segunda-feira, 18 de novembro de 2019

The Rookie

The Rookie 1.01 - Pilot
Antes de qualquer coisa não vá confundir essa série "The Rookie" com outra série policial chamada "Rookie Blue". São programas diferentes. "Rookie Blue" inclusive já chegou ao seu final. "The Rookie" começou a ser exibido em 2018. O principal personagem aqui se chama John Nolan (Nathan Fillion). A idade certa para entrar na polícia de Los Angeles para ser um patrulheiro é por volta dos vinte e poucos anos. Só que John se alista no departamento beirando os 40 anos! Muitas das situações vem justamente daí, do fato de haver um policial novato (Rookie) com essa idade. O seu comandante, por exemplo, não parece gostar nada disso. Nesse primeiro episódio ele sai para seu primeiro dia como policial nas ruas. Logo de manhã atende uma chamado de violência doméstica. É a vida de cão dos moradores mais pobres de L.A. Uma chamada considerada de rotina por patrulheiros mais veteranos, mais experientes. O pior vem mais tarde. Na segunda chamada as coisas complicam e ele precisa enfrentar uma troca de tiros, bem no meio da rua, com traficantes de drogas. Achei a série bem mediana. Realmente não tem nada demais, nada acima da média. O canal ABC aliás é bem conhecido nos Estados Unidos por de forma geral produzir séries desse tipo. Apenas mais uma série para exibir na sua grade de programação./ The Rookie 1.01 - Pilot (Estados Unidos, 2018) Estúdio: ABC Studios / Direção: Liz Friedlander / Roteiro: Alexi Hawley / Elenco: Nathan Fillion, Alyssa Diaz, Richard T. Jones, Titus Makin Jr, Mercedes Mason, Melissa O'Neil
  
The Rookie 1.02 - Crash Course
A série segue nesse segundo episódio sem grandes novidades. O policial John Nolan (Nathan Fillion) tem uma nova parceira, uma mulher negra que estuda para se tornar detetive do departamento. Ela não gosta muito de Nolan, até porque uma série de azares e imprevistos vão acontecendo durante o dia. E nas chamadas eles são enviados para resolver diversos casos pela cidade. Um deles envolve um homem forte e surtado que começa a quebrar tudo dentro de uma igreja. Em outra situação precisa enfrentar a arrogância de uma dupla de detetives que se irrita com ele. E o pobre Nolan apenas ajudou a resolver um dos casos. Coisas da vida. Outro momento bem mais ou menos dessa série policial. Os personagens são pouco desenvolvidos e os roteiros passam longe de serem inovadores ou impressionantes. São apenas medianos, para sumir dentro da programação do canal ABC nos Estados Unidos. Um programa vespertino para fechar a grade, nada mais do que isso. / The Rookei 1.02 - Crash Course (Estados Unidos, 2018) Direção: Adam Davidson / Roteiro: Alexi Hawley / Elenco: Nathan Fillion, Alyssa Diaz, Richard T. Jones.

The Rookie 1.03 - The Good, the Bad and the Ugly
Durante uma abortagem no metrô um ladrão rouba 10 mil dólares. Algo que pega mal dentro do departamento, principalmente para o "rookie" (o novato quarentão). Por isso ele é colocado para escanteio. Na segunda chamada do dia ele e sua parceira são designados apenas para fazer o perímetro de uma operação maior, só que os os criminosos fortemente armados escapam do cerco, passando por eles, que vão atrás. O roteiro do episódio também brinca com os personagens, fazendo com que todos respondam a seguinte pergunta: se não fossem tiras, o que fariam de suas vidas? / The Rookie 1.03 - The Good, the Bad and the Ugly (Estados Unidos, 2018) Direção: Greg Beeman / Roteiro: Alexi Hawley, Ally Seibert / Elenco: Nathan Fillion, Alyssa Diaz, Richard T. Jones.  

The Rookie 1.04 - The Switch
O que poderia ser pior para um policial das ruas do que congelar sempre que houvesse uma troca de tiros? É justamente isso que acontece com um dos novatos, um jovem policial negro que não consegue reagir quando os bandidos mandam chumbo quente em sua direção. O veterano que compartilha a patrulha com ele sabe que assim o novato não terá futuro com a farda do policial e lhe dá um ultimato... ou deixa de ser covarde e enfrenta fogo contra fogo ou então ele colocará sua covardia no relatório, o que significará dispensa desonrosa em sua ficha. Fica a opção sobre a mesa. Ou fica e enfrenta a bandidagem ou então pede para sair. / The Rookie 1.04 - The Switch (Estados Unidos, 2018) Direção: Toa Fraser / Roteiro: Alexi Hawley, Vincent Angell / Elenco: Nathan Fillion, Alyssa Diaz, Richard T. Jones. 

The Rookie 1.05 - The Roundup
Essa série policial das mais convencionais já está na quarta temporada nos Estados Unidos? É de cair o queixo mesmo! De minha parte penso que não vou seguir em frente. No máximo verei mais alguns episódios dessa primeira temporada e já está de bom tamanho. A série não é ruim, longe disso, mas também não traz maiores surpresas. É bem quadradinha para falar a verdade! Nesse episódio aqui é feita uma espécie de competição entre os policiais de Los Angeles. Algo que me soou bem equivocado já que  o vencedor seria aquele que prendesse mais pessoas - olha que perigo uma coisa dessas! De qualquer maneira é até um bom passatempo, muito embora essa coisa de tira armado competindo com outros tiras para ver quem prende mais gente nas ruas é simplesmente absurdo em meu ponto de vista. / The Rookie 1.05 - The Roundup (Estados Unidos, 2018) Direção: Nelson McCormick / Roteiro: Alexi Hawley / Elenco:    Nathan Fillion, Alyssa Diaz, Richard T. Jones; 

The Rookie 1.06 - The Hawke
Pois é, apesar da série ser meio capenga, sigo assistindo. Nesse episódio temos um caso curioso. O que poderia acontecer quando um dos oficiais policiais da cidade se torna um criminoso fugitivo? E o pior é que ele foi instrutor na academia de vários daqueles policiais que saem em sua perseguição pelas ruas da cidade. Tudo começa com um caso de violência doméstica. O tal oficial descobre sua esposa na cama com outro homem. A partir daí surge uma escalada de violência. Ele pega seu filho e sai fugitivo de seus próprios ex-companheiros de farda. Mais do que complicado. O protagonista em particular tinha uma grande amizade com ele. Imagine a saia justa. É a tal coisa, apesar dessa série não ser grande coisa é a única que ainda não larguei mão. Algumas vezes os episódios funcionam bem, outras vezes não. Vou seguindo em frente, quero chegar pelo menos até o décimo episódio para decidir que sigo em frente ou não! Joguem os dados da sorte! / The Rookie 1.06 - The Hawke (Estados Unidos, 2018) Direção: Timothy Busfield / Roteiro: Alexi Hawley / Elenco: Nathan Fillion, Alyssa Diaz, Richard T. Jones.

The Rookie 1.07 - The Ride Along
O "novato mais velho do mundo" (péssima e preconceituosa essa frase usada no roteiro do episódio) precisa escoltar em sua patrulha diária, um diretor de cinema especializado em filmes policiais e de ação. O tal sujeito quer ver o mundo real, como são as operações policiais pelas ruas de Los Angeles. Péssima ideia. Ele se mete nas operações e na maioria das vezes se dá muito mal. O Rookie porém segue em frente, sendo o mais cordial e cuidadoso possível com sua presença, afinal ele não pode deixar o cineasta se machucar de jeito nenhum. Como pano de fundo temos a delicada questão envolvendo um tira e sua esposa, pega com quilos de cocaína para revender. Policial casado com traficante. Algo poderia ser pior do que isso? / The Rookie 1.07 - The Ride Along (Estados Unidos, 2018) Direção: Cherie Nowlan / Roteiro: Alexi Hawley / Elenco: Nathan Fillion, Alyssa Diaz, Richard T. Jones. 

The Rookie 1.08 - Time of Death
O tira John Nolan mata um criminoso durante uma perseguição policial pelas ruas de Los Angeles. Ele fica abalado. Nunca havia matado uma pessoa antes. Só que como policial de rua, patrulheiro, ele deveria lidar melhor com a situação, uma vez que faz parte do serviço de tiras. É um trabalho que muitas vezes pode colocar o profissional numa situação de vida ou morte. Só que Nolan precisa lidar também com outro problema. O bandido morto tinha um irmão, também criminoso, que logo avisa que vai se vingar. Na última cena desse episódio ele é atacado de surpresa e quando termina ele está sendo levado, inconsciente, pelo bandido. Será que vai ser morto? / The Rookie 1.08 - Time of Death (Estados Unidos, 2018) Direção: Michael Goi / Roteiro: Michael Goi / Elenco: Nathan Fillion, Alyssa Diaz, Richard T. Jones.

The Rookie 1.09 - Standoff 
O policial Nolan escapa da morte, mas não escapa da corregedoria, uma vez que se envolveu num caso de assassinato durante o serviço. Diante disso ele é transferido para o atendimento ao público e fica surpreso com a quantidade de pessoas malucas que vão até a delegacia de polícia em busca da solução dos mais diversos problemas aleatórios. Seus colegas de farda saem em busca de um sujeito, um traficante de drogas que tentou matar a mãe de um dos patrulheiros. Eles acabam encurralados em um edifício residencial debaixo de fogo pesado. O traficante usa armamento pesado contra eles, além disso utiliza um dispositivo de silenciamento do equipamento de comunicação dos policiais. Uma verdadeira cilada mortal. A série vem melhorando muito, começou meio capenga, mas tem me agradado ultimamente. / The Rookie 1.09 - Standoff (Estados Unidos, 2019) Direção: John Terlesky / Elenco: Nathan Fillion, Alyssa Diaz

The Rookie 1.10 - Flesh and Blood
O departamento de polícia te Los Angeles inicia um programa onde em patrulha saem em dupla um veterano e um novato. John Nolan acaba sendo escolhido para sair em dupla com seu próprio chefe,  o que não deixa de ser uma questão bem delicada e em algumas situações até a mesma constrangedora. Em uma chamada onde há vazamento de gás em uma casa, Nolan acaba salvando o chefe da morte, o que de certa forma muda a relação entre eles e olha que o veterano oficial sempre pegou em seu pé. O que mais me chamou atenção é esse episódio rompe com a história que estava sendo contada nos episódios anteriores, que eram muito mais dramáticos, já esse daqui tem até mesmo uma certa dose elevada de humor. / The Rookie 1.10 - Flesh and Blood (Estados Unidos, 2019) Direção: Jessica Yu / Elenco: Nathan Fillion, Alyssa Diaz, Richard T. Jones.

The Rookie 1.11 - Redwood
O vice presidente dos Estados Unidos decide visitar Los Angeles, o que cria serviço extra de todos os tipos para os policiais da cidade, eles precisam cuidar do trânsito e evitar que pessoas com histórico de ameaças ao político saiam nas ruas com artefatos perigosos ou armas. Um dos destaques deste episódio ocorre quando uma das policiais tenta apartar uma briga de duas mulheres que vivem nas ruas, são drogadas e uma delas acaba dando uma seringada na barriga da policial, algo muito perigoso, pois ela poderia se contaminar com várias doenças. / The Rookie 1.11 - Redwood (Estados Unidos, 2019) Direção: Sylvain White / Elenco: Nathan Fillion, Alyssa Diaz, Richard T. Jones.

