terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - I Sing All Kinds

Devo confessar que recebi a notícia sobre esse lançamento sem muito entusiasmo. Não quero com isso afirmar que esse novo CD do selo Follow That Dream seria destituído de valor, nada disso, aliás muito longe desse tipo de afirmação. Recebi sem grande empolgação porque realmente não considero as sessões que Elvis realizou em Nashville em 1971 entre as mais inspiradas de sua carreira. Aliás devo ir além. Considero essas sessões limitadas, restritas e para dar voz aos setores mais críticos um verdadeiro desperdício de tempo por parte de Elvis e seu grupo.

Agora me explico. Esse set list por si só é extremamente limitado e restrito. Ao fazer uma análise sobre o conteúdo dessas sessões chegamos facilmente à conclusão que canções temáticas como as de natureza religiosa ou de temas natalinos por si só já ficariam restritas naqueles grupos que seguissem tal fé religiosa. Para ilustrar o que tento passar ao leitor vou me utilizar de um exemplo simples, para não dizer até mesmo simplório. Em um país essencialmente católico como o nosso o simples fato de algumas canções de Elvis Presley serem catalogadas nesse gênero já era por si limitante, tanto que nenhum de seus álbuns gospel conseguiu sequer ser lançado oficialmente em nosso país durante sua carreira. Não quero com isso desmerecer a importância das faixas religiosas, absolutamente não. Apenas quero ilustrar como, para alguém que procurava se firmar novamente na carreira após um período de crise artística, esse talvez não fosse o momento ideal para dar ao mercado de discos um novo LP com esse tipo de sonoridade. Outro problema se refere ao material natalino. Praticamente poucos países, fora os EUA, cultivam ou levam a sério esse estilo musical. Mesmo assim temos que convir que músicas de natal estavam bem fora de moda nos anos 70, mesmo naquele país.

Gravar músicas natalinas naquela altura era, para ser bem sincero, uma grande perda de tempo e dinheiro que traria muito pouco retorno para Elvis em termos de prestigio artístico. Em resumo, gravar músicas religiosas evangélicas eram limitantes e perder tempo registrando faixas de natal eram acima de tudo se limitar como cantor. Depois dessa rápida exposição sobram apenas um terço das sessões que poderiam ser dedicadas a material realmente relevante. Pouco, muito pouco. E mesmo assim, ao analisarmos essa terça parte final, verificamos facilmente que o resultado final não é muito positivo, que realmente as sessões em seu conjunto deixam muito a desejar. Ao se debruçar sobre o restante do material gravado por Elvis nessa ocasião, não posso deixar de ficar insatisfeito. As canções que compõem a parte, digamos assim, convencional, não temática, passam muito longe de nos presentear com algo que seja classificado como histórico ou lendário e ao invés disso nos deixa um sabor amargo de algo comum, ordinário (não no sentido pejorativo da palavra), vindo de um artista que pode ser denominado sem medo de errar com esses mesmos adjetivos a que citei no começo da frase. Em termos de comparação a situação só se agrava se formos comparar essas sessões de 1971 com as do ano anterior. Nada mesmo foi gravado de forma tão relevante aqui e nem muitos menos temos canções de porte como Bridge Over Troubled Water, a música que definiu de forma tão completa as sessões anteriores. O que nos resta então? Canções medianas e com toques da genialidade de Elvis em um ou outro momento. Talvez o FTD I Sing All Kinds tenha seu valor mais concretizado em seu ineditismo. Mas mesmo pensando sob esse ponto de vista não posso deixar de perceber que um CD apenas para resumir uma sessão que por si só deu origem a discos diversos da carreira de Elvis Presley vem apenas confirmar que em si essa sessão deixa e muito a desejar. Suas qualidades tiveram necessariamente de ser somadas para sustentar um único CD e não diversos específicos a cada álbum que conhecemos de sua discografia oficial. Eis aqui sua fragilidade definida em um fato do qual não podemos ignorar.

De qualquer forma vamos agora produzir pequenas pinceladas sobre cada faixa presente no CD, em nosso já conhecido método de se analisar faixa a faixa todos os registros deixados a nós pelo grande artista que Elvis Presley foi.

BOSOM OF ABRAHAM (William Johnson - George McFadden - Ted Brooks) - O CD abre com essa faixa gospel que foi gravada pela primeira vez pelo grupo The Golden Gate Quartet em 1938. Anos depois ainda ganharia uma releitura pelo mais que obscuro grupo The Trumpeteers no pós guerra. Embora todos saibamos que Elvis era um grande conhecedor da música religiosa norte americana, tanto que possuía vasta coleção desse gênero em sua casa, posso arriscar que sem dúvida o que o levou a gravar essa faixa em 1971 foi a versão produzida pelos Jordanaires em 1954. Esse tipo de conclusão chegamos ao ouvir as três versões originais citadas. Polida ao longo dos anos Bossom Of Abraham foi aos poucos deixando o som mais puro dos spirituals para flertar perigosamente com os novos ritmos que chegavam embalando a sociedade americana nos anos 50. Tanto isso é verdade que seu ritmo em muito lembra os primeiros registros desse novo idioma musical chamado Rock´n´Roll, produzindo uma curiosa aproximação entre o sagrado e o profano, o espiritual e o carnal. Temos aqui o take 4. Praticamente igual a todas as outras que conhecemos. Cercado por um grupo vocal gospel afinadíssimo, com músicos que conheciam muito bem a melodia em si, Elvis não teve muito com o que se preocupar. O take é praticamente perfeito do começo ao fim e poderia ter entrado em qualquer disco oficial de Elvis sem maiores problemas.

