quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Damages

Damages é a melhor série jurídica nos últimos anos. Com roteiros extremamente bem escritos e linhas narrativas ousadas considero esse um dos melhores momentos da TV americana, talvez sofisticado até demais para o público daquele país. "Damages" surgiu em 2007 e até agora já conta com cinco temporadas totalizando 59 episódios. A proposta é ousada: mostrar o dia a dia da bem sucedida advogada de Nova Iorque Patty Hewes (Glenn Close). Dona de um dos grandes escritórios da cidade ela contrata a jovem Ellen Parsons (Rose Byrne) como sua assistente. Recém saída da faculdade Ellen terá grandes surpresas na vida prática do mundo do direito e das leis. Damages é recomendada para todos os públicos mas para quem atua na área jurídica é particularmente saborosa. Como advogado me identifiquei completamente com os dramas, anseios e conflitos mostrados nas temporadas. Quem já se envolveu em um processo judicial sabe muito bem como essa pode ser uma experiência de vida inigualável em nossas vidas. Nos tribunais desfilam dramas de vida que modificam o modo de ser e de pensar de todos os envolvidos, sejam leigos ou profissionais como advogados, juízes e promotores.

Damages é particularmente inspirada nesse aspecto pois mostra sem receios que no mundo das leis podemos encontrar tanto enorme satisfação ao ver a justiça sendo realizada como também a frustração ao presenciar a mais absoluta injustiça sendo implantada. A melhor temporada sem dúvida foi a primeira, ousada e intrigante, mostrou de forma clara o enorme talento de Glenn Close. Sua carreira vinha em controle remoto no cinema e sua transposição para a televisão foi um achado pois ela é simplesmente brilhante e não deve ser limitada por filmes de segunda categoria. Rose Byrne, que conheci primeiramente aqui em Damages, também é excepcional. Sua Ellen Parsons é o contraponto ideal à personagem de Close. Um grande duelo de grandes atuações. Como já afirmei sempre achei Damages extremamente sofisticada e por essa razão a série sofreu problemas de audiência nos EUA, saindo de seu canal de origem para ser produzida pelo sistema DirectTV daquele país. Por essa razão não é tão fácil acompanhá-la mas o esforço certamente valerá a pena. Damages é visceral, impactante e marcante. Simplesmente não há como deixar de assistir.

Damages (Damages, Estados Unidos, 2007 - 2012) Criada por Glenn Kessler, Todd A. Kessler, Daniel Zelman / Direção: Glenn Kessler, Todd A. Kessler, entre outros / Roteiro: Glenn Kessler, Todd A. Kessler, Daniel Zelman entre outros / Elenco: Glenn Close, Rose Byrne, Tate Donovan, Ted Danson, Timothy Olyphant, William Hurt, John Goodman, Ryan Phillippe, Lily Tomlin / Sinopse: Damages mostra a vida da advogada Patty Hewes (Glenn Close), especializada em enfrentar grandes corporações e empresas nos Tribunais de Nova Iorque.

Pablo Aluísio.

Possessão

"Possessão" é a nova produção de Sam Raimi. Depois que deixou a franquia Homem-Aranha ele tem produzido alguns filmes interessantes. A premissa desse aqui lembra um pouco antigos episódios da série "Além da  Imaginação". Tudo gira em torno de uma antiga caixa. Ela é comprada por uma garotinha chamada Emily (Natasha Calis) e levada para casa. O que ela nem desconfia é que o objeto é um instrumento religioso judeu usado no passado para aprisionar espíritos malignos conhecidos como Dybbuks. Depois que abre a caixa começa a desenvolver um estranho comportamento que lembra e muito o que vimos no famoso "O Exorcista". Desesperado seu pai procura ajuda na sinagoga local onde conhece um jovem rabino, conhecido como Tzado (interpretado pelo cantor de reggae Matisyahu). Depois de um começo até promissor o filme cai na vala comum desse tipo de produção: cenas de exorcismos e muita luta para expulsar o ser maligno do corpo da garotinha. Os produtores informam que tudo é baseado em fatos reais, coisa bem complicada de se acreditar.

