sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Elvis On Tour The Rehearsals

Quando esse CD foi lançado eu escrevi aqui mesmo em nosso site o seguinte: "Todos sabem que Elvis On Tour possui um rico acervo de material inédito, não só de imagens gravadas para o filme e que nunca foram utilizadas, mas também de músicas e versões que estão arquivadas há anos pela gravadora de Elvis. Esse é só um exemplo do que nunca foi mostrado antes. São ensaios feitos por Elvis dentro do projeto Standing Room Only, que depois foi renomeado para Elvis On Tour. Mas é sempre bom ressaltar que isso é apenas uma pálida amostra do que está por vir nos próximos anos. Esperamos que o tão aguardado e prometido DVD venha com grande parte desses arquivos perdidos. Só nos resta esperar e torcer!" Um ano depois ainda estamos em compasso de espera. De qualquer forma esse CD é a prova viva de que muito material de excelente qualidade ainda está por aí, ou efetivamente arquivado pela EPE e pela BMG ou então esquecido em algum depósito da MGM, apenas esperando para finalmente sair à tona!

Porém isso não é tudo, fora essas duas hipóteses, existe uma terceira via que cada vez mais tem se destacado na divulgação dessas imagens e registros. Enquanto as empresas oficiais que cuidam do acervo de Elvis não lançam quase nada de forma legal, vai o mercado paralelo ficando cada vez mais organizado e sofisticado e com o auxílio da Internet temos tido acesso a várias imagens desse projeto, cenas essas que muitos nem sequer sabem como surgiram ou como apareceram na web! Quem são essas pessoas que, pela primeira vez, resolveram colocar essas imagens na net? Certamente, temendo um processo por violação de direitos autorais, muitos colecionadores procuram o anonimato e disponibilizam apenas alguns trechos desse filme. Apesar de muitos que apenas distribuem esse material assumirem uma posição de terem sido os que primeiro colocaram esses tapes pela net, sabemos muito bem que são apenas os atravessadores disso. Os verdadeiros colecionadores, aqueles que conseguiram os originais, as masters dos fotogramas no mercado negro, nunca irão aparecer de forma ostensiva. É a velha história, quando as pessoas que deveriam promover esse tipo de lançamento se omitem ou escondem esse material dos fãs em geral, acabam na verdade, com essa atitude, promovendo e abrindo espaço para que outros entrem nesse vácuo deixado e lancem eles mesmos, fragmentos desse acervo de forma ilícita.

Processo muito semelhante aconteceu com o especial "Elvis In Concert" de 1977. Desde o começo, a empresa que cuida dos direitos de Elvis, tentou varrer para debaixo do tapete esse programa de TV. A razão absurda apresentada seria a de que o especial iria macular a imagem de Elvis! Isso só vem demonstrar a imensa futilidade e falta de percepção da obra de Elvis por parte daqueles que hoje controlam o acervo do cantor. Como se pode ignorar um material desses e de tamanha importância histórica apenas porque Elvis não apresentava um bom aspecto físico? Esse tipo de atitude e de postura sempre me deixou bastante atônito! Os efeitos dessa omissão proposital da EPE são conhecidos de todos, pois o especial não deixou de chegar nas mãos dos fãs, a verdade é que ele chegou sim, porém de forma ilegal em cópias piratas. O que foi pior no final das contas? Com a tecnologia de nosso tempo não há como negar ou ignorar a existência de um projeto como esse, que repito, é muito importante, pois traz Elvis em seus últimos shows pelos EUA. Com "Elvis On Tour" temos uma situação parecida. Lançar o filme tal como foi apresentado nos cinemas em 1972 não irá trazer grandes novidades, principalmente para aqueles que sempre se empenharam em enriquecer suas coleções particulares.