I'VE GOT CONFIDENCE (Andrea Crouch) - Andrea Crouch era um popular ministro religioso nas décadas de 1960 e 1970. Era um novo talento, alguém que ainda lutava para abrir caminho em sua trajetória artística, apesar de já naquela altura, 1971, ser bem reconhecido dentro da comunidade religiosa dos EUA. Para quem conhecia música gospel como a palma da mão Elvis logo tomou conhecimento de seus discos religiosos e se tornou grande admirador do trabalho desse pastor negro que, com sua música, deu um novo sopro de vida ao gênero durante aquele período. Era questão apenas de tempo Elvis vir a gravar alguma de suas canções e assim o fez finalmente nessas sessões de Nashville. A música escolhida foi justamente essa, que foi gravada pela primeira vez em 1969 por seu próprio autor. Aqui temos o take 1, a primeira tentativa de Elvis em gravar a canção. Bem mais rápida e acelerada que a versão original ainda temos um Elvis se acostumando com a canção. Mesmo assim podemos perceber que Elvis já a tinha ouvido tantas vezes na voz de Andrea que ela, apesar do compasso diferenciado, estava a poucos minutos de encontrar seu ponto ideal e se chegar ao take oficial.

AN EVENING PRAYER (C.M.Battersby - Charles H.Gabriel) - Depois de I´ve Got Confidence, faixa relativamente recente naquela época, Elvis mergulha fundo na história da música gospel e traz de volta uma canção que foi originalmente escrita em 1911! Esse fato tem explicação e não precisamos retroceder tanto para se saber em que momento essa canção religiosa capturou o gosto musical de Elvis Presley. Certamente a influência vital aqui é a versão do grupo Blackwood Brothers, um dos preferidos de Elvis. Embora músicos e cantores importantes como Jim Reeves e Mahalia Jackson tenham feito grandes gravações dessa música, foi a versão dos Blackwood Brothers que fisgou definitivamente Elvis Presley. Todos sabemos que um dos sonhos de Elvis em seu começo era cantar em um quarteto gospel. Esse sonho foi ainda mais acentuado por esses fantásticos cantores que resolveram se mudar para Memphis em 1950 dando inicio a uma longa e produtiva carreira, deixando profunda influência sobre o próprio som que Elvis iria desenvolver a partir de seu surgimento anos depois. Esse tipo de afirmação é facilmente perceptível logo nas primeiras notas ao piano da canção. O coro invade o ambiente e Elvis assume a música a levando em um ritmo cadenciado e terno para tudo terminar em final apoteótico de vozes em perfeita harmonia. Ao se ouvir esse take, de número 5, podemos facilmente chegar na conclusão que ele é praticamente definitivo.

FOR LOVIN' ME (Gordon Lightfoot) - Canção country que se destacou nas vozes dos componentes do grupo Peter, Paul and Mary nos anos sessenta. Interessante que muitos autores sempre gostam de frisar que nos anos 60 Elvis se isolou do cenário musical ao seu redor e se fechou em um casulo de canções fabricadas determinadas pelos estúdios de cinema. Sem dúvida em parte isso foi um fato verdadeiro. Porém se formos analisar a gravação de canções como essa nos anos 70 vamos perceber que Elvis não estava fora de sintonia com o que acontecia na música americana, apenas estava amordaçado por contratos leoninos a que tinha assinado. Aqui temos a versão que todos já conhecemos, a única novidade mesmo foi a introdução em que o grupo erra e volta para mais uma tentativa. Nesse aspecto acho que a inclusão aqui nesse CD foi puro desperdício.

EARLY MORNING RAIN (Gordon Lightfood) - Sucesso country de Peter, Paul and Mary nos anos 60. A versão oficial de Presley, que foi lançada no LP Elvis Now em 1972, foi gravada no dia 15 de março de 1971 nessas mesmas sessões de Nashville que estamos aqui analisando. Era uma de suas preferidas, estando bastante presente em suas apresentações, principalmente em seus últimos concertos realizados no período entre 1976 e 1977, onde Elvis realmente a cantou regularmente em muitas de suas turnês. Vale lembrar também que ela seria ainda gravada mais uma vez para o "Aloha From Hawaii" em 1973. "Early Morning Rain" é aquele tipo de canção que muito dificilmente você não irá apreciar. A música tem uma boa levada, melodia suave e relaxante e traz Elvis bem inspirado e envolvido. Acredito que mesmo aqueles que torcem o nariz para o gênero country vão apreciar sua melodia. Aqui temos o take 11, sem nenhuma grande diferença significativa em relação à versão oficial que conhecemos - exceto pela ausência de alguns instrumentos de sopro e da falta mais marcante do vocal de apoio.

FOOLS RUSH IN (Rube Bloom / Johnny Mercer) - Uma canção apenas mediana que a despeito de suas duvidosas qualidades melódicas alcançou uma incrível marca de regravações famosas desde que Johnny Mercer a lançou na década de 1930. Entre outros grandes nomes que fizeram suas próprias versões estão os consagrados Glenn Miller e Frank Sinatra. Porém nada dessa longa tradição foi reaproveitada por Elvis pois ele preferiu seguir quase que fielmente os arranjos da versão de Rick Nelson, que foi lançada em 1963 pelo selo Decca. Talvez o fato do guitarrista James Burton ter participado dessa versão de Nelson tenha colaborado decisivamente para a gravação sem grandes novidades por parte de Elvis Presley. Nesse CD temos o take de número 14, o que por si só já é uma surpresa, haja visto que nenhuma mudança significativa existe. Nos admira muito o fato de Elvis levar tantos takes para se chegar em um resultado significativo; como disse antes, a canção é simples, tanto no aspecto de arranjos quanto de vocalização por parte de Elvis Presley. Infelizmente aqui não ouvimos praticamente nada dos bastidores da gravação, sendo o corte mais adequado para um lançamento oficial do que para um CD de takes alternativos como esse.

