony Curtis era apenas mais um galã de segunda linha que não conseguia emplacar em bons papéis. Geralmente estrelava os chamados filmes B das mil e uma noites dos estúdios Universal - filmes de capa e espada que eram feitos especialmente para as matinês dos cinemas. Já estava com oito anos de carreira nas costas quando a primeira oportunidade real bateu à sua porta. O ator Burt Lancaster estava procurando um partner para filmar ao seu lado uma adaptação da novela Trapézio. O filme contaria a estória de dois trapezistas em Paris que tentam executar o maior de todos os números dessa arte: o saldo triplo mortal. Também procurava uma atriz europeia que funcionasse como pivô do triângulo amoroso que iria ser mostrado nas telas. O interesse de Lancaster sobre esse filme era fácil de entender. Ele começou sua carreira no circo (a sua primeira esposa era trapezista) e apesar de ter alcançado o sucesso como ator jamais esqueceu o período em que viveu no mundo circense. Após alguns testes Burt sugeriu ao diretor Carol Reed que contratasse Tony Curtis. Ele tinha os atributos certos para o papel. Além de ser jovem tinha também habilidades atléticas que iram ajudar muito nas filmagens. Como estrelava vários filmes de capa e espada Tony foi logo considerado ágil o suficiente para se sair bem nas cenas de picadeiro. Já a escolhida para o principal papel feminino foi a atriz italiana Gina Lollobrigida. Embora tivesse uma extensa filmografia em seu país estrelaria pela primeira vez uma produção norte-americana.

O filme Trapézio acabou se tornando um grande sucesso de bilheteria. Também pudera, tinha todos os ingredientes para se tornar um êxito nos anos 50: um cenário exótico, uma beldade estrangeira, um romance à flor da pele, um astro de primeira linha e um coadjuvante que despontava para o estrelado. Pela primeira vez em sua carreira Curtis finalmente era levado à sério. Seu papel nem era tão destacado mas ele fez o suficiente para não fazer feio. O argumento do filme também ajudava já que não se tratava de um dramalhão onde fosse exigido muito dos atores, no fundo era um passatempo leve, com boas cenas coreografadas de trapézio, filmadas com profissionais do ramo (muito embora os atores também tenham filmado cenas menos perigosas). A parceria com Burt Lancaster ainda renderia mais um bom filme a Tony Curtis no ano seguinte: A Embriaguez do Sucesso, onde seria extremamente bem elogiado pela crítica. Com tudo isso hoje Tony pode dizer que esse filme foi na realidade o verdadeiro trampolim para os seus melhores anos, que iriam atravessar o restante da década de 50 e 60, graças especialmente ao grande astro e estrela de primeira grandeza na constelação de Hollywood, Burt Lancaster.

O Oeste Selvagem
Buffalo Bill and the Indians (no brasil, O Oeste Selvagem) é um inteligentissimo filme do aclamado diretor Robert Altman que aqui prova mais uma vez seu grande talento como cineasta. O roteiro conta a histórica verídica do grande mito do western americano Buffalo Bill. O personagem por si só já era extremamente rico em detalhes e nuances e caiu como uma luva nessa película que brinca com o imaginário popular ianque. Para quem não sabe Buffalo Bill (nome artistico de William Cody) foi um verdadeiro Barão de Munchausen da história dos Estados Unidos. Pródigo em contar lorotas e inventar histórias sobre si mesmo que nunca aconteceram na vida real, Bill criou toda uma mitologia em torno de si. Um dia teve a brilhante idéia de criar todo um show em cima de suas fantasias e acabou criando um espetáculo com alto teor circense composto por cowboys falsos, índios de araque e bandidos de mentirinha. Era denominado Oeste Selvagem e foi uma mina de ouro para seu criador, o tornando extremamente rico e bem sucedido. Embora fosse um mentiroso contumaz Bill acabou criando, sem querer, todos os clichês que até hoje conhecemos da mitologia do western. Os filmes mudos, surgidos no nascimento do cinema, eram claramente inspirados nas encenações do espetáculo de Buffalo, que também teve sua mitológica figura explorada por vários filmes do gênero nos anos seguintes à sua morte.

