segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Embrutecido Pela Violência

Ontem assisti a mais um clássico western americano. Esse ainda era inédito para mim. É uma produção de 1951 estrelada por Kirk Douglas e dirigida pelo mestre Raoul Walsh chamada "Embrutecido Pela Violência". Acabei inclusive de publicar uma resenha no blog Cine Western que pode ser facilmente acessada clicando aqui. Além do já tradicional roteiro, típico de faroestes da época, esse filme me intrigou porque tocou em um ponto que acho crucial: as falhas do sistema judiciário (seja ele de que país for). Douglas interpreta um agente federal obcecado em seguir a lei ao pé da letra, em seus menores detalhes. Nada de pensar em fazer justiça pelas próprias mãos. Assim quando encontra um grupo de homens prontos para pendurarem numa árvore um velho acusado de ter roubado gado e matado o querido filho de um rancheiro da região, ele nem pensa duas vezes e saca suas armas para deter o ato de pura vingança (e não justiça, em sua particular forma de entender a situação). Ele consegue salvar a vida do sujeito, mas ao mesmo tempo se coloca em perigo já que o grupo não se contenta com o que aconteceu e passa a caçá-lo pelo deserto californiano. Acontece que o seu prisioneiro também tem uma filha, interpretada pela beldade Virginia Mayo, que também está disposta a fazer de tudo para que seu pai não seja condenado. Na jornada pelo deserto o Marshal conta apenas com a ajuda de dois assistentes; Já do outro lado e em seu encalço vai um verdadeiro bando de foras-da-lei, prontos para acabarem com sua vida e a de seu prisioneiro.

O veterano Kirk Douglas ainda vive e é um verdadeiro sobrevivente. Provavelmente seja o último grande astro da era de ouro do cinema americano ainda vivo. Aos 99 anos de idade, Kirk é mais durão do que todos os cowboys juntos que interpretou ao longo de sua vida. Com 92 filmes no currículo, em mais de 60 anos de carreira, ele foi um verdadeiro workaholic em seus tempos de glória. O curioso na carreira dele é que jamais se limitou a apenas um gênero cinematográfico, abraçando todo tipo de projeto que lhe parecesse interessante. Também foi um artista corajoso e independente que enfrentou de frente grupos poderosos da época. Em plena era das caças às bruxas da paranóia anticomunista ele foi o único em Hollywood que teve coragem de empregar profissionais que estavam na lista negra do Macartismo, entre eles o genial roteirista Dalton Trumbo que havia sido impedido de trabalhar nos grandes estúdios por ter sido acusado de ser membro do partido comunista. Douglas topou a briga e o contratou mesmo sob diversas ameaças de boicote. No final o filme se tornou um grande clássico e Kirk Douglas se tornou um dos responsáveis pelo fim daquela loucura que se espalhava na indústria cultural americana.

Já a atriz Virginia Mayo era outra profissional de muita garra na luta por sua carreira. Ela nasceu em St. Louis, Missouri, no ano de 1920. Desde cedo quis ser atriz de cinema, mas isso exigia um esforço e tanto para conseguir. Considerada uma rainha da beleza ela começou sua vida profissional atuando como modelo (linda como era, não houve maiores problemas sobre isso). Como também era dançarina teve sua primeira oportunidade de aparecer no musical "Follies Girl" de 1939. Aos pouquinhos foi subindo os degraus da fama. Quando atuou ao lado de Kirk Douglas em "Embrutecido Pela Violência" já era uma estrela de renome, capa de revistas e badalada dentro da indústria cinematográfica. Quando o filme foi lançado boatos de que estaria namorando Kirk surgiram na imprensa. No filme inclusive podemos notar seus esforços em se destacar apenas pelo talento dramático e não apenas pelo seu bonito rosto. Ela está com cabelos curtinhos, estilo Joãozinho, em roupas simples, rurais, e modos rudes e rústicos. Isso em nada tirou seu brilho pessoal, pelo contrário, só a deixou mais charmosa - mesmo que estivesse com um rifle nas mãos! Ela tinha um olhar muito expressivo que foi perfeitamente captado pelas lentes do cineasta Raoul Walsh. No roteiro do filme ela quer de todo custo salvar seu pai que caminha rapidamente para a morte (seja pelas mãos da justiça, seja pelos rancheiros que o acusam de vários crimes). Para isso vale tudo, até mesmo se enamorar pelo xerife durão Douglas - o que convenhamos não era nada fácil. Enfim, coisas de Hollywood...

Pablo Aluísio.

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