HELP ME MAKE IT THROUGHT THE NIGHT
(Kris Kristofferson) - Essa canção escrita pelo cantor e ator Kristofferson surgiu nas paradas em 1971 cantada por Joe Simon. Fez um belo sucesso sendo considerada uma boa representante naquela que, para muitos, foi uma época de pleno renascimento do gênero country com cantores de grande expressão como Willie Nelson, Johnny Cash, Wayllon Jennings e Merle Haggard, grupo que ficou conhecido como símbolo do movimento "outlaw". Obviamente que em Nashville Elvis não poderia ficar à margem do que acontecia ao seu redor em termos de movimentos culturais e isso se refletiu muito em sua própria música nesse período. Essa influência é facilmente perceptível quando nos debruçamos sobre o teor das canções que Elvis gravou aqui nessas sessões. Tirando o material temático (gospel e natalino) o que basicamente temos são várias gravações, que se não são assumidamente do gênero country, bebem diretamente de sua fonte. Voltando a canção aqui temos dois takes, os de número seis e sete. O primeiro é uma mera introdução por parte de Elvis que acaba entrando com o vocal no momento errado, se enrola um pouco e apesar da banda seguir em frente logo é interrompida pelo cantor ao perceber suas próprias falhas. O take sete por sua vez já é uma versão completa. Elvis ainda erra levemente em alguns trechos mas no balanço final até que é um bom take, apesar de também ser sem grandes novidades importantes...

IT'S STILL HERE (Hunter) - Canção escrita por Ivory Joe Hunter, grande nome da música negra norte americana, compositor, pianista e consagrado cantor de R&B. A admiração de Elvis pela obra de Hunter não ficou apenas restrita as músicas ("My Wish Came True", "Ain't That Loving You, Baby" e "I Will Be True") que o cantor efetivamente gravou. Foi além. Nos anos 50 Elvis, em raro momento de verdadeiro fã de outro artista, convidou Ivory a Graceland para que ambos se conhecessem e trocassem ideias sobre música em geral. O jantar oferecido por Elvis foi um grande sucesso e Ivory relembraria anos depois do grande anfitrião que o cantor foi naquela ocasião. O ponto alto desse encontro, segundo as lembranças do próprio Ivory, foi cantar junto a Elvis o sucesso "I Almost Lost My Mind", escrito pelo autor e imortalizado em gravação com Pat Boone. Voltando ao CD que estamos analisando, aqui temos o take praticamente único de It´s Still Here. A história da gravação dessa música de Hunter por Elvis já é, de certa forma, bem conhecida pelos fãs do cantor. Aqui temos o astro em raro momento solo ao piano. O momento foi a manhã do dia 19 de fevereiro de 1971 nos estúdios de Nashville. Os músicos presentes a esta sessão lembram que Elvis chegou muito inspirado na manhã deste dia e gravou três canções de uma só vez ao piano, sozinho, sem acompanhamento. O interessante é que o horário preferido de Elvis para gravar era durante as madrugadas adentro e esta gravação, feita logo pela manhã, foi uma verdadeira quebra de seu "Modus Operandi". Aliás a novidade não se restringe apenas ao horário da gravação, mas também pelo fato do Elvis instrumentista aparecer depois de tantos anos esquecido.

I WILL BE TRUE (Hunter) - Essa é a terceira música registrada por Elvis na manhã do dia 19. Como já escrevi antes, essa canção e "It's Still Here" são algumas das versões de Presley para velhas e conhecidas canções do talentoso Ivory Joe Hunter. Aqui podemos notar o grande conhecimento musical de Elvis pois é fato que ele sempre usava desse artifício, ou seja, sempre estava revisionando canções antigas e lhes dando um novo tratamento, tentando trazê-las de volta para que novas gerações tivessem a oportunidade de conhecer toda essa vasta tradição musical. E isso que escrevi está bem nítido no fato de seus arranjos terem sido creditadas inteiramente a Elvis e não a Felton Jarvis, que nesse caso se resumiu a acrescentar overdubs para dar mais consistência ao resultado final. Detalhe curioso: Durante sua execução ouvimos nitidamente, segundo alguns, o som de manuseio de folhas, certamente de partituras e letras presentes na sessão. Mais curioso ainda é o fato de alguns autores creditarem esse pequeno erro de gravação ao próprio Elvis!!! Só não conseguiram mesmo explicar como Elvis, que estava tocando piano com as duas mãos, conseguiu ainda manusear as tais "folhas" ao mesmo tempo!!!

