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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Do Destino Ninguém Foge

Título no Brasil: Do Destino Ninguém Foge
Título Original: The Left Hand of God
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Edward Dmytryk
Roteiro: Alfred Hayes, William E. Barrett
Elenco: Humphrey Bogart, Gene Tierney, Lee J. Cobb, Agnes Moorehead, E.G. Marshall, Jean Porter

Sinopse:
Um homem com vestes sacerdotais, aparentemente sendo o tão esperado Padre O'Shea (Bogart), chega em uma distante e esquecida missão católica em uma província na China. O ano é 1947 e aquela nação ainda se recupera das marcas deixadas pela recente invasão japonesa ao país. Inicialmente o novo padre parece um pouco desconfortável com seus deveres religiosos, mas logo impõe um sistema de divisão de tarefas e deveres entre os missionários que se revela muito eficiente e produtiva. O sacerdote católico porém guarda um grande segredo, que irá se revelar mais tarde através de sua amizade com a enfermeira da missão, a bela e doce Anne (Gene Tierney).

Comentários:
Humphrey Bogart já estava corroído pela doença que o mataria quando realizou essa produção. O fato é que o ator adorava trabalhar e para ele filmar era uma espécie de benção e distração pois mantinha sua mente ocupada enquanto estava decorando textos e atuando. Era melhor do que ficar em casa agonizando e sofrendo dores, segundo sua própria opinião. Assim, mesmo com um cigarro constantemente acesso na boca e um copo de whisky na mão - dois vícios que lhe trouxeram muitos problemas de saúde ao longo dos anos - o velho Boogie conseguiu chegar ao final das filmagens e o mais surpreendente de tudo, atuando muito bem. A produção não é de primeira linha, temos que reconhecer, mas tem uma dignidade e uma sofisticação à toda prova, fruto é claro do bom trabalho desenvolvido pelo diretor Edward Dmytryk, que sempre procurou ser mais sutil ao contar suas estórias, ao invés de cair para o exagero. Revisto hoje em dia o clima de nostalgia se impõe e o roteiro mostra sua força, compensado certos aspectos envelhecidos na produção. Em suma, uma ótima oportunidade de rever em cena um dos maiores astros da história do cinema, na era de ouro de Hollywood, onde mesmo passando por um dos momentos mais complicados de sua vida pessoal, ainda conseguia mostrar toda a força de sua personalidade e caráter. Uma lição de vida que não se aprende na escola.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

O Céu Pode Esperar

Ao morrer, Henry Van Cleve (Don Ameche) decide por conta própria se dirigir até o inferno onde é recebido cordialmente por um sujeito que responde apenas por “Excelência” (uma metáfora para o diabo em pessoa mesmo). Embora Henry queira ir logo para o “andar de baixo” o diabo não está convencido que esse seja realmente o seu lugar. Para convencer o dito cujo, Henry começa a recordar toda a sua vida, como que tentando demonstrar que o céu definitivamente também não era o seu lugar. Assim começa a trama sui generis de “O Céu Pode Esperar” (também conhecido como “O Diabo Disse Não”). O roteiro, muito bem escrito, se desenvolve enquanto o narrador-defunto vai contando os acontecimentos de sua existência. É um estilo narrativo que lembra inclusive o nosso Machado de Assis em sua famosa obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Nascido em família rica de Nova Iorque, Henry é cercado por luxo e riqueza desde a infância. Garoto travesso e desobediente, segue implicando com empregados e membros de sua família. Quando se torna jovem acaba roubando a noiva de seu primo, o advogado almofadinha Albert Van Cleve (Allyn Joslyn). O que parece ser um caso de impulso típico de jovens se revela porém um grande amor que atravessa décadas. Ao lado de Martha (Gene Tierney) ele finalmente encontra o equilíbrio em sua vida.

“O Céu Pode Esperar” é um filme acima de tudo muito elegante. Figurinos luxuosos, cenas bem realizadas, com muita pompa e glamour. A sociedade rica de Nova Iorque do final do século XIX é muito bem retratada e reconstituída. De certa forma a produção classe A mostra bem a fina elegância que rondava todos os filmes assinados pelo brilhante diretor Ernst Lubitsch. Veterano, gostava de realizar filmes que enchiam os olhos. Era adepto do cinema espetáculo, que mostrava pessoas ricas e sofisticadas. Curiosamente o cineasta não se deu muito bem com a atriz Gene Tierney. Em entrevistas ela chegou ao ponto de chamá-lo de “ditador”. Na realidade Lubitsch sempre foi um perfeccionista nato, que chegava quase às raias da obsessão. Quem ganhava no final das contas era o espectador.

