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domingo, 22 de dezembro de 2019

Shalako

Um grupo de nobres europeus resolve fazer uma viagem pelo velho oeste, uma espécie de safári na América. A intenção é conhecer aquela região selvagem para caçar animais exóticos como leões da montanha e carneiros de chifres. Durante a jornada acabam entrando inadvertidamente em uma reserva Apache. Os brancos não são bem-vindos naquele lugar desde que os nativos firmaram um tratado com o exército americano e por essa razão começam a ser caçados pelos guerreiros da tribo. Apenas o ex-coronel do exército Carlin "Shalako" (Sean Connery) poderá salva a vida daqueles viajantes. Com vasta experiência de sobrevivência no deserto adquirida por anos de serviço militar, ele tentará salvar todas aquelas pessoas da morte certa. Embora Sean Connery tenha atuado em mais de 90 filmes ao longo de sua carreira, ele praticamente não trabalhou em faroestes. Uma exceção foi esse "Shalako", uma produção europeia com jeitão de filme americano que tentou lançar a atriz Brigite Bardot dentro daquele mercado cinematográfico. 

A atriz que era um ícone de beleza e fama na época não levava jeito com a língua inglesa e por essa razão estava confinada e interpretar estrangeiras de passagem pela América. É o caso dessa sua personagem nesse filme. Ela é uma condessa em busca de um bom casamento. Para isso acaba participando da expedição patrocinada por um rico barão inglês. Todos vão para o oeste americano em busca de aventuras e diversão, mas tudo o que encontram pela frente são nativos selvagens e hostis. No meio do deserto começam a ser literalmente caçados por Apaches. Apenas a ajuda de um ex-militar veterano que vive de caçar búfalos chamado Shalako poderá garantir que não sejam mortos.

Sean Connery dá vida ao protagonista, um sujeito que se veste como Daniel Boone que tenta sobreviver naquelas terras áridas. Embora se chame Moses Carlin ele acaba adotando o nome que os Índios lhe deram: Shalako! Como todo nome índigena esse também tinha um significado, "Aquele que traz chuvas", já que sempre que entrava nas reservas apaches havia sinais de chuva por vir. Como era de esperar com Connery e Bardot em um mesmo filme os roteiristas logo trataram de criar um improvável romance entre eles. O curioso é que Connery já estava passando da idade de posar de galã romântico e mesmo não estando muito à vontade nessa função até que acabou não se saindo muito mal. Bardot continuava linda, porém já com os primeiros sinais da idade chegando (embora estivesse apenas com 35 anos na época!).

O roteiro do filme é até bem tradicional, sem maiores novidades. Basicamente é um jogo de vida ou morte no meio do deserto entre Apaches e os turistas europeus. Há também um bando de bandidos que roubam esses estrangeiros e entram no meio desse jogo de gato e rato. Em praticamente três atos o filme tem uma conclusão muito boa, nas montanhas, quando Connery resolve levar os viajantes para o topo de platô no meio do deserto em busca de água. Além da escalada (o que já garante ótimas cenas de ação) há ainda um duelo de lanças entre Connery e um Apache no alto da colina (sem dúvida uma boa cena de luta, bem coreografada e executada). Tudo garantindo aquele clima de diversão e aventura bem típico dos filmes da época. A lamentar apenas o fato de que esse seria o último faroeste de Sean Connery que ao que tudo indica não gostou muito da experiência de filmar em um deserto como aquele (que apesar de parecer ser o deserto da Califórnia era na verdade a região de Andalucía, na Espanha, onde vários filmes de western spaghetti foram filmados).

Shalako (Shalako, Inglaterra, Alemanha, 1968) Estúdio: Palomar Pictures International / Direção: Edward Dmytryk / Roteiro: James Griffith, baseado no livro de Louis L'Amour / Elenco: Sean Connery, Brigitte Bardot, Stephen Boyd / Sinopse: Grupo de europeus da nobreza decide ir até o oeste dos Estados Unidos para caçar naquela região considerada selvagem por todos eles. Só que uma vez nesse deserto hostil eles passam a ser caçados por nativos e guerreiros locais.

Pablo Aluísio.
 

sábado, 21 de dezembro de 2019

Sem Lei e Sem Alma

Entre tantas histórias que ficaram célebres no velho oeste poucas conseguiram alcançar a fama do tiroteio ocorrido no Ok Corral em Tombstone, Arizona. De um lado o lendário xerife Wyatt Earp (Burt Lancaster), seus irmãos e Doc Holliday (Kirk Douglas). Do outro lado o bando dos irmãos Clanton. Ambos se enfrentaram face a face, cada um a poucos metros do outro, armas em punho, um duelo que entrou para a história e que foi fartamente explorado no cinema durante todos esses anos. Esse "Sem Lei e Sem Alma" é até hoje considerado uma das melhores versões já feitas sobre o evento. O roteiro é extremamente bem trabalhado, nitidamente dividido em dois atos que se fecham e se complementam de forma perfeita. No primeiro ato acompanhamos a chegada de Wyatt Earp numa pequena cidade do velho oeste. Ele vem no encalço de Johnny Ringo (John Ireland) e seu bando. Lá se aproxima do pistoleiro e jogador inveterado Doc Holliday e acaba salvando sua vida ao ajudá-lo a fugir de seu próprio linchamento. No segundo ato encontramos os personagens já em Tombstone, a lendária cidade, onde nos 15 minutos finais do filme ocorrerá o famoso confronto no O.K. Corral.

Burt Lancaster e Kirk Douglas estão perfeitos em seus papéis. Kirk Douglas em especial encontrou grande afinidade entre sua própria personalidade expansiva e extrovertida e a figura do lendário Doc Holliday. Esse como já tive a oportunidade de escrever é realmente um personagem à prova de falhas. Um dentista corroído pela tuberculose que ocupava todo seu tempo jogando cartas e se envolvendo em confusões pelas cidadezinhas por onde passava. O que fazia de Doc um ótimo pistoleiro é que seu instinto de preservação já não era tão acentuado pois sempre se via no limite, à beira da morte, por isso para ele tanto fazia morrer em um tiroteio ou escapar vivo para mais um duelo à frente. Sua frieza e pontaria certeira o transformaram em uma lenda do velho oeste. Já Wyatt Earp também encontrou um ator ideal em Burt Lancaster. Íntegro, honesto e temido, procurava manter a lei em uma região infestada de facínoras e bandoleiros. O duelo no O.K. Curral foi apenas uma das inúmeras histórias envolvendo esse famoso homem da lei.

Para finalizar é bom salientar que a despeito de sua imensa qualidade cinematográfica, "Sem Lei e Sem Alma" não é completamente fiel aos fatos históricos. O próprio duelo final, razão de existência do filme, não ocorreu da forma mostrada no filme. De fato os eventos reais foram bem mais simples, pois os dois grupos rivais estavam frente a frente, a poucos metros uns dos outros. No filme há toda uma sequência de cenas que não existiram, como a queima da carroça, por exemplo. Johnny Ringo, o famoso pistoleiro, também não estava no confronto do O.K. Ele foi morto tempos depois no meio do deserto. Suspeita-se que foi morto por Doc Holliday pois ambos tinham uma rivalidade antiga que só seria resolvida com armas em punho. De qualquer forma esses detalhes em nada diminuem a extrema qualidade de "Sem Lei e Sem Alma", que hoje é considerado merecidamente um dos melhores filmes clássicos de western já realizados. Uma obra-prima certamente.

Sem Lei e Sem Alma (Gunfight at the O.K. Corral, Estados Unidos, 1957) Direção: John Sturges / Roteiro: Leon Uris baseado no artigo escrito por George Scullin / Elenco: Burt Lancaster, Kirk Douglas, Rhonda Fleming, Jo Van Fleet, John Ireland, Frank Faylen, Ted de Corsia, Dennis Hopper, DeForest Kelley, Martin Milner / Sinopse: Wyatt Earp (Burt Lancaster), seus irmãos e Doc Holliday (Kirk Douglas) resolvem enfrentar cara a cara um bando de ladrões de gado no O.K. Corral em Tombstone, Arizona.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Rápida e Mortal

Lady (Sharon Stone) chega numa cidade perdida do velho oeste para participar de uma competição de duelos para saber quem é o mais rápido do gatilho na região. A competição é organizada por Herod (Gene Hackman), um facínora que aterroriza todos os habitantes honestos da cidadezinha. Em troca de uma suposta “proteção” ele cobra valores absurdos de comerciantes e cidadãos que pagam na verdade para não serem mortos por ele e seus capangas armados até os dentes. O que Herod não sabe é que Lady vem em busca de vingança pela morte de seu pai, um xerife que cruzou com o caminho dele em um passado remoto. “Rápida e Mortal” é de certa forma uma homenagem do cineasta Sam Raimi aos antigos filmes clássicos do chamado western spaguetti. Tudo ecoa ao estilo dessas produções – a trilha sonora, os enquadramentos de câmera, a violência e o enredo, que novamente constrói toda uma trama em cima de um ato de vingança, tentando trazer justiça a um evento do passado (tema que era bem recorrente nos faroestes italianos). As cenas de duelos que permeiam toda a estória reforçam ainda mais esse aspecto. A estilização das mortes e os personagens em si são os aspectos mais visíveis da produção nesse sentido.

Muitos podem torcer o nariz pelo fato do filme ser estrelado pela atriz Sharon Stone (no auge de sua carreira) mas o fã de filmes de western deve ignorar esse detalhe. O que não faltam aqui são atores talentosos em cena. O elenco aliás é um dos maiores trunfos do filme pois é recheado de grandes nomes. Além de Sharon Stone (linda e mostrando que ficava muito bonita de figurino country) temos ainda o maravilhoso Gene Hackman (como o vilão, ótimo como sempre), Leonard DiCaprio (Como Kid, filho de Herod, um jovem falastrão e fanfarrão que pensa ser melhor no gatilho do que realmente é na verdade) e Russel Crowe (como um pistoleiro arrependido e convertido que agora só pensa em servir como missionário de Deus, rejeitando a violência). De quebra Cary Sinise surge em flashbacks como o pai da personagem de Sharon Stone, um xerife morto em serviço. Confesso que na época em que assisti pela primeira vez o filme não me marcou muito. Achei apenas um western eficiente e nada mais. Agora em uma nova revisão revi minha antiga opinião pois o achei realmente divertido, com boa fluência e ritmo. O roteiro que gira quase que totalmente em torno do torneio de duelos poderia desenvolver melhor os personagens mas do jeito que está não compromete. No final das contas o tempo acabou fazendo bem a “Rápida e Mortal”, quem diria.

Rápida e Mortal (The Quick and the Dead, Estados Unidos, 1995) Direção: Sam Raimi / Roteiro: Simon Moore / Elenco: Sharon Stone, Gene Hackman, Russell Crowe, Leonardo DiCaprio, Lance Henriksen / Sinopse: Em busca de vingança uma cowgirl conhecida apenas como Lady (Sharon Stone) chega numa cidadezinha aterrorizada pelo bandido Herod (Gene Hackman). Ele está organizando um torneio de duelos para determinar quem é o gatilho mais rápido da região. Não demora para que ela também entre na disputa!

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Butch Cassidy

Título no Brasil: Butch Cassidy
Título Original: Butch Cassidy and the Sundance Kid
Ano de Produção: 1969
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: George Roy Hill
Roteiro: William Goldman
Elenco: Paul Newman, Robert Redford, Katharine Ross, Strother Martin, Henry Jones, Jeff Corey

Sinopse:
O criminoso Butch Cassidy (Paul Newman) decide se unir a outro bandoleiro chamado Sundance Kid (Robert Redford) para formar uma quadrilha de assaltantes de bancos. Quando um desses assaltos dá errado, eles decidem que chegou a hora de irem embora dos Estados Unidos e fogem para a América do Sul, em busca de liberdade. Filme baseado em fatos reais.

