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segunda-feira, 26 de julho de 2021

Bonequinha de Luxo

O grande diferencial desse clássico vem do texto escrito por Truman Capote. Jornalista, intelectual, ele durante anos não levou Hollywood muito à sério. Quando finalmente sua obra literária foi adaptada para o cinema o resultado ficou simplesmente irretocável. O grande mérito desse clássico vem da construção dos personagens centrais. Holly (Audrey Hepburn) é uma mulher que deixou um passado banal para trás. Ela poderia facilmente se acomodar numa vidinha simples, morando no interior, casada e com um monte de filhos. Entretanto ela preferiu arriscar, ir para Nova Iorque, tentar uma vida diferente. Uma vida comum é reservada apenas para os medíocres. A vida na cidade grande é complicada e ela ganha seu sustento da maneira que for possível. No fundo é uma garota meio perdida, que vai vivendo um dia de cada vez, sempre procurando por glamour e beleza.

Paul Varjak (George Peppard) é um rapaz bonito, que sonha se tornar escritor. Enquanto isso não é possível ele também vai se virando. Acaba se tornando um amante profissional de uma senhora mais velha, uma madame rica e infeliz com seu próprio casamento. Holly logo entende a situação, mas não julga seu vizinho. No fundo ela também faz seus serviços de acompanhante (sutilmente apenas sugerido no roteiro do filme). E essas duas almas perdidas acabam se encontrando, nascendo daí uma verdadeira paixão. "Bonequinha de Luxo" fugiu dos padrões de moralismo da época. Seus protagonistas não são modelos de bom comportamento, longe disso. Além do roteiro primoroso, o filme ainda apresenta uma das trilhas sonoras mais belas da história do cinema. Basta os primeiros acordes de "Moon River" surgirem na tela para que o cinéfilo se entregue completamente. Um grande filme, apresentando ótimo roteiro, direção e todo o carisma da estrela Audrey Hepburn, aqui desfilando beleza e classe em seu filme mais famoso. Uma obra-prima do cinema. 

Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany's, Estados Unidos, 1961) Direção: Blake Edwards / Roteiro: Truman Capote, George Axelrod / Elenco: Audrey Hepburn, George Peppard, Patricia Neal, Buddy Ebsen, José Luis de Vilallonga, Mickey Rooney / Sinopse: Holly (Audrey Hepburn) vive em Nova Iorque. Ela acaba conhecendo seu novo vizinho de apartamento, o aspirante a escritor  Paul Varjak (George Peppard). E dessa amizade começa a nascer uma verdadeira paixão entre eles, namorados improváveis. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor música original ("Moon River" de Henry Mancini) e melhor trilha sonora incidental (Henry Mancini).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

O Indomado

Clássico do cinema estrelado pelo ator Paul Newman, aqui em grande forma, em uma de suas melhores atuações na década de 1960. Sob direção de Martin Ritt, que tinha o talento de deixar o ator bem à vontade durante as filmagens, além de ser seu amigo pessoal, o resultado do ponto de vista cinematográfico não poderia ser melhor. O protagonista, o personagem principal do filme, se chama Hud Bannon. Interpretado de forma brilhante por Paul Newman, ele é o filho rebelde de um respeitável fazendeiro, que vive permanentemente em conflito com seu idoso pai. O conservadorismo do velho se choca o tempo todo com o modo de agir do filho, que parece querer mesmo abalar todas as estruturas do patriarca ao velho estilo. Quando o filme chegou aos cinemas houve muitas comparações entre esse personagem de Paul Newman e os rebeldes do passado que tinham sido interpretados por Marlon Brando e James Dean. 

Porém as semelhanças são apenas aparentes. James Dean interpretava jovens perdidos, com problemas psicológicos. Marlon Brando interpretava rebeldes mais perigosos, como em "O Selvagem", mas que ainda mantinham uma certa bondade embaixo de suas roupas de couro. Já o rebelde de Paul Newman nesse filme é acima de tudo um sujeito bem egoísta, rude e que não serve para nada além de infernizar a vida do pai. Ao lado de uma elenco de apoio ótimo, Paul Newman criou um dos personagens mais sem ética pessoal de sua carreira.

O roteiro desse filme também surpreende por trazer para as telas um oeste bem diferente dos filmes clássicos de western. Aqui não há mais aquele clima bravio, de grandes homens do passado. O personagem de Paul Newman vive em uma fazenda, mas não está nem aí para cavalos e tradição. Ao invés disso ele aterroriza a vizinhança em um Cadillac novinho em folha. E como mais importante, explora o choque de gerações que acontecia naquele período histórico, onde os mais jovens não estavam mais preocupados com os valores dos mais velhos. O que era importante no passado, passou a ser visto como algo careta, praticamente uma piada, pelos mais jovens. A mudança de gerações realmente nunca foi algo fácil e na década de 1960 as diferenças eram ainda mais reforçadas.

