Mostrando postagens com marcador Kirk Douglas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Kirk Douglas. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Embrutecido Pela Violência

Filme bem marcante da carreira do ator Kirk Douglas. No enredo ele interpreta Len Merrick (Kirk Douglas), um orgulhoso Marshal federal (uma espécie de xerife com jurisdição em todo o país), que evita um enforcamento numa cidade do velho oeste. O acusado, Timothy 'Pop' Keith (Walter Brennan), está para ser enforcado por supostamente ter roubado gado e assassinado o filho de um rico e influente rancheiro da região. Para Len sua execução é completamente ilegal e por essa razão ele se compromete a levar Keith até um tribunal do júri na cidade de Santa Loma onde finalmente será devidamente julgado, perante um juiz de direito e um corpo de jurados, tudo como manda a lei. A jornada até lá porém não será tranquila e nem pacífica pois a família Roden está disposta a vingar a morte de um de seus membros. Esse western dirigido pelo mestre Raoul Walsh tem um argumento muito mais sofisticado do que pode parecer à primeira vista. A história não foge muito do que vemos na tela, com um obcecado homem da lei tentando seguir os trâmites legais a todo custo, mesmo sendo ameaçado e perseguido por um bando de justiceiros pelo deserto afora. A questão é que uma vez em Santa Loma - para onde está levando um acusado - ele descobre que nem sempre a justiça é devidamente feita pelos tribunais. Há uma série de influências econômicas, sociais e extra jurídicas que determinam se alguém é considerado culpado ou não.

Durante a jornada até lá ele vai colhendo impressões e verdades sobre o homem que tem sob custódia e descobre que seu próprio julgamento pessoal, criado na convivência com o suposto criminoso, tem mais validade do que um apressado e mal feito julgamento na calada da noite. Só esse aspecto já tornaria o filme bem acima da média dos demais faroestes da época, mas há outras qualidades dignas de nota. Walsh rodou um filme enxuto, diria até econômico, porém muito bonito, em bela fotografia em preto e branco. Rodado no deserto da Califórnia, em belas locações com penhascos e rochas enormes, o filme se valoriza enormemente por causa desse cenário natural rico em bonitas paisagens. O elenco também é outro ponto forte.

Kirk Douglas está de certo modo em seu tipo habitual, a do xerife durão, até insensível que carrega velhos traumas do passado, em especial uma certa culpa pelo que aconteceu ao seu pai anos atrás (ele também era um homem da lei íntegro que acabou sendo linchado por tentar cumprir o que dizia a letra fria do devido processo legal). Agora, firme em suas convicções, ele precisa levar o acusado perante um juiz para que seja devidamente julgado. A questão é que a filha do homem preso, interpretada pela linda atriz Virginia Mayo, também quer justiça, mas ao seu modo. Douglas e Mayo inclusive soltam faíscas de atração no meio do deserto. Uma dupla que deu muito certo e que trouxe muita paixão reprimida para a tela. Com cabelos curtinhos e jeito até bem rude, Mayo acaba roubando todas as atenções por causa de sua personalidade ao mesmo tempo geniosa e sensual. Então é isso. "Embrutecidos Pela Violência" é muito mais do que aparenta ser. Um bom argumento, bem sólido e coerente, apoiado por um enredo que não nega os mais tradicionais cânones do western americano.

Embrutecido Pela Violência (Along the Great Divide, Estados Unidos, 1951) Estúdio: Warner Bros / Direção: Raoul Walsh / Roteiro: Walter Doniger, Lewis Meltzer / Elenco: Kirk Douglas, Virginia Mayo, John Agar, Walter Brennan / Sinopse: Veterano xerife tenta manter a lei em uma região violenta e hostil do velho oeste dos Estados Unidos.

Pablo Aluísio.

O Discípulo do Diabo

Durante o período colonial um arrogante comandante militar inglês, o general Burgoyne (Laurence Olivier) tenta manter uma província da colônia sob controle, combatendo e perseguindo os rebeldes nativos que desejam a independência do país. Durante um enforcamento de um líder rebelde, um religioso local, o reverendo Anthony Anderson (Burt Lancaster), solicita ao comando militar britânico para que o morto seja enterrado sob a tradição cristã mas o pedido é negado. Após o roubo do corpo por Richard Dudgeon (Kirk Douglas) a repressão aumenta, criando um clima de terror na região. “O Discípulo do Diabo” é um filme extremamente curioso. Realizado em 1959 o filme foca seu roteiro na antevéspera da revolução americana, quando os colonos, cansados da exploração da metrópole britânica, começam a despertar o sentimento de nacionalismo e independência.

O elenco reúne três grandes mitos do cinema da época, Kirk Douglas (fazendo a ovelha negra de sua rica família, encarnando um personagem anárquico e irreverente), Burt Lancaster (fazendo um religioso com punhos fortes) e finalmente Laurence Olivier (em boa caracterização de um militar inglês pomposo mas consciente da fragilidade de suas tropas em vista do crescente aumento do número de rebeldes dentro da colônia). O interessante é que o roteiro intercala um tom mais sério com cenas mais leves, até românticas, tudo em menos de 90 minutos de duração. Há boa reconstituição histórica e uma curiosa linha narrativa feita em animação para situar o espectador sobre o contexto histórico em que o enredo se desenvolve. Hoje em dia alguns aspectos do argumento podem soar inocentes (como a troca de identidade entre os personagens de Kirk Douglas e Burt Lancaster) mas no saldo final tudo é muito bem realizado e mantém o interesse. Fica a dica para quem gosta de filmes enfocando o período colonial da história norte-americana.

O Discípulo do Diabo (The Devil's Disciple, EUA, 1959) Direção: Guy Hamilton / Roteiro: John Dighton, Roland Kibbee / Elenco: Burt Lancaster, Kirk Douglas, Laurence Olivier, Janette Scott / Sinopse: Durante o período colonial um arrogante comandante militar inglês, o general Burgoyne (Laurence Olivier) tenta manter uma província da colônia sob controle, combatendo e perseguindo os rebeldes nativos que desejam a independência do país.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Sua Última Façanha

Excelente momento da filmografia do ator e astro Kirk Douglas. O roteiro foi baseado no livro "The Brave Cowboy", escrito por Edward Abbey e conta a estória de um velho cowboy chamado John W. "Jack" Burns (Kirk Douglas). Considerado um sujeito de um tempo que não existe mais, ele resolve enfrentar um policial veterano, o xerife Morey Johnson (Walter Matthau), após ser considerado um fugitivo da lei. Assim ficam lado a lado dois mundos diferentes, o velho oeste e o mundo moderno, com seus carros, helicópteros e tecnologia. Enquanto o velho cowboy luta para sobreviver com seu cavalo e seu antigo modo de vida. Sem dúvida é um grande filme! Resolvi assistir depois de tomar conhecimento de que esse era o filme preferido do próprio Kirk Douglas. Depois de conferir devo dizer que concordo com o ator em gênero, número e grau. Embora tenha estrelado vários e vários clássicos ao longo de uma das carreiras mais produtivas e bem sucedidas em Hollywood não há em sua extensa filmografia nenhum outro filme que tenha tanto coração e sentimento como esse. Um roteiro que lida de maneira primorosa com o fim de um amado estilo de vida que definiu vários dos grandes heróis da história dos EUA.

O grande mérito aqui é que Douglas, o diretor David Miller e principalmente o roteirista Dalton Trumbo, conseguiram reunir vários gêneros em um só filme, com resultado bem acima da média. Se pode pensar que "Lonely Are The Brave" é apenas um western temporão, de um estilo que já estava se tornando fora de moda, mas isso é uma visão simplista. O filme passeia tranquilamente por vários estilos e gêneros, tangenciando os filmes policiais, do tipo "on the road" e até mesmo os dramas românticos, isso sem perder a direção em momento algum. Passado no moderno oeste americano, somos apresentados ao personagem John W. "Jack" Burns (Kirk Douglas). Ele é um velho cowboy que tenta manter vivo seu estilo de vida em um mundo que definitivamente nada mais tem a ver com o passado. No meio de autoestradas, aviões a jato e carros modernos, Burns tenta manter de alguma forma intacta a figura mitológica do cowboy do velho oeste. Claro que agindo assim ele logo encontra problemas com a lei, com a sociedade e com a mentalidade moderna. Os jovens o acham uma peça de museu, mas ele insiste em manter sua dignidade intacta.

Duas coisas impressionam no filme: O lirismo subliminar do roteiro e a eficiente caçada final a Burns em uma montanha rochosa íngreme. Algumas cenas são as melhores que já vi. Fiquei imaginando como devem ter sido complicadas as filmagens naquela região no Novo México, até porque subir com um cavalo em um ambiente daqueles é quase impossível (em muitos momentos fiquei realmente receoso do cavalo e do dublê de Douglas caírem montanha abaixo, tal o perigo das tomadas feitas). Em conclusão podemos afirmar que "Sua Última Façanha" é uma excelente crônica sobre a mudança de costumes que se sucedem de uma época histórica para outra. O velho mito que se depara com os desafios da modernidade. Em vista de tudo isso certamente vai agradar aos fãs de western e também aos que querem conhecer melhor essa fase de mudanças profundas no modo de viver dos mitos do passado. Pura nostalgia, de grande qualidade artística. Vale muito a pena conhecer, certamente.

