quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A Origem

"A Origem" é uma excelente ideia que ficou no meio do caminho. Seu roteiro chama a atenção pela extrema imaginação e originalidade, seu argumento é ótimo com uma ideia central muito rica em possibilidades, com tudo bem costurado, coerente e fechadinho mas que se perde em uma narrativa sofrível que prejudica muito o filme no saldo final. Em poucas palavras: Um roteiro extremamente criativo que afunda numa edição ruim e numa linha narrativa pior ainda. Também falta coragem em se assumir como uma ficção totalmente inteligente e conceitual. No desespero de agradar aos mais jovens que frequentam cinema hoje em dia o diretor Christopher Nolan se acovardou e encheu a produção de correrias, tiroteios ultra exagerados (e bregas) tornando tudo banal, mais do mesmo. Não ousou ir até o fim, até as últimas consequências (como Kubrick fazia em seus filmes). Poucas vezes vi um ponto de partida tão promissor se perder em um emaranhado tão vasto de bobagens de estilo e cenas de ação gratuitas. A ideia central do filme não é complicada de se seguir (embora tenha deixado alguns espectadores sem entender muito bem o que acontece). Basicamente é uma alegoria do inconsciente que aqui deixa de ser meramente individual para se tornar coletivo, em um plano compartilhado por várias pessoas ao mesmo tempo. Falando assim até parece sem sentido, mas não é. Quem assistiu sabe disso. O problema é que o diretor Nolan faz um rocambole dos diabos com isso.

O calcanhar de Aquiles de "A Origem" é essa: as coisas acontecem em um ritmo tão acelerado e desorganizado que deixa o espectador médio aturdido. Faltou ao diretor organizar melhor as ideias e as distribuir na sequência de cenas de uma forma menos caótica. A terça parte final do filme é um verdadeiro abismo em termos de edição. Temos três níveis de sonhos, mais delírios de subconsciente e lembranças tudo misturado em uma quase inexistente linha de narração. A impressão nítida que tive foi que Nolan se perdeu totalmente nessa parte do filme. As coisas são literalmente vomitadas em cima do espectador que fica sem saber direito o que está afinal acontecendo. Alguns se esforçam para seguir o fio da meada mas pelo pude constatar na sala que assisti a maioria simplesmente desistiu de tentar acompanhar. Para esses Nolan distribuiu fartas cenas de ação vazias que permeiam toda a narrativa. Estaria tentando acordar os mais sonolentos? Foi o que me pareceu. Assim em determinado momento a produção se torna muito chata, afundada numa sucessão de sonhos dentro de sonhos que por sua vez estão dentro de outros sonhos. O filme também é muito pretensioso mas não cumpre o que prometia. Em poucas palavras: se torna um filme intragável para grande parte do público. Realmente faltaram foco, organização, ousadia e sensibilidade no resultado final. Espero sinceramente que Nolan não leve todos esses defeitos para o próximo Batman. Pretensão demais pode levar qualquer filme à sua própria ruína.

A Origem (Inception, Estados Unidos, 2011) Direção de Christopher Nolan / Roteiro: Christopher Nolan / Elenco: Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page / Sinopse: Don Cobb (Leonardo Di Caprio) é um especialista em adentrar sonhos e mentes alheias com objetivos ilegais e ilícitos. Em uma dessas invasões acaba se envolvendo em uma rede de interesses industriais e comerciais do qual não consegue mais ter controle.

Pablo Aluísio.

Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras

Sherlock Holmes (Robert Downey Jr) investiga uma série de atentados a bomba ocorridos em Londres e Paris. Suas investigações acabam levando ao eminente e conceituado Professor James Moriarty (Jared Harris) que ao que tudo indica tem vários interesses comerciais envolvidos nos atos de terrorismo. O novo filme da franquia Sherlock Holmes segue várias premissas do primeiro. Infelizmente esse novo rumo que o personagem Sherlock Holmes tomou no cinema não me agrada. Os livros e filmes baseados em Holmes sempre foram fundados em cima de mistérios, investigações e deduções lógicas. As tramas inteligentes sempre foram seu forte mas nessa nova franquia isso é deixado de lado para dar mais espaço para a ação, correria e pirotecnia. Para falar a verdade Sherlock virou uma espécie de James Bond do século 18, sem consistência e sem a fina inteligência que sempre o caracterizou em livros e filmes. Uma pena. A nova proposta nunca me agradou, nunca me convenceu. Holmes virou um produto pop chiclete para ser consumido em cinemas de Shopping Center. Dito isso, aqui nesse segundo filme pelo menos melhoraram um pouco. Atribuo isso ao uso de várias passagens de livros diversos de Sherlock que os roteiristas pincelaram aqui e acolá. A salada literária até que funciona em alguns momentos (como o jogo de xadrez entre Sherlock e Moriarty) mas deixa novamente a desejar no saldo final.

