Todo cantor ou grupo musical acaba desenvolvendo dois lados diversos em suas carreiras, as gravações em estúdio e a vida na estrada, nos concertos ao vivo. Alguns são melhores dentro dos estúdios do que em apresentações ao vivo enquanto que outros são exatamente o contrário. Veja o caso dos Beatles. Eles eram verdadeiros monstros dentro dos estúdios, criando, inovando e revolucionando como ninguém. Ao lado de seu produtor George Martin eles criaram dentro dos estúdios Abbey Road o som definitivo dos anos 60. Porém nas apresentações ao vivo percebemos bem que eles não eram assim tão bons: geralmente apareciam trocando as notas, atravessando o acompanhamento e muitas vezes errando até mesmo as letras. Claro que no meio da gritaria das fãs muitos não percebiam essas inúmeras falhas, mas se prestarmos bem a atenção, veremos que eles não eram bons tecnicamente ao vivo, além de nem sempre disponibilizarem performances memoráveis para seus admiradores. Já Elvis conseguia jogar muito bem nos dois campos, pois ele conseguia ser um grande artista tanto dentro dos estúdios como em aparições em shows e apresentações perante seu público. Quando estava empenhado e interessado em fazer belos concertos Elvis era praticamente imbatível nesse quesito. A conclusão é óbvia: Elvis Presley era um homem de palco, um artista que nasceu para fazer shows. Foi através de suas aparições ao vivo que seu mito foi criado! Todas as suas apresentações na TV americana dos anos 50 são mitológicas. Ele era um grande cantor e intérprete ao vivo e assim ele construiu sua fama e seu sucesso. Esses são fatos que todos sabemos, que todos sabemos ser a mais pura e absoluta verdade! Mas parece que o empresário de Elvis não sabia disso! Pasmem! O que Tom Parker fez nos anos 60 com esse grande entertainer? Inacreditável, ele simplesmente tirou Elvis dos palcos!
Sem cantar ao vivo por quase oito anos, fazendo filmes ruins, gravando músicas horríveis, é difícil até mesmo entender como Elvis conseguiu sobreviver aos anos 60! Sua capacidade de sobrevivência durante esses anos de obscurantismo artístico realmente impressiona qualquer um até hoje! Qualquer pessoa que assista alguns filmes de Elvis nos anos 60 acaba se perguntando: como Elvis escapou depois de fazer um trash desses?! O pior é saber que ele deixou de fazer apresentações por praticamente nada, pois sua carreira em Hollywood nada trouxe para ele em termos de engrandecimento artístico, muito pelo contrário, toda uma geração acabou associando sua imagem àquilo que era apresentado nos cinemas e em razão disso nunca o levaram à sério e nem entenderam sua real importância para a cultura musical de todos os tempos. Além de não conseguir mais fazer novos fãs, os antigos admiradores começaram a ir embora durante os anos 60, pois estavam fartos de consumir tanta mediocridade. Não tardou para que houvesse uma verdadeira debandada de fãs. Muitos deixaram o barco e os discos de Elvis começaram a fracassar para valer nas paradas, merecidamente aliás. Enfim, o que realmente aconteceu foi isso mesmo: Elvis se retirou dos palcos, onde era um verdadeiro monarca e reinava absoluto, para estrelar verdadeiras pérolas do absurdo, verdadeiros filmes B que o colocaram numa posição simplesmente deplorável durante aquela década, o fazendo virar uma espécie de artista menor e sem importância para a crítica musical da época, que nunca o perdoou por estrelar tanto material medíocre! A verdade era que ninguém mais levava Elvis e seus "disquinhos" de filmes mais à sério. Um dos maiores artistas de nosso tempo era colocado numa posição insignificante, nada digna de seu grande talento. Algo tinha que mudar. Felizmente depois do NBC Special, onde Elvis fez sua primeira apresentação ao vivo perante um público selecionado, ele finalmente tomou consciência que não poderia ficar mais longe dos holofotes. On Stage, gravado ao vivo no Showroom do International Hotel em Las Vegas, a cidade do pecado, em fevereiro de 1970, traz um instantâneo do momento em que Elvis estava se renovando, renascendo.
