quarta-feira, 4 de julho de 2018

Passageiros

Até que gostei desse filme "Passageiros". Se fosse resumir de uma forma bem concisa diria que é um Sci-fi romântico, uma definição esquisita, mas que tem sua razão de ser. A história do filme se passa toda numa nave espacial. Em viagens de grandes distância - estou aqui me referindo a distâncias cósmicas! - a única forma de manter a vida seria colocar todos os tripulantes e passageiros numa espécie de hibernação. Por um erro do sistema porém um dos membros da tripulação é retirado desse estado. Isso também significaria que ele estaria só pelo resto da viagem que duraria um tempo maior do que a expectativa de vida de um ser humano normal.

Aí entra a grande inventividade do roteiro. Para não ficar solitário até o fim de seus dias esse mesmo tripulante decide tirar uma jovem garota de sua hibernação - para viver ao seu lado. Falta de ética? Absurdo moral? Tudo isso, mas o roteiro tenta contornar essas questões para contar uma história de amor. Com praticamente apenas dois atores em cena (Jennifer Lawrence e Chris Pratt) o filme funciona, o que não deixa de ser uma surpresa. Os dois vão se conhecendo e como estão sozinhos no meio do universo acabam se apaixonando. O filme não fez o sucesso esperado, talvez por não ter sido muito bem entendido e recebido pela crítica, mas vale a pena ser conhecido. É um daqueles roteiros que ficam em nossa mente por bastante tempo, justamente por causa de sua originalidade. Algo, convenhamos, bem complicado de encontrar hoje em dia dentro do cinemão comercial americano.

Passageiros (Passengers, Estados Unidos, 2016) Direção: Morten Tyldum / Roteiro: Jon Spaihts / Elenco: Jennifer Lawrence, Chris Pratt, Michael Sheen, Andy Garcia / Sinopse: Trpulante de uma viagem espacial acaba sendo despertado antes da hora de sua câmara de hibernação. Para não ficar sozinho até o fim de seus dias ele resolve retirar desse estado uma jovem passageira, bem bonita e atraente. Isso acaba selando seus destinos para sempre.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 3 de julho de 2018

Até o Último Homem

Um filme interessante por ser diferente. É a história de um soldado americano chamado Desmond Doss (Andrew Garfield) que é levado para lutar nos campos de batalha da II Guerra Mundial. Até aí, nada demais, seria uma história convencional sobre esse conflito. A diferença vem do fato do jovem soldado ser um adventista do sétimo dia, o que teoricamente o impediria de lutar no front, matando os inimigos. Alegando exceção de consciência (algo que também existe no direito brasileiro) ele então é designado para o corpo médico da corporação. Assim ele vai para a guerra não para tirar vidas, mas sim para salvar as vidas do maior número possível de soldados americanos atingidos pelo fogo inimigo.

A direção é de Mel Gibson. Após alguns anos em que ficou brigado com os principais nomes da indústria cinematográfica americana, ele retornou para dirigir essa produção. Gibson dividiu seu filme em dois atos bem distintos, na primeira parte mostrando aspectos da vida pessoal de seu protagonista e a segunda, já no campo de guerra na Europa, quando seu personagem principal acaba se tornando um herói no front. O segundo ato do filme é bem mais interessante. Gibson mostra muita habilidade em explorar as cenas de batalha. Por fim uma curiosidade histórica. Esse roteiro foi escrito originalmente para ser estrelado por Audie Murphy, um herói de verdade da guerra que havia virado astro de filmes de cowboy nos anos 50.

Até o Último Homem (Hacksaw Ridge, Estados Unidos, Austrália, 2016) Direção: Mel Gibson / Roteiro: Robert Schenkkan, Andrew Knight / Elenco: Andrew Garfield, Hugo Weaving, Vince Vaughn, Sam Worthington / Sinopse: O filme conta a história real do soldado Desmond Doss (Andrew Garfield). Ele é um jovem adventista do sétimo dia que se alista no exército americano durante a Segunda Grande Guerra Mundial. Alegando objeção de consciência (de natureza religiosa), ele acaba se dispondo a ajudar os companheiros no campo de batalha, trabalhando como assistente médico. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Andrew Garfield), Melhor Direção (Mel Gibson), Melhor Edição (John Gilbert), Melhor Mixagem de Som (Kevin O'Connell e Andy Wright) e Melhor Edição de Som (Robert Mackenzie e Andy Wright).

Pablo Aluísio. 

Um Limite Entre Nós

Uma das melhores atuações da carreira do ator Denzel Washington que inclusive deveria ter sido premiado com o Oscar por esse seu trabalho. Em ritmo teatral ele interpreta um lixeiro chamado Troy. No passado ele foi considerado um promissor jogador de beisebol, mas a promessa não se cumpriu. O tempo passou, ele envelheceu e diante de uma família para criar acabou arranjando um trabalho comum. Isso porém não tornou Troy uma pessoa amargurada ou depressiva. Ele tem seus valores e não deixa de ser um homem muito rico em experiências de vida. Sua visão de mundo pode até ser considerada dura demais pela esposa, filhos e amigos, mas é assim que ele pensa.