Há pouco tempo comentei que filmes sobre exorcismos estavam rendendo boas bilheterias e que por isso teríamos uma nova safra desse sub-gênero. "Possessão" segue essa linha. O filme até que não é de todo mal. Há uma clara intenção dos realizadores em fazer algo mais realista, apesar do tema. A garotinha possuída, por exemplo, não faz nada de muito absurdo em cena - nada de subir em paredes ou algo do tipo. A única coisa mais fora do normal em cena seriam os momentos em que o Dybbuk começa a se materializar dentro da menina, como que querendo sair de dentro dela (algo que é explorado pelo cartaz da produção). Mas mesmo isso é mais utilizado como uma metáfora da luta pela posse do corpo da jovem. "Possessão" teve uma bilheteria morna em seu lançamento nos EUA e por isso quase não encontra espaço para ser lançado nos cinemas brasileiros. O que o salvou foi o bom desempenho no mercado internacional o que fez a distribuidora finalmente decidir por lançar o filme em nossos cinemas. No saldo geral não é o melhor e nem o pior dessa nova safra de filmes sobre possessões demoníacas. Dá para assistir numa boa, sem aborrecimentos mas também sem maiores surpresas. Se já viu algum filme de possessão em sua vida certamente não encontrará nada de novo aqui.

Possessão (The Possession, Estados Unidos, 2012) Direção: Ole Bornedal / Roteiro: Juliet Snowden, Stiles White / Elenco: Natasha Calis, Jeffrey Dean Morgan, Kyra Sedgwick, Matisyahu / Sinopse: Garotinha é possuída por um antigo espírito maligno da religião judaica. Para recuperar sua filha um pai recorre aos serviços de um jovem rabino que resolve enfrentar o Dybbuk em uma cerimônia de exorcismo.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Os Mercenários 2

Com certo atraso finalmente conferi esse "Os Mercenários 2". A premissa é praticamente a mesma do primeiro filme: reunir o maior número possível de ícones do cinema de ação para juntos participarem de uma espécie de celebração ao gênero. Tudo soa como uma grande diversão descompromissada onde detalhes que são importantes para outros filmes (como um roteiro bem escrito, por exemplo) são deixados de lado. Novamente o time é liderado por Sylvester Stallone. Aqui ao lado de seu braço direito (Jason Statham) e demais mercenários (Dolph Lundgren, Jet Li, Liam Hemsworth, etc) ele parte em busca de um dispositivo que contém a localização de uma mina com várias cargas de plutônio. Esse como se sabe é vital para a construção de armas nucleares e caso caia em mãos erradas pode colocar a segurança mundial em risco. O enredo é mera desculpa para uma sucessão de cenas de ação que primam pela pirotecnia e exagero (tal como ocorria nos filmes da década de 80). A boa notícia é que "Os Mercenários 2" flui melhor do que o primeiro filme. Já não existe aquela preocupação em se levar muito à sério. A trama é simplória mas funciona bem dentro de seus modestos propósitos.

O que vale mesmo a pena é rever todos os brucutus símbolos de uma era que já não existe mais. Nesse quesito três participações chamam mais a atenção. A mais divertida é a de Chuck Norris. A cena em que surge no filme é realmente hilariante. Além de uma sátira é também uma homenagem a esse ator que representou como ninguém os exageros dos filmes da década de 80. A própria cena em que aparece é bem bolada nesse sentido uma vez que Norris ficou mesmo conhecido por interpretar personagens que liquidavam sem muito esforço um exército inimigo inteiro praticamente sozinho. Como já fazia um bom tempo que tinha visto algo com ele o achei terrivelmente envelhecido - meio que escondido sob um figurino que tenta disfarçar o fato de ter mais de 70 anos de idade. Outras duas participações interessantes são as de Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis. O bordão "I´ll Be Back" volta na boca do austríaco mas ele já o usou tantas vezes ao longo dos anos que já encheu a paciência. Willis segue com seus biquinhos, aqui tentando parecer menos canastrão do que o habitual. O vilão é feito por Jean Claude Van Damme. Achei injusto colocar apenas ele para enfrentar todos aqueles valentões da década de 80 - pareceu um jogo bem desigual! Pior é acreditar que ele apanharia tão feio de Stallone. Enfim, chega de maiores especulações. "Os Mercenários 2" é pipoca pura, diversão sem maiores pretensões. Talvez seja o último da franquia uma vez que não rendeu o esperado. Se for já está de bom tamanho até porque a aposentadoria já soa como uma ótima idéia para todos esses atores veteranos.

