sábado, 21 de março de 2015

Promessas de Guerra

A cena inicial mostra os momentos finais da sangrenta batalha de Gallipoli. As tropas turcas estão decididas a enfrentar o inimigo em campo aberto. Assim deixam suas trincheiras em direção ao campo onde estão as tropas estacionadas do exército britânico. Uma vez lá descobrem surpresos que os ingleses simplesmente bateram em retirada. Quatro anos depois encontramos o fazendeiro Joshua Connor (Russell Crowe) tentando encontrar água em suas terras no deserto e hostil interior australiano. Não é uma coisa das mais simples. A região é uma das mais secas do planeta. Além da luta diária pela sobrevivência ele ainda precisa lidar a cada dia com uma tragédia familiar. Alguns anos antes ele acabou incentivando seus três filhos a se alistarem no exército de seu país para lutarem na sangrenta Primeira Guerra Mundial.

O resultado foi trágico. Seus três filhos acabaram sendo dados como desaparecidos em combate, muito provavelmente mortos no front por participaram de uma das batalhas mais sangrentas do conflito. A esposa de Joshua não resiste à depressão e começa a enlouquecer lentamente, até o dia em que resolve acabar com tudo, com sua própria vida. Em seu leito de morte, Joshua promete ir atrás dos garotos, para ter uma certeza definitiva se realmente morreram ou se existe alguma possibilidade, mesmo que mínima, de ainda estarem vivos em algum lugar. Após enterrar sua amada, ele resolve cruzar os mares, indo parar na distante Turquia, ainda uma nação dividida por inúmeros conflitos, lutando por sua liberdade. Seguindo rastros dos jovens filhos ele acaba indo parar no próprio campo de batalha onde supostamente tombaram. De fato após vários dias procurando acaba encontrando os restos mortais de dois deles. Será que o terceiro filho ainda estaria vivo? Com a ajuda improvável de um major das linhas inimigas ele começa a juntar as pistas que podem lhe levar finalmente ao encontro de seu querido filho desaparecido. Esse é ponto de partida da trama desse novo filme da carreira do ator Russell Crowe, que aqui resolveu se arriscar pela primeira vez na direção de um longa-metragem convencional (antes havia apenas assinado a direção de dois curtas e um documentário).

O resultado de sua coragem e ousadia se mostra bem interessante. Claro que existem alguns probleminhas, como o uso de um corte final um pouco excessivo (sim, o filme poderia ter uma menor duração, sem prejudicar em nada o enredo), além de algumas falhas de ritmo, pois o filme ora parece avançar, ora estagnar. Mesmo assim, com esses equívocos pontuais, perdoáveis em quem não tem muita experiência como cineasta, o filme conseguiu me agradar. O roteiro é baseado em uma história real, a jornada definitiva da vida de um pai em busca do paradeiro de seus filhos perdidos em uma das guerras mais brutais da história. Ele é um homem resignado, destruído pelas tragédias familiares, primeiro a perda de seus amados garotos, depois a morte chocante de sua esposa, corroída pela loucura e pelo desespero. No final tudo o que ele busca é uma redenção pessoal, uma forma de fechar uma porta dolorida de sua existência passada - e assim enterrar seus filhos de uma forma digna, para não deixá-los em uma cova coletiva, típica daquela época. No caminho acaba conhecendo uma viúva de guerra e seu esperto filho, que vivem de forma sofrida ao administrarem uma pequena pousada. Dessa forma o filme acaba se desdobrando em dois: no drama de Joshua em achar os restos mortais de seus filhos e na inesperada constatação que ainda existe lugar para um improvável romance em sua vida. A produção arrisca algumas cenas de combate, mas esse não é certamente o foco principal desse argumento. Ele é bem mais direcionado para o drama interior do personagem interpretado por Russell Crowe. Novamente a fotografia se revela uma grata surpresa ao explorar as maravilhosas tomadas da milenar cidade de Istambul (a antiga Constantinopla cristã, fundada pelo imperador Constantino). Em uma das melhores cenas Crowe inclusive resolve admirar o rico interior da Basílica de Santa Sofia - que hoje em dia virou uma mesquita, fruto da vitoria do Império Otomano sobre o decadente Império bizantino (ou Império romano do Oriente). Então é isso, nada de muito espetacular ou épico, mas que se revela um bom filme no final das contas. É no fundo uma boa produção, com uma trama interessante, procurando contar uma história que de fato aconteceu em 1919, fazendo tudo isso com uma insuspeita honestidade. Vale de fato a pena conhecer e assistir.

Promessas de Guerra (The Water Diviner, Estados Unidos, Turquia, Austrália, 2014) Direção: Russell Crowe / Roteiro: Andrew Knight, Andrew Anastasios / Elenco: Russell Crowe, Olga Kurylenko, Yilmaz Erdogan, Jai Courtney, Jacqueline McKenzie / Sinopse: Joshua Connor (Russell Crowe) é um fazendeiro australiano que decide ir em busca do paradeiro de seus três filhos, dados como desaparecidos de guerra, durante a batalha de Gallipoli. Uma vez na Turquia acaba conhecendo uma jovem viúva da guerra e seu pequeno filho. Será que haveria ainda possibilidade de reconstruir sua vida sentimental e afetiva após tantas tragédias pessoais em sua vida? Filme vencedor do prêmio da Australian Film Institute nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante (Yilmaz Erdogan) e Melhor figurino (Tess Schofield). Também indicado aos prêmios de Melhor Ator (Russell Crowe), Atria Coadjuvante (Jacqueline McKenzie), Roteiro Original e Edição.

Pablo Aluísio.

Um comentário:

  1. Avaliação:
    Direção: ★★★
    Elenco: ★★★
    Produção: ★★★
    Roteiro: ★★★
    Cotação Geral: ★★★
    Nota Geral: 7.5

    Cotações:
    ★★★★★ Excelente
    ★★★★ Muito Bom
    ★★★ Bom
    ★★ Regular
    ★ Ruim

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