O roteiro traz ótimos diálogos para o elenco. Nesse altura de sua carreira é realmente um presente para Denzel Washington encontrar um texto tão bom para declamar em cena. Entre risos e lágrimas, ele demonstra que é um dos grandes atores de sua geração. Palmas merecidas também para Viola Davis. Premiada como melhor atriz no Oscar e no Globo de Ouro, ela é sem dúvida a alma de um filme muito humano, muito caloroso e também verdadeiro. Provavelmente Denzel Washington tenha criado um carinho tão grande pelo filme que resolveu ele mesmo dirigir. Acabou fazendo também uma excelente direção de atores. Enfim, se você é fã e admirador de Washington não pode deixar passar em branco esse fenomenal momento de sua filmografia. Filme realmente grandioso.

Um Limite Entre Nós (Fences, Estados Unidos, 2016) Direção: Denzel Washington / Roteiro: August Wilson / Elenco: Denzel Washington, Viola Davis, Stephen Henderson, Jovan Adepo, Russell Hornsby, Mykelti Williamson / Sinopse: Troy (Denzel Washington) é um pai de família que trabalha como lixeiro na cidade onde vive. Além das dificuldades do trabalho duro, ele ainda precisa lidar com todos os problemas familiares que vão surgindo em sua vida, sempre com uma visão peculiar, própria, do mundo. Filme premiado no Oscar e no Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante (Viola Davis). Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Ator (Denzel Washington), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Somente o Mar Sabe

Desconhecia totalmente a história que é baseada em fatos reais. Nos anos 60 um prêmio foi prometido ao primeiro navegador que conseguisse dar a volta ao mundo em um veleiro. Detalhe importante: o navegador teria que viajar completamente sozinho, sem o apoio de ninguém. Isso chama imediatamente a atenção de Donald Crowhurst (Colin Firth). Ele é inventor nas horas vagas e apesar de ter um pequeno barco sua experiência em alto-mar é zero. Mesmo assim ele resolve ir atrás de investidores para a aventura. Representando a Inglaterra, logo começa a colocar em prática seus planos. Ele mesmo desenha o projeto do veleiro e após alguns atrasos finalmente consegue colocar o barco no mar. Não há tempo a perder e no mesmo dia em que a embarcação fica pronta ele entra na competição.

O que mais me deixou surpreso nesse filme é que ele conta na verdade uma história que de certa maneira envergonha os ingleses em geral. Não vou soltar spoiler, mas o fato é que o personagem de Colin Firth passa longe de ser um herói da história britânica. No começo do filme você é levado a pensar que se trata de mais um daqueles heróis improváveis que vencendo todas as adversidades acaba fazendo um grande feito pessoal, mas não é nada disso. Embora retratado como bom pai de família, logo que se vê no meio do oceano começa a surgir nele uma personalidade mesquinha, trapaceira, que parece disposto a tudo para alcançar a fama. Conforme o tempo passa, ele também começa a demonstrar sinais de desequilíbrio mental, talvez e muito provavelmente, por ter ficado meses isolado no meio do oceano. Enfim, não é um filme para todos os públicos. Não há heroísmo e nem orgulho, mas apenas muita vergonha em cima de tudo o que aconteceu.

Somente o Mar Sabe (The Mercy, Inglaterra, 2018) Direção: James Marsh / Roteiro: Scott Z. Burns / Elenco: Rachel Weisz, Colin Firth, David Thewlis / Sinopse: Um homem comum, bom pai de família, decide participar de uma competição de volta ao mundo em um veleiro. O navegador precisa viajar completamente sozinho pelo oceano, dar a volta ao mundo e voltar para a Inglaterra no menor tempo possível. O primeiro lugar receberá uma bela bolada em dinheiro. O problema é que a viagem acaba se tornando um desafio acima das possibilidades, levando o navegador solitário a tomar atitudes completamente desprezíveis sob o ponto de vista ético e moral.

Pablo Aluísio.

A Melhor Escolha

Esse filme vai falar mais fundo ao povo dos Estados Unidos, em especial aos familiares que perderam entes queridos nas diversas guerras que o país se envolveu nesses últimos anos. É a história de três veteranos da guerra do Vietnã que se reencontram muitos anos depois. Claro que o tempo colocou cada um deles em caminhos diferentes na vida, mas eles voltam a se reunir justamente para o enterro do filho de um deles, um rapaz morto na ocupação do Iraque. Larry 'Doc' Shepherd (Steve Carell) é o pai do jovem soldado morto. Ele resolveu procurar por Sal Nealon (Bryan Cranston), velho amigo dos fuzileiros, para que ele ajude no enterro de seu filho. Ao contrário de Doc que é um sujeito introvertido, Sal é pura extroversão. Dono de um pequeno bar, ele fala pelos cotovelos. Mulherengo e expansivo, é um bom contraponto ao antigo colega de farda.