UNTIL IT'S TIME FOR YOU TO GO (Marie) - Essa é uma música que nunca encontrou uma versão ideal na voz de Elvis, opinião que era compartilhada pelo próprio cantor que sempre mostrava insatisfação ao ouvir os diversos takes produzidos em estúdio. Talvez por essa razão a música tenha sido arquivada por um bom tempo pelo produtor Felton Jarvis, pois muito provavelmente ele e Elvis ainda esperavam chegar no chamado "take perfeito", coisa que aliás nunca aconteceu, pois a versão que saiu no LP "Elvis Now" é bem mais fraca que essa versão que ouvimos nesse CD. O mais interessante nesse caso foi que, apesar de não ter ficado boa em estúdio na opinião de Elvis, ele resolveu levá-la para a estrada e a incorporou praticamente em definitivo em seu repertório. Os resultados dessas versões ao vivo foram irregulares, pois como sempre temos bons momentos ao lado de interpretações medíocres de Elvis para essa música. Em vista disso esse recente sucesso na voz de Neil Diamond (pois foi gravada no mesmo ano da versão de Elvis), foi lançado como lado principal de um single em janeiro de 1972, com "We Can Make the Morning" no lado B. O single, feito para divulgar o LP "Elvis Now", não encontrou boa repercussão nas paradas, chegando a um desolador 40º lugar. Nesse CD temos dois takes, de números 5 e 6. Essas são versões de junho e nada trazem de muito relevante. No aspecto fluidez essa versão ganha se comparada a versão oficial pois é sabido que a última é bastante prejudicada em seu andamento. Elvis, mais solto e relaxado, produziu aqui um melhor material. Fora isso, apesar de seus inegáveis méritos, só podemos constatar que mesmo sendo boa ainda certamente não é a ideal, o que confirma que Elvis e Felton tinham mesmo razão nesse ponto pois a versão perfeita jamais foi de encontro a voz do cantor.

IT´S ONLY LOVE (James / Tyrell) - A versão oficial dessa canção foi lançada em setembro de 1971 em um single juntamente com "The Sound of Your Cry" no lado B. As vendas foram desanimadoras, chegando apenas na 51ª posição entre os mais vendidos. Aliás é bom frisar que todos os singles lançados por Elvis em 1971 se deram mal, em maior ou menor grau, nas principais paradas musicais. Isso demonstra claramente como a carreira de Elvis vinha sendo mal administrada. Músicas sem muito apelo comercial eram colocadas em posições de destaque nos singles, que em razão disso não chamavam atenção do público que simplesmente o ignoravam. O excesso de lançamentos também era prejudicial. Em 1971 Elvis lançou um single novo praticamente a cada dois meses. Esses singles e álbuns em demasia (foram dez LPs de Elvis lançados somente entre 1970 e 1971) saturavam completamente o mercado, fazendo com que muitos deles encalhassem nas lojas. Além disso como eram muitos os lançamentos, nenhum deles acabava tendo a publicidade adequada e necessária para que se destacassem nessas mesmas paradas. It´s Only Love é o exemplo perfeito do que estou escrevendo. Essa realmente era a música errada no lugar errado. Não estou querendo com isso dizer que ela seja desprovida de méritos, nada disso, apenas quero deixar claro que jamais deveria ter sido lançada como foi, sendo título de um single de Elvis Presley. O resultado desse erro de estratégia veio em números que apenas demonstrava o grande fracasso de vendas em que o single se tornou. A versão oficial é apenas mediana. Com belo arranjo de cordas, com Burton fazendo pequenos solos ao longo da melodia, a música em si até tem refrão agradável, mas passa longe de ser aquele tipo de música que irá grudar na mente das pessoas, fazendo em consequência a canção se transformar em um hit em potencial. O take presente nesse CD já traz algumas pequenas novidades, nada demais, mas que ao menos devem ser citadas. Os pequenos dedilhados de guitarra ganham mais evidência e o ritmo da canção está mais lento e calmo, ganhando com isso maior qualidade técnica. Elvis também se mostra superior nos vocais, com as palavras cantadas de forma mais suave, trazendo nitidez ao conjunto final. De qualquer forma parece que Elvis sabia que faltava de certa forma pique ao take e talvez por isso resolveu no finalzinho inutilizar totalmente a tentativa ao trocar "it´s Only Love" por "It´s Only Sex", pequeno trocadilho que se torna apenas curioso e que nada acrescenta ao resultado final que ouvimos.

I'M LEAVIN´ (Jarret / Charles) - Dando prosseguimento a análise do FTD I Sing All Kinds abro um espaço para escrever sobre as injustiças que foram cometidas durante a carreira de Elvis. Entre elas temos uma série de canções que jamais tiveram o espaço merecido e foram, de uma forma ou outra, negligenciadas pelos produtores e pelo empresário de Elvis. A lista é enorme, porém se fôssemos eleger uma série candidata a mais injustiçada certamente teríamos I´m Leavin entre elas. Melodia das mais lindas entre todas as que Elvis Presley teve oportunidade de interpretar, foi severamente prejudicada pelas decisões equivocadas tomadas entre aqueles que comandavam os rumos fonográficos da carreira discográfica do Rei do Rock. Lançada sem quase nenhuma publicidade em junho de 1971 a canção foi injustamente ignorada na parada norte-americana, sem conseguir sequer ameaçar os líderes da lista de singles da Billboard, alcançando em seu melhor momento um fraco trigésimo terceiro lugar entre os mais vendidos. Uma lástima, sem dúvida. Pior aconteceu no Brasil onde ela sequer foi lançada, permanecendo inédita durante longos anos, não dando oportunidade ao consumidor nacional de sequer conhecer sua qualidade melódica extrema. Aliás os lançamentos de Elvis no Brasil durante os anos 70 eram mal direcionados, mal administrados e mal conduzidos. Para se ter uma pequena ideia do caos que reinava em nosso país basta apenas citar que apenas um compacto nacional inédito de Elvis foi lançado por aqui em 1971. Se isso era ruim o que dizer do fato de que nenhum de seus álbuns com canções inéditas foi lançado em solo pátrio em 1971? Os únicos LPs a chegarem nas lojas brasileiras foram Almost In Love e That´s The Way It Is, ambos com um ano de atraso!!! Realmente o colecionador da época era solenemente ignorado pelos executivos da RCA Brasil. Antes de me adentrar no take aqui presente nesse CD (o de número 3) quero fazer pequenas pinceladas sobre a versão oficial. A música possui uma levada única na carreira de Elvis. Começa suave, basicamente uma introdução vocal que evoca o lamento pela situação em que o autor se encontra. A letra, simples mas profundamente emocional, retrata a falência de um relacionamento, o ocaso de uma história de amor. Estaria Elvis se antecipando ao que iria acontecer com ele e Priscilla no ano que viria? Não sabemos e ir além disso seria mera especulação, porém a canção e sua letra nos remete exatamente a isso, Elvis realmente estaria cantando sobre um fato que lhe era também essencialmente pessoal: o iminente fim de seu casamento. O take 3 presente aqui nesse lançamento ainda traz um grupo e um cantor tentando achar a sonoridade ideal, o ritmo mais adequado e condizente com a versão que lhes foi passada. Elvis está ainda vacilante em certos pontos, tentando se encaixar totalmente na melodia. A despeito disso a versão é bem correta e está a poucos passos daquilo que conhecemos de sua versão oficial. Sem a menor sombra de dúvidas esse registro é um dos mais relevantes já lançados por essa coleção FTD.

