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terça-feira, 23 de abril de 2019

As Cartas de Grace Kelly - Parte 6

Em 1951 Grace Kelly aceitou o convite para ir até Hollywood filmar um novo faroeste que iria se chamar "Matar ou Morrer". Ela teve um certo desejo de não aceitar o convite porque afinal de contas estava se dando muito bem em Nova Iorque, trabalhando como modelo e como atriz em peças na Broadway e em teleteatros filmados que eram exibidos nos canais de TV. Tudo corria maravilhosamente perfeito, mas seu agente lhe disse que um convite como aquele não poderia ser recusado. Outro ponto que a fez recuar um pouco foi o fato de que o filme seria um faroeste ao velho estilo, estrelado pelo astro do gênero Gary Cooper. Ela não tinha pretensões de fazer filmes desse estilo. Porém, mesmo com certa hesitação, ela terminou assinando o contrato para fazer o filme.

Assim, até meio a contragosto, ela finalmente arranjou três semanas livres e voou até Los Angeles. Acabou encontrando um set de filmagens com um diretor muito estressado pois o cineasta Fred Zinnemann era detalhista ao extremo, No elenco ela encontro um amigo, o ator Gary Cooper, que aos 51 anos era um veterano das telas, com décadas de carreira em Hollywood. Enquanto isso Grace era apenas uma novata esforçada, aos 21 anos de idade. Apesar da diferença de gerações (afinal ele tinha idade para ser o pai dela), as coisas fluíram muito bem entre eles. O que começou com uma amizade sincera entre dois colegas de trabalho acabou se tornando algo mais.

Grace Kelly levou o romance das telas para a vida real. Ela teve um romance com o cinquentão Cooper, que dono de uma personalidade bem tímida e retraída, nunca ficou muito confortável com aquela situação. Na verdade o ator ficou em dúvida se aquela jovem queria tirar algum proveito dele ou se realmente tinha um verdadeiro sentimento no relacionamento que começou bem no meio das filmagens. De uma forma ou outra o próprio Cooper resolveu acabar com o breve romance. Ele disse a Grace Kelly, já perto do fim das filmagens, que já tinha vivido muito para saber que algo como aquilo não tinha muito futuro. Assim de forma educada e gentil resolveu encerrar o romance. Ele gostava de cultivar a imagem de homem honrado dentro da comunidade em Hollywood. Um caso com uma atriz tão jovem não iria pegar bem.

Nos anos que viriam Grace Kelly iria se relacionar com muitos atores com quem trabalharia. Ela parecia ter um tipo de fetiche em namorar os grandes astros de Hollywood, por isso acabou ficando conhecida por ser muito namoradeira na época. Só um grande astro resistiu ao seu charme. Apesar de todos os esforços Grace Kelly não conseguiu conquistar o homem que ela considerava perfeito: Rock Hudson. Grace ficou apaixonadíssima por ele, pois era alto, bonito e tinha um ótimo carisma, se revelando simpático e muito acessível. O que Grace não sabia (poucos sabiam disso em Hollywood) era que Hudson era gay e escondia isso do estúdio e do público em geral. Afinal segredos eram para ser bem guardados.

Pablo Aluísio.

As Cartas de Grace Kelly - Parte 5

Em 1951 Grace Kelly finalmente estreou em Hollywood no filme "Horas Intermináveis" de Henry Hathaway. Era um filme da estética noir, com trama forte e pesada, mostrando um homem em desespero, prestes a cometer suicídio. O elenco era estrelado pelo ator Paul Douglas, cujo sucesso foi efêmero. Hoje em dia poucos se lembram dele, ao contrário de Grace Kelly que estava destinada a ser uma grande estrela. Outro nome interessante no elenco era o de Jeffrey Hunter, que assim como Grace, também estava em um papel coadjuvante.

A personagem de Grace se chamava senhorita Louise Ann Fuller e não tinha maior importância no filme. Isso porém era algo não tão importante, pois o que valia a pena mesmo era tentar se tornar mais conhecida em Hollywood. Em Nova Iorque Grace já tinha uma boa base de contatos no mundo fashion, da moda, e nos episódios de algumas séries de TV. Em Hollywood porém ela ainda tinha que se fazer conhecida.

Apesar de seu primeiro filme ser um noir sem muito orçamento (típico desses filmes da época), a produção ao menos conseguiu chamar atenção suficiente para arrancar uma indicação ao Oscar na categoria de melhor direção de arte. Um crítico de Los Angeles inclusive chegou a elogiar Grace Kelly por causa de sua beleza e boa presença de cena, algo que repercutiu entre os produtores da indústria. O produtor e diretor Stanley Kramer estava escalando o elenco de um novo western que seria estrelado pelo astro Gary Cooper. A direção já havia sido acertada com o mestre Fred Zinnemann. O papel da esposa do xerife Kane estava em aberto. Várias atrizes tinham sido testadas para interpretar Amy Fowler Kane, mas sem sucesso.