The Rookie 1.12 - Heartbreak
Episódio do Dia dos Namorados. Você pode pensar que por essa razão, esse é um episódio romântico, mas esqueça isso. Para os policiais de Los Angeles, o Dia dos Namorados é um dia de muitos problemas a resolver na sociedade. Casais brigam, pessoas ficam revoltadas, crimes são cometidos. E o pior de tudo, é que há um aspecto de apreensão dentro da polícia de Los Angeles. Curiosamente, Nolan acaba atraindo a atenção de uma mulher que ele salvou da morte durante um acidente de trânsito. Ela fica meio obcecada por ele, se torna uma stalker. Pior do que isso, a mulher parece ter problemas psicológicos. Depois que perdeu o marido está com tendências suicidas. Um problema e tanto nas mãos do policial Nolan. / The Rookie 1.12 - Heartbreak (Estados Unidos, 2019) Direção: Carol Banker / Elenco: Nathan Fillion, Alyssa Diaz, Richard T. Jones.

The Rookie 1.16 
O novato mais velho da polícia de Los Angeles precisa ficar vivo após ser jurado de morte por um líder de gangue na cidade. Ele supostamente teria passado a mão indevidamente em sua mãe durante uma abordagem policial. É uma boa série embora seja enquadrada tranquilamente no feijão com arroz que a ABC produz em sua programação. 

Pablo Aluísio.

Loucos e Perigosos

Talvez seja a hora de Bruce Willis se aposentar. Até porque se for para continuar trabalhando em filmes como esse, é melhor ir cuidar dos netinhos mesmo. O velho Bruce interpreta um detetive particular que trabalha em Venice Beach. Ele ganha a vida resolvendo pequenos casos, como traições, etc. Até que um traficante de drogas rouba seu cãozinho de estimação. A partir daí o veterano detetive fará de tudo para recuperar o animal. O roteiro não se leva à sério em nenhum momento. Tudo é feito como se fosse uma comédia leve, com algumas cenas de ação aqui e acolá. Nada muito bem feito ou inspirador. Na realidade o filme é tão descartável que não vale a pena nem conferir por curiosidade.

Há cenas claramente constrangedoras. Numa delas o detetive de Willis foge de um grupo barra pesada, tudo no script desse tipo de filme, algo bem clichê, isso se ele não fugisse em cima de um skate, completamente nu, pelas ruas de Venice Beach. Nada engraçado, bem na base da vergonha alheia. O roteiro obviamente tenta criar alguma identidade com o público mais jovem, por isso coloca o sexagenário Willis em situações, digamos, joviais, juvenis! Não funciona. Até mesmo o bom ator John Goodman está deslocado. Ele faz o papel de um pequeno comerciante de Venice que está se divorciando. A ex-mulher vai ficar com tudo, inclusive com sua pequenina loja de materiais esportivos. Agora ruim mesmo, de doer, é a presença do péssimo Jason Momoa como um traficante de drogas da região. Não consigo entender como um ator tão ruim consegue fazer tantos filmes em Hollywood. Depois de destruir Conan, ele deveria ter sumido do mapa. Porém ai está Momoa desfilando sua completa falta de talento. O filme que já não é grande coisa se torna ainda pior com sua presença.

Loucos e Perigosos (Once Upon a Time in Venice, Estados Unidos, 2017) Direção: Mark Cullen / Roteiro: Mark Cullen, Robb Cullen / Elenco: Bruce Willis, John Goodman, Jason Momoa / Sinopse: Velho detetive de Venice Beach fará de tudo para recuperar seu cachorrinho de estimação que vai parar nas mãos de uma gangue de traficantes de drogas da cidade. Ao mesmo tempo tenta dar uma força para seu amigo, que está se divorciando, passando por apuros financeiros.

Pablo Aluísio.

domingo, 17 de novembro de 2019

O Predestinado

Título no Brasil: O Predestinado
Título Original: Predestination
Ano de Produção: 2014
País: Estados Unidos
Estúdio: Sony Pictures
Direção: Michael Spierig, Peter Spierig
Roteiro: Michael Spierig, Peter Spierig
Elenco: Ethan Hawke, Sarah Snook, Noah Taylor, Christopher Sommers, Kuni Hashimoto, Christopher Bunworth

Sinopse:
Em um futuro com alta tecnologia uma agência do governo envia agentes para o passado com o objetivo de evitar grandes atentados terroristas. Um deles porém acaba rompendo com as regras, mudando o passado, interferindo no presente e comprometendo todo o futuro.

Comentários:
Eu vou resumir esse filme de forma bem irônica. Imagine que os roteiristas da franquia "De Volta Para o Futuro" tomassem ácido e resolvessem escrever um novo roteiro. Provavelmente o resultado sairia parecido com esse filme. Certamente é um roteiro que vai surpreender muitas pessoas. A viagem no tempo já deu origem a diversas produções ao longo dos anos, porém devo dizer que poucas foram tão longe. Os personagens de passado, presente e futuro estão completamente interligados. O espectador vai pegar pistas ao longo de todo o filme e no final vai ficar impressionado por ter sido "enganado" pelos desdobramentos da trama. Não vou estragar surpresas e nem entregar o grande pulo do gato desse roteiro, mas devo deixar uma pista sutil sobre isso. Temos basicamente dois personagens principais. Eles conversam em um bar! Agora, quando assistir ao filme os veja com olhos de lince. Possa ser que não sejam dois ou três na verdade... talvez sejam quatro no final das contas... ou talvez seja apenas um! Achou confuso? Bom, quando assistir ao filme você certamente vai entender o que escrevi aqui. Enfim, um roteiro complexo, muito bem elaborado, que vai deixar muita gente de queixo caído. Parece simples o que se vê na tela, mas isso é apenas uma leve impressão, ou melhor dizendo, uma falsa impressão!

Pablo Aluísio.

sábado, 16 de novembro de 2019

Vita & Virginia

Mais um filme que explora parte da vida da escritora Virginia Woolf. O melhor já feito sobre ela, em minha opinião, segue sendo "As Horas", onde Nicole Kidman a interpretava com talento e sensibilidade. Agora o roteiro mostra o relacionamento homossexual que ela teve com outra escritora, Vita Sackville-West. Elas se conheceram quase por acaso, embora Vita já tivesse esse desejo há anos. Havia uma espécie de competição entre elas no mundo da literatura. Enquanto Virginia Woolf escrevia livros mais intelectualizados, Vita apostava em romances populares. Claro que assim ela também se tornava muito mais bem sucedida (pelo menos do ponto de vista comercial) do que a colega de profissão.

Vita também já tinha um passado de escândalos por se envolver com mulheres, embora fosse casada com um diplomata inglês. Já Virginia tentava manter um casamento que para muitos era de fachada. O interessante é que apesar de ter óbvia atração por pessoas do mesmo sexo, Woolf não queria acabar com seu casamento. Ela via no marido um fator de equilíbrio em sua vida pessoal. Mesmo assim se atirou de corpo e alma em uma paixão enlouquecedora por Vita, a ponto inclusive de transformá-la em personagem de seus livros, algo que não passou despercebido pela sociedade conservadora da época, causando mais um grande escândalo. E para as demais pessoas o que mais chocava é que ambos os maridos pareciam saber muito bem que suas esposas se relacionavam em um namoro lésbico, mas nada faziam para acabar com isso.

O filme é bem produzido, mas o roteiro apresenta alguns problemas no meu ponto de vista. Os diálogos soam truncados e pouco naturais. Acontece que os roteiristas tiraram a maioria dos diálogos das escritoras de seus próprios livros. Não ficou natural. Uma coisa é a palavra escrita, bem lapidada, outra bem diferente é o falar do dia a dia. Certamente nem Vita e nem Virginia falavam daquele jeito. Ficou um pouco estranho, embora para os leitores da obras delas crie uma curiosidade a mais. Outro ponto que achei fora da curva foi a caracterização da atriz Elizabeth Debicki. Ela interpretou Virginia, só que seu biotipo nada tem a ver com a escritora. Enquanto Elizabeth é alta, loira, de olhos azuis, Virginia era bem mais baixinha, de cabelos pretos. O espectador assim vai ter que fazer um esforço a mais para acreditar que ela é Virginia Woolf. Algo que não é nada bom para um filme biográfico e de história como esse. A atriz é visivelmente talentosa, mas ficou mesmo um pouco fora de contexto por essa razão. Fora isso indico a produção para quem aprecia as biografadas.

Vita & Virginia (Inglaterra, Irlanda, 2018) Direção: Chanya Button / Roteiro: Eileen Atkins / Elenco: Gemma Arterton, Elizabeth Debicki, Isabella Rossellini / Sinopse: Roteiro baseado em fatos históricos reais. O filme resgata a paixão lésbica que surgiu entre duas escritoras famosas no começo do século XX, envolvendo Virginia Woolf e Vita Sackville-West. Filme indicado no British Independent Film Awards na categoria de Melhor Atriz (Elizabeth Debicki).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

A Vingança de Frank James

Esse filme foi uma espécie de sequência do clássico "Jesse James". Tudo se passa após a morte de Jesse James, ou seja, o enredo desse filme começa a partir do final do filme anterior. O elenco é excelente! A "Vingança de Frank James” traz vários atores do primeiro filme, embora também haja mudanças em relação ao elenco original. A ausência mais sentida é justamente a de Randolph Scott e Nancy Kelly pois seus personagens foram eliminados da trama dessa sequência. O ponto positivo fica com Henry Fonda que no papel de Frank James assume o filme como protagonista. Ele repete seu bom desempenho do filme anterior e segura muito bem as pontas. Um novo personagem é acrescentado na estória, Eleanor Stone, uma jovem jornalista que se interessa pela história dos irmãos James. Ela é interpretada pelo correta Gene Tierney. Outro destaque é a ótima interpretação de Henry Hull, o dono do jornal e advogado que vai ao tribunal defender Frank James.

O roteiro de “A Vingança de Frank James” toma várias liberdades com a história original. Embora Frank tenha sido realmente inocentado de todas as acusações (em dois e não em apenas um julgamento como se vê no filme) ele não teve qualquer ligação com a morte de Robert Ford, assassino de seu irmão Jesse James. No roteiro aqui Frank James sai no encalço de Robert Ford dentro de um estábulo. Na história real Ford foi morto em seu Saloon por um sujeito que queria ter a honra de matar o homem que matou Jesse James. Mesmo com a pouca fidelidade histórica o roteiro de “A Vingança de Frank James” é muito bem escrito, contando uma longa história sem se tornar cansativo e enfadonho. Além disso consegue se fechar muito bem em si mesmo. Tudo muito bem arranjado, mesmo que misture fatos reais com eventos meramente fictícios.

Houve uma mudança na direção. Saiu Henry King e entrou o genial Fritz Lang. Lang imprime um tom mais sério no filme mas ao mesmo tempo se mostra fiel à estrutura de dramaturgia do filme anterior. Os personagens de “Jesse James” que reaparecem aqui usam da mesma caracterização e tom, o que demonstra que Fritz Lang, apesar de ter sido um dos cineastas mais autorais da história do cinema mantém a espinha dorsal montada por Henry King em “Jesse James”. Fritz Lang foi escalado por Zanuck depois que esse teve alguns atritos com Henry King que não aceitava muito bem as inúmeras interferências do produtor em seu filme. O resultado final aqui como se nota é muito bom, mostrando que Fritz Lang também poderia ser um cineasta de estúdio, sem maiores vôos autorais como conhecemos de outros filmes seus.