LOVE ME, LOVE THE LIFE I LEAD (Macauley / Greenaway) - Esta música foi gravada em maio de 1971 em Nashville e arquivada pelo produtor Felton Jarvis por longos dois anos. Aliás ela foi a última canção gravada por Elvis nessas exaustivas sessões. De sua safra surgiram discos diversos da carreira de Elvis, entre eles o premiado "He Touched Me" (vencedor do Grammy), o popularesco "Elvis Now" (um de seus discos mais populares no Brasil durante os anos 70) e os equivocados "Elvis Sings the Wonderfull World Of Christmas" (tentativa mal sucedida da RCA de reviver seu clássico disco natalino dos anos 50) e "Elvis" (uma das maiores colchas de retalhos da carreira de Elvis Presley). No meio de tanta diversidade, para não dizer desorganização, essa canção ficou perdida em um limbo até encontrar um papel deveras coadjuvante nesse último LP citado. Afinal essa música possui algo que a destaque no meio de tantas outras que frequentavam o repertório de Elvis por essa época? Alguma característica que a remova do incômodo título de mera figurante, mero "tapa buraco"? No meio de tantos lançamentos a música só poderia ficar perdida mesmo, até porque quem prestaria atenção em seus méritos no meio de tal avalanche de lançamentos? Mas como não estamos mais nos anos 70 podemos analisar tudo com mais calma e ponderação certamente. Particularmente acho a canção em si lindíssima. Obviamente seu arranjo se coloca na média, com belo acompanhamento vocal, boa sonorização e um belo e discreto quarteto de cordas ao fundo. O que mais enobrece esse momento perdido de Elvis sem dúvida é a interpretação do próprio cantor. Vejam como Elvis vai, em poucos segundos, de uma vocalização sóbria e contida para uma explosão emocional logo nos primeiros segundos da canção. Ele facilmente passa de uma postura ressentida para passional ao extremo, seu vocal na versão oficial é simplesmente brilhante, uma verdadeira montanha russa de emoções e posturas conflitantes - não me admira que alguns o tenham como uma pessoa que sofria de transtorno bipolar!!! Maior exemplo de um artista trabalhando com material apenas razoável e o transformando em pequenos momentos de brilhantismo natural. Aqui nesse CD temos o take de número quatro de Love Me, Love The Life I Lead. Primeira constatação: a voz de Elvis e a parte instrumental de seu grupo estão bem mais nítidos e presentes nessa faixa. Fazendo uma analogia visual seria como se alguém tivesse tirado os músicos de dentro de uma caixa e os trazido para mais perto dos equipamentos de gravação. Na versão oficial temos um registro mais apagado pois certamente Felton ao fazer a mixagem com o arranjo orquestral ao fundo teve que contrabalancear os músicos de estúdio com o arranjo que foi gravado posteriormente e nesse processo o som da gravação de Elvis e grupo foi nitidamente ofuscado. Não chega a ser um problema mas tira um pouco do brilho da versão oficial. No aspecto puramente restrito à performance de Elvis notamos que ele ainda tenta encontrar o caminho correto dentro da faixa. Sua tão citada explosão emocional aqui é bem mais contida e menos robusta. Elvis ainda não havia se entregado completamente à interpretação e assim notamos que o "algo mais" ainda não está presente aqui nesse registro. De qualquer forma temos ao menos a gênesis de um pequeno grande momento de Elvis prestes a surgir. Sem dúvida um registro precioso desse CD.

