segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Os Judeus e o Catolicismo

A fé judaica não crê que Jesus Cristo foi o Messias enviado por Deus. Para os judeus Jesus não era em absoluto o Messias e nem tampouco o próprio Deus encarnado na Terra. No máximo Jesus apenas poderia ser encarado, do ponto de vista histórico, como um jovem rabi muito inteligente que tinha uma visão bem diferente e pessoal dos dogmas da religião judaica. Nada mais do que isso. Eles não acreditam nos milagres de Jesus, em suas pregações e nem em seu caráter divino. Os judeus possuem seus próprios dogmas, crenças e ritos religiosos, apesar do Velho Testamento ser uma obra em comum com os cristãos. Durante séculos a Igreja Católica precisou lidar com essa diferença religiosa entre cristãos e judeus. Sendo o próprio Jesus um judeu que viveu no século I e pregou para o povo judeu na Terra Santa, essa diferença de posição religiosa sempre deixou intrigados historiadores e teólogos ao longo dos séculos. O próprio Cristo no Novo Testamento deixou pistas sobre essa questão numa de suas parábolas onde procurou demonstrar que sua missão não seria acreditada por seu próprio povo. Em uma das passagens um judeu pergunta incrédulo: "Não é esse o filho do carpinteiro, filho de José e Maria?".

O Papa Francisco e a Comissão Pontifícia para as Relações Religiosas do Vaticano divulgou recentemente um documento sobre as relações entre a Igreja Católica e o Judaísmo histórico. De acordo com o texto os católicos sempre serão chamados para testemunharem sua fé em Jesus Cristo para todas as pessoas, incluindo os judeus, porém a Igreja não realizará e nem apoiará qualquer iniciativa institucional voltada para a conversão de povos judeus. Uma maneira de respeitar a fé alheia. Como os judeus serão salvos por Deus, mesmo não acreditando em Jesus Cristo, seguirá sendo um mistério divino insondável, segundo a reflexão sincera desse documento católico. De acordo com os doutores e mestres do catolicismo a aliança entre Deus e o povo judeu jamais foi quebrada pois Esse sempre será fiel às suas promessas. O judeu que reconhecer Jesus o fará por sua própria e livre iniciativa, seguindo sua vontade.

O que deve ser sempre celebrado é o diálogo entre católicos e judeus que já dura séculos, sem qualquer incidente histórico mais grave. A tolerância religiosa e o respeito são as chaves para essa boa convivência, algo que vem sendo reforçado diplomaticamente desde sempre, com especial reforço no Concílio Vaticano II. O documento afirma explicitamente que isso não é um "ensinamento doutrinal da Igreja Católica", mas uma reflexão com base na doutrina e que flui diretamente da declaração expressa do próprio concílio denominada "Nostra Aetate" sobre as relações católicas com outras religiões. Nesse mesmo texto fica claro que a Igreja Católica condena de forma veemente todas as formas de anti-semitismo, em especial de ideologias políticas extremistas de ódio como infelizmente aconteceu com o Nazismo durante a II Guerra Mundial.

Não se pode ignorar que as raízes do cristianismo são judaicas. Não se pode compreender inteiramente os ensinamentos de Jesus Cristo sem situá-lo dentro da cultura e da religião judaica do século I. O cristianismo tem como bases históricas a própria vida de Jesus, sua vida, ensinamentos, morte na cruz e ressurreição. A vida de Jesus e sua crença tem um elo de ligação profunda com a religião dos judeus. A vinda do Messias, sua salvação e a redenção que traria ao mundo e à humanidade foi prevista por profetas judeus que tiveram suas palavras, atos e gestos, imortalizados no Velho Testamento que nada mais é do que a Torá dos Judeus. Embora a religião judaica não acredite no Jesus Messias, Ele fez parte dessa longa tradição religiosa que atravessou os milênios.

Os primeiros cristãos, os apóstolos que caminharam ao lado de Jesus, se consideravam judeus e frequentavam as sinagogas da antiga Israel. Lá conviviam ao lado de judeus tradicionais e trocavam ideias e crenças com eles. A ruptura doutrinária e conceitual entre cristianismo e judaísmo só se daria de forma definitiva, segundo historiadores, no século III ou IV, quando o cristianismo se espalhou de forma incontrolável na Europa sob domínio do Império Romano. Nessa nova terra o cristianismo cresceu e rompeu suas raízes com o judaísmo. Ao invés de ser considerada apenas uma pequena seita dentro do próprio judaísmo, a crença no Cristo começou a ser encarado como uma nova religião, baseado inteiramente nos ensinamentos de Jesus. O interessante é que em determinado momento histórico o Cristianismo ia contra as crenças da religião do império romano, o paganismo com suas várias divindades, e também representava uma ruptura com o próprio judaísmo que lhe deu origem. Mesmo assim a crença cresceu e acabou superando enormemente o número de seguidores do judaísmo no mundo, levando em consequência também à extinção a própria religião romana. Mesmo combatida no mundo das ideias e reprimida violentamente pelo Estado Romano, o Cristianismo cresceu e dominou as mentes e corações das pessoas da antiguidade.

Durante a Idade Média houve inúmeros problemas envolvendo cristãos e judeus. A diferença de crenças levou ao aumento do anti-semitismo na Europa. As cruzadas também colocaram de forma muito próxima os cristãos e o povo judeu, naquela altura sendo dominado por califados islâmicos. Embora os cruzados lutassem contra os muçulmanos, nem sempre ocorreram alianças pacíficas entre líderes da religião judaica e cavaleiros templários. Talvez por essa razão Judeus foram perseguidos e seus bens confiscados em todo o mundo. Muitos se converteram ao cristianismo por pura pressão, se denominando de novos cristãos (mesmo que continuassem a cultivar seus rituais judeus em suas casas, de forma privada). A Igreja porém com os séculos se posicionou contra qualquer tipo de violência contra comunidades judaicas, dando origem com o tempo às liberdades religiosas expressas em inúmeras constituições que temos nos dias atuais. Hoje prevalece nos países ocidentais mais civilizados a plena liberdade de culto e crença, com ampla garantia de se seguir qualquer religião, nisso incluídas todas as formas de crença judaica. O passado ficou definitivamente para trás.

Pablo Aluísio.

3 comentários:

  1. Catolicismo em Maria
    A História da Igreja Católica

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  2. "A Salvação é para todos, sem distinção" (Jesus)

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  3. Disse Jesus: "Eu sou o caminho, a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim." (João, 14:6). Ninguém chegará ao pai se não for através de Jesus. Eis um problema central a ser resolvido dentro da religião judaica. Como chegar a Deus sem Jesus?


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