Comentários:
Butch Cassidy e Sundance Kid foram dois criminosos. Assassinos, ladrões, gente da pior espécie. Esse filme porém não está preocupado em contar de forma realista a história deles dois. No fundo apenas os nomes reais foram usados em personagens bem carismáticos. Não podemos esquecer que esse faroeste foi produzido nos anos 60. O clima de contracultura estava no ar. Os bandidos do passado poderiam se passar muito bem como os heróis da resistência do presente. Assim o que vemos aqui é uma alegoria romanceada. A criminalidade da dupla é vista até sob um ponto de vista otimista, positivo, de ser livre, fora das normas, fora dos padrões. E quem disse que isso também não resultaria em ótimo cinema? Pois foi justamente isso que aconteceu. Se tivessem optado por contar a história desses bandidos da forma mais fiel aos fatos históricos, não teríamos seguramente uma obra-prima do cinema em mãos. Aqui os pistoleiros são gentis, educados e acima de tudo espertos. Eles não querem o confronto, apenas querem lutar por sua liberdade. É uma visão tão lírica que o roteiro se dá até mesmo ao luxo de colocar esses dois bandoleiros em momentos de puro prazer, dando voltinhas de bicicleta pela vizinhança. É um grande filme, não me entendam mal, porém no final das contas tem pouca coisa a ver com a trajetória de crimes, roubos e sangue derramado que marcou a vida dos reais Butch Cassidy e Sundance Kid. Vai agradar e muito a quem adora cinema e histórias romanceadas. Para quem estiver em busca da história real, da poeira dos fatos, vai entender que essa produção passa muito longe de ser fidedigna. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado (William Goldman), Melhor Direção de Fotografia (Conrad L. Hall) e Melhor Música ("Raindrops Keep Fallin' on My Head" de Burt Bacharach e Hal David).

Pablo Aluísio.

Mais Forte Que a Vingança

Um western bem peculiar que foca muito mais em momentos reflexivos (principalmente nas cenas passadas no alto das montanhas, em gélida desolação, praticamente sem diálogos ou script) do que em cenas de ação e violência. Essa é a grande impressão que fica no espectador após assistir a esse diferente "Jeremiah Johnson", filme que procurou trazer uma nova perspectiva para os filmes de faroeste. A trama é das mais interessantes. Um veterano de guerra resolve partir para viver nas regiões mais inóspitas e geladas do distante território americano de Utah. Lá começa uma nova vida, completamente sozinho e afastado da civilização. Vivendo basicamente do que consegue caçar, seu isolamento é quebrado quando finalmente entra em contato com nativos americanos que ousam atravessar a região. Toma contato com uma indígena e acaba se tornando responsável por seu pequeno filho, bem no meio entre novos conflitos entre brancos e indígenas. A trama foi baseada em fatos reais, na vida de um montanhês desconhecido que viveu na mesma região no século XIX.

Uma excelente produção, com direção inspirada e corajosa de Sydney Pollack que encarou uma filmagem muito complicada, com equipe técnica e elenco trabalhando sob condições climáticas adversas. Inicialmente o projeto foi desenvolvido para ser estrelado por Clint Eastwood e dirigido pelo mestre Sam Peckinpah. Com a saída deles assumiu Pollack que procurou trazer a maior veracidade possível ao filme, indo para as locações distantes e desoladas. O curioso é que o ator Robert Redford acabou se apaixonando pelo local, chegando ao ponto de comprar uma vasta propriedade na região, onde mantém a natureza praticamente intacta, como forma de preservação ambiental. O argumento do roteiro é bem simples de entender pois mostra um homem branco inserido dentro do vasto território do oeste onde os próprios índios tentam também sobreviver, mostrando que tantos brancos como indígenas não deveriam lutar entre si mas sim unir forças para construir aquela nova nação que nascia naquele momento. Nesse aspecto foi um dos primeiros filmes de western socialmente conscientes do cinema americano, mostrando a insanidade da guerra e as consequências negativas da intolerância entre as raças.

Mais Forte Que a Vingança (Jeremiah Johnson, EUA, 1972) Direção: Sydney Pollack / Roteiro: Raymond W. Thorp, baseado no livro escrito por Vardis Fisher / Elenco: Robert Redford, Will Geer, Delle Bolton / Sinopse: Homem branco, Jeremiah Johnson (Robert Redford), decide ir para o alto das montanhas para viver isolado da civilização e lá entra em contato com povos nativos americanos. Filme indicado no Cannes Festival na categoria de Melhor Direção (Sydney Pollack).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Cinzas ao Vento

Anos após ser expulso de sua cidade natal, Brant Royle (Gary Cooper) retorna. O lugar agora está sob dominação do magnata do tabaco James Singleton (Donald Crisp), o mesmo homem que havia perseguido Brant e seu pai. O tempo passou, mas as velhas mágoas ainda existem. Ao conhecer um inventor de máquinas de fabricação de cigarros, Brant decide pegar algum dinheiro emprestado com seu antigo amor Sonia (Lauren Bacall) para abrir um novo negócio, justamente uma fábrica de cigarros pois ele vê uma oportunidade de ficar rico com a produção em série do produto. Com os anos Royle acaba se tornando ele próprio um magnata da indústria, embora pessoalmente não consiga superar seus velhos traumas do passado. 
 
Esse é mais um excelente drama dirigido pelo mestre Michael Curtiz. O roteiro explora a ascensão e queda de um homem que, saído da extrema pobreza, começa a subir os degraus do sucesso e da riqueza. O personagem interpretado por Cooper é um sujeito que deseja acima de tudo destruir a família Singleton, pois no passado eles destruíram seu pai, um honesto e pacato plantador de tabaco. O tempo passa e ele volta para sua vingança, mas acaba sendo traído também por seus sentimentos pois se apaixona justamente pela filha de seu pior inimigo, a bela e perigosa Margaret Jane Singleton (interpretada pela atriz Patricia Neal que tinha um affair com Cooper na época das filmagens). É a velha questão do chamado triângulo amoroso.

A prestativa e apaixonada Sonia (Bacall) ama e faz de tudo por Royle (Cooper), mas ele ama outra pessoa, a fútil e ardilosa Margareth (Neal) que no fim das contas só deseja destrui-lo. O roteiro foi escrito inspirado no romance de Foster Fitzsimmons. O livro, um autêntico drama romântico sulista, tem todos os elementos que não poderiam faltar nesse tipo de literatura. Há um protagonista que vira vítima de seu próprio sucesso, amores não correspondidos, traições e até um interessante  discurso sobre os poderosos monopólios que iam surgindo dentro da nascente economia industrial norte-americana na virada do século XIX. Essa transformação industrial do sul após a guerra civil aliás é um dos aspectos mais peculiares do filme.

O protagonista interpretado por Gary Cooper é um industrial que aos poucos vai perdendo sua humanidade, tudo corroído pela ganância e pela sede de poder e dominação. Além disso o fato de ser um homem que fica extremamente rico popularizando o cigarro (ao invés do charuto que era o mais popular até então) o torna ainda mais culpado por seus atos e decisões. E por uma dessas ironias do destino o próprio Gary Cooper morreria anos depois exatamente por sofrer de um câncer de pulmão incurável causado pelo fumo excessivo. Na época os danos à saúde causados pelo tabaco ainda eram desconhecidos pela ciência. Muitos, como Cooper, acabariam perdendo a vida exatamente por ignorarem o mal que estavam fazendo para o seu próprio organismo.

Cinzas ao Vento (Bright Leaf, Estados Unidos, 1950) / Estúdio: Warner Bros / Direção: Michael Curtiz / Roteiro: Ranald MacDougall / Elenco: Gary Cooper, Lauren Bacall, Patricia Neal, Donald Crisp, Jeff Corey, Taylor Holmes / Sinopse: Esse clássico do cinema conta a história de Brant Royle (Gary Cooper). No passado ele havia sido expulso de sua terra natal, mas agora está de volta e começa a se tornar um prospero homem de negócios.

Pablo Aluísio. 

Matar ou Morrer

Will Kane (Gary Cooper) é um xerife de uma pequena cidade do oeste. Após ser informado que bandidos estão chegando no local ele tenta recrutar alguns cidadãos para lhe ajudar a enfrentar os facínoras, mas a ajuda é negada pelos moradores locais. Sozinho e abandonado à própria sorte, ele decide enfrentar o bando que está prestes a chegar na cidade apenas com sua bravura e dignidade de homem da lei. Esse foi o filme da vida do ator Gary Cooper e isso, meus amigos, não é pouca coisa já que Cooper foi um dos maiores nomes da história do cinema americano.

Grace Kelly, na flor da idade, esbanja beleza e charme. No elenco de apoio duas curiosidades para os cinéfilos: Lee Van Cleef, que se tornaria um dos "vilões" mais recorrentes em filmes de western nos anos seguintes e Lon Chaney Jr, isso mesmo, o Lobisomen em pessoa dos antigos filmes de terror. Ele aliás tem ótima cena ao lado de Cooper em que diz que "as pessoas não se importam realmente com honra e e justiça". A produção do filme é minimalista. O interessante é que tudo o que foi preciso para contar a estória do filme foi a cidade cenográfica (até bastante despojada) e a estação de trem. Nada mais. É o típico caso em que a produção se resguarda para não atrapalhar o clima psicológico em que vive o xerife naquele momento crucial que antecede a chegada dos pistoleiros na cidade.

O roteiro segue em tempo real (uma grande novidade na época). Embora o enredo em si pareça simples, na realidade não é. Seu subtexto traz diversas leituras, inclusive sobre a hipocrisia que reina em toda comunidade humana. Muito interessante, vale a pena procurar e descobrir as diversas entrelinhas que o argumento tenta passar aos espectadores. A direção do filme é simplesmente excelente, Fred Zinnemann realmente era craque, um cineasta de mão cheia. Existe uma determinada cena que ilustra bem como sua direção é inspirada. Enquanto o xerife caminha pela cidade vazia a câmera dá um travelling e sobe, mostrando toda a solidão e abandono do personagem naquele momento. "Matar ou Morrer" é seguramente um dos maiores clássicos do western americano. Um filme obrigatório.

Matar ou Morrer (High Noon, Estados Unidos, 1953) Direção: Fred Zinnemann / Roteiro: Carl Foreman inspirado na estória "The Tin Star" de John W. Cunningham / Elenco: Gary Cooper, Grace Kelly, Thomas Mitchell, Lee Van Cleef, Lon Chaney Jr / Sinopse: Will Kane (Gary Cooper) é um xerife de uma pequena cidade do oeste. Após ser informado que bandidos estão chegando no local ele tenta recrutar alguns cidadãos para lhe ajudar a enfrentar os facínoras mas a ajuda é negada pelos moradores locais. Sozinho e abandonado à própria sorte ele decide enfrentar o bando que está prestes a chegar na cidade apenas com sua bravura e dignidade de homem da lei. Filme premiado pelo Oscar nas categorias de Melhor Ator (Cooper), Melhor Edição, Melhor Música original (High Noon (Do Not Forsake Me, Oh My Darlin')  e Melhor Trilha Sonora Incidental (Dimitri Tiomkin). Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Silverado

Excelente faroeste produzido em meados da década de 1980. "Silverado" surgiu em uma época em que os grandes estúdios tentavam revitalizar o gênero western. É bem sintomático chamar a atenção para o fato do filme ter sido produzido nos anos 80, quando não havia mais regularidade no lançamento de faroestes no cinema. John Wayne havia partido seis anos antes e deixado uma lacuna, um mercado de fãs de western sem novos lançamentos, sem novos filmes. O faroeste italiano ainda produzia filmes com regularidade, mas esses iam ficando cada vez mais baratos ao longo dos anos. A indústria americana de cinema parecia não investir mais em filmes de western, o que era algo a se lamentar. Como os antigos astros já estavam velhos e aposentados, o jeito foi adaptar todo um elenco de novatos para encarar o desafio. O elenco é liderado por Kevin Kline cuja carreira foi construída em cima de comédias como “Um Peixe Chamado Wanda” e “Será Que Ele é?”, não tendo muito a ver com o estilo. Curiosamente ele acabou se saindo bem no filme. Danny Glover da série “Máquina Mortífera” também foi escalado. Sua escolha foi mais uma jogada comercial, para chamar mais atenção ao filme. Melhor se saem Brian Dennehy, que aqui repete um personagem bem parecido com o que fez em "Rambo", o xerife corrupto que abusa de sua autoridade e Scott Glenn, que lembrava fisicamente muito Clint Eastwood. Outro aspecto curioso de "Silverado" foi a presença de um jovem Kevin Costner, interpretando um garotão inconsequente que sempre se metia em problemas por onde passava. E pensar que alguns anos depois o próprio Costner iria dirigir e atuar em um clássico do western, "Dança com Lobos". Esse "Silverado" foi, de certa forma, seu ensaio no gênero.

O enredo de Silverado era uma miscelânea de vários e vários faroestes do passado. Uma espécie de homenagem aos aspectos mais valorizados da mitologia do velho oeste. Na estória acompanhamos um grupo de amigos que chega na cidade de Silverado, no Colorado (com locações reais no Novo México), agora dominada completamente por um xerife corrupto e seu grupo de capangas. Aterrorizando os moradores, o xerife, na realidade um antigo bandoleiro e pistoleiro se fazendo passar por bom cidadão, acabava literalmente tomando conta do lugar, se tornando proprietário do saloon local e das propriedades circunvizinhas à cidade. Para aumentar ainda mais seu domínio, ele não hesitava em matar, ameaçar e massacrar todos os que ousavam se opor ao seu poder.