Em termos de produção, nada a reclamar. Novamente se faz presente a mão forte de Darryl F. Zanuck como produtor. Embora não tenha sido creditado em “Jesse James” aqui ele fez questão de assinar o filme, fruto obviamente de seu grande sucesso. Ao lado de Fritz Lang construiu uma continuação de excelente nível. O produtor também interferiu bastante no roteiro e na escalação do elenco. Trocou alguns nomes e eliminou personagens. Foi dele inclusive a idéia de colocar cenas de “Jesse James” aqui no começo do filme (inclusive a cena da morte de Jesse, extraída da primeira produção com Tyrone Power sendo assassinado).

A Vingança de Frank James (The Return of Frank James, EUA, 1940) Direção: Friz Lang / Roteiro: Sam Hellman / Elenco: Henry Fonda, Gene Tierney, Jackie Cooper, Henry Hull, John Carradine / Sinopse: Após o assassinato de seu irmão Jesse James (Tyrone Power) o pistoleiro Frank James (Henry Fonda) decide ir atrás de seu assassino, Robert Ford (John Carradine).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Cinzas ao Vento

Anos após ser expulso de sua cidade natal, Brant Royle (Gary Cooper) retorna. O lugar agora está sob dominação do magnata do tabaco James Singleton (Donald Crisp), o mesmo homem que havia perseguido Brant e seu pai. O tempo passou, mas as velhas mágoas ainda existem. Ao conhecer um inventor de máquinas de fabricação de cigarros, Brant decide pegar algum dinheiro emprestado com seu antigo amor Sonia (Lauren Bacall) para abrir um novo negócio, justamente uma fábrica de cigarros pois ele vê uma oportunidade de ficar rico com a produção em série do produto. Com os anos Royle acaba se tornando ele próprio um magnata da indústria, embora pessoalmente não consiga superar seus velhos traumas do passado. 
 
Esse é mais um excelente drama dirigido pelo mestre Michael Curtiz. O roteiro explora a ascensão e queda de um homem que, saído da extrema pobreza, começa a subir os degraus do sucesso e da riqueza. O personagem interpretado por Cooper é um sujeito que deseja acima de tudo destruir a família Singleton, pois no passado eles destruíram seu pai, um honesto e pacato plantador de tabaco. O tempo passa e ele volta para sua vingança, mas acaba sendo traído também por seus sentimentos pois se apaixona justamente pela filha de seu pior inimigo, a bela e perigosa Margaret Jane Singleton (interpretada pela atriz Patricia Neal que tinha um affair com Cooper na época das filmagens). É a velha questão do chamado triângulo amoroso.

A prestativa e apaixonada Sonia (Bacall) ama e faz de tudo por Royle (Cooper), mas ele ama outra pessoa, a fútil e ardilosa Margareth (Neal) que no fim das contas só deseja destrui-lo. O roteiro foi escrito inspirado no romance de Foster Fitzsimmons. O livro, um autêntico drama romântico sulista, tem todos os elementos que não poderiam faltar nesse tipo de literatura. Há um protagonista que vira vítima de seu próprio sucesso, amores não correspondidos, traições e até um interessante  discurso sobre os poderosos monopólios que iam surgindo dentro da nascente economia industrial norte-americana na virada do século XIX. Essa transformação industrial do sul após a guerra civil aliás é um dos aspectos mais peculiares do filme.

O protagonista interpretado por Gary Cooper é um industrial que aos poucos vai perdendo sua humanidade, tudo corroído pela ganância e pela sede de poder e dominação. Além disso o fato de ser um homem que fica extremamente rico popularizando o cigarro (ao invés do charuto que era o mais popular até então) o torna ainda mais culpado por seus atos e decisões. E por uma dessas ironias do destino o próprio Gary Cooper morreria anos depois exatamente por sofrer de um câncer de pulmão incurável causado pelo fumo excessivo. Na época os danos à saúde causados pelo tabaco ainda eram desconhecidos pela ciência. Muitos, como Cooper, acabariam perdendo a vida exatamente por ignorarem o mal que estavam fazendo para o seu próprio organismo.

Cinzas ao Vento (Bright Leaf, Estados Unidos, 1950) / Estúdio: Warner Bros / Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Ranald MacDougall / Elenco: Gary Cooper, Lauren Bacall, Patricia Neal, Donald Crisp, Jeff Corey, Taylor Holmes / Sinopse: Esse clássico do cinema conta a história de Brant Royle (Gary Cooper). No passado ele havia sido expulso de sua terra natal, mas agora está de volta e começa a se tornar um prospero homem de negócios.

Pablo Aluísio. 

Matar ou Morrer

Will Kane (Gary Cooper) é um xerife de uma pequena cidade do oeste. Após ser informado que bandidos estão chegando no local ele tenta recrutar alguns cidadãos para lhe ajudar a enfrentar os facínoras, mas a ajuda é negada pelos moradores locais. Sozinho e abandonado à própria sorte, ele decide enfrentar o bando que está prestes a chegar na cidade apenas com sua bravura e dignidade de homem da lei. Esse foi o filme da vida do ator Gary Cooper e isso, meus amigos, não é pouca coisa já que Cooper foi um dos maiores nomes da história do cinema americano.

Grace Kelly, na flor da idade, esbanja beleza e charme. No elenco de apoio duas curiosidades para os cinéfilos: Lee Van Cleef, que se tornaria um dos "vilões" mais recorrentes em filmes de western nos anos seguintes e Lon Chaney Jr, isso mesmo, o Lobisomen em pessoa dos antigos filmes de terror. Ele aliás tem ótima cena ao lado de Cooper em que diz que "as pessoas não se importam realmente com honra e e justiça". A produção do filme é minimalista. O interessante é que tudo o que foi preciso para contar a estória do filme foi a cidade cenográfica (até bastante despojada) e a estação de trem. Nada mais. É o típico caso em que a produção se resguarda para não atrapalhar o clima psicológico em que vive o xerife naquele momento crucial que antecede a chegada dos pistoleiros na cidade.

O roteiro segue em tempo real (uma grande novidade na época). Embora o enredo em si pareça simples, na realidade não é. Seu subtexto traz diversas leituras, inclusive sobre a hipocrisia que reina em toda comunidade humana. Muito interessante, vale a pena procurar e descobrir as diversas entrelinhas que o argumento tenta passar aos espectadores. A direção do filme é simplesmente excelente, Fred Zinnemann realmente era craque, um cineasta de mão cheia. Existe uma determinada cena que ilustra bem como sua direção é inspirada. Enquanto o xerife caminha pela cidade vazia a câmera dá um travelling e sobe, mostrando toda a solidão e abandono do personagem naquele momento. "Matar ou Morrer" é seguramente um dos maiores clássicos do western americano. Um filme obrigatório.

Matar ou Morrer (High Noon, Estados Unidos, 1953) Direção: Fred Zinnemann / Roteiro: Carl Foreman inspirado na estória "The Tin Star" de John W. Cunningham / Elenco: Gary Cooper, Grace Kelly, Thomas Mitchell, Lee Van Cleef, Lon Chaney Jr / Sinopse: Will Kane (Gary Cooper) é um xerife de uma pequena cidade do oeste. Após ser informado que bandidos estão chegando no local ele tenta recrutar alguns cidadãos para lhe ajudar a enfrentar os facínoras mas a ajuda é negada pelos moradores locais. Sozinho e abandonado à própria sorte ele decide enfrentar o bando que está prestes a chegar na cidade apenas com sua bravura e dignidade de homem da lei. Filme premiado pelo Oscar nas categorias de Melhor Ator (Cooper), Melhor Edição, Melhor Música original (High Noon (Do Not Forsake Me, Oh My Darlin')  e Melhor Trilha Sonora Incidental (Dimitri Tiomkin). Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Lawrence da Arábia

Esse filme é a obra prima absoluta do diretor David Lean, um dos melhores cineastas da história do cinema. Também é o auge, o ponto máximo da carreira do ator Peter O'Toole, um pico que ele nunca mais alcançaria em sua vida. São vários os adjetivos usados para essa produção realmente memorável. Grandioso, épico, maravilhoso, o cinema em sua mais qualificada essência, etc. De fato é um filme impressionante, uma produção que custou milhões de dólares e foi extremamente complicada de concluir. Também é grande em duração, com quase 230 minutos de duração. O cinéfilo precisa praticamente se preparar para encarar um filme assim, tão longo e ao mesmo tempo tão espetacular.

O curioso é que tudo estava pronto para Marlon Brando estrelar o filme. O roteiro foi pensado nele e o ator já tinha até mesmo concordado em analisar o convite, só que na última hora ele desistiu. O motivo foi frívolo. Brando afirmou que David Lean levava tanto tempo para filmar que ele provavelmente iria morrer seco no meio do deserto. Foi uma pena, mas ao mesmo tempo uma jogada do destino, porque atualmente ninguém consegue imaginar o personagem histórico sendo interpretado por outro ator. Peter O'Toole fez um trabalho tão fantástico que ele ficou para sempre marcado como o Lawrence da Arábia. E ao seu lado, no elenco, não faltaram outros nomes geniais como Alec Guinness, Anthony Quinn e Omar Sharif . Ou em outros termos, o filme também trazia a nata dos grandes atores da época.

Hoje em dia a figura de T.E. Lawrence é mais controversa do que quando o filme foi lançado. Esse inglês foi de tudo um pouco, arqueólogo, militar, agente secreto, diplomata. Para a mentalidade atual revisionista ele seria apenas um personagem a mais no jogo de dominação colonial do império britânico no Oriente Médio. Essa visão progressista mais crítica porém não se sustenta muito em meu ponto de vista. Até porque ele também foi um excelente escritor. Basta ler poucas linhas de seu mais conhecido livro, "Os Sete Pilares da Sabedoria", para bem entender isso. Porém deixando de lado essa visão mais política, o fato inegável é que o filme "Lawrence of Arabia" é mesmo cinema em seu estado mais grandioso, em sua mais pura essência. Um dos maiores clássicos da história do cinema de todos os tempos. Maior até mesmo que seu próprio protagonista.

Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia, Inglaterra, 1962) Direção: David Lean / Roteiro: Robert Bolt / Elenco: Peter O'Toole, Alec Guinness, Anthony Quinn, Omar Sharif, José Ferrer / Sinopse: O filme conta a história real do oficial britânico Thomas Edward Lawrence (1888 - 1945), um homem que teve grande importância no período colonial do império britânico no Oriente Médio. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção (David Lean), Melhor Trilha Sonora (Maurice Jarre), Melhor Edição (Anne V. Coates), Melhor Som (John Cox), Melhor Direção de Arte (John Box, John Stoll, Dario Simoni) e Melhor Fotografia (Freddie Young).

Pablo Aluísio. 


A Noite dos Generais

Em 1942, na cidade de Varsóvia, uma prostituta polaca é assassinada de forma sádica. O major Grau (Omar Sharif), um homem da inteligência alemã, que acredita na justiça, fica a cargo do caso. Uma testemunha viu um general alemão sair do prédio depois de um grito da vítima. Uma investigação mais aprofundada mostra que três generais não têm qualquer álibi para aquela noite: General Tanz (Peter O'Toole), o major-general Klus Kahlenberge (Donald Pleasance) e o General von Seidlitz-Gabler (Charles Gray). Eles três passam a evitar um contato direto com o Major Grau e se tornam potenciais suspeitos. Quando finalmente Grau se aproxima da verdade, ele é promovido e enviado para Paris. Mesmo com essa suspeita transferência ele não está disposto a abandonar sua busca pelo assassino.

