domingo, 8 de maio de 2016

As Neves do Kilimanjaro

Ontem assisti ao clássico "As Neves do Kilimanjaro" (The Snows of Kilimanjaro, EUA, 1952). O filme é uma adaptação para o cinema de um conto escrito por Ernest Hemingway em 1936. Em seus escritos Hemingway quase sempre falava sobre si mesmo. Embora seus livros fossem romances, com personagens de ficção, todos eles traziam um pouco do próprio escritor em suas personalidades. Aqui não foi diferente. O protagonista interpretado por  Gregory Peck também é um escritor. Alguém que almeja viver de seus livros. Ele se vê numa situação limite após ter sua perna infeccionada em pleno safári na África. Em cima desse momento decisivo se desenvolve toda a trama do filme.

Enquanto fica prostrado numa maca, vendo a morte de perto, cercado por animais selvagens como hienas e abutres esperando por sua carcaça, ele começa a fazer um balanço de sua vida. Embora tenha tido relativo sucesso com seus romances isso passa longe de ser considerado um alívio para ele. Muito autocrítico considera-se um fracassado que levou toda a sua vida em vão. O único pensamento que lhe consola é um velho amor do passado, a exuberante Cynthia (Ava Gardner). Eles tiveram um belo romance no passado que resultou inclusive em uma gravidez. Street (Peck) porém não soube dar o devido valor ao que acontecia em sua vida naquele momento. Mais preocupado em fazer sucesso como escritor acabou negligenciando aquela que seria o grande amor de sua vida. Agora, à beira da morte, ele relembra e lamenta. O sucesso com os livros nada significou pois o fracasso na vida pessoal é o que mais pesa nesse momento final.

O roteiro assim se desdobra em duas linhas narrativas básicas. Uma no presente, onde o personagem de Gregory Peck agoniza em um acampamento aos pés da montanha do Kilimanjaro (a mais alta da África) e outra em diferentes passagens de seu passado, focando principalmente em amores que não deram certo. O uso de flashback situa assim o espectador sobre tudo o que aconteceu nos anos anteriores da vida do protagonista. Além de Cynthia (Gardner), o grande amor de sua vida, ainda há lembranças referentes à Condessa Liz (Hildegard Knef), uma bonita, mas frívola, nobre europeia com quem ele passou bons momentos no começo de sua carreira. É justamente o tio de Liz que resolve deixar uma fortuna para Street com um enigma para decifrar referente inclusive ao Kilimanjaro.

O elenco tem três grandes estrelas. Gregory Peck interpreta o personagem principal. É curioso ver esse trabalho do ator porque ele era muito diferente de Ernest Hemingway (cuja personalidade foi transportada para as páginas da literatura em seu personagem). Enquanto o escritor era uma explosão de sentimentos, fúria e vontade de experimentar todos os aspectos da vida, Peck sempre se caracterizou como um homem fino e elegante, bastante discreto. Mesmo assim ele conseguiu convencer plenamente em cena. Já Ava Gardner era pura sensualidade. Aqui ela curiosamente apresenta um aspecto mais vulnerável, o que a diferencia bem de outros trabalhos no cinema. Por fim há a presença de Susan Hayward como a esposa de Peck. Uma mulher paciente e muito dedicada ao marido, ainda mais agora que ele passa por uma situação extrema no coração do continente africano. Enfim, um belo filme que resgata a obra de Ernest Hemingway, especialmente indicado para neófitos em sua literatura.

Pablo Aluísio. 

Um comentário:

  1. Avaliação:
    Direção: ★★★
    Elenco: ★★★★
    Produção: ★★★
    Roteiro: ★★★★
    Cotação Geral: ★★★★
    Nota Geral: 8.0

    Cotações:
    ★★★★★ Excelente
    ★★★★ Muito Bom
    ★★★ Bom
    ★★ Regular
    ★ Ruim

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