sábado, 21 de março de 2015

Promessas de Guerra

A cena inicial mostra os momentos finais da sangrenta batalha de Gallipoli. As tropas turcas estão decididas a enfrentar o inimigo em campo aberto. Assim deixam suas trincheiras em direção ao campo onde estão as tropas estacionadas do exército britânico. Uma vez lá descobrem surpresos que os ingleses simplesmente bateram em retirada. Quatro anos depois encontramos o fazendeiro Joshua Connor (Russell Crowe) tentando encontrar água em suas terras no deserto e hostil interior australiano. Não é uma coisa das mais simples. A região é uma das mais secas do planeta. Além da luta diária pela sobrevivência ele ainda precisa lidar a cada dia com uma tragédia familiar. Alguns anos antes ele acabou incentivando seus três filhos a se alistarem no exército de seu país para lutarem na sangrenta Primeira Guerra Mundial.

O resultado foi trágico. Seus três filhos acabaram sendo dados como desaparecidos em combate, muito provavelmente mortos no front por participaram de uma das batalhas mais sangrentas do conflito. A esposa de Joshua não resiste à depressão e começa a enlouquecer lentamente, até o dia em que resolve acabar com tudo, com sua própria vida. Em seu leito de morte, Joshua promete ir atrás dos garotos, para ter uma certeza definitiva se realmente morreram ou se existe alguma possibilidade, mesmo que mínima, de ainda estarem vivos em algum lugar. Após enterrar sua amada, ele resolve cruzar os mares, indo parar na distante Turquia, ainda uma nação dividida por inúmeros conflitos, lutando por sua liberdade. Seguindo rastros dos jovens filhos ele acaba indo parar no próprio campo de batalha onde supostamente tombaram. De fato após vários dias procurando acaba encontrando os restos mortais de dois deles. Será que o terceiro filho ainda estaria vivo? Com a ajuda improvável de um major das linhas inimigas ele começa a juntar as pistas que podem lhe levar finalmente ao encontro de seu querido filho desaparecido. Esse é ponto de partida da trama desse novo filme da carreira do ator Russell Crowe, que aqui resolveu se arriscar pela primeira vez na direção de um longa-metragem convencional (antes havia apenas assinado a direção de dois curtas e um documentário).

O resultado de sua coragem e ousadia se mostra bem interessante. Claro que existem alguns probleminhas, como o uso de um corte final um pouco excessivo (sim, o filme poderia ter uma menor duração, sem prejudicar em nada o enredo), além de algumas falhas de ritmo, pois o filme ora parece avançar, ora estagnar. Mesmo assim, com esses equívocos pontuais, perdoáveis em quem não tem muita experiência como cineasta, o filme conseguiu me agradar. O roteiro é baseado em uma história real, a jornada definitiva da vida de um pai em busca do paradeiro de seus filhos perdidos em uma das guerras mais brutais da história. Ele é um homem resignado, destruído pelas tragédias familiares, primeiro a perda de seus amados garotos, depois a morte chocante de sua esposa, corroída pela loucura e pelo desespero. No final tudo o que ele busca é uma redenção pessoal, uma forma de fechar uma porta dolorida de sua existência passada - e assim enterrar seus filhos de uma forma digna, para não deixá-los em uma cova coletiva, típica daquela época. No caminho acaba conhecendo uma viúva de guerra e seu esperto filho, que vivem de forma sofrida ao administrarem uma pequena pousada. Dessa forma o filme acaba se desdobrando em dois: no drama de Joshua em achar os restos mortais de seus filhos e na inesperada constatação que ainda existe lugar para um improvável romance em sua vida. A produção arrisca algumas cenas de combate, mas esse não é certamente o foco principal desse argumento. Ele é bem mais direcionado para o drama interior do personagem interpretado por Russell Crowe. Novamente a fotografia se revela uma grata surpresa ao explorar as maravilhosas tomadas da milenar cidade de Istambul (a antiga Constantinopla cristã, fundada pelo imperador Constantino). Em uma das melhores cenas Crowe inclusive resolve admirar o rico interior da Basílica de Santa Sofia - que hoje em dia virou uma mesquita, fruto da vitoria do Império Otomano sobre o decadente Império bizantino (ou Império romano do Oriente). Então é isso, nada de muito espetacular ou épico, mas que se revela um bom filme no final das contas. É no fundo uma boa produção, com uma trama interessante, procurando contar uma história que de fato aconteceu em 1919, fazendo tudo isso com uma insuspeita honestidade. Vale de fato a pena conhecer e assistir.

Promessas de Guerra (The Water Diviner, Estados Unidos, Turquia, Austrália, 2014) Direção: Russell Crowe / Roteiro: Andrew Knight, Andrew Anastasios / Elenco: Russell Crowe, Olga Kurylenko, Yilmaz Erdogan, Jai Courtney, Jacqueline McKenzie / Sinopse: Joshua Connor (Russell Crowe) é um fazendeiro australiano que decide ir em busca do paradeiro de seus três filhos, dados como desaparecidos de guerra, durante a batalha de Gallipoli. Uma vez na Turquia acaba conhecendo uma jovem viúva da guerra e seu pequeno filho. Será que haveria ainda possibilidade de reconstruir sua vida sentimental e afetiva após tantas tragédias pessoais em sua vida? Filme vencedor do prêmio da Australian Film Institute nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante (Yilmaz Erdogan) e Melhor figurino (Tess Schofield). Também indicado aos prêmios de Melhor Ator (Russell Crowe), Atria Coadjuvante (Jacqueline McKenzie), Roteiro Original e Edição.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Amityville 2 - A Possessão

Considerado até hoje um dos melhores filmes da série Amityville. O diferencial se deve principalmente a um roteiro bem coeso, bem trabalhado, que consegue ao mesmo tempo inovar e não fugir das características dos filmes dessa franquia. Produzido por Dino de Laurentis e dirigido pelo bom cineasta  Damiano Damiani “Amityville 2” consegue manter o interesse do começo ao fim. No enredo uma nova família se muda para a famosa casa. São os Montellis. O pai é um sujeito casca grossa e durão (interpretado por Burt Young dos filmes da série Rocky). Seu filho mais velho, Sonny (Jack Magner), começa a desenvolver um comportamento estranho, errático, logo quando a família de muda para a casa. Aos poucos ele vai perdendo o pleno domínio de seus atos o que dará origem a um crime bárbaro. O interessante de “Amityville 2 - A Possessão” é que seu roteiro de certa forma é uma adaptação dos eventos reais que aconteceram na casa (tal como aqui a morte da família DeFeo foi promovida pelo filho mais velho que alegava estar possuído por forças demoníacas).