Para esse tipo de público um DVD apenas com o filme seria banal demais. Por quê não resgatar todos os momentos perdidos que fizeram parte desse filme? O próprio diretor Martin Scorsese, que participou da montagem do documentário, sempre deixou claro em entrevistas que muito material foi descartado e não entrou na montagem final. Não estou falando de pequenos trechos, de filmagens rápidas de ensaios, nada disso, o que ele quis deixar claro é que existem shows inteiros filmados! Mas afinal aonde foi parar todo esse material? Talvez a péssima situação financeira da MGM nos últimos anos tenha colaborado para agravar esse quadro. Talvez a existência de grande parte desse material seja simplesmente ignorada pela própria empresa, ou ainda que muito provavelmente a MGM tenha um arquivo em más condições, podendo até mesmo grande parte desses registros ter se deteriorado pela passagem do tempo, quem sabe toda a verdade? Uma das hipóteses mais comentadas seria aquela em que afirma que os próprios funcionários dessa companhia teriam repassado a colecionadores esses trechos arquivados. Muito do que se vê e se conhece hoje desse projeto pode ter sido adquirido justamente dessa forma. Afinal espera-se de tudo de funcionários em uma empresa à beira da falência. Mesmo que grande parte dos direitos da MGM tenham sido repassados à frente para pagar suas contas, temos que entender que o que foi negociado foi a versão oficial do filme e não seus trechos não utilizados. Esses continuaram perdidos nos labirintos que formam os arquivos de uma companhia com quase 100 anos de existência! Imagine só a imensidão, o mar de películas fechadas e arquivadas em seus imensos depósitos! São exatamente essas cenas, que não entraram no corte final do filme, que possuem importância hoje para os fãs de Elvis. Outra coisa muito comentada: todo projeto de Elvis, após sua conclusão, era repassado para o Coronel Parker. O empresário então arquivava todo o material.

Teria a parte inédita, não utilizada, desse filme, também sido repassado a Parker? Ou será que simplesmente lhe foi dada pela produtora a versão oficial do filme e nada mais? Parker sabia certamente do valor desse tipo de coisa, principalmente após a morte de Elvis. Teria ele guardado algo a sete chaves do "Elvis On Tour"? O Coronel sempre estava fazendo insinuações sobre coisas inéditas que tinha sobre a carreira de Elvis. Infelizmente ele nunca resolveu provar suas afirmações. Quando morreu ficou a dúvida: O Coronel realmente tinha seu próprio tesouro de coisas inéditas ou só estava querendo fazer média com a EPE? Com sua morte tudo ficou em aberto e sem resposta. Vamos supor que tudo seja verdade, que o Coronel realmente possuía o que sempre afirmou ter em suas mãos, caso isso seja verdadeiro o que teria acontecido com esse "tesouro perdido" que foi arquivado pelo Coronel por anos e anos? Há uma corrente de autores que afirma que Parker guardou tudo para depois ter uma "carta na manga" e a utilizar como uma eventual garantia futura contra o espólio de Elvis, principalmente depois que ele perdeu grande parte dos direitos autorais sobre a obra do cantor, após aquele processo movido contra ele por Priscilla e a EPE! Jogador inveterado como era, Parker realmente nunca iria ficar sem um coringa escondido na manga para utilizar contra Priscilla ou quem quer que seja. Afinal estamos falando de Tom Parker, uma das pessoas mais astutas que já viveram no show business. E o que aconteceu com todo esse suposto material inédito guardado pelo Coronel após sua morte? Teria alguma pessoa envolvida com o espólio do Coronel passado trechos inéditos à frente?

Essas cenas inéditas de "Elvis On Tour" estariam vindo também dos arquivos de Tom Parker? Tudo entra no campo das especulações. Toda essa exposição serve para demonstrar ao fã como é complexo e vasto falar sobre o material inédito do projeto "Elvis on Tour". Isso dá margem a muita especulação, muitas teorias de conspiração! Para falar a verdade o "Elvis On Tour" acabou se tornando mesmo o "Santo Graal" da carreira de Elvis. Isso só vai acabar quando a EPE resolver colocar no mercado um DVD com tudo o que se especula existir e com tudo o que já é bem conhecido por todos! Até lá as visões, cada vez mais especulativas e contraditórias, irão prosperar. Não seria aqui o momento também para dissertar sobre o que já é ou não conhecido pelos fãs, o que já vazou ou não. Esse assunto é por demais extenso e fugiria ao tema proposto nessa análise. Sem dúvida posso até mesmo tratar com maiores detalhes sobre isso em artigos futuros, mas não nesse momento.