Foi então que Kramer pensou em Grace Kelly. Ele havia assistido "Horas Intermináveis" e gostado muito de Kelly no filme. O problema é que ao tentar entrar em contato com seu agente, o produtor descobriu que Grace havia viajado de volta naquela manhã para Nova Iorque. Kelly tinha compromissos na cidade, para atuar em uma série de programas de TV e ensaios para revistas de moda. A sorte da atriz é que a pré-produção de "Matar ou Morrer" (um dos maiores clássicos do western de todos os tempos) também atrasou, fazendo com que ela tivesse tempo de cumprir todos os seus compromissos para só assim voltar para Los Angeles. Esse seria o primeiro grande filme de sua carreira e aquele que mudaria os rumos de sua trajetória de atriz para sempre!

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 22 de abril de 2019

As Cartas de Grace Kelly - Parte 4

Grace Kelly continuou trabalhando como modelo e atriz. Sua primeira peça em Nova Iorque foi muito bem, o que a animou a procurar por outros trabalhos. Uma de suas promessas à família era tentar vencer apenas com seus esforços pessoais, com seu trabalho, sem a necessidade de pedir apoio a sua família aristocrática. E ela estava se saindo muito bem. Grace também não se descuidou dos estudos, ela continuou a levar muito à sério suas aulas de arte dramática.

Em 1950 surgiu um convite novo. Grace foi convidada para aparecer em um episódio da série de TV "Believe It or Not". Era uma experiência nova como atriz, já que até aquele momento ela só havia atuado no teatro, no palco. Será que se daria bem em frente às câmeras? Grace topou o desafio e apareceu no episódio intitulado "The Voice of Obsession".

Tão boa foi a experiência que logo depois surgiu outro convite, também para a TV, para atuar no programa "Actor's Studio". A ideia era muito boa: os jovens atores da famosa escola de arte dramática Actor's Studio em Nova Iorque iriam atuar numa série de adaptações para a TV de peças clássicas do teatro americano e inglês. A TV ainda era uma grande novidade na época e estava se tornando cada vez mais popular. Também abria um novo mercado de trabalho para os profissionais da arte de atuar. Nunca havia sido tão excitante ser ator ou atriz como naquela época de descobertas e novas oportunidades.

Grace Kelly foi então contratada para aparecer em três adaptações: "The Swan", "The Token" e "The Apple Tree". No primeiro acabou interpretando uma princesa russa chamada Alexandra, numa prévia do que iria acontecer em sua vida no futuro, onde ela própria iria se tornar uma princesa da vida real. A exibição desses programas era de costa a costa e seu talento e beleza chamaram a atenção dos estúdios de cinema em Hollywood. O cineasta Henry Hathaway telefonou imediatamente para os executivos da Twentieth Century Fox em Nova Iorque para que contratassem Grace! Ela era linda, talentosa e a pessoa certa para atuar em seu próximo filme "Fourteen Hours". A carreira de Grace Kelly no cinema estava prestes a começar...

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de abril de 2019

As Cartas de Grace Kelly - Parte 2

As Cartas de Grace Kelly
Grace Kelly nasceu em uma família tradicional da Pennsylvania. Seus antepassados eram alemães que foram para os Estados Unidos em busca de oportunidades e se deram muito bem, se tornando profissionais bem sucedidos. A mãe de Grace era uma mulher muito elegante, fina e sofisticada que falava várias línguas. Ela era disciplinada, estudiosa, desportista e se formou em uma prestigiada universidade. Algum tempo depois se tornou professora nessa mesma instituição. O pai de Grace também era um homem bem sucedido no ramo de negócios. Toda a sua família era extremamente bem estruturada.

Grace era a filha do meio. Ela tinha duas irmãs mais velhas e um irmão mais jovem, o caçula. Por ser a irmã do meio ela não sofreu todas as pressões que as garotas mais velhas sofreram, mas tampouco foi tão mimada quanto o caçula da família. A mãe de Grace desejava que ela fosse para uma prestigiada universidade para estudar medicina. Para isso a matriculou em uma excelente escola católica dirigida por freiras onde apenas moças da alta sociedade estudavam. O ensino era realmente maravilhoso e assim Grace Kelly teve uma educação primorosa.

A mãe de Grace queria que sua família tivesse uma educação prussiana, tal como ela havia sido criada em sua infância e juventude. Isso significa disciplina, boa educação e bons modos. A família Kelly assim era uma das mais requintadas da  Philadelphia, muito bem conceituada dentro daquela sociedade. Todos as irmãs de Grace se tornaram pessoas influentes, bem sucedidas. O futuro parecia traçado por sua mãe, mas ela esqueceu de perguntar para Grace o que a filha queria fazer de sua vida. E Grace queria ser atriz, desde sua adolescência. Ela não queria ser uma médica, para passar o resto de sua vida em um hospital. Ela nem gostava de ambientes hospitalares!