O último a se juntar ao trio é Richard Mueller (Laurence Fishburne). Na época da guerra do Vietnã ele era um soldado que gostava de jogar cartas e mulheres de bordel. Agora, passados tantos anos, virou pastor de uma pequena igreja de sua cidade. O passado ele quer deixar para trás, mas os antigos companheiros do serviço militar surgem para trazer tudo de volta. O roteiro se desenvolve assim, com os três amigos indo para o funeral do jovem fuzileiro. O choque de personalidades entre eles é o grande fator dramático explorado pelo roteiro. No geral achei um filme com narrativa bem convencional. A única coisa fora do comum é a atuação do ator Steve Carell que deixou a comédia de seus filmes anteriores para abraçar um papel bem de acordo com a proposta do enredo. Então é isso, basicamente um filme sobre o funeral de um soldado, filho de outro soldado, que tenta superar os traumas de um passado no campo de combate.

A Melhor Escolha (Last Flag Flying, Estados Unidos, 2017) Direção: Richard Linklater / Roteiro: Richard Linklater, Darryl Ponicsan/ Elenco: Bryan Cranston, Laurence Fishburne, Steve Carell, J. Quinton Johnson / Sinopse: O filme conta a história de três veteranos de guerra que voltam a se reunir após muitos anos. Eles seguem juntos para o enterro de um jovem fuzileiro naval, filho de Doc, um dos veteranos do Vietnã.

Pablo Aluísio.

domingo, 1 de julho de 2018

Os Estranhos: Caçada Noturna

O primeiro filme não havia me agradado muito. Embora bem feito, achei extremamente violento e brutal, além de trazer um final em aberto que parecia premiar os psicopatas do enredo. Esse segundo filme segue basicamente as mesmas linhas do anterior, mas com mudanças que me deixaram mais satisfeito como espectador. A premissa básica segue muito parecida. Uma família decide passar alguns dias de férias em um hotel isolado, pertencente a um parente. Ao chegarem lá descobrem que o lugar está meio abandonado, sem ninguém por perto. Uma estranha garota bate a porta da família perguntando por uma pessoa que não existe. Depois ela retorna para fazer a mesma pergunta. Bizarro, algo não está certo.

E realmente não está, em pouco tempo a família de mascarados psicopatas surge, com a finalidade de matar a todos. Não existe - como também não existia no primeiro filme - qualquer motivação para a matança. O roteiro também não se preocupa em mostrar a história ou o passado da família de mascarados, apenas em mostrar o sangue jorrando. Claro, não é um filme indicado para pessoas mais sensíveis ou que estejam procurando por diversão sadia. Isso porém não desqualifica "Os Estranhos" como franquia de sucesso, já que no subgênero gore ele está muito bem representado. Obviamente o roteiro se rende a alguns clichês do estilo, como a extrema ingenuidade (diria até burrice) das vítimas, mas cenas mais bem idealizadas garantem o interesse, entre elas citaria o assassinato a facadas na piscina, com toda aquela iluminação ultra brega desse tipo de hotelzinho que existe nos Estados Unidos. Fora isso também destaco a trilha sonora, cheia de hits radiofônicos dos anos 80, algo sutil que acaba tornando tudo ainda mais sinistro e macabro.

Os Estranhos: Caçada Noturna (The Strangers: Prey at Night, Estados Unidos, 2018) Direção: Johannes Roberts / Roteiro: Bryan Bertino, Ben Ketai / Elenco: Christina Hendricks, Martin Henderson, Bailee Madison / Sinopse: Duas famílias. A primeira resolve se hospedar em um pequeno hotel isolado. A segunda é formada por psicopatas que usam máscaras sinistras. O encontro entre as duas famílias vai gerar um banho de sangue no meio da madrugada. E não haverá a quem pedir socorro.

Pablo Aluísio.

Rota de Fuga 2

Muito ruim esse novo filme de Stallone! Aliás usar essa expressão nem é tão certa porque apesar de Stallone estar no elenco ele na verdade apenas vendeu a franquia "Escape Plan" para produtores chineses. Assim vários personagens orientais foram adicionados no roteiro e o que era para ser a continuação do primeiro filme de 2013 virou apenas uma venda comercial para o promissor mercado de filmes da China. E o que restou dessa transação comercial? Muito pouco. Em termos cinematográficos o filme é, como já escrevi, muito ruim. Parece que os produtores chineses fizeram de propósito para que o filme acabasse se parecendo com aquelas fitas B de Hong Kong. O roteiro é do tipo trash, mero pretexto para uma série de lutas de kung fu. Nada mais do que isso.

E qual é o enredo que ele conta? O personagem de Stallone, que era um prisioneiro no primeiro filme, agora é dono de uma empresa de seguros, mera fachada para uma equipe de resgate de presos em prisões de segurança máxima, do tipo alta tecnologia. Quando dois membros de seu grupo são aprisionados em uma prisão oriental chamada Hades, Stallone tenta tirá-los de lá. O problema é que a prisão não é a mesma, ou seja, ela muda de layout todos os dias. Uma prisão cujas paredes é móvel, tornado quase impossível uma fuga. Lendo assim a sinopse pode até parecer algo interessante, mas não se engane, o filme é realmente péssimo, mal produzido, mal roteirizado, com jeito de cinema oriental de qualidade ruim. Não adiante encarar. E o pior é que não vai parar por aí. Um terceiro filme já intitulado "Escape Plan 3: Devil's Station" já está em pós-produção. Haja ruindade!