Temos agora que nos concentrar e nos focar especificamente no CD Elvis On Tour The Rehearsals, sem dúvida um ótimo lançamento do selo FTD (Follow That Dream). Comecemos pela Direção de Arte do CD. A capa traz um close do rosto de Elvis durante as sessões de gravação que deram origem ao disco. Sem dúvida é uma escolha interessante pois não deixa de ser tecnicamente simples, mas que de qualquer forma demonstra a inequívoca escolha por algo mais simplório e direto, sem superproduções. Qualquer fã irá associar rapidamente o conteúdo do disco com essa foto, pois certamente todos irão lembrar em poucos segundos das cenas de "Elvis On Tour", quando Elvis aparece cantando "Separate Ways". Não tem a virtuosidade de uma capa feita por Klaus Voorman e nem muito menos o classicismo de um Pietro Alfieri, responsável por tantas capas interessantes, inclusive da própria carreira de Elvis. É uma capa direta, sem maiores retoques ou firulas. Obviamente foi produzida para deixar claro para o consumidor do que se trata. Aliás esse direcionismo é encontrado também no título do disco, "Elvis On Tour - Os ensaios". Direto, simples, rápido e o mais importante, eficiente. Aliás vou aproveitar para abrir um parêntese aqui. Certamente um dos grandes pecados dentro da discografia de Elvis, principalmente durante os anos 70, reside justamente na fraca direção de arte de seus álbuns. São capas derivativas, sem grande cuidado técnico. Aliás, a bem da verdade, é até mesmo muito fácil de explicar porque as capas de Elvis durante os anos 70 são tão fracas do ponto artístico. O Coronel Parker impôs um regime de austeridade incrível. Nas capas de Elvis dos anos 60, principalmente de trilhas sonoras, logo notamos muitas fotos, ótimas contracapas, muita cor e alegria. Nos anos 70 as capas são simplíssimas, impessoais, burocráticas e tristes e as contracapas são, muitas vezes, pateticamente pobres do ponto de vista artístico. Veja o caso de dois discos de 1975, "Promised Land" e "Elvis Today".

Nada de maiores detalhes, apenas a lista seca das músicas sem nem ao menos a confecção de um design interessante. Muitas vezes a capa produzida para um projeto era aproveitado para outro e o pior, nada tinha a ver com o disco original para a qual elas foram confeccionadas. O caso mais conhecido é a do disco gravado no Madison Square Garden, cuja capa foi reaproveitada da nunca lançada trilha sonora do filme "Elvis On Tour". Veja a que ponto chegava o pão durismo de Tom Parker! Outro exemplo é a capa do disco "Elvis" de 1973, que nada mais era do que a capa não utilizada para o "Aloha From Hawaii". Esse último disco aliás possui uma capa original medonha, com um Elvis balofo e um satélite pessimamente montado sobre uma foto do planeta terra! Para piorar a ideia apelativa e fora de contexto ainda ousaram utilizar uma das mais infelizes fotos de Elvis já tiradas! A capa original do álbum duplo "Aloha" era tão feia que quando o disco foi relançado em CD resolveram fazer uma melhor, mais bonita. Um terrível atentado estético, certamente. Além de capas feias e pobres o Coronel Parker às vezes decidia que nem era preciso desenhar uma contracapa! Então ele simplesmente mandava aproveitar a capa para repeti-la na contracapa, como em "Raised On Rock". Enfim, a velha questão de se cortar os custos onde não se deveria. Enquanto outros grupos e cantores da época contratavam artistas plásticos renomados para elaborarem e criarem verdadeiras obras de arte para seus discos, Parker economizava seus níqueis. Passada essa análise inicial vamos agora nos ater às faixas do CD. Uma primeira constatação:

A Qualidade de Som é das melhores. Não poderia ser diferente, até mesmo em razão das circunstâncias em que o CD foi gravado. Os registros foram feitos por Elvis e banda no estúdio C da RCA e por essa razão aqui o ouvinte não vai encontrar muitos dos problemas de qualidade de áudio que ocorrem em outros títulos do selo Follow That Dream. São gravações profissionais, cercadas de todos os cuidados técnicos que se encontram nos grandes estúdios. Na verdade as existências dessas 19 canções se devem única e exclusivamente ao filme documentário "Elvis On Tour". Se não fosse pela necessidade que os diretores do filme sentiram em mostrar Elvis dentro dos estúdios ou ter material extra para uma eventual trilha sonora dificilmente Elvis teria participado dessa "sessão". Até mesmo porque todos sabem que Elvis odiava ensaiar! O repertório é o mesmo que ele utilizava nos palcos, sem grandes novidades. Um dos grandes interesses desse título talvez seja justamente esse, ouvir músicas exaustivamente tocadas por Elvis nas turnês sendo executadas dentro dos estúdios. Praticamente todas elas entraram no repertório de shows de Elvis nas primeiras apresentações em Las Vegas e nunca mais deixaram a set list dos concertos do cantor.