Em Buffalo Bill and the Indians, somos levados a conhecer um período bem interessante da vida de Bill, quando ele contratou um mito de verdade do velho oeste para estrelar seu show, o cacique Touro Sentado, famoso por seus feitos contra o exército americano. As cenas em que ambos contracenam mostram verdadeiros duelos entre o personagem de ficção auto inventado e o homem que realmente vivenciou toda a luta pela conquista do oeste selvagem (Touro Sentado). O farsante e o real em lados opostos. Enquanto um vive de contar mentiras sobre si mesmo o outro tenta apenas sobreviver com o pouco de dignidade que ainda lhe resta e de quebra tenta ajudar seu povo, nessa altura da história completamente subjugado pelos brancos. O choque entre a dura realidade e a mais pura fantasia escapista é o grande mérito dessa brilhante e ácida crítica em cima da construção de mitos irreais, que é bem típica da sociedade consumista e vazia dos norte-americanos. Paul Newman na pele do deslumbrado ídolo está perfeito, numa daquelas atuações que dificilmente esquecemos. A própria surrealidade do cotidiano de Bill (que gostava de namorar cantoras de óperas fracassadas), reforça e torna ainda mais forte sua caracterização. Por fim temos uma participação extremamente inspiradora do grande mito Burt Lancaster. Fazendo o papel de uma pessoa do passado de Bill (que obviamente conhece todas as suas invencionices), Lancaster empresta uma dignidade ímpar a essa película. Sem dúvida Buffalo Bill and the Indians é um excelente filme que nos leva a pensar em vários temas relevantes, como a própria destruição da cultura indígena e a dignidade desse povo que foi massacrado impiedosamente pelos colonos americanos. Um libero que merece ser conhecido por todos.

Entre Deus e o Pecado
Baseado na obra homônima do escritor americano Sinclair Lewis - o primeiro americano a ganhar o Nobel de Literatura em 1930 - o clássico, "Entre Deus e o Pecado" (Elmer Gantry - 1960) é uma das maiores pérolas do cinema. No filme, produzido e dirigido por Richard Brooks (Os Profissionais), a apoteose fica por conta de Burt Lancaster com uma atuação vigorosa e arrasadora que lhe rendeu o Oscar de melhor ator. Lancaster vive Elmer Gantry, um sujeito boa pinta, oportunista, imoral, charmoso e falastrão. Desempregado e sem muitas perspectivas, sua vida começa a mudar quando por acaso, conhece, num culto evangélico, a pregadora transluzente e angelical, Sharon Falconer (Jean Simmons). A evangélica que comanda uma pequena empresa de evangelização, vive de viajar pelo meio-oeste americano levando a palavra de Deus. A partir daí, o velhaco Gantry entra em cena e põe em prática todo o seu charme na tentativa de aproximar-se da bela pregadora. Depois de muitas investidas e tentativas, finalmente o malandro consegue a aproximação com a evangélica, e, juntos, começam a pregar a palavra de Deus por cidadezinhas americanas. A ambição, a oratória fulminante e o incrível carisma de Gantry, não só, deixa multidões embevecidas e convencidas, como também transforma uma simples e recatada evangélica numa verdadeira (e milionária) celebridade conhecida em todo país. Os planos de rapinagem do pilantra vão de vento em popa, até que um dia, quando atacado pela Imprensa, o passado do malandro vem à tona: querendo desmentir os jornalistas que o chamaram de charlatão e aproveitador, Gantry reúne uma horda de fanáticos e começa a limpar a cidade, destruindo cassinos e bordéis. Num dos bordéis, Gantry da de cara com Lulu Bains (Shirley Jones) - prostituta e ex-caso do testosterônico pregador.