Rota de Fuga 2 (Escape Plan 2: Hades, China, Estados Unidos, 2018) Direção: Steven C. Miller / Roteiro: Miles Chapman / Elenco: Sylvester Stallone, Dave Bautista, Xiaoming Huang, Jesse Metcalfe, 50 Cent / Sinopse: Sob a fachada de uma seguradora, o empresário Ray Breslin (Sylvester Stallone) monta uma equipe especializada em fugas de prisões de segurança máxima, de alta tecnologia. Quando dois membros de sua equipe são presos na Hades, uma prisão no Oriente, ele forma um grupo especial com o objetivo de resgatá-los de lá o mais rapidamente possível.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Sansão e Dalila

Sansão e Dalila é certamente uma das histórias mais conhecidas do velho testamento. Em sua trama desfilam bravos guerreiros, mulheres fatais e a rejeição à idolatria do povo conhecido como Filisteu. Embora citado na Bíblia a história de Sansão é muito lacunosa pois o texto original não entra em maiores detalhes sobre sua vida pessoal. Sansão de certa forma parece ser uma adaptação do semi Deus Hércules da mitologia clássica. Aqui todos os elementos estão presentes: a força sobre-humana, a luta contra o opressor estrangeiro e a fé que move montanhas, ou no caso de Sansão, derruba colunas de um templo pagão dedicado a um falso Deus. Mesmo com tantos pontos omissos do texto sagrado os roteiristas fizeram um bom trabalho pois o filme é sem dúvida uma boa aventura com cenas marcantes - como a luta de Sansão contra um leão e o clímax final onde ele derruba todo um templo apenas com a força de sua fé inabalável. Uma bela matinê no final das contas.

Em termos de elenco temos Victor Mature como Sansão. Ele era um ator de poucos recursos dramáticos. Forte e adequado fisicamente ao papel tenta contornar sua falta de talento com carisma e eloquência ao declamar o texto de seu personagem. Seus melhores momentos são justamente àqueles em que a força física se torna mais importante, como a que ele surge cego e aprisionado em um grande moinho de grãos. Já a Dalila é interpretada pela bela Hedy Lamarr, considerada uma das mais bonitas atrizes da história de Hollywood. Sua interpretação é apenas correta. Dalila é em essência uma personagem complexa que ama e odeia Sansão na mesma intensidade. Curiosamente Lamarr se sai bem em cena, embora em nenhum momento sua atuação salte aos olhos. Se não é brilhante pelo menos não compromete o que é um ponto positivo.

A produção foi assinada por Cecil B. DeMIlle, um produtor completamente megalomaníaco. Se havia uma produção épica milionária em projeto ele era a pessoa certa para tornar realidade esse filme.Aqui ele até está de certa forma mais controlado. O filme não tem grandes cenas de multidão e nem batalhas épicas. Na realidade a trama, mais centrada no relacionamento de Sansão e Dalila, não dá margens a cenas grandiosas demais como em outros filmes dele. A única sequência mais exigente nesse aspecto é a cena final no templo filisteu mas mesmo essa, se comparada com outras momentos de DeMille no cinema, soa modesta. Os figurinos porém são realmente excessivos com muito uso de brilho e dourado. A figurinista Edith Head parece querer compensar a falta de exuberância do resto do filme com suas roupas chamativas e coloridas.

O filme também foi dirigido também por DeMille que não se contentou apenas em produzi-lo. Aqui talvez esteja a maior falha de "Sansão e Dalila". A direção de atores deixa realmente a desejar. DeMille parecia ser um grande diretor de multidões, do coletivo, já no nível individual ele se sai pior. Nada nesse aspecto se sobressai, nem nas várias sequências de Sansão e Dalila juntos. Pelo menos ele não errou no corte da duração e fez um filme mais enxuto evitando produções longas demais. Nesse aspecto acertou.

Sansão e Dalila (Samson and Delilah, EUA, 1949) Direção e Produção: Cecil B. DeMille / Roteiro: Jesse Lasky Jr, Fredric M. Frank baseado em história do Velho Testamento / Elenco: Hedy Lamarr, Victor Mature, George Sanders / Sinopse: Sansão (Victor Mature) é um judeu que se apaixona pela filesteia Semadar (Angela Lansbury). Essa é a irmã mais velha de Dalila (Hedy Lamarr) que também sente atração pelo forte Sansão. O destino porém os unirá em uma história de paixão, poder, traição e fé. Baseado no livro dos juízes do velho testamento da Bíblia.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 26 de junho de 2018

O Mar é Nosso Túmulo

Título no Brasil: O Mar é Nosso Túmulo
Título Original: Run Silent Run Deep
Ano de Produção: 1958
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Robert Wise
Roteiro: John Gay, Edward L. Beach
Elenco: Clark Gable, Burt Lancaster, Jack Warden, Brad Dexter

Sinopse:
Após ver seu submarino ser destruído em combate o capitão 'Rich' Richardson (Clark Gable) usa de sua influência política para receber o comando de uma nova embarcação. Assim ele é nomeado comandante novamente para retornar as costas do Japão. Seu primeiro oficial, o tenente Jim Bledsoe (Burt Lancaster), logo percebe que Richardson está obcecado em retornar ao mesmo lugar onde seu antigo submarino foi destruído. Mesmo contrariando ordens superiores, ele avança rumo em direção ao mesmo ponto onde se travou a batalha anterior, colocando em risco a vida de todos os tripulantes. Filme premiado pelo Laurel Awards na categoria de Melhor Fotografia em Preto e Branco (Russell Harlan). 