Os Mercenários 2 (The Expendables 2, Estados Unidos, 2012) Direção: Simon West / Roteiro: David Agosto, Ken Kaufman / Elenco: Jason Statham, Bruce Willis, Liam Hemsworth, Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Jean-Claude Van Damme, Jet Li, Chuck Norris, Dolph Lundgren, Scott Adkins / Sinopse: Grupo de mercenários tenta recuperar carregamento de plutônio que está prestes a ser vendido para criminosos internacionais. O minério é matéria prima para a construção de armas nucleares.

Pablo Aluísio.

Histeria

Histeria foi uma denominação genérica usada nos séculos XIX e começo do XX que designava o estado em que certas mulheres ficavam por estarem insatisfeitas sexualmente. Nessas condições as mulheres apresentavam certos desvios de comportamento que a ciência médica sem uma definição melhor do que seria simplesmente qualificava como Histeria. Esse é justamente o ponto de partida dessa curiosa produção que tem feito bom desempenho nas bilheterias. Na história (que foi baseada em fatos reais) acompanhamos dois médicos, Robert (Jonathan Pryce) e Mortimer (Hugh Dancy), que tentam encontrar  uma solução ou uma cura para a histeria das mulheres dentro da rígida sociedade britânica. Após vários estudos chegam a um equipamento movido a energia elétrica que promete ser a solução da histeria entre as mulheres. Esse acessório hoje é conhecido popularmente como "vibrador" e é vendido em qualquer sex shop da esquina. O interessante de Histeria é que apesar do tema inusitado (o enredo nada mais é do que a história da invenção do vibrador feminino) consegue mostrar tudo isso com fina discrição e elegância. 

A produção é de classe, os figurinos da época, os costumes da sociedade, os padrões morais reinantes, fruto da era Vitoriana, tudo passeia na tela com o que há de melhor em termos de reconstituição histórica. Talvez toda essa sutileza do filme seja decorrência do fato de ter sido dirigido por uma mulher. A cineasta Tanya Wexler não deixa nunca o filme cair no lugar comum ou na vulgaridade. Até nas cenas mais fortes isso nunca acontece. Apesar do tema ser tão inglês a diretora Tanya é americana, jovem e com poucos filmes no currículo. Mesmo assim em momento algum sentimos qualquer sinal de inexperiência ou falta de rumo na condução da história, pelo contrário, tudo flui com rara sensibilidade. O elenco, pouco conhecido do grande público brasileiro, também não fará diferença. No final o público será presenteado com uma história intrigante, curiosa e até mesmo romântica. O filme está em cartaz em todo o Brasil por isso não perca a chance de conhecer "Histeria", um belo programa que mescla história, curiosidade e romance. 