É o caso de Proud Mary, See See Rider, Polk Salad Annie, A Big Hunk O'Love ou até mesmo Johnny B. Goode. Muitos especialistas inclusive afirmam, com certa dose de razão, que praticamente todas as apresentações de Elvis durante os anos 70 derivariam insistentemente desses primeiros shows em Vegas. Realmente, se formos analisar bem, as temporadas de 69, 70, 71, e no mais tardar 72, iriam imperar de forma definitiva no que Elvis iria apresentar até o final de sua vida, com ocasionais e pontuais exceções. Por essa razão muitos autores afirmam que Elvis estacionou em seus últimos anos. Os shows eram praticamente iguais, as músicas muito raramente variavam e sem mudanças significativas Elvis ficou nos anos seguintes repetindo o mesmo repertório de seus primeiros shows no International Hotel (depois mudado para Hilton). E dentro dessa repetição insistente, poucas canções são mais representativas desse estado de coisas do que as acima citadas. Depois que surgiram, nunca mais foram descartadas por Elvis. Algumas ficaram fora dos concertos em determinadas épocas mas não tardavam a voltar depois. Várias são as razões que levavam Elvis a repetir ano após ano a mesma seleção musical. Além da facilidade que isso trazia para ele, sempre preocupado em não esquecer as letras das novas músicas, o próprio público também pouco colaborava para incentivar Elvis e banda a tomar novos rumos, produzir coisas diferentes. Preso dentro dessa situação Elvis pouco inovou em seus anos finais. Como o CD foi gravado em 1972 podemos perceber ainda algumas novidades de repertório, mesmo notando que Elvis começava, mesmo nesse ano, a se repetir, como podemos perceber na lista das canções presentes aqui.

A primeira faixa do CD, Proud Mary, por exemplo, pouco difere das versões ao vivo de que tanto conhecemos. Elvis está bem empenhado e o grupo a toca corretamente, mas é só. Praticamente igual à versão do disco "On Stage, February 1970", sem nenhuma novidade. Uma pena que Elvis não tenha aproveitado para trazer algo novo, diferente. Certamente se tivesse agido assim o interesse por essa faixa seria maior. Infelizmente ao invés de inovar, muitas vezes ele ficava entediado facilmente, como podemos perceber logo após. Polk Salad Annie já traz Elvis um pouco desligado e desinteressado de tudo à sua volta. Sutilmente Elvis vai levando ela meio que no controle remoto. Nas partes em que seu tédio é mais visível Elvis vai murmurando a letra. Nem no final eletrizante Elvis se empolga e termina a canção com um indisfarçável ar de preguiça ao bocejar "blablablablablabla...." Difícil segurar o riso ao perceber como Elvis estava de saco cheio nessa gravação! A seguinte, See See Rider, é tecnicamente semelhante também às primeiras versões da temporada de 1970. Fico admirado em perceber como Elvis não se cansou dessa música! Foram anos e anos cantando "See See Rider", em centenas de shows, praticamente sem interrupção! Em 1972 ele já teria interpretado exaustivamente essa canção dezenas e dezenas de vezes e mesmo assim continuou com ela nos anos seguintes, muitas vezes sem demonstrar sinais de aborrecimento. Talvez ela tenha sido ideal para abrir os shows por ser empolgante, contagiante e o mais importante para Elvis, ter uma letra de fácil assimilação, até porque ninguém quer começar um concerto errando a letra da música de abertura, logo de cara! Enfim, essa versão de "See See Rider" é perfeita e impecável. Vale muito ouvi-la em estúdio.

