terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Dissecando Mr. Presley 1969

Contexto Histórico: Dez dias depois que o primeiro homem pisou na Lua, finalmente Elvis volta aos shows em Las Vegas e pisa no palco pela primeira vez desde 1961. Elvis está novamente empolgado, o NBC TV Special representou mais do que nunca uma virada decisiva em sua carreira. As sessões de janeiro no American Studio consolida a ótima fase que é coroada definitivamente com seu retorno ao local onde sempre foi rei: diante de seu público. Para lhe acompanhar Elvis forma uma excelente banda liderada pelo guitarrista James Burton e é acompanhado por uma orquestra de primeira linha. Em ótima forma física, esbanjando humor e alto astral Elvis conquista a todos numa série de apresentações com casa lotada.

Jerry Hopkins, amigo e testemunha ocular de seu retorno triunfante relembra: "Elvis caminhou preguiçosamente até o centro do palco, agarrou o microfone do pedestal, fez uma pose dos anos 50 - pernas firmes, joelhos estalando quase imperceptivelmente - e antes que pudesse começar sua primeira música, a plateia o fez parar. Logo que ele ia começar a primeira música, levou no rosto um grande rugido. Todas aquelas milhares de pessoas estavam de pé, muitas em cima das cadeiras e gritando". Elvis então dá o melhor de si e mostra que não perdera seu toque mágico com o público e mostra que ainda é o rei do rock. O show se traduz em um enorme sucesso, tanto de público como de crítica. Elvis não contêm após a apresentação. Ao encontrar o Coronel Parker ambos se abraçam, lágrimas nos olhos, celebrando o grande momento e o grande triunfo. Elvis diz ao Coronel: "Temos que colocar o pé na estrada novamente, vamos ganhar o país!". No dia seguinte toda a imprensa falada e escrita do país está comentando e celebrando a volta de Elvis às apresentações ao vivo. O Coronel anuncia que em breve Elvis irá começar a visitar as cidades americanas. No último dia da temporada Elvis dá uma grande festa em seu apartamento no International Hotel. Elvis confidencia a Joe Esposito: "Joe, estou muito feliz, há muito tempo não sentia tanto prazer assim em cantar e me apresentar!".

Assim se manifestou a revista Rolling Stone sobre os shows de Presley: "Elvis é sobrenatural. É a sua própria ressurreição". A Revista Newsweek escreveu: "Aconteceram muitos fatos na vida de Elvis, mas o mais inacreditável foi sua permanência no mundo musical, onde carreiras meteóricas quase sempre se desvanecem, tal qual estrelas cadentes". A revista "Elvis Monthly" expressou a opinião dos fãs: "Em 20 de julho de 1969, o Homem desceu na Lua, a Águia pousou e Neil Armstrong deu um pequeno passo para o homem, um gigantesco passo para a humanidade. A Atenção do mundo voltou-se para o Mar da Tranqüilidade e fez-se a História. Em 26 de julho de 1969, Elvis Presley pisou no palco do International Hotel - O Rei retornou. Pode ter sido um pequeno passo para Elvis, mas foi um gigantesco passo para seus fãs". Parte da temporada será lançada depois no disco duplo "From Memphis to Vegas / From Vegas To Memphis". Elvis ainda era o eterno Rei do Rock.

Pablo Aluísio.

Dissecando Mr Presley em 1969
Por Erick Steve


Visual: Elvis abandona de forma definitiva o laquê que o caracterizou tanto em Hollywood e usa seu cabelo ao natural, novamente bem pintado de preto. Suas primeiras roupas no palco no International Hotel também trazem tonalidades escuras, com acessórios vermelhos. Visualmente Elvis ainda não se achou, coisa que só iria se consolidar nos anos seguintes com a chegada das jumpsuits brancas que seriam sua marca registrada para sempre. Elvis no final das contas cede às pressões da moda da época e adota o cabelo liso e longo (alguém aí lembrou dos Beatles?)

Voz: Elvis está em uma fase particularmente inspirada em suas interpretações, trazendo ainda ecos de suas sessões no American Studios no começo do ano. Apesar das ótimas faixas de estúdio ainda prefiro suas perfomances ao vivo, aonde demonstra vitalidade e força de vontade, principalmente no disco Elvis In Person (que é apenas um dos Lps do From Elvis to Vegas lançado em separado). Seu estilo no American inclusive não mais se repetiu nos discos seguintes.