Histeria (Hysteria, Estados Unidos, Inglaterra, 2012) Direção: Tanya Wexler / Roteiro: Jonah Lisa Dyer, Stephen Dyer / Elenco: Maggie Gyllenhaal, Hugh Dancy, Jonathan Price, Felicity Jones, Rupert Everett, Ashley Jensen, Sheridan Smith / Sinopse: Dois médicos ingleses em busca da cura da chamada Histeria entre as mulheres resolvem criar um aparelho elétrico para combater esse mal e nesse processo acabam inventando o vibrador feminino.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

007 Contra GoldenEye

Pierce Brosnan foi um dos melhores atores a interpretar James Bond. Isso ainda não está muito claro na mente das pessoas porque seu reinado na pele do famoso personagem foi bem recente e geralmente só após muitos anos é que o trabalho de um ator que faz Bond é finalmente reconhecido. Mesmo assim, talvez sendo cedo demais, não tenho medo de fazer essa afirmação. Pierce foi um dos que mais se aproximaram do Bond dos livros. De uma forma ou outra todos os demais atores que fizeram Bond apresentavam algum tipo de problema em cena. Sean Connery foi quase perfeito mas não tinha o perfil ideal para o Bond bonitão das páginas de Ian Fleming. Ele sempre estava lutando com problemas de calvície e Bond definitivamente não poderia ser careca. Roger Moore que o sucedeu, era muito fanfarrão, seus filmes quase viraram chanchadas cômicas ao longo dos anos. Timothy Dalton não tinha o carisma suficiente e George Lazenby teve seu tapete puxado cedo demais. Hoje temos Daniel Graig que também não considero o ideal - é carrancudo e sem charme. Não tem finesse e por essa razão seus filmes precisam de ação constante para o público não perceber essa falha. Já Brosnan era elegante, fino, boa pinta e tinha um toque de ironia ideal (sem os exageros de Roger Moore). Por isso não hesito em dizer que ele foi ótimo como James Bond.

Seu primeiro filme foi esse  "007 Contra GoldenEye", uma produção muito equilibrada que tentava revitalizar o famoso espião para o novo público jovem que frequentava as salas de cinema. A franquia vinha com problemas sérios, havia processos para todos os lados - fruto da briga pelos direitos autorais - e uma sensação de que o espião poderia até nunca mais voltar às telas de cinema. Após chegarem a uma conciliação finalmente deram o pontapé inicial para trazer James Bond de volta. Pierce Brosnan era o nome mais natural já que ele deveria ter assumido o posto após a aposentadoria de Roger Moore e só não o fez porque tinha obrigações contratuais com outros projetos que o impediram de fazer "007 Marcado Para a Morte" que foi realizado com Dalton. Na metade da década de 90 finalmente surgiu uma nova oportunidade e dessa vez ele a agarrou com unhas e dentes. O enredo girava em torno de um projeto de satélites chamado GoldenEye que poderia desestabilizar o Reino Unido caso seu controle caísse em mãos erradas. Era um bom argumento, divertido, que agradou ao grande público. O filme teve ótima bilheteria superando os 300 milhões de dólares, provando que Bond ainda era um produto de apelo popular. Brosnan recebeu uma boa cota de elogios e garantiu seu lugar para uma sequência. Nada mal para uma franquia que havia sido declarada morta para a sétima arte.

007 Contra GoldenEye (GoldenEye, Estados Unidos, Inglaterra, 1995) Direção: Martin Campbell / Roteiro: Michael France baseado na obra de Ian Fleming / Elenco: Pierce Brosnan, Sean Bean, Izabella Scorupco, Famke Janssen, Gottfried John, Alan Cumming, Judi Dench / Sinopse: O agente James Bond (Pierce Brosnan) tenta evitar que a rede de satélites GoldenEye seja utilizada para desestabilizar a paz e a ordem nos países ocidentais.

Pablo Aluísio.

O Fim da Escuridão

Mel Gibson é sem sombra de dúvidas um dos ícones do cinema de ação das décadas de 80 e 90. Colecionando um sucesso atrás do outro ele até mesmo conseguiu transpor a complicada barreira que separa as profissões de ator e diretor. Hoje é reconhecido nos dois segmentos. Gibson porém estava longe dos cinemas desde 2003 e só retornou mesmo em 2010 com esse "O Fim da Escuridão". Para quem sempre foi sinônimo de ótimas bilheterias esses sete anos afastado pareceram uma eternidade. Mas afinal o que aconteceu? Bem, aconteceu de tudo na vida de Gibson. Ele se divorciou da esposa que estava junto a ele por décadas e com quem teve vários filhos, brigou com a imprensa, voltou a beber de forma descontrolada, se envolveu em acidentes, ofensas raciais, ameaças de morte e o diabo a quatro. Não me admira em nada que no meio do caos que virou sua vida tenha sido tão complicado voltar ao cinema. O pior é que após tanto tempo fora dos holofotes sua volta gerou grande expectativa. Uma pena que tudo tenha terminado em frustração.