Ótimo filme, com o Peter O'Toole dando show como um oficial nazista frio, calculista e maníaco. Outro destaque é a locação, filmado em Paris, com ótimas tomadas da cidade luz. O roteiro é um primor pois mistura alguns gêneros diversos em um só filme. Há uma trama de assassinato a ser desvendada (lembrando os mistérios de Agatha Christie), um serial killer à solta (filmes sobre psicopatas forma um subgênero à parte) e finalmente tudo se passando durante a segunda guerra mundial, numa Paris deslumbrante, mas ocupada pelas forças armadas nazistas.

O elenco reuniu novamente a dupla Peter O'Toole e Omar Sharif, que tinham brilhado no clássico "Lawrence da Arábia" de David Lean. Eles não contracenam muito, é verdade, mas formam a espinha dorsal da narrativa, uma vez que Sharif tenta de todas as formas descobrir a identidade do general assassino e o personagem de Peter O'Toole se torna logo um dos principais suspeitos. Não deixa de ser muito curiosa a estrutura desse enredo, pois em uma guerra em que morriam milhões ao redor do mundo, termos um personagem assim, obcecado em descobrir quem matou a prostituta polonesa. Claro, não deixa de ser uma grande ironia da trama original. Recomendo para quem gosta de filmes com mais de uma temática, pois aqui temos um filme de guerra com toques de filmes sobre serial killers. O resultado final dessa mistura ficou excelente.

A Noite dos Generais (The Night of the Generals, Estados Unidos, Inglaterra, França, 1967) Estúdio: Columbia Pictures, Horizon Pictures / Direção: Anatole Litvak / Roteiro: Joseph Kessel, Paul Dehn / Elenco: Peter O'Toole, Omar Sharif, Tom Courtenay, Donald Pleasance / Sinopse: Durante a II Guerra Mundial, em uma Europa ocupada pelas forças armadas do III Reich, um Oficial nazista começa a investigar uma série de mortes. Ao que tudo indica um general alemão estaria envolvido nos crimes.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Becket, O Favorito do Rei

A história do filme se passa em 1066, na Inglaterra medieval. No trono está o Rei Henrique II (Peter O'Toole). Ele é um monarca insolente, imoral, pouco afeito aos assuntos do Estado. Os prazeres, as mulheres e o vinho são mais importantes para ele. Para gerenciar o governo da nação ele resolve nomear seu grande amigo Thomas Becket (Richard Burton) como chanceler. A Inglaterra sofre há anos com a rivalidade entre normandos e saxões. O Rei é de uma linhagem normanda, enquanto sue novo chanceler é saxão. Embora sua decisão tenha sido acertada o Rei logo descobre que precisa de Becket também em outra função.

A Igreja Católica e seu clero se tornam muito poderosos no reino e Henrique II teme por sua coroa. Assim resolve nomear Becket como o Arcebispo de Canterbury. A decisão choca os católicos ingleses pois Becket jamais havia sido membro do clero. O fato porém é que o Rei impõe sua decisão a todos, contando obviamente com o apoio de Becket dentro da Igreja em seu favor. Só que para sua surpresa o novo Arcebispo começa a levar muito à sério sua função. Quando um nobre mata um padre de seu clero ele exige que seja julgado. O Rei assim fica dividido entre os interesses da Igreja e da nobreza, o que lhe coloca numa saia justa. Pior do que isso, Henrique II se sente traído por Becket, a quem pensava ser seu leal amigo.

Esse filme é realmente excelente. Tem uma ótima reconstituição de época e conta uma história real muito interessante. O mais curioso é que o personagem interpretado por Richard Burton se tornaria santo tanto da Igreja Católica como da Anglicana. Ele foi mártir da fé cristã naquele tempo distante, onde os reis absolutistas tinham todo o poder em suas mãos. Por falar em reis, o Henrique II de Peter O'Toole acabou se tornando uma das maiores interpretações de sua carreira e em se tratando de um ator com tantos clássicos em sua filmografia isso definitivamente não é pouca coisa. O roteiro trabalha com uma sugestão subliminar, muito tênue, tratando a imensa amizade que o Rei tinha com Becket quase como se fosse uma relação homoerótica. Os historiadores ainda debatem sobre essa estranha obsessão do monarca para com seu chanceler e amigo. O filme adota assim um tom de sugestão sutil, embora nunca assuma de uma vez essa delicada questão histórica. No mais é uma produção requintada com ótimos figurinos, trilha sonora, cenários e, é claro, ótimas atuações de todo o elenco.

Becket, O Favorito do Rei (Becket, Estados Unidos, Inglaterra, 1964) Direção: Peter Glenville / Roteiro: Jean Anouilh, Lucienne Hill, Edward Anhalt / Elenco: Richard Burton, Peter O'Toole, John Gielgud / Sinopse: Thomas Becket (Richard Burton), chanceler e amigo do Rei Henrique II da Inglaterra (Peter O'Toole), assume o mais alto cargo do clero católico da nação. Aos poucos porém ele começa a defender os interesses da igreja e não os do Rei, o que acaba enfurecendo o monarca que o considerava seu amigo. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Roteiro Adaptado. Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme (Hal B. Wallis), Melhor Ator (Peter O'Toole), Melhor Ator (Richard Burton), Melhor Ator Coadjuvante (John Gielgud, como o Rei da França, Louis), Melhor Direção (Peter Glenville), Melhor Fotografia (Geoffrey Unsworth), Melhor Figurino (Margaret Furse), Melhor Som, Edição, Direção de Arte e Música. Vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama e Melhor Ator (Peter O'Toole).

Pablo Aluísio.

O Rei

A história do Rei Henry V (1386 - 1422) já deu origem a pelo menos dois excelentes filmes no cinema. O primeiro é o clássico de 1944 estrelado por Laurence Olivier. Ele mesmo dirigiu essa peça teatral filmada, uma vez que foi baseada na obra de William Shakespeare. No final dos anos 80 houve outra versão bem conhecida, também baseada na peça do imortal escritor. Dessa vez o monarca foi interpretado por Kenneth Branagh, uma espécie de sucessor de Olivier. Ambos os filmes são considerados obras primas do cinema e adaptações primorosas da obra original de Shakespeare; Filmes impecáveis. Agora, com menos pretensão, a Netflix produziu esse filme que conta a história de Henrique V. Sai o texto mais complexo de Shakespeare e entra um roteiro convencional, com diálogos simples, sem a complexa linguagem do autor. Foi uma boa decisão pois nem todo mundo está preparado para encarar um texto tão rebuscado. Muitas vezes o espectador apenas quer assistir a uma boa reconstituição da verdadeira história medieval.

O Henry que surge nesse filme é um jovem príncipe inconsequente que só pensa em farrear e beber. Sua vida rebelde muda quando seu pai morre. O relacionamento com ele era o pior possível, a tal ponto que ele é tirado da sucessão ao trono pelo seu pai, o Rei Henrique IV. Só que seu irmão também é morto em combate, sobrando apenas Henry dentro da família para subir ao trono. E para surpresa de muitos ele acabou sendo um Rei acima da média. Ele inicialmente procurou pela paz, mas quando essa se tornou impossível com o Reino da França uma guerra em solo francês se tornou inevitável, o que acabou sendo um fato essencial para que esse Rei se tornasse tão querido pelo povo inglês.

Um fato curioso, não mostrado no filme, é que Henry acabou tendo vida breve. Ele morreu durante uma de suas campanhas, no meio do campo de batalha, de causas ainda hoje desconhecidas. A versão oficial é que teria morrido de diarreia, já que os padrões de higiene na Idade Média eram praticamente inexistentes. Já outra versão, mais aceita atualmente por historiadores, afirma que ele foi envenenado por sua própria esposa francesa, a filha do Rei da França que havia derrotado. Pois é, dormir com o inimigo nunca é mesmo uma boa ideia.

O Rei (The King, Inglaterra, Hungria, Austrália, 2019) Direção: David Michôd / Roteiro: Joel Edgerton, David Michôd / Elenco: Timothée Chalamet, Robert Pattinson, Joel Edgerton, Ben Mendelsohn, Thibault de Montalembert, Tom Glynn-Carney, Gábor Czap, Tom Fisher  / Sinopse: O filme conta a história do Rei inglês Henrique V. Subindo ao trono muito jovem precisou lidar com as provocações do Reino da França, algo que culminaria em guerra. Filme produzido pelo ator Brad Pitt.

Pablo Aluísio. 

domingo, 10 de novembro de 2019

A Última Vez Que Vi Paris

Helen Ellswirth (Elizabeth Taylor) é uma americana que vive em Paris ao lado de sua irmã Marion (Donna Reed) e seu pai, James (Walter Pidgeon), um velho espirituoso e excêntrico que apesar de estar na ruína financeira não deixa o jeito de ser típico de milionários generosos. No dia em que Paris é libertada do domínio nazista Helen acaba conhecendo o jovem soldado americano Charles Wills (Van Johnson) e se apaixona por ele. O problema é que Charles, assim como Helen, não tem um tostão. Mesmo assim iniciam um breve romance que logo vira casamento. Charles resolve abandonar o exército e se emprega como correspondente jornalístico em Paris para um jornal europeu. Logo nasce sua primeira filha e ele dá início ao seu sonho de ser um grande escritor. Infelizmente porém seus textos vão sendo recusados um após o outro pelas editoras. Vendo seu sonho fracassar e começando a ter problemas com as bebidas, Charles começa a ver seu sonho Parisiense naufragar. “A Última Vez Que Vi Paris” é um dos clássicos românticos da carreira de Elizabeth Taylor. Aproveitando o cilma romântico de uma das cidades mais famosas e românticas do mundo o filme foi o último de Liz antes de começar as filmagens do grande sucesso de sua carreira, o mitológico Giant (Assim Caminha a Humanidade).

O roteiro foi baseado no famoso livro do escritor F. Scott Fitzgerald (o mesmo autor dos clássicos “O Grande Gatsby”, “Suave é a Noite” e “O Último Magnata”). O enredo é essencialmente construído em torno do amor atribulado dos personagens Helen e Charles. Ela é uma americana que tenta ser feliz ao lado do marido que agora vivencia o desmoronamento de seus sonhos literários. A impossibilidade de realizar seu sonho de tornar-se escritor trará conseqüências trágicas para o casal. Elizabeth Taylor está belíssima em cena. Com seu visual clássico, cabelos negros e olhos azuis, ela impressiona pela bela presença. Van Johnson não convence muito como personagem trágico mas felizmente não compromete. Uma das surpresas do elenco é a excelente atuação de Walter Pidgeon. Suas ironias e tiradas cômicas são realmente muito espirituosas e bem escritas, uma pena que o roteiro não o explore mais.