Sua Última Façanha (Lonely Are the Brave, Estados Unidos, 1962) Estúdio: Universal Pictures / Direção: David Miller / Roteiro: Dalton Trumbo / Elenco: Kirk Douglas, Gena Rowlands, Walter Matthau, George Kennedy / Sinopse: Velho cowboy, prestes a se aposentar, se recusa a abandonar seu amado estilo de vida do passado. Após problemas com um xerife ele precisa sobreviver a uma intensa caçada humana. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Ator (Kirk Douglas).

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Saturno 3

Fazer filmes de ficção é bem complicado, ainda mais quando você não tem a produção certa, a direção de arte adequada, figurinos, efeitos especiais, etc. É aquele tipo de filme que precisa começar a dar certo muito antes do começo das filmagens, ainda na chamada pré-produção. Esse não foi o caso desse "Saturno 3", um filme que poucos se lembram nos dias de hoje. Cópias são raras e o filme nunca é exibido em canais a cabo (não que eu me lembre ou que tenha topado com ele sendo exibido por aí).

Nem é preciso dizer que o filme está mais do que datado. O desenho das naves, as roupas dos astronautas, os cenários e os pobres efeitos especiais envelheceram absurdamente. Tudo parece muito mal feito nos dias de hoje. Até um robô que era sensação na época hoje em dia parece torto e mal ajambrado. Parecia uma geringonça mal feita saída de algum ferro velho ou de uma lata de lixo! A única razão para ver esse filme hoje em dia vem do elenco, começando pela beleza (e belos cabelos) da pantera Farrah Fawcett, passando pela presença do mito envelhecido Kirk Douglas. No meio do espaço fake eles ainda mantém o mínimo interesse no que se passa naquela nave de papelão.

Saturno 3 (Saturn 3, Estados Unidos, 1980) Direção: Stanley Donen / Roteiro: Martin Amis, John Barry / Elenco: Farrah Fawcett, Kirk Douglas, Harvey Keitel / Sinopse: Dois astronautas em missão numa base espacial localizada nos arredores do planeta Saturno precisam lidar com novos tripulantes, sendo um deles um burocrata da empresa espacial e o outro um enorme robô cuja presença na nave nunca chega a ser explicada de forma satisfatória.

Pablo Aluísio.

domingo, 17 de junho de 2018

Sem Lei e Sem Alma

Entre tantas histórias que ficaram célebres no velho oeste poucas conseguiram alcançar a fama do tiroteio ocorrido no Ok Corral em Tombstone, Arizona. De um lado o lendário xerife Wyatt Earp (Burt Lancaster), seus irmãos e Doc Holliday (Kirk Douglas), do outro lado o bando dos irmãos Clanton. Ambos se enfrentaram face a face, cada um a poucos metros do outro, armas em punho, um duelo que entrou para a história e que foi fartamente explorado no cinema durante todos esses anos. Esse "Sem Lei e Sem Alma" é até hoje considerado uma das melhores versões já feitas sobre o evento. O roteiro é extremamente bem trabalhado, nitidamente dividido em dois atos que se fecham e se complementam de forma perfeita. No primeiro ato acompanhamos a chegada de Wyatt Earp numa pequena cidade do velho oeste. Ele vem no encalço de Johnny Ringo (John Ireland) e seu bando. Lá se aproxima do pistoleiro e jogador inveterado Doc Holliday e acaba salvando sua vida ao ajudá-lo a fugir de seu próprio linchamento. No segundo ato encontramos os personagens já em Tombstone, a lendária cidade, onde nos 15 minutos finais do filme ocorrerá o famoso confronto no O.K. Corral.

Burt Lancaster e Kirk Douglas estão perfeitos em seus papéis. Kirk Douglas em especial encontrou grande afinidade entre sua própria personalidade expansiva e extrovertida e a figura do lendário Doc Holliday. Esse como já tive a oportunidade de escrever é realmente um personagem à prova de falhas. Um dentista corroído pela tuberculose que ocupava todo seu tempo jogando cartas e se envolvendo em confusões pelas cidadezinhas por onde passava. O que fazia de Doc um ótimo pistoleiro é que seu instinto de preservação já não era tão acentuado pois sempre se via no limite, à beira da morte, por isso para ele tanto fazia morrer em um tiroteio ou escapar vivo para mais um duelo à frente. Sua frieza e pontaria certeira o transformaram em uma lenda do velho oeste. Já Wyatt Earp também encontrou um ator ideal em Burt Lancaster. Íntegro, honesto e temido, procurava manter a lei em uma região infestada de facínoras e bandoleiros. O duelo no O.K. Curral foi apenas uma das inúmeras histórias envolvendo esse famoso homem da lei. Para finalizar é bom salientar que a despeito de sua imensa qualidade cinematográfica, "Sem Lei e Sem Alma" não é completamente fiel aos fatos históricos. O próprio duelo final, razão de existência do filme, não ocorreu da forma mostrada no filme. De fato os eventos reais foram bem mais simples, pois os dois grupos rivais estavam frente a frente, a poucos metros uns dos outros. No filme há toda uma sequência de cenas que não existiram como a queima da carroça, por exemplo. Johnny Ringo, o famoso pistoleiro, também não estava no confronto do O.K. Ele foi morto tempos depois no meio do deserto. Suspeita-se que foi morto por Doc Holliday pois ambos tinham uma rivalidade antiga que só seria resolvida com armas em punho. De qualquer forma esses detalhes em nada diminuem a extrema qualidade de "Sem Lei e Sem Alma", que hoje é considerado merecidamente um dos melhores westerns já realizados. Uma obra prima certamente.

Sem Lei e Sem Alma (Gunfight at the O.K. Corral, Estados Unidos, 1957) Direção: John Sturges / Roteiro: Leon Uris baseado no artigo escrito por George Scullin / Elenco: Burt Lancaster, Kirk Douglas, Rhonda Fleming, Jo Van Fleet, John Ireland, Frank Faylen, Ted de Corsia, Dennis Hopper, DeForest Kelley, Martin Milner / Sinopse: Wyatt Earp (Burt Lancaster), seus irmãos e Doc Holliday (Kirk Douglas) resolvem enfrentar cara a cara um bando de ladrões de gado no O.K. Corral em Tombstone, Arizona.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Homem sem Rumo

Título no Brasil: Homem sem Rumo
Título Original: Man Without a Star
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio:  Universal Pictures
Direção: King Vidor
Roteiro: Borden Chase, D.D. Beauchamp
Elenco: Kirk Douglas, Jeanne Crain, Claire Trevor, William Campbell, Richard Boone, Jay C. Flippen

Sinopse:
Dempsey Rae (Kirk Douglas) é um cowboy errante que chega numa pequena cidade do velho oeste. Ele chega até lá pegando carona em um trem de carga. A região é dominada por grandes rebanhos de gado, o que coloca os vários fazendeiros em choque uns contra os outros.

Comentários:
Faroeste B da Universal que tem um aspecto curioso em seu roteiro. Como se sabe a figura do cowboy foi desaparecendo do velho oeste por causa de um pequeno fio de metal (o arame farpado) que foi usado para cercar as propriedades rurais. Com isso as grandes jornadas com cinco, dez mil cabeças de gado, foram se tornando cada vez mais raras. Sem as viagens com o rebanho o cowboy lendário, típico do século XIX nos Estados Unidos, foi lentamente desaparecendo. O personagem de Kirk Douglas é um desses cowboys do passado. Ele viaja e vai arranjando emprego por onde chega. Na nova cidade Kirk acaba trabalhando para uma rancheira, Reed Bowman (Jeanne Crain). Ela é uma mulher do leste que está apenas na região para embarcar um grande rebanho de 15 mil cabeças de gado, só que os fazendeiros do lugar acreditam que esses animais vão destruir o pasto das fazendas da região. Assim começam a cercar seus campos com arama farpado, o que vai criar muitos atritos entre todos. Kirk se alia com a rancheira e começa a entrar em confronto com os bandos pagos pelos demais fazendeiros. Tiro para todo lado. No geral é um filme modesto, sem grande produção ou orçamento, mas a presença de Kirk Douglas compensa esse aspecto. Com cabelos loiros, numa caracterização jovial e atlética, ele é realmente a alma do filme. Esbanja carisma em cada cena. Além disso dá uma rara canja em sua filmografia, chegando a cantar (bem!) e tocar banjo! Quem diria, logo o durão Kirk Douglas...

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Embrutecido Pela Violência

Título no Brasil: Embrutecido Pela Violência
Título Original: Along the Great Divide
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Raoul Walsh
Roteiro: Walter Doniger, Lewis Meltzer
Elenco: Kirk Douglas, Virginia Mayo, John Agar, Walter Brennan
  
Sinopse:
Len Merrick (Kirk Douglas) é um orgulhoso Marshal federal que evita um enforcamento numa cidade do velho oeste. O acusado, Timothy 'Pop' Keith (Walter Brennan), está para ser enforcado por supostamente ter roubado gado e assassinado o filho de um rico e influente rancheiro da região. Para Len sua execução é completamente ilegal e por essa razão ele se compromete a levar Keith até um tribunal do júri na cidade de Santa Loma onde finalmente será devidamente julgado, perante um juiz de direito e um corpo de jurados, tudo como manda a lei. A jornada até lá porém não será tranquila e nem pacífica pois a família Roden está disposta a vingar a morte de um de seus membros.