Outro problema chama a atenção nesse novo filme. Robert Downey Jr continua sem encontrar o tom certo do papel. O sofisticado e elegante Sherlock vira um sujeitinho neurótico, nervoso, com tiques psicóticos na pele de Downey. Aliás tudo isso é característico do ator Robert Downey Jr e não do personagem Holmes. No fundo ele interpreta a si mesmo. Acho sua caracterização bem pobre nesse aspecto. Nesse ponto Jude Law se sai melhor na pele do Dr Watson. Também gostei de Jared Harris como Professor Moriarty. Todo grande personagem tem que ter um vilão à altura. Harris supre muito bem esse vácuo que era muito sentido no primeiro filme. Já o diretor Guy Ritchie continua com seus maneirismos habituais. A edição do filme é esquizofrênica, ágil, tudo de acordo com o pensamento dos executivos da indústria do cinema americano que hoje pensam sinceramente que todo espectador sofre de déficit de atenção e por isso usam uma explosão a cada cinco minutos de filme. Enfim, ainda não foi nessa produção que acertaram o tom do famoso personagem mas há sensíveis melhorias. Não é o ideal mas já melhoraram um pouco. Espero que melhore ainda mais daqui em diante pois sou fã confesso do detetive famoso. Dias melhores virão.

Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras (Sherlock Holmes: A Game of Shadows, Inglaterra, Estados Unidos, 2012) Direção: Guy Ritchie / Roteiro : Kieran Mulroney & Michele Mulroney baseado na obra de Sir Arthur Conan Doyle / Elenco: Robert Downey, Jr, Jude Law, Jared Harris, Rachel McAdams, Stephen Fry / Sinopse: Sherlock Holmes (Robert Downey Jr) investiga uma série de atentados a bomba ocorridos em Londres e Paris. Suas investigações acabam levando ao eminente e conceituado Professor James Moriarty (Jared Harris) que ao que tudo indica tem vários interesses comerciais envolvidos nos atos de terrorismo.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Cisne Negro

Nina Sayers (Natalie Portman) é uma jovem bailarina que tem que lidar com as pressões e os desgastes emocionais e psicológicos provenientes de sua escolha para participar de uma grande produção de "Cisne Branco". Eis aqui um dos melhores filmes dos últimos dez anos em Hollywood. Uma produção que consegue aliar boa arte, sofisticação e popularidade uma vez que alcançou um belo resultado nas bilheterias, o que me deixou surpreso em certo sentido pois não o considero um filme para todos os públicos. Ele não tem qualquer característica que o transforme em um produto pop de fácil consumo. Pelo contrário, "Cisne Negro" é um raro caso atual de primor cinematográfico. Seus vinte minutos finais são soberbos, um dos melhores clímax que o cinema americano conseguiu produzir em muito tempo. O filme todo aliás é um atestado do talento do cineasta Darren Aronofsky que, na minha opinião, está seguramente entre os cinco melhores diretores em atividade no momento. A fusão cinema e espetáculo transborda em cada cena, em cada momento desse filme extremamente inspirado (e inspirador). É uma aula de bom cinema!

O roteiro é muito bem escrito e tem subtextos bem relevantes. O primeiro é aquele que mostra um velho problema que atinge certos pais quando eles tentam compensar suas frustrações pessoais almejando de todas as formas se realizarem em seus filhos, a todo custo. Nesse aspecto Nina é apenas uma vítima nas mãos de sua mãe, uma bailarina frustrada. Outro aspecto importante é o que coloca em oposição a beleza da dança com a rudeza do mundo dos bastidores da companhia de ballet retratada no filme. É um contraste que chama muita atenção e choca pelo realismo apresentado. Nem é necessário citar também o conflito psicológico proveniente da pressão extrema pela qual passa Nina, que no fundo é apenas uma jovem meiga e terna (como o próprio Cisne Branco da peça). Por fim temos Natalie Portman. O que falar de sua interpretação? Ela está fenomenal mesmo e sua premiação com o Oscar foi uma das mais justas da história da Academia. Ela não apenas interpretou pois na minha opinião fez algo a mais, “incorporou” o papel, como nos bons tempos do Actors Studio. Simplesmente genial. Enfim, "Cisne Negro" é aquele tipo de filme que quando chega ao final não ficamos menos do que abismados. Comigo foi exatamente assim! Uma grata surpresa em um época tão carente de grandes filmes. 

Cisne Negro (Black Swan, Estados Unidos, 2010) Direção: Darren Aronofsky / Roteiro: Mark Heyman, Andres Heinz / Elenco: Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel, Winona Ryder / Sinopse: Nina Sayers (Natalie Portman) é uma jovem bailarina que tem que lidar com as pressões e os desgastes emocionais e psicológicos provenientes de sua escolha para participar de uma grande produção de "Cisne Branco". 

Pablo Aluísio.

Carnage: O Deus da Carnificina

Comeco o texto logo avisando que o filme só é recomendado para quem gosta de teatro. Isso porque em nenhum momento o roteiro nega a origem teatral do texto. E o que isso significa? Significa que o filme inteiro é passado dentro de um apartamento onde dois casais discutem sobre a briga que seus filhos tiveram no pátio do colégio. O que começa com conversas triviais, amenas, acaba terminando de uma maneira completamente fora de controle. A fita é tão curtinha que quase é um média metragem (pouco mais de 60 minutos) o que novamente vem de encontro ao que se vê no meio teatral onde peças geralmente duram isso mesmo. O quarteto de atores em cena é formado por Jodie Foster, John C Reilly, Kate Winslet e Christoph Waltz. Todos estão bem o que não é de se admirar uma vez que esse é um texto totalmente fundado em diálogos. Curiosamente os atores se saem melhores do que as atrizes. Explico. Waltz (dando uma pausa na série de abacaxis que anda fazendo) está no tom certo do papel. Um advogado que não larga o celular em nenhum momento. Reilly, por sua vez, volta com habitual competência no papel do marido de Jodie Foster, amigão e bonachão (ele se dá muito bem nesse tipo de personagem).

