Achei bem estranha a proposta desse filme. Não estou me referindo ao roteiro que adaptou três contos baseados na obra do poeta e escritor italiano Giambattista Basile (1566 - 1632), mas sim às próprias estórias em si. O mundo dos contos infantis da Itália medieval pouco se parecia com as obras dos irmãos Grimm com as quais estamos acostumados. Nada de Branca de Neve e nem os sete anões. A coisa aqui é morbidamente bizarra, diferente, surpreendente mesmo. Todos os três contos são narrados de forma alternada. Todos eles envolvem monarcas e seus objetivos mesquinhos e rídiculos.
O primeiro conta a estória da rainha de Longtrellis (Salma Hayek). Seu maior sonho é ter um filho, um herdeiro para o trono. A gravidez porém parece nunca acontecer. Desesperada, ela resolve contratar os serviços de um bruxo. Ele então passa a receita para que ela finalmente fique grávida do Rei. Ele deve caçar uma criatura monstruosa das profundezas. Depois de morto o coração da fera deve ser preparado por uma virgem. Por último a Rainha deve comer o coração da besta. Tudo feito, o resultado se mostra desastroso. Dos três contos esse pode ser considerado até mesmo o menos bizarro, mas seu clímax, com um morcego gigante e feroz, mostra bem que nada é tão normal como se pode esperar.
O segundo conto mostra um Rei e sua filha. A princesa quer se casar. Para isso porém o Rei deve procurar em seu reino o homem mais corajoso, valente e inteligente que encontrar pela frente. Assim ele cria um desafio a ser vencido pelo pretendente à mão da jovem e bela princesa. Novamente tudo dá muito errado, transformando a vida da linda herdeira em literalmente um verdadeiro inferno na Terra. Esse segundo conto poderia até se encaixar no que estamos acostumados a ver em se tratando de literatura infantil alemã, se não fosse por detalhes sórdidos e estranhos, como o fato do Rei criar uma pulga gigante em seu quarto (é isso mesmo que você leu, algo bem nonsense realmente!).
Por fim o último conto mostra a vida de um Rei devasso, insaciável, que deseja dormir com todas as mulheres de seu reino. Certo dia, na janela de seu castelo, ele ouve uma voz feminina maravilhosa. Determinado a conquistá-la ele move o céu e a terra para levar a dona daquela linda voz para seus aposentos reais. O problema é que ele não tem a menor ideia de quem ela seja e o que faz em sua vida reclusa. Com a ajuda de uma bruxa da floresta o monarca acaba caindo em uma grande armadilha do destino. O monarca devasso desse conto é interpretado pelo ótimo ator Vincent Cassel. No geral é isso. O filme é uma coleção de contos estranhos, com elementos pouco usuais. Olhando sob um ponto de vista cultural vale bastante conhecer para ter contato com a literatura de contos de outros países, como a Itália, por exemplo. No mínimo você ficará surpreso pelas coisas e situações estranhas e bizarras que encontrará pela frente, no filme.
O Conto dos Contos (Il Racconto dei Racconti - Tale of Tales, Inglaterra, Itália, França, 2015) Direção: Matteo Garrone / Roteiro: Edoardo Albinati / Elenco: Salma Hayek, Vincent Cassel, Toby Jones, John C. Reilly, / Sinopse: O filme traz a adaptação para o cinema de três contos infantis da literatura italiana medieval. Filme indicado à Palma de Ouro em Cannes.
Pablo Aluísio.