O curioso é que havia artistas na tradicionalíssima família Kelly. A tia de Grace tinha tentando se tornar atriz em sua juventude. Ela até começou a dar certo em sua carreira, mas a pressão familiar falou mais alto e ela acabou largando seus sonhos. Largou a profissão de atriz, que era mal vista dentro do clã, e se casou com um rico homem de negócios. Acabou a vida frustrada, afundando as mágoas na bebida. Sobre ela Grace relembraria: "Pobre titia... Tão talentosa, mas havia nascido na época errada! Havia tanto preconceito contra artistas naqueles tempos!". A maior influência na vida de Grace porém vinha de um tio chamado Georgie. Ele não apenas sonhou em ser ator como se tornou um ótimo profissional de teatro e cinema, mesmo com todas as críticas e as constantes desaprovações dos demais familiares. Era considerado a ovelha negra da família Kelly, um sujeito com fama de ser uma pessoa exótica, sonhadora... Praticamente tudo o que Grace sonhava secretamente se tornar no futuro.

Pablo Aluísio.

As Cartas de Grace Kelly - Parte 1

Após deixar Hollywood para se casar e ser literalmente uma princesa na Europa, Grace Kelly resolveu manter uma boa postura sobre sua despedida do cinema. Ele raramente deu entrevistas ou disse o que achava da capital do cinema mundial. Discreta, procurou evitar polêmicas desnecessárias, afinal de contas uma nobre de sangue azul não poderia se envolver em fofocas e coisas do tipo. Isso ficou guardado a sete chaves até que recentemente várias cartas de Grace Kelly foram divulgadas, trazendo algumas opiniões da atriz sobre os anos em que passou trabalhando para os grandes estúdios americanos.

Esses escritos revelam de certa forma uma dubiedade na opinião dela sobre tudo o que vivenciou em seus anos como atriz famosa e estrela de Hollywood. Ora Grace parece ter uma visão muito ruim e pessimista sobre a indústria, ora parece saudosista e com muitas saudades daqueles anos. Sobre as relações sociais em Hollywood Grace resumiu tudo em uma frase bem mordaz dizendo: "Tenho muitos conhecidos por lá, mas nenhum amigo!". Depois confessou que o clima de se trabalhar naqueles grandes estúdios não era tão glamoroso quanto o público pensava naquela época. Sobre isso ela escreveu a uma amiga confessando: "Hollywood é um lugar sem piedade. Não conheci nenhum outro lugar no mundo com tantas pessoas sofrendo de crises nervosas, com tantos alcoólatras, neuróticos e tanta gente infeliz. Parece sagrada para o público, mas na verdade é mais profana do que o demônio.”

Um aspecto que chamou bastante a atenção de Grace Kelly quando trabalhava em Hollywood e que talvez tenha sido crucial para que ela largasse a vida de estrela veio da observação que teve sobre a realidade das atrizes mais velhas do que ela. Elas tinham sido estrelas do passado, mas agora não tinham mais importância para os produtores. Grace chegou na conclusão de que quanto mais velha se ficava em Hollywood, menos se conseguia bons papéis e bons salários nos filmes em que atuavam. Isso, claro, quando se conseguia trabalho, pois Grace ficava entristecida como certas estrelas do passado eram mal tratadas pelos produtores após a idade chegar para elas. Ele resumiu suas conclusões em uma carta escrita a um amigo jornalista de Nova Iorque que perguntava se um dia ela retornaria para trabalhar em algum filme. Respondendo a ele, Grace escreveu: "Não vou voltar! Conheci grandes estrelas do passado que praticamente imploravam por um papel quando perdiam a beleza e a juventude! Era muito triste! Elas tinham sido grandes estrelas, fizeram com que os estúdios ganhassem milhões com seus filmes, mas depois de muitos anos ninguém mais se importava com elas ou as respeitavam! Eu quero outro futuro para a minha vida!"

A carga de trabalho também não era nenhum passeio como ela bem explicou: "Há alguns anos, quando cheguei a Hollywood, eu começava a fazer a maquiagem às oito horas da manhã. Depois de uma semana o horário foi adiantado para às 7h30. Todos os dias via Joan Crawford, que começava a ser preparada às cinco, e Loretta Young, que já estava lá desde as quatro da manhã! Deus me livre de viver em uma atividade em que tenho de me levantar cada vez mais cedo e levar cada vez mais tempo para poder encarar as câmeras”. De qualquer maneira Grace Kelly nunca chegou a fechar definitivamente as portas para quem sabe um dia voltar para o cinema! Quando Alfred Hitchcock a convidou para voltar para apenas mais um último filme ela lhe respondeu de volta agradecendo, mas explicando que não voltaria tão cedo. Para o mestre do suspense Grace escreveu: “Obrigada, meu querido Hitch, por ser tão compreensivo e atencioso. Odeio decepcionar você! Também odeio o fato de que provavelmente existam muitas outras ‘cabeças’ capazes de fazer esse papel tão bem como eu – Apesar disso, espero continuar a ser uma de suas ‘vacas sagradas”. Nesse trecho Grace fez um trocadilho com uma declaração que Hitchcock havia feito sobre os atores e atrizes com quem havia trabalhado, os comparando com gado! Depois de forma muito terna ela se despediu dizendo: "Com um imenso carinho me despeço querido amigo" (onde acabou destacando bem a palavra “imenso”). Assinado “Grace”.

Pablo Aluísio.