Já Jodie Foster está muito histérica em cena. Cheia de tiques nervosos a atriz nunca parece estar à vontade em seu papel, sempre prestes a explodir, mesmo quando o roteiro não pede esse tipo de comportamento. Outra que não me convenceu foi Kate Winslet. Ela vai bem até o momento em que seu personagem fica embriagada, a partir daí o caldo entorna. Uma vez Marlon Brando disse que não havia como atuar com veracidade pessoas embriagadas. Para se fazer um bebum bem deveria se encher a cara antes e entrar de pileque em cena, caso contrário não se torna convincente. É o caso aqui. Winslet não convence. Ela dá chiliques, faz caras e bocas de bebum mas não convence ninguém. Enfim, esperava mais desse novo filme de Roman Polanski, ainda mais porque seu último filme foi tão bom. Talvez os diversos problemas legais o estejam impedindo de apresentar melhores trabalhos. Vamos esperar coisa melhor vir por aí.

O Deus da Carnificina (Carnage, Estados Unidos, 2011) Direção : Roman Polanski / Roteiro : Roman Polanski / Elenco: Kate Winslet, Jodie Foster, Christoph Waltz, John C. Reilly / Sinopse: Dois casais se encontram para discutir um caso de violência envolvendo seus filhos. O que começa como uma conversa trivial e educada acaba desandando para uma guerra psicológica entre eles.

Pablo Aluísio.

domingo, 29 de janeiro de 2012

W.E: O Romance do Século

Esse filme foi tão massacrado pela mídia desde seu lançamento que estava esperando por uma verdadeira bomba! Bobagem. A verdade é que toda essa onda de críticas negativas foram mais dirigidas à pessoa de Madonna (que assinou roteiro e direção do filme) do que qualquer outra coisa. Só isso explica a má vontade com que a produção foi recebida. Na verdade se trata sim de um bom filme, elegante, com boa direção de arte, bons atores e um roteiro que me envolveu. A ideia de unir duas linhas narrativas (uma no presente e outra no passado) me agradou bastante. Muito mais adequada do que se tivessem simplesmente contando a história de Edward e Wallis de forma convencional, burocrática. Ponto para Madonna nesse aspecto. Outra coisa que me agradou no roteiro foram as delicadas cenas em que personagens do passado e do presente interagem. O curioso do argumento é que ele consegue identificar em um mesmo nível problemas inerentes a duas mulheres de tempos diferentes que passam por situações extremas simplesmente pela posição que ocupam em relação aos seus maridos. A tese é que não importa a época histórica em que vivem, geralmente as mulheres acabam tendo que lidar com os mesmos dilemas, seja em que momento da história for.

Historicamente o filme é, como não poderia deixar de ser, incompleto mas não incorreto. Claro que toda a celeuma causada pela abdicação do futuro rei da Inglaterra em prol de uma união com uma americana de sangue plebeu e ainda por cima divorciada não apenas uma, mas duas vezes, é tratada de forma levemente superficial, mas isso definitivamente não é um problema. De fato não haveria como contar tudo o que significou em sua época algo tão surpreendente como esse. Mesmo assim Madonna conseguiu ser muito sutil ao abordar em essência o que tudo aquilo significou. Na verdade muitas das nuances do roteiro são extremamente eficientes. Por fim ficamos intrigados com essa figura de Edward. Ao longo dos anos já se escreveu muito sobre ele. Uns o acusam de ter sido nazista, outros de ser um fútil imprestável e por fim existem aqueles que afirmam que o casamento foi na verdade uma farsa pois ele seria homossexual e ela lésbica e tudo teria sido feito para encobrir esse aspecto de suas vidas. Não importa, o que importa no final das contas é saber que o filme é bom e nada comparado ao que se andou dizendo dele. Recomendamos sem receio.

W.E. - O Romance do Século (W.E. Estados Unidos, Inglaterra, 2011) Direção de Madonna / Roteiro: Madonna, Alek Keshishian / Elenco: Abbie Cornish, James D'Arcy, Andrea Riseborough / Sinopse: O filme mostra duas linhas narrativas. Na primeira acompanhamos a vida conturbada de Wally Winthrop (Abbie Cornish) uma nova-iorquina que tenta engravidar de seu marido, um médico que a negligencia. Na segunda linha narrativa somos apresentados aos incríveis eventos que culminaram na abdicação do Rei da Inglaterra, Edward VIII (James D'Arcy) que apaixonado por uma divorciada americana chamada Wallis Simpson (Andrea Riseborough) tem que abrir mão da coroa para viver ao lado da pessoa que ama.

Pablo Aluísio.