A trilha sonora de "Silverado" foi assinada por Bruce Broughton e chamava atenção pela sua beleza. De fato a música incidental não deixava espaços em branco durante o filme, preenchendo tudo de forma bem suntuosa. Seu trabalho acabou sendo indicado ao Oscar. O diretor Lawrence Kasdan poderia ter dado mais agilidade ao filme, com um corte em sua duração – que muitas vezes soa excessiva – mas o saldo final foi inegavelmente positivo. "Silverado" fez sucesso de bilheteria e agradou ao público na época. Pena que mesmo sendo bem sucedido o filme não conseguiu redimir o gênero que ficaria ainda mais alguns anos na geladeira com poucas e esparsas novas produções em Hollywood.

Silverado (Silverado, Estados Unidos, 1985) Direção: Lawrence Kasdan / Roteiro: Lawrence Kasdan, Mark Kasdan / Elenco: Kevin Kline, Scott Glenn, Danny Glover, Kevin Costner, John Cleese, Rosanna Arquette, Brian Dennehy, Linda Hunt, Jeff Goldblum / Sinopse: Um xerife inescrupuloso e corrupto (Brian Dennehy) domina a pequena cidade de Silverado. Contra ele se opõem um grupo de cowboys e bandoleiros que vão enfrentar seu poder. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Som (Donald O. Mitchell, Rick Kline e Kevin O'Connell) e Melhor Música - Trilha Sonora Original (Bruce Broughton)

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Embrutecido Pela Violência

Filme bem marcante da carreira do ator Kirk Douglas. No enredo ele interpreta Len Merrick (Kirk Douglas), um orgulhoso Marshal federal (uma espécie de xerife com jurisdição em todo o país), que evita um enforcamento numa cidade do velho oeste. O acusado, Timothy 'Pop' Keith (Walter Brennan), está para ser enforcado por supostamente ter roubado gado e assassinado o filho de um rico e influente rancheiro da região. Para Len sua execução é completamente ilegal e por essa razão ele se compromete a levar Keith até um tribunal do júri na cidade de Santa Loma onde finalmente será devidamente julgado, perante um juiz de direito e um corpo de jurados, tudo como manda a lei. A jornada até lá porém não será tranquila e nem pacífica pois a família Roden está disposta a vingar a morte de um de seus membros. Esse western dirigido pelo mestre Raoul Walsh tem um argumento muito mais sofisticado do que pode parecer à primeira vista. A história não foge muito do que vemos na tela, com um obcecado homem da lei tentando seguir os trâmites legais a todo custo, mesmo sendo ameaçado e perseguido por um bando de justiceiros pelo deserto afora. A questão é que uma vez em Santa Loma - para onde está levando um acusado - ele descobre que nem sempre a justiça é devidamente feita pelos tribunais. Há uma série de influências econômicas, sociais e extra jurídicas que determinam se alguém é considerado culpado ou não.

Durante a jornada até lá ele vai colhendo impressões e verdades sobre o homem que tem sob custódia e descobre que seu próprio julgamento pessoal, criado na convivência com o suposto criminoso, tem mais validade do que um apressado e mal feito julgamento na calada da noite. Só esse aspecto já tornaria o filme bem acima da média dos demais faroestes da época, mas há outras qualidades dignas de nota. Walsh rodou um filme enxuto, diria até econômico, porém muito bonito, em bela fotografia em preto e branco. Rodado no deserto da Califórnia, em belas locações com penhascos e rochas enormes, o filme se valoriza enormemente por causa desse cenário natural rico em bonitas paisagens. O elenco também é outro ponto forte.

Kirk Douglas está de certo modo em seu tipo habitual, a do xerife durão, até insensível que carrega velhos traumas do passado, em especial uma certa culpa pelo que aconteceu ao seu pai anos atrás (ele também era um homem da lei íntegro que acabou sendo linchado por tentar cumprir o que dizia a letra fria do devido processo legal). Agora, firme em suas convicções, ele precisa levar o acusado perante um juiz para que seja devidamente julgado. A questão é que a filha do homem preso, interpretada pela linda atriz Virginia Mayo, também quer justiça, mas ao seu modo. Douglas e Mayo inclusive soltam faíscas de atração no meio do deserto. Uma dupla que deu muito certo e que trouxe muita paixão reprimida para a tela. Com cabelos curtinhos e jeito até bem rude, Mayo acaba roubando todas as atenções por causa de sua personalidade ao mesmo tempo geniosa e sensual. Então é isso. "Embrutecidos Pela Violência" é muito mais do que aparenta ser. Um bom argumento, bem sólido e coerente, apoiado por um enredo que não nega os mais tradicionais cânones do western americano.

Embrutecido Pela Violência (Along the Great Divide, Estados Unidos, 1951) Estúdio: Warner Bros / Direção: Raoul Walsh / Roteiro: Walter Doniger, Lewis Meltzer / Elenco: Kirk Douglas, Virginia Mayo, John Agar, Walter Brennan / Sinopse: Veterano xerife tenta manter a lei em uma região violenta e hostil do velho oeste dos Estados Unidos.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Duelo de Gigantes

Que tal unir dois dos mais talentosos atores do século XX em um westen, digamos, diferente? Pois foi essa a proposta de "Duelo de Gigantes" que reuniu Jack Nicholson e Marlon Brando em uma obra tão surpreendente como diferente. Em suas memórias pessoais Brando confessa que fez o filme apenas por dinheiro. Como sempre ele estava muito endividado e assim aceitou participar do filme, mas achou o roteiro muito vazio e sem expressão. Só durante as filmagens é que ele teve a ideia de inovar com a figura de seu personagem. Vestiu roupas de mulher, usou um figurino espalhafatoso e exagerado e caprichou na caracterização nada comum do pistoleiro que interpretava. Como era um mito do cinema ninguém ousou ir contra suas decisões durante as filmagens. Outro aspecto curioso de "Duelo de Gigantes" narrado em seu livro foi a falta de respeito do estúdio que não pagou em dia seu cachê combinado. Brando ficou furioso com isso e começou a criar novos problemas. Esquecia as falas, inventava sotaques absurdos para declamar o texto e estragava takes de forma proposital. Até o dia em que um alto executivo foi lhe visitar em seu camarim. Brando deixou claro que se o pagassem em dia provavelmente ele começaria a recordar suas falas e quem sabe até trabalhar direito! Não tardou para que a Warner começasse a lhe pagar conforme estipulava seu contrato!

Marlon Brando e Jack Nicholson eram vizinhos e se admiravam tanto como amigos quanto como profissionais. Brando via em Nicholson um provável sucessor de sua própria carreira. Não eram da mesma geração, quando Jack surgiu no cinema Brando já tinha vários de sucessos na carreira, mas o ator procurou se posicionar num patamar de igualdade com o colega mais jovem. Jack Nicholson, sempre excêntrico, procurou dessa vez não criar muitas encrencas no set, uma vez que Brando já estava criando seus próprios no desenrolar das filmagens. Apesar dos grandes nomes envolvidos, o saldo final se revela um pouco irregular. "Duelo de Gigantes" se destaca por ser diferente, por sair do lugar comum dos filmes de faroeste daquela época. Não chega a ser um filme excepcional, mas as excentricidades de Marlon Brando acabam mantendo completamente o interesse no resultado da obra. De fato o que vemos em cena é um Brando deitando e rolando com os mitos do gênero. Seu pistoleiro, Lee Clayton, é visivelmente andrógino e fora dos padrões. A impressão que temos é que Brando quis mesmo reverter os cânones do estilo. Funciona em certas ocasiões, mas em outras não. De qualquer modo um filme que conseguiu reunir dois mitos desse porte jamais pode ser ignorado pelos cinéfilos e essa é a grande força de "Duelo de Gigantes".

Duelo de Gigantes (The Missouri Breaks, EUA, 1976) Direção: Arthur Penn / Roteiro: Thomas McGuane / Elenco: Marlon Brando, Jack Nicholson, Randy Quaid, Harry Dean Stanton  Kathleen Lloyd / Sinopse: Um rico e próspero rancheiro se vê ameaçado pelo constante roubo de seus cavalos na região onde vive. Os roubos são atribuídos a um conhecido renegado, Tom Logan (Jack Nicholson). Para resolver seus problemas ele resolve contratar o pistoleiro Lee Clayton (Marlon Brando), um exótico fora-da-lei que chama atenção não apenas por sua habilidade no gatilho, como também por seu modo nada convencional de se vestir e se apresentar em público.

Pablo Aluísio.

Com a Corda no Pescoço

Henry Lloyd Moon (Jack Nicholson) é um renegado confederado que após o fim da guerra civil forma um bando de criminosos como ele para roubar bancos e cavalos nas localidades mais distantes do velho oeste americano. Após uma perseguição sem tréguas por homens da lei ele tenta chegar ao Rio Grande onde espera atravessar a fronteira em direção ao México, se livrando assim das mãos do xerife. Ele porém não tem muita sorte e seu cavalo desmaia de exaustão. Preso e levado de volta para a cidade, Moon finalmente é julgado e condenado a morte por enforcamento (a pena padrão para ladrões de cavalos naquela época). Sua única chance de não ser enforcado é ser escolhido por alguma mulher da região como marido. Há em vigor uma lei da guerra civil que livraria os condenados à forca caso alguma senhorita o escolhesse para se casar. A justificativa dessa norma legal era simples: como muitos homens tinham morrido na guerra o número de mulheres solteiras e solitárias era muito grande e todo homem era alvo de disputa mesmo se estivesse condenado a morrer no laço da forca. Dessa forma o casamento livraria o criminoso de ser pendurado na forca até a morte!

Assim no último minuto, já no cadafalso, a senhorita Julia Tate (Mary Steenburgen) então decide escolher Moon para ser seu marido, o livrando da morte! A sorte parece finalmente ter sorrido para ele, mas na realidade mal sabe o ex condenado no que estaria se metendo! Começa assim esse divertido “Com a Corda no Pescoço”, filme estrelado e dirigido por Jack Nicholson. Embora seja passado no velho oeste o roteiro deixa claro, desde o começo, que o tom da produção será leve, divertido, se apoiando muito mais no relacionamento do estranho casal do que em qualquer outra coisa. É quase uma comédia de costumes. Nicholson novamente se sai muito bem. Seu personagem é um bandido sem eira nem beira, barbudo e maltrapilho, que vaga em busca de alguma oportunidade. Ele parece mais um renegado sem futuro do que qualquer outra coisa. Já a atriz Mary Steenburgen está uma graça como uma mulher que resolve se casar com “aquilo” para no fundo ter apenas um empregado de graça em seu rancho e na mina onde sonha encontrar finalmente ouro, depois de muitos anos de busca. O elenco de apoio é acima da média, com destaque para as presenças de Christopher Lloyd, que interpretaria anos depois o cientista Dr. Brown da série "De Volta para o Futuro" e John Belushi, comediante de sucesso do programa "Saturday Night Live" que havia brilhado em "Clube dos Cafajestes" no cinema nesse mesmo ano. Enfim, eis um western com tempero de muito humor, que não deve ser levado à sério, pois é pura e simples diversão pipoca, onde aliás funciona muito bem.

Com a Corda no Pescoço (Goin' South, EUA, 1978) Direção: Jack Nicholson / Roteiro: John Herman Shaner, Al Ramrus / Elenco: Jack Nicholson, Mary Steenburgen, Christopher Lloyd, John Belushi / Sinopse: Moon (Nicholson), ladrão de bancos e cavalos, é salvo no último minuto da forca ao ser escolhido pela senhorita Tate (Steenburgen) como seu marido. A união trará muitas confusões. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Mary Steenburgen).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de abril de 2019

As Cartas de Grace Kelly - Parte 6

Em 1951 Grace Kelly aceitou o convite para ir até Hollywood filmar um novo faroeste que iria se chamar "Matar ou Morrer". Ela teve um certo desejo de não aceitar o convite porque afinal de contas estava se dando muito bem em Nova Iorque, trabalhando como modelo e como atriz em peças na Broadway e em teleteatros filmados que eram exibidos nos canais de TV. Tudo corria maravilhosamente perfeito, mas seu agente lhe disse que um convite como aquele não poderia ser recusado. Outro ponto que a fez recuar um pouco foi o fato de que o filme seria um faroeste ao velho estilo, estrelado pelo astro do gênero Gary Cooper. Ela não tinha pretensões de fazer filmes desse estilo. Porém, mesmo com certa hesitação, ela terminou assinando o contrato para fazer o filme.