Sem saída e surpreso com o encontro, Gantry pede que todos saiam e poupem as prostitutas, salvando assim a pele da garota que ele havia seduzido quando ela tinha apenas 17 anos. Depois de descobrir as armações do ex-amante, Lulu faz-lhe ameaças e chantagens em troca de dinheiro. O roteiro, que chegou a ser proibido em várias cidades americanas, e até em alguns países, é sensacional e recheado de surpresas. A fotografia é magnífica e o technicolor, acentuado por cores vibrantes, encaixa-se de forma perfeita com a paisagem e a alegria voluptuosa e histriônica de Grant. Forçado por um destino que emerge soberano entre desejos e interesses, o triunvirato, Grant, Falconer e Lulu, caminha célere em direção a uma convergência, não só reveladora, mas também trágica. O tanino e o mel que movem o organismo do impávido Grant, traçam um perfil sinistro, transformando-o num bólido impiedoso que varre tudo a sua volta. A fé impenetrável e inabalável da irmã Falconer, juntamente com sua oratória emocionante, vai aos poucos dando lugar a uma paixão cega pelo pilantra. A vingança gélida, premeditada e envernizada de autocomiseração da prostituta Lulu são as trombetas que anunciam um final arrebatador e inacreditável. Um tripé de gala que elevou à condição de clássico o excelente roteiro e direção de Richard Brooks. O filme abocanhou três Oscars: de ator para Burt Lancaster, de atriz coadjuvante para Shirley Jones (a prostituta e ex-caso de Elmer Gantry) e de roteiro adaptado para Richard Brooks. Teve ainda indicações para o prêmio de melhor filme e melhor trilha sonora, para André Previn. Clássico imperdível. Nota 10

O Homem de Alcatraz 
Robert Stroud (Burt Lancaster) é um prisioneiro condenado à morte pelo assassinato de um barman numa briga de bar no Alaska. Tentando livrar seu filho da morte por enforcamento sua mãe resolve apelar para a esposa do presidente americano Woodron Wilson que, comovida pela luta da pobre senhora por seu filho, resolve permutar a pena de morte de Stroud para prisão perpétua em segregação (ou seja ele não poderia interagir com outros presos, ficando a maior parte do tempo solitário e isolado). Livre da morte ele então parte para cumprir sua pena de prisão em uma penitenciária federal. Certa tarde no pátio prisional ele acaba resgatando um pequeno pardal machucado e o leva para sua cela. Lá tenta ajudar o pequeno animal. O que começa com um simples ato de solidariedade acaba virando um assunto de enorme interesse para Stroud que a partir daí começa a estudar e ler livros sobre o tema, se tornando, mesmo dentro da prisão, uma das maiores autoridades científicas sobre patologias de aves. Dez anos depois é finalmente transferido para a terrível prisão de Alcatraz onde acaba se tornando um de seus prisioneiros mais famosos. A história de Stroud parece ficção mas não é, foi inspirada na vida do chamado “Birdman of Alcatraz”, um prisioneiro que sozinho aprendeu sobre ciências dentro de sua cela, lendo livros, artigos e tratados sobre diversos assuntos, entre eles veterinária, química, anatomia, fisiologia, histologia e até mesmo medicina! De fato ainda em vida Stroud foi analisado por especialistas e se constatou que ele tinha um QI de gênio, algo absolutamente fora do normal.