Então chegamos em Johnny B. Goode. Sinceramente, muitos críticos crucificam Elvis Presley e afirmam que ele teria tomado um rumo fácil em seus anos finais, vivendo basicamente da nostalgia de seus fãs! E o que dizer de um artista como Chuck Berry? (autor dessa canção). Posso afirmar, sem medo de ser injusto, que Berry, apesar de ser um talento inigualável, vive praticamente de suas canções dos anos 50 até hoje! Se isso não for estagnação não sei mais o que poderia ser! Vamos ser corretos em um ponto: pode até ser que Elvis realmente tenha ficado parado no tempo em seus shows, sem grandes inovações, vivendo realmente basicamente de suas velhas canções. Mas esse estado de coisas nem sempre pode ser transferida para sua carreira nos estúdios. Em seus discos Elvis procurou trazer muito material inédito, tanto que muitas vezes era criticado por confundir qualidade com quantidade! Os discos de Elvis em estúdio dos anos 70 registram um cantor antenado com novos compositores e novas tendências musicais (claro que restritas em sua área de atuação e estilo). Elvis e seu produtor Felton Jarvis procuraram andar em uma tênue linha que não separasse os novos sons e o legado do passado glorioso do próprio Elvis. Seguir em frente sem esquecer o caminho já percorrido.

E se todas essas músicas anteriores representam uma certa falta de renovação por parte de Elvis, as que vêm a seguir demonstram exatamente o contrário, pois são as novidades, as faixas inéditas que Elvis tinha para apresentar em sua carreira naquele momento. Burning Love era a primeira preciosidade. Muitos afirmam que Elvis tinha um certo pé atrás em relação à música. Em um primeiro momento realmente Elvis não a quis gravar. Achou a canção um pouco fora do contexto do material que ele vinha gravando na época. Mas ele acabou sendo incentivado não só por seu produtor como também pelos outros músicos presentes. No final a música acabou se tornando seu grande hit nos 70's. Essa versão que ouvimos no "Elvis On Tour - Rehearsals" é mais contida, com menos energia por parte não só de Elvis como da banda também. Naquela ocasião a canção era recentíssima dentro do repertório de Elvis e ele obviamente estava ainda se acertando durante os ensaios. A única singularidade dessa versão surge no finalzinho da faixa: Elvis tira uma pequena brincadeira com a vocalização feminina.

Always On My Mind vem logo a seguir. Essa música foi o melhor e maior exemplo de sucesso póstumo da carreira de Elvis. Burning Love foi o single mais vendido de Elvis durante os anos 70 e Always on My Mind? Não chegou nem ao Top 100 da Billboard. Como explicar tamanho sucesso nos dias de hoje? O caminho de Always on My Mind foi muito curioso. Inicialmente ela foi gravada para fazer parte do disco Standind Room Only, trilha sonora do segundo documentário feito por Elvis nos anos 70. Depois de gravar cenas de Elvis gravando essa e Separate Ways para o filme, a trilha foi cancelada por Felton Jarvis. O nome do filme foi mudado para Elvis On Tour e Always on My Mind foi renegada a um lado B de um single do Rei nos anos 70. O Lado A, Separate Ways, conseguiu entrar no Top 20 da Billboard mas "Always" foi totalmente ignorada pelo público. O Coronel ainda a utilizou para lançar um disco de preço promocional de mesmo nome do single e depois disso Always on My Mind foi completamente esquecida. Detalhe mais do que curioso: Nunca foi lançada no Brasil durante a carreira de Elvis. O tempo passa, Elvis morre e a música continua completamente obscura e perdida dentro da vasta discografia de Elvis. Só os fãs mais conceituados a conhecem, não por sua falta de qualidade, nada disso, muito pelo contrário, mas por ter sido tão mal lançada na época. Hoje muitas pessoas que assistem Elvis On Tour em sua versão original estranham muito o fato de aparecer Elvis cantando Separate Ways e não Always on My Mind. Isso demonstra que ela nunca foi uma música de ponta durante a carreira de Elvis. Aliás sequer foi utilizada por ele durante os shows dos anos 70!

Pois bem, passam-se muitos anos até que o grupo Pet Shop Boys lança uma versão de Always on My Mind que estoura em todas as rádios do mundo todo. A música fica conhecidíssima e sua melodia se torna muito, mas muito popular. Em uma entrevista na BBC de Londres um dos vocalistas do Pet afirma que a música é na realidade uma versão de uma antiga canção de Elvis Presley. Mas ninguém a conhecia, pois muitas pessoas, no máximo, se lembravam da versão de Brenda Lee. Os radialistas ingleses começam a procurar a tal versão de Elvis e começam tocar a Always on My Mind do Rei do Rock nas rádios, muitas vezes em dobradinha com a versão do Pet Shop Boys. A RCA corre e relança a canção dessa vez com toda a campanha de marketing a que ela tem direito. Nasce o maior de todos os hits póstumos de Elvis Presley. Para terminar a consagração Priscilla Presley escolhe a canção como tema da minissérie "Elvis e Eu". A metamorfose estava completa. "Always on My Mind" se tornava assim a canção super popular que todos conhecem nos dias de hoje. Como diria Paul McCartney essa música teve que percorrer um longo e suntuoso caminho (The Long and Winding Road, título de uma das mais belas canções dos Beatles) para se tornar o que ela hoje é. Essa versão que está nesse CD é de excelente nível.