A Casa dos Sonhos

O roteiro tem ecos de várias produções que eu conheço. Não quero entregar as reviravoltas mas estão lá pedaços de "Terror em Amytiville", "A Ilha do Medo", "Ghost", "Poltergeist" e até "Coração Satânico". Não que esses filmes sejam iguais a "Dream House" mas sim as semelhanças de suas principais reviravoltas psicológicas, interação mundo dos vivos e mortos, trocas de identidade, etc. Não gostei muito da produção em si. A casa que deveria ser um dos pontos altos do filme não assusta, não mete medo. Claro que aqui temos algo mais psicológico mas não custava nada a direção de arte e a equipe de cenografia criarem algo mais assustador, afinal quem já viu filme de casa mal assombrada com casa que não dá medo no espectador? Além disso achei muito mal aproveitadas as cenas com "o homem que ronda a casa na floresta". Perdeu-se muito potencial ali - justamente em cenas de suspense tipicamente de filmes de terror! Uns sustinhos ali caíam bem!

O elenco tem espasmos de esforço. Daniel Craig até tenta, se esforça mas nunca convence. Fiquei imaginando seu papel interpretado por outro ator com mais talento. Ele falha nas cenas de angústia, de terror e de loucura. Como um bom James Bond só funciona nas poucas cenas de ação mesmo! Mas isso convenhamos é muito pouco. Sem dúvida o filme ganharia muito. Eu gosto da Rachel Weisz mas aqui nada de mais. Atua no controle remoto, idem a bonita Naomi Watts. O diretor é Jim Sheridan que teve o auge de sua carreira ao lado de Daniel Day Lewis em vários bons filmes nos anos 80 e 90 como "Meu Pé Esquerdo", "Em Nome do Pai" e "O Lutador". Infelizmente aqui parece que perdeu o controle das filmagens e edição, brigou com o estúdio e não ficou feliz com os resultados. Uma pena, esperava bem mais dele - talvez sua época já tenha passado, quem sabe. Enfim, "A Casa dos Sonhos" ficaria melhor se tomasse outro rumo. A pirotecnia e o final "Ghost" - com direito a adeus e tudo mais - tirou mais impacto ainda do filme. No saldo final posso dizer que é apenas um filme mediano que não cumpre tudo aquilo que promete. Fica para a próxima então.

A Casa dos Sonhos (Dream House, Estados Unidos, 2011) Direção: Jim Sheridan / Roteiro : David Loucka / Elenco: Daniel Craig, Rachel Weisz, Naomi Watts, Marton Csokas, Jane Alexander / Sinopse: Uma família se muda para uma nova casa sem saber que o local é cercado de mistérios e um passado tenebroso.

Pablo Aluísio

sábado, 28 de janeiro de 2012

As Bruxas de Salem

A peça "As Bruxas de Salem" foi escrita por Arthur Miller no auge das "caças às bruxas" (Macarthismo) quando o senador Joseph McCarthy começou a implantar uma política de paranoia e perseguição contra pessoas e setores que ele julgava serem de esquerda ou comunistas. Muitas pessoas eram acusadas sem nenhuma prova ou base legal. Era a perseguição pela perseguição, onde várias reputações foram destruídas sem qualquer justificativa plausível. Entre os acusados de subversivo estava o próprio Arthur Miller que foi perseguido e interrogado no congresso americano. Depois de passar por tudo isso ele se inspirou em um fato real ocorrido em Salem, Massachusetts, no ano de 1692, para criar uma metáfora da situação política que era vivida nos EUA naquele momento. Naquela ocasião uma pequena garota acusou vários moradores da cidade de bruxaria o que levou a uma convulsão social, com todos acusando a todos em um delírio fanático religioso. "As Bruxas de Salem" nos leva a várias conclusões sobre tudo o que ocorreu naquela vila. A primeira é que religião em excesso leva ao histerismo completo. Hoje em dia leis civis e penais protegem os cidadãos de loucuras como essa que ocorreu em Salem mas tenho certeza que se não fosse isso teríamos muitos casos parecidos até nos dias atuais. Eu mesmo conheço pessoas que de tão religiosas se tornaram completamente insanas. Tenho absoluta convicção que essas mesmas pessoas não pensariam duas vezes antes de tomar as mesmas atitudes que vemos no filme.

O enredo também demonstra sem rodeios a verdadeira face da coletividade humana. Utilizando-se do clima geral de paranoia e histerismo muitos moradores de Salem simplesmente acusaram desafetos que tinham sem nenhuma base ou prova das supostas atividades demoníacas. Muitos cidadãos ditos exemplares da comunidade começaram a acusar todos com quem tinham alguma diferença pessoal apenas por vingança e mesquinharia pessoal. Sobre o filme em si não há muito o que comentar. É um excelente trabalho de atores de extremo talento. Elogiar Daniel Day-Lewis é chover no molhado. Winona, a cleptomaníaca, está ótima também. Tiveram que adaptar seu personagem pois a verdadeira Abigail Williams tinha apenas onze anos quando começou a delirar e mandar os habitantes de Salem para a forca. Assim Winona faz uma personagem com mais idade, saindo já da adolescência, com o óbvio objetivo de afastar o caráter pedófilo de seu envolvimento com John Proctor.. Em conclusão "As Bruxas de Salem" expõe como poucos textos a podridão da alma humana. Tape o nariz e encare o filme, vai valer a pena!

As Bruxas de Salem (The Crucible, Estados Unidos, 1996) Diretor: Nicholas Hytner / Roteiro: Arthur Miller baseado em sua peça "The Crucible" / Elenco: Daniel Day-Lewis, Winona Ryder, Paul Scofield, Joan Allen, Bruce Davison, Rob Campbell./ Sinopse: Abigail Williams (Winona Ryder) é uma jovem que se apaixona por um homem casado, John Proctor (Daniel Day-Lewis), Rejeitada começa a inventar estórias de bruxaria na pequena Salem onde mora. As inverdades trarão consequências terríveis para todos no local.