Comentários:
Esse western dirigido pelo mestre Raoul Walsh tem um argumento muito mais sofisticado do que pode parecer à primeira vista. A história não foge muito do que vemos na tela, com um obcecado homem da lei tentando seguir os trâmites legais a todo custo, mesmo sendo ameaçado e perseguido por um bando de justiceiros pelo deserto afora. A questão é que uma vez em Santa Loma - para onde está levando um acusado - ele descobre que nem sempre a justiça é devidamente feita pelos tribunais. Há uma série de influências econômicas, sociais e extra jurídicas que determinam se alguém é considerado culpado ou não. Durante a jornada até lá ele vai colhendo impressões e verdades sobre o homem que tem sob custódia e descobre que seu próprio julgamento pessoal, criado na convivência com o suposto criminoso, tem mais validade do que um apressado e mal feito julgamento na calada da noite. Só esse aspecto já tornaria o filme bem acima da média dos demais faroestes da época, mas há outras qualidades dignas de nota. Walsh rodou um filme enxuto, diria até econômico, porém muito bonito, em bela fotografia em preto e branco. Rodado no deserto da Califórnia, em belas locações com penhascos e rochas enormes, o filme se valoriza enormemente por causa desse cenário natural rico em bonitas paisagens. 

O elenco também é outro ponto forte. Kirk Douglas está de certo modo em seu tipo habitual, a do xerife durão, até insensível que carrega velhos traumas do passado, em especial uma certa culpa pelo que aconteceu ao seu pai anos atrás (ele também era um homem da lei íntegro que acabou sendo linchado por tentar cumprir o que dizia a letra fria do devido processo legal). Agora, firme em suas convicções, ele precisa levar o acusado perante um juiz para que seja devidamente julgado. A questão é que a filha do homem preso, interpretada pela linda atriz Virginia Mayo, também quer justiça, mas ao seu modo. Douglas e Mayo inclusive soltam faíscas de atração no meio do deserto. Uma dupla que deu muito certo e que trouxe muita paixão reprimida para a tela. Com cabelos curtinhos e jeito até bem rude, Mayo acaba roubando todas as atenções por causa de sua personalidade ao mesmo tempo geniosa e sensual. Então é isso. "Embrutecidos Pela Violência" é muito mais do que aparenta ser. Um bom argumento, bem sólido e coerente, apoiado por um enredo que não nega os mais tradicionais cânones do western americano.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O Tempo Não Apaga

Título no Brasil: O Tempo Não Apaga
Título Original: The Strange Love of Martha Ivers
Ano de Produção: 1946
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Lewis Milestone
Roteiro: Robert Rossen
Elenco: Barbara Stanwyck, Van Heflin, Lizabeth Scott, Kirk Douglas, Judith Anderson, Roman Bohnen

Sinopse:
O ano é 1928. Baseado no romance "Love Lies Bleeding" escrito por John Patrick, o filme conta a história de Martha Ivers (Barbara Stanwyck), uma mulher dominadora e implacável, casada com um homem que tenta manipular de todas as maneiras. Martha tem um terrível segredo envolvendo seu passado, algo que não pode ser descoberto por ninguém.

Comentários:
Drama pesado, assinado pelo talentoso cineasta Lewis Milestone. O filme chegou a ser indicado a um Oscar, na categoria melhor roteiro. Curiosamente a indicação foi para o escritor John Patrick que escreveu o romance que deu origem ao filme e não propriamente ao roteirista dessa produção,  Robert Rossen. Um tipo de erro que alguns anos depois a Academia iria consertar, mudando as regras de indicação a esse prêmio. Outro fato curioso é que o filme fez grande sucesso na Europa (mais do que dentro do mercado americano). Sua trama, bem pesada, calcada em personagens dramáticos e trágicos, foi bem de encontro ao gosto dos europeus. Por essa razão o filme acabou fazendo boa carreira no exterior, inclusive sendo reconhecido no Festival de Cannes daquele ano. Outro fato digno de nota é que esse foi o primeiro filme da carreira do ator Kirk Douglas. Ele interpreta um jovem procurador, ambicioso, mas honesto, chamado Walter O'Neil. Douglas ainda era bem moço, mas já demonstrava aquele carisma forte que iria construir toda a sua carreira, o transformando em um dos grandes astros da história de Hollywood nos anos seguintes. Já Barbara Stanwyck se sobressai bastante com sua atuação ao dar vida a uma mulher com poucos valores éticos, cujas ambições se resumem a ficar rica, seja de que maneira for. Ela inclusive guarda um terrível segredo em seu passado que agora tenta de todas as formas esconder. Enfim, um bom dramalhão dos anos 40, valorizado sobretudo por seu excelente elenco.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

John Wayne - A Primeira Vitória

John Wayne se notabilizou pelos clássicos de western que estrelou ao longo da carreira. Isso não significou que ele não tenha também brilhado em outros gêneros cinematográficos. Wayne também fez grandes filmes de guerra. Um exemplo é esse "In Harm's Way" de 1965 que no Brasil recebeu o título nacional de "A Primeira Vitória". Dirigido pelo excelente e premiado cineasta Otto Preminger e com um elenco de apoio de encher os olhos (contando com Kirk Douglas, Burgess Meredith e Henry Fonda, entre outros) o filme foi lançado para comemorar os vinte anos do fim da II Guerra Mundial.

E é justamente um dos eventos mais marcantes dessa guerra que marca a cena inicial do filme: o ataque japonês ao porto militar americano de Pearl Harbor. Até aquele momento os americanos mantinham uma postura de neutralidade em uma guerra que parecia se alastrar pelo mundo. Havia um sentimento de não se envolver na Guerra pois os americanos ainda amargavam as perdas provenientes da I Guerra Mundial. A neutralidade assim parecia ser um bom caminho a seguir. Essa posição diplomática porém não duraria muito. Sem aviso prévio e contando com um ataque surpresa arrasador a força aérea imperial japonesa arrasou a esquadra americana estacionada no Havaí. A partir daí não houve outra saída e os Estados Unidos entraram definitivamente na guerra, lutando uma feroz luta ilha a ilha no Pacífico Sul contra os japoneses.

O personagem de John Wayne é um comandante de cruzador da marinha americana chamado Rockwell 'Rock' Torrey. Durante o ataque em Pearl Harbor ele, por pura sorte, não estava ancorado no porto atacado, mas sim em alto-mar. Tentando dar uma resposta ao ataque acabou sendo encurralado por um submarino japonês. Sua manobra é considerada temerária pelo comando da marinha e ele é afastado do comando, indo parar em um serviço burocrático atrás de uma escrivaninha. Para um velho marinheiro não poderia ser pior. Seu homem de confiança, o tenente Paul Eddington (Kirk Douglas) também é colocado para escanteio.

Aproveitando sua estadia forçada em terra firme, Rock acaba resolvendo colocar alguns assuntos pessoais em dia. Procura finalmente por seu filho que não vê há anos (e que também está servindo na Marinha) e acaba tendo um caso amoroso tardio com uma enfermeira pelo qual acaba sentindo atração. Seus problemas privados porém são colocados de lado quando é chamado novamente para o comando. A guerra precisa de homens experientes e Rock acaba sendo designado para uma importante missão. O filme é longo, com quase três horas de duração, e isso se deve ao fato de que Otto Preminger priorizou o desenvolvimento de cada personagem da estória (que inspirada em fatos reais teve seu roteiro baseado no livro escrito por James Bassett). È um ótimo filme histórico de guerra, mostrando não apenas o lado combativo dos militares americanos na chamada guerra do Pacífico, como também valorizando o lado mais humano desses homens. Um clássico do cinema mais do que recomendado.

Pablo Aluísio.

Kirk Douglas - A Primeira Vitória

Finalizando minhas impressões sobre esse clássico de guerra chamado "In Harm's Way" (A Primeira Vitória, no Brasil) eu gostaria de tecer alguns comentários sobre o personagem interpretado por Kirk Douglas. O oficial Paul Eddington é um ótimo militar da Marinha americana, profissional confiável, porém em sua vida pessoal parece só fazer escolhas erradas. A primeira cena do filme mostra sua jovem esposa dançando em um cocktail oferecido a marinheiros. Desinibida, na beira da piscina, ela protagoniza um pequeno escândalo. Detalhe: enquanto ela dança e se diverte com aqueles homens seu marido está em alto-mar, enfrentando os inimigos do país, algo que causa grande desconforto nos demais militares presentes naquela noite.