PADRE
(LaRue / Webster / Romans) - A letra de Padre foi escrita por Paul Francis Webster, um famoso compositor que desde a década de 1930 já fazia canções para a grande estrela infantil da época: Shirley Temple. Embora isso o qualificasse como um compositor de estúdios, no auge do Star Sistem, ele aos poucos foi se aproximando de outras importantes vertentes da música daquela época, chegando a compor para nomes consagrados como Duke Ellington. Uma década depois ganharia dois prêmios Oscar por composições escritas especialmente para filmes de Hollywood, sendo duas delas conhecidissimas dos amantes da sétima arte: "Secret Love" que se tornou imortal na voz de Doris Day em 1953 e "Love is a Many-Splendored Thing" do grande clássico romântico "Suplício de uma saudade". Já a parte instrumental dessa música foi composta pelo famoso pianista clássico francês Jacques La Rue. Em vista de tudo isso chegamos facilmente à conclusão que "pedigree" não lhe faltava. A canção que havia se tornado sucesso em 1958 pelo jeito cativou realmente Elvis, tanto que era reconhecidamente uma de suas favoritas. Pode-se inclusive notar a extrema empolgação do cantor na versão oficial que saiu no LP Elvis de 1973, pegando o embalo dessa vez do sucesso da música em plenos anos 70 na voz de Marty Robbins. Embora a versão de Elvis tenha sido gravada no dia 15 de maio de 1971 em Nashville ela só ganhou mercado anos depois quando Jarvis reuniu uma série de canções arquivadas de Presley para compor o já citado álbum, que no fundo não passava de uma grande colcha de retalhos organizada pelo produtor do cantor. A versão que aqui ouvimos nesse CD I Sing All Kinds é a segunda tentativa de Elvis em gravar a música. Padre (take 2) é apenas um embrião do que viria a ser a versão oficial que todos conhecemos. Aqui a música está em um ritmo bem mais cadenciado. Elvis e seu grupo ainda estão um tanto quanto "amarrados", para não dizer tensos e pouco espontâneos. Elvis certamente ainda tenta seguir milimetricamente as notas o que torna a versão demasiadamente mecânica e pouco espontânea, duas características que certamente não existem na versão original cuja maior particularidade é a empolgação incontida e contagiante de sua interpretação.

SEEING IS BELIEVING (West / Spreen) - Sempre achei a versão oficial bem fraca, para dizer a mais pura verdade acho bem equivocado o tom escolhido por Elvis para cantar essa música gospel. Além disso o master escolhido por Jarvis sempre me pareceu gravado às pressas, sem muito rigor técnico. Agora que temos acesso a esse take alternativo desse CD podemos nos concentrar melhor sobre as eventuais falhas da gravação dessa canção. Assim chegamos em Seeing Is Believing (take 7). Interessante. Esse é o que sempre procurei em relação a essa música. Extremamente bem gravada, com o ritmo certo, acompanhamento mais do que correto e o vocal de Elvis que deixa a versão oficial a milhas de distância em termos de qualidade. Chego a me perguntar o que diabos se passava na cabeça de Felton Jarvis para escolher aquela versão fraquíssima do disco oficial? Esse é um dos grandes exemplos de um take alternativo que foi descartado pelo produtor de Elvis por causa de uma escolha bastante infeliz mas que é infinitamente superior ao que chegou ao mercado. E se esse foi um erro de seu produtor logo o cantor sofreria novamente por outro erro e outra decisão errada tomada, mas dessa vez por seu empresário Tom Parker. Foi durante as sessões de Nashville em 1971 que Presley sofreu a primeira baixa significativa em seu grupo de apoio. Essas foram as últimas gravações em que o grupo vocal The Imperials trabalhou ao lado do cantor. Como sempre acontecia na relação "Parker x músicos de Elvis" esses talentosos vocalistas estavam insatisfeitos com o que vinham recebendo do manager de Elvis. Assim como aconteceu com os músicos de Presley nos anos 50 eles também acabaram deixando o cantor por não serem atendidos em suas reivindicações salariais. Nesse aspecto Parker era intransigente e seu lema era simples: "Não estão satisfeitos com o que ganham? Podem ir embora então". E eles foram mesmo. Depois que deixaram o lugar vago, o grupo de JD Sumner assumiu o posto, sendo que anos depois Elvis resolveu ele mesmo formar um grupo vocal ao qual deu o nome de Voice.

A THING CALLED LOVE (Hubbard) - Jerry Reed Hubbard, autor dessa música, é um conhecido cantor veterano de música country nos EUA. Por lá ele desfrutava de grande prestígio desde os anos 60 e quando a versão de Elvis de sua música chegou nas lojas ele estava no auge de sua carreira musical. Para se ter uma idéia foi justamente em 1972 que Jerry venceu o Grammy de Best Male Country Vocal Performance. Jerry Reed era velho conhecido de Elvis. Desde o final dos anos 60 o caminho de ambos havia se cruzado. Em 1967 ele recebeu um telefonema de Felton Jarvis dizendo que Elvis estava muito interessado em gravar algumas de suas canções, entre elas as maravilhosas "Guitar Man," e "U.S. Male". Sem dúvida esse primeiro contato foi extremamente importante para Elvis e Jerry, justamente no momento em que Presley procurava material de qualidade para superar a fase de suas trilhas sonoras sem grande expressão. Mas essa bela parceria não terminaria por ai. Após gravar pela primeira vez "A Thing Called Love" Jerry cedeu os direitos para uma versão de grande sucesso na voz de ninguém menos do que o outsider Johnny Cash. Foi a partir desse momento que Elvis realmente percebeu que poderia gravar ele também mais uma bela versão para a música. Particularmente sempre achei "A Thing Called Love" uma das melhores coisas do álbum gospel He Touched Me e bem ao contrário de Seeing Is Believing sempre achei seu master muito bom, bem acima da média. A canção tem uma melodia relaxante e a vocalização, praticamente sussurrada por Presley e seu grupo vocal, é certamente um dos pontos altos do disco. Uma coisa logo chama atenção nessa música para os mais atentos. Elvis está mergulhado na vocalização ao lado de seu grupo. Ele procura sempre fazer parte do coro vocal e sua voz está no mesmo patamar dos cantores ao seu redor. Para quem sempre almejou fazer parte de um quarteto gospel vocal nada seria mais adequado. Elvis conscientemente e propositalmente se coloca como apenas mais uma voz de apoio. Sempre achei essa característica fascinante nesse registro. O take 1 que encontramos nesse cd nos chama atenção por algumas peculiaridades. A primeira é notar que Elvis já sabia muito bem desde o começo o que procurava fazer nessa gravação. Dessa forma não há nenhuma mudança mais visível entre as duas performances que conhecemos. Elvis está obviamente no controle da situação e podemos sentir nitidamente sua grande satisfação em, afinal de contas, ser apenas mais um dos rapazes de um belo quarteto gospel. Finalmente o velho sonho de infância do astro ganhava ares de realidade, para felicidade de todos os envolvidos.