O filme “O Homem de Alcatraz” foi realizado um ano antes de sua morte em 1963 (infelizmente ele nunca chegou a assistir sua própria história no cinema) Apesar de todo o reconhecimento que teve por seus livros, ensaios e artigos publicados, Stroud jamais conseguiu aquilo que mais desejava na vida: recuperar sua liberdade. Morreu doente e abandonado, na prisão, após escrever um livro sobre o sistema penitenciário americano. Esse livro causou sensação em seu lançamento pois Stroud na época chamou atenção da administração Kennedy para o problema nas prisões do país. O próprio presidente Kennedy via nele um exemplo claro de que o sistema penal em vigor era falho e não propenso a dar uma segunda chance a ninguém, nem mesmo a um gênio como Stroud. Após o filme ter sido lançado vários livros sobre o prisioneiro foram lançados trazendo mais luz sobre sua vida pessoal. Algumas dessas biografias mostraram que há uma certa distância entre o que vemos no filme e o que aconteceu realmente. Por exemplo, não restam dúvidas que Stroud tinha um QI de gênio mas no mesmo exame em Alcatraz se constatou também que ele tinha uma personalidade psicopata (algo omitido no roteiro). Era violento e perigoso e muitos que o conheceram pessoalmente e assistiram ao filme depois não concordaram com a caracterização de Burt Lancaster, mostrando um sujeito doce e suave. De qualquer forma, mesmo com essas diferenças, não há como negar que “O Homem de Alcatraz” é uma excelente obra, digna de todo o status que tem (considerado um dos cem melhores filmes da história do cinema americano pelo American Film Institute). Historicamente ele pode até não ser muito fiel aos fatos reais mas não há como negar que do ponto de vista meramente artístico é uma obra prima digna de aplausos. Além disso levanta muitos temas pertinentes para discussão, colocando em debate o real propósito das prisões. Será que o sistema prisional realmente reabilita algum criminoso? Ou tudo não passa de meras teorias acadêmicas vazias? Assista ao filme e tire suas próprias conclusões.

O Discípulo do Diabo
Durante o período colonial um arrogante comandante militar inglês, o general Burgoyne (Laurence Olivier) tenta manter uma província da colônia sob controle, combatendo e perseguindo os rebeldes nativos que desejam a independência do país. Durante um enforcamento de um líder rebelde, um religioso local, o reverendo Anthony Anderson (Burt Lancaster), solicita ao comando militar britânico para que o morto seja enterrado sob a tradição cristã mas o pedido é negado. Após o roubo do corpo por Richard Dudgeon (Kirk Douglas) a repressão aumenta, criando um clima de terror na região. “O Discípulo do Diabo” é um filme extremamente curioso. Realizado em 1959 o filme foca seu roteiro na antevéspera da revolução americana, quando os colonos, cansados da exploração da metrópole britânica, começam a despertar o sentimento de nacionalismo e independência.

O elenco reúne três grandes mitos do cinema da época, Kirk Douglas (fazendo a ovelha negra de sua rica família, encarnando um personagem anárquico e irreverente), Burt Lancaster (fazendo um religioso com punhos fortes) e finalmente Laurence Olivier (em boa caracterização de um militar inglês pomposo mas consciente da fragilidade de suas tropas em vista do crescente aumento do número de rebeldes dentro da colônia). O interessante é que o roteiro intercala um tom mais sério com cenas mais leves, até românticas, tudo em menos de 90 minutos de duração. Há boa reconstituição histórica e uma curiosa linha narrativa feita em animação para situar o espectador sobre o contexto histórico em que o enredo se desenvolve. Hoje em dia alguns aspectos do argumento podem soar inocentes (como a troca de identidade entre os personagens de Kirk Douglas e Burt Lancaster) mas no saldo final tudo é muito bem realizado e mantém o interesse. Fica a dica para quem gosta de filmes enfocando o período colonial da história norte-americana.

Sem Lei e Sem Alma
Entre tantas histórias que ficaram célebres no velho oeste poucas conseguiram alcançar a fama do tiroteio ocorrido no Ok Corral em Tombstone, Arizona. De um lado o lendário xerife Wyatt Earp (Burt Lancaster), seus irmãos e Doc Holliday (Kirk Douglas), do outro lado o bando dos irmãos Clanton. Ambos se enfrentaram face a face, cada um a poucos metros do outro, armas em punho, um duelo que entrou para a história e que foi fartamente explorado no cinema durante todos esses anos. Esse "Sem Lei e Sem Alma" é até hoje considerado uma das melhores versões já feitas sobre o evento. O roteiro é extremamente bem trabalhado, nitidamente dividido em dois atos que se fecham e se complementam de forma perfeita. No primeiro ato acompanhamos a chegada de Wyatt Earp numa pequena cidade do velho oeste. Ele vem no encalço de Johnny Ringo (John Ireland) e seu bando. Lá se aproxima do pistoleiro e jogador inveterado Doc Holliday e acaba salvando sua vida ao ajudá-lo a fugir de seu próprio linchamento. No segundo ato encontramos os personagens já em Tombstone, a lendária cidade, onde nos 15 minutos finais do filme ocorrerá o famoso confronto no O.K. Corral.