Comentários:
O cenário onde se trava todo o enredo de "Run Silent Run Deep" é o mar da costa do Japão durante a Segunda Guerra Mundial. É justamente lá que o obcecado capitão 'Rich' Richardson (Clark Gable) deseja se vingar de seus algozes, que colocaram a pique seu submarino anterior, matando muitos de seus homens. Obviamente que em um conflito tão complexo como aquele não haveria espaço para vinganças pessoais e é justamente isso que o coloca em rota de colisão com o tenente Jim Bledsoe (Burt Lancaster). Esse filme tem ótimo elenco e melhora bastante pelo fato de haver uma constante tensão entre os personagens de Gable e Lancaster. Esse último foi destituído de última hora do comando para dar lugar ao capitão interpretado por Gable, algo lamentado por toda a tripulação. Para piorar a vida daqueles militares seu novo comandante parece carregar traumas de guerra, querendo o tempo todo partir para uma briga de fundo pessoal contra um navio de guerra japonês em particular, justamente o mesmo que afundou seu submarino alguns meses antes. 

O filme é curto, mas muito eficiente. Uma obra cinematográfica enxuta que se propõe a contar uma estória de vingança e redenção em plena guerra e o faz muito bem. Tecnicamente o filme envelheceu, como era de se esperar, pois as miniaturas dos navios e submarinos se tornam bem óbvias em determinadas cenas, mas o espectador deve encarar tal situação como fruto das próprias limitações em termos de efeitos especiais da época. Aliás haverá até mesmo o afloramento de um sentimento de nostalgia ao ver essas sequências. De forma em geral é um bom filme de guerra, encarando o cotidiano de militares servindo em um submarino americano da época, durante a segunda grande guerra. Em relação a isso o filme também merece elogios pois os cenários do interior da embarcação são extremamente realistas, mostrando ambientes pequenos e claustrofóbicos, tal como na vida real. Dizem que Clark Gable e Burt Lancaster não se deram muito bem nas filmagens, mas isso não passa para a tela, prejudicando o resultado final, que repito é muito bom e especialmente indicado para fãs de filmes clássicos de guerra.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Irma la Douce

Título no Brasil: Irma la Douce
Título Original: Irma la Douce
Ano de Produção: 1963
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Billy Wilder
Roteiro: Billy Wilder,  Alexandre Breffort
Elenco: Jack Lemmon, Shirley MacLaine, Lou Jacobi, Bruce Yarnell 

Sinopse:
Irma La Douce (Shirley MacLaine) é uma prostituta das ruas de Paris que acaba tendo sua vida mudada com a chegada de um novo policial no local onde "trabalha". Nestor Patou (Jack Lemmon) é um novato na corporação que segue a lei ao pé da letra. Quando percebe que há um batalhão de mulheres nas ruas esperando seus clientes, decide prender todas elas, causando um verdadeiro rebuliço em seu departamento de polícia. A partir daí, contra todas as previsões, acaba se apaixonando justamente por Irma, que não está disposta a mudar a forma como leva sua "profissão". Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante (Shirley MacLaine) e Melhor Fotografia (Joseph LaShelle) e vencedor na categoria de Melhor Canção Original (André Previn). Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz - Comédia ou Musical (Shirley MacLaine).

Comentários:
O diretor Billy Wilder conseguiu aqui nesse filme algo bem raro de se alcançar no mundo do cinema. Baseado na peça escrita originalmente por Alexandre Breffort, Wilder conseguiu realizar um filme leve, divertido, em cima de um tema que a priori deveria ser tratado como algo realmente barra pesada. Imagine contar a estória de uma prostituta de rua em Paris, explorada por cafetões violentos, que acaba se apaixonando por um policial e mesmo assim transformar tudo em uma obra com muito bom humor e leveza. Certamente não é algo fácil de se realizar. Há estereótipos nesse roteiro que deixariam as feministas de hoje em dia com os cabelos em pé. A personagem Irma La Douce interpretada por Shirley MacLaine é um exemplo. Assim que se liberta das garras de um cafetão que lhe agride sempre que possível, resolve, com muito orgulho, sustentar um novo namorado (justamente o ex-policial vivido por Jack Lemmon). Ela tem grande prazer em lhe comprar coisas caras, mesmo que seja desesperadamente pobre e more em um cortiço. 

