sábado, 16 de novembro de 2019

Vita & Virginia

Mais um filme que explora parte da vida da escritora Virginia Woolf. O melhor já feito sobre ela, em minha opinião, segue sendo "As Horas", onde Nicole Kidman a interpretava com talento e sensibilidade. Agora o roteiro mostra o relacionamento homossexual que ela teve com outra escritora, Vita Sackville-West. Elas se conheceram quase por acaso, embora Vita já tivesse esse desejo há anos. Havia uma espécie de competição entre elas no mundo da literatura. Enquanto Virginia Woolf escrevia livros mais intelectualizados, Vita apostava em romances populares. Claro que assim ela também se tornava muito mais bem sucedida (pelo menos do ponto de vista comercial) do que a colega de profissão.

Vita também já tinha um passado de escândalos por se envolver com mulheres, embora fosse casada com um diplomata inglês. Já Virginia tentava manter um casamento que para muitos era de fachada. O interessante é que apesar de ter óbvia atração por pessoas do mesmo sexo, Woolf não queria acabar com seu casamento. Ela via no marido um fator de equilíbrio em sua vida pessoal. Mesmo assim se atirou de corpo e alma em uma paixão enlouquecedora por Vita, a ponto inclusive de transformá-la em personagem de seus livros, algo que não passou despercebido pela sociedade conservadora da época, causando mais um grande escândalo. E para as demais pessoas o que mais chocava é que ambos os maridos pareciam saber muito bem que suas esposas se relacionavam em um namoro lésbico, mas nada faziam para acabar com isso.

O filme é bem produzido, mas o roteiro apresenta alguns problemas no meu ponto de vista. Os diálogos soam truncados e pouco naturais. Acontece que os roteiristas tiraram a maioria dos diálogos das escritoras de seus próprios livros. Não ficou natural. Uma coisa é a palavra escrita, bem lapidada, outra bem diferente é o falar do dia a dia. Certamente nem Vita e nem Virginia falavam daquele jeito. Ficou um pouco estranho, embora para os leitores da obras delas crie uma curiosidade a mais. Outro ponto que achei fora da curva foi a caracterização da atriz Elizabeth Debicki. Ela interpretou Virginia, só que seu biotipo nada tem a ver com a escritora. Enquanto Elizabeth é alta, loira, de olhos azuis, Virginia era bem mais baixinha, de cabelos pretos. O espectador assim vai ter que fazer um esforço a mais para acreditar que ela é Virginia Woolf. Algo que não é nada bom para um filme biográfico e de história como esse. A atriz é visivelmente talentosa, mas ficou mesmo um pouco fora de contexto por essa razão. Fora isso indico a produção para quem aprecia as biografadas.

Vita & Virginia (Inglaterra, Irlanda, 2018) Direção: Chanya Button / Roteiro: Eileen Atkins / Elenco: Gemma Arterton, Elizabeth Debicki, Isabella Rossellini / Sinopse: Roteiro baseado em fatos históricos reais. O filme resgata a paixão lésbica que surgiu entre duas escritoras famosas no começo do século XX, envolvendo Virginia Woolf e Vita Sackville-West. Filme indicado no British Independent Film Awards na categoria de Melhor Atriz (Elizabeth Debicki).

Pablo Aluísio.

3 comentários:

  1. Pablo:
    Pra falar a verdade eu já ando de saco cheio dessas escritoras, arquitetas, pintoras, etc. que parecem um clichê: inteligentes, lésbicas desbragadamente apaixonadas pelas parceiras, emocionalmente desequilibradas em relação a vida, e cheias de razão. Sei lá. Gente sem noção! As pessoas não são assim; pelo menos as pessoas que eu conheço.

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  2. Bom, a Virginia Woolf se enquadra bem nessa descrição que você fez. Ela era muito confusa, neurótica, sofria de diversos problemas mentais, inclusive alguns acreditavam que era louca mesmo! E não podemos nos esquecer de seu fim trágico, quando decidiu se matar. Isso rendeu uma ótima cena em "As Horas".

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