Assim, até meio a contragosto, ela finalmente arranjou três semanas livres e voou até Los Angeles. Acabou encontrando um set de filmagens com um diretor muito estressado pois o cineasta Fred Zinnemann era detalhista ao extremo, No elenco ela encontro um amigo, o ator Gary Cooper, que aos 51 anos era um veterano das telas, com décadas de carreira em Hollywood. Enquanto isso Grace era apenas uma novata esforçada, aos 21 anos de idade. Apesar da diferença de gerações (afinal ele tinha idade para ser o pai dela), as coisas fluíram muito bem entre eles. O que começou com uma amizade sincera entre dois colegas de trabalho acabou se tornando algo mais.

Grace Kelly levou o romance das telas para a vida real. Ela teve um romance com o cinquentão Cooper, que dono de uma personalidade bem tímida e retraída, nunca ficou muito confortável com aquela situação. Na verdade o ator ficou em dúvida se aquela jovem queria tirar algum proveito dele ou se realmente tinha um verdadeiro sentimento no relacionamento que começou bem no meio das filmagens. De uma forma ou outra o próprio Cooper resolveu acabar com o breve romance. Ele disse a Grace Kelly, já perto do fim das filmagens, que já tinha vivido muito para saber que algo como aquilo não tinha muito futuro. Assim de forma educada e gentil resolveu encerrar o romance. Ele gostava de cultivar a imagem de homem honrado dentro da comunidade em Hollywood. Um caso com uma atriz tão jovem não iria pegar bem.

Nos anos que viriam Grace Kelly iria se relacionar com muitos atores com quem trabalharia. Ela parecia ter um tipo de fetiche em namorar os grandes astros de Hollywood, por isso acabou ficando conhecida por ser muito namoradeira na época. Só um grande astro resistiu ao seu charme. Apesar de todos os esforços Grace Kelly não conseguiu conquistar o homem que ela considerava perfeito: Rock Hudson. Grace ficou apaixonadíssima por ele, pois era alto, bonito e tinha um ótimo carisma, se revelando simpático e muito acessível. O que Grace não sabia (poucos sabiam disso em Hollywood) era que Hudson era gay e escondia isso do estúdio e do público em geral. Afinal segredos eram para ser bem guardados.

Pablo Aluísio.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Elvis Presley - Ama-me Com Ternura

Nos últimos dias da guerra civil americana um pequeno pelotão do exército confederado assalta uma locomotiva que trazia o soldo dos soldados da União. Com o dinheiro em mãos (algo em torno de 12 mil dólares) decidem voltar para sua guarnição mas são surpreendidos ao saberem que a guerra finalmente havia chegado ao fim! O problema passa a ser o destino do dinheiro. Eles deveriam devolvê-lo aos ianques ou ficar com ele, repartindo entre os soldados? Após uma breve reunião decidem ficar com o dinheiro, repartindo entre eles a quantia. Depois de acertarem tudo os irmãos Reno, liderados por Vance Reno (Richard Egan), retornam ao seu antigo rancho onde vivem seu irmão mais jovem e sua mãe. Vance planeja usar o dinheiro para ajudar sua família e depois finalmente se casar com a bela Cathy (Debra Paget), sua antiga paixão. O problema é que ao chegar em casa acaba descobrindo que Cathy, pensando que ele estava morto na guerra, acabou se casando com seu irmão caçula, o jovem Clint (Elvis Presley). 

Como superar seus sentimentos por Cathy agora? “Love Me Tender” se chamava originalmente “The Reno Brothers” e havia sido planejado como um drama de western, explorando os conflitos familiares entre os irmãos Reno em um roteiro baseado na estória original de Maurice Geraghty, uma veterana roteirista de faroestes. Quando Elvis Presley foi encaixado no filme tudo mudou, músicas foram adicionadas no enredo e o que era mais dramático ficou levemente amenizado. A primeira vez que Elvis apareceu numa tela de cinema foi justamente nesse filme, arando as terras do rancho de sua mãe ao longe quando finalmente percebe seus irmãos retornando da guerra. Presley nunca havia atuado antes na vida e tudo foi uma enorme experiência para ele. Na verdade era apenas um jovem de 21 anos deslumbrado com a chance de fazer um filme em Hollywood. De origem humilde ele jamais poderia pensar que um dia apareceria no cinema! Embora sua atuação tenha sido criticada por alguns na época o fato é que Elvis em nenhum momento compromete o filme com sua performance. Na verdade ele demonstra boa presença de cena, mesmo nos momentos em que seu personagem exige mais. Parece estar bem à vontade contracenando com os demais atores sem mostrar qualquer tipo de nervosismo ou amadorismo.

A Fox viu a presença de Elvis no elenco como um bônus para o filme. Mal sabiam eles que a partir de seu lançamento tudo iria girar em torno de Elvis Presley. Ele era o terceiro nome no elenco mas quando a Fox viu seu potencial de bilheteria mudou a estratégia de marketing e se concentrou na figura do cantor. Novos posters foram feitos e a figura de Elvis colocada em destaque. O resultado veio nas bilheterias. Os fãs de Presley lotaram os cinemas, formando filas e mais filas nas portas das salas de exibição. Todos queriam ver Elvis na tela grande! “Love Me Tender” que não passava de uma produção B da Fox logo se tornou um dos campeões de bilheteria do ano. O saldo final foi mais do que satisfatório rendendo nove vezes mais que seu custo de produção – um resultado que mostrava a força do roqueiro Elvis para os chefões dos estúdios. Afinal os jovens formavam a maior parte do público pagante do cinema americano na época e eles simplesmente adoravam as músicas de Elvis. Muitos inclusive assistiram ao filme várias vezes aumentando ainda mais sua renda final. A música tema também chegou ao primeiro lugar nas paradas e virou um clássico instantâneo. 

A presença de Elvis e o sucesso causado pelo seu público ofuscaram de certa forma uma avaliação mais isenta desse faroeste. Os que não gostavam de Elvis e sua música “selvagem” obviamente aproveitaram para desmerecer o filme em si. Bobagem. “Ama-me Com Ternura” era bem na média do que se produzia na época. Não era um faroeste ruim e nem uma bomba, pelo contrário, estava de acordo com o que os estúdios produziam nos anos 50. De certa forma poderia ser até mesmo estrelado por um Randolph Scott ou qualquer outro astro de westerns dos grandes estúdios. O diretor era o competente Robert D. Webb que já havia dirigido bons faroestes antes como “A Lei do Bravo” e sem dúvida sabia muito bem o que estava fazendo, com ou sem Elvis Presley no elenco. Esse aliás adorou tudo, o clima do set de filmagens, os ensaios, as tomadas de cena, tudo. De fato não seria a última vez que Elvis Presley iria ao velho oeste em sua carreira. Ele retornaria alguns anos depois às pradarias em filmes como “Estrela de Fogo” e “Charro” mas essa é uma outra história...

Ama-me Com Ternura (Love Me Tender, EUA, 1956) Direção: Robert D. Webb / Roteiro: Robert Buckner baseado na curta estória de Maurice Geraghty / Elenco: Richard Egan, Debra Paget, Elvis Presley, Robert Middleton, William Campbell / Sinopse: Após o fim da guerra americana Vance Reno (Richard Egan) retorna para o rancho de sua mãe mas descobre que a paixão de sua vida, a jovem Cathy (Debra Paget) se casou com seu irmão caçula, Clint Reno (Elvis Presley).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Spencer Tracy - Broken Lance (1954)

Nesse fim de semana eu conferi mais um clássico do western americano. O filme se chama "Broken Lance" (no Brasil o filme recebeu o título de "Lança Partida"). A estória se passa no Arizona, no século XIX. Nessas terras desertas e hostis o velho patriarca Matt Devereaux (Spencer Tracy) construiu um império baseado na criação de gado em sua fazenda. Matt é da velha escola, um homem duro, austero, que não admite qualquer tipo de ameaça ao seu poder absoluto. O símbolo máximo de uma sociedade completamente patriarcal.

Ele tem quatro filhos, todos devidamente achatados pela personalidade dominante do pai. Entre eles se destacam o jovem mestiço Joe (Robert Wagner), o caçula do clã, e Ben (Richard Widmark), o mais velho dentre eles, um homem que não consegue abrir seus próprios caminhos na vida por causa de seu pai opressivo e dominador. O enredo segue uma linha mais tradicional dos antigos faroestes, mas tem uma inesperada reviravolta (de natureza jurídica) que o transforma quase em um filme de tribunal. Uma mineradora da região está jogando cobre nas águas dos rios que cortam a fazenda dos Devereauxs. Algumas cabeças do rebanho morrem envenenadas pelo metal pesado e o velho Matt parte para dar o troco nos mineradores. Isso claro com revólver em punho, como era costume naqueles tempos pioneiros.

O diretor Edward Dmytryk joga então luzes sobre esse enredo (cujo roteiro foi premiado com o Oscar) de forma muito talentosa, mas quem rouba o filme todo para si é o excelente elenco. A começar pelo veterano Spencer Tracy. Católico devoto, ele teve uma vida sentimental ao mesmo tempo muito discreta e comentada em Hollywood. Acontece que Tracy era muito próximo de Katherine Hepburn, a grande diva do cinema americano, recordista na premiação do Oscar. Essa aproximação sempre gerou boatos de que eles mantiveram um caso amoroso escondido por anos e anos a fio. Muitas biografias afirmam que eles se amavam muito, mas que nunca puderam se casar pelo fato de que Tracy já era casado e não poderia se divorciar da esposa, por causa da precariedade de sua saúde (ela passou anos em coma).

Essa pelo menos foi a versão que durou muito tempo, até a morte do casal. Recentemente um livro foi publicado nos Estados Unidos dando uma outra visão dos fatos. Para esse autor (que inegavelmente faz a linha mais sensacionalista), Spencer Tracy e Katherine Hepburn não tinham um verdadeiro caso de amor, mas apenas fingiam que tinham. Por quê? Porque ambos seriam gays! Sinceramente, não acredito muito nisso. E nem é por causa da Katherine, que era uma mulher cosmopolita e aberta a todo tipo de experiência sexual e emotiva, mas sim por causa de Spencer Tracy. Pensar que esse homem ultra conservador e religioso, sempre ligado aos valores mais tradicionais, pudesse ser gay é algo completamente fora da realidade de sua biografia e história. De qualquer forma se formos deixar as picuinhas de lado e nos concentrar apenas em seus bons filmes deixo aqui a dica desse faroeste clássico "Lança Partida", uma prova de que nas telas o velho Spencer Tracy ainda conseguia impressionar, mesmo com a idade já bem avançada.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 27 de junho de 2006

Western + Western

Abaixo disponibilizo várias resenhas sobre filmes de Western. Não estão incluídos os filmes de John Wayne, Gary Cooper, Randolph Scott, Errol Flynn e outros atores que possuem tópico próprio no blog. Para visualizar os comentários dos filmes desses atores consulte os tópicos respectivos denominados "Filmografia Comentada".

Duelo de Ambições (Nas Garras da Ambição) - A trama do filme é simples: dois cowboys são contratados para levar um grande rebanho de gado do Texas até o território selvagem de Montana. Essa era uma travessia que até aquele momento não havia sido feita, uma vez que o caminho era infestado por tribos hostis como os Sioux e ladrões de gado (até o exército americano evitava circular por aquela região). O filme foi dirigido pelo grande Raoul Walsh e prometia, pela sinopse, ser realmente grandioso, como os grandes clássicos do western dos anos 50. Infelizmente a estrutura do roteiro não me agradou muito e posso inclusive apontar o erro dele: a presença de Jane Russell no elenco. Nada contra ela, gosto de suas atuações, além do que sua parceria com Marilyn Monroe em "Os Homens Preferem as Loiras" entrou para história do cinema. O problema é que com Jane em cena o diretor acabou se perdendo. O filme ficou meloso, fora de foco. O que era para ser um exemplo de "filme de macho" com todos aqueles atos de bravura e luta para atravessar o velho oeste acabou virando com Jane um romance banal, sem muitos atrativos. Analisando bem o problema não se resume a ela. O fato é que com Clark Gable em cena os roteiristas não resistiram e investiram mais uma vez na sua velha imagem de galã (que já estava com prazo de validade vencido na época pois ele inegavelmente surge em cena envelhecido, pouco viril e com claros sinais que a idade finalmente havia chegado). As intensas provocações de Jane para com Gable fazem com que o filme caia no lugar comum, com direito inclusive a músicas cantadas por Russell (algo que na minha opinião não caiu muito bem). Fica naquele joguinho de tensão sexual entre eles sem nunca chegarem aos "finalmente" Além disso tem o inevitável triângulo amoroso envolvendo ainda o personagem do ator Robert Ryan. Pena que Raoul Walsh não preferiu filmar uma produção mais focada na travessia do gado e menos no romance açucarado. De qualquer forma, mesmo com essas restrições, ainda indico esse "Os Homens Altos" (tradução literal do título original) para os fãs de faroeste. No mínimo será curioso assistir. PS: No Brasil o filme também recebeu o título de "Nas Garras da Ambição". Era comum nos anos 50 os filmes receberem mais de um título (geralmente quando passava na TV depois as emissoras mudavam os títulos ao seu bel prazer).