O resultado como se pode conferir aqui era dos melhores, com muita sofisticação. O roteiro foi baseado em uma peça de teatro que fez grande sucesso no rádio. Nessa versão radiofônica o personagem Henry já havia sido interpretado por Don Ameche e por isso ele foi novamente escalado. Sua atuação foi tão bem realizada que ele próprio, muitas décadas depois, afirmou que essa sempre fora a atuação preferida de sua filmografia, dentre tantas que realizou ao longo da vida. No final tudo saiu a contendo. O filme fez bastante sucesso e acabou sendo indicado nas principais categorias do Oscar, entre elas Melhor Filme, Melhor Fotografia e Melhor Direção. Para quem aprecia o cicnema do passado é uma ótima dica conhecer esse excelente filme.

O Céu Pode Esperar / O Diabo Disse Não (Heaven Can Wait, Estados Unidos, 1943) Direção: Ernst Lubitsch / Roteiro: Samson Raphaelson baseado na peça de Leslie Bush-Fekete / Elenco: Gene Tierney, Don Ameche, Charles Coburn, Marjorie Main, Laird Cregar / Sinopse: Após morrer aos 70 anos de idade, Henry Van Cleve (Don Ameche) resolve se dirigir até as portas do inferno para pagar por seus pecados. Ao chegar lá o diabo em pessoa (Laird Gregar) decide ouvir sua história para ver se ele realmente merece ir para lá.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

A Vingança de Frank James

Esse filme foi uma espécie de sequência do clássico "Jesse James". Tudo se passa após a morte de Jesse James, ou seja, o enredo desse filme começa a partir do final do filme anterior. O elenco é excelente! A "Vingança de Frank James” traz vários atores do primeiro filme, embora também haja mudanças em relação ao elenco original. A ausência mais sentida é justamente a de Randolph Scott e Nancy Kelly pois seus personagens foram eliminados da trama dessa sequência. O ponto positivo fica com Henry Fonda que no papel de Frank James assume o filme como protagonista. Ele repete seu bom desempenho do filme anterior e segura muito bem as pontas. Um novo personagem é acrescentado na estória, Eleanor Stone, uma jovem jornalista que se interessa pela história dos irmãos James. Ela é interpretada pelo correta Gene Tierney. Outro destaque é a ótima interpretação de Henry Hull, o dono do jornal e advogado que vai ao tribunal defender Frank James.

O roteiro de “A Vingança de Frank James” toma várias liberdades com a história original. Embora Frank tenha sido realmente inocentado de todas as acusações (em dois e não em apenas um julgamento como se vê no filme) ele não teve qualquer ligação com a morte de Robert Ford, assassino de seu irmão Jesse James. No roteiro aqui Frank James sai no encalço de Robert Ford dentro de um estábulo. Na história real Ford foi morto em seu Saloon por um sujeito que queria ter a honra de matar o homem que matou Jesse James. Mesmo com a pouca fidelidade histórica o roteiro de “A Vingança de Frank James” é muito bem escrito, contando uma longa história sem se tornar cansativo e enfadonho. Além disso consegue se fechar muito bem em si mesmo. Tudo muito bem arranjado, mesmo que misture fatos reais com eventos meramente fictícios.

Houve uma mudança na direção. Saiu Henry King e entrou o genial Fritz Lang. Lang imprime um tom mais sério no filme mas ao mesmo tempo se mostra fiel à estrutura de dramaturgia do filme anterior. Os personagens de “Jesse James” que reaparecem aqui usam da mesma caracterização e tom, o que demonstra que Fritz Lang, apesar de ter sido um dos cineastas mais autorais da história do cinema mantém a espinha dorsal montada por Henry King em “Jesse James”. Fritz Lang foi escalado por Zanuck depois que esse teve alguns atritos com Henry King que não aceitava muito bem as inúmeras interferências do produtor em seu filme. O resultado final aqui como se nota é muito bom, mostrando que Fritz Lang também poderia ser um cineasta de estúdio, sem maiores vôos autorais como conhecemos de outros filmes seus.

Em termos de produção, nada a reclamar. Novamente se faz presente a mão forte de Darryl F. Zanuck como produtor. Embora não tenha sido creditado em “Jesse James” aqui ele fez questão de assinar o filme, fruto obviamente de seu grande sucesso. Ao lado de Fritz Lang construiu uma continuação de excelente nível. O produtor também interferiu bastante no roteiro e na escalação do elenco. Trocou alguns nomes e eliminou personagens. Foi dele inclusive a idéia de colocar cenas de “Jesse James” aqui no começo do filme (inclusive a cena da morte de Jesse, extraída da primeira produção com Tyrone Power sendo assassinado).