Separate Ways que vem para fechar o disco demonstra a grande qualidade do material gravado por Elvis na época. Com um arranjo fabuloso e uma grande performance do cantor, ela é certamente uma das mais biográficas canções já interpretadas por Elvis. A letra caiu como uma luva e retrata fielmente os problemas pessoais dele em seu casamento. Como todos sabemos, o divórcio de sua esposa Priscilla colocou Elvis em um caminho sem volta de autodestruição. O intérprete estava se separando de Priscilla, dando início a um período extremamente conturbado de sua vida. O grande momento desse CD, porém, não vem dessas novas canções de Elvis, como "Always On My Mind" ou "Separate Ways", mas sim de um antigo clássico, um tanto esquecido, mas de uma beleza ímpar, que ganha uma nova leitura. Quem já ouviu o CD sabe do que estou falando.

Trata-se de uma versão de Young and Beautifull, balada dos anos 50, mais especificamente do filme "Jailhouse Rock", que ganha um tratamento todo especial por parte de Elvis e banda. Antes de mais nada é bom deixar claro que se trata de um ensaio, como o próprio nome do disco deixa claro, isso é até óbvio, mas a despeito disso não podemos ficar menos do que surpresos com a qualidade final da faixa. A canção começa meio sem querer, Elvis cantarola suavemente a introdução da música e o resto da TCB começa o acompanhamento. Após um pequeno deslize, em que Elvis se confunde com a letra, ele vai muito bem na execução até seu final. Infelizmente Elvis não a incluiu efetivamente em seu repertório de shows nos anos 70. Ao invés disso ele continuava a preferir incluir pela centésima vez nos concertos músicas como Love Me, Hound Dog ou Lawdy Miss Clawdy, todas presentes no disco também. Sinceramente, tem coisa mais chata que esse arranjo de "Hound Dog"?! A música perde seu sentido original, seu arranjo marcante, e se torna uma paródia de si mesma, que inclusive foi até mesmo usada em shows a exaustão, chegando a aparecer em discos oficiais ao vivo. É mais uma versão medíocre de seus antigos clássicos, daquelas que mal ultrapassavam mais do que um minuto de duração. Elvis certamente poderia passar sem essa. "Lawdy, Miss Clawdy" tem mais dignidade, sendo muito mais fiel à gravação dos anos 50, mas mesmo assim não traz nenhuma novidade mais digna de nota! Por fim "Love Me" é totalmente de rotina. Você já ouviu esse arranjo e essa execução um milhão de vezes antes em milhões de discos diversos de Elvis ao vivo. Por essa razão pode pular essa faixa sem problemas.

As demais faixas do CD não trazem grande novidade. For The Good Times e Funny How Times Slips Away são apenas interessantes. A segunda, pela própria beleza da melodia é muito superior à primeira, que também é rotineira e sem surpresas. El Paso que está creditada entre as duas nem sequer merecia essa distinção. Aqui é um arremedo de ensaio, Elvis só canta o comecinho e o resto da faixa fica no lenga lenga dos músicos tentando acertar seus instrumentos. Desculpe mas isso não deveria ter sido creditado no CD, isso nem sequer é um faixa de verdade, é um arremedo sem importância. Soa até mesmo como pegadinha, o consumidor lê no encarte "El Paso" e pensa que é algo inédito, uma música que ele não tem em sua coleção e por isso decide comprar o CD. Imagine a cara de decepção do sujeito quando coloca o CD para tocar e ouve isso. A FTD aqui pisou na bola feio. Chamem urgentemente o Procon! Resumindo: um minuto e seis segundos de enrolação e nada mais!