Kansas Raiders
O Audie Murphy foi o soldado americano mais condecorado da II Guerra Mundial. Quando a guerra acabou ele voltou para os EUA e começou uma carreira como ator. Aproveitando a onda de patriotismo ele foi estrelando um western atrás do outro. Os filmes de faroeste do Audie Murphy eram quase sempre produções B da Universal. Ele próprio nunca se levou muito à sério e quando encerrou sua carreira disse em tom de brincadeira: "Fiz dezenas de faroestes em Hollywood e eles eram todos iguais, só mudavam os cavalos". Na época não se dava muita bola para seus filmes, é verdade, mas ultimamente os fãs de western tem reconhecido melhor essas produções. Um exemplo é esse Kansas Raiders (que no Brasil ganhou o péssimo título de "Os Cavaleiros da Bandeira Negra"). O filme é um típico produto de Audie Murphy. Produção modesta, roteiro simples e tramas ligeiras - para se passar nas matinês para a garotada. Dificilmente os filmes tinham mais de 70 minutos. O curioso é que mesmo quando ele interpretava bandidos lendários do velho oeste, como Jesse James, Audie soava como o mocinho. Eu pessoalmente nunca fui muito fá dele, devo confessar, pois sempre o achei um ator muito limitado, com um rosto muito comum e além do mais pouco masculino (ele tinha cara de babyface pra falar a verdade). Ele também nunca criou um estilo próprio de caracterização- falando a verdade ele apenas enganava bem em cena. Além disso muitos de seus filmes eram adaptações de livros de bolso que eram muito populares nos anos 50. Nesses livrinhos todos os personagens eram bem romantizados, como bem se percebe aqui nesse filme. Apesar disso, pelo sucesso que alcançou e pela longa filmografia que acabou estrelando, os faroestes com Audie Murphy merecem passar por uma revisão. Não são de todos ruins e no fundo divertem, com clima de nostalgia. PS: Esse filme tem uma curiosidade, interpretando um dos bandidos do bando de Jesse James temos Tony Curtis, bem jovem, e com duas linhas de diálogos para falar. rs.

Armado Até os Dentes
Eficiente Western B que tem um roteiro tão redondinho que me deixou surpreso. No filme Robert Mitchum faz um pistoleiro de aluguel chamado Clint Tollinge. Se auto denominando um "pacificador de cidades" ele chega na pequena Sheridan atrás da mãe de sua pequena filha. Ao chegar no local acaba descobrindo que a cidade está sendo ameaçada e extorquida pelo bando de um rancheiro que quase nunca vai lá, mas que barbariza quem se atreve a cruzar seu caminho. Colocando seus serviços ao povo local ele logo é escolhido como auxiliar do xerife para colocar ordem no caos reinante. O interessante aqui é que o vilão (e obeso mórbido) Dade Hollman só aparece nos cinco minutos finais o que mostra que o roteiro joga bastante com sua onipresença na região, embora praticamente não apareça em cena. O elenco é muito bom. Robert Mitchum compõe um tipo que curiosamente seria repetido por outro Clint, o Eastwood, em seus filmes. Caladão, durão, cara de poucos amigos, ele logo impõe respeito por sua perícia e velocidade no gatilho. O elenco feminino é todo formado por beldades e starlets da época. Como o enredo mostra um grupo de dançarinas de cabaret a fartura de mulheres bonitas é alto no filme, com destaque para Karen Sharpe, jovem e estreante no cinema. Esse foi o primeiro filme do diretor Richard Wilson. Embora estreante nas telas se saiu muito bem pois consegue imprimir ação e tensão nas medidas certas. Curiosamente ele iria dirigir poucos filmes em sua carreira, preferindo exercer a função de produtor anos depois. Enfim, recomendo "Armado Até os Dentes" para os fãs de western. É um filme rápido, bem atuado e com roteiro bem construído.

Golpe de Misericórdia
Achei um western bastante eficiente. No fundo o filme vai agradar a diversos tipos de cinéfilos: aos que gostam de faroestes clássicos e aos que curtem também filmes sobre assaltos. A trama central gira em torno do roubo de um trem no distante território do Colorado (praticamente um deserto inóspito naquela época em que o filme é passado). Embora o filme não entre muito no desenvolvimento dos personagens (o que é comum em faroestes dos anos 50) o fato é que o roteiro demonstra preocupação em mostrar as motivações e os sentimentos de Wes McQueen (Joel McCrea), fugitivo e principal membro do grupo que planeja executar o crime, o que no final das contas é um diferencial. O elenco é liderado pelo ator Joel McCrea, durão sem perder a ternura (principalmente em relação às beldades em cena). Dessas a que mais me chamou a atenção foi Virginia Mayo. Era canastrona sim mas fotografava muito bem na tela, principalmente pelos olhares que foram extremamente bem captados pelo diretor. E por falar nele, Raoul Walsh era um excelente cineasta. Isso é bem demonstrado no uso maravilhoso que ele faz da paisagem natural que se torna quase um personagem próprio. Aliás curiosamente o filme foi rodado em 3 Estados diferentes (Califórnia, Arizona e Novo México) e embora o filme leve o nome original do território do Colorado esse não foi utilizado em cena! Enfim, coisas de cinema. Recomendo para os fãs de bons faroestes de ação com excelentes tomadas de cena mostrando o roubo do trem em movimento. Vale a pena.

Três Sargentos
Algumas coisas não dá para entender. Como é que um filme que reúne todo o Rat Pack consegue não ter música e o pior, ser tão sem graça? O problema de "Três Sargentos" é justamente esse: a fita se leva à sério demais! Um filme que reúna Sinatra, Martin e Davis, Jr não poderia nunca ser tão convencional como esse. O filme não tem nenhuma canção, nada! Para piorar o humor é deixado de lado. Apenas uma cena investe nesse aspecto, a cena inicial com os 3 sargentos dentro do bar. Após uma briga ao estilo pastelão o espectador é levado a pensar que o roteiro vai seguir essa linha mas que nada! - inexplicavelmente muda de tom e assume uma postura séria, baseada em longos tiroteios e batalhas com os índios das montanhas. Sinatra apenas passeia no filme. Aliás seu personagem nem sempre aparece nas cenas mais importantes. Melhores são as participações de Dean Martin e Sammy Davis Jr, que em dupla proporcionam bons momentos. De resto pouca coisa convence. A cena final é praticamente toda passada dentro de uma caverna nitidamente recriada em estúdio. O filme não é mal feito mas a cenografia soa fake demais. O diretor John Sturges foi contratado pessoalmente por Sinatra após o sucesso de "Sete Homens e Um Destino" mas o deixou em rédeas curtas. Com o projeto sob controle Frank colocou toda a trupe no elenco (inclusive Peter Lawford, cunhado do presidente John Kennedy e péssimo ator) em um western que não deu muito certo. Seria bem melhor se fosse assumidamente cômico, com muitas canções. Não adianta muito ter grandes cantores em cena se não os utilizarem não é mesmo?

Sua Última Façanha
Um grande filme! Resolvi assistir depois de tomar conhecimento de que esse era o filme preferido do próprio Kirk Douglas. Depois de conferir devo dizer que concordo com o ator em gênero, número e grau. Embora tenha estrelado vários e vários clássicos ao longo de uma das carreiras mais produtivas e bem sucedidas em Hollywood não há em sua extensa filmografia nenhum filme que tenha tanto coração e sentimento como esse. Um roteiro que lida de maneira primorosa com o fim de um amado estilo de vida que definiu vários dos grandes heróis da história dos EUA. O grande mérito aqui é que Douglas, o diretor David Miller e principalmente o roteirista Dalton Trumbo conseguiram reunir vários gêneros em um só filme, com resultado bem acima da média. Se pode pensar que "Lonely Are The Brave" é apenas um western temporão, de um estilo que já estava se tornando fora de moda, mas isso é uma visão simplista. O filme passeia tranquilamente por vários estilos e gêneros, tangenciando os filmes policiais, on the road e até mesmo os dramas românticos, isso sem perder a direção em momento algum. Passado no moderno oeste americano somos apresentados ao personagem John W. "Jack" Burns (Kirk Douglas). Ele é um velho cowboy que tenta manter vivo seu estilo de vida em um mundo que definitivamente nada mais tem a ver com o passado. No meio de auto estradas, aviões a jato e carros modernos, Burns tenta manter de alguma forma intacta a figura mitológica do cowboy do velho oeste. Claro que agindo assim ele logo encontra problemas com a lei, com a sociedade e com a mentalidade moderna. Os jovens o acham uma peça de museu mas ele insiste em manter sua dignidade intacta. Duas coisas impressionam no filme: O lirismo subliminar do roteiro e a eficiente caçada final a Burns em uma montanha rochosa íngreme. Algumas cenas são as melhores que já vi. Fiquei imaginando como devem ter sido complicadas as filmagens em loco, até porque subir com um cavalo em um ambiente daqueles é quase impossível (em muitos momentos fiquei realmente receoso do cavalo e do dublê de Douglas caírem montanha abaixo, tal o perigo das tomadas feitas). Em conclusão podemos afirmar que "Sua Última Façanha" é uma excelente crônica sobre a mudança de costumes que se sucedem de uma época histórica para outra. O velho mito que se depara com os desafios da modernidade. Em vista de tudo isso certamente vai agradar aos fãs de western e também aos que querem conhecer melhor essa fase de mudanças profundas no modo de viver dos mitos do passado. Vale muito a pena conhecer, certamente.

Audácia de um Forasteiro
Faroeste B estrelado pelo veterano ator Fred MacMurray (50 anos de carreira e quase 100 filmes no curriculum!). Aqui ele faz um tipo que nem era tão comum dentro de sua filmografia. Para falar a verdade sua persona em cena como um cowboy casca grossa e fugitivo não convence muito. Ele tinha cara de bonachão e se saía melhor em comédias ou filmes família como os que realizou nos estúdios Disney. Ao seu lado em cena pelo menos um ator de faroeste de verdade: James Coburn. Muito jovem ele interpreta um capanga da quadrilha local. O filme foi feito na Columbia no auge da popularidade dos filmes de bang bang. Como esse tipo de western sempre dava bilheteria os filmes eram rodados em escala industrial, um atrás do outro, geralmente aproveitando as mesmas locações e os mesmos cenários. O filme foi dirigido por Paul Wendkos, outro profissional veterano com mais de 100 filmes em sua lista! O interessante é que assim como MacMurray ele também não era especialista em westerns! Enfim, o filme é isso, um faroeste curto, rápido e direto para ser exibido nas matinês dos cinemas nos anos 50. Vale como curiosidade.

Jovens Demais Para Morrer
Roteiro e Argumento: O roteiro de Young Guns II mistura fatos reais com ficção. De forma geral é bem mais fantasioso do que o primeiro filme. Existem cenas que jamais aconteceram na história real como o encontro de Billy The Kid com o governador. Outras são totalmente corretas do ponto de vista histórico como a fuga de Billy da delegacia e a morte dos dois homens da lei. De maneira em geral o roteiro adaptou muita coisa para dar mais agilidade ao filme no que fez bem pois o resultado final é bem dinâmico e não há problemas de ritmo na fita. / Produção: Essa franquia Young Guns sempre foi muito bem produzida. Filmada no Arizona o clima da região em que viveu Billy The Kid é muito bem recriada em cena (embora a história real tenha se passado no Novo México, muito mais árido e inóspito). De resto tudo está muito bem fiel, tanto do ponto de vista de figurinos (Billy quase sempre está com roupas modestas) como de costumes (apenas o bordel mostrado do filme é muito mais luxuoso do que realmente era na época). / Direção: Esse é o filme de maior projeção da carreira do diretor Geoff Murphy. Dele só consigo me lembrar do péssimo Freejack, aquele filme B com o Mick Jagger. De qualquer forma temos que reconhecer que seu trabalho aqui está muito bom. Na verdade alguns membros da equipe dizem que o filme foi co-dirigido por Emilio Estevez que apenas não quis se comprometer assinando a direção também. / Elenco: A franquia Young Guns é conhecida por reunir em seu elenco jovens atores que estavam na crista da onda na época. Assim temos além de Emilio Estevez como Kid, os atores Kiefer Sutherland (Garotos Perdidos), Lou Diamond Phillips (La Bamba). Como coadjuvantes algumas boas surpresas como a presença do veterano James Coburn e de Alan Ruck (O amigo de Mathew Broderick em Curtindo A Vida Adoidado).