Para combater o mal chega no local o padre Adamsky (James Olson) que logo entende o que está acontecendo mas se vê de mãos atadas por não ter autorização do bispo local para promover um exorcismo que se revela mais do que necessário, vital. Seu embate com o jovem possuído rende ótimos momentos de terror. Curiosamente o filme se sai muito melhor do que “O Exorcista II – O Herege” que falhou miseravelmente como fita de exorcismo. Tudo muito mais interessante do que a continuação do grande clássico do horror que apenas se revelou um filme ruim. As cenas são bem realizadas e o argumento não apela para soluções fáceis demais. O diretor Damiano Damiani usa e abusa da chamada câmera subjetiva (onde o espectador se vê com a visão da entidade sobrenatural em primeira pessoa) com resultados mais do que satisfatórios. A produção opta pelo suspense ao invés dos efeitos especiais e só na sua cena final apela um pouco mais para a maquiagem. Isso porém não atrapalha a qualidade do filme que definitivamente é muito bom e interessante. 

Amityville 2 - A Possessão (Amityville II: The Possession, Estados Unidos, 1982) Direção: Damiano Damiani / Roteiro: Tommy Lee Wallace baseado no livro de Hans Holzer / Elenco: James Olson, Burt Young, Rutanya Alda, Jack Magner / Sinopse: Família se muda para infame casa localizada em Amityville. Após as mudanças começam a ocorrer eventos sobrenaturais no local. Para tentar combater o mal é chamado um padre que tentará exorcizar o filho mais velho que está obviamente dominado por forças do mal.

Pablo Aluísio.

As Duas Faces de Janeiro

Um casal de americanos (interpretado pelos atores Viggo Mortensen e Kirsten Dunst) está na Grécia de férias curtindo a região. Como todo bom turista eles resolvem conhecer o Pathernon e as antigas ruínas da milenar Atenas. Casualmente acabam conhecendo também um guia de turismo, Rydal (Oscar Isaac), um jovem americano que vive há bastante tempo naquele país. Inicialmente se aproximam sem muito interesse até porque desde o começo o marido começa a nutrir uma certa desconfiança em relação ao rapaz. Rydal, por sua vez, nem disfarça muito em esconder que está visivelmente interessado na esposa do sujeito. O que parece começar como um flerte casual, sem maiores consequências, acaba ganhando cores dramáticas após Chester (Mortensen) matar por acidente um detetive particular que estava em seu encalço. Apesar da postura de normalidade Chester é na realidade um fraudador do mercado de ações da bolsa de Nova Iorque. Após dar um golpe na praça, ficando com o dinheiro de pessoas inocentes que confiaram nele, parte para a Europa, com o duplo objetivo de curtir belas férias ao mesmo tempo em que foge dos problemas que deixou na América. Sua tranquilidade porém acaba drasticamente quando o crime acontece. A partir desse ponto ele precisa desesperadamente arranjar um jeito de ir embora da Grécia para fugir de uma iminente acusação de homicídio. O trio então resolve ir até a histórica ilha de Creta onde pretendem encontrar um falsificador de documentos que irá providenciar passaportes falsos para que eles finalmente fujam da região.

Sinceramente achei esse filme bem cansativo. Ele não é longo, tendo pouco mais de 90 minutos de duração, mas mesmo assim consegue cansar o espectador. Seu problema não se resume ao tempo gasto para assisti-lo, mas sim o fato do roteiro se desenvolver de forma muito preguiçosa, sem uma adequada carga dramática que consiga manter nossos olhos abertos. Para piorar o elenco também pareceu se acomodar em cena. Sem exceção os atores que interpretam os personagens principais não parecem muito empolgados e nem se esforçam muito em atuar bem. Parecem cansados e exaustos (será por causa do calor grego?). O roteiro basicamente gira em torno de apenas três personagens (o casal e o guia turístico) e falha ao tentar desenvolver melhor esse pouco convincente triângulo amoroso. O resultado é bem morno e sem atrativos. Viggo Mortensen só serve para sentirmos saudades de filmes melhores de seu passado. Seu personagem aqui é o rei da antipatia e do marasmo. Para piorar também surge como um sujeito completamente desastrado que mata sem intenção (algo que na linguagem jurídica chamamos de crimes preterdolosos, quando o sujeito almeja cometer um ato de menor gravidade, mas que no final acaba cometendo outro bem mais grave - dolo no ato antecedente e culpa do procedente). De bom mesmo apenas as ótimas tomadas captadas em Atenas e na ruínas de Creta. Pena que são momentos fugazes e breves. No saldo geral é sim um filme sonolento que nunca empolga ou decola de verdade. Não aconselho assistir no período da noite pois o sono certamente será um desafio a mais em uma produção que peca por ser puro marasmo e pretensão tediosa.

As Duas Faces de Janeiro (The Two Faces of January, Estados Unidos, Inglaterra, França, 2014) Direção: Hossein Amini / Roteiro: Hossein Amini, Patricia Highsmith / Elenco: Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Oscar Isaac / Sinopse: Casal de americanos acaba se envolvendo em um crime enquanto passa férias na Grécia. Com receios de irem para a prisão resolvem contratar os serviços de um guia turístico para a compra de passaportes falsos. Na ilha de Creta acabam se envolvendo ainda mais em complicações legais. Filme indicado ao London Critics Circle Film Awards.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Código de Honra

Dois jovens advogados (Chris Evans e Mark Kassen) tentam mover uma ação contra uma poderosa empresa de produtos hospitalares. Em posse de documentos e fatos tentam provar que uma nova forma de agulha evitaria acidentes de trabalho envolvendo médicos e enfermeiros em hospitais dos EUA. O problema é que a poderosa e influente empresa não quer que tal produto seja comercializado pois isso vai contra seus interesses comercias. Está assim armado o conflito ou como se diz no mundo do direito, a lide. O filme "Código de Honra" me lembrou bastante de algumas outras produções que partem de uma situação bem parecida: pequenos advogados, sem maiores recursos, que tentam vencer nos tribunais grupos poderosos. Aqui temos um diferencial interessante. O advogado interpretado por Chris Evans é totalmente viciado em drogas pesadas. Imaginem toda a pressão do mundo sobre ele somada a esses problemas de dependência química! Eu pessoalmente sempre achei o Chris Evans um ator apenas correto mas aqui em "Código de Honra" seu trabalho dá um salto de qualidade. Ele realmente convence o espectador que é um sujeito com sérios problemas com cocaína e outras drogas (incluindo o famigerado Crack). Sua interpretação é acima da média, não há como negar.