Esta foi a segunda temporada do Rei do Rock após sua volta aos palcos em 1969 e veio para confirmar sua condição de grande artista naquilo que sabia fazer de melhor: se apresentar perante seus fãs. O disco não deixa margem a dúvidas: Elvis ainda era o melhor quando queria e se empenhava para isso. Hoje todos concordam que as melhores temporadas de Elvis em Las Vegas são justamente as três primeiras após seu retorno. E é fácil entender o porquê! Ora, o que mais desejava Elvis nesses anos iniciais em Las Vegas? Simplesmente apagar seu passado recente, deixar para trás toda a experiência ruim dos filmes, que no final das contas serviram apenas para macular sua imagem de artista relevante e importante, e recomeçar de novo, renascer como artista novamente, ter mais uma chance, se reinventar. Elvis estava concentrado e empenhado para deixar seu recado: "Eu ainda estou aqui! Eu estou vivo! Eu ainda sou Elvis Presley!" A necessidade de apresentar material de qualidade era tão urgente que Elvis retornou muito rápido a Las Vegas para uma nova temporada, poucos meses depois de sua incrível volta aos concertos ao vivo. Voltou mais confiante e ainda mais empenhado em fazer belas apresentações. Muitos até mesmo achavam que era cedo demais para começar uma nova temporada e temiam até que o cantor não conseguisse lotar suas apresentações durante este período, pois Las Vegas nesta época do ano não apresentava um bom movimento de turistas e visitantes. Porém, se Elvis estava com extrema necessidade em cantar ao vivo, seus fãs estavam ainda mais ansiosos para um reencontro, principalmente àqueles que se mantiveram fiéis, mesmo durante a fase mais baixa de sua carreira. Foi a situação ideal para se utilizar daquele velho ditado popular: "Juntou mesmo a fome com a vontade de comer!" O que ocorreu depois foi que Elvis conseguiu alterar até mesmo a rotina da cidade, levando milhares de pessoas de todas as partes do mundo em direção a Vegas para assistir a seu show. A temporada acabou se tornando um grande sucesso e mostrou para todos que os críticos tinham mesmo todas as razões do mundo em exigir mudanças na carreira de Elvis.
Longe dos roteiros ridículos e das músicas enlatadas, Elvis adentrava no palco do International como um verdadeiro soberano da música: belas performances no palco, ótimas canções e arranjos, uma banda extremamente afinada e uma orquestra impecável, além é claro, do ótimo time de vocalistas que trouxe muita qualidade ao saldo final das interpretações do cantor. Nada mais distante do que vinha acontecendo nos estúdios de Hollywood. Finalmente Elvis Presley começava a trilhar o rumo certo mais uma vez na sua carreira. A partir desse momento Elvis iria cumprir duas temporadas anuais em Vegas, sempre no International Hotel (anos depois mudado para Hilton Hotel). Era o início dos anos setenta, década em que Elvis Presley iria dar uma nova guinada em sua carreira, se tornando um artista completo após anos de desperdício em filmes de Hollywood. Elvis iria apresentar a partir daí um repertório com o melhor da música norte-americana dando uma visão pessoal para muitas delas. Finalmente o verdadeiro Elvis Presley estava de volta. Essas são as canções do disco "On Stage / February 1970" (LSP 4362):
SEE SEE RIDER (Arr. Elvis Presley) - Algumas vezes, com a intenção de se elevar o crédito de Elvis como músico, foram cometidas injustiças. É o caso de See See Rider. A canção foi creditada de forma errada na capa do LP original na época, ignorando a autoria correta e colocando Elvis nos créditos da música. Mesmo que ele tenha contribuído muito para o arranjo da versão, essa manobra soa desconfortável, para se dizer o mínimo. Na verdade See See Rider tem uma longa história musical e não se citar os verdadeiros responsáveis por sua criação é uma grande injustiça. Apenas para deixar registrado vamos realmente dar os créditos de autoria aos verdadeiros autores, "Ma" Rainey e Chuck Willis