Nos tempos politicamente corretos em que vivemos, haveria muita má vontade se "Irma la Douce" chegasse hoje em dia aos cinemas. Deixando isso um pouco de lado temos que tecer vários elogios para o elenco. Shirley MacLaine ainda estava em seu auge, tanto em termos de simpatia como de beleza. Ela imprime um certo exagero em sua caracterização (que acaba sendo bem-vindo) pois sua personagem prostituta está sempre fumando e agindo com uma certa vulgaridade, embora seja no fundo apenas uma mulher que tente levar a vida adiante naquela situação. Ela engana propositalmente seus clientes contando estórias inventadas de um passado de dramas, apenas para ganhar mais alguns trocados no final de seus programas. Vestindo um figurino quase sempre verde, acaba trazendo para sua personagem uma imagem que depois será complicada de esquecer, de tão marcante. Já Jack Lemmon dá vida ao policial Nestor Patou, um sujeito simplório e até ingênuo, que acredita que deve aplicar a lei, mesmo que ela esteja em desuso e seja considerada inconveniente, como no caso das prisões de prostitutas de rua. Aliando o talento da dupla central com a fina ironia de Billy Wilder temos de fato uma obra bem divertida, com ótimos momentos, apesar de seu tema complicado.

Pablo Aluísio. 

Baionetas Caladas

Título no Brasil: Baionetas Caladas
Título Original: Fixed Bayonets
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Samuel Fuller
Roteiro: Samuel Fuller
Elenco: Richard Basehart, Gene Evans, Michael O'Shea, Richard Hylton

Sinopse:
Durante a Guerra da Coreia (1950 - 1953), um general americano decide recuar seu exército. Para que a manobra seja bem sucedida e segura, ele determina que um pequeno pelotão fique na retaguarda para evitar ao máximo a aproximação do exército inimigo. A missão, considerada suicida por muitos, acaba sendo colocada em prática com o pagamento de um alto preço em termos de bravura e vidas humanas. Roteiro baseado na novela de John Brophy.

Comentários:
Um dos clássicos da filmografia do genial cineasta Samuel Fuller (1912 - 1997). O diretor ficou conhecido na história do cinema americano por realizar obras que desvendavam a alma humana, mesmo contando com poucos recursos e orçamentos econômicos. Aqui temos um bom exemplar de sua filmografia. O enredo se passa todo em uma região montanhosa e gelada, nos postos mais avançados da fronteira coreana. Os soldados que são deixados para trás para evitar um combate direto com as forças inimigas, praticamente se colocam numa situação de tentar sobreviver o máximo de tempo possível para que seus companheiros em armas consigam se retirar do front sem baixas. Seu número é infinitamente menor, mas contando apenas com sua coragem devem enfrentar com baionetas fixadas (daí o título original do filme) as tropas vermelhas que estão chegando em grande número e armadas com material bélico pesado, inclusive tanques de infantaria. Enquanto os soldados americanos ficam entrincheirados, eles tentam com armadilhas, usando até minas terrestres (hoje tão condenadas por vários tratados internacionais), deter o poderoso exército inimigo. O roteiro não se foca em particular em nenhum personagem, uma característica que Samuel Fuller repetiria anos depois em "Agonia e Glória", mas ao mesmo tempo tenta desenvolver psicologicamente cada um dos membros do pelotão.  Assim ele consegue a um só tempo dar um rosto para aqueles combatentes sem esquecer que se trata mesmo de um exército, enfocando sua força coletiva. Em suma, o que basicamente temos aqui é um filme clássico sobre uma guerra pouco explorada pelo cinema americano, mostrando o drama de soldados que sabem que provavelmente não sairão vivos da missão que lhes foi ordenada, mas que mesmo assim lutam, em nome de suas vidas e de sua pátria.

Pablo Aluísio.

domingo, 24 de junho de 2018

Garotas Lindas aos Montes

Título no Brasil: Garotas Lindas aos Montes
Título Original: Pretty Maids All in a Row
Ano de Produção: 1971
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer
Direção: Roger Vadim
Roteiro: Gene Roddenberry, Francis Pollini
Elenco: Rock Hudson, Angie Dickinson, Telly Savalas, Roddy McDowall

Sinopse:
Um grupo cada vez maior de garotas começa a ser atacado por um criminoso desconhecido. As jovens e bonitas estudantes de um colégio na região logo ficam assustadas, com medo de saírem na rua. Michael 'Tiger' McDrew (Hudson), por outro lado, não parece se importar muito. Para ele o que realmente importa é aumentar cada vez mais o número de conquistas amorosas. Roteiro escrito por Gene Roddenberry, o criador da famosa série televisiva "Jornada nas Estrelas" (Star Trek).