Quando começa o ataque a Pearl Harbor ela acaba morrendo numa estrada. Isso faz com que Eddington fique devastado. Ele não era feliz no casamento, sua jovem esposa, muitos anos mais jovem, não lhe dava o devido respeito e nem parecia gostar muito dele, mas a sua morte prematura torna sua lembrança praticamente imaculada. Depois disso o Capitão começa a ter um comportamento bem fora dos padrões o que o levará à cena crucial quando resolve estuprar uma jovem enfermeira que também está no Havaí durante a II Guerra Mundial. A garota vindo do interior acaba sendo agarrada na praia e violentada. Essa cena, forte sob muitos aspectos, também é bem incômoda quando descobrimos que o próprio Kirk Douglas foi acusado de ter estuprado a atriz Natalie Wood nos anos 50. Isso foi bem antes da realização dessa cena o que me faz pensar que Kirk quis dar sua resposta na tela, atuando em algo que certamente seria bem comentado nos bastidores de Hollywood.

Depois disso, como numa espécie de redenção moral, o roteiro o coloca numa missão suicida, onde ele deixa bem claro que não está muito disposto a voltar para a base para enfrentar uma corte marcial. O diretor Otto Preminger acabou ficando numa encruzilhada pois não poderia dar um final feliz a um estuprador no enredo, nem mesmo se ele fosse interpretado pelo astro Kirk Douglas. John Wayne, interpretando seu oficial superior, certamente o puniria e isso fica bem claro depois que ele descobre que seu subordinado está morto. Perguntado se ele daria seu nome para a recomendação de uma medalha de honra, a sua resposta é um taxativo "não"!

Por fim, vale também destacar a grande cena final do filme. O clímax é a reconstituição de uma batalha real ocorrida no Pacífico Sul entre a Marinha americana e a japonesa. Os japoneses contavam com o colossal Yamato, de 72 mil toneladas. Esse navio era considerado uma das joias do poderio naval militar japonês. O comandante interpretado por John Wayne é o responsável em destruir essa armada dos mares. No saldo final, apesar de todas as baixas, ele acaba vencendo, o que foi considerado na época a primeira vitória americana sobre o Japão no Pacífico.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Assim Estava Escrito

Essa semana tive a oportunidade de assistir a mais um belo clássico da era de ouro do cinema americano. O filme se chama "Assim Estava Escrito" (no original "The Bad and the Beautiful"). Produzido em 1952 e dirigido pelo mestre Vincente Minnelli, o filme é um primor cinematográfico.

O eterno astro Kirk Douglas interpreta Jonathan Shields. Seu pai foi um importante produtor de Hollywood na era do cinema mudo. Com sua morte não sobram muitas coisas além de dívidas para Shields. Ele então resolve arregaçar as mangas e vai à luta. Sua ambição é tornar-se produtor tal como seu pai no passado. Por onde começar? Bom, seu primeiro lance de sorte vem quando conhece um jovem diretor, cheio de novas ideias, chamado Fred Amiel (Barry Sullivan).

Inicialmente a dupla, para sobreviver, topa praticamente tudo, inclusive a realização de uma horrenda série de filmes de terror B sobre homens felinos que atacam suas vítimas na escuridão da noite. Uma porcaria. Essas produções porém rendem o dinheiro de que eles precisavam. Agora capitalizado Shields planeja algo maior, a adaptação de um famoso livro da literatura para as telas. Só falta mesmo convencer um estúdio maior a embarcar na ideia. Sem dinheiro para contratar um grande astro ou uma grande estrela, o jovem produtor resolve então apostar todas as suas fichas numa atriz desconhecida, corroída pelo alcoolismo e pelo fracasso na carreira chamada Georgia Lorrison (interpretada pela maravilhosa Lana Turner). Embora negasse isso o fato é que essa personagem se parecia demais como Marilyn Monroe para tudo parecer mera coincidência. Insegura, frágil emocionalmente, ela era um retrato da famosa estrela de Hollywood do mundo real.

O roteiro de "Assim Estava Escrito" foi todo planejado como um grande flashback. Um dono de estúdio de cinema, Harry Pebbel (Walter Pidgeon), resolve reunir todas essas pessoas que começaram suas carreiras pelas mãos de Shields para convidá-las a voltarem a trabalharem com ele. Uma a uma elas porém vão recusando e começam a contar como Shields as decepcionou no passado. Primoroso o texto, uma aula de sétima arte. Kirk Douglas não foi um astro comum em seu tempo. Ele assumia riscos e se aliava a grandes profissionais do cinema, tal como seu produtor aqui nesse filme. De certa maneira sua atuação reflete um pouco de seu próprio jeito de agir e atuar. Ele foi realmente grande na era de ouro do cinema clássico americano. "Assim Estava Escrito" é apenas mais uma prova definitiva sobre isso.

Assim Estava Escrito (The Bad and the Beautiful, EUA, 1952) Direção: Vincente Minnelli / Roteiro: Charles Schnee, George Bradshaw / Elenco: Lana Turner, Kirk Douglas, Walter Pidgeon / Sinopse: Famoso produtor de Hollywood encontra dificuldades para montar sua nova equipe para um novo filme por causa de atitudes que tomou no passado. Um a um todos se recusam a trabalharem novamente com ele. Filme premiado com o Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Spartacus

Título no Brasil: Spartacus
Título Original: Spartacus
Ano de Produção: 1960
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Dalton Trumbo, Howard Fast
Elenco: Kirk Douglas, Laurence Olivier, Jean Simmons, Peter Ustinov, Tony Curtis, Charles Laughton, John Gavin, John Ireland 

Sinopse:
Durante a República da Antiga Roma, um escravo chamado Spartacus (Kirk Douglas), treinado para ser um gladiador nas arenas de combate, resolve liderar uma Insurreição contra a escravidão, levantando um verdadeiro exército de escravizados contra o poder de Roma. Para deter a rebelião o senado romano envia o general Crassus (Laurence Olivier) com a missão de aniquilar todos os revoltosos. Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (Peter Ustinov), Melhor Fotografia, Direção de Arte e Figurino. Filme vencedor do Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme - Drama.

Comentários:
Ainda considerado um dos grandes clássicos épicos da história do cinema americano, "Spartacus" é uma verdadeira obra prima. Curiosamente foi um projeto bem pessoal do ator Kirk Douglas que via grande potencial na famosa história do escravo Spartacus, que ousou liderar a maior rebelião em busca da liberdade da Roma Antiga. Para transformar o projeto em um grande filme ele resolveu contratar o roteirista Dalton Trumbo que na época estava na lista negra da caça às bruxas em Hollywood. Douglas não se importou e teve a coragem de trazer o escritor para o filme. Adaptando a novela de Howard Fast ele criou um texto magnífico que daria origem a um enredo edificante e muito inspirado. Apesar de ter três horas de duração nunca se torna cansativo ou enfadonho, fruto do grande trabalho de Trumbo. Além dele o filme ainda contou com a primorosa direção de Stanley Kubrick, naquele que pode ser considerado o único épico histórico de sua carreira. O diretor foi minucioso na recriação do modo de vida dos romanos da época, estudando a fundo os mosaicos que sobreviveram ao tempo. Um historiador foi inclusive contratado atendendo uma sugestão de Kubrick que sempre foi um perfeccionista. Some-se a isso um elenco de primeira linha contando com Kirk Douglas em grande forma física, Peter Ustinov como o dono da casa de Batiatus (ele seria premiado com o Oscar por sua atuação), Laurence Olivier como o astuto general e político romano Crassus e Tony Curtis interpretando o escravo Antoninus, menestrel e declamador de poesias. Sua cena no banho ao lado de Olivier se tornou famosa por causa das claras insinuações homossexuais entre os dois personagens. A película sofreu uma restauração em 1991 resultando em uma versão com 10 minutos a mais de projeção, seguindo os planos iniciais de Kubrick. Em suma "Spartacus" merece todo o status que possui pois é de fato um dos grandes filmes da história.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Os Puxa-Sacos

Como sempre o título nacional é de amargar. Tudo bem, é uma comédia até bobinha, talvez nem merecesse qualquer resenha, mas de uma forma ou outra vale pelo menos a menção pelo elenco. O filme é estrelado pelo ator Michael J. Fox. Bom, se você foi cinéfilo na década de 80 sabe muito bem quem ele é, o adolescente que viajava no tempo na franquia inesquecível "De Volta Para o Futuro". Além disso ele por muitos anos participou de uma sitcom muito divertida e popular (até mesmo no Brasil) chamada "Caras e Caretas" que era exibida no final das tardes na Rede Globo naquela saudosa década.

Michael J. Fox é sempre uma atração a mais, porém o que vale mesmo a pena aqui é rever o veterano e ídolo da era de ouro do cinema americano Kirk Douglas em uma de suas últimas participações na tela grande. Douglas (que ainda está vivo, quase chegando aos 100 anos de idade que completará no ano que vem) é um daqueles mitos da história do cinema que vale qualquer sacrifício, até mesmo o de gastar algum dinheiro com uma comédia descartável como essa. Por causa da sua idade avançada ele não aparece muito no filme, mas quando surge mostra que ainda é um dos mais carismáticos astros que já passaram por Hollywood. Então, diante disso, esqueça o péssimo título nacional e arrisque conhecer. O Kirk vale o esforço.

