terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Good Times (1974)

Como as primeiras sessões no Stax Studios deixaram a desejar em termos de quantidade de músicas gravadas, Elvis retornou ao mesmo local para gravar mais canções para sua gravadora. O disco Good Times traz grande parte desse material. Formado por músicas gravadas em julho e dezembro de 1973 o álbum se distancia bastante da sonoridade do Raised On Rock e assume um tom nitidamente country. Basicamente Good Times é uma reunião de canções nesse gênero, que a partir desse ponto teria cada vez mais força em seu repertório de estúdio.

Apesar de sua boa sonoridade Good Times não conseguiu se destacar na principal parada da Billboard, alcançando uma desapontadora posição 90 entre os mais vendidos. As razões para essa baixa posição - uma dos mais fracos desempenhos de Elvis nas charts durante os anos 70 - são várias e não podem ser resumidas em apenas um fator. Uma delas foi a pouca publicidade feita pela RCA no momento de seu lançamento. Apostando mais no circuito onde Elvis era mais popular (o sul dos EUA) a gravadora acabou negligenciando o disco nos grandes centros urbanos, o que o levou a ser praticamente ignorado do público em geral. Além disso nenhuma canção tem Good Times tinha grande potencial para virar hit (com exceção de My Boy que conseguiu se sobressair e fazer sucesso, inclusive no Brasil).

De maneira geral o álbum era formado realmente por um grupo de músicas mais intimistas e nem um pouco comerciais. A vendagem baixa se fez sentir no Brasil onde o disco sequer foi lançado. A própria faixa My Boy, que faria sucesso por aqui, acabou sendo incluída no disco seguinte, Promised Land, esse bem mais comercial. De qualquer forma, mesmo não fazendo o sucesso esperado Good Times caiu nas graças dos fãs de Elvis após sua morte e hoje é devidamente reconhecido, ganhando recentemente uma merecida edição com muitos takes pelo selo FTD. Essas são as canções do disco "Good Times" (CPL1 0475):

TAKE GOOD CARE OF HER ( Warren / Kent) - Outra canção em que Elvis coloca seus grupos vocais em primeiro plano. Aliás o cantor nunca perdeu mesmo seu complexo de cantor gospel. A canção tem bom desenvolvimento e acompanhamento, mas não consegue se sobressair ou se destacar dentro do vasto catálogo do Rei do Rock nos anos 70. Gravada no dia 21 de julho de 1973 nos estúdios Stax de Memphis não obteve grande sucesso quando lançada no lado B do single "I've Got You Thing About You Baby" em janeiro de 1974.

LOVING ARMS (Tom Jans) – Linda canção que é praticamente desconhecida até mesmo pelos fãs de Elvis. Melancólica e introspectiva na medida certa, "Loving Arms," traz uma belíssima interpretação de Presley. A ausência quase completa de refrão demonstra de forma inequívoca como sua melodia é bem escrita. Um dos grandes momentos de Elvis em estúdio durante a primeira metade dos anos 70. Assim como "Take Good Care Of Her" essa também foi lançada como lado B de um single, "My Boy", só que dessa vez apenas na Inglaterra (nos Estados Unidos "My Boy" foi lançada com "Thinking About You"no lado B). Gravada no dia 13 de dezembro de 1973 no Stax Studios, nas mesmas sessões que deram origem também ao disco "Promised Land".

I GOT A FEELING IN MY BODY (Dennis Linde) – Canção de Linde, autor de "Burning Love," que tentou em vão repetir o sucesso do grande hit de Elvis nos anos 70. A música tem muito balanço e energia, mas curiosamente não foi bem aproveitada por Elvis nos palcos, aonde sem dúvida teria melhor sorte. Já sua versão em estúdio passou batida entre as outras canções desse disco. A guitarra de Burton segue um arranjo bem em voga durante aqueles anos, que inclusive lembra muito alguns temas escritos para seriados televisivos dos anos 70. Diferente, mas na média. Gravada nas sessões de dezembro de 1973 em Memphis.

