segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Os Quatro Evangelhos

O texto a seguir tem como base e fundamento as pesquisas, livros e estudos do professor Craig Blomberg, PHD pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, considerado um dos grandes especialistas em história bíblica. Resolvi colocar tudo em forma de perguntas, para facilitar a leitura, enfocando os principais temas envolvendo os quatro evangelhos que formam o Novo Testamento. Seguem então dez perguntas cruciais sobre os evangelhos.

1. Quem realmente escreveu os evangelhos que formam o Novo Testamento? Há um consenso entre historiadores atualmente que os autores dos textos que formam o novo testamento cristão foram Levi, um coletor de impostos, que também era conhecido como Mateus (que daria nome ao evangelho escrito por ele), João Marcos, um cristão devoto, muito próximo a Pedro, seu amigo de longa data (que assinou seu evangelho apenas como Marcos),  Lucas, um médico que foi extremamente próximo a Paulo ao ponto dele o chamar de "o médico amado" e finalmente João, cuja autoria é a mais discutida de todas pois não se chegou ainda a uma certeza histórica de que se tratava mesmo do querido apóstolo de Jesus.

2. O que a ciência histórica tem a dizer sobre o Evangelho de João?
Há duas possibilidades. A primeira que esse evangelho teria sido realmente escrito por João, o amado apóstolo, um dos três mais próximos de Jesus (ao lado de Pedro e Tiago). Alguns séculos depois surgiu uma dúvida pois foram encontrados escritos antigos datados do ano 125 em que um autor antigo chamado Papias afirmava que o evangelho de João havia sido escrito na verdade por João, o Idoso (ou o Ancião). Até hoje não se pode afirmar com certeza se João, o Apóstolo e João, o Ancião, eram duas pessoas diferentes ou apenas duas formas de se referir a João, nesse segundo caso quando ele já estava bem velho, avançado em sua idade terrena.

3. Os escritores dos evangelhos conheceram Jesus Cristo pessoalmente?
Historiadores da Bíblia afirmam que os três primeiros evangelhos foram escritos de forma direta (por pessoas que presenciaram os eventos narrados) ou indiretamente (como no caso de Marcos que usou o testemunho do próprio Pedro como base para seu evangelho). Especialistas concordam que de todos os evangelhos o de Mateus parece ter sido o mais próximo a ser escrito da vida de Jesus. Esse evangelho também foi o único que foi escrito inicialmente na língua dos judeus da época e só depois traduzido para o grego e o latim. Se João é realmente o apóstolo querido, então seu evangelho foi escrito por alguém que viveu ao lado de Jesus e caminhou com ele, testemunhando todos os acontecimentos com seus próprios olhos.

4. Qual é a característica mais interessante do Evangelho de Marcos?
Esse é considerado um evangelho escrito para a conversão de novos cristãos. Ele não é muito detalhista sobre os primeiros anos da vida de Jesus, a tal ponto que não cita seu nascimento, se concentrando apenas em três anos da vida do Messias, dedicando quase a metade de seu texto à semana final da vida de Jesus. Por essa razão muitos especialistas acreditam que é um dos mais fiéis do ponto de vista histórico pois foi escrito baseado nas palavras do próprio Pedro que narrou tudo o que presenciou pessoalmente a Marcos.

5. O que é a Fonte Q?
A imensa maioria dos historiadores e especialistas acreditam que alguns trechos dos três primeiros evangelhos beberam da mesma fonte, um manuscrito ainda mais antigo, usado pelos primeiros cristãos em seus cultos e reuniões. Esse primeiro manuscrito que se perdeu no tempo seria a fonte escrita mais antiga sobre a vida de Jesus Cristo. Como não se sabe como era chamado muitos historiadores passaram a se referir a ele como Fonte Q. Os indícios mais fortes de sua existência vem de alguns textos escritos por Paulo que parece ter usado expressões e orações que eram usados nas primeiras reuniões dos cristãos primitivos. Eles liam e decoravam os textos justamente usando esse antigo texto, a Fonte Q.

6. O que havia escrito na Fonte Q?
Basicamente citações de Jesus e a relação de seus milagres. Não era um texto narrativo, contando a vida do Messias, mas sim uma série de citações de frases, pensamentos e parábolas escritas pelos primeiros apóstolos que procuravam registrar o máximo que podiam da sabedoria de seu mestre. Sobre a fonte Q há duas opiniões: A primeira que ele teria sido usado inteiramente dentro dos próprios evangelhos, nada teria ficado de fora e por isso foi descartado. A segunda que algumas frases e pensamentos teriam sido esquecidos, se perdendo para sempre nas areias do tempo.

7. Qual teria sido a participação de Pedro na elaboração dos primeiros evangelhos?
Teria sido essencial. Pedro viveu por muitos anos e tinha uma memória excelente, relembrando eventos passados como se tivessem acontecido há poucos dias. O primeiro evangelho foi escrito entre 20 a 30 anos depois da morte de Jesus. O último - de João - teria sido finalizado 60 anos depois da crucificação. Todos eles derivavam de rica tradição oral, além da já citada Fonte Q. Pedro só não participou efetivamente da produção do último evangelho, justamente o de João, pois já estava morto, após ser crucificado de cabeça para baixo pelos romanos.

8. O Evangelho de João pode ter tido dois autores?
Sim. Para muitos estudiosos a parte final do evangelho de João não foi escrita pelo autor da primeira parte. Há duas explicações para isso. João (seja o apóstolo, seja João, o idoso) não viveu o suficiente para terminar sua obra. Ele teria morrido antes. Um autor desconhecido, provavelmente membro da primitiva Igreja teria então terminado o evangelho, mas se mantido anônimo. Outra tese sustenta que um editor grego teria feito as mudanças na parte final, enviando o manuscrito para a aprovação final de João. Mesmo doente ele teria dado seu aval para as mudanças.

9. Qual é a principal característica do Evangelho de João?
Há um consenso que ele seria o mais profundo do ponto de vista teológico. Além disso é o que mais enfatiza a natureza divina de Jesus, o colocando sem dúvida como o próprio Deus encarnado na terra para viver entre os homens, trazendo a salvação para a humanidade com sua morte na cruz. Para os especialistas isso tem uma explicação. Só após mais ou menos 50 anos da morte de Jesus é que os primeiros cristãos chegaram na certeza de que Jesus era realmente Deus. Antes disso haveria uma certa dúvida na interpretação do que havia dito Jesus em seus sermões. Escrito 60 anos depois da crucificação já não existia mais nenhum questionamento sobre isso para João. Ele então quis deixar bem claro essa questão em seu evangelho.

10. Quem escolheu os evangelhos que hoje fazem parte do Novo Testamento Cristão?
Os quatro livros oficiais que formam o Novo Testamento foram escolhidos por autoridades da Igreja Católica. Poucos sabem, mas havia vários outros evangelhos circulando entre os primeiros cristãos, alguns atribuídos a pessoas próximas a Jesus como Maria Madalena e Judas. A Igreja Católica os descartou por serem imprecisos, contraditórios, fantasiosos demais ou não verdadeiros. Com isso apenas quatro foram escolhidos e chancelados pelo Papa. Por essa razão a Bíblia tal como conhecemos só possuem esses livros oficiais. Os demais foram qualificados como Apócrifos, de autoria incerta e procedência duvidosa.

Pablo Aluísio.

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