Os Puxa-Sacos (Greedy, Estados Unidos, 1994) Direção: Jonathan Lynn / Roteiro: Lowell Ganz, Babaloo Mandel / Elenco: Michael J. Fox, Kirk Douglas, Nancy Travis / Sinopse: Comédia estrelada pelo carismático ator Michael J. Fox e o veterano da era de ouro do cinema, Kirk Douglas.  

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Glória Feita de Sangue

Provavelmente seja o melhor filme já realizado enfocando a I Guerra Mundial. Esse foi um conflito terrível onde as batalhas eram travadas por meses a fio, sem movimentação, em trincheiras imundas e enlameadas onde as tropas literalmente apodreciam de doenças e frio enquanto os oficiais do alto comando viviam em ambientes luxuosos, verdadeiros palacetes, se auto reverenciando com suas medalhas sem honra. Stanley Kubrick criou uma obra prima a partir de uma estória até mesmo simples mas muito significativa. Na trama uma ordem sem qualquer base na realidade é passada entre os oficiais sedentos por novas condecorações e promoções. A meta é tomar uma posição praticamente inexpugnável em uma colina íngreme e fortemente defendida pelo exército inimigo. O grande Kirk Douglas interpreta o Coronel francês Dax que acaba tendo que cumprir as ordens provenientes de dois generais sem qualquer contato com a realidade do front. Ele sabe que o ataque é impossível em vista da situação de seus homens mas tem que ir em frente para cumprir as ordens de seus superiores.

Na hora do ataque uma parte dos soldados franceses simplesmente se recusa a avançar por ser um ato praticamente suicida. Em vista disso uma corte marcial é instaurada, com soldados inocentes sendo levados para a pena capital como meros bodes expiatórios. Stanley Kubrick, de forma genial, expõe as vísceras do exército francês durante o conflito. Generais insanos, embriagados em sua própria glória infame, tenentes covardes, soldados abandonados à própria sorte e um Coronel tentando a todo custo trazer de volta a verdadeira honra para as fileiras de um alto comando condenado do ponto de vista moral. O roteiro é um primor e foge completamente da fórmula dos filmes da época, evitando sempre cair na armadilha fácil e boba do patriotismo ufanista, erguendo ao invés disso uma bandeira de realismo que soa completamente revolucionária para os filmes de guerra daqueles anos. No final não sobra pedra sobre pedra. O filme no fundo mostra a pior situação que um bom soldado pode se encontrar numa guerra, quando seu comando é completamente inepto e enlouquecido. Um filme muito atual e completamente essencial para quem gosta do gênero. Obra prima certamente.

Glória Feita de Sangue (Paths of Glory, Estados Unidos, 1957) Direção: Stanley Kubrick / Roteiro: Stanley Kubrick, Calder Willingham / Elenco: Kirk Douglas, Ralph Meeker, Adolphe Menjou / Sinopse: Durante a Primeira Guerra Mundial um General francês almejando subir ainda mais na hierarquia militar promove um ataque suicida sem qualquer possibilidade de sucesso. O desastre acaba levando alguns soldados à corte marcial acusados injustamente de covardia. Para defende-los um Coronel ético e idealista tenta evitar que sejam executados por não terem levado em frente aquelas ordens superiores sem qualquer base na realidade do front.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Kirk Douglas


Kirk Douglas (1916 - 2020)
Ontem faleceu um dos grandes nomes da era de ouro de Hollywood. Kirk Douglas nasceu em 9 de dezembro de 1916, na cidade de Amsterdam, no estado de Nova Iorque. Para homenagear esse grande nome da história de Hollywood aqui vão alguns momentos importantes em sua carreira. A começar pelo filme O Invencível de 1949 (foto acima). Foi com essa produção que o ator conseguiu sua primeira indicação ao Oscar. Nesse filme ele interpretava o boxeador Midge Kelly que precisava vencer não apenas os oponentes no ringue, mas também os inúmeros desafios em sua vida pessoal.


Assim Estava Escrito (1952) - Três anos depois de ser indicado ao Oscar por O Invencível, Kirk Douglas arrancou nova indicação por sua excelente atuação no drama The Bad and the Beautiful, um dos melhores filmes sobre o mundo da indústria cinematográfica americana. No ótimo roteiro Kirk interpretava Jonathan Shields, um produtor de Hollywood com muita ganância e vontade de fazer sucesso. Para alcançar seus objetivos ele não mede esforços, explorando e manipulando as pessoas ao seu redor, como uma atriz (Lana Turner, na foto acima), um escritor e um diretor, que relembram seus momentos ao lado de Shields no passado. Dentro da filmografia rica e vasta de Douglas esse é certamente um de seus melhores filmes. Maravilhoso.


Sede de Viver (1956) - A última indicação ao Oscar para o genial Kirk Douglas veio com essa cinebiografia sobre o atormentado mestre da pintura Vincent Van Gogh. O roteiro, primorosamente escrito por Norman Corwin, mostrava não apenas aspectos dramáticos da vida do pintor, mas também sua amizade próxima com outro gênio de sua época, Paul Gauguin, aqui interpretado pelo temperamental Anthony Quinn. Com direção de Vincente Minnelli o filme é considerado uma obra prima da sétima arte no apogeu do cinema clássico americano. Em 1996 Kirk Douglas seria homenageado pela Academia por sua longa contribuição para a história do cinema. Ele, que havia sido indicado a três prêmios e nunca vencido, tinha finalmente o reconhecimento da indústria por seu maravilhoso trabalho como ator, produtor, escritor, compositor e diretor. Um artista completo.


E não se pode esquecer que de todos os seus filmes o mais popular segue sendo mesmo "Spartacus", produção épica de Hollywood. Baseado em fatos históricos reais o filme mostrava a maior rebelião de escravos da história de Roma. Um escravo gladiador conseguia reunir um grande exército para desafiar o poderoso império romano. O filme foi um grande sucesso de público e crítica e consolidou a fama do ator no cinema. O projeto foi bem pessoal. Ele se envolveu em todos os aspectos do filme, desde o roteiro até as filmagens. 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Gary Cooper / Kirk Douglas


Foto promocional do faroeste Only The Brave, de 1930, com Gary Cooper. Dirigido por Frank Tuttle o filme foi um dos primeiros grandes sucessos da carreira de Cooper. Em cena ele interpretava o galante Capitão James Braydon, oficial da cavalaria americana em expedição por um território selvagem do velho oeste. Em seu caminho surgem guerreiros sioux ávidos por vingança após o exército americano atacar as forças de um orgulhoso cacique da tribo. Para piorar a situação a nação está em guerra civil e Cooper interpreta esse bravo militar que decide ficar do lado da União. Depois de enfrentar os índios revoltosos ele é enviado para uma missão praticamente suicida, além das linhas inimigas do general Robert E. Lee, o grande comandante das tropas confederadas do sul.


Kirk Douglas em cena do clássico de western "Embrutecido Pela Violência" (1951). Dirigido pelo cineasta consagrado Raoul Walsh. Em busca de um maior realismo das cenas Walsh negou a pretensão da Warner, produtora do filme, em filmar tudo dentro dos grandes estúdios da companhia em Hollywood. Com várias cenas de montanhas e ao ar livre Raoul decidiu que iria levar toda a sua equipe para locações naturais no Alabama e Califórnia. As filmagens foram complicadas, principalmente pelo risco de acidentes dos atores e equipe técnica, porém o resultado final se revelou espetacular, com ótimas sequências nas colinas. Um dos grandes faroestes dos anos 50 e um dos melhores momentos de Kirk Douglas no gênero.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Galeria Cine Western - Kirk Douglas


Kirk Douglas em imagem promocional do western da Universal Pictures "Homem Sem Rumo" (Man Without a Star, EUA, 1951). No filme o ator interpretava um cowboy chamado Dempsey Rae, um homem em busca de si mesmo que acabava se envolvendo em uma intriga mortal no velho oeste. O filme foi produzido pelo próprio Kirk Douglas e se tornou um grande sucesso de bilheteria, abrindo as portas para que Douglas procurasse cada vez mais por projetos ousados e de apelo popular. Essa mesma produtora, de sua propriedade, iria produzir alguns anos depois o grande épico "Spartacus" onde Kirk Douglas finalmente chegaria ao ápice, ao auge de toda a sua carreira cinematográfica. "Man Without Star" foi dirigido pelo mestre King Vidor e até hoje é considerado um dos grandes faroestes clássicos dos anos 1950. Um marco na carreira de Douglas.