Outra curiosidade é a presença de um jovem Roger Moore, fazendo um desportista que seduz e tenta conquistar o coração de Helen (Elizabeth Taylor). O jeito sutilmente canastrão que iria usar anos depois na série James Bond já é bem visível aqui em cena. A recepção de "A Última Vez Que Vi Paris" em seu lançamento foi controversa. Alguns críticos acusaram o filme de tentar ser um novo "Casablanca", usando inclusive dos clichês do clássico de Michael Curtiz. Outros focaram seu alvo em Van Johnson, considerado exagerado em cena. Quem se saiu ilesa das resenhas negativas foi justamente Liz Taylor.  No mais o filme aproveita bastante a ótima ambientação de Paris, com todos os seus monumentos e pontos turísticos, além da música, sempre presente e evocativa. “A Última Vez Que Vi Paris” é isso, um romance dramático ambientado no pós Guerra em plena cidade luz que naquele momento histórico renascia para nunca mais se apagar. 

A Última Vez Que Vi Paris (The Last Time I Saw Paris, EUA, 1954) Direção: Richard Brooks / Roteiro: Julius J. Epstein, Philip G. Epstein e Richard Brooks baseados na obra de F. Scott Fitzgerald / Elenco: Elizabeth Taylor, Van Johnson, Walter Pidgeon, Donna Reed, Roger Moore / Sinopse: Jovem soldado se apaixona por americana que mora em Paris durante as comemorações do dia de libertação da cidade das forças alemãs. Após se casarem ele tenta emplacar uma carreira de escritor de sucesso mas as coisas acabam não indo do jeito que planejava.

Pablo Aluísio.

sábado, 9 de novembro de 2019

Adeus às Ilusões

Laura Reynolds (Elizabeth Taylor) é uma mulher nada convencional. Artista, ateia, mãe solteira, vive com seu jovem filho numa pequena cabana, localizada numa praia isolada e ensolarada da Califórnia. Lá passa os dias pintando a natureza em seus quadros, enquanto seu garotinho explora as belezas naturais da região. Os dias de tranquila paz porém logo são encerrados. Após o garoto matar um animal silvestre ele é enviado para o juizado de menores onde um severo juiz impõe a seguinte escolha para sua mãe, Laura: Ou ele é enviado para uma escola de ensino religioso onde aprenderá os mais importantes valores morais da sociedade ou então será encaminhado para o reformatório, onde terá contato com pequenos marginais.

Laura não segue nenhuma religião e definitivamente não deseja que seu filho seja doutrinado mas diante da situação extrema concorda em matricular o jovem numa escola religiosa local administrada pelo reverendo Edward (Richard Burton). Esse aliás fica impressionado pelo modo de vida de Laura e seu filho. Vivendo de caça e pesca, com um suado trocado proveniente das vendas dos quadros de sua mãe, Edward fica intrigado pela estrutura dessa família sui generis e diferente. A aproximação porém trará sérias conseqüências na vida de todos os envolvidos pois o religioso começa a sentir uma atração incontida por Laura. Poderá um romance entre um religioso conservador e uma artista liberal, de idéias modernas, dar realmente certo?

“Adeus às Ilusões” é um drama estrelado pelo casal Elizabeth Taylor e Richard Burton sob direção do famoso Vincente Minnelli. O argumento é baseado na obra do autor Dalton Trumbo (um dos grandes roteiristas e escritores da era de ouro do cinema americano) e explora um amor que nasce de duas pessoas completamente diferentes. Ele é um religioso austero, disciplinador, firme em suas convicções e crenças e ela é o extremo oposto disso, artista, de alma livre, que não segue nenhuma regra e vive em harmonia no meio da natureza. Além disso é ateia convicta e não acredita em Deus. Como seria possível duas pessoas de pensamentos tão contrários se apaixonarem, passando por cima de todas as convenções sociais? O texto é excepcionalmente bem escrito, com diálogos saborosos onde cada um tenta convencer o outro de suas crenças (ou da falta delas).

Como não poderia deixar de ser a química entre o casal salta aos olhos nas cenas mais ardentes. Elizabeth Taylor está belíssima em cena, falando suavemente e de forma contida (o extremo oposto de sua personagem histérica em “Quem Tem Medo de Virginia Wolf?”). Burton também se sobressai com o dilema moral que vive seu reverendo. Não conseguindo mais conciliar entre sua fé e a paixão que sente por Laura (Taylor) ele sucumbe aos prazeres do amor e da sedução. Vincente Minelli reservou longos planos abertos para mostrar toda a beleza do lugar onde a produção foi realizada. Também encheu o filme de uma bela trilha sonora com muito jazz e bossa nova. Até o durão Charles Bronson aparece suavizado, em um papel singular, a de um jovem artista escultor que vive na praia entre amigos e saraus. Produção bem escrita, requintada e de bom gosto, “Adeus às Ilusões” é programa obrigatório para os fãs de Elizabeth Taylor, que aqui surge radiante. Não deixe de assistir.

Adeus às Ilusões (The Sandpiper, EUA, 1965) Direção: Vincente Minnelli / Roteiro: Irene Kamp, Louis Kamp, Dallton Trumbo / Elenco: Elizabeth Taylor, Richard Burton, Charles Bronson, Eva Marie Saint, Robert Webber / Sinopse: Religioso austero, conservador e rígido (Richard Burton) se apaixona por jovem artista (Elizabeth Taylor) que além de liberal e atéia também é mãe solteira de um pequeno garoto que se torna aluno da escola religiosa onde administra. Filme vencedor do Oscar de Melhor Canção Original, “The Shadow Of Your Smile".

Pablo Aluísio

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Extraordinário

O filme conta a história de uma criança que nasceu com má formação congênita no rosto. Isso faz com que ela tenha que passar por várias cirurgias plásticas ao longo dos anos. Criada em casa, sendo educada pelos pais no sistema de home school, chega o dia em que precisa finalmente ir para uma escola de verdade, para conviver socialmente com outras crianças de sua idade. Isso porém é também um problema a mais, já que crianças costumam também ser bem cruéis com as diferenças. Até para evitar esse tipo de coisa o menino usa um capacete espacial nas ruas, para evitar olhares curiosos sobre sua aparência física.

Embora a situação, o enredo, tivesse a tendência de transformar tudo em um dramalhão daqueles que já estamos acostumados a assistir, o diretor Stephen Chbosky resolveu pegar leve nesse aspecto. Sim, o conflito existe, o drama de ser um aluno com problemas de má formação o impedem de ser uma criança comum dentro da escola, mas isso também não se torna desculpa para exagerar nas cores do melodrama. As coisas até se normalizam mais a frente, quando a vida do menino começa a ficar mais comum dentro do cotidiano de uma escola como aquela. Ele até mesmo faz amigos e depois se decepciona com um deles quando o pega falando mal dele pelas costas, mas isso é algo que poderia acontecer com qualquer um nessa fase da vida. Como eu disse, a vida escolar nessa idade pode ser bem complicada.

O filme é protagonizado pelo garotinho Jacob Tremblay, que já tinha chamado bem a atenção em "O mundo de Jack". Seus pais são interpretados por dois famosos de Hollywood, a ex-estrela Julia Roberts, já que hoje em dia seu nome já não significa muito em termos de bilheteria e o comediante Owen Wilson. Eles não brilham, já que são apenas coadjuvantes. Se a produção tivesse escalado outra dupla desconhecia para esses papéis não faria diferença nenhuma no final das contas. Então é isso. Um filme sobre uma criança com problemas, tanto físicos como emocionais. Tudo feito até com certo equilíbrio, embora tenha lá seus momentos de pura pieguice.

Extraordinário (Wonder, Estados Unidos, 2017) Direção: Stephen Chbosky / Roteiro: Stephen Chbosky, Steve Conrad / Elenco: Jacob Tremblay, Julia Roberts, Owen Wilson, Izabela Vidovic / Sinopse: O filme conta a história do garotinho que nasceu com um problema facial, em decorrência de má formação. Sua infância segue com uma certa normalidade, até o dia em que ele precisa ir para uma escola de verdade, conhecer outras crianças de sua idade. Em outras palavras, conhecer o mundo real lá fora.

Pablo Aluísio.

Jesse James

Um dos criminosos mais infames do velho oeste, a história do pistoleiro e ladrão Jesse James deu origem a diversos filmes ao longo da história. Um dos mais lembrados é esse clássico da década de 1930. Não há como negar que o roteiro desse filme seja bem romanceado, mas mesmo assim tenta manter um pé na realidade dos fatos históricos. O filme inclusive contou com consultores históricos para recriar a biografia do famoso criminoso de forma mais fiel aos acontecimentos reais. No começo da história ainda há uma tentativa de justificar a entrada de Jesse James no mundo do crime, mas depois, de forma acertada, o texto demonstra a mudança em sua personalidade quando ele se torna realmente um criminoso por vontade própria, ciente de seus atos. Embora haja traços do Jesse James da literatura de entretenimento, dos famosos livros de bolso que ajudaram a popularizar seu nome, o roteiro procura sempre seguir os fatos reais quando possível. A cena final de seu assassinato, embora com erros históricos, é bem realizada.

Um dos melhores motivos para se assistir “Jesse James” é o seu elenco. Tyrone Power está bem como o personagem principal, embora haja limitações em sua caracterização pois ele está de certa forma muito polido em cena (o verdadeiro Jesse James era mais turrão e rude). Melhor se sai Henry Fonda, com trejeitos rústicos do interior, sempre cuspindo fumo e com olhar de caipirão desconfiado. Sua atuação demonstra uma preocupação maior em construir um personagem mais próximo da realidade. Seu Frank James não aparece muito, mas quando surge chama bem a atenção. A atriz Nancy Kelly que faz a esposa de James surpreende em ótimas cenas. São dela inclusive os momentos mais dramáticos como àquele em que resolve ir embora com o filho recém nascido. Por fim, completando o núcleo do elenco principal temos Randolph Scott. Em papel coadjuvante o ator está excepcionalmente bem na pele de um sujeito que caça Jesse James no começo do filme, mas que depois compreende a situação do criminoso e acaba mudando de atitude, ajudando inclusive sua família.

Embota não tenha sido creditado o filme foi produzido pessoalmente pelo chefão da Fox, Darryl F. Zanuck. Isso significa que “Jesse James” contou com o melhor que estava disponível na época no estúdio. De fato a produção é de muito bom gosto, com boa reconstituição de época (inclusive no que diz respeito a pequenos detalhes como figurino). Há ótimas cenas de roubos de trens, bancos e perseguições. Uma sequência que inclusive chama a atenção até hoje é aquela em que Jesse e Frank James pulam com seus cavalos do alto de um despenhadeiro em um rio abaixo. Pela altura e pela coragem dos dublês o resultado final realmente impressiona. A nota triste é que os animais foram sacrificados após soltarem daquela altura o que levou o filme a ser enquadrado em uma lista do American Human Associate por crueldade animal em filmes de Hollywood.

Já em termos de direção, não há mesmo o que reclamar. O diretor Henry King soube ser conciso em “Jesse James” e realizou um trabalho enxuto e eficiente. Evitou glamorizar a vida do criminoso. Como o filme teve um cronograma de filmagens muito austero, o cineasta Henry King contou com a ajuda de outro diretor da Fox, Irving Cummings, que acabou não sendo creditado. Henry King aqui trabalhou novamente ao lado de um de seus atores preferidos, Tyrone Power. Juntos tiveram grandes êxitos de bilheteria em filmes de capa e espada – sendo esse “Jesse James” mais uma bem sucedida parceria entre eles, embora em um estilo completamente diferente. O filme foi a quarta maior bilheteria do ano só ficando atrás apenas de fenômenos como “E o Vento Levou” e “O Mágico de Oz”.