Burt Lancaster e Kirk Douglas estão perfeitos em seus papéis. Kirk Douglas em especial encontrou grande afinidade entre sua própria personalidade expansiva e extrovertida e a figura do lendário Doc Holliday. Esse como já tive a oportunidade de escrever é realmente um personagem à prova de falhas. Um dentista corroído pela tuberculose que ocupava todo seu tempo jogando cartas e se envolvendo em confusões pelas cidadezinhas por onde passava. O que fazia de Doc um ótimo pistoleiro é que seu instinto de preservação já não era tão acentuado pois sempre se via no limite, à beira da morte, por isso para ele tanto fazia morrer em um tiroteio ou escapar vivo para mais um duelo à frente. Sua frieza e pontaria certeira o transformaram em uma lenda do velho oeste. Já Wyatt Earp também encontrou um ator ideal em Burt Lancaster. Íntegro, honesto e temido, procurava manter a lei em uma região infestada de facínoras e bandoleiros. O duelo no O.K. Curral foi apenas uma das inúmeras histórias envolvendo esse famoso homem da lei. Para finalizar é bom salientar que a despeito de sua imensa qualidade cinematográfica, "Sem Lei e Sem Alma" não é completamente fiel aos fatos históricos. O próprio duelo final, razão de existência do filme, não ocorreu da forma mostrada no filme. De fato os eventos reais foram bem mais simples, pois os dois grupos rivais estavam frente a frente, a poucos metros uns dos outros. No filme há toda uma sequência de cenas que não existiram como a queima da carroça, por exemplo. Johnny Ringo, o famoso pistoleiro, também não estava no confronto do O.K. Ele foi morto tempos depois no meio do deserto. Suspeita-se que foi morto por Doc Holliday pois ambos tinham uma rivalidade antiga que só seria resolvida com armas em punho. De qualquer forma esses detalhes em nada diminuem a extrema qualidade de "Sem Lei e Sem Alma", que hoje é considerado merecidamente um dos melhores westerns já realizados. Uma obra prima certamente.

Pablo Aluísio.

domingo, 22 de julho de 2012

Scott Pilgrim Contra o Mundo

O filme é baseado na história em quadrinhos “Scott Pilgrim Volume 1: Scott Pilgrim´s Precious Little Life” de Byran Lee O´Malley e conta a estória de Scott Pilgrim, um jovem de 23 anos que tem uma banda de rock descolada e é apaixonado pela garota mais bonita da escola. Mal sabe ele que sua vida se transformará numa grande aventura para conquistar o amor da jovem de seus sonhos. O filme pode ser visto de duas maneiras diferentes. A primeira é analisando a forma em que a estória é contada. Nesse aspecto Scott Pilgrim é muito bom, nenhuma cena é mostrada de forma convencional e a linguagem empregada na narrativa é muito criativa e bem bolada. Nem preciso dizer que referências pop pipocam a cada segundo. A outra maneira de ver o filme é focando seu conteúdo. Nesse aspecto realmente não há muita novidade. O argumento traz os velhos problemas da juventude que já vimos muitas vezes no cinema antes. Basicamente é aquele jogo de "ela ama ele que ama outra". Scott Pilgrim na verdade é somente isso, um clichê adolescente contado de forma cool. 