O filme é dirigido por dois irmãos, Mark e Adam Kassen (sendo que o primeiro também está em cena ao lado de Evans). Gostei do trabalho deles. O roteiro não cai em nenhum momento na chatice (algo perigoso em filmes desse estilo). Além disso eles se contentam em contar de forma eficiente os fatos, em metragem adequada (o filme não é longo demais, pelo contrário, é na medida certa). No final não há como não se surpreender com a história que é, pasmem, baseada em fatos reais! O grande mérito de "Código de Honra" é, no apagar da luzes, mostrar que no mundo do direito (seja aqui ou seja nos EUA) nem sempre a justiça vence! Enfim, recomendo bastante, sem medo de errar.

Código de Honra (Puncture, Estados Unidos, 2011) Direção de Adam Kassen e Mark Kassen / Elenco: Chris Evans, Vinessa Shaw Michael Biehn, Kate Burton / Sinopse: Dois jovens advogados (Chris Evans e Mark Kassen) tentam mover uma ação contra uma poderosa empresa de produtos hospitalares. Em posse de documentos e fatos tentam provar que uma nova forma de agulha evitaria acidentes de trabalho envolvendo médicos e enfermeiros em hospitais dos EUA. O problema é que a poderosa e influente empresa não quer que tal produto seja comercializado pois isso vai contra seus interesses comercias. Filme vencedor do Houston Film Critics Society Awards na categoria de Melhor Filme Independente. Também vencedor do New Hampshire Film Festival na categoria de Melhor Filme e Melhor Direção.

Pablo Aluísio.

Juventude Transviada

O filme definitivo da carreira de James Dean. "Juventude Transviada" é a quintessência do mito. De certa forma foi o filme que criou a cultura jovem na década de 50. Os personagens são jovens desiludidos, perdidos, que procuram por algum tipo de redenção. Toda a estória se passa em menos de 24 horas. No filme acompanhamos o primeiro dia de aula de Jim Stark (James Dean) em sua nova escola. Filho de pais que vivem se mudando de cidade o jovem Jim não consegue por essa razão criar genuínos laços de amizades com outros jovens de sua idade. Nesse primeiro dia em Los Angeles ele busca por um recomeço, tudo o que deseja é se enturmar e se possível não se envolver em problemas. Dois objetivos que ele logo entenderá que são bem complicados de alcançar. Desafiado por um grupo de valentões liderados por Buzz (Corey Allen) ele logo se vê envolvido numa briga com punhais. Depois aceita o desafio de participar de um racha altas horas da noite numa colina da cidade, o que trará consequências trágicas para todos os envolvidos.

Juventude Transviada demonstra bem que alguns temas são realmente universais, não importando a época em que acontecem. O jovem novato na escola que sofre bullying e é hostilizado pelos valentões locais, o desejo de ser aceito, a dor da rejeição e a frustrada tentativa de se enquadrar são temas pertinentes ao roteiro que dizem respeito não apenas aos personagens do filme mas a todos nós, principalmente no período escolar onde tudo isso vem à tona de forma muito transparente, para não dizer cruel. James Dean está simplesmente arrasador na pele de Jim Stark. Usando de sua já conhecida expressão corporal o ator esbanja versatilidade em uma interpretação realmente inspirada. Não é de se admirar que tenha sido tão idolatrado por tantos anos. Natalie Wood é outro destaque. Interpretando uma jovem com problemas de relacionamento com seu pai ela mostra bem porque era considerada um dos maiores talentos jovens daquela época. Por fim fechando o trio principal temos o frágil Platão, o personagem mais conturbado do filme. Em sensível atuação de Sal Mineo ele transporta carência afetiva e emocional, procurando a todo custo criar algum tipo de amizade, seja com quem for.

Quando "Juventude Transviada" chegou aos cinemas o ator James Dean já tinha morrido em um trágico acidente, com apenas 24 anos. A comoção por sua morte aliada á sua interpretação majestosa nesse filme criaram um dos mais fortes mitos da história de Hollywood. O nome James Dean ficou associado eternamente à figura do jovem rebelde. Unindo sua história trágica, muito parecida com as dos antigos mitos românticos, à força do cinema, James Dean logo virou ídolo de milhões de jovens ao redor do mundo. Mito esse que sobrevive até os dias de hoje pois mesmo após tantas décadas de sua morte o ator ainda é uma das celebridades falecidas que mais faturam em termos de licenciamento de produtos e direitos de imagem. De certa forma o mito James Dean ultrapassou e muito a influência do ator James Dean, embora essa também seja significativa. Juventude Transviada é assim seu testamento definitivo, o filme que criou toda uma mitologia em torno de seu nome, que se recusa a morrer de forma definitiva. Revisto hoje em dia o filme só cresce em importância e qualidade. Definitivamente é uma das produções mais importantes da história do cinema.

Juventude Transviada (Rebel Without a Cause, Estados Unidos, 1955) Direção: Nicholas Ray / Roteiro: Stewart Stern, Irving Shulman, Nicholas Ray / Elenco: James Dean, Sal Mineo, Natalie Wood, Corey Allen, Dennis Hopper, Jim Bechus / Sinopse: Jim Stark (James Dean) é um jovem recém chegado em Los Angeles que em seu primeiro dia de aula na nova escola tem que enfrentar um grupo de valentões liderados por Buzz (Corey Allen). Após uma briga de punhais no observatório da cidade ele aceita o desafio de participar de um racha mortal nas colinas da cidade.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 18 de março de 2015

Cadê os Morgans?