"O Fim da Escuridão" é um filme fraco, cheio de clichês e que a despeito de ser classificado como filme de ação, nesse campo não convence, pelo contrário, faz mesmo é aborrecer o espectador. A produção tem ritmo pesado, pouco fluido e cai muitas vezes no tédio. Gibson também não colabora, está preguiçoso, com má vontade e em nenhum momento parece estar muito interessado. Talvez tenha sido pelo fato de ter sido dirigido por Martin Campbell de 007 Cassino Royale. Dizem que ator e diretor se desentenderam no set e Gibson jurou nunca mais trabalhar sob as ordens de ninguém - o que talvez justifique o fato de ter dominado seu filme posterior, esse sim muito bom, "Plano de Fuga". O clima ruim e pesadão das filmagens parece ter passado para o resultado final. Gibson parece entediado e sem garra. O roteiro fraco é a pá de cal em um filme bem decepcionante. Seu único mérito talvez tenha sido trazer o antigo astro de volta das sombras em que andava vivendo. Fora isso nada de muito digno de nota acontece.

O Fim da Escuridão  (Edge of Darkness, Estados Unidos, 2010) Direção: Martin Campbell / Roteiro: William Monahan / Elenco: Mel Gibson, Danny Huston, Shawn Roberts, Bojana Novakovic / Sinopse: Thomas Craven (Mel Gibson) é um detetive do departamento de homicídios da cidade de Boston cuja filha ativista é morta bem em frente à sua residência. Inconformado pelo crime bárbaro ele resolve ir a fundo para descobrir quem cometeu esse ato cruel e desumano.

Pablo Aluísio. 

domingo, 11 de novembro de 2012

Frankenweenie

Tim Burton é um diretor sem meio termo. A maioria dos cinéfilos ou o adoram às raias da insanidade ou o odeiam com força total. Eu sou da minoria, nunca fui fã a ponto de amar tudo o que o diretor fez durante esses anos e nem odiei seus trabalhos menos inspirados. Mesmo assim confesso que andava muito decepcionado com ele. Achei sinceramente "Alice" e principalmente "A Fantástica Fábrica de Chocolates" duas enormes bobagens, no mau sentido da palavra mesmo. Filmes sem alma, sem propósitos claros. Mas ei que surge esse pequeno conto, quase uma fábula chamada  Frankenweenie. Para quem estava sentindo falta do lado mais autoral do cineasta essa animação é certamente um prato cheio. É o que chamo de obra com coração. Longe dos interesses comerciais de um "Alice", Burton finalmente reencontra o caminho do bom cinema. Impossível realmente não se encantar com o lirismo de Frankenweenie. Cada cena é caprichosamente preparada, cada diálogo está muito bem escrito, cada nuance fica em seu lugar adequado. Sem favor nenhum digo que é desde já um dos melhores trabalhos do diretor que estava realmente devendo nesse aspecto. A cereja do bolo é a técnica em stop motion que nos remete imediatamente aos filmes da infância. Se fosse digital perderia certamente parte de seu encanto.