Pablo Aluísio.

Guerreiro

Esse filme é uma grata surpresa. Provavelmente muita gente vai ignorar pensando tratar-se de mais um daqueles especiais de vale tudo que saem diretamente em DVD. Realmente o marketing feito em torno dessa produção deixou a desejar e no Brasil ele sequer conseguiu espaço nas salas de cinema. Uma pena. A premissa é interessante: acompanhamos a estória de dois jovens. Um deles (Tom Hardy) reencontra o pai (Nick Nolte) após anos sem nenhum contato. O outro (Joel Edgerton) é professor de High School que em sérias dificuldades financeiras (o banco está prestes a executar sua casa) resolve voltar para o ringue atrás do prêmio de cinco milhões de dólares de uma nova competição chamada Sparta. Os personagens e a dramaticidade do filme são bem desenvolvidos o que é uma surpresa e tanto tratando-se do tema da produção pois era de supor que tudo se concentrasse apenas na pancadaria irracional, mas não, os atores estão bem e o roteiro é bem escrito, totalmente redondinho. Claro que em um momento ou outro o filme cai no clichê, o que é normal em termos de cinema esportivo mas esses pequenos deslizes não comprometem o resultado final. Tudo é de bom gosto e bem desenvolvido. As lutas também são bem coreografadas e chegam a empolgar.

O diretor Gavin O´Connor também faz parte do elenco do filme interpretando o promotor da luta JJ Riley, um ex figurão de Wall Street que resolve investir pesado na categoria. Gavin é bom diretor embora até agora não tenha feito nada de muito marcante. Seu melhor filme é "Força Policial" que ele dirigiu há três anos. Curiosamente tinha um enredo até mesmo um pouco parecido com esse "Guerreiro". É um cineasta que se preocupa com pequenos detalhes que fazem diferença no resultado final. Enfim, "Guerreiro" é um belo sopro de renovação no gênero cinema esportivo. Em tempos de fim da linha para antigos heróis do estilo como Rocky Balboa nada melhor do que surgir alguém para revitalizar os chamados "filmes de luta". Recomendo.

Guerreiro (Warrior, Estados Unidos, 2011) Direção: Gavin O'Connor / Roteiro:Cliff Dorfman, Gavin O'Connor, Peter Anthony Tambakis / Elenco: Joel Edgerton, Tom Hardy, Nick Nolte, Jennifer Morrison / Sinopse: Dois irmãos acabam em lados opostos durante uma competição esportiva de luta.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

9 1/2 Semanas de Amor

Mickey Rourke foi um dos maiores símbolos sexuais do cinema nos anos 80. Sabia disso? Hoje ele está com sua aparência prejudicada por várias cirurgias plásticas mal realizadas mas há vinte anos o ator era considerado um sex symbol absoluto. Ele inclusive ditou moda no jeito de se vestir, andar, se comportar, sempre surgindo com barba por fazer dando aquele toque desleixado que as mulheres adoravam. Ninguém era mais cool do que Mickey Rourke em Hollywood. Esse "9 1/2 Semanas de Amor" foi feito para capitalizar em cima dessa imagem. Basicamente o filme não possui muita substância ou conteúdo, sendo mesmo uma produção que apela para a sensualidade, para o instinto do espectador. O roteiro tem ecos de "O Último Tango em Paris" pois as situações são muito parecidas entre si. Duas pessoas se conhecem, se envolvem e ignoram todos os demais fatores como convenções sociais, tabus e preconceitos. Eles se bastam a si mesmos. No fundo somos levados a presenciar apenas o encontro avassalador entre um homem e uma mulher que levam a paixão até suas últimas consequências. É em essência a adoração do corpo, do prazer sexual, sem culpa, sem mancha, sem medo. A paixão se bastando a si mesma.

Como é um filme sensorial não existem grandes falas ou teses em debate, nada disso. A paixão não precisa ser intelectual, bastando a química funcionar entre os dois corpos e nada mais. Nada de conversas intelectuais ou algo do tipo. É de pele, calor, sensualidade, que o filme trata. Nesse ponto o diretor Adrian Lyne foi muito feliz pois realizou uma metáfora do desejo sexual livre de tabus ou sentimentos de culpa. Tudo muito simples. Um homem, uma mulher e a paixão que dura exatamente nove semanas e meia de amor. Tudo tão simples (e definitivo). Quem nunca passou por uma paixão assim? Essas geralmente são justamente as que mais duram pois a aventura traz um sabor todo especial para o libido tanto masculino quanto feminino. Casamentos são chatos e aborrecidos. Relacionamentos sérios demais também. Bom mesmo é se entregar de corpo e alma a momentos assim, sem se preocupar com o dia de amanhã! Depois desse filme Mickey Rourke fez filmes bem melhores como "Coração Satânico" ou "Barfly", por exemplo, mas nunca mais conseguiu repetir o fenômeno comercial e social de "9 1/2 Semanas de Amor " que ficou em cartaz em São Paulo por anos a fio, se tornando o maior cult movie de sua carreira. As cenas viraram referências e influenciaram comercias de TV, videoclips e muito mais. Kim Basinger também nunca mais esteve tão bela e sensual como aqui. É aquela coisa, certos filmes se tornam a cara de uma geração justamente por terem sido realizados em determinada época. Esse é um caso típico. Amado por uns, odiado por outros, o fato é que a áurea de cult permanece intacta. Em sua simplicidade viril e instintiva o filme conseguiu atingir o público de forma muito especial. Era um reflexo da cultura sexual de sua época. Só isso já é o bastante para transformar a produção em um marco do cinema dos anos 80.