A Vingança de Frank James (The Return of Frank James, EUA, 1940) Direção: Friz Lang / Roteiro: Sam Hellman / Elenco: Henry Fonda, Gene Tierney, Jackie Cooper, Henry Hull, John Carradine / Sinopse: Após o assassinato de seu irmão Jesse James (Tyrone Power) o pistoleiro Frank James (Henry Fonda) decide ir atrás de seu assassino, Robert Ford (John Carradine).

Pablo Aluísio.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Tensão em Shangai

Título no Brasil: Tensão em Shangai
Título Original: The Shanghai Gesture
Ano de Produção: 1941
País: Estados Unidos
Estúdio: United Artists
Direção: Josef von Sternberg
Roteiro: Josef von Sternberg, Geza Herczeg
Elenco: Gene Tierney, Walter Huston, Victor Mature
  
Sinopse:
Poppy (Gene Tierney) é uma jovem garota que decide tentar a sorte na distante e exótica Xangai, onde acaba conhecendo Madame Gin Sling (Ona Munson), uma mulher muito determinada que conseguiu sair da pobreza absoluta para o sucesso empresarial ao inaugurar um cassino na cidade. Sir Guy Charteris (Walter Huston) é um empresário estrangeiro que vai a Xangai em busca de novos investimentos. Lá começa a adquirir grandes áreas para seus empreendimentos comerciais. Logo percebe que a casa comandada por Gin Sling tem grande valor empresarial, mas a velha senhora se recusa a vender o seu cassino. O que ele nem desconfia é que tem um passado em comum com a jovem Poppy, que agora trabalha sob as ordens de Madame Sling.

Comentários:
O oriente sempre exerceu um grande poder de atração sobre os americanos em geral. Sabendo disso Hollywood começou a explorar dramas e aventuras passadas em terras distantes como a China ou a Indochina (atual Vietnã). Essa produção da United Artists vai por esse caminho. O filme foi todo rodado em Chinatown, bairro de imigrantes orientais em Los Angeles. A arquitetura e os costumes do local serviram para recriar a Xangai do roteiro. No elenco o forte ator Victor Mature (que iria virar um ídolo nos anos seguintes) fez um dos seus primeiros trabalhos no cinema. O curioso aqui é que o diretor austríaco Josef von Sternberg decidiu deixar os ares de aventura exótica de lado, como queriam os produtores, para investir mais no lado dramático dos personagens principais. Assim o enredo se revela quase como uma novela, onde traições e reviravoltas na trama (incluindo aí a revelação de uma filha desconhecida) dão as cartas na estória. Não é um aspecto muito surpreendente pois a peça que deu origem ao filme chamada "Mother Goddam" era realmente um drama pesado, com muitas lágrimas e momentos de tensão e tristeza. Sternberg sabia muito bem disso e não quis ser desrespeitoso com o autor Geza Herczeg (que gentilmente colaborou no roteiro). A obra original que estreou na Broadway com grande sucesso na década de 1920 inclusive inspirou o lendário Cecil B. DeMille a também realizar sua própria versão do texto em 1929. Em conclusão temos aqui um filme muito honesto em suas pretensões cinematográficas. 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 14 de junho de 2006

O Renegado

Título no Brasil: O Renegado
Título Original: Hudson's Bay
Ano de Produção: 1940
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century
Direção: Irving Pichel
Roteiro: Lamar Trotti
Elenco: Paul Muni, Gene Tierney, Laird Cregar, John Sutton, Virginia Field, Vincent Price

Sinopse:
 O caçador e explorador Pierre Esprit Radisson (Paul Muni) planeja construir um pequeno império em torno da Baía de Hudson. Ele faz amizade com os índios, luta contra os franceses e convence o rei Carlos II a patrocinar uma expedição de conquista.

Comentários:
A história do filme parece ser baseada em fatos históricos reais, mas apenas parece. O que se vê no filme todo é puramente ficção. O ator Paul Muni era uma figura popular por aqueles tempos, mas foi criticado por não acertar direito o sotaque de seu personagem, algo que não passou em branco para os canadenses, já que a história do filme se passava nos primórdios da colonização do Canadá. Outro ponto interessante é que o filme traz Vincent Price como um monarca, o Rei Carlos II. Pois é, antes de se consagrar em tantos filmes de terror ele fez esse faroeste diferenciado.

Pablo Aluísio.