Jesse James (Jesse James, Estados Unidos, 1939) Direção: Henry King / Roteiro: Nunnally Johnson, Gene Fowler, Curtis Kenyon, Hal Long / Elenco: Tyrone Power, Henry Fonda, Nancy Kelly, Randolph Scott, Donald Meek, John Carradine / Sinopse: Cinebiografia do famoso criminoso Jesse James (Tyrone Power) que ao lado de seu irmão Frank James (Henry Fonda) assaltava bancos, trens e diligências no velho oeste.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Fanático

Esse é o mais recente filme do ator John Travolta. Ele interpreta um homem com problemas mentais, possivelmente autismo (o roteiro nunca deixa claro) que ganha a vida pelas ruas sujas de Los Angeles. Fanático por cinema, ele nutre uma grande admiração pelo astro de filmes de ação Hunter Dunbar (Devon Sawa). Quando descobre que ele vai fazer uma sessão de autógrafos numa loja perto de sua casa, ele praticamente enlouquece pela chance de conhecer pessoalmente seu ídolo. E aí vem aquela situação delicada quando o fã conhece seu ídolo e descobre que ele é no fundo um babaca arrogante que não tem respeito por ninguém e nem por nada. Como Moose (Travolta) sofre de um transtorno mental ele perde a noção das coisas e começa a perseguir o ator.

Descobre onde ele mora por por um aplicativo de celular e vai até à sua casa. Se torna um stalker (perseguidor), infernizando a vida do ator que idolatra. E aí as coisas definitivamente começam a sair do controle. O filme ainda não tem título nacional, mas poderia se chamar "O Fã", seria melhor do que "O Fanático", embora ambas as expressões fossem adequados, já que o autista de Travolta pode ser enquadrado tranquilamente nas duas categorias. Ora ele age como um fã normal, como qualquer outro, ora perde a noção das coisas e passa a ser um fanático sem senso de realidade, não respeitando os limites que devem ser impostos principalmente em relação à privacidade de seu grande ídolo das telas.

John Travolta aliás se esforça bastante para interpretar bem seu papel. Ele usa roupas esquisitas, anda de monociclo pelas ruas da cidade e tem um comportamento bem estranho. Para ganhar a vida interpreta um policial inglês na calçada da fama de Hollywood, para ganhar alguns trocados dos turistas. O filme tem um clima melancólico e até sombrio, mas o roteiro não vai até as últimas consequências. Um freio é puxado quando as coisas começam a ficar violentas demais. Outro aspecto interessante é que inicialmente pensei se tratar de uma adaptação de quadrinhos, pois pontuais sequências de desenho animado são vistos entre as cenas. Porém isso não procede. É de fato um roteiro original que acabou me agradando em sua proposta geral.

Fanático (The Fanatic, Estados Unidos, 2019) Direção: Fred Durst / Roteiro: Fred Durst / Elenco: John Travolta, Devon Sawa, Ana Golja, Jacob Grodnik / Sinopse: Moose (Travolta) é um homem com problemas mentais que passa a perseguir o ator Hunter Dunbar (Devon Sawa). Ele é um astro de filmes de ação que reage muito mal à aproximação de seu admirador, criando uma tensão e um clima de violência que pode explodir a qualquer momento.

Pablo Aluísio.

Cowboy do Asfalto

Dar uma visão do cowboy americano da atualidade – essa era a proposta desse “Cowboy do Asfalto”, produção estrelada por John Travolta no auge de sua carreira. No filme acompanhamos as mudanças pelas quais passa Bud Davis (John Travolta), um rapaz do interior que se muda para a cidade grande em busca de novas oportunidades. E lá que seu tio vai lhe dar uma mão na busca de um emprego e um novo lugar para morar. Recém chegado logo começa a trabalhar numa refinaria como operário. Com os trocados que ganha durante a semana no trabalho duro o jovem Bud vai para os bailes de música country no fim de semana.

Em uma dessas noites ele acaba conhecendo Sissy (Debra Winger), uma garota que adora o universo country. Depois de uma paixão avassaladora resolvem dar o grande passo de suas vidas, se casando de forma até prematura. O que parecia ser um belo caminho a trilhar em suas vidas infelizmente logo começa a ruir com os problemas do cotidiano. Falta de grana e meios para se viver melhor. A grande chance de dar a volta por cima acaba vindo em torno de uma competição esportiva de montaria ao touro mecânico, que promete pagar um belo prêmio ao último cowboy que conseguir ficar firme na montaria até o apito final.

“Cowboy do Asfalto” é interessante porque conseguiu captar a vida de dois jovens comuns que apaixonados vivem as incertezas do casamento. Durante a semana eles pegam pesado no batente, geralmente em empregos desgastantes e sem nenhum atrativo, mas extravasam suas frustrações durante o fim de semana quando se vestem como vaqueiros do interior, dançam e se divertem ao som de muita música country, participando de competições do gênero como a montaria no touro mecânico.

John Travolta, bem jovem e cheio de maneirismos, repete de certa forma seu tipo de interpretação que havia desenvolvido em filmes como “Grease” e “Os Embalos de Sábado à Noite”. A única novidade é o universo country ao seu redor. Melhor se sai Debra Winger como a jovem que só quer ser feliz ao lado do amor de sua vida. O filme tem muita música, dança (como era de se esperar de um filme com John Travolta naquela época) e romance. Revendo hoje em dia o filme ganha muito no aspecto nostalgia (principalmente para quem foi jovem nas décadas de 70 e 80) e por isso vale ser revisto. Ah e antes que me esqueça: a trilha sonora de “Cowboy do Asfalto” é um prato cheio para quem gosta de música country, inclusive com a participação de muitos cantores famosos na época. Se você é fã do estilo não deixe de ver.

Cowboy do Asfalto (Urban Cowboy, EUA, 1980) Direção: James Bridges / Roteiro: Aaron Latham, James Bridges / Elenco: John Travolta, Debra Winger, Scott Glenn / Sinopse: O filme narra os problemas e o romance de um casal de jovens que vivem em uma grande cidade americana mas que procuram preservar as suas origens dentro do universo country.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Marcado pela Sarjeta

Esse é um filme baseado em fatos reais. Na história de um dos lutadores mais conhecidos da história do boxe americano. O roteiro é até bem convencional, sendo respeitoso com o protagonista, muito embora não esconda seus problemas pessoais e profissionais. Tudo levado numa ótica mais realista possível.O texto do roteiro foi baseado na autobiografia do lutador de boxe Rocky Graziano, aqui sendo interpretado por Paul Newman, acompanhamos sua trajetória desse boxeador rumo ao sucesso no esporte, seus amores, dramas e finalmente a queda após um momento de auge e excessos em sua carreira. Foi considerado um excelente drama esportivo, uma cinebiografia tocante e talentosa do popular lutador de boxe Rocky Graziano. O papel havia sido escrito para ser estrelado por James Dean, embora ele não tivesse altura e porte físico suficientes para encarnar o famoso boxeador. Com sua morte em um acidente de carro na estrada de Salinas, na Califórnia, a MGM ficou algum tempo em busca de um ator talentoso para encarnar Rocky nas telas. A procura porém não demorou muito, pois um novo astro estava surgindo em Hollywood. E o jovem Paul Newman parecia ser o sucessor natural de James Dean, até porque o caminho de ambos já tinham se cruzado algumas vezes na capital mundial do cinema.

Paul Newman, que também vinha do mesmo Actors Studio de Dean, se revelou ser uma excelente opção. A estrutura do roteiro se revelava perfeita em três atos, mostrando a luta de Rocky em chegar ao topo, seus excessos e sua queda, tanto no esporte como na vida. Os destaques em termos de técnica cinematográfica vão para a bela fotografia e a inspirada direção de arte (não por acaso vencedoras do Oscar). A edição também se destaca, principalmente nas cenas de luta, que imprime uma grande agilidade nas sequências. Além disso Newman conseguiu pela primeira vez no cinema disponibilizar ao público uma excelente atuação. Outro destaque do elenco vem com a presença da atriz Pier Angeli, o grande amor de James Dean, que se destaca em sua personagem. Ela era inegavelmente uma boa atriz, porém morreu muito cedo, precocemente. Depois da morte de James Dean tentou uma nova vida em Hollywood, se casou, mas se tornou uma pessoa infeliz com o passar dos anos. Nessa produção ela teve a melhor atuação de toda a sua carreira. Em suma um belo clássico que merece ser redescoberto sempre que possível.

Marcado pela Sarjeta (Somebody Up There Likes Me, Estados Unidos, 1956) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: Robert Wise / Roteiro: Ernest Lehman / Elenco: Paul Newman, Pier Angeli, Everett Sloane / Sinopse: De origem humilde, o lutador de boxe Rocky Graziano (Paul Newman) começa a subir na carreira, se transformando em um campeão dos ringues. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Fotografia em Preto e Branco (Joseph Ruttenberg) e Melhor Direção de Arte (Cedric Gibbons e Malcolm Brown). Indicado ainda a Melhor Edição.

Pablo Aluísio.

O Moço de Filadélfia

Baseado no romance de Richard Powell, o filme "The Young Philadelphians" conta a história de Anthony Judson Lawrence (Paul Newman), um jovem estudante de direito que sonha em se tornar um dia um grande advogado. Seu pai falecido pertencia a uma das famílias mais ricas da Filadélfia, mas sua mãe o criou como um rapaz humilde, trabalhador, que precisa ganhar a vida também em empregos mais modestos, como na construção civil. Ao se apaixonar por Joan Dickinson (Barbara Rush), filha de um bem sucedido advogado da cidade, Tony começa a construir uma nova vida até que o destino novamente muda praticamente tudo da noite para o dia. Um bom romance dramático que nem é tão lembrado nos dias atuais. Uma pena já que é de fato um filme bem acima da média. Embora haja muitos personagens interessantes desfilando na tela o foco se concentra mesmo na história do jovem Tony Lawrence (Newman). Ele foi fruto de um casamento problemático. Sua mãe era uma jovem comum, de classe mais humilde, que acabou se apaixonando por seu pai, o único herdeiro da grande fortuna de sua família, uma das mais ricas da Filadélfia. Quando ele se casa sofre um verdadeiro colapso emocional, o que o leva a abreviar sua vida de forma trágica (o roteiro não deixa essa aspecto completamente claro, mas fica subentendido que seu pai seria na realidade um homossexual enrustido que foi forçado a se casar para manter as aparências perante a sociedade). Após a morte prematura do pai o garoto Tony passa a ser criado apenas por sua mãe que arranja inúmeros empregos para lhe sustentar.

Os anos passam, Tony se torna um rapaz bonito e inteligente e consegue entrar na faculdade de direito, um velho sonho. Uma vez lá ele finalmente começa a ver as portas se abrindo para seu futuro. Quando conhece a bela Joan (Bush) tudo se completa. Ele está começando sua vida profissional, está apaixonado e seguro que terá um lindo futuro pela frente. O problema é que Joan acaba sucumbindo às pressões de seu pai, um advogado rico e bem sucedido, e resolve largar o honesto, porém pobretão Tony, para se casar com um outro sujeito, cheio de posses e também proveniente de uma rica família como a dela. Ela não o ama, mas mesmo assim sobe ao altar para agradar seus familiares. Embora fique arrasado com esse casamento, Tony decide seguir em frente, subindo cada vez mais na profissão de advogado. Sua prova de fogo na profissão finalmente vem quando seu grande amigo Chester A. Gwynn (Robert Vaughn) é acusado de ter cometido um homicídio. O crime parece envolver figurões da cidade e por essa razão Tony começa a sofrer todos os tipos de pressão. Mesmo assim, dono de uma integridade fora do comum, ele resolve seguir em frente para provar a inocência do amigo, tentando o livrar de uma condenação certa de pena de morte.