9 1/2 Semanas de Amor (9 1/2 Weeks, Estados Unidos, 1986) Direção: Adrian Lyne / Roteiro: Sarah Kernochan, Zalman King / Elenco: Mickey Rourke, Kim Basinger, Margaret Whitton / Sinopse: Elizabeth (Kim Basinger) é uma corretora de arte que conhece casualmente John (Mickey Rourke). A atração é imediata e juntos embarcam em um relacionamento sexual e emocional intenso.

Pablo Aluísio.

Diário de um Banana

Eu me recordei de imediato dos filmes de John Hughes embora os personagens dele fossem mais velhos (os gatões e gatinhas de Hughes estavam no High School enquanto Banana e seu amigo ainda são garotos recém saídos das fraldas no chamado Junior High). O filme é levinho, divertido e bem bolado. Não é nenhuma obra prima como aqueles ótimos filmes de Hughes dos anos 80 mas tem seus bons momentos. Não conheço os quadrinhos que deram origem ao filme mas achei muito legal o uso deles durante todo o desenrolar da estória. A única falta que senti foi dos chamados amores adolescentes mas isso provavelmente se explique pela pouca idade dos personagens mesmo.

A garotada do elenco é muito boa. O garoto Zachary Gordon que faz o papel principal de Greg (o banana do título) é muito talentoso e competente. Seu amigo gordinho (Robert Capron) também atua bem mas quem eu destaco mesmo é a jovem Chloe Grace Mortez que seguramente é a melhor atriz juvenil em atividade hoje em Hollywood. A primeira vez que ela me chamou atenção foi ao lado de Nicolas Cage em "Kick Ass". Depois continuou brilhante como a vampirinha do remake "Deixe Me Entrar" e finalmente deu show no novo filme de Martin Scorsese "A Invenção de Hugo Cabret". A garota tem toda pinta que vai se tornar uma grande estrela no futuro - espero que consiga passar pela complicada transição para a carreira adulta. Enfim, "Diário de um Banana" parece um filme teen dos anos 80. Apreciei tanto que vou em breve assistir sua continuação. Recomendo.

Diário de um Banana (Diary of a Wimpy Kid, Estados Unidos, 2010) / Diretor: Thor Freudenthal / Roteiro: Jackie Filgo, Jeff Filgo, Gabe Sachs, Jeff Judah / Elenco: Zachary Gordon, Robert Capron, Rachael Harris, Steve Zahn, Devon Bostick, Chloe Moretz / Sinopse: Greg Heffley (Zachary Gordon) é um estudante da sexta série, que tem de enfrentar o maior desafio de sua vida: sobreviver ao ensino fundamental. Ele encontra maneiras peculiares de lidar com os valentões do colégio e conquistar sua popularidade.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Chuva Negra

Nick Conklin (Michael Douglas) é um policial norte-americano que é designado para levar um perigoso criminoso até o Japão e entregar sua custódia às autoridades locais. Chegando lá é enganado e acaba entregando o bandido para seus antigos companheiros de crime. Parte então para tentar corrigir seu erro caçando o fugitivo pelas ruas japonesas. Filmes dos anos 80 usaram e abusaram de gelo seco, néon e trilhas sonoras cheias de sintetizadores. Esse "Chuva Negra" não nega sua origem e nem a época em que foi realizado. O diferencial fica por conta da direção de Ridley Scott. O filme é visualmente muito bonito justamente por causa de seu trabalho. Ridley nasceu como cineasta no mercado publicitário e levou todos os maneirismos desse meio para seus filmes. Cada tomada parece ser um comercial de algum produto à venda. De qualquer maneira também procurou dar o melhor de si, aproveitando ao máximo a beleza natural das locações realizadas no Japão, chegando ao ponto de usar a famosa poluição visual das grandes cidades japonesas em seu favor. O roteiro não é inovador, pelo contrário, repete de certa fórmula que foi muito usada nos policiais daquela década. Michael Douglas ao lado de Andy Garcia conseguem manter o interesse pois carisma é o que não falta à dupla de atores.

A única critica maior que tenho a fazer a "Chuva Negra" é a forma muito estereotipada que os japoneses são mostrados em cena. Todos eles são de uma forma ou outra clichês orientais ambulantes. Até o parceiro de Douglas no Japão, interpretado pelo bom ator Ken Takakura, não consegue fugir a isso. O fato é que na época em que o filme foi lançado Japão e EUA disputavam uma ferrenha guerra comercial. Grandes grupos japoneses estavam adquirindo empresas americanas em um ritmo jamais visto. Até no meio cinematográfico isso vinha ocorrendo com a compra da Columbia Pictures pelo grupo Sony. Isso de certa forma mexeu com os brios dos americanos que resolveram se vingar dos orientais nas telas, geralmente os retratando como caricaturas e não como personagens reais. Apesar disso "Chuva Negra" ainda é um bom filme policial dos anos 1980. Diverte e serve como bom passatempo. Pode conferir sem receios.