Com Help Me Make it Through The Night e Release Me acontece uma coisa interessante: as versões são superiores às oficiais. Com o clássico de Kris Kristoferson isso é até fácil de entender o porquê! Existe o consenso de que a versão do disco "Elvis Now" é muito mal gravada e interpretada. Qualquer outra versão com o mínimo de fluidez e desenvolvimento iria superá-la facilmente. Basta ouvir os primeiros acordes para todos entenderem a razão dessa minha afirmação. Essa versão desse CD é muito mais interessante, mais leve, com Elvis mais à vontade. Na versão oficial Elvis soa cansado (e cansativo), a faixa tem uma sonorização esquisita e abafada demais e o grupo apenas se arrasta lentamente e tediosamente ao lado de Elvis. Uma pena que o cantor não tenha naquela ocasião gravado uma levada bem mais leve e menos chata como aquela que ouvimos. Já com "Release Me" a razão é diferente, diversa. Não que a faixa ao vivo, oficial, do disco "On Stage" não seja boa, nada disso. Ela é excelente. O que acontece é que como essa é gravada em estúdio tem muito mais qualidade sonora e de arranjo. Ouçam como ela é muito mais suave, tem muito mais ritmo, enfim como ela é agradável. Nas gravações ao vivo existe toda aquela produção inerente aos concertos para causar impacto no público. Todos aqueles arranjos de metais, muitas vezes super exagerados! Mas ouça essa versão. Nada disso está presente. Elvis, a banda TCB e os vocalistas de apoio estão totalmente entrosados, estão ótimos. Repare como até mesmo o grupo vocal de Elvis está bem mais discreto e oportuno.

Já em relação aos tapes de The First Time I Saw Your Face e Never Been To Spain acontece justamente o contrário pois elas são bem piores do que às versões oficiais. O caso de "The First Time" é bem exemplificativo disso. A versão original é irretocável e perfeita. Tentar chegar perto de sua grande qualidade seria muito complicado para Elvis e seus músicos. Extremamente bem produzida a canção era de difícil reprodução, não só em estúdio mas também e principalmente nas versões ao vivo. O próprio início da canção já começa de forma esquisita com uma introdução que inexiste na master definitiva. Depois dessa derrapagem inicial a música se normaliza mas em nenhum momento consegue se igualar à versão oficial que saiu em single. Sua velocidade original está acelerada, com isso a música perde algumas de suas características mais conhecidas como a suavidade e a melodia sutil. Do jeito que está fica mais para uma boa marcha do que para sua linda linha melódica original. Se "First" está rápida demais, "Never Been To Spain" está excessivamente lenta. Talvez isso nem seja um ponto totalmente negativo porque assim ela estará fazendo jus ao seu ritmo que é o blues. De qualquer forma fica a sensação de que ela poderia ser bem melhor. Talvez por ser apenas um ensaio Elvis fique no piloto automático. É compreensível.

Enfim, o CD FTD Elvis On Tour The Rehearsals é bastante interessante. Ele certamente não é o melhor lançamento desse selo e nem tampouco fica entre os piores. Seus pontos fortes se concentram na boa qualidade sonora, na coesão contextual e histórica das faixas, da seleção em si, e no bom trabalho de resgate que ele nos proporciona. Além disso é muito interessante para quem já não aguenta mais ouvir músicas como See See Rider ou Proud Mary ao vivo. Apesar de tudo não deixa de ser prazeroso ouvir todos esses momentos em estúdio. Seu principal ponto negativo talvez provenha da falta de grandes novidades, da ausência de versões que nos surpreendam mais. Ele passa longe de ser totalmente burocrático como outros lançamentos desse selo como por exemplo "Summer Festival" e nem tampouco é tão revelador como outros da série, mas certamente marca pontos interessantes principalmente por fazer parte de um projeto que tem muito ainda a revelar. Não é ainda o que todos esperamos, mas é, como o próprio título do CD sugere, um ensaio do que ainda está por vir. Quem viver verá!

Pablo Aluísio.

Um comentário:

  1. Avaliação:
    Produção: ★★★
    Arranjos: ★★★
    Letras: ★★★
    Direção de Arte: ★★★
    Cotação Geral: ★★★
    Nota Geral: 8.3

    Cotações:
    ★★★★★ Excelente
    ★★★★ Muito Bom
    ★★★ Bom
    ★★ Regular
    ★ Ruim

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