Embora possa parecer que seja um drama de tribunal apenas, "The Young Philadelphians" é bem mais do que isso pois procura desenvolver muito bem os sonhos, anseios e lutas de seu protagonista. Assim o destaque não vai apenas para o lado jurídico de sua trama, mas também para o aspecto emocional de seu conturbado relacionamento com a mulher que ama. Tudo embalado por ótimos atuações, em especial Robert Vaughn que interpreta um rapaz bem nascido que acaba vendo sua vida ser destruída após perder um braço na guerra da Coreia e ser acusado de ser um assassino frio e calculista. Sua atuação é realmente digna de todos os aplausos pois ele se entregou completamente ao seu personagem angustiado e sem rumo na vida. Um trabalho que só vem para coroar ainda mais esse belo filme assinado pelo diretor Vincent Sherman. Uma produção particularmente indicada para jovens aspirantes à bela profissão de advogado e também para todas as  pessoas românticas que acreditam que o verdadeiro amor consegue sobreviver a tudo. Vale realmente a pena conhecer mais esse momento da rica carreira do mito imortal Paul Newman.

O Moço de Filadélfia (The Young Philadelphians, Estados Unidos, 1959) Estúdio: Warner Bros / Direção: Vincent Sherman / Roteiro: James Gunn / Elenco: Paul Newman, Robert Vaughn, Barbara Rush, Alexis Smith / Sinopse: Jovem americano passa por um momento crucial em sua vida, tendo que enfrentar uma série de dificuldades pessoais. Filme indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Robert Vaughn). Também indicado ao prêmio máximo da Academia nas categorias de Melhor Fotografia em preto e branco e Melhor Figurino.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

A Caçada

Ben Chamberlain (Henry Fonda) chega numa pequena cidade localizada no final da estrada de ferro, bem no meio de um deserto inóspito. Ele vai ao vilarejo atrás de notícias do paradeiro de Alma Britten (Madylen Rhue). O problema é que os moradores locais se recusam a dar maiores informações sobre a garota. Depois de muito procurar finalmente Ben a localiza em uma cabana nos arredores da cidadela, mas para seu infortúnio a encontra morta por espancamento. Para piorar ainda mais o que já era ruim logo é acusado pelo Xerife Vince McKay (Michael Parks) de ter assassinado a jovem. Sem saída foge para o deserto e é caçado pelos homens da lei.

"A Caçada" é uma experiência que Henry Fonda fez em 1967. Ator consagrado de cinema aceitou realizar esse telefilme para a Universal. O curioso é que apesar de ser um produto televisivo "Stranger On The Run" não apresenta uma produção modesta, pelo contrário, o filme mostra uma boa reconstituição de época, inclusive com o uso de toda uma cidade cenográfica com direito a trilhos de ferrovia e trens antigos. Certamente não é um telefilme típico da TV americana dos anos 60. É bem melhor.

Henry Fonda surge em um papel diferente dos que estava acostumado a interpretar em filmes de western. Aqui ele não é um ás do gatilho e nem muito menos um pistoleiro profissional. Na realidade seu personagem Ben Chamberlain é apenas um cidadão comum acusado de um crime que não cometeu. Fonda como sempre está muito bem, numa interpretação muito coesa e adequada. Sua parceira em cena, Anne Baxter, também demonstra talento e carisma. O problema em termos de elenco surge na figura do ator Michael Parks que faz o xerife que caça Fonda. Sem muita expressão não consegue ficar à altura de Henry em nenhum momento. No elenco de apoio ainda temos Sal Mineo fazendo um membro do bando do Xerife.

"A Caçada" foi dirigido por Don Siegel, diretor de TV que depois iniciaria uma ótima parceria com Clint Eastwood em alguns dos mais lembrados faroestes da década de 1970. Pelo jeito tomou gosto pela mitologia do western. Então é isso, "A Caçada" é uma produção feita para a TV que está bem acima da média do que se produzia naquela década. É sem dúvida um filme menor dentro da rica filmografia do mito Henry Fonda mas não deixa de ser um bom western que merece ser redescoberto nos dias atuais.

A Caçada (Stranger On The Run, EUA, 1967) Direção: Don Siegel / Roteiro: Dean Riesner, Reginald Rose / Elenco: Henry Fonda, Anne Baxter, Michael Parks, Sal Mineo / Sinopse: Ben Chamberlain (Henry Fonda) é um forasteiro acusado injustamente de ter assassinado uma jovem. Lutando por sua vida foge para o deserto onde passa a ser caçado pelo xerife McKay (Michael Parks) e seu bando de auxiliares.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Limites

Laura (Vera Farmiga) sempre teve um relacionamento ruim e problemático com o pai Jack (Christopher Plummer). Desde a infância e adolescência ela quis ter um pai presente, responsável, que lhe ajudasse na vida. Só que isso nunca aconteceu. Jack sempre foi ausente na sua criação, além de ser um péssimo exemplo para qualquer um. Os anos passam e Jack se tornou idoso, sem ter para onde ir. Claro, nesse momento ele então decide procurar a filha. O problema é que ela também tem uma vida complicada, pois se tornou mãe solteira, precisando lutar para criar sozinha o seu filho. E do choque de gerações nasce a linha narrativa principal desse filme.

Lendo o resumo, a sinopse do filme, pode ficar parecendo que se trata de um drama. Não é isso. Embora trate do desastroso relacionamento entre pai e filha, o roteiro também abre espaço para sutilezas, adotando um tom até leve, aberto também para o humor. Os personagens pegam a estrada e isso abre margem para aquele tipo cinematográfico que conhecemos bem, o road movie.

De uma maneira ou outra o grande motivo para o cinéfilo conferir esse filme é o excelente elenco. Começando pela presença de Christopher Plummer. É incrível, mas o veterano ator aos 89 anos de idade parece viver o melhor momento de sua longa carreira. Ele foi premiado com o Oscar por seu trabalho em "Toda Forma de Amar" e segue firme, trabalhando como nunca, aparecendo em filmes realmente muito bons. É um exemplo de vida. Já Vera Farmiga dá um tempo nos filmes de terror - estilo onde também se tornou produtora de sucesso - para mais uma vez mostrar que é uma atriz realmente talentosa. Sua personagem sob esse ponto de vista não deixa de ser um presente em sua carreira. Então deixo a dica. É um filme ainda pouco conhecido, pouco comentado, mas que vale muito a pena conhecer.

Limites (Boundaries, Estados Unidos, Canadá, 2018) Direção: Shana Feste / Roteiro: Shana Feste / Elenco: Vera Farmiga, Christopher Plummer, Christopher Lloyd, Lewis MacDougall / Sinopse: Idoso e sem ter onde morar, Jack (Plummer) decide ligar para a filha Laura (Farmiga). Eles sempre tiveram uma convivência conturbada, mas agora vão ter que se acostumar juntos, superando as antigas barreiras do passado.

Pablo Aluísio.

Esses Homens Maravilhosos e suas Máquinas Voadoras

Londres, 1910. Um jornal inglês oferece uma bela premiação para uma corrida aérea entre Londres e Paris. O belo prêmio de milhares de Libras Esterlinas logo atrai a atenção de pilotos de todos os lugares do mundo. A aviação em sua infância ainda era uma atividade aventureira, só praticada por pilotos audazes. O curioso é que nessa época os aviões nem mesmo eram chamados de aviões, mas sim de máquinas voadoras. O filme pretende prestar uma homenagem a esses pioneiros. Ao mesmo tempo em que louva esses homens ainda adota um tom nitidamente cômico e pastelão, numa clara referência aos primeiros filmes mudos de comédia. A trilha sonora vai pelo mesmo caminho. Para quem gosta de aviação o filme é especialmente recomendado pois as réplicas construídas para a produção são extremamente bem feitas (usando inclusive dos projetos originais da década de 1910). Os materiais também foram os mesmos usados pelos pioneiros, trazendo mais veracidade ao que vemos em cena. Na primeira cena inclusive o filme mostra várias imagens reais das primeiras tentativas do homem em voar. Hoje soa engraçado, mas na época todas as experiências eram válidas, até porque a ciência é feita assim, de tentativa e erro. Os efeitos especiais também são muito bem realizados, principalmente pela época e recriam – tudo com grande humor – sequências que mais parecem ser provenientes de desenhos animados (impossível não lembrar do clássico de Hanna-Barbera, “A Corrida Maluca”, tantas vezes exibida em nossas TVs abertas por todos esses anos).

Outro aspecto curioso do roteiro é que cada piloto tem uma nacionalidade diferente. Assim aproveita-se para criar caricaturas de cada povo. Há o americano, o francês, o alemão, o italiano e o inglês. Cada um deles traz em sua caracterização os estereótipos de cada povo. O francês, por exemplo, surge como galanteador e conquistador, não resistindo a um rabo de saia. O alemão é um tipo austero, atrapalhado e completamente disciplinado – a ponto de pilotar seu avião com um manual a tiracolo. O inglês é o símbolo do bom mocismo, educado e gentil. Um verdadeiro Lord. O italiano é um tipo exagerado, emocional, que literalmente “fala com as mãos”! Por fim há o americano que para variar é um cowboy do Arizona. Como se pode perceber é um argumento bem caricatural, feito e produzido para divertir acima de tudo.

Não há nenhuma estrela no filme. Nenhum astro. Ao invés disso a Fox, estúdio que produziu a comédia, resolveu investir mesmo nos aspectos técnicos da realização da película. Assim grande parte do orçamento foi gasto na construção das aeronaves. Decisão acertada pois o roteiro não abre margens mesmo para um só personagem brilhar, tendo todos praticamente o mesmo espaço em cena. Alguns modelos inclusive tiveram que ser destruídos por causa da estória do filme. Ver aquelas preciosidades destroçadas realmente causará aflição nos amantes de modelos clássicos da história da aviação. Em seu lançamento a recepção foi positiva. Os principais críticos da época qualificaram o filme como uma “boa diversão”. Para surpresa de todos a produção ainda conseguiu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro, um feito e tanto para uma comédia tão despretensiosa. Enfim, “Esses Homens Maravilhosos e suas Máquinas Voadoras” é exatamente isso, uma boa diversão nostálgica com bela produção e fidelidade histórica na reconstrução dos aviões que estão em cena. O humor mais escrachado e exagerado lembrando as antigas comédias do cinema mudo pode causar alguma estranheza no público dos dias atuais mas mesmo assim vale a pena assistir (ou rever) para conhecer o típico humor inglês mais pastelão da década de 1960.

Esses Homens Maravilhosos e Suas Máquinas Voadoras (Those Magnificent Men in Their Flying Machines or How I Flew from London to Paris in 25 hours 11 minutes, Inglaterra - EUA, 1965) Direção: Ken Annakin / Roteiro: Jack Davies, Ken Annakin / Elenco: Stuart Whitman, Sarah Miles, James Fox, Alberto Sordi,  Robert Morley, Gert Fröbe, Jean-Pierre Cassel / Sinopse: Um jornal inglês promove uma corrida aérea entre Londres e Paris. Vários pilotos de diversos países ao redor do mundo se inscrevem em busca do grande prêmio. Muitas aventuras esperam os pioneiros da aviação!