As guerras indígenas sempre foram bastante exploradas por roteiristas americanos durante os anos 1950. Aqui vemos Maureen O'Hara e Jeff Chandler no clássico western "A Grande Audácia" (War Arrow, EUA, 1953), película dirigida pelo mestre do faroeste George Sherman, que inclusive tinha nome de general da guerra civil. O filme mostrava a luta para se chegar a um acordo de paz com os guerreiros apaches e Kiowas em um território hostil e deserto do oeste americano. Um dos grandes interesses do filme vem justamente da presença de Maureen O'Hara que iria se tornar uma das mais queridas Ladys dos filmes de western da época. As filmagens foram realizadas no deserto Nogales, no Arizona e numa das cenas de batalha o ator e astro Jeff Chandler se feriu gravemente ao cair de um cavalo em disparada o que fez com que as filmagens fossem interrompidas por mais de dois meses. Ossos do ofício de se interpretar um herói do velho oeste naqueles tempos heróicos.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Embrutecido Pela Violência

Ontem assisti a mais um clássico western americano. Esse ainda era inédito para mim. É uma produção de 1951 estrelada por Kirk Douglas e dirigida pelo mestre Raoul Walsh chamada "Embrutecido Pela Violência". Acabei inclusive de publicar uma resenha no blog Cine Western que pode ser facilmente acessada clicando aqui. Além do já tradicional roteiro, típico de faroestes da época, esse filme me intrigou porque tocou em um ponto que acho crucial: as falhas do sistema judiciário (seja ele de que país for). Douglas interpreta um agente federal obcecado em seguir a lei ao pé da letra, em seus menores detalhes. Nada de pensar em fazer justiça pelas próprias mãos. Assim quando encontra um grupo de homens prontos para pendurarem numa árvore um velho acusado de ter roubado gado e matado o querido filho de um rancheiro da região, ele nem pensa duas vezes e saca suas armas para deter o ato de pura vingança (e não justiça, em sua particular forma de entender a situação). Ele consegue salvar a vida do sujeito, mas ao mesmo tempo se coloca em perigo já que o grupo não se contenta com o que aconteceu e passa a caçá-lo pelo deserto californiano. Acontece que o seu prisioneiro também tem uma filha, interpretada pela beldade Virginia Mayo, que também está disposta a fazer de tudo para que seu pai não seja condenado. Na jornada pelo deserto o Marshal conta apenas com a ajuda de dois assistentes; Já do outro lado e em seu encalço vai um verdadeiro bando de foras-da-lei, prontos para acabarem com sua vida e a de seu prisioneiro.

O veterano Kirk Douglas ainda vive e é um verdadeiro sobrevivente. Provavelmente seja o último grande astro da era de ouro do cinema americano ainda vivo. Aos 99 anos de idade, Kirk é mais durão do que todos os cowboys juntos que interpretou ao longo de sua vida. Com 92 filmes no currículo, em mais de 60 anos de carreira, ele foi um verdadeiro workaholic em seus tempos de glória. O curioso na carreira dele é que jamais se limitou a apenas um gênero cinematográfico, abraçando todo tipo de projeto que lhe parecesse interessante. Também foi um artista corajoso e independente que enfrentou de frente grupos poderosos da época. Em plena era das caças às bruxas da paranóia anticomunista ele foi o único em Hollywood que teve coragem de empregar profissionais que estavam na lista negra do Macartismo, entre eles o genial roteirista Dalton Trumbo que havia sido impedido de trabalhar nos grandes estúdios por ter sido acusado de ser membro do partido comunista. Douglas topou a briga e o contratou mesmo sob diversas ameaças de boicote. No final o filme se tornou um grande clássico e Kirk Douglas se tornou um dos responsáveis pelo fim daquela loucura que se espalhava na indústria cultural americana.

Já a atriz Virginia Mayo era outra profissional de muita garra na luta por sua carreira. Ela nasceu em St. Louis, Missouri, no ano de 1920. Desde cedo quis ser atriz de cinema, mas isso exigia um esforço e tanto para conseguir. Considerada uma rainha da beleza ela começou sua vida profissional atuando como modelo (linda como era, não houve maiores problemas sobre isso). Como também era dançarina teve sua primeira oportunidade de aparecer no musical "Follies Girl" de 1939. Aos pouquinhos foi subindo os degraus da fama. Quando atuou ao lado de Kirk Douglas em "Embrutecido Pela Violência" já era uma estrela de renome, capa de revistas e badalada dentro da indústria cinematográfica. Quando o filme foi lançado boatos de que estaria namorando Kirk surgiram na imprensa. No filme inclusive podemos notar seus esforços em se destacar apenas pelo talento dramático e não apenas pelo seu bonito rosto. Ela está com cabelos curtinhos, estilo Joãozinho, em roupas simples, rurais, e modos rudes e rústicos. Isso em nada tirou seu brilho pessoal, pelo contrário, só a deixou mais charmosa - mesmo que estivesse com um rifle nas mãos! Ela tinha um olhar muito expressivo que foi perfeitamente captado pelas lentes do cineasta Raoul Walsh. No roteiro do filme ela quer de todo custo salvar seu pai que caminha rapidamente para a morte (seja pelas mãos da justiça, seja pelos rancheiros que o acusam de vários crimes). Para isso vale tudo, até mesmo se enamorar pelo xerife durão Douglas - o que convenhamos não era nada fácil. Enfim, coisas de Hollywood...

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Kirk Douglas e o Western

Embrutecido Pela Violência (1951)
Len Merrick (Kirk Douglas) é um orgulhoso Marshal federal que evita um enforcamento numa cidade do velho oeste. O acusado, Timothy 'Pop' Keith (Walter Brennan), está para ser enforcado por supostamente ter roubado gado e assassinado o filho de um rico e influente rancheiro da região. Para Len sua execução é completamente ilegal e por essa razão ele se compromete a levar Keith até um tribunal do júri na cidade de Santa Loma onde finalmente será devidamente julgado, perante um juiz de direito e um corpo de jurados, tudo como manda a lei. A jornada até lá porém não será tranquila e nem pacífica pois a família Roden está disposta a vingar a morte de um de seus membros. Esse western dirigido pelo mestre Raoul Walsh tem um argumento muito mais sofisticado do que pode parecer à primeira vista. A história não foge muito do que vemos na tela, com um obcecado homem da lei tentando seguir os trâmites legais a todo custo, mesmo sendo ameaçado e perseguido por um bando de justiceiros pelo deserto afora. A questão é que uma vez em Santa Loma - para onde está levando um acusado - ele descobre que nem sempre a justiça é devidamente feita pelos tribunais. Há uma série de influências econômicas, sociais e extra jurídicas que determinam se alguém é considerado culpado ou não. Durante a jornada até lá ele vai colhendo impressões e verdades sobre o homem que tem sob custódia e descobre que seu próprio julgamento pessoal, criado na convivência com o suposto criminoso, tem mais validade do que um apressado e mal feito julgamento na calada da noite. Só esse aspecto já tornaria o filme bem acima da média dos demais faroestes da época, mas há outras qualidades dignas de nota. Walsh rodou um filme enxuto, diria até econômico, porém muito bonito, em bela fotografia em preto e branco. Rodado no deserto da Califórnia, em belas locações com penhascos e rochas enormes, o filme se valoriza enormemente por causa desse cenário natural rico em bonitas paisagens. O elenco também é outro ponto forte. Kirk Douglas está de certo modo em seu tipo habitual, a do xerife durão, até insensível que carrega velhos traumas do passado, em especial uma certa culpa pelo que aconteceu ao seu pai anos atrás (ele também era um homem da lei íntegro que acabou sendo linchado por tentar cumprir o que dizia a letra fria do devido processo legal). Agora, firme em suas convicções, ele precisa levar o acusado perante um juiz para que seja devidamente julgado. A questão é que a filha do homem preso, interpretada pela linda atriz Virginia Mayo, também quer justiça, mas ao seu modo. Douglas e Mayo inclusive soltam faíscas de atração no meio do deserto. Uma dupla que deu muito certo e que trouxe muita paixão reprimida para a tela. Com cabelos curtinhos e jeito até bem rude, Mayo acaba roubando todas as atenções por causa de sua personalidade ao mesmo tempo geniosa e sensual. Então é isso. "Embrutecidos Pela Violência" é muito mais do que aparenta ser. Um bom argumento, bem sólido e coerente, apoiado por um enredo que não nega os mais tradicionais cânones do western americano. / Embrutecido Pela Violência (Along the Great Divide, EUA, 1951) Direção: Raoul Walsh / Roteiro: Walter Doniger, Lewis Meltzer / Elenco: Kirk Douglas, Virginia Mayo, John Agar, Walter Brennan.