No elenco se destacam apenas o Michael Cera (repetindo pela milionésima vez o mesmo personagem o que me faz perguntar o que será de sua carreira quando ele não for mais jovem?). A gatinha Mary Elizabeth Winstead (que faz Ramona) também é talentosa e tem potencial pois sua interpretação não foi prejudicada nem pelas perucas horrorosas que tem que usar durante o filme (alguém roubou o guarda roupa da Marimoon?). A direção do jovem Edgar Wright também não compromete e faz com que o filme não caia no aborrecimento (o que já uma vantagem e tanto). Enfim, Scott Pilgrim é um filme mais indicado se você tiver menos de 17 anos e gostar de games. Fora isso pode entreter por causa da narrativa criativa e é só.  

Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pilgrim vs. The World, Estados Unidos, 2010) Direção: Edgar Wright / Roteiro: Michael Bacall, Edgar Wright / Elenco: Michael Cera, Mary Elizabeth Winstead, Kieran Culkin, Wallace Wells, Chris Evans, Lucas Lee, Anna Kendrick, Brandon Routh, Alison Pill, Jason Schwartzman / Sinopse: O filme é baseado na história em quadrinhos “Scott Pilgrim Volume 1: Scott Pilgrim´s Precious Little Life” de Byran Lee O´Malley e conta a estória de Scott Pilgrim, um jovem de 23 anos que tem uma banda de rock descolada e é apaixonado pela garota mais bonita da escola. Mal sabe ele que sua vida se transformará numa grande aventura para conquistar o amor da jovem de seus sonhos. 

Pablo Aluísio.

sábado, 21 de julho de 2012

Fronteira Proibida

Um grupo de soldados do exército sueco é enviado para um posto avançado na fronteira do país com a Noruega durante a II Guerra Mundial. A região é local de extrema tensão pois as forças alemãs ocupam o território norueguês e há indícios de uma eminente invasão nazista no território sueco."Fronteira Proibida" é uma interessante produção que enfoca um dos temas menos conhecidos da II Guerra - os conflitos e batalhas travadas nos países nórdicos. Hitler não deixou esses países de lado e mesmo tendo várias frentes poderosas para enfrentar (como a frente ocidental contra Inglaterra e França e a Oriental contra as forças de Stalin) tinha planos de ocupação de vários países da região. O exército sueco era fraco, contava com armamentos arcaicos e não tinha chances contra uma invasão em massa do Terceiro Reich em seu país.

O filme porém não se concentra na situação mais global do que estava acontecendo em termos de geopolítica mas sim na delicada situação de apenas seis soldados suecos que acabam entrando no território norueguês para recuperar um de seus membros. A incursão ao território inimigo os leva inexoravelmente ao conflito contra as tropas alemãs estacionadas na região. Ao individualizar o argumento o roteiro acabou criando pontos positivos mas também negativos. O ponto positivo é que com o foco mais centralizado houve maior oportunidade de desenvolver os personagens individualmente. Além disso as cenas de combate e ação ficaram mais enxutas (todas filmadas em uma região extremamente bela da fronteira entre os dois países, um local de neve eterna, diga-se de passagem). O ponto negativo é que se perdeu uma boa oportunidade de mostrar mais a tensão entre as tropas suecas e alemãs no campo de conflito. De qualquer forma não há como negar que "Fronteira Proibida" é um competente entretenimento demonstrando todo o excelente nível técnico em que se encontra o cinema sueco atualmente. Indicado para os que querem conhecer melhor o cinema dos países do extremo norte europeu.

Fronteira Proibida (Gränsen, Suécia, 2011) Direção: Richard Holm / Roteiro: André Sjöberg, Johnny Steen / Elenco: André Sjöberg, Antti Reini, Bjørn Sundquist / Sinopse: Um grupo de soldados do exército sueco é enviado para um posto avançado na fronteira do país com a Noruega durante a II Guerra Mundial. A região é local de extrema tensão pois as forças alemãs ocupam o território norueguês e há indícios de uma eminente invasão nazista no território sueco.

Pablo Aluísio.