Pablo Aluísio.

True Detective - Terceira Temporada

True Detective 3.01 - The Great War and Modern Memory - E começa a terceira temporada dessa excelente série da HBO. Eu gostei muito da primeira temporada, porém a segunda deixou um pouco a desejar no meu ponto de vista. A boa notícia é que nessa terceira leva de episódios tudo me pareceu bem de acordo com os primeiros episódios e isso é obviamente sinal de qualidade. Aqui temos dois policiais, Wayne Hays (Mahershala Ali, ótimo ator) e Roland West (Stephen Dorff). Eles estão em uma noite particularmente tediosa quando recebem o chamado da central. Duas crianças estão desaparecidas. Elas saíram para passear de bicicleta e nunca mais foram localizadas. Sabemos que esse caso acabaria mudando a vida dos tiras justamente porque o primeiro episódio explora três linhas temporais diferentes, no passado distante, quando as crianças sumiram, em um passado mais recente e finalmente no presente. E o caso, pelo visto, segue misterioso e sem solução. Gostei muito desse primeiro episódio. Pelo andar da carruagem essa terceira coleção de episódios inéditos promete e muito! Irei acompanhar com atenção e esperando pelo melhor. / True Detective 3.01 - The Great War and Modern Memory (Estados Unidos, 2019) Direção: Jeremy Saulnier / Roteiro: Nic Pizzolatto / Elenco: Mahershala Ali, Carmen Ejogo, Stephen Dorff.

True Detective 3.03 - The Big Never  
Duas crianças desaparecidas. O menino foi encontrado dentro de uma gruta, com as mãos unidas, como se estivesse rezando. Nesse episódio o policial Wayne Hays (Mahershala Ali) descobre o local exato onde ele foi morto. Sua cabeça foi jogada contra uma pedra pontuda. No lugar ele também encontra brinquedos dentro de uma pequena valise. Ao que tudo indico esses brinquedos foram usados para atrai-lo. A menina segue desaparecida. Há rumores por todos os lados dizendo que ela ainda está viva, mas as tentativas de localizá-la não dão em nada. Hays fica tão obcecado pela busca que basta sua filha sumir um pouco de sua vista, dentro de um supermercado para que ele entre em desespero. É uma paranoia formada justamente pelo caso que está investigando. Outras pistas vão surgindo. Um fazendeiro que mora perto do lugar onde o menino foi morto diz que viu um carro marrom rondando a região no dia em que as crianças desapareceram. Havia uma mulher branca, acompanhada de um homem negro. As pistas porém são vagas demais para dar uma direção melhor para as investigações. / True Detective 3.03 - The Big Never  (Estados Unidos, 2019) Direção: Daniel Sackheim / Roteiro:  Nic Pizzolatto / Elenco: Mahershala Ali, Carmen Ejogo, Stephen Dorff.

True Detective 3.04 - The Hour and the Day
Os investigadores seguem na sua via crucis para descobrir o que aconteceu com as crianças. O garoto foi encontrado numa caverna. A menina sumiu. Eles então resolvem descobrir quem vendeu as bonecas de pano que foram encontrados na cena do crime. Descobrem a velha senhora que os vendeu numa quermesse da igreja católica da cidade. E ela consegue se lembrar de um homem negro, cego de um olho, que havia lhe comprado dez bonecas de uma só vez - algo que nunca havia acontecido antes. Sem dúvida uma pista importante. Um aspecto importante do roteiro desse episódio vem do fato de que ele deixa bem claro, em diversas idas e vindas no tempo, que o caso ficou sem solução por anos, ou melhor dizendo, décadas! Um verdadeiro martírio para todos os envolvidos. / True Detective 3.04 - The Hour and the Day (Estados Unidos, 2019) Direção: Nic Pizzolatto / Roteiro: Nic Pizzolatto / Elenco: Mahershala Ali, Carmen Ejogo, Stephen Dorff.

True Detective 3.05 - If You Have Ghosts
Nesse episódio o policial Wayne Hays (Mahershala Ali) explode os miolos do catador de lixo, um veterano da guerra que vivia de recolher latas, roupas velhas, pelas ruas, etc. Criou-se uma mentalidade (errada) de que ele teria algo a ver com a morte das duas crianças. Então os caipiras decidem dar uma surra nele, mas quando chegam lá tudo vai pelos ares - pois havia várias armadilhas prontas para detonação. Outro aspecto interessante desse episódio é que ele revela que a garota pode estar viva. Muito provavelmente virou prostituta nas ruas, usuária de drogas, mas os tiras não conseguem encontrá-la. Uma mulher liga para a polícia e pede para que a deixem em paz, fazendo entender que no passado ela foi alvo de abuso infantil, talvez do próprio pai que ela agora quer distância. Pedofilia? Pode ser... / True Detective 3.05 - If You Have Ghosts (Estados Unidos, 2019) Direção: Nic Pizzolatto / Roteiro: Nic Pizzolatto / Elenco:  Mahershala Ali, Carmen Ejogo, Stephen Dorff.

True Detective 3.06 - Hunters in the Dark
As investigações tomam um novo rumo onde o pai das crianças passa a ser o principal suspeito. Só que a situação é tão enrolada e de complicada solução que o chefe do departamento de polícia resolve encobrir tudo. Oficialmente a polícia assume a versão de que o homem que vivia de recolher lixo foi o culpado. Ele teria matado as crianças. Provas? Roupas deles teriam sido encontradas em sua casa. Tudo balela, tudo prova plantada. Claro, os dois detetives não concordam com isso tudo e seguem em frente, porém enfrentando cada vez mais pressão para desistirem de tudo. Não é de se admirar que o caso tenha durado anos e anos sem um fim definitivo. Para piorar, as pistas de que Julie estaria viva, sendo prostituta e usando drogas em algum lugar, ficam ainda mais evidentes. Até o tio dela, um drogado, estaria disposto a entregar parte da verdade em troca de sete mil dólares. Jogo sujo. / True Detective 3.06 - Hunters in the Dark (Estados Unidos, 2019) Direção: Daniel Sackheim / Roteiro: Nic Pizzolatto, Graham Gordy / Elenco: Mahershala Ali, Carmen Ejogo, Stephen Dorff.

True Detective 3.07 - The Final Country 
A pista da vez é um estrenho sujeito. A descrição fala em um homem alto, negro, com apenas um olho. O outro seria cego. Quem seria esse homem misterioso? Qual seria sua ligação com a morte das crianças? Um casal que morava perto da floresta também sempre surge nas investigação. Era formado por um homem negro e uma mulher branca. E coisas avulsas vão surgindo também ao longo do episódio. Teria a mãe vendido a própria filha para uma rede de pedofilia comandas por homens poderosos do estado? Muitas perguntas, muitas pistas, nenhuma resposta definitiva. Sobra para o velho detetive aceitar o convite de um senhor chamado Hoyt. Ele quer esclarecer as coisas, colocar seu ponto de vista. Será que pelo menos isso seria verdade? A conferir no próximo episódio. / True Detective 3.07 - The Final Country (Estados Unidos, 2019) Direção: Daniel Sackheim / Roteiro: Nic Pizzolatto, Nic Pizzolatto / Elenco: Mahershala Ali, Carmen Ejogo, Stephen Dorff.

True Detective 3.08 - Now Am Found
Esse é o último episódio da terceira temporada. E como termina a terceira temporada de True Detective? Segura, que lá vai spoiler. Depois de 25 anos de investigação finalmente os dois detetives descobrem o que aconteceu com a menina Julie. O homem negro, cego de um olho, é localizado e ele conta tudo... ou quase tudo. A pessoa chave em seu desaparecimento foi a filha do Sr. Hoyt, uma mulher mentalmente perturbada chamada Isabel. Após perder o filho e o marido em um acidente de carro, ela perdeu também a razão, ficando insana. Um dia olhando pela janela viu Julie passando. Achando ela parecida com sua filha Mary, que morreu no acidente, ela pediu para que a menina a visitasse. Contando com a aceitação da mãe de Julie e menina então foi levada para a casa de Isabel. E lá ficou por algumas semanas, brincando com o irmão. A visita da menina fez bem para a saúde mental de Isabel, a tal ponto que ela foi se recuperando. Infelizmente durante uma brincadeira na floresta o pequeno irmão de Julie morreu ao cair e bater a cabeça numa pedra. A partir daí tudo desandou. Julie foi parar em um abrigo para freiras e lá tentou retomar sua vida. Para evitar que fosse perseguida as freiras forjaram sua morte, mas no final de tudo Julie reencontrou a felicidade, se casou e teve uma filhinha. Numa das cenas finais o policial negro Wayne Hays (Mahershala Ali) vai parar na casa de Julie, agora mãe e esposa. Foi um desfecho ideal para um caso que parecia sem solução. E felizmente para todos a menina desaparecida finalmente estava feliz. E assim temos um final feliz apropriado para essa temporada. / True Detective 3.08 - Now Am Found (Estados Unidos, 2019) Direção: Daniel Sackheim / Roteiro: Nic Pizzolatto / Elenco: Mahershala Ali, Carmen Ejogo, Stephen Dorff.

Pablo Aluísio.

domingo, 3 de novembro de 2019

Carga Explosiva: O Legado

Esse filme deveria se chamar "Carga Explosiva 4", mas pouco antes do começo das filmagens o ator Jason Statham pulou fora do projeto. Alguns dizem que ele não chegou a um acordo sobre seu cachê. Outros dizem que o problema foi o roteiro, considerado fraco demais pelo inglês. De uma maneira ou outra o fato é que o principal astro da franquia simplesmente desistiu e eles ficaram com um problemão nas mãos. O jeito foi contratar outro ator - o pouco conhecido Ed Skrein - e cortar o orçamento pela metade. O resultado de tantas mudanças foi esse fraco "Carga Explosiva: O Legado". Não que os três filmes anteriores com Statham fossem obras primas, nada disso. Porém esse aqui é muito inferior. A tal ponto que ficamos nos perguntando sobre que legado seria esse? Não existe legado nenhum a se passar por aqui.

O roteiro tira proveito de uma série de crimes cometidos por um trio de loiras misteriosas. Claro, elas contratam os serviços do transportador que acaba se envolvendo, sem querer, no meio de uma série de vinganças envolvendo ex-garotas de programas e aqueles que as exploraram no passado. O filme tem um visual até bonito, pois souberam explorar os lugares turísticos onde várias cenas de ação foram filmadas. Só que o roteiro é ruim de doer. Muito mal escrito, fraco, sem nenhum personagem com um mínimo de desenvolvimento. No final das contas esse é aquele caso típico de  produção genérica de ação, tudo feito a toque de caixa e sem conteúdo nenhum. Provavelmente será também o último dessa franquia que agora se arrasta completamente, tentando faturar alguns trocados antes de encerrar de vez suas atividades no mundo do cinema.

Carga Explosiva: O Legado (The Transporter Refueled, França, Bélgica, China, 2015) Direção: Camille Delamarre / Roteiro: Adam Cooper, Bill Collage / Elenco: Ed Skrein, Loan Chabanol, Ray Stevenson, Gabriella Wright  / Sinopse: Frank Martin Jr (Skrein) é conhecido por levar cargas e transportes de um lugar a outro sem maiores perguntas. Geralmente trabalhando para o submundo do crime. Agora ele se verá envolvido numa verdade guerra de vingança envolvendo um grupo de mulheres e membros da máfia.

Pablo Aluísio.