IF THAT ISN'T LOVE (Dotie R) – Música de rotina que não traz nada de muito relevante. Sem dúvida não contribuiu muito para alavancar as vendas desse disco de Elvis, que diga-se de passagem, conseguiu chegar apenas na 90º posição da parada nacional da Billboard em março de 1974. As vendas foram tão desanimadoras que o LP não chegou nem mesmo a ser lançado no Brasil em sua época de lançamento. Aliás o ano de 1974 foi terrível para os fãs brasileiros de Elvis, pois todos os discos lançados por ele nesse ano permaneceram inéditos em nosso país por longos anos. Quem quisesse ouvir as novas músicas inéditas do rei teria que importar dos EUA, o que não era fácil naqueles tempos. Parece que a negligência da gravadora do cantor vem de longa data no Brasil. Em 1992, porém, finalmente "Good Times" foi oficialmente lançado em nossas lojas. Nada menos do que um atraso de 18 anos! Antes tarde do que nunca.

SHE WEARS MY RING (Felice e Boulderaux Bryant) – Mais uma música que não acrescenta muito. Tanto que foi utilizada na edição original do LP para fechar o antigo lado A do disco. Não significa que seja apenas um "tapa buraco", mas sim que dentro do conjunto dessas canções fica bem abaixo do esperado ou do nível das demais presentes nesse trabalho de Elvis. Apesar de tudo deve ser retirada do limbo em que se encontra para ser novamente reavaliada pelos fãs. Foi a música que encerrou as sessões de dezembro de 1973, sendo rapidamente esquecida e ignorada.

I'VE GOT THING ABOUT YOU BABY (Tony Joe White) – Do mesmo autor de "Polk Salad Annie", é um dos pontos altos do disco. Lançada como single e considerada a música de trabalho do disco foi praticamente ignorada por Elvis em suas apresentações ao vivo (novamente!). Em consequência disso o single não alcançou uma boa posição na parada Billboard, alcançando apenas um fraco 39º lugar entre os mais vendidos. Aliás a partir de 1973 Elvis inovou muito pouco em seus números ao vivo, seguindo quase sempre um repertório básico com poucas alterações em seu set list. Um desperdício sem dúvida, pois é outro bom momento com fluência melódica agradável e excelente acompanhamento vocal que ficaria perfeito para levantar e chacoalhar a plateia. Curiosidade: na capa do single lançado em janeiro de 1974 havia o anúncio de um especial de páscoa com Elvis na TV! Esse programa nunca foi feito, sendo cancelado pouco depois que o single chegou às lojas, pela mesma pessoa que mandou colocar a publicidade na capa, o Coronel Tom Parker.

MY BOY (Claude Francois / JP Bourtayre) – Versão inglesa escrita por Bill Martin e Phil Couter para a famosa música francesa "Parce Que T'aime, Mon Enfant" . Obviamente pelo conteúdo da letra Elvis estava se identificando com o tema central da canção. Outro fator que certamente levou Elvis a gravá-la foi a oportunidade de interpretar uma canção que dava espaço para ele demonstrar sua virtuose vocal. Nos Estados Unidos só foi lançada um ano depois em single com "Thinking About You" no lado B, essa aliás do disco "Promised Land", chegando ao Top 20, uma boa posição para Elvis nessa época. No Brasil aconteceu uma coisa curiosa: como já escrevi antes, o disco "Good Times" não foi lançado por aqui em 1974, porém no começo de 75 "My Boy" estourou nas rádios nacionais e se tornou um grande sucesso. A RCA Brasil então teve que correr e numa desastrada tentativa de lançar a música em nosso país a colocou abrindo o lado B do disco "Promised Land" numa manobra única em todo o mundo. Só mesmo Elvis Presley para fazer sucesso com uma canção que nem sequer chegou a ser lançada nas lojas a tempo!