Na verdade Frankenweenie é um velho projeto, realizado quando Burton ainda era um aspirante à cineasta. O curta original foi rodado em 1984 mas recusado pelo estúdio que o qualificou como "sombrio demais" e com "tintas que lembram em demasia produções trash". É até fácil compreender esse tipo de coisa pois na época ninguém ainda conhecia o estilo de Tim Burton, estilo esse que em poucos anos cairia no gosto popular e renderia excelentes bilheterias mundo afora. Agora, consagrado e podendo ter o controle criativo, Burton resolveu resgatar essa velha idéia que realmente não envelheceu, ainda cativando quem a assiste, mesmo agora nessa releitura tardia. A trama é simples mas comovente até. Victor Frankenstien (Charlie Tahan) é um garotinho que se vê sozinho após a morte de seu grande amigo e companheiro, o cãozinho Sparky. Como é um pequeno gênio consegue através de uma técnica toda especial trazer seu animal de estimação de volta à vida. O problema é que seu feito se espalha na sua comunidade, o que lhe trará muitas confusões. É óbvio que após ler esse pequeno resumo o leitor vai se lembrar da trama do clássico de terror. Frankenstein de Mary Shelley.. É isso mesmo, Tim Burton fez uma alegoria da famosa estória e uma homenagem ao cinema da década de 30. O resultado é charmoso, comovente e cativante. Uma pequena obra prima da filmografia do diretor. Não deixe de conferir.

Frankenweenie (Frankenweenie, Estados Unidos, 2012) Direção: Tim Burton / Roteiro: John August / Elenco (vozes): Winona Ryder, Catherine O'Hara, Martin Short, Conchata Ferrell, Tom Kenny, Martin Landau, Atticus Shaffer, Charlie Tahan, Robert Capron, James Hiroyuki Liao, Christopher Lee / Sinopse: Após perder seu cachorrinho de estimação um garoto resolve lhe trazer de volta á vida, o que lhe trará sérios problemas depois. 

Pablo Aluísio.

Poder Paranormal

A premissa de "Poder Paranormal" é das melhores. O roteiro discute, até com certa inteligência, o eterno duelo entre ciência e religião, racionalidade e misticismo. Essa luta é travada em cena por dois personagens centrais. Do lado da razão e do ceticismo temos a doutora  Margaret Matheson ( Sigourney Weaver). Há anos ela vem desmascarando médiuns, curandeiros e charlatões em geral. Usando de métodos científicos ela vai derrubando um a um os picaretas que usam a fé alheia como forma de enriquecimento ilícito. Do outro lado, defendendo o lado do misticismo e dos poderes paranormais se encontra Simon Silver (Robert De Niro). Ele alega ter poderes sobrenaturais, de curas espirituais e de mediunidade. Além de entortar colheres com o puro uso da mente ainda consegue atingir os que lhe desafiam apenas com a força do pensamento. Um antigo jornalista que o perseguia sofreu uma parada cardíaca enquanto discutia com Silver durante uma de suas apresentações. Teria o grande espiritualista parado o coração de seu opositor apenas para mostrar o poder de sua mente privilegiada? Afinal ele é um charlatão ou realmente um médium com poderes paranormais além da compreensão da ciência humana? A luta se trava justamente entre essas duas formas de pensar.

Obviamente que um roteiro desses teria que tomar uma posição. Ou abraçaria a linha mais racional ou então optaria por uma abordagem mais paranormal. O curioso é que ao longo do filme a trama ora pende para um lado, ora para o outro, sem definição precisa, levando o espectador de um lado ao outro da balança. A chave de toda a trama também se desvia para um personagem secundário que mantém em si todo o segredo do que acontece ao longo do filme. "Poder Paranormal" no final das contas é um bom filme, não é excepcional, mas pelo menos procura ter uma postura menos fantasiosa sobre tudo. O tema vai interessar a muitos e acredito que levantará bom debate, muito embora pessoalmente tenha ficado um pouco decepcionado com o clímax da produção. Mesmo assim se destacam as atuações corretas de todo o elenco, inclusive de Robert De Niro (se afastando um pouco das bobagens que andou participando) e Sigourney Weaver (sempre surgindo com boas atuações). Já  Cillian Murphy não fica nas sombras e consegue atuar de igual para igual com esses dois grandes intérpretes. Assim fica a recomendação, o filme tem um lado mais pé no chão mas mesmo assim não deixa o suspense de lado. No final das contas merece certamente ser conhecido.