Banda: Perfeita. Porém um fato chama logo a atenção: eles se saem melhor em músicas mais agitadas e viris. Nas românticas, principalmente ao vivo, nota-se certa preguiça e falta de entrosamento (vide Are You Lonesome Tonight e In The Guetto do Lp In Person). Claro que estou me referindo à TCB Band. Já os músicos do American eram melhores em estúdio, como bem demonstra os LPs de Elvis gravados ao lado deles.

Melhor show de 1969: 24 de agosto. Elvis está bastante animado e afinado. Altamente profissional e bem longe de algumas apresentações em que ele visivelmente ficaria entediado nos anos que viriam. O show de estréia não me agrada muito, pois Elvis transparece nervosismo e demora a se encontrar no palco. Compreensível já que ele estava quase dez anos sem se apresentar ao vivo – sua última apresentação tinha acontecido no Hawaii em 1961.

Vida pessoal: quando Elvis foi para Las Vegas ele não se fez de tímido. Só existem dois tipos de pessoas que moram em Las Vegas mesmo: artistas frustrados e garotas de programa (as famosas escorts girls de Vegas). Elvis não demorou muito para se sentir totalmente à vontade na presença dessas "damas" e "tietes". Uma diferente a cada noite, senão enjoa. Priscilla? Coitada só ia nas estréias e nos shows de encerramento. Nesse meio tempo Elvis aprontava e ela ficava em Memphis cuidando da casa (machismo perde hein?). Infelizmente é isso mesmo, A Priscilla começa a virar alce, de tanto chifre que começa a levar.

Bolinhas: Ora, se Elvis já estava bem dependente em casa, imagine na loucura de Vegas. Pressionado e com a adrenalina a mil por causa dos shows e sua volta, Elvis se esbalta nos coquetéis químicos. O consumo aumenta mas tudo é cirurgicamente abafado para não gerar escândalos na imprensa. Porém, nessa época, as drogas ainda não começam a prejudicar seus shows e poucos percebem que Elvis está de cuca alta na maioria dos concertos.

Melhor single: Suspicious Minds – Pelo sucesso e pelo valor artístico. Nota 10.

Pior single: complicado escolher, pois Elvis só lançou material relevante. Na dúvida fico com His Hand In Mine, por ser apenas reprise. Mas isso não quer dizer que a música é ruim, na verdade é excelente, só que é velha.

Melhor música: In The Guetto – por seu valor social e político.

Pior Música: Charro – que porcaria é essa?! Fantasma do passado negro de Elvis no cinema!

Melhor disco: Sem dúvida, From Memphis to Vegas / From Vegas To Memphis, principalmente por causa da parte "Elvis in Person" do disco.

Pior disco: Não tem. Elvis só lançou dois LPs de ótima qualidade. Como não saiu nenhuma trilha sonora, não temos como dar o troféu Abacaxi do Ano.

Saldo final: Altamente positivo. Elvis recomeçava a andar, depois de ficar uma década estagnado e morto artisticamente em Hollywood.

Dissecando Mr Presley em 1969
Por Pablo Aluísio


Visual: Elvis ficou na dúvida quando resolveu voltar a se apresentar. Claro que não dava nem para vestir suas roupas dos anos 50, com ternos folgados e nem muito menos usar o smoking típico da turma de Sinatra. Se fizesse isso seria prontamente satirizado pelo Old Blue Eyes. Afinal Las Vegas era o lar desses cantores, Elvis estava pisando em terreno desconhecido e tinha que se precaver. Então ele se lembrou de sua velha roupa Gold Leaf e mandou confeccionar algo novo, próprio, com muito estilo e que lhe desse a liberdade de suas vestimentas de lutas marciais. Nasceu assim a primeira jumpsuit, meio sem identidade própria sem dúvida, um pouco diferente e que acabou não se fixando, mas que serviu para inspirar todas as que lhe sucederam. Pelo menos a idéia básica estava ali.

Voz: encorpada e altamente profissional, sem dúvida. Principalmente nas faixas dos discos gravados no American notamos uma maturidade e um cuidado todo especial por parte de Elvis, demonstrando que ele tinha plena consciência que aquelas músicas seriam lembradas para a posteridade como um de seus momentos mais marcantes. Talento e profissionalismo, aliado a um material de qualidade riquíssimo só poderia dar no que deu: no renascimento de Elvis como artista de relevância e importância dentro do contexto musical da época. Logo a nova geração iria tomar consciência do talento do cantor, que vinha sistematicamente sendo sufocada pela mediocridade imperante das trilhas sonoras pós 65.