Comentários:
Quando esse filme chegou aos cinemas o New York Times ironizou ao dizer: "Poxa, os filmes com Rock Hudson mudaram muito desde os tempos de suas doces e inocentes comédias românticas ao lado de Doris Day!". Era uma ironia que no fundo retratava uma verdade. "Garotas Lindas aos Montes" mostrava bem que não havia mais espaço para a inocência dentro do cinema americano. O personagem de Rock Hudson hoje em dia seria visto como um cafajeste ou em uma visão mais crítica, um misógino. Trabalhando em um High School da Califórnia (o equivalente a uma escola de ensino médio no Brasil), ele não se importa em agir fora dos padrões e seduzir quem quer que cruze seu caminho. O personagem de Rock exala sexualidade à flor da pele e com isso leva para a cama as colegas professoras, as alunas e até mesmo as secretárias. Curiosamente o próprio Rock afirmou na época que estava em busca de um papel assim, para mudar sua imagem de bom mocismo construído após tantos anos de carreira. O problema é que o público não o queria ver em personagens desse tipo e o filme afundou feio nas bilheterias, se tornando logo um grande fracasso comercial. A fita chegou até mesmo a ser rotulada de "vulgar e apelativa", dois adjetivos que jamais seriam usados nos antigos filmes de Rock. Revisto hoje em dia podemos perceber que há uma clara tentativa de ser mais ousado e moderno, pegando carona com o clima cultural da época. O problema é que não convence muito, nem mesmo na suposta trama de crime e mistério. Teria sido melhor para Rock rodar um quarto filme ao lado de Doris Day, usando daquela antiga fórmula de sucesso. Esse aqui, pelo visto, não agradou mesmo ao público da época.

Pablo Aluísio.

Beija-me, Idiota

Título no Brasil: Beija-me, Idiota
Título Original: Kiss Me, Stupid
Ano de Produção: 1964
País: Estados Unidos
Estúdio: 20th Century Fox, United Artists
Direção: Billy Wilder
Roteiro: Billy Wilder, I.A.L. Diamond
Elenco: Dean Martin, Kim Novak, Ray Walston, Felicia Farr

Sinopse:
Dino (Dean Martin) é um cantor de sucesso em Las Vegas que precisa chegar em Los Angeles o mais rapidamente possível para uma apresentação na TV. No meio do caminho precisa desviar de rota, indo parar na distante cidadezinha de Climax. Lá acaba encontrando, por puro azar, com dois compositores amadores que vêem sua presença como a grande chance deles em emplacar uma música de sucesso. Um deles trabalha no posto de gasolina local e finge um problema no motor do carro de Dino para que ele fique por lá por mais tempo. O outro lhe oferece sua própria casa para que o cantor descanse um pouco enquanto seu carro é consertado. Tudo com o objetivo de convencer Dino a gravar uma de suas composições de péssimo gosto musical. O problema é que o astro de Vegas acaba se interessando em conhecer a mulher de um deles, que aliás é doente de ciúmes. Está armada a confusão na pequenina cidade.

Comentários:
Billy Wilder foi de fato um gênio do cinema. Seus textos são bem característicos e ele conseguia fazer um humor inteligente mesmo nas situações mais comuns. Nesse filme temos uma amostra de seu talento. Wilder aqui se aproveita da figura da celebridade. Dean Martin está genial interpretando... Dean Martin! Isso mesmo, em fato único de sua carreira, ele na realidade apenas interpreta a si mesmo. O filme aliás se aproveita muito bem disso, abrindo com um número musical de Dino no Sands Hotel em Las Vegas. Lá ele cantava (maravilhosamente bem, por sinal), contava piadas e se aproveitava de sua imagem pública de Mr. Cool, o sujeito bom de copo, relaxado e calmo, que ganhava a vida fazendo aquilo que muitos gostariam de fazer. Há coristas por todos os lados tentando levá-lo para a cama, e aquela insuspeita tranquilidade de um astro da música. O curioso é que o texto de Wilder brinca o tempo todo com o clichê que se espera de um cantor famoso, ou seja, do conquistador inveterado, que não perdoa nem mesmo as mulheres casadas, desde que sejam lindas, claro! Assim Wilder vai jogando o tempo todo com o tema, amplificando ainda mais esses estereótipos quando Dean vai parar numa cidadezinha perdida de Nevada chamada Climax. No local não há nada, a não ser dois compositores amadores que fariam de tudo para que ele gravasse uma de suas músicas. Certamente é um dos melhores momentos de Dean Martin no cinema, livre de sua parceria com Jerry Lewis ele brilha sozinho, sendo dirigido por um grande diretor e contando com um roteiro e um texto que são verdadeiras delícias para os cinéfilos. Também não podemos esquecer de elogiar o ótimo elenco de apoio, em especial Kim Novak, mostrando ter grande feeling para comédias de costumes como essa. "Kiss Me Stupid" é isso, um dos melhores filmes das carreira de Martin e Wilder, e isso definitivamente não é pouca coisa.

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de junho de 2018

Terra dos Faraós

Título no Brasil: Terra dos Faraós
Título Original: Land of the Pharaohs
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Howard Hawks
Roteiro: William Faulkner, Harry Kurnitz
Elenco: Jack Hawkins, Joan Collins, Dewey Martin, James Robertson Justice
 
Sinopse:
Queóps (Jack Hawkins), o poderoso faraó do Egito Antigo, decide após mais uma campanha militar vitoriosa, construir uma pirâmide para que todos os seus tesouros conquistados e seu corpo após a morte fiquem a salvo de ladrões de tumbas. Para isso manda o arquiteto Vashtar (James Robertson Justice) elaborar o projeto da maior construção da humanidade até então, um colosso com mais de três milhões de blocos de imensas pedras, uma obra que levaria 20 anos para sua finalização, a grande pirâmice de Gizé que tornaria o nome de Queóps imortal.