Poder Paranormal (Red Lights, Estados Unidos, 2012) Direção: Rodrigo Cortés / Roteiro: Rodrigo Cortés / Elenco: Sigourney Weaver, Robert De Niro, Cillian Murphy, Elizabeth Olsen, Toby Jones / Sinopse: Uma renomada professora e seu assistente desvendam e desmascaram médiuns e charlatões em geral. Agora terão que enfrentar um famoso curandeiro que afirma que provará que a ciência está errada.

Pablo Aluísio.

sábado, 10 de novembro de 2012

Ted

Muito barulho por nada. Assim definiria toda a repercussão e polêmica que Ted tem causado no Brasil. Acontece que um parlamentar brasileiro levou seu filhinho para assistir Ted e ao se deparar com a temática mais ácida do filme sentiu-se ofendido, ultrajado. Quanta bobagem! Ted não é e nunca foi um filme para crianças. Aliás nada do que faz Seth MacFarlane é indicado para crianças. Seu trabalho utiliza de certos formatos mais associados ao mundo infantil - como desenhos animados, por exemplo - para ironizar a sociedade atual, mas tudo feito com humor adulto. Crianças muito pequenas jamais vão entender as referências pop e as sátiras que MacFarlane escreve. Dito isso o que faltou ao nobre parlamentar foi mesmo um pouco mais de cultura pop para compreender de quem se tratava e o do que ele fazia. Agora deixando essas bobagens de lado vamos falar um pouco sobre o filme. Não é de hoje que conheço a obra de Seth MacFarlane. Acompanho com regularidade suas séries animadas, principalmente "Family Guy" e "American Dad". Acho realmente tudo muito criativo, ácido, corrosivo mesmo. Ele é muito imaginativo e dificilmente assisto algum episódio que deixe a desejar (o nível de qualidade que ele impõe em suas animações é realmente impressionante). Como conheço bem seu trabalho na TV e tendo em vista toda essa polêmica que foi criada em torno do filme acabei criando grandes expectativas em relação a Ted. Estava esperando algo realmente marcante, surpreendente, inovador... bom estava... mas....

Ted é um dos trabalhos mais quadrados que já vi de MacFarlane! Quando o filme acabou eu fiquei perplexo em constatar como ele ficou careta em Hollywood! Claro que há palavrões, humor grosseiro e até desrespeitoso com certos grupos sociais mas isso já se encontra em "Family Guy" em doses generosas há anos. Ted em essência é muito convencional em sua estrutura. A estorinha de amor entre o casalzinho é muito água com açúcar - e o própria narrativa ao estilo conto de fadas é de doer de tão bobinho e forçado. Certo que o ursinho bebe, fuma maconha e sai com prostitutas mas e daí? Isso já se encontra na série de TV Wilfred onde um advogado fuma maconha com seu cãozinho de pelúcia no porão de sua casa. Então não vi nada de original nisso. De certa forma se salvam algumas piadinhas aqui e acolá - em especial as com o filme Flash Gordon que são bem divertidas- mas é pouco. Eu me decepcionei até com a voz que MacFarlane criou para Ted, uma variação pouco inspirada na voz que ele criou para o cachorro Brian de "Family Guy". Logo ele que é um brilhante dublador não teve nem o cuidado de criar algo novo para Ted? Aliás o próprio personagem Ted tem muita coisa de Brian, quase uma cópia fiel. Não houve surpresas então quando apareceu em cena. Em conclusão Ted deixa a desejar. Passa longe da metralhadora criativa de seus trabalhos na TV e derrapa feio no romancezinho sem graça do casal central. Quem diria que esse filme seria tão formulaico hein?! Sorte na próxima vez no cinema Seth, porque nessa sinceramente não deu.

