segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - One Night Only!

Depois de se instalar confortavelmente em Las Vegas e conquistar seu espaço, Elvis caiu na estrada. Suas primeiras apresentações fora de Las Vegas foram realizadas em fevereiro e março de 1970 na cidade de Houston. Embora seus seis shows nessa cidade tenham sido um enorme êxito de público e crítica, Elvis ainda demoraria um pouco para se firmar nas turnês que viriam a seguir. Havia uma grande série de problemas a se resolver antes de abraçar completamente a ideia de voltar de vez a estrada, como nos anos 50. Aos poucos porém Elvis foi se firmando, assumindo turnês mais extensas e produtivas. Com o sucesso alcançado em 1970 todos pensavam que Elvis iria arrasar de vez nesse aspecto no ano posterior, mas não foi bem isso que aconteceu. 

Em 1971 Elvis quase não saiu de sua rotina de shows em Las Vegas. Realizou duas temporadas nessa cidade e depois seguiu rumo a Lake Tahoe para realizar uma curta temporada no mesmo estilo de Vegas. Para quem aguardava com ansiedade uma grande turnê nacional (e quem sabe até internacional) essa agenda de shows foi um grande balde de água fria. Já quase no final do ano o Coronel arranjou para Elvis uma série de concertos na costa leste, notadamente pelo Sul e norte do país. Entre os dias 5 a 16 de novembro Elvis cumpriria uma apertada agenda de shows, visitando cidades como Minneapolis, Cleveland, Philadelphia, Baltimore, Houston, Dallas e Boston. Foi justamente nessa última cidade que Elvis realizou a apresentação que seria lançada depois no CD da Madison intitulado One Night Only! Na verdade esse material já era bem conhecido dos fãs, principalmente quando chegou ao mercado dos bootlegs sob o título de The Power Of Shazam! A novidade era que a Madison prometia sensível melhora nos registros, tentando elevar, quando possível, a qualidade sonora da gravação. Embora muitos especialistas concordem que 1971 foi um ano bastante abaixo da média por parte de Elvis (principalmente por causa das criticadas temporadas de Vegas), nesse concerto podemos notar nitidamente que nem tudo o que Elvis realizou foi opaco nesse ano. Diante de um público estimado em 15 mil pessoas Elvis procurou dar o melhor de si e não deixou o tédio se instalar no palco.

O concerto em Boston é uma grata surpresa. Elvis aparece focado, cantando bem e se apresentando profissionalmente. Certamente o fato de ter realizado apenas uma única turnê em 71, com apenas 14 shows, obviamente foi um ponto a favor. O cansaço e a fadiga em nenhum momento se mostram presentes. Até mesmo em músicas que iriam virar piada no palco nos anos seguintes, como Love Me Tender, receberam tratamento digno por parte do cantor aqui. Em termos de performance temos um Elvis acima da média, nada de muito grandioso ou fenomenal, mas bem melhor que suas fracas apresentações que realizou em Vegas por essa época. Além do fato de ter tido uma agenda de shows bem mais humana outro fato deve ter contribuído para essa boa apresentação de Elvis. Mudanças em seu grupo vocal fizeram com que um grupo de que gostava muito, J.D Sumner & The Stamps, pela primeira vez se apresentasse ao seu lado. Certamente diante de vocalistas tão talentosos Elvis não queria fazer feio. E não fez. Ao ouvir o show o ouvinte nitidamente nota o empenho de Elvis em apresentar belas versões de Funny How Time Slips Away (uma canção sempre agradável de se ouvir), You've Lost that Lovin' Feeling (com um trocadilho para o público) e principalmente I’m Leavin’ (seu novo single nas lojas). Essa última canção realmente é o ponto alto do show. Como o vocal está em destaque na gravação podemos notar todas as nuances do trabalho de Elvis. Embora comece a cantar com uma sensível insegurança na letra (a música era uma grande novidade ao vivo para ele), Elvis rapidamente assume o controle e nos presenteia com um ótimo momento. Uma pena que Elvis tenha aos poucos deixado de divulgar suas novas gravações nos shows que viriam, algo que faz de forma fantástica aqui. Aproveitando o embalo de I´m Leavin ainda encaixa na sequência uma belíssima versão de Bridge Over Troubled Water (com direito até a uma reprise inspirada). Essa música, símbolo do filme documentário que realizou no ano anterior, eleva consideravelmente o nível de qualidade do CD.

Tecnicamente Bridge não é impecável (poucas versões ao vivo o são) mas o sentimento está lá, não há como negar. Por fim outro momento digno de nota é a boa apresentação de Suspicious Minds, anos antes de se tornar rotineira e cansativa. Em termos de energia o grande momento do show vem com Proud Mary, que iria se tornar marca registrada em seus futuros shows no Madison Square Garden. A canção está tão frenética que Elvis até mesmo perde um pouco a respiração. Muito provavelmente estava estraçalhando no palco, embora as imagens não tenham chegado até nós. Um aspecto negativo do CD é a versão de How Great Thou Art, que aqui aparece de forma incompleta. Como todos sabemos essa iria ganhar em grandiosidade pelos anos que viriam o que levaria Elvis finalmente a ganhar o Grammy por sua interpretação no álbum ao vivo de Memphis três anos depois. Com o registro incompleto perdemos uma boa oportunidade de conhecer uma das primeiras versões de Elvis para o gospel ao vivo e assim analisar todas as mudanças pelas quais a canção passaria. Enfim, One Night Only é um CD essencial para compreender que em 1971 Elvis realizou bons shows e concertos, embora grande parte do material que tenha nos chegado deixe a impressão do contrário. Talvez a genialidade apresentada em 1969 e principalmente 1970 tenha ofuscado 1971, deixando a impressão que foi um ano sem grandes novidades, com temporadas medíocres em Las Vegas e gravações rotineiras e sem brilho. Mas não é bem por aí. O talento estava lá, apenas não na intensidade dos anos anteriores. Para compreender melhor essa fase nada mais conveniente do que ouvir atentamente One Night Only, que captou mais um concerto impecável de Elvis nos palcos de Boston, mesmo que tudo tenha acontecido em apenas uma noite.

Elvis Presley - One Night Only!
- Selo: Madison - Músicas: Also Sprach Zarathustra That's All Right - I Got A Woman / Amen - Proud Mary - You Don't Have To Say You Love Me - You've Lost That Lovin' Feelin' - Polk Salad Annie - Elvis Walks (‘Coming Home, baby’ instrumental) - Love Me - Heartbreak Hotel - Blue Suede Shoes - One Night - Hound Dog - How Great Thou Art (incomplete) - Introductions - I'm Leavin' - Bridge Over Troubled Water (& reprise) - I Can't Stop Loving You - Love Me Tender - Suspicious Minds - Elvis Talks (instrumental) - Funny How Time Slips Away - Can't Help Falling In Love - Closing Vamp - Data de gravação: 10 de novembro de 1971, Boston, 8:30 da noite.

Pablo Aluisio.

Um comentário:

  1. Avaliação:
    Produção: ★★★
    Arranjos: ★★★
    Letras: ★★★
    Direção de Arte: ★★★
    Cotação Geral: ★★★
    Nota Geral: 7.9

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