Filme completamente inofensivo. Diversão ligeira. No enredo somos apresentados ao casal Paul (Hugh Grant) e Meryl (Sarah Jéssica Parker). Separados há três meses eles estão enfrentando um complicado processo de divórcio. Típicos moradores de Nova Iorque eles resolvem uma noite jantar juntos em um fino restaurante da cidade. Como são muito ocupados na profissão quase nunca arranjam tempo para combinar os detalhes da separação que foi causada por uma infidelidade por parte dele. Após o agradável jantar resolvem passear pela cidade à noite e acabam virando testemunhas do assassinato de um contrabandista de armas morto por um poderoso chefão da máfia. Agora correndo risco de vida eles entram no programa de proteção às testemunhas do FBI, sendo enviados para a pequenina cidade de Ryan, no Wyoming, no meio oeste americano. O objetivo é garantir a segurança deles até que o assassino seja finalmente preso pelas autoridades.

Como é de se esperar o roteiro aproveita essa mudança para explorar situações cômicas envolvendo dois nova iorquinos vivendo numa cidadezinha perdida de um estado distante. Algumas situações são realmente engraçadas mas no geral tudo soa muito despretensioso, inofensivo mesmo. Hugh Grant, já sentindo o peso da idade para interpretar seu tipo característico, até que mantém o interesse. Já Sarah Jessica Parker não parece à vontade em seu papel. Ela que se notabilizou por sempre interpretar personagens femininas fortes aqui surge em um papel até mesmo ingrato, nada relevante para sua carreira. No final o que mais se destaca nesse “Cadê os Morgans?” é sua excelente trilha sonora que conta além de muita música country com grandes nomes como Paul McCartney, George Harrison e Bob Dylan. Sempre que o filme começa a cair no lugar comum surgem esses grandes ídolos da música para melhorar um pouco a situação. Enfim, comédia romântica inofensiva, até bobinha, para passar o tempo.

Cadê os Morgans? (Did You Hear About the Morgans?, Estados Unidos, 2009) Direção: Marc Lawrence / Roteiro: Marc Lawrence / Elenco: Hugh Grant, Sarah Jessica Parker, Sam Elliott,  Mary Steenburgen, Elisabeth Moss / Sinopse: Um casal de nova iorquinos vai parar numa cidadezinha do Wyoming como parte do programa de proteção às testemunhas. Na nova cidade terão que se adaptar ao mesmo tempo em que tentam reconstruir seu relacionamento.

Pablo Aluísio.

O Nome da Rosa

É um dos melhores filmes da carreira de Sean Connery que por essa época estava em uma fase particularmente inspirada na carreira. Costuma-se dizer que por trás de todo grande filme há uma grande estória. No caso de “O Nome da Rosa” temos uma confirmação disso. O roteiro foi escrito tendo como base o excelente livro de mesmo nome do cultuado autor Umberto Eco. Seus personagens vivem em um mundo imerso na religiosidade fanática, em plena idade média, período histórico que anos depois seria denominado como a “era das trevas”. A ciência era combatida e punida pelas altas autoridades do clero. A Igreja Católica dominava de forma sufocante todos os aspectos da vida da sociedade em geral. A menor indiscrição poderia ser confundida com heresia e a punição era mais do que severa, pois geralmente a purgação dos pecados vinha através do martírio em grandes fogueiras onde pessoas eram queimadas vivas em espetáculos públicos de insanidade e crueldade. É nesse ambiente sufocante que surge William de Baskerville (Sean Connery) que chega até um mosteiro distante para solucionar uma série de crimes horrendos acontecidos no local. O personagem é obviamente uma homenagem a Sherlock Holmes e o autor Umberto Eco se aproveita disso para desfilar uma doce ironia em cena: mesmo sendo um membro do clero, Baskerville usa de métodos científicos para descobrir a origem dos crimes.

“O Nome da Rosa” se destaca por apresentar uma trama extremamente bem escrita e uma solução final ao mesmo tempo simples e brilhante. Nisso se assemelha novamente aos textos do famoso detetive que lhe serviu de inspiração. A direção de arte do filme é um primor, recriando com extrema fidelidade os ambientes das centenárias abadias medievais, com sua rotina de trabalho austera e disciplinada. Curiosamente o filme não fez sucesso nos Estados Unidos em seu lançamento, sendo praticamente ignorado pelo público americano. No resto do mundo porém se tornou um verdadeiro sucesso entrando rapidamente na categoria de cult movie. Não é para menos, o filme alia um roteiro extremamente bem escrito com um elenco em fase inspirada. Sean Connery na época ainda tentava provar que era um bom ator e que não precisava mais viver á sombra de James Bond. Sua busca por uma identidade própria o levou a estrelar uma sucessão de excelentes filmes como “Os Intocáveis”, “Caçada ao Outubro Vermelho” e “Indiana Jones e a Última Cruzada” (considerado até hoje um dos melhores filmes da franquia). Connery obviamente ficou chateado com a fria recepção que o filme recebeu nos EUA mas anos depois atribuiu isso ao estilo do próprio público americano que vai aos cinemas. Para Sean filmes com tramas complexas como a de “O Nome da Rosa” fazem o espectador pensar para tentar decifrar o mistério envolvido, algo que os americanos não estariam dispostos a fazer por pura preguiça mental. De qualquer modo o resto do mundo reconheceu os méritos do filme, merecidamente aliás. Assim “O Nome da Rosa” se torna item obrigatório para os amantes dos filmes de mistério. A trama inteligente e bem conduzida transformou a produção em um clássico moderno, sem a menor sombra de dúvidas.

O Nome da Rosa (The Name of the Rose, Alemanha, Itália, França, 1986) Direção: Jean-Jacques Annaud / Roteiro: Andrew Birkin baseado no livro "O Nome da Rosa" de Umberto Eco / Elenco: Sean Connery, Christian Slater, F. Murray Abraham, Helmut Qualtinger, Elya Baskin, Feodor Chaliapin, William Hickey, Michel Lonsdale, Ron Perlman / Sinopse: William de Baskerville (Sean Connery) vai até uma abadia distante e sombria para investigar uma série de crimes no local. Ao lado de seu assistente, o noviço Adso (Christian Slater) ele tentará chegar na solução do mistério da morte dos membros do clero.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 17 de março de 2015

Alpha Dog

Jesse James Hollywood era um traficante extremamente bem sucedido de Los Angeles que para cobrar uma dívida de um cliente problemático resolveu seqüestrar seu irmão mais jovem, um garoto de apenas 15 anos de idade. Após uma série de eventos infelizes o criminoso acabou matando o garoto. Esse crime chocou os Estados Unidos pela crueldade e violência extrema. Procurado pelo FBI (ele foi um dos mais jovens criminosos na lista dos mais procurados da agência federal americana) Jesse James Hollywood resolveu fugir para um país com fama de impunidade e conhecido pelo tratamento leve e penas ridículas para bandidos de seu quilate, isso mesmo, o nosso querido Brasil. Foi aqui em nossa nação que finalmente o FBI colocou as mãos em Jesse. Ele havia se casado com uma brasileira e estava tentando conseguir a cidadania do país tropical onde impera o Samba, o Carnaval e o futebol. A história real terrível acabou inspirando Hollywood (a indústria, não o criminoso) a contar esses fatos. Nasceu assim “Alpha Dog” que trocando o nome dos personagens envolvidos se propõe a contar essa terrível tragédia.