Wild Bill - Uma Lenda do Oeste
Terminei de rever. Curiosamente me recordei de bastante coisa apesar de ter assistido há tanto tempo. O filme é muito bom, interessante e bem montado. Ao invés de contar cronologicamente a história de Wild Bill o diretor optou por narrar os últimos momentos de vida dele, onde aos poucos sua história é relembrada em diversos flashbacks (em preto e branco na maioria das vezes). O filme é curto, pouco mais de 90 minutos, o que torna insuficiente para mostrar a vida do famoso personagem (que foi de tudo um pouco na vida, desde caçador de búfalos a xerife de cidades perigosas como Deadwood). Talvez apenas uma minissérie conseguiria contar todas as histórias envolvendo Wild Bill. Tecnicamente muito bem feito o roteiro romanceou alguns aspectos da vida do famoso pistoleiro para trazer mais interesse à trama. A mais significativa dessas mudanças foi a relação que os roteiristas criaram entre o assassino de Wild Bill e um amor do passado dele. Obviamente que ambos os personagens existiram realmente mas Jack McCall, o assassino de Bill (que seria enforcado por esse crime) não era filho de Susannah Moore, a antiga namorada do passado. Essa foi apenas uma tentativa de trazer mais dramaticidade ao filme. Jeff Bridges está muito bem no papel e todo o elenco de apoio é acima da média, principalmente Ellen Barkin como Calamity Jane. Fazendo às vezes de narrador o filme ainda traz o ótimo John Hurt no papel de um amigo inglês de Wild Bill. Vale a pena assistir para conhecer esse famoso mito do oeste americano.

Sete Homens e Um Destino
Moradores de um pacato vilarejo mexicano pedem ajuda a um grupo de pistoleiros liderados por Chris (Yul Brynner) e Vin (Steve McQueen) para que os protejam do terrível bando de bandidos e assassinos do pistoleiro Calvera (Eli Wallach). Refilmagem americana do filme "Os Sete Samurais" de Akira Kurosawa. Uma das grandes idéias dos roteiristas foi transpor a estória para o velho oeste, pois essa é a verdadeira mitologia americana. Saem os samurais e entram os pistoleiros e cowboys do filme. Nada mais adequado. Mas não foi apenas por essa adaptação que a produção se tornou um clássico. Provavelmente esse seja o western com a mais lembrada e famosa música tema da história do cinema. Muito evocativa e tocada várias vezes ao longo do filme em diversas versões diferentes logo fica claro porque se tornou um marco no estilo. Elmer Bernstein era realmente um grande compositor como bem demonstrado aqui. Basta a música tocar para o espectador entrar imediatamente no clima do gênero western. Outro ponto muito forte de "The Magnificent Seven" é seu elenco acima da média, liderado pelos carismas de Yul Brynner e Steve McQueen, ambos estrelas em ascensão em Hollywood na época. Os sete pistoleiros contratados para defender a pequena vila são variações do velho mito do cavalheiro solitário e errante (como bem resume uma cena em que eles discutem sobre os prós e contras da vida que levam). O elenco de apoio é excepcionalmente bom, com destaque para Charles Bronson (ainda em sua fase de coadjuvante), Robert Vaughn (que iria virar astro da TV anos depois) e James Coburn (um dos atores que melhor personificou pistoleiros em filmes de faroeste). Produzido pela Mirisch cia, a produção não é muito rica (essa empresa era especializada em fitas B que depois eram distribuídas pelos grandes estúdios como Universal e MGM) mas esse pequeno detalhe não compromete o filme em nenhum momento. Já a direção do veterano John Sturges é eficiente (embora um corte na duração final seria bem-vinda). De qualquer forma não há como negar que para quem gosta de western esse é sem dúvida um filme obrigatório.

Onde Imperam as Balas!
Nas décadas de 40 e 50 a Universal era um verdadeiro celeiro de jovens estrelas. O estúdio fornecia treinamento, publicidade e acompanhamento para futuros astros. Em troca esses atores assinavam contratos leoninos onde quem realmente lucrava após seu sucesso era a própria Universal. Rock Hudson, Tony Curtis e Robert Wagner foram alguns que foram descobertos dessa forma. Rory Calhoun foi outro desses astros fabricados pelo estúdio americano. Geralmente estrelando faroestes B, Calhoun foi aos poucos subindo na carreira mas não conseguiu virar o astro de primeira grandeza que tantos esperavam. Isso porque bem no auge de sua ascensão uma revista escandalosa revelou ao público que Rory era um ex presidiário que havia cumprido pena antes de se tornar o famoso cowboy das matinês. Abalado jamais conseguiu virar um ator de primeira linha. Esse "Onde Imperam as Balas" é justamente isso, mais um western da Universal feito para promover mais uma de suas grandes descobertas. Se não é genial passa longe de ser um produto medíocre. O filme é simples mas tem todos os ingredientes que fazem a festa dos fãs desse gênero - inclusive com o esperado duelo final entre dois grandes pistoleiros. Vale a pena assistir, ainda mais para conhecer Calhoun, um dos mais conhecidos "ex futuros grandes astros" da Universal.

O Trem do Inferno
Terminei de assistir agora. O filme mistura vários estilos - é um western, com retoques de filmes de espionagem e suspense à la Agatha Christie. Apesar de atirar para tantos lados o roteiro só consegue ser mediano em todos os gêneros que passeia. Como western não consegue ser muito empolgante. Se não fosse a época enfocada teríamos poucos elementos para considerar ele um faroeste clássico. Como suspense ao estilo Agatha Christie o filme também só consegue ser superficial. Ao contrário das tramas escritas pela famosa escritora esse "O Trem do Inferno" não consegue se sustentar muito em cima do mistério que envolve os crimes cometidos dentro do trem. Por fim, como filme de espionagem também não temos nada de muito especial - principalmente quando Bronson revela sua verdadeira identidade (o que em momento algum chega a ser uma grande surpresa). Apesar de todas as suas limitações "O Trem do Inferno" não é um desperdício completo de tempo. O filme tem bonita fotografia, pois foi filmado numa das regiões mais bonitas das rochosas e além disso conta com ótimas cenas de ação (em especial a queda de vagões desgovernados e uma bem coreografada cena de luta em cima do trem em movimento). Esses momentos realmente fazem valer a pena assistir ao filme. Em suma, "O Trem do Inferno" é um filme mediano e se você não for exigir demais pode até mesmo ser encarado como bom passatempo.

Pequeno Grande Homem
"Pequeno Grande Homem" é um filme curioso. Misturando fatos reais com mera ficção a fórmula seria copiada anos depois em "Forrest Gump". E o que é real e o que é ficção nesse filme? O personagem principal "Little Big Man" é real. Ele foi um dos chefes Lakotas que participaram da batalha em que foram massacrados o General Custer e a sétima cavalaria. Embora "Little Big Man" realmente tenha existido ele não era um branco criado por cheyennes como mostrado no filme. Era um guerreiro do bando de "Cavalo Louco" e dizem ter sido o chefe que tirou o escalpo do famoso general americano após ele ter sido morto. Já a visão de Custer no filme é, apesar da sátira, bem mais fiel do que o mostrado em filmes como "O Intrépido General Custer" com Errol Flynn. Se nos antigos filmes Custer era mostrado como um oficial valente e honrado aqui ele é retratado como um assassino e genocida de crianças e velhos (algo que realmente ocorreu de fato). O filme também mostra Buffalo Bill e Wild Bill Hancock mas sem maior importância no enredo de uma forma em geral, muitas vezes servindo apenas como alívios cômicos (o que destoa um pouco e se reflete na parte mais sem inspiração do roteiro). Enfim, não é um filme historicamente correto mas que pode ser encarado como um divertido jogo onde realidade e ficção se misturam.

Pat Garrett & Billy The Kid
Curiosamente há poucos dias assisti "Os Jovens Pistoleiros", western dos anos 80 que contava justamente a primeira parte dessa história (e que depois faria parte do roteiro de "Jovens Demais Para Morrer", sua continuação). Em "Pat Garrett & Billy The Kid" não há todo o contexto que contribuiu para o surgimento do mito Billy The Kid. Apenas pequenas citações são feitas em relação à guerra do condado de Lincoln (conflito que deu origem a tudo no inóspito Novo México). Quando o filme começa Billy já é um pistoleiro famoso e procurado pelo xerife Garrett. Ficamos sabendo que ambos tem uma história anterior, que são inclusive amigos mas em nenhum momento o roteiro procura explicar tudo o que aconteceu. De certa forma isso não é em si um problema, mas uma opção do diretor. Claro que para pessoas que não conhecem a história pode soar um pouco confuso mas como não é o meu caso não senti maiores problemas sobre isso. Historicamente o filme procura ser bem correto. Tirando o personagem de Bob Dylan, que é totalmente fictício, todos os demais personagens são reais e fazem parte da mitologia. Em termos de elenco gostei de praticamente todos mas principalmente de James Coburn como o xerife Garrett. Velho conhecido dos filmes de western Coburn está muito adequado ao papel. Eu nunca considerei Kris Kristofferson como ator e por isso não vou condenar sua interpretação, digamos, contida. Ele não brilha mas se torna eficiente apesar de suas limitações. No mais o filme tem uma trilha sonora ótima e uma direção com todas as características que fizeram a fama de Sam Peckinpah; Vale muito a pena assistir a mais essa versão da história do mito Billy The Kid.

Os Jovens Pistoleiros
Terminei de rever. Ontem eu assisti um documentário do National Geographic sobre o verdadeiro Billy The Kid e isso acabou despertando minha curiosidade para assistir novamente esse filme. O mito desse pistoleiro é encoberto por uma série de meias verdades, lendas e mentiras. A lenda do oeste é de certa forma bem diferente dos fatos reais. Isso aconteceu no passado e volta a acontecer nesse filme. Apesar de bem produzido o roteiro toma muitas liberdades sobre o que de fato aconteceu. O começo, é bom salientar, segue muito bem os fatos que antecederam à chamada Guerra do condado de Lincoln. Nesse aspecto o filme começa bem, até a morte do mentor de Billy, John Tunstall. Isso porque ele foi morto quando ia à cidade sozinho. No filme ele está acompanhado por seu grupo que apenas se distancia um pouco dele e por isso ele é emboscado. A partir desse ponto do filme as coisas começam a se distanciar dos fatos reais. É certo que Billy The Kid, por exemplo, participou da morte do xerife Brandy mas nada é comprovado sobre isso. Já o filme coloca Billy como o assassino do corrupto policial. Outro exemplo: Billy The Kid não matou Murphy, como mostrado no filme. Na realidade após a explosão da guerra no condado não houve mais um encontro entre eles. Esses e outros exemplos servem para demonstrar como Hollywood realmente alterou várias passagens apenas para tornar o roteiro mais redondo. Assim mais uma vez o Billy real sai de cena para que apenas o mito prevaleça. Apesar disso é bom entender que o filme, apesar dos erros históricos, é acima de tudo um veículo competente, com muita ação e boas tomadas de locação no deserto. Se falha como história certamente alcança seus objetivos como diversão e entretenimento.

Texas Rangers
Esse filme "Texas Rangers" lembra muito a fórmula de outro western moderninho, "Jovens Demais Para Morrer". A fórmula é basicamente a mesma, junte um grupo de jovens atores e faça um filme com as regras clássicas do gênero faroeste. Interessante é que assim como em Young Guns aqui a receita se mostra interessante, nada muito brilhante mas que pode facilmente se transformar em um bom passatempo para quem gosta do estilo. Aqui nós temos o ator James Van Der Beek liderando o elenco. Para muita gente seu nome hoje em dia nada significa, mas para quem acompanhou a série Dawnson´s Creek lembra muito bem. Infelizmente sua carreira não deslanchou após o fim do seriado e nunca mais ouvi falar nele! Mas o elenco de Texas Rangers não se resume apenas a ele. Tem vários atores bacanas por lá também, como por exemplo, Robert Patrick (Exterminador 2, Arquivo X), Tom Skerritt, veterano ator que infelizmente não tem muito o que fazer mas que marca presença dignamente, Alfred Molina como o vilão - anos antes de repetir a dose em "Homem Aranha 2" e finalmente Ashton Kutcher fazendo mais uma caracterização de bobão (papel que ele repete em todo e qualquer filme aliás, até mesmo em westerns como esse). Enfim, "Texas Rangers" pode ser uma boa opção para os que gostam do gênero western. Não é um filme brilhante, mas diverte acima de tudo.