A Floresta Maldita (1952)

Jim Fallon (Kirk Douglas) é um madeireiro astuto e falastrão que após ter vários problemas na costa leste resolve ir até as fronteiras do oeste selvagem em busca de novas florestas para devastar e fazer fortuna. Chegando na Califórnia ele encontra uma rica reserva natural mas encontra obstáculos para colocar as mãos em toda a matéria prima pois a terra é disputada por madeireiros rivais e um grupo religioso que pretende preservar as milenares árvores do local. Se fazendo passar por um rico milionário que quer apenas preservar a rica floresta ele acaba conseguindo finalmente a posse da mata. Agora terá que escolher entre explorar comercialmente a madeira do local ou ouvir sua consciência deixando intacta a floresta e suas árvores suntuosas e majestosas. Esse “A Floresta Maldita” tem um roteiro ecológico, e isso muitas décadas antes da ecologia virar moda. Claro que a consciência de se preservar as florestas não tem a mesma abrangência do que atualmente se vê mas mesmo assim o roteiro tenta de todas as formas mostrar que também é importante preservar a riqueza natural por sua importância para as futuras gerações. Embora seja um filme muito bem intencionado nesse aspecto “A Floresta Maldita” também apresenta problemas. Em vários momentos a estória se torna truncada e mal desenvolvida, há um excesso de detalhes jurídicos envolvendo a trama que só a torna cansativa e arrastada. O roteiro perde muito potencial discutindo quem seria o verdadeiro possuidor da floresta e quem teria o direito de explorar toda aquela madeira. O personagem de Kirk Douglas, por exemplo, passa quase todo o tempo tentando driblar a lei, forjando documentos falsos ou então elaborando novas fraudes para tomar conta de tudo. Isso acaba deixando o ritmo enfadonho e pouco atraente. As coisas de fato só melhoram mesmo quando o filme finalmente vai se aproximando de seu final. A questão jurídica é deixada de lado para apostar em boas cenas de ação. Na melhor delas o personagem de Kirk Douglas, tal como um Indiana Jones do faroeste, pula em cima de um trem em movimento que caminha para o abismo. Sua intenção é salvar a mocinha, separar o vagão onde ela está do restante da locomotiva e parar o mesmo antes que atravesse uma ponte de madeira sabotada!  Ufa! Cenas como essas literalmente salvam o filme da primeira parte mais arrastada e chata. No saldo final poderia realmente ser bem melhor mas do jeito que está até que diverte, apesar de alguns erros. Fica então a recomendação para os cinéfilos fãs do bom e velho Kirk Douglas. / A Floresta Maldita (The Big Trees, EUA, 1952) Direção: Felix E. Feist / Roteiro: John Twist, James R. Webb / Elenco: Kirk Douglas, Eve Miller, Patrice Wymore / Sinopse: Inescrupuloso e ganancioso madeireiro vai até a Califórnia com o objetivo de devastar uma rica floresta local. A tarefa porém não será nada fácil pois ele terá que enfrentar um grupo religioso que luta pela preservação da natureza e comerciantes de madeira rivais.

A Um Passo da Morte (1955)

Johnny Hawks (Kirk Douglas) lidera uma caravana de pioneiros no meio de um território indígena. Embora pacificadas as tribos do local vivem em tensão com os brancos por causa de minas de ouro recentemente descobertas. Um dos membros da caravana, Wes Todd (Walter Matthau), está particularmente interessado em descobrir o exato local dessas ricas minas. Para isso usará de todos os meios para ter em mãos a localização dessa imensa riqueza mineral. "A Um Passo da Morte" é uma produção de encher os olhos do espectador. O filme foi todo rodado na maravilhosa reserva natural de Bend, no Estado norte-americano do Oregon. Isso trouxe ao filme uma das mais belas fotografias que já vi em um faroeste dos anos 50. Rios de águas límpidas, montanhas e muito verde desfilam pela tela como um verdadeiro brinde aos espectadores. Junte-se a isso um bom roteiro, socialmente consciente, mostrando o profundo respeito dos índios em relação às riquezas naturais da região e você terá um belo western como resultado final. O filme é curto, menos de 80 minutos, mas muito eficiente. Um dos destaques é a ótima cena de ataque dos guerreiros Sioux contra o forte do exército americano. Usando de cavalos, flechas e lanças de fogo os indígenas demonstram ter bastante conhecimento de táticas de guerra e combate. A cena é excepcionalmente bem filmada e o próprio forte construído na locação impressiona pelo tamanho e realismo. Certamente não foi uma produção barata o que era bem do feitio do astro Kirk Douglas que sempre procurou o melhor em termos de produção para seus filmes. Aqui obviamente não seria diferente. Curiosamente o filme foi dirigido pelo húngaro André de Toth, um cineasta versátil que se saía bem dirigindo os mais diversos tipos de filmes, de faroestes a dramas, passando por alguns clássicos do terror (como "Museu de Cera" ao lado do amigo Vincent Price). Em conclusão recomendo sem hesitação esse excelente western bucólico, com lindas locações naturais, um belo romance ao fundo e muitas cenas de ação e conflitos. Está mais do que recomendado. / A Um Passo da Morte (The Indian Fighter, EUA, 1955) Direção: André de Toth / Roteiro: Frank Davis, Robert L. Richards / Elenco: Kirk Douglas, Walter Matthau, Elsa Martinelli, Lon Chaney Jr / Sinopse: Johnny Hawks (Kirk Douglas) lidera uma caravana de pioneiros no meio de um território indígena. Embora pacificados as tribos do local vivem em tensão com os brancos por causa de minas de ouro recentemente descobertas. Um dos membros da caravana, Wes Todd (Walter Matthau), está particularmente interessado em descobrir o exato local dessas ricas minas. Para isso usará de todos os meios para ter em mãos a localização dessa imensa riqueza mineral.

S
em Lei e Sem Alma (1957)
Entre tantas histórias que ficaram célebres no velho oeste poucas conseguiram alcançar a fama do tiroteio ocorrido no Ok Corral em Tombstone, Arizona. De um lado o lendário xerife Wyatt Earp (Burt Lancaster), seus irmãos e Doc Holliday (Kirk Douglas), do outro lado o bando dos irmãos Clanton. Ambos se enfrentaram face a face, cada um a poucos metros do outro, armas em punho, um duelo que entrou para a história e que foi fartamente explorado no cinema durante todos esses anos. Esse "Sem Lei e Sem Alma" é até hoje considerado uma das melhores versões já feitas sobre o evento. O roteiro é extremamente bem trabalhado, nitidamente dividido em dois atos que se fecham e se complementam de forma perfeita. No primeiro ato acompanhamos a chegada de Wyatt Earp numa pequena cidade do velho oeste. Ele vem no encalço de Johnny Ringo (John Ireland) e seu bando. Lá se aproxima do pistoleiro e jogador inveterado Doc Holliday e acaba salvando sua vida ao ajudá-lo a fugir de seu próprio linchamento. No segundo ato encontramos os personagens já em Tombstone, a lendária cidade, onde nos 15 minutos finais do filme ocorrerá o famoso confronto no O.K. Corral. Burt Lancaster e Kirk Douglas estão perfeitos em seus papéis. Kirk Douglas em especial encontrou grande afinidade entre sua própria personalidade expansiva e extrovertida e a figura do lendário Doc Holliday. Esse como já tive a oportunidade de escrever é realmente um personagem à prova de falhas. Um dentista corroído pela tuberculose que ocupava todo seu tempo jogando cartas e se envolvendo em confusões pelas cidadezinhas por onde passava. O que fazia de Doc um ótimo pistoleiro é que seu instinto de preservação já não era tão acentuado pois sempre se via no limite, à beira da morte, por isso para ele tanto fazia morrer em um tiroteio ou escapar vivo para mais um duelo à frente. Sua frieza e pontaria certeira o transformaram em uma lenda do velho oeste. Já Wyatt Earp também encontrou um ator ideal em Burt Lancaster. Íntegro, honesto e temido, procurava manter a lei em uma região infestada de facínoras e bandoleiros. O duelo no O.K. Curral foi apenas uma das inúmeras histórias envolvendo esse famoso homem da lei. Para finalizar é bom salientar que a despeito de sua imensa qualidade cinematográfica, "Sem Lei e Sem Alma" não é completamente fiel aos fatos históricos. O próprio duelo final, razão de existência do filme, não ocorreu da forma mostrada no filme. De fato os eventos reais foram bem mais simples, pois os dois grupos rivais estavam frente a frente, a poucos metros uns dos outros. No filme há toda uma sequência de cenas que não existiram como a queima da carroça, por exemplo. Johnny Ringo, o famoso pistoleiro, também não estava no confronto do O.K. Ele foi morto tempos depois no meio do deserto. Suspeita-se que foi morto por Doc Holliday pois ambos tinham uma rivalidade antiga que só seria resolvida com armas em punho. De qualquer forma esses detalhes em nada diminuem a extrema qualidade de "Sem Lei e Sem Alma", que hoje é considerado merecidamente um dos melhores westerns já realizados. Uma obra prima certamente. / Sem Lei e Sem Alma (Gunfight at the O.K. Corral, EUA, 1957) Direção: John Sturges / Roteiro: Leon Uris baseado no artigo escrito por George Scullin / Elenco: Burt Lancaster, Kirk Douglas, Rhonda Fleming, Jo Van Fleet, John Ireland, Frank Faylen, Ted de Corsia, Dennis Hopper, DeForest Kelley, Martin Milner / Sinopse: Wyatt Earp (Burt Lancaster), seus irmãos e Doc Holliday (Kirk Douglas) resolvem enfrentar cara a cara um bando de ladrões de gado no O.K. Corral em Tombstone, Arizona.

