Desde os primórdios do cristianismo se debateu bastante sobre a natureza divina de Jesus. Seria o Cristo o próprio Deus ou alguém abaixo da divindade, apenas com poderes de cura e perdão, mas sem se ligar diretamente ao Deus único dos judeus? Os primeiros membros da Igreja Católica em suas comunidades orientais defendiam que Jesus e Deus era uma só entidade. Jesus era o Deus que se fez homem, encarnando na terra para viver entre os homens de seu tempo. O verbo se fez carne, como diria uma conhecida frase dos primórdios do catolicismo.
Essa ideia acabou sendo combatida por um pregador nascido no Egito chamado Ário. Ele viveu por volta do século quarto da nossa era. Culto e enigmático, conseguiu reunir um grande número de adeptos. Ário tinha uma visão diferente de Jesus Cristo. Em sua opinião o messias de fato havia sido o homem mais elevado espiritualmente a caminhar entre a humanidade, mas que em essência era homem e não Deus. Essa forma de encarar Jesus deu origem ao Arianismo, que pregava que o homem poderia ser também extremamente evoluído espiritualmente, tal como Jesus o foi, mas que jamais conseguiria alcançar a glória e a magnitude de Deus, esse ser perfeito e único. Jesus e Deus eram duas individualidades e não apenas uma, como queria fazer crer a Igreja.
Esse tipo de visão ideológica se espalhou e começou a preocupar os doutores e membros do alto clero. O imperador Constantino ainda vivia e estava preocupado com a falta de unidade de pensamento dos membros da Igreja Católica - apesar do arianismo não ser oficialmente adotado pela doutrina cristã muitos bispos da época começavam a adotar sua ideologia, inclusive em seus sermões. Para resolver esse e outros impasses Constantino resolveu reunir os maiores nomes ligados à Igreja Católica para debater o tema. Surgiu assim o encontro em Niceia.
Durante vários dias, bispos e membros da Igreja debateram sobre a verdadeira natureza de Cristo. Havia bons argumentos de ambos os lados mas a visão que prevaleceu foi a da Igreja oriental - já naquela época chamada de ortodoxa - que defendia a tese de que "Cristo e Deus tinham a mesma matéria". Muitos historiadores da teologia cristã afirmam hoje em dia que o debate em Niceia foi muito prejudicado pela falta de mais representantes da Igreja ocidental, que por um motivo ou outro, não fizeram a longa jornada em direção àquela distante cidade.
De uma forma ou outra o arianismo foi deixado de lado pela Igreja Católica de uma vez por todas. A partir daquele momento ficou determinado que "Jesus e Deus formavam uma única pessoa e que Jesus era o próprio Deus que veio ao mundo para salvar a humanidade". Ário morreu provavelmente em 339 mas sua doutrina não! Ela encontrou franco adesão entre os povos bárbaros que vinham do norte da Europa. Ostrogodos e visigodos adotaram a visão ariana de Jesus Cristo. Hoje essa teologia pode inclusive ser encontrada em religiões modernas, como o próprio espiritismo que defende que Jesus era um espírito evoluído mas não o próprio Deus, que seria inalcançável em seu poder e glória.
Pablo Aluísio.
Religião, História
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ResponderExcluirCatolicismo em Maria
Pablo Aluísio.