Jonah Hex
Por definição eu gosto de Westerns. Esse porém é um western diferente que foi baseado em um personagem em quadrinhos. No cinema o Jonah Hex poderia render bem mais mas devo confessar que ficou no meio do caminho. O filme é muito curto, quase um média metragem, com pouco mais de 70 minutos. O roteiro é simplório e não se desenvolve (basicamente todo o argumento pode ser resumido na seguinte frase: "Homem mau mata família de homem honrado e essa vai atrás de vingança"). O filme é só isso. Tem uma subtrama envolvendo uma arma de destruição em massa que será usada pelo vilão para destruir Washington mas nem isso consegue prender a atenção do espectador. O ator que interpreta Jonah Hex não tem carisma e chega às raias da antipatia. Malkovich, um bom ator, está mais canastrão do que nunca desfilando um festival de caretas grotescas. Isso sem falar no seu visual, usando uma peruca simplesmente ridícula. Já Megan Fox é um desastre completo. A garota simplesmente não sabe atuar, não sabe expressar nenhum tipo de sentimento em cena, em algumas ocasiões notei que ela nem sabe falar direito! A única coisa que sabe fazer é um biquinho atrás do outro posando de gostosa. Merece o Framboesa de Ouro certamente. Jonah Hex não é um personagem ruim pelo que vi. Há cenas interessantes quando ele fala com os mortos (esse é um de seus poderes como todo bom personagem de HQ) mas até isso é desperdiçado. No geral é a tal coisa, o Hex pode até ser interessante mas o filme não.

Dança com Lobos
Veja só como são as coisas. Inicialmente meu plano era assistir esse filme em três partes por causa de sua longa duração. Acontece que fiquei tão envolvido que não larguei mais e terminei assistindo o filme todo de uma só vez hoje à noite. Dança com Lobos é maravilhoso, grande obra da sétima arte. Mereceu todos os prêmios e todas as badalações em torno dele. Curiosamente resolvi rever só por causa da nossa comunidade mas devo dizer que foi muito bom, recompensador até. Ainda mais agora que estou no meio da trilogia da cavalaria do grande diretor John Ford. Enquanto que nos filmes de Ford o exército americano é visto sob um prisma heroico e pioneiro, aqui temos o outro lado da moeda, mostrando sujeitos completamente grotescos, brutos e estúpidos ostentando a farda azul da cavalaria americana. Na verdade são dois extremos, a visão de Costner e a visão de Ford. Nenhum dos dois deve estar absolutamente certo, até mesmo do ponto de vista histórico. A conquista do Oeste e o massacre dos povos indígenas foi uma página negra na história dos EUA e não há como simplesmente escolher entre ambos os lados. Foi um choque de civilizações como aliás tem sido corriqueiro na história da humanidade. Deixando isso de lado a grande mensagem do filme, pelo menos na minha visão, é que não importa a cultura que você faça parte, no fundo todos os seres humanos desejam apenas a felicidade própria e de sua família, seja onde estiver e seja com quem conviver. O tenente do filme encontrou sua felicidade no meio dos índios, pois lá criou raízes e formou uma família.

Tombstone
A história do OK Curral segue dando manga para muitos filmes, desde "Sem Lei e Sem Alma" com Kirk Douglas (como Doc) e Burt Lancaster (como Earp) até o mais recente "Wyatt Earp" dirigido pelo Kevin Costner. Essa versão "Tombstone" sempre foi considerada a mais "pop" de todas pois o roteiro é ágil, movimentado e não perde tempo com tantos detalhes como outros filmes. Aqui também existem algumas diferenças que achei significativas. Por exemplo, nessa versão Wyatt Earp é mais contido e precavido. Ele procura acima de tudo não se meter em confusão. Está sempre receoso de entrar em algum conflito com os bandidos locais. Só quando a coisa fica insuportavel é que ele parte para o tudo ou nada ao lado de seus irmãos e Doc Holliday. Achei Val Kilmer muito bem como Doc, muito embora a melhor interpretação do pistoleiro seja mesmo a de Dennis Quaid no filme de Costner. Kurt Russel está apenas ok para falar a verdade. Seu bigode postiço não convence mas como o filme em si é bom e movimentado não paramos muito para pensar sobre isso. Para falar a verdade o que sempre me chamou atenção nos filmes dos Earps é a figura de Doc Holiday mesmo. Doutor, beberrão, pistoleiro e vivendo eternamente no fio da navalha. Esse cara se não tivesse existido de verdade teria que ser inventado por algum roteirista talentoso, porque ele sempre rouba os filmes do xerifão. E pensar que ainda hoje o acusam de ser um ladrão e assaltante barato... Depois de ver tantos filmes cheguei na conclusão que ele era realmente um ladrão... um ladrão do filme alheio.

Pilastras do Céu
Esse filme me surpreendeu positivamente. Nunca o tinha assistido e só o fiz por curiosidade, pois andei lendo sobre a vida do ator Jeff Chandler (que morreu em 1961 e hoje anda meio esquecido). Bom, adoro filmes de cavalaria, sou fã assumido desse tipo de western. Esse é bem curioso porque embora tenhamos todos os elementos que sempre caracterizaram esse tipo de filme: tiroteios, batalhas e índios x cavalaria, o subtexto que o roteiro traz não é nada clichê ou banal. Seu final é uma grande surpresa e mostra bem a mentalidade religiosa que ainda hoje prevalece na sociedade americana. Não vou contar mais para não estragar, quem tiver curiosidade de assistir um filme que consegue misturar tantas coisas em tão pouco tempo aproveite para conferir, garanto que no mínimo ficará surpreso pelo final incomum.

Bravura Indômita (2010)
Não existe nada mais perigoso no mundo do cinema do que refilmar antigos clássicos absolutos do passado. Quando o remake de "Bravura Indômita", western clássico com John Wayne, foi anunciado eu temi pelo pior. Não havia esquecido ainda de vários remakes desastrosos que foram feitos como Psicose, por exemplo. Se é um marco da história do cinema qual é a finalidade de refazer tal filme? Além da falta de originalidade os remakes sofrem de outro problema, sempre caindo em uma verdadeira armadilha: ou seguem literalmente o filme original e aí se tornam inúteis ou então tentam inovar correndo o risco de despertar a fúria dos fãs da obra original. As duas opções convenhamos não são nada boas. Eu fiz questão de rever o original poucos dias antes de assistir a esse remake justamente para ter uma base melhor de comparação com o filme dos irmãos Coen. A minha impressão é a de que essa nova versão preferiu seguir o caminho da refilmagem mais fiel ao original, sem inovações impertinentes ou banais. Embora seguindo lado a lado com o filme de Wayne o remake tem pequenas e pontuais novidades. Não resta dúvida, por exemplo, que essa nova versão tem um roteiro bem mais explicativo do que o filme de 1969, mostrando mais aspectos do livro que deu origem aos dois filmes. A reconstituição histórica também segue mais condizente com a época em que se passa a estória. Esses são certamente pontos positivos aqui. Já no aspecto originalidade o filme deixa bastante a desejar. É fácil perceber que não há nada de muito autoral dos Coen na produção, o que me deixou muito surpreso já que eles sempre fizeram questão de colocarem suas assinaturas em cada filme que fizeram. Isso não acontece com "Bravura Indômita". É um filme, como disse antes, muito bem feito, com tudo nos eixos mas curiosamente sem surpresas, chegando a ser convencional, isso claro se compararmos com o primeiro filme. Burocrático? Sim. Respeitoso em excesso com o filme original? Certamente. Do elenco o grande destaque fica com Jeff Bridges. É fato que Rooster Cogburn é um personagem à prova de falhas, pois foi ótimo para John Wayne e novamente caiu muito bem na caracterização de Bridges. O que mais me chamou a atenção é que a interpretação no novo remake é quase uma homenagem velada ao desempenho anterior de Wayne. Até a entonação vocal é extremamente semelhante. Bridges em certos momentos é quase uma paródia de Wayne, tudo muito igual e parecido. Aliás esse talvez seja o grande problema da obra dos Coen: a grande semelhança com o original. Eu li algumas entrevistas deles afirmando que nunca assistiram ao filme com Wayne. Depois de ver essa nova versão posso afirmar com certeza absoluta que estão mentindo descaradamente. Tudo remete ao primeiro "Bravura Indômita". Só não entendi porque afinal resolveram refilmar um filme tão igual ao primeiro? Mero capricho? Depois de conferir o filme estou propenso a pensar que sim. No final das contas "True Grit" versão 2010 não conseguiu escapar da armadilha que ronda todo e qualquer tipo de filme que segue essa proposta, se tornando uma obra meramente desnecessária no saldo final.

Sangue em Sonora
Filmado em locações no Estado americano de Utah em 1966 o filme Sangue em Sonora trazia um Marlon Brando estrelando um western de estrutura tradicional, o que de certa forma era um surpresa já que o ator era conhecido não só por seu talento mas também por sempre procurar trabalhar em projetos mais ousados e polêmicos. O que teria acontecido então para Brando embarcar em um projeto tão, digamos assim, comum? Conforme explicou em sua própria autobiografia "Canções que minha mãe me ensinou" o que o levou a filmes como esse foi a simples necessidade de ganhar muito dinheiro para bancar os problemas financeiros que enfrentou. Nos anos 60 Brando teve que enfrentar uma incrível série de contratempos. Suas ex-esposas o processaram, a guarda de seus filhos exigia que o ator desembolsasse somas cada vez maiores para pagar os advogados e sua querida ilha Tetiroa só lhe trazia prejuízos. Mal conseguia construir seu hotel um furacão vinha e destruía com tudo (o ator pretendia transformar o local em ponto turístico ambiental mas jamais concretizou seus planos por causa da irascível natureza da região). Assim, atolado em dívidas, Marlon Brando se dispôs a se deslocar para uma locação de difícil acesso para as tomadas de cena. Em seu livro Brando recorda que ficou surpreso ao chegar lá e saber que tinha sido o mesmo local onde Wayne havia filmado um conhecido western na era de ouro do cinema. O problema era que o local ficava muito próximo de uma base americana de testes nucleares. Para Brando muito provavelmente foi nesse local que John Wayne teria sido contaminado por depósitos de lixo nuclear (urânio), o que teria sido decisivo para o desenvolvimento do câncer que vitimaria Wayne anos depois. Brando afirmaria depois: "Não deixava de ser uma ironia o fato do grande defensor da indústria armamentista nuclear norte-americana ter sido morto justamente por ter sido contaminado por seu lixo deixado no local". Não era novidade para ninguém que ambos os atores se detestavam na vida pessoal, pois Brando era um típico liberal enquanto John Wayne era um defensor reacionário dos ideais do partido Republicano. Deixando de lado todos esses problemas de egos tão comuns nos grandes atores de cinema, vamos ao filme em si. Como afirmei antes o filme tem uma estrutura comum e simples. O diretor Sidney J Furie não quis arriscar muito, até porque na época não passava de um novato com poucos filmes significantes no currículo. Trabalhar com Brando também não era nada fácil, pois o ator tinha um histórico de problemas com diretores nos sets de filmagens. A sorte de Furie foi que na ocasião Brando estava envolvido em tantos problemas que simplesmente não quis infernizar ainda mais sua vida com confusões de bastidores. Assim as filmagens transcorreram sem grandes incidentes, tudo resultando em um filme que é um bom western, embora muito longe do que se esperaria de um gênio da atuação como Brando. Na realidade só existem dois bons momentos para Brando em toda a (curta) duração do filme. A cena inicial do filme, por exemplo, com Brando na Igreja, gera bons momentos ao roteiro, porém a melhor parte acontece depois quando Brando enfrenta o vilão Chuy Medina (interpretado por um irreconhecível John Saxon) na taberna. A queda de braço com escorpiões realmente foi uma excelente ideia, que casou muito bem com a proposta do filme que no fundo não passa de um Western de rotina com altas doses de Tequila. Sangue em Sonora não é nem de longe o mais brilhante momento do mito Brando nas telas da década de 60 mas mantém o interesse e diverte, o que no final é o que realmente importa.