Sua Última Façanha (1962)

Um grande filme! Resolvi assistir depois de tomar conhecimento de que esse era o filme preferido do próprio Kirk Douglas. Depois de conferir devo dizer que concordo com o ator em gênero, número e grau. Embora tenha estrelado vários e vários clássicos ao longo de uma das carreiras mais produtivas e bem sucedidas em Hollywood não há em sua extensa filmografia nenhum filme que tenha tanto coração e sentimento como esse. Um roteiro que lida de maneira primorosa com o fim de um amado estilo de vida que definiu vários dos grandes heróis da história dos EUA. O grande mérito aqui é que Douglas, o diretor David Miller e principalmente o roteirista Dalton Trumbo conseguiram reunir vários gêneros em um só filme, com resultado bem acima da média. Se pode pensar que "Lonely Are The Brave" é apenas um western temporão, de um estilo que já estava se tornando fora de moda, mas isso é uma visão simplista. O filme passeia tranquilamente por vários estilos e gêneros, tangenciando os filmes policiais, on the road e até mesmo os dramas românticos, isso sem perder a direção em momento algum. Passado no moderno oeste americano somos apresentados ao personagem John W. "Jack" Burns (Kirk Douglas). Ele é um velho cowboy que tenta manter vivo seu estilo de vida em um mundo que definitivamente nada mais tem a ver com o passado. No meio de auto estradas, aviões a jato e carros modernos, Burns tenta manter de alguma forma intacta a figura mitológica do cowboy do velho oeste. Claro que agindo assim ele logo encontra problemas com a lei, com a sociedade e com a mentalidade moderna. Os jovens o acham uma peça de museu mas ele insiste em manter sua dignidade intacta. Duas coisas impressionam no filme: O lirismo subliminar do roteiro e a eficiente caçada final a Burns em uma montanha rochosa íngreme. Algumas cenas são as melhores que já vi. Fiquei imaginando como devem ter sido complicadas as filmagens em loco, até porque subir com um cavalo em um ambiente daqueles é quase impossível (em muitos momentos fiquei realmente receoso do cavalo e do dublê de Douglas caírem montanha abaixo, tal o perigo das tomadas feitas). Em conclusão podemos afirmar que "Sua Última Façanha" é uma excelente crônica sobre a mudança de costumes que se sucedem de uma época histórica para outra. O velho mito que se depara com os desafios da modernidade. Em vista de tudo isso certamente vai agradar aos fãs de western e também aos que querem conhecer melhor essa fase de mudanças profundas no modo de viver dos mitos do passado. Vale muito a pena conhecer, certamente. / Sua Última Façanha (Lonely Are the Brave, EUA, 1962) / Diretor: David Miller / Roteiro: Dalton Trumbo / Elenco: Kirk Douglas, Gena Rowlands, Walter Matthau / Sinopse: Para libertar Bondi (Gena Rowlins), sua melhor amiga, Jack Burns (Kirk Douglas) deixa-se prender. Depois de saber que Bondi não quer sair de lá, Burns é tido como fugitivo e passa a ser perseguido pela polícia. Baseado no livro de Edward Abbey, The Brave Cowboy.

Gigantes em Luta (1967)
Terceira e última parceria entre os grandes astros John Wayne e Kirk Douglas. No filme Wayne interpreta Taw Jackson que resolve se unir ao pistoleiro e ladrão Lomax (Kirk Douglas) para colocar em prática um plano mais do que ousado: roubar um carregamento de ouro no valor de 500 mil dólares. O grande desafio deles é além de enfrentar a forte segurança que acompanha a fortuna, conseguir vencer a própria carroça que transporta o ouro pois essa é fortemente armada com um potente metralhadora, além de ser blindada, se tornando praticamente inexpugnável. “Gigantes em Luta” é um western de pura ação, com muitas cenas de conflitos e tiroteios. Durante as filmagens Kirk Douglas teve uma surpresa que o impactou. John Wayne havia perdido o pulmão em uma complicada operação três anos antes contra o câncer e estava bem debilitado fisicamente, precisando recorrer regularmente a uma bolsa de oxigênio para dar conta das complicadas filmagens (que lhe exigiam muito do ponto de vista físico). Douglas assim passou todo o tempo muito preocupado com o estado de Wayne, tendo que conciliar sua preocupação em atuar bem com a saúde do colega. Uma das “estrelas” do filme era a própria carroça blindada que levava o carregamento de ouro, chamada “War Wagon”. Durante anos ela foi exposta no parque temático da Universal ao lado de vários outros artefatos famosos de filmes clássicos. O curioso é que a “War Wagon” era na realidade feita de madeira pintada para parecer aço e ferro. Com o uso de efeitos sonoros (para recriar o som característico dos metais) completou-se a ilusão de que se estava na presença de uma carroça realmente blindada. O diretor de “Gigantes em Luta” era Burt Kennedy, que se deu tão bem com o astro Wayne que esse o trouxe de volta para dirigir “Chacais do Oeste” cinco anos depois. O diferencial é que Kennedy sempre procurava respeitar os limites que a saúde de John Wayne exigia. Assim ele procurava filmar as cenas com o ator de forma concentrada, para evitar deixar Wayne por longas horas à espera de trabalhar em suas cenas. Também sempre deixava o ator à vontade, sem aquele clima de tensão no set, algo bem típico de Hollywood. O resultado de tudo é mais um belo western na filmografia de John Wayne, aqui ao lado de outro mito do cinema americano, Kirk Douglas. Simplesmente imperdível para os fãs do gênero. / Gigantes em Luta (The War Wagon, EUA, 1967) Direção: Burt Kennedy / Roteiro: Clair Huffaker, baseado em sua novela, The War Wagon / Elenco: John Wayne, Kirk Douglas, Howard Keel, Robert Walker Jr, Keenan Wynn / Sinopse:  Dois ladrões se unem para roubar uma carroça blindada que transporta um grande carregamento de ouro no valor de 500 mil dólares.

Ambição Acima da Lei (1975)
Howard Nightingale (Kirk Douglas) é um delegado do Texas com grande ambição política. Pomposo e vaidoso transforma cada prisão que realiza em propaganda para sua campanha. Seu grande objetivo é ser eleito senador do Texas no congresso americano. Para isso viaja de cidade em cidade em sua própria locomotiva ao lado de seu grupo de auxiliares, todos impecavelmente bem vestidos. A grande chance de conquistar muitos votos surge na captura do bandido mais procurado do estado, o ladrão de trens Jack Strawhorn (Bruce Dern). Após eliminar todo o seu bando, Nightingale consegue encurralar o bandido perto de uma cidadezinha do velho oeste. Após a captura o leva para lá e realiza um verdadeiro comício com o evento, com direito a banda de música e tudo. Depois decide levar o criminoso para Austin onde pretende literalmente exibi-lo como troféu pelas ruas da grande cidade, obviamente tentando com isso angariar o maior número possível de votos para sua eleição ao senado. No caminho porém as coisas saem do controle e agora Nightingale terá que provar que não é apenas um político falastrão mas um delegado de verdade. “Ambição Acima da Lei” foi um projeto muito pessoal do ator Kirk Douglas. Aqui ele atua, dirige e produz um western dos mais interessantes, uma verdadeira crítica à classe política de seu país, onde homens públicos utilizam aspectos inerentes aos seus deveres para única e exclusivamente se auto promoverem. O delegado interpretado por Douglas é um sujeito que se torna extremamente ambicioso em alcançar uma carreira política de sucesso e se distrai de suas verdadeiras obrigações como homem da lei. O roteiro se aproveita para no final o colocar como vítima da ambição de seus homens, o fazendo saborear do próprio veneno. Aliás o clímax de “Ambição Acima da Lei” é um dos mais inteligentes do cinema americano. Muito ácido e corrosivo, expõe as vísceras dos homens públicos de lá. Outro aspecto a chamar a atenção é que o filme foi realizado em 1975, já no ocaso do gênero, com Kirk Douglas bem veterano, mas tentando manter a chama do faroeste acessa. O resultado não poderia ser melhor, um filme inteligente, intrigante e com um raro sabor de crítica social. / Ambição Acima da Lei (Posse, EUA, 1975) Direção: Kirk Douglas / Roteiro: Christopher Knopf, William Roberts / Elenco: Kirk Douglas, Bruce Dern, Bo Hopkins / Sinopse: Delegado do Texas (Kirk Douglas) não perde a chance de fazer campanha política por onde passa. Nem quando prende o mais perigoso bandido do estado deixa de se auto promover visando ser eleito ao senado dos Estados Unidos. Sua subida ao poder porém sofrerá uma série de problemas.

Cactus Jack - O Vilão (1979)
Um xerife do velho oeste que mais parece uma montanha de músculos chamado Handsome Stranger (Arnold Schwarzenegger) serve como escolta para a bela Charming Jones (Ann-Margret) mas ambos correrão grande perigo pois um perigoso vilão chamado Cactus Jack (Kirk Douglas) pretende colocar as mãos no dinheiro que ela carrega na viagem. Na década de 80 essa comédia passada no velho oeste ganhou várias reprises na TV aberta brasileira. È um tipo de estilo que certamente não agradará a todos. Se você é um fã de filmes de western então tudo ficará muito mais complicado pois o roteiro brinca bastante com os clichês do gênero. Para os fãs do astro brutamontes Arnold Schwarzenegger a produção vai servir como uma grande curiosidade uma vez que ele na época ainda não era o campeão de bilheteria dos anos que viriam. Seu papel é simpático e o fortão procura não estragar o estilo cômico da produção. Kirk Douglas e Ann-Marget da era clássica de Hollywood também não parecem se importar muito. Desligue o cérebro e tente se divertir. / Cactus Jack - O Vilão (EUA, 1979) Direção: Hal Needham / Roteiro: Robert G. Kane / Elenco: Kirk Douglas, Ann-Margret, Arnold Schwarzenegger, Footer Brooks.

Pablo Aluísio.