Ted (Ted, Estados Unidos, 2012) Direção: Seth MacFarlane / Roteiro: Seth MacFarlane / Elenco: Mark Wahlberg, Mila Kunis, Seth MacFarlane, Giovanni Ribisi,   Patrick Stewart,  Norah Jones / Sinopse:  John Bennett é um garotinho de oito anos que ganha um ursinho no natal. Após desejar que ele fale seu pequeno brinquedo começa realmente a falar e interagir com todos, o que traz muita felicidade para o pequeno garoto em sua infância. O problema é que após se tornar adulto o urso Ted se torna um problema para ele, principalmente no que diz respeito a seu relacionamento com sua namorada.

Pablo Aluísio.

Falcão Negro em Perigo

"Falcão Negro em Perigo" é um filme de guerra stricto sensu. O que significa isso? Significa que seu roteiro não perde tempo com aspectos externos ao que ocorre fora do front, do campo de batalha. Há uma situação de combate no centro da trama e é nisso que o filme literalmente centra fogo. Sem perda de tempo com abobrinhas ou maior desenvolvimento dos combatentes. Eles são militares, estão sob fogo cruzado e vão rebater com artilharia pesada. Simples assim. No fundo é um projeto muito pessoal do diretor Ridley Scott. Muito provavelmente comovido pelos acontecimentos de 11 de setembro ele resolveu filmar esse evento histórico real que aconteceu no distante país africano da Somália. Esse é um daqueles países que vive mergulhado em sangrentas guerras civis sem fim. Mostra bem a triste realidade da África, como se não bastasse ser o continente mais miserável do planeta ainda é dominado por ditadores sanguinários quem nem pensam duas vezes em exterminar seu próprio povo. E justamente lá que chega um grupo de militares especializados das forças armadas norte-americanas formada pelos esquadrões Delta Force e Rangers. Eles estão no país em busca de terroristas internacionais mas bem no meio da missão um acidente acontece e eles ficam sob fogo cerrado do inimigo. A partir daí o filme não perde mais tempo, com ação da primeira à última cena.

O resultado soa bem realizado mas por vezes confuso e violento além da conta. Não foi intenção de Ridley Scott filmar mais uma patriotada americana mas lidando com um tema desses ficou quase impossível de não cair na armadilha. Não há um personagem central que chame a atenção e o foco do espectador e assim é inevitável que o público fique meio perdido no meio de tantos tiroteios, gritos, edição nervosa e frenética. É curioso que um diretor como Ridley Scott tenha dirigido um filme assim, que se esquece completamente de dar uma noção melhor a quem assiste dos personagens em cena. Tecnicamente não há como negar que o filme beira à perfeição - tanto que venceu os Oscars técnicos de seu ano (Som, Edição e Montagem). Se fosse menos frenético provavelmente teria ganho mais simpatias dos membros da Academia em outras categorias importantes. Muito se comentou em seu lançamento da semelhança com Soldado Ryan mas esse tipo de comparação realmente não procede uma vez que "Falcão Negro em Perigo" é muito mais modesto em suas pretensões. Visto como pura adrenalina o filme realmente funciona muito bem, porém como obra cinematográfica faltou um pouco mais de capricho na apresentação de seus personagens. Mesmo com essa falha é válido recomendar a produção, principalmente para os fãs de filmes mais viscerais.

Falcão Negro em Perigo (Black Hawk Down, Estados Unidos, 2001) Direção: Ridley Scott / Roteiro:: Ken Nolan / Elenco: Josh Hartnett, Ewan McGregor, William Fichtner, Eric Bana, Tom Sizemore, Jason Isaacs, Jeremy Piven, Sam Shepard, Orlando Bloom. / Sinopse: Durante a Guerra Civil da Somália um grupo de soldados americanos são enviados ao front com o objetivo de capturar membros terroristas leais ao ditador do país. Dois helicópteros Black Hawk são derrubados durante a operação e os militares americanos encurralados no local entram em uma ferrenha batalha campal contra as forças da região.

Pablo Aluísio.