A Volta do Pistoleiro
Pistoleiro (Robert Taylor) sai da prisão de Yuma e recebe carta de um amigo que precisa de sua ajuda pois está sendo ameaçado por bandidos locais que querem expulsá-lo de seu rancho na fronteira com o México. Robert Taylor foi um dos galãs mais populares de Hollywood nas décadas de 40 e 50, estrelando várias produções de luxo dos principais estúdios. Passeou em vários gêneros desde filmes épicos (Quo Vadis), de capa e espada (Os Cavaleiros da Távola Redonda, Ivanhoé) até produções de guerra (O Dia D). O problema é que Taylor era aquele tipo de ator que se baseava apenas em sua aparência física, algo que é inerente a todos os galãs aliás. Quando a idade chega eles obviamente são trocados por atores mais jovens e caem no ostracismo. Acontece com todos e aconteceu com Robert Taylor também. No final dos anos 50 ele já demonstrava sinais de declínio na carreira. Tentou sobreviver indo para a TV e até conseguiu uma sobrevida com séries como The Detectives mas a partir de 1962 os trabalhos foram ficando cada vez mais escassos. Quando realizou "A Volta do Pistoleiro" Robert Taylor já estava praticando aposentado das telas. Para falar a verdade esse foi seu último filme americano nos cinemas (decadente chegou a filmar na Itália e após um breve retorno à TV morreria dois anos depois em 1969). Aqui temos uma produção B da MGM. Não é um grande western, não tem uma grande produção e o roteiro para falar a verdade é mais do mesmo (a velha estória do pistoleiro rápido do gatilho que parte em busca de vingança). Taylor está visivelmente envelhecido e sem pique, aparentando inclusive problemas de obesidade (sua barriga saliente é constrangedora). De qualquer forma tenta trazer alguma dignidade ao papel usando de seus velhos maneirismos (como o levantar das sobrancelhas e o cerramento dos olhos nos momentos de tensão). No saldo final "Return of the Gunfighter" serve apenas como uma despedida desse galã hollywoodiano dos velhos tempos. Claro que ainda é melhor vê-lo no auge, como em "Quo Vadis" mas essa produção não deixa de ser curiosa também para conferir um dos últimos trabalhos dele nas telas.

Vera Cruz
O filme já começa à toda mostrando o encontro da dupla central, Cooper e Lancaster, numa cena com diálogos totalmente cínicos e dúbios. De certa forma isso se repetirá em todo o restante da fita. Curioso porque até mesmo o personagem de Gary Cooper parece não ter muitos escrúpulos. Coronel do exército confederado ele agora vaga pelo deserto mexicano para vender sua mão de obra ao grupo que lhe pagar melhor, ou seja, é um mercenário. Já o personagem de Burt Lancaster é bem pior, ladrão de cavalos, mentiroso e trapaceiro, desde o começo do filme já sabemos que não há nada o que esperar dele em termos éticos. Algo que se confirma no final quando teremos o tradicional duelo no meio das ruínas de uma cidade mexicana! "Vera Cruz" foi um dos primeiros westerns em que a ação foi colocada em primeiro plano, superando até mesmo os cânones dos faroestes mais tradicionais. Muitos especialistas inclusive qualificam "Vera Cruz" como uma espécie de predecessor do que seria feito no chamado Western Spaguetti. Não chegaria a tanto mas não há como negar que os faroestes italianos iriam utilizar de vários elementos que estão presentes aqui. Um dos elementos é justamente a simplificação dos roteiros em detrimento da ação incessante. A trama da produção na realidade se desenvolve praticamente toda em torno de uma diligência com carregamento de ouro que tenta chegar até o porto de Vera Cruz. No meio do caminho Cooper e Lancaster, que estão protegendo o carregamento ao lado de um pelotão do exército mexicano, vão enfrentando todo tipo de desafios, conflitos e traições (sim, todos querem no final ficar com a fortuna e para isso não medem esforços em trair qualquer um). A produção é muito boa - bem acima da média dos faroestes da época. O figurino dos mexicanos na fita pode até ser considerada exagerado, mas é fiel no final das contas uma vez que eles realmente se vestiam daquela maneira. Em conclusão Vera Cruz é um bom western, talvez um pouco prejudicado pelo excesso de personagens e pirotecnia. Vale pelo carisma de Lancaster e pela presença sempre muito digna do grande mito Gary Cooper.

Audazes e Malditos
Braxton Rutledge (Woody Strode) é um sargento negro do exército americano que é acusado de matar um oficial superior. Como se isso não bastasse ainda é apontado também como o assassino e estuprador de uma jovem garota. Para defendê-lo é indicado como advogado de defesa o tenente Tom Cantrell (Jeffrey Hunter). Instaurada a corte marcial todos tentarão desvendar o que realmente teria acontecido. "Audazes e Malditos" é mais um belo western do consagrado diretor John Ford. Geralmente filmes de cavalaria americana sempre dão bons filmes e com Ford na direção não poderia sair outro resultado. Porém o filme se diferencia dos demais que John Ford fez sobre o exército americano. Muita coisa que vemos em sua famosa trilogia da cavalaria não se repete aqui. Em "Audazes e Malditos" temos um autêntico filme de tribunal, só que obviamente passado no velho oeste. Embora haja conflitos entre soldados e Apaches (mostrados em flashbacks) a ação propriamente dita não se desenrola no meio do deserto mas sim em depoimentos, testemunhos e evidências que são apresentadas durante a corte marcial do sargento. Para um filme assim Ford teve que convocar um bom elenco de atores. Jeffrey Hunter está muito bem no papel do tenente que tenta de todas as formas inocentar o acusado. Para falar a verdade não me recordo de nenhuma outra atuação dele tão boa quanto essa. Era sem dúvidas um bom ator que ficou imortalizado não apenas no papel de Jesus Cristo em "Rei dos Reis" como também por ter sido o primeiro piloto da nave Enterprise no episódio de estreia da série "Jornada nas Estrelas" que na época foi considerada "cerebral" demais para os padrões da TV americana. Uma pena que tenha morrido tão jovem. Outro destaque é a presença de Woody Strode como o sargento negro acusado de assassinato e estupro. Sua postura é das melhores e ele mostra que era excelente ator em pequenos detalhes, no olhar, na convicção e na dignidade. Por todas essas razões recomendo "Audazes e Malditos" não apenas aos fãs de John Ford, esse genial cineasta, mas também a todos que gostam de edificantes tramas jurídicos. Certamente não irão se arrepender.

Na Encruzilhada dos Facínoras
Cam Bleeker (Fess Parker) é enviado pelo governador do Kansas para se infiltrar em uma quadrilha liderada por Luke Darcy (Jeff Chandler), um carismático líder rebelde que às vésperas da guerra civil americana prega a independência do Kansas da União Federal. Esse Western da Paramount estrelado por Jeff Chandler, o galã de cabelos grisalhos, é muito bem escrito principalmente na parte que toca ao personagem Luke Darcy, com vários diálogos inteligentes e bem construídos. Acontece que ele não é apenas mais um vilão unidimensional que vemos em tantos filmes de bang bang mas sim um homem de ideias que prega a separação de seu Estado de forma definitiva dos EUA, se tornando assim um país com sua própria soberania, a República independente do Kansas. Utopia? Certamente, mas não podemos nos esquecer que era justamente isso que os confederados queriam na guerra civil norte-americana. Curiosamente, e isso é mostrado no filme, o Kansas ficou em cima do muro no conflito, nem aderindo aos exércitos da União e nem se unindo ao Sul confederado. Irritados por essa neutralidade muitos grupos resolveram pegar por conta própria em armas para incendiar as populações de pequenas cidades - e é justamente isso que vemos o personagem de Jeff Chandler fazer durante todo o filme. Por falar em Jeff Chandler ele está muito bem no filme. Ator competente, tinha ótima dicção e era ideal para interpretar tipos mais eruditos como o que vemos aqui. Revelado pela Universal ao lado de outros famosos atores da época como Rock Hudson e Tony Curtis, Chandler conseguiu se estabilizar em Hollywood com uma série de boas atuações em bons filmes, mesmo quando se tornou livre do contrato da Universal. Esse "Na Encruzilhada dos Facínoras" foi realizado justamente quando Chandler se tornou ator free lancer. Já seu parceiro em cena, Fess Parker, é apenas correto. Fisicamente parecido com Gregory Peck, Fess se torna ofuscado por Chandler não conseguindo se impor como "mocinho" da estória. Por fim não poderia deixar de falar da atriz francesa Nicole Maurey. Muito bonita, sofisticada e elegante, ela logo se torna um verdadeiro colírio para a plateia mascuilna, o que não é nada mal. Em suma, "The Jayhawkers!" é um bom retrato dos bastidores do maior conflito armado que já ocorreu em solo americano. Vale a pena conferir.

O Homem dos Olhos Frios
Caçador de recompensas (Henry Fonda) chega em uma pequena cidade do oeste com o corpo de um bandido. Ele vem em busca do prêmio prometido pela captura do foragido morto. Assim conhece o Xerife local (Anthony Perkins) um jovem e inexperiente homem da lei que em pouco tempo se verá numa situação de vida ou morte. Lida assim a sinopse pode-se pensar que o filme é mais um faroeste de rotina entre tantos que foram produzidos durante os anos 50. Mero engano. "The Tin Star" (que recebeu um título nada adequado no Brasil de "O Homem dos Olhos Frios") é um excelente estudo psicológico daqueles homens que tinham a audácia e a coragem de impor a lei em lugares distantes e violentos do oeste americano no século 18. Eram mal remunerados, geralmente encontravam a morte cedo e mesmo assim procuravam exercer sua função da melhor forma possível. Aqui temos um jovem sem a malícia e a experiência necessárias para fazer valer a lei em uma cidade lotada de mal feitores. Curiosamente acaba encontrando seu mentor em um velho caçador de recompensas (Henry Fonda, ótimo) que só está ali atrás de seu dinheiro e nada mais. Os acontecimentos porém o farão mudar de ideia. Na realidade ele próprio era um xerife que largou a estrela de lata após perceber que ganharia muito mais caçando bandidos perigosos pelo deserto. Assim temos de um lado um jovem ainda idealista que tem que se confrontar com um experiente e calejado ex homem da lei que sabe exatamente o que ostentar aquela estrela significava no velho oeste. O "duelo" de personalidades deles é a base de todo o argumento do filme. O elenco é excelente. Henry Fonda não precisava de muita coisa para se impor em qualquer filme que trabalhasse. Ícone do western o ator se saí extremamente bem no papel do ex-xerife e atual caçador de recompensas Morg Hickman. Agora verdade seja dita: embora Fonda brilhe mais uma vez o destaque vai mesmo para Anthony Perkins. Ele mesmo, o ator que ficaria marcado para sempre como o psicopata Norman Bates de "Psicose" aqui interpreta um papel totalmente diferente, demonstrando que era realmente um bom ator e não apenas um intérprete de um personagem só (como muitos pensam). O xerife que interpreta é um sujeito sem moral, meio abobalhado, receoso e inseguro que tem que lidar com uma situação limite ao qual não tem o menor controle. "The Tin Star" ("A Estrela de Lata" no original) é isso, uma crônica muito bem estruturada sobre o modo de pensar e agir dos homens da lei em uma terra que passou para a história justamente por não ter lei, a não ser a lei do mais forte. Excelente western, procurem assistir.

Sangue de Heróis
Baseado no livro de James Warner Bellah, "Fort Apache - Sangue de Heróis" é um ótimo faroeste. Produzido e dirigido por John Ford, ele é o primeiro de uma trilogia realizada pelo cineasta sobre a cavalaria do exército americano, pós-guerra civil. Os dois outros, igualmente ótimos, são "Legião Invencível", de 1949, e "Rio Grande", de 1950. O filme gira em torno de um arrogante coronel da cavalaria americana, disposto a tudo para ter o reconhecimento do governo dos EUA por seus relevantes serviços prestados à nação. Para tanto, despreza os conselhos de seus auxiliares mais próximos, conhecedores dos problemas vividos pelos apaches, no longínquo território do Arizona e se envolve numa guerra desnecessária e suicida contra os indígenas, que só queriam ser tratados com um pouco de respeito e justiça. E o que chama a atenção é que, após sua morte, ele consegue ser oficialmente reconhecido como herói, muito embora tenha injustificadamente sacrificado a vida de centenas de homens sob seu comando. Além do belo trabalho realizado por Ford, o filme conta com um roteiro muito bem estruturado e com a magnífica fotografia de Archie Stout. Henry Fonda está soberbo no papel do coronel Thursday, seguido de John Wayne, como o oficial que se rebela contra suas ordens. Adicionalmente "Fort Apache - Sangue de Heróis" conta ainda com um elenco coadjuvante de primeira linha, com nomes como Ward Bond, Victor McLaglen, George O'Brien e Pedro Armendáriz, entre outros. Shirley Temple, a garota prodígio da década de 30, faz um bom trabalho como adulta, na época com 20 anos de idade. O roteiro (e obviamente o livro que lhe deu origem) são em essência uma romantização em cima da história real do General Custer. Após ser morto pelas tribos comandadas por Cavalo Louco e Touro Sentado, Custer virou um herói nacional nos EUA. Na realidade ele era um carreirista que não media esforços para subir na carreira, não importando as consequências de seus atos. O Coronel Thursday do filme nada mais é do que uma alegoria da personalidade verdadeira do Custer histórico. Por tudo isso e muito mais o filme hoje é simplesmente essencial para os fãs do grande cinema da era de ouro de Hollywood. Sem dúvida uma obra magnífica. (Leia mais sobre filmes de John Wayne em seu tópico próprio de nosso blog)

Pablo Aluísio.