SPANISH EYES (Kaempfert / Singleton / Snyder) – Para quem gravou "It's Now or Never" ou "Surrender" não traz grandes novidades. Apenas mostra que Elvis continuava interessado em atingir outros públicos e outras nacionalidades, em especial a comunidade latina dos Estados Unidos. Elvis sempre teve essa aproximação com ritmos europeus e sempre que era possível tentava gravar ou apresentar alguma música que pudesse servir de identificação para essas pessoas. Com bom ritmo, letra e vocalização, "Spanish Eyes" só não conseguiu maior repercussão por pura falta de divulgação por parte da RCA, do Coronel e do próprio Elvis. Uma versão, sem acompanhamento vocal nenhum, foi ainda lançada no disco "Memories of Elvis".

TALK ABOUT GOOD TIMES (Les Reed) – Outro ótimo momento do disco, numa canção que já havia sido lançada antes por Chuck Berry na primeira metade dos anos 60. Ao contrário da versão de Berry, que traz muitas guitarras estridentes, Elvis resolveu mudar o enfoque para uma batida bem mais country e contida. Inclusive orientou pessoalmente seus músicos para que a canção tivesse um arranjo bem mais sofisticada e regional. O resultado ficou acima das expectativas e se transformou em mais um dos pontos altos do disco. O único senão talvez seja pelo conteúdo da música, que de certa forma tenta novamente enquadrar Elvis apenas como um artista centrado meramente na pura nostalgia. Apesar desse pequeno pecado, "Talk About Good Times" é um sopro de alegria e ar fresco no material excessivamente romântico apresentado por Elvis durante esse período.

GOOD TIME CHARLIE'S GOT THE BLUES (Danny O'Keefe) – Para o guitarrista James Burton este foi um dos seus maiores momentos ao lado de Elvis Presley. Lindamente executada, com ótimo arranjo, bem superior a muitas canções do restante de "Good Times", "Good Time Charlie's Got The Blues" é uma pequena pérola perdida no fundo do mar da discografia de Elvis. Mesmo que em certos trechos seja extremamente melancólica e triste, a canção sobreviveu dignamente ao tempo e hoje é um exemplo perfeito do grande entrosamento que havia entre Elvis e a TCB Band. Além de todos esses méritos, a faixa ainda traz Elvis com sobriedade e perfeito domínio vocal em toda a duração da música. Fecha o disco com chave de ouro. Excelente.

Elvis Presley - Good Times (1974): Elvis Presley (voz e violão) / James Burton (guitarra) / Johnny Cristopher (guitarra) / Charlie Hodge (violão) / Norbert Putnam (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / David Briggs (piano e orgão) / Per-Erik "Pete" Hallin (piano e orgão) / J.D.Summer and the Stamps (vocais) / Voice (vocal) / Dennis Linde (guitarra) / Alan Rush (guitarra) / Rob Galbraith (percussão) / Bob Ogdin (piano) / Randy Cullers (orgão) / Kathy Westmoreland, Mary Greene, Mary Holladay, Susan Pilknton (vocais) / Produzido e arranjado por Felton Jarvis / Gravado no Stax Recording Studio, Memphis, nos dias 21 e 22 de julho e 10 a 16 de dezembro de 1973 / Data de lançamento: Março de 1974 / Melhor posição alcançada nas charts: #90 (EUA) e #42 (UK).

Pablo Aluísio.

3 comentários:

  1. Mais uma vez os meus parabéns pelos comentários sobre LPs do Elvis.
    Acho interessante o formato de comentar faixa por faixa do LP, seria muito bom se nos outros LPs você fizesse assim também.
    Abraços

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  2. Avaliação:
    Produção: ★★★
    Arranjos: ★★★
    Letras: ★★★
    Direção de Arte: ★★★
    Cotação Geral: ★★★
    Nota Geral: 7.9

    Cotações:
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