PUT YOUR HAND IN THE HAND (Gene McLellan) - Quem disse que country canadense não existe ou não tem valor? Pois é, apesar dessa ser uma mistura mais do que implausível, aqui temos Elvis cantando mais uma música que foi grande sucesso na voz da cantora canadense Anne Murray. Ao lado de seu parceiro Gene MacLellan na Capitol Records ela conseguiu fazer uma carreira de sucesso, principalmente durante os anos 70 onde emplacou vários hits, entre eles a nossa tão conhecida "Snowbird", que também havia sido sucesso em sua voz após ser escrita pelo ótimo MacLellan. Apesar de terem legado duas excelentes canções que posteriormente foram gravados por Elvis em estúdio, a dupla chegou ao final após o trágico suicídio de Gene. Não importa, felizmente Elvis teve a chance de produzir esses dois belos registros em sua voz. O cantor entrou decidido a registrar essa canção, que afinal era uma de suas preferidas, e chegou na versão oficial no dia 08 de junho de 1971, nos Estúdios B, da RCA, em Nashville. Esta sessão tem um aspecto histórico que poucos se lembram ou então passam despercebidos quando a analisam: ela foi a última de Elvis Presley em Nashville, a capital mundial da música country. Sem dúvida nesta cidade Elvis gravou algumas das músicas mais populares do século XX. Desde seu primeiro grande sucesso nacional e mundial, passando por muitos de seus mais lembrados e famosos discos, Elvis estava dizendo adeus a cidade onde produziu algumas de suas verdadeiras obras primas. A partir desse momento, Elvis, envolvido em muitos problemas de ordem pessoal e profissional, iria preferir não fazer mais essas viagens a Nashville e iria ficar gravando seus últimos LPs somente em Memphis, seja em estúdios localizados na cidade (como o Stax) ou então em sua própria casa, Graceland. A mais pura verdade era que Elvis não tinha mais paciência para viagens após tantos deslocamentos para a realização de suas turnês e temporadas em Las Vegas. Agora voltando para a análise da gravação do master original de "Put Your Hand in The Hand" logo percebemos que ela não é tecnicamente perfeita, apenas ficando na média. De qualquer forma não deixa de ser um belo momento, apesar de achar que Elvis deveria se envolver um pouco mais. Outro destaque da gravação são os solos de Burton em momentos distintos da faixa (aliás um solo encerra a canção, um fato até mesmo raro na discografia oficial de Elvis). O take um não apresenta maiores novidades. Elvis está mais pontuado na dicção das frases, seguindo mais milimetricamente a ordem da letra original, mas é só. Ganha em tecnicismo porém perde ainda mais em emoção, pois Elvis está visivelmente apenas lendo a letra, sem maiores envolvimentos novamente. Como é apenas uma primeira tentativa Elvis fica mais à vontade no final do registro, que ainda não conta com o característico solo final de Burton da versão oficial que tanto conhecemos. Infelizmente essa é a última música relevante do ponto de vista artístico do CD. A partir desse ponto a qualidade cai assustadoramente. Um exemplo é a faixa que vem logo depois,

JOHNNY B. GOOD (Chuck Berry), uma versão sem nenhum interesse e que só serve para demonstrar como Elvis estava drogado nessa ocasião. Isso é facilmente percebido ao ouvir Elvis totalmente "alto", sem concentração, sem conseguir conectar nenhum nexo em suas ideias em um humor tipicamente artificial e fazendo com que todos os presentes ficassem embaraçados com seu estado mental. Totalmente desnecessário a inclusão desse momento constrangedor no CD. Logo após esse verdadeiro desastre entramos no material natalino. Só posso lamentar ao ouvir essas faixas. Isso é o mais próximo que Elvis chegou nos anos 70 de voltar ao esquema das trilhas sonoras dos anos 60. A analogia é fácil de entender. Aqui temos novamente Elvis sendo levado a gravar, sem a menor vontade, um material totalmente imposto por Parker e RCA. Faixas artificiais feitas com único propósito mercantilista, sem nenhuma preocupação com qualidade ou valor musical. Um material anacrônico, fora de moda, totalmente contrário ao que Elvis vinha tentando mostrar desde seu retorno aos palcos em 1969 e aos belos trabalhos de estúdio que vinha apresentando. O material natalino de 1971 é, e desculpem a minha sinceridade, destituído de qualquer importância musical. Quando chegamos no final do CD temos a sensação de que caímos dentro de mais um daqueles projetos horríveis que Elvis se envolveu na década de 60. São cinco faixas que jogam a qualidade do CD lá para baixo. Se as sessões de 1971 são tão criticadas a razão não é muito complicada de se entender. Essas canções são fraquíssimas, mal gravadas, com Elvis em total controle remoto, desinteressado, rezando para as sessões terminarem logo. Aqui Elvis e banda fracassaram duplamente: primeira artisticamente pois a qualidade desse material natalino é nulo e depois comercialmente pois o disco foi um tremendo, um grande fracasso de vendas, totalmente ignorado pelo público na ocasião de seu lançamento. Um desastre completo.