Chuva Negra (Black Rain, Estados Unidos, 1989) Direção: Ridley Scott / Roteiro: Craig Bolotin, Warren Lewis / Elenco: Michael Douglas, Andy Garcia, Ken Takakura / Sinopse: Nick Conklin (Michael Douglas) é um policial norte-americano que é designado para levar um perigoso criminoso até o Japão e entregar sua custódia às autoridades locais. Chegando lá é enganado e acaba entregando o bandido para seus antigos companheiros de crime. Parte então para tentar corrigir seu erro caçando o fugitivo pelas ruas do Japão.

Pablo Aluísio.

Tudo Pelo Poder

Gostei bastante do filme. Reconheço que ele começa meio lento, disperso e sem foco. Os personagens não são devidamente apresentados e tudo é meio que jogado na cara do espectador. Porém passado esse começo meio complicado o filme engrena. É um roteiro que foca nos bastidores das primárias do partido Democrata. George Clooney faz o candidato que apesar de tentar seguir um caminho ético logo cede ao jogo da política e literalmente faz tudo para alcançar o poder (em raro caso de título nacional que retrata fielmente o que se passa na tela). O que mais me deixou surpreso aqui foi que o liberal Clooney acaba atirando justamente no partido que apoia nos EUA! Seria uma declaração de "mea culpa" após ter se envolvido no mundo político americano? Quem sabe... De fato no filme ele encarna o típico político americano que a despeito de cultivar uma imagem publica impecável tem vários esqueletos em seu armário.

Uma coisa chama a atenção aqui. Embora George Clooney seja obviamente mostrado como o principal no elenco na realidade seu personagem é mero coadjuvante. Os verdadeiros "astros" de "Ides of March" são os coadjuvantes. Escrevo sem medo de errar que esse é o melhor elenco de apoio do ano, senão vejamos: Philip Seymour Hoffman Ryan Gosling Paul Giamatti e Marisa Tomei, ou seja só fera e o melhor, todos ótimos em cena. Em suma, recomendo "Tudo Pelo Poder" sem restrições. É um filme bem roteirizado, interpretado e executado.

Tudo Pelo Poder (The Ides of March, Estados Unidos, 2011) Diretor: George Clooney / Roteiro: Grant Heslov / Elenco: George Clooney, Ryan Gosling, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, Jeffrey Wright / Sinopse: Stephen Myers (Ryan Gosling), um assessor de uma grande campanha presidencial ao governo dos EUA tenta sobreviver no pantanoso mundo político da capital americana.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Margin Call: O Dia Antes do Fim

Não é um filme para todos os públicos. Na realidade a trama é bem técnica e por essa razão só vai atingir mesmo plateias especificas, em especial as pessoas que foram lesadas no mercado financeiro em 2008, logo após a derrocada de grandes entidades do setor, fato que desencadeou a crise na economia americana que persiste até os dias atuais. O roteiro também não dá mole ao espectador pois usa e abusa do jargão econômico que envolve esses grandes grupos. Tudo se passa em menos de 24 horas - desde o momento em que um jovem analista descobre o rombo na agência até o momento em que desesperados os altos executivos resolvem liquidar com tudo para venderem os ativos enquanto podem, pois no mercado financeiro grandes fortunas literalmente se pulverizam da noite para o dia.

O elenco é excepcionalmente muito bom. Kevin Spacey novamente dá show ao interpretar um executivo de alto escalão em crise existencial. Os grandes momentos dramáticos do filme ocorrem justamente com ele em cena. Do outro lado da balança temos outra grande interpretação, dessa vez com Jeremy Irons, fazendo o típico “tubarão” do mercado, um sujeito que não se importa em enganar milhões de pessoas desde que não perca dinheiro diante da crise eminente. Para um filme que se sustenta basicamente em interpretações individuais e diálogos a presença desses grandes atores garante o alto nível do programa. Enfim, recomendo o filme mas com certas restrições pois ele é mais adequado para as pessoas que de uma forma ou outra estão envolvidas com o mercado financeiro e tem intimidade com esse universo. Essas certamente gostarão mais do resultado final.

Margin Call - O Dia Antes do Fim (Margin Call, Estados Unidos, 2011) Direção de J.C. Chandor / Roteiro: J.C. Chandor / Elenco: Kevin Spacey, Paul Bettany, Jeremy Irons, Zachary Quinto, Penn Badgley / Sinopse: O alto escalão de uma grande empresa que administra fundos tenta lidar com a crise financeira que se abateu sobre o setor durante tensas 24 horas em 2008.

Pablo Aluísio.