Banda: O grupo que acompanhou Elvis no American era mais bem estruturado, tinha músicos mais profissionais, uma ótima bagagem teórica e leva o prêmio como melhor banda. Claro que todos temos a tendência de gostar da TCB Band, até mesmo porque eles nos são mais próximos, mas não há como evitar e negar se formos compará-los em termos de talento e segurança na execução das faixas. Até mesmo Elvis tinha essa percepção, pois resolveu formar uma banda com mais pulso para tocar com ele ao vivo, o que não significa em nenhum momento que eles eram mais talentosos ou profissionais. A coisa se resume assim: A TCB Band leva o prêmio de banda com mais pegada e coração, mas os caras do American levam o prêmio por melhor técnica e profissionalismo.

Melhor Show de 1969: Pode nem ser o melhor tecnicamente falando, mas é o mais importante do ponto de vista histórico dentro da carreira de Elvis Presley. Estou claro me referindo ao show de abertura de sua temporada em Vegas. É uma questão até mesmo clara que seu nervosismo é facilmente percebido em vários momentos, mas acho que isso não é demérito e muito pelo contrário, a impressão que se dá é a de que Elvis se revela muito mais como pessoa do que como artista e isso engrandece todo o espetáculo. Não há muito o que discutir, mas sempre frisando que minha escolha não é embasada em critérios estritamente técnicos, mas sim em critérios de relevância e importância histórica para todo o contexto da carreira de Elvis.

Vida Pessoal: a infidelidade de Elvis era algo notório não só em Vegas, mas em Hollywood também. Claro que em Vegas Elvis encontrou muito mais garotas dispostas a tudo, vamos assim dizer, mas não acho que aumentou significativamente o número de mulheres em sua vida. Só mudou o cenário, para dizer a verdade. A pior parte para Priscilla nem era muito o fato de Elvis a trair, mas sim a de a trair ostensivamente, levando algumas dessas mulheres para jantar com ele ou assistir shows de outros artistas. Claro que agindo assim Elvis estava humilhando publicamente sua esposa e dando um show para quem quisesse ver. Elvis provavelmente achava que não haveria pecado na cidade do pecado. Quem pode afirmar o contrário, não é mesmo?

Bolinhas: No começo de sua vida na estrada o consumo de drogas estava de certa forma sob controle. Elvis ainda não estava utilizando drogas injetáveis que causam uma dependência brutal no organismo como aconteceu a partir de 1973. Mas as pílulas estavam em toda parte e Elvis as utilizava para praticamente tudo: se animar para a apresentação, se acalmar nos finais dos shows e finalmente mais algumas para que pudesse dormir de forma tranqüila. Também as utilizava para perder apetite e peso e se mostrar em boa forma física. E realmente olhando as fotos dessas suas apresentações notamos que ele estava em ótima forma, bronzeado e com visual acima da média. Pena que o uso o levou a dependência rapidamente e a partir do ano seguinte ele se veria envolvido numa teia de vicio bem acentuado.

Melhor Single: Suspicious Minds – Não há muito o que comentar, a escolha chega a ser óbvia.

Pior Single: Clean Up Your Own Back Yard – Não escolheria His Hand In Mine porque essa música não pode ser considerada de 1969. De todos os singles verdadeiramente lançados em 69, esse que traz essa música do filme The Trouble With Girls é o menos relevante mesmo, não há muito o que comentar. Mas quero deixar claro que não estou condenando essa canção, na verdade até mesmo gosto dela, apenas ela perde em termos comparativos com as demais.

Melhor Musica: Novamente Suspicious Minds leva o prêmio. É a primeira canção de Elvis a liderar as paradas desde 1962, precisa dizer mais alguma coisa?

Pior Música: Charro realmente é péssima, mas o que dizer das trilhas de seus últimos filmes? Elas levam o prêmio em conjunto.

Melhor Disco: Um ano com apenas dois discos e os dois ótimos, como bem frisou o Lord Erick, concordo, porém fico com From Elvis in Memphis por trazer as músicas mais importantes das sessões do American. O From Vegas to Memphis, apesar de monumental, traz uma certa identidade de Ter sido lançado para aproveitar o que ficou de fora do primeiro disco. Restos de ouro, entenda-se bem.

Pior disco: Não tem mesmo. Mas como são apenas dois discos, um necessariamente vai ser o melhor e o outro o pior, Não é mesmo? Questão de lógica, pensando assim infelizmente o título vai para o From Vegas to Memphis.

Saldo Final: Não há muito o que acrescentar. Foi o melhor ano da carreira de Elvis desde 1960 quando ele voltou para retomar sua carreira artística. Aliás ele fez em 1969 mais do que em todos os anos anteriores dos anos 60 em termos de material de qualidade.

Pablo Aluísio e Erick Steve.

Um comentário:

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