Comentários:
Pouco se sabe historicamente sobre o faraó Khufu (mais conhecido pela civilização ocidental por seu nome grego, Queóps). Ele reinou na quarta dinastia do Egito, há mais de seis mil anos! Seu nome ainda hoje é lembrado por causa da maior pirâmide jamais construída, em Gizé, uma das poucas maravilhas do mundo antigo que conseguiu sobreviver ao teste do tempo. Como todo faraó, Queóps era adorado como um Deus e sua vontade era lei, até mesmo atos de megalomania impensados para os dias atuais. Assim após juntar tesouros inigualáveis roubados de povos conquistados ele pensou numa forma de levar toda aquela riqueza consigo, mesmo depois de sua morte. A construção da pirâmide iria garantir a imortalidade de sua alma e manteria seus bens materiais seguros de ladrões de tumbas. A religião do Egito Antigo tinha imensa preocupação com a vida após a morte, por essa razão os faraós eram enterrados junto aos seus tesouros. Em sua crença eles iriam desfrutar de todas as riquezas também no mundo espiritual. Noventa por cento do que você verá nesse filme é mera ficção. Como as fontes históricas sobre Queóps são poucas e esparsas, o jeito foi escrever uma história para ele meramente ficcional. A sorte para o espectador é que esse roteiro foi escrito pelo autor William Faulkner, um mestre em boas estórias e bons enredos. Ele escreveu uma obra sóbria, sem os exageros típicos de Hollywood em filmes épicos desse período. Amparado por uma milionária produção, muito bem realizada, com milhares de figurinos, o filme se torna uma diversão acima da média por causa de seu talento nato. O cineasta Howard Hawks conseguiu assim realizar um dos mais ambiciosos projetos de sua carreira e curiosamente um dos mais equilibrados também. Um belo filme que tenta reconstruir um dos mais importantes períodos da história da humanidade, sem exageros e que no final de tudo acaba se saindo muito bem em seus objetivos.

Pablo Aluísio.

A Mulher Desejada

Título no Brasil: A Mulher Desejada
Título Original: The Woman on the Beach
Ano de Produção: 1947
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: Jean Renoir
Roteiro: Frank Davis, Jean Renoir
Elenco: Joan Bennett, Robert Ryan, Charles Bickford

Sinopse:
O filme narra um complicado triângulo amoroso. Após o tenente Scott Burnett (Robert Ryan), um oficial da Guarda Costeira, salvar a bela Peggy (Joan Bennett) na praia surge um flerte casual entre ambos, afinal são atraentes, simpáticos e bonitos. Tudo seria ideal para o surgimento de um grande romance se não fosse um detalhe crucial: Peggy já é casada com Tod (Charles Bickford), um pintor frustrado que é muitos anos mais velho do que ela. O casamento resistirá à presença do tenente na vida de Peggy?

Comentários:
Filme de traição e reviravoltas dirigido pelo francês Jean Renoir (1894 - 1979). Aclamado por filmes como "A Grande Ilusão" (1937), "A Regra do Jogo" (1939) "Bas Fonds" (1936) e "A Besta Humana" (1938), a principal preocupação da obra de Renoir era a alma humana e sua complexidade psicológica. Seus personagens de forma em geral eram pessoas torturadas, que tinham que lidar com situações extremas. Aqui há um clima de tensão que se arrasta por toda a trama, fruto da inegável atração entre o capitão interpretado por Robert Ryan e a personagem Peggy vivida por Joan Bennett. Inicialmente o maridão Tod acaba recebendo o salvador de sua esposa como um amigo, porém o perigo mora ao lado. Ele está ficando cego e incapaz de pintar o que torna sua situação ainda mais delicada. Como não consegue despontar como pintor ele acaba presenciando a ruína de toda a sua vida, pois até mesmo seu casamento fica por um fio. Na época de seu lançamento o roteiro trouxe um diálogo que ficou conhecido quando o marido Tod começa a entender que sua esposa está prestes a lhe trair. Enfurecido, ele dispara em direção à mulher: "Eu posso sentir o cheiro de seu ódio! Ele não é diferente de seu amor!". Além da boa trama o filme se apoia bastante no carisma dos atores principais, em especial Joan Bennett, uma bela atriz que conseguia impressionar não apenas por sua beleza, mas também por seu talento dramático. Já Robert Ryan também está perfeito no papel, até porque ele também havia sido militar na vida real, servindo na Marinha Americana durante a Segunda Guerra Mundial. Aqui ele está completamente à vontade vestindo a farda que usou durante longos anos. Não deixe de conferir "The Woman on the Beach" se você gosta de romances com finais trágicos e cortantes. Certamente não se arrependerá.

Pablo Aluísio.