I´LL BE HOME ON CHRISTMAS DAY (Jarret) é a primeira delas. Ela é um prelúdio até adequado do que seria esse disco de natal de Elvis dos anos 70. Nem há muito o que comentar. A canção é assumidamente tediosa, bocejante e Elvis está desabando de tanto tédio. Na parte final da faixa Elvis erra pavorosamente o arranjo, perdendo o tempo certo da música. Mortificante e aborrecida, para dizer o mínimo, com Elvis tentando disfarçar a falta de envolvimento com malabarismos vocais primários que certamente não irão convencer ou impressionar os ouvintes mais atentos e criteriosos. Em resumo a música é apenas muito chata e enfadonha. O pior vem depois.

HOLLY LEAVES AND CHRISTMAS TREES (West / Spreen) Existe arranjo mais ultrapassado (até mesmo para a época) do que esse escrito para música? Duvido muito. Esses sininhos extremamente bregas e ridículos já estavam fora de moda desde a década de 1940. Que coisa mais fora de propósito. Totalmente embaraçoso, Elvis Presley, após tudo o que passou para ressuscitar sua carreira após 1968 ter que ficar cantando em cima de sininhos de natal. Simplesmente decepcionante e completamente embaraçoso, sem dúvida tudo muito, mas muito, embaraçoso. De fazer corar. Tudo bem que Elvis a gravou como um favor a seu amigo de longa data Red West, mas ele poderia ter muito bem passado sem esse vexame. Vou resumir esse arranjo e essa música com uma palavra simples: patético.

O pouco humor e paciência que você conseguiu reunir para ouvir essas últimas faixas começam a sumir quando as primeiras notas de IF I GET HOME ON CHRISTMAS DAY (Macaulay) começam a soar. Além de ser outra bobagem, que Elvis tenta cantar até o fim de forma profissional, somos levados a ouvir uma rara desafinada do cantor lá no começo da terça parte da canção. Simplesmente horrível. Sério, ao ouvir esse tipo de coisa só posso mesmo me sentir solidário com Elvis. Ficar preso a um material medíocre desses e ainda ter que se envolver com material tão obtuso não deve ter sido fácil para ele. Simplesmente pavoroso. Mas o espanto vem depois, se você é daquelas pessoas que achavam que tudo não poderia piorar vai certamente se surpreender com o que vem depois. Se sininhos já eram ridículos o que achar de uma introdução de caixinha de música? Seria engraçado se não fosse trágico.

IT WONT SEEM LIKE CHRISTMAS (Balthrop) é a pá de cal que faltava para enterrar todo o material ridículo de natal. Que lástima, logo Elvis que havia feito um belo álbum natalino nos anos 50 (Elvis Christmas Album) se afundar num pântano de canções ruins como essa de novo? Elvis lamentou e até mesmo se indispôs com a ideia de Parker e RCA de voltar a gravar músicas de natal mas infelizmente ele perdeu essa parada e... não há o que dizer, afundou mais uma vez em um álbum medíocre.

A última música do CD é uma outra versão de I´LL BE HOME ON CHRISTMAS DAY. Nada a acrescentar. Sendo bem sincero essa parte final desse, que em seu conjunto ainda consegue ser um bom CD do selo FTD, é completamente melancólica e desanimadora. Na minha forma de ver as coisas Ernst deveria ter feito um título exclusivo apenas com essas canções natalinas, assim seria mais fácil ignorar todo o CD ou então tentar descobrir algo de interessante no conjunto da obra, até mesmo porque existem pelo menos dois registros que ainda conseguem prender, mesmo de forma precária, nossa atenção. No álbum oficial "The Wonderfull World of Christmas" pelo menos ainda existe uma canção razoável com vocalização inspirada (O Come, All Ye Faithful) e um excelente blues de Chuck Berry (Merry Christmas Baby). Infelizmente aqui Ernst parece que selecionou apenas as piores para fazer parte do CD. Do jeito que está essa seleção aqui no I Sing All Kinds não há mais salvação. Ponto final. E com essas palavras encerro meu último texto inédito de 2007 e que venha agora 2008, ano que estaremos comemorando nove anos on line! Para celebrar tão importante data iremos trazer ainda mais material inédito e de nossa própria autoria. No mais quero agradecer todos os nossos leitores, que acompanharam nosso trabalho durante esse ano que chega ao fim e desejar um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo. Até 2008 e Viva Elvis!

Pablo Aluísio.

2 comentários:

  1. Pablo, acho seus comentários simplesmente fascinantes. Tenho uma dúvida: quando você mantinha o site no geoticies, tinha uma série de fatos da vida pessoal de Elvis que você contava baseado em várias literaturas, de vários escritores diferentes. Me lembro de ter lido algo como "Elvis saiu para uma noitada com Linda Thompson em Memphis", só que não lembro se vc mencionou o local. Gostaria muito de saber o local, se realmente é de seu conhecimento, pois estou indo pra lá no mês que vêm e adoraria estar em uma casa noturna frequentada por Elvis. Obrigada por compartilhar conosco todo seu conhecimento. Eliane.

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  2. Olá Eliane, seria interessante saber em qual texto isso é mencionado. Se você pudesse recordar ao menos o título do texto me facilitaria para lhe responder essa questão. Abraços.

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