segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Zelota - A Vida e a Época de Jesus de Nazaré

Nesse fim de semana terminei a leitura do livro "Zelota - A Vida e a Época de Jesus de Nazaré" do autor iraniano Reza Aslan. Apesar de sua origem, de formação muçulmana, o escritor foi logo cedo morar nos Estados Unidos onde se tornou cristão. Na verdade, como ele próprio confessa no livro, jamais sua família foi muito religiosa, apesar de terem nascido no Irã, um dos berços do radicalismo fundamentalista islâmico. Como cristão ele se apaixonou pela história de Jesus Cristo e quando entrou para a universidade resolveu ir atrás do Jesus histórico e não apenas do Jesus dos evangelhos. Durante anos pesquisou fontes históricas imparciais sobre Jesus e desse estudo nasceu o livro.

Para Aslan o Jesus histórico foi de certa maneira muito diferente do Jesus que chegou até nós. Segundo sua teoria o Jesus da Bíblia é de certa maneira uma criação de Paulo, um judeu de formação helenista que não chegou a conhecer Jesus pessoalmente. Para reforçar sua tese Aslan disseca o mundo político e social em que Jesus viveu e as influências do meio em sua vida. Para o escritor o Jesus real da história tem muito mais a ver com o Messias tradicional pelo qual os judeus há tanto esperavam. E qual era esse Messias? Certamente não era aquele que vinha para divulgar a paz e o amor de Deus entre os homens, mas sim o revolucionário que almejava a expulsão dos romanos da Judeia. E foi por essa razão que o escritor resolveu chamar o livro de Zelota, pois esse foi um movimento religioso político muito importante naqueles tempos. O próprio Jesus seria assim, ele mesmo, uma espécie de  Zelota, alguém que primava pelo Zelo da fé judaica, pelas tradições religiosas de seu povo judeu e pelo Templo. Nada muito além disso.

Aslan assim enxerga o surgimento desse outro Jesus, o do pacifista e do Deus encarnado. Para ele essa foi uma criação dos escritos de Paulo, algo que entrou em choque frontalmente com os primeiros cristãos liderados por Tiago, o Justo, que seria supostamente o irmão de Jesus, também filho de Maria. O autor defende a tese que após a morte de Jesus a chamada igreja primitiva ficou em Jerusalém, comandada e chefiada por Tiago e os demais apóstolos que ainda estavam vivos (entre eles, Pedro). Essa era chamada de assembleia mãe, por ser formada basicamente pelas pessoas que andaram ao lado de Jesus. Quando Paulo começou a pregar e escrever sobre Jesus, criando assim a figura do Cristo, a igreja primitiva de Jerusalém logo entrou em conflito com ele. Havia muitas discordâncias entre os primeiros cristãos, principalmente sobre a real importância de Jesus e a essência de sua mensagem. Paulo tinha uma visão helenista pois escrevia para o mundo grego e romano, para os gentios, enquanto Tiago, Pedro e os primeiros seguidores de Jesus (chamados de hebreus), queriam que a mensagem de Jesus se enquadrasse completamente dentro dos princípios do judaísmo tradicional.

Com a destruição do templo de Jerusalém e a morte de milhares de judeus (entre eles praticamente toda a igreja primitiva dos que andaram ao lado de Jesus) a visão de Paulo enfim se tornou vitoriosa sob o ponto de vista histórico. A pergunta que o autor Aslan então debate é: essa visão teve realmente algo a ver com o verdadeiro Jesus histórico? Citando documentos antigos, trechos da bíblia e estudos acadêmicos, o escritor quer deixar claro em seu livro que há sim uma grande diferença entre o galileu que andou e pregou na Judeia dominada pelos romanos e o Messias que emerge do Novo Testamento. O primeiro teria sido um revolucionário de fato, que queria a expulsão do invasor romano da terra santa enquanto o segundo seria uma adaptação Paulina onde seu fervor nacionalista teria sido amenizado para surgir no lugar um pregador de um mundo mais abstrato, o chamado Reino de Deus, que nada teria a ver de fato com o Império Romano.

O leitor católico deve ler esse livro com uma certa reserva. Sua tese histórica é bem elaborada, porém não me convenceu plenamente. O escritor força a barra muitas vezes, tentando manter sua tese de pé baseada muitas vezes apenas em suposições ou argumentações que nunca foram comprovadas sob o ponto de vista da história. Embora haja referências da antiguidade sobre Jesus, como Josefo que se refere a "Tiago, irmão de Jesus, a quem chamam de Messias" (a mais antiga citação histórica sobre Jesus de Nazaré), o fato é que o evangelho ainda segue sendo a principal fonte sobre a vida e a obra de Jesus. Não adianta ficar discutindo se houve ou não julgamento de Jesus perante Pilatos ou se Jesus era na verdade um mágico que enganava as pessoas. Isso jamais será provado historicamente. A vida de Jesus Cristo está tão intimamente associada a uma convicção religiosa que sempre será uma questão de fé! Como um historiador moderno poderá discutir de forma histórica o advento da ressurreição de Jesus? É simplesmente impossível. Por isso eu até recomendaria o livro para aquele que deseja saber mais sobre o quadro político histórico e social do mundo em que Jesus viveu, mas certamente não indicaria para quem está atrás do Jesus da fé, do coração de cada cristão devoto.

Pablo Aluísio. 

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