O personagem principal aqui vira Johnny Truelove (Emile Hirsch). O enredo é praticamente o mesmo da história real. O resultado é cru, deprimente mas também muito impressionante e revelador para o espectador. O elenco de apoio é todo bom e se dá ao luxo de ostentar antigos astros do passado como Bruce Willis e Sharon Stone como meros coadjuvantes. Até mesmo o cantor pop Justin Timberlake se sai muito bem como um dos membros inconseqüentes da quadrilha de Truelove. Como a história se passa na década de 1990 a trilha sonora é recheada de hits do rap americano da época (um festival de músicas intragáveis). Também mostra a vida de luxos e riquezas dos traficantes naqueles anos. O próprio Truelove vive em uma bela casa, cercado de garotas bonitas, numa eterna festa regada a muitas drogas pesadas e bebidas que são consumidas em grandes quantidades por jovens da classe alta, ricos e perdidos que enriquecem cada vez mais Truelove e seu grupo de criminosos. Não poderia encerrar a resenha sem elogiar o ator Ben Foster. Considero sua atuação aqui como uma das mais viscerais que já vi em filmes recentes. Ele interpreta um viciado que deve um valor substancial ao traficante Truelove que para forçá-lo a pagar a dívida seqüestra e depois mata seu irmão adolescente. Gostei bastante do filme por mostrar a realidade de uma juventude vazia e sem objetivos, encharcada de drogas e criminalidade. Um triste retrato dos jovens americanos, os mesmos que um dia herdarão a mais poderosa nação do planeta! Que Deus nos proteja desses ignóbeis!

Alpha Dog (Alpha Dog, Estados Unidos, 2006) Direção: Nick Cassavetes / Roteiro: Nick Cassavetes / Elenco: Emile Hirsch, Justin Timberlake, Anton Yelchin, Shawn Hatosy, Ben Foster, Sharon Stone, Dominique Swain, Fernando Vargas, Paul Johansson, Olivia Wilde, Lukas Haas, Bruce Willis, Courteney Cox, Amanda Seyfried / Sinopse: Jovem traficante bem sucedido com clientela de filhos da classe alta de Hollywood acaba cometendo um crime bárbaro contra o irmão adolescente de um cliente problemático. O fato o leva a ser um dos mais jovens criminosos a integrar a lista dos dez mais procurados do FBI.

Pablo Aluísio.

Anjos e Demônios

Depois do enorme sucesso de O Código Da Vinci era apenas questão de tempo para que um novo livro de Dan Brown fosse novamente adaptado para as telas. O escolhido foi Anjos e Demônios, uma opção mais do que natural. Todos os ingredientes que fizeram a fama e fortuna do filme / livro anterior estão aqui novamente. Teorias da conspiração, tentativas de encobrir supostas verdades históricas, o suposto poder maquiavélico da Igreja Católica e as onipresentes sociedades secretas que farão de tudo para que a verdade não venha à tona. Dan Brown, que não é bobo nem nada, não iria mexer em time que se está ganhando. Se deu certo uma vez, certamente dará certo novamente. Por essa razão todas as críticas que foram feitas em Código da Vinci podem ser repetidas mais uma vez aqui. Como eu já afirmei, Dan Brown nada mais é do que um escritor bem esperto que junta no mesmo caldeirão uma infinidade de coisas, teorias, pseudo-história, e tudo o mais que encontra pela frente para causar a sensação no leitor que de existe algo muito grande e muito terrível nos bastidores tentando manipular a humanidade. Instituições milenares sempre viram alvo na escrita de Brown e a Igreja Católica obviamente é seu saco de pancadas preferido. A mensagem subliminar que o autor sempre deixa é a de que algo que vem perdurando há tantos séculos deve ter algo muito terrível a esconder. Para tanto não medirá esforços para manter seu poder e domínio sobre os homens. Como se vê é tudo uma grande bobagem mesmo.

Aqui a trama se aproveita da eleição de um novo Papa. Junte-se a isso o mistério de um assassinato e a presença maquiavélica de mais uma sociedade secreta conhecida como Illuminati, Eu não acabei de escrever que a literatura de Dan Brown se aproveita até a exaustão de fórmulas? Pois aí está. A estrutura é a mesma do livro anterior, sem tirar nem colocar nada de novo. Tudo muito formulaico. O curioso é que o autor ao mesmo tempo em que elege a Igreja como sua vilã preferida, mostra mesmo que indiretamente uma atração pelos costumes, rituais e liturgias da instituição religiosa. O filme foi novamente dirigido pelo pouco ousado e burocrático Ron Howard. Tom Hanks retornou ao seu personagem e a produção procurou seguir os passos do primeiro filme. Tudo sem nenhuma novidade digna de nota a não ser a boa presença de Ewan McGregor  que a despeito de seu bom trabalho ao longo do filme tem que pagar um mico enorme na cena final que é simplesmente patética, vamos falar a verdade. Pára quedas na Praça de São Pedro? É um pouco demais da conta vamos convir. Enfim, só recomendo para os fãs mais radicais de Dan Brown. Para os cinéfilos em geral tudo vai soar bem convencional, nada marcante. E se você gosta do tema histórico sobre Papas recomendo que procure por livros de história escritos por historiadores renomados, que sejam realmente interessantes e historicamente corretos. Deixe Dan Brown de lado, ele é literatura pop chiclete em essência e já não consegue enganar mais ninguém.