Um Lugar ao Sol

George Eastman (Montgomery Clift) é o jovem sobrinho de um rico industrial do mercado de roupas femininas. Seu tio logo o emprega em uma das fábricas como empacotador. Lá conhece a operária Alice (Shelley Winters) e logo se enamora dela. Ao mesmo tempo em que corteja Alice acaba se envolvendo também com Angela Vickers (Elizabeth Taylor) uma rica garota da alta sociedade. O triângulo amoroso trará consequências trágicas para todos os envolvidos. "Um Lugar Ao Sol" é um dos grandes clássicos da carreira de Montgomery Clift e Elizabeth Taylor. O filme mescla muito bem romance, suspense e drama. Vivendo em dois mundos completamente distintos o personagem de Montgomery Clift, um pobre rapaz que anseia subir na vida algum dia, acaba perdendo o controle dos acontecimentos em sua vida emocional, o que o levará a pagar um alto preço por se envolver com duas garotas ao mesmo tempo. George Stevens foi um dos grandes diretores do cinema americano. Austero e detalhista ele filmava muitas tomadas diferentes, de ângulos diversos para só depois montar o filme ao seu bel prazer. Assistindo "Um Lugar ao Sol" é fácil perceber que ele estava literalmente obcecado pelo belo rosto juvenil de Elizabeth Taylor. O cineasta usa e abusa de vários closes do rosto de sua atriz, o que não é nada mal uma vez que Liz estava no auge de sua beleza. Com traços delicados e lindos olhos azuis (que infelizmente não foram captados pois o filme foi rodado em preto e branco) a estrela poucas vezes esteve tão bonita como aqui.

O roteiro foi baseado no livro "An American Tragedy" de Patrick Kearney. Embora ficcional a estória foi inspirada em fatos reais acontecidos em Chicago na década de 20. A situação toda é bastante sórdida e demonstra que não existem muitos limites para a maldade da alma humana, embora no filme o personagem Geroge Eastman seja de certa forma amenizado. É fácil compreender a razão. Não haveria como rodar toda uma produção como essa em cima de um mero assassino. Assim tudo foi cuidadosamente suavizado para não chocar muito o público americano dos anos 50. O resultado de tanto capricho veio depois nas bilheterias e nas ótimas críticas que o filme conseguiu. Shelley Winters e Montgomery Clift foram indicados ao Oscar. Embora não tenham sido premiados o filme em si conseguiu vencer em seis categorias (inclusive direção e roteiro), se consagrando naquele ano. Até o gênio Charles Chaplin se rendeu ao filme declarando que havia sido o "melhor filme que já tinha assistido em sua vida". Além disso os bastidores da produção deram origem a muitas histórias saborosas envolvendo Clift e Taylor, que se tornariam amigos até o fim de suas vidas. Depois disso não há muito mais o que escrever. Para os cinéfilos "Um Lugar ao Sol" é mais do que obrigatório. Um filme essencial.

Um Lugar ao Sol (A Place In The Sun, Estados Unidos, 1951) Direção: George Stevens / Roteiro: Harry Brown, Michael Wilson / Elenco: Montgomery Clift, Elizabeth Taylor, Shelley Winters, Anne Revere / Sinopse: George Eastman (Montgomery Clift) é o jovem sobrinho de um rico industrial do mercado de roupas femininas. Seu tio logo o emprega em uma das fábricas como empacotador. Lá conhece a operária Alice (Shelley Winters) e logo se enamora dela. Ao mesmo tempo em que corteja Alice acaba se envolvendo também com Angela Vickers (Elizabeth Taylor) uma rica garota da alta sociedade. O triângulo amoroso trará consequência trágicas para todos os envolvidos. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Direção, Melhor Roteiro, Melhor Fotografia (William C. Mellor), Melhor Figurino (Edith Head), Melhor Edição (William Hornbeck) e Melhor Música (Franz Waxman).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A Hora Final

Filme estranhíssimo da carreira de Gregory Peck. Quem pensa que vai assistir um filme convencional de submarinos vai ter uma surpresa e tanto! Para começo de conversa a estória se passa após uma guerra nuclear entre Estados Unidos e União Soviética! Isso mesmo, você não leu errado! Peck é tudo o que sobrou da outrora gloriosa marinha americana e só escapou do hecatombe nuclear justamente porque estava dentro de um submarino! O interessante é que esse cenário pós apocalipse só vai sendo informado ao espectador aos poucos, enquanto se vai acompanhando o estranho flerte entre o Peck e Ava Gardner. Aliás uma das coisas que mais chamam atenção aqui é o elenco. Formado por jovens atores que iriam despontar para o estrelado nos anos seguintes (como o estranho Anthony Perkins de Psicose) e veteranos das telas (como Fred Astaire em um papel particularmente melancólico).

Mas o principal mérito de “A Hora Final” é realmente a ousadia da proposta do argumento do filme. Claro que em plena guerra fria, onde a paranóia na sociedade americana estava a mil, o filme fazia mais sentido. Hoje em dia se torna muito anacrônico e estranho. O diretor também foca muito em cima das relações pessoais dos personagens que mesmo sabendo que vão morrer em breve tentam seguir com suas vidas, namorando, passeando à beira mar, etc. Confesso que esse clima surreal é uma das coisas mais surpreendentes que já vi, ainda mais em filmes antigos. “A Hora Final” tem pinta e jeito de filme de guerra mas não é. É uma ficção apocalíptica que pode ser considerado o “avô” das produções pós apocalipse como “O Dia Seguinte”. Assista e se surpreenda.

A Hora Final (On The Beach, Estados Unidos, 1959) Direção de Stanley Kramer / Roteiro de John Paxton e Nevil Shute / Elenco: Gregory Peck, Ava Gardner, Anthony Perkins e Fred Astaire / Sinopse: Capitão da Marinha americana (Peck) chega na Austrália para uma missão secreta com um submarino nuclear australiano.

Pablo Aluísio.