O Indomado (Hud, Estados Unidos, 1963) Estúdio: Paramount Pictures / Direção: Martin Ritt / Roteiro: Irvine Ravetch, Harriet Frank / Elenco: Paul Newman, Melvyn Douglas, Patricia Neal, Brandon de Wilde / Sinopse: Em uma fazenda no interior dos Estados Unidos, pai e filho vivem em pé de guerra. O jovem é rebelde e não está nem aí para os valores de seu velho pai. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhor ator (Paul Newman), e melhor direção (Martin Ritt). Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor atriz (Patricia Neal), melhor ator coadjuvante (Melvyn Douglas) e melhor direção de fotografia em preto-e-branco (James Wong Howe). Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor filme - Drama.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Cinzas ao Vento

Anos após ser expulso de sua cidade natal, Brant Royle (Gary Cooper) retorna. O lugar agora está sob dominação do magnata do tabaco James Singleton (Donald Crisp), o mesmo homem que havia perseguido Brant e seu pai. O tempo passou, mas as velhas mágoas ainda existem. Ao conhecer um inventor de máquinas de fabricação de cigarros, Brant decide pegar algum dinheiro emprestado com seu antigo amor Sonia (Lauren Bacall) para abrir um novo negócio, justamente uma fábrica de cigarros pois ele vê uma oportunidade de ficar rico com a produção em série do produto. Com os anos Royle acaba se tornando ele próprio um magnata da indústria, embora pessoalmente não consiga superar seus velhos traumas do passado. 
 
Esse é mais um excelente drama dirigido pelo mestre Michael Curtiz. O roteiro explora a ascensão e queda de um homem que, saído da extrema pobreza, começa a subir os degraus do sucesso e da riqueza. O personagem interpretado por Cooper é um sujeito que deseja acima de tudo destruir a família Singleton, pois no passado eles destruíram seu pai, um honesto e pacato plantador de tabaco. O tempo passa e ele volta para sua vingança, mas acaba sendo traído também por seus sentimentos pois se apaixona justamente pela filha de seu pior inimigo, a bela e perigosa Margaret Jane Singleton (interpretada pela atriz Patricia Neal que tinha um affair com Cooper na época das filmagens). É a velha questão do chamado triângulo amoroso.

A prestativa e apaixonada Sonia (Bacall) ama e faz de tudo por Royle (Cooper), mas ele ama outra pessoa, a fútil e ardilosa Margareth (Neal) que no fim das contas só deseja destrui-lo. O roteiro foi escrito inspirado no romance de Foster Fitzsimmons. O livro, um autêntico drama romântico sulista, tem todos os elementos que não poderiam faltar nesse tipo de literatura. Há um protagonista que vira vítima de seu próprio sucesso, amores não correspondidos, traições e até um interessante  discurso sobre os poderosos monopólios que iam surgindo dentro da nascente economia industrial norte-americana na virada do século XIX. Essa transformação industrial do sul após a guerra civil aliás é um dos aspectos mais peculiares do filme.

O protagonista interpretado por Gary Cooper é um industrial que aos poucos vai perdendo sua humanidade, tudo corroído pela ganância e pela sede de poder e dominação. Além disso o fato de ser um homem que fica extremamente rico popularizando o cigarro (ao invés do charuto que era o mais popular até então) o torna ainda mais culpado por seus atos e decisões. E por uma dessas ironias do destino o próprio Gary Cooper morreria anos depois exatamente por sofrer de um câncer de pulmão incurável causado pelo fumo excessivo. Na época os danos à saúde causados pelo tabaco ainda eram desconhecidos pela ciência. Muitos, como Cooper, acabariam perdendo a vida exatamente por ignorarem o mal que estavam fazendo para o seu próprio organismo.

Cinzas ao Vento (Bright Leaf, Estados Unidos, 1950) / Estúdio: Warner Bros / Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Ranald MacDougall / Elenco: Gary Cooper, Lauren Bacall, Patricia Neal, Donald Crisp, Jeff Corey, Taylor Holmes / Sinopse: Esse clássico do cinema conta a história de Brant Royle (Gary Cooper). No passado ele havia sido expulso de sua terra natal, mas agora está de volta e começa a se tornar um prospero homem de negócios.

Pablo Aluísio.