Anjos e Demônios (Angel & Demons, Estados Unidos, 2009) Direção: Ron Howard / Roteiro: David Koepp, Akiva Goldsman, baseado no livro de Dan Brown / Elenco: Tom Hanks, Ayelet Zurer, Ewan McGregor, Stellan Skarsgård, David Pasquesi, Cosimo Fusco, Allen Dula./ Sinopse: Durante a eleição do novo Papa uma terrível sociedade secreta colocará em risco a vida de várias pessoas, entre elas a do professor e estudioso Robert Langdon (Tom Hanks).

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 16 de março de 2015

A Caçada ao Outubro Vermelho

Durante a Guerra Fria dois impérios disputaram a hegemonia mundial. De um lado os Estados Unidos, líder do mundo ocidental, empunhando a bandeira do capitalismo e do livre mercado. No outro a União Soviética, líder dos países do bloco comunista que defendia o modelo de Estado autoritário, centralizador e dono de todos os meios de produção. Essa guerra ideológica obviamente foi transposta também para o campo militar. Americanos e soviéticos entraram em uma terrível corrida armamentista onde a busca pelas armas nucleares mais modernas acabou se tornando política oficial de Estado. E entre esse vasto arsenal nuclear se destacavam os submarinos nucleares, capazes de cruzarem os oceanos para atacar os países inimigos com rara precisão. Tanto Estados Unidos como União Soviética construíram incríveis máquinas como essas e a luta por uma delas é justamente o centro da trama desse excelente “A Caçada ao Outubro Vermelho”. A trama se passa em 1984 quando o capitão Marko Ramius (Sean Connery) do submarino soviético “Outubro Vermelho” decide sem justificativa aparente desviar a rota de navegação para os Estados Unidos. Isso obviamente traria enorme repercussão tanto do lado do comando soviético, que não havia autorizado tal manobra, como do lado americano, pois afinal de contas ter em plena guerra fria um submarino nuclear inimigo em rota de colisão com seu país era no mínimo temerário.

“Caçada ao Outubro Vermelho” se destaca pelo excelente roteiro que joga o tempo todo com as reais intenções do capitão soviético e os efeitos que surgem de sua decisão inesperada. Afinal qual seria seu real objetivo: Uma deserção ou um ataque insano ao capitalismo americano? Sean Connery está perfeito em sua caracterização de militar premiado e veterano que começa a pensar por conta própria sem se importar com as conseqüências de seus atos impensados. Na época de seu lançamento o filme também despertou debate sobre o perigo de um conflito nuclear por acidente. Afinal até que ponto os governos de Estados Unidos e União Soviética tinham efetivo controle sobre seu espetacular arsenal de guerra? O desespero causado em razão  de um submarino nuclear sem controle das autoridades soviéticas refletia bem isso. O curioso de tudo é que o perigo persiste até os dias atuais. Depois do fim da guerra fria com o desmoronamento do bloco soviético a antes incrível armada daquele país entrou em completo colapso. O que se vê hoje em dia na Rússia é um total sucateamento de armas e artefatos de guerra que apodrecem literalmente nos cais do país. Recentemente vi uma reportagem sobre o estado atual da Marinha russa. Submarinos como esse mostrado no filme nem conseguem mais ir para o alto mar por falta de verbas. O orgulho da outrora esquadra vermelha nunca esteve tão em baixa. Quem diria que um dia esse arsenal tenha sido tão respeitado e temido pelo ocidente? De qualquer modo fica a dica: “A Caçada ao Outubro Vermelho”, um excelente filme de suspense e guerra que realmente consegue mexer muito bem com os nervos do espectador. Não deixe de assistir.

A Caçada ao Outubro Vermelho (The Hunt for Red October, Estados Unidos, 1989) Direção:  John McTiernan / Roteiro: Larry Ferguson, Donald Stewart / Elenco: Sean Connery, Alec Baldwin, Scott Glenn, Sam Neill, James Earl Jones / Sinopse: A trama se passa em 1984 quando o capitão Marko Ramius (Sean Connery) do submarino soviético “Outubro Vermelho” decide sem justificativa aparente desviar a rota de navegação para os Estados Unidos. Seria um ato de deserção do oficial soviético ou uma impensada e insana manobra de ataque contra a América?

Pablo Aluísio.

Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas

Posso dizer que foi bem menos aborrecido do que os anteriores. Algumas coisas em Piratas do Caribe sempre me incomodaram: excesso de piadinhas sem graça, piruetas e pirotecnias à la filme dos Trapalhões, roteiros dispersos demais, duração desnecessária e excesso de personagens sem importância. Parece que os produtores do filme realmente ouviram as críticas e resolveram aqui cortar todos as coisas que atrapallhavam os filmes da franquia. Achei o roteiro bem enxuto, focado numa situação base (ao contrário dos anteriores que atiravam para todos os lados). Outro ponto positivo ao meu ver foi o enxugamento de personagens desnecessários. Aqueles chatos que povoavam os filmes anteriores simplesmente sumiram, o que foi ótimo. As piadinhas também ficaram sob controle, para minha satisfação.

De resto o que posso dizer é que não fiquei entediado e nem com raiva da burrice do roteiro. O Depp continua na mesma e não o critico uma vez que o personagem do Capitão é uma verdadeira mina de ouro para ele (o ator já ganhou tanto dinheiro com esse pirata que comprou até mesmo uma ilha particular para si). A produção não nega sua face blockbuster e por isso em muitos momentos pensamos que o filme foi escrito para alguém com déficit de atenção pois o corre corre é intenso. De qualquer maneira cenas pontuais (e bem feitas) fazem valer a pena, como o ataque das sereias. No saldo final apesar de não considerar um filme bom, penso que houve melhorias. O que é complicado mesmo é entender como um filme que usa e abusa de tantos clichês antigos (que já eram usados na década de 30 com Errol Flynn) conseguiu apurar mais de um bilhão de dólares de bilheteria! Velhas fórmulas parecem nunca envelhecer mesmo para o grande público.

Piratas do Caribe: Navegando em águas Misteriosas (Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides, Estados Unidos, 2011) Direção: Rob Marshall / Roteiro: Ted Elliott, Terry Rossio / Elenco: Johnny Depp, Penélope Cruz, Ian McShane / Sinopse: Jack Sparrow (Johnny Depp) e Barbossa (Geoffrey Rush) saem em busca de novas aventuras na franquia de grande sucesso de bilheteria.

Pablo Aluísio.

domingo, 15 de março de 2015

O Demolidor

O personagem Demolidor (Daredevil no original em inglês) foi criado nos anos 60 pelo sempre genial Stan Lee, em parceria com Bill Everett. Era de fato um super-herói diferente, pois era um deficiente visual e advogado que tentava impor a ordem no caótico bairro nova-iorquino de Hell's Kitchen. Nos quadrinhos ele havia ficado cego após um terrível acidente com lixo tóxico. O fato de não enxergar por outro lado ampliou seus demais sentidos a um nível desconhecido para um ser humano normal. Tentando fazer valer a justiça a todo custo o personagem se envolvia com o chamado submundo da grande cidade. Embora tenha tido um começo promissor o Demolidor jamais conseguiu ser um personagem de ponta dentro do universo Marvel até Frank Miller (o mesmo de “Batman – o Cavaleiro das Trevas") o resgatar completamente do obscurantismo. O desenhista e escritor acabou produzindo uma série de aventuras revolucionárias com o personagem, o tornando pela primeira vez um dos mais populares da Marvel. Investindo em enredos mais adultos o Demolidor acabou renascendo das cinzas.

Esse foi justamente o material utilizado por Hollywood para trazer o herói para as telas de cinema. Foi um projeto ambicioso, com orçamento generoso, que tinha como plano virar mais uma franquia de sucesso no cinema americano. Para interpretar o personagem principal o estúdio trouxe Ben Affleck (que seria “premiado” por essa interpretação com um Framboesa de Ouro de pior ator). Elektra, personagem criada pro Frank Miller, também ganhou destaque, sendo interpretada por Jennifer Garner (que infelizmente faria um péssimo filme solo com esse papel depois). Já do lado dos vilões uma dupla de peso, Michael Clarke Duncan (como o Rei do Crime) e Colin Farrell (como o inimigo Mercenário), foram contratados. Tudo parecia ir muito bem. O filme foi lançado em 2003 mas não conseguiu virar a franquia que todos esperavam. A razão? “Demolidor” teve uma bilheteria modesta, morna, bem abaixo da expectativa do estúdio. Não é um filme ruim, longe disso, mas o fato é que o personagem parece funcionar bem melhor no mundo dos quadrinhos. Nas telas a coisa não andou tão bem. De qualquer maneira todos os anos surgem boatos de que Daredevil voltará em nova versão. Já existe até mesmo um roteiro pronto, esperando por aprovação. Será que um dia sairá do papel esse retorno? Só nos resta esperar.

O Demolidor (Daredevil, Estados Unidos, 2003) Direção: Mark Steven Johnson / Roteiro: Mark Steven Johnson, baseado no personagem criado por Stan Lee / Elenco: Ben Affleck, Jennifer Garner, Michael Clarke Duncan, Colin Farrell, David Keith, Jon Favreau, Joe Pantoliano / Sinopse: Matt Murdock (Ben Affleck) é um advogado que esconde a existência de uma identidade secreta. Durante as noites ele incorpora oDemolidor, um herói que limpa as ruas de Nova Iorque da criminalidade.

Pablo Aluísio.

Superman IV – Em Busca da Paz

Depois dos modestos resultados de Superman III todos achavam que a série estava realmente encerrada. Não é para menos, o filme não foi muito bem recebido nem pelo público e nem pela crítica. Já mostrava sinais de desgaste e seu tom mais bem humorado não agradou aos fãs do super-herói. Assim a Warner decidiu encerrar a franquia. Foi então que a Cannon Group entrou em cena. Eles decidiram que iriam filmar o quarto filme da série mas para isso tinham que superar vários problemas sendo um dos principais a pouca vontade de Christopher Reeve em voltar ao papel. O ator estava tentando decolar sua carreira, participando de filmes e peças mais de acordo com sua sólida formação dramática e teatral. Superman sem dúvida havia sido bom para ele mas já era hora de seguir em frente. Como na visão da Cannon não haveria filme sem Reeve a produtora resolveu oferecer ao ator uma verdadeira fortuna para ele voltar a vestir o uniforme azul. Não contente Christopher Reeve ainda estipulou uma série de regalias e direitos, inclusive de mexer no roteiro e na direção caso não fosse de seu agrado. Contrato assinado era a hora de trazer de volta o personagem às telas!

Infelizmente a pré-produção de Superman IV custou tão caro e Reeve levou uma bolada tão exorbitante que pouco sobrou para a produção do filme. Ao invés de investir em efeitos especiais de primeira geração a empresa teve que se contentar em contratar um time de segundo escalão. O roteiro, confuso e mal trabalhado, não foi lapidado e as filmagens começaram sem ter um texto final pronto. A trama era boba e muito fraca. Em plena guerra fria a patriotada tomava conta do Superman que virava um boneco da propaganda tipicamente da era Reagan. Havia um vilão sem qualquer carisma, “O Homem Nuclear”, que enfrentava o herói em um cenário completamente mal feito. O pior era saber que a estória havia sido escrita pelo próprio Christopher Reeve que com controle de veto se envolveu onde não deveria. Ele quis transformar o filme numa grande propaganda anti-nuclear! Uma das únicas coisas boas era o retorno de Gene Hackman na série (ele fazia não apenas o Lex Luthor como a “voz” do Homem Nuclear). Mesmo com ele em cena não houve jeito, Superman IV era certamente muito ruim e logo se tornou um grande fracasso de bilheteria encerrando de vez a franquia original. Uma despedida melancólica de Christopher Reeve no papel, logo ele que até aquele momento era considerado o melhor ator a encarnar o personagem em toda a história. Uma pena.

Superman IV: Em Busca da Paz (Superman IV: The Quest for Peace, Estados Unidos, 1987) Direção: Sidney J. Furie / Roteiro: Christopher Reeve, Lawrence Konner / Elenco: Christopher Reeve, Gene Hackman, Jackie Cooper, Mark Pillow, Margot Kidder,  Mariel Hemingway / Sinopse: Superman (Christopher Reeve) enfrenta o perigo nuclear materializado no Homem-Nuclear (Mark Pillow).

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de março de 2015

O Incrível Hulk

Algumas franquias morrem logo em seu nascimento. Foi o caso de Hulk. O primeiro filme dirigido por Ang Lee tinha grande orçamento, muito marketing e promoção, mas afundou de forma desastrosa. A culpa foi do próprio Lee que confundiu as bolas e fez um filme muito chato onde o Hulk (no fundo apenas uma variação de “O Médico e o Monstro” nas próprias palavras de seu criador, Stan Lee) tinha tediosas crises existenciais. O resultado foi horrível pois em um mesmo filme conviviam duas propostas bem diferentes - a de um filme sério tentando passar algo profundo e a de um outro, bem diverso, onde temos um monstro verde, cheio de fúria, destruindo uma cidade com muitos efeitos digitais. Ninguém gostou do resultado, nem o público, nem os fãs e muito menos o estúdio que demitiu todos os envolvidos na produção para literalmente começar do zero tudo de novo. O que era para ser o primeiro filme de uma nova franquia foi pelos ares e deveria ser esquecido. Esse "O Incrível Hulk" é a segunda tentativa de dar certo na adaptação de Bruce Banner / Hulk (Edward Norton), o famoso personagem verde dos quadrinhos. Bem melhor que o primeiro ele abraça sem pudores o universo criado por Stan Lee. Sua vocação para a aventura é um ponto mais do que positivo. Os efeitos estão bem situados dentro do enredo e os vilões são bem arquitetados. Nada como um tremendo erro anterior para consertar todos os problemas no filme seguinte.  "O Incrível Hulk" foi bem certeiro nesse aspecto em seus objetivos.

Na trama acompanhamos o cientista Bruce Banner (Edward Norton, bem à vontade) que por acidente fica exposto a altas doses de raio gama. A exposição a esse agente acaba alterando em nível celular o organismo de Banner que passa a se transformar em um imenso gigante verde, completamente irracional e irascível, que destrói tudo por onde passa. Procurando por uma cura ele vem ao Brasil em busca de ervas medicinais da flora local. Procurando por seu paradeiro o exército americano acaba descobrindo onde ele se encontra e envia agentes treinados para capturá-lo. Para sobreviver ele terá que escapar o mais rápido possível. Pela sinopse já deu para ver que parte do filme foi rodado no Brasil. As nossas favelas, sempre vistas pelos estrangeiros com espanto pelo grau de abandono das populações mais carentes, logo vira um diferencial na condução do filme. Infelizmente os clichês em relação aos latinos também estão todos lá mas não chega às raias da ofensa direta. O que vale a pena em "O Incrível Hulk" é que o espírito dos quadrinhos está em todo o filme, no roteiro, nas cenas e no argumento. Norton compõe uma boa caracterização, mostrando aquela vulnerabilidade que sempre foi a marca registrada de Bruce Banner. O cientista é geralmente retratado como um injustiçado que conta com seu alter ego monstruoso para colocar tudo nos eixos. Essa foi a essência dos quadrinhos que foi resgatada pela produção dessa película. Bom filme no final das contas. Espero que em breve ele tenha novas continuações, principalmente depois do estrondoso sucesso comercial dos Vingadores em 2012, que se tornou a maior bilheteria do ano.

O Incrível Hulk  (The Incredible Hulk, Estados Unidos, 2008) Direção: Louis Leterrier / Roteiro: Louis Leterrier baseado no personagem criado por Stan Lee / Elenco: Edward Norton, Liv Tyler, Tim Roth, William Hurt, Tim Blake Nelson, Ty Burrell, Christina Cabot, Peter Mensah, Lou Ferrigno, Paul Soles, Débora Nascimento / Sinopse: Cientista é exposto a alta doses de raios gama. Procurando por uma cura vai até o Brasil onde passa a ser perseguido pelo exército e demais serviços de inteligência do governo americano. Agora terá que escapar para sobreviver!

Pablo Aluísio.

Os Mais Jovens

Título no Brasil: Os Mais Jovens
Título Original: Young Ones
Ano de Produção: 2014
País: Estados Unidos
Estúdio: Bifrost Pictures
Direção: Jake Paltrow
Roteiro: Jake Paltrow
Elenco: Michael Shannon, Nicholas Hoult, Elle Fanning, Kodi Smit-McPhee
  
Sinopse:
Em um mundo futurista e desértico, onde a água é um item raro a se encontrar, o fazendeiro Ernest Holm (Michael Shannon) tenta de todas as formas transformar sua propriedade rural em um negócio rentável. Ao lado de seus dois filhos adolescentes, ele procura qualquer tipo de ajuda para manter a fazenda em pé, algo que vai se tornando cada vez mais complicado tendo em vista as hostis condições ambientais. Sua última esperança acaba sendo a compra de um robô que pretende facilitar seu empreendimento. Para seu azar ele acaba sendo roubado pouco tempo depois, dando origem a um busca desesperada pelos ladrões. Filme vencedor do Sitges - Catalonian International Film Festival na categoria de Melhor Roteiro.

Comentários:
Inicialmente você pensa que vai assistir a mais uma milésima versão do mundo pós-apocalipse ao estilo "Mad Max". Tudo está lá, o mundo seco e árido, a luta pela água, o clima opressivo, mas ao invés de apostar na pura ação e violência, o diretor Jake Paltrow resolveu investir em um enredo mais dramático, onde se sobressaem os filhos adolescentes do fazendeiro Holm (aqui interpretado pelo veterano Shannon). O garoto é muito jovem, mas mesmo assim tenta ajudar ao pai na sua luta em fazer aquela fazenda desértica produzir alguma coisa. A garota adolescente, interpretada pela bonita Elle Fanning, por sua vez está no limite. Isolada no meio do deserto, ela vive uma rotina de trabalhos domésticos pesados e falta de relacionamentos com rapazes de sua idade. A solidão vai se tornando cada vez mais um fardo insuportável de conviver. O roteiro divide a estória em três grandes partes, em capítulos intitulados com os nomes dos três personagens centrais. Esse enredo me fez inclusive lembrar muito de velhos faroestes dos anos 50, que exploravam a dura vida dos rancheiros que iam rumo ao velho oeste em busca de uma nova vida. Uma vez chegando lá acabam encontrando todos os tipos de dificuldades e desafios inimagináveis. A diferença básica é que ao invés de ser um western esse filme se propõe a ser uma ficção passada em um futuro sem muitas esperanças. No saldo final não chega a aborrecer, mas tampouco consegue se tornar marcante. É aquele típico filme mediano que você vai assistindo até o final com seu interesse oscilando entre a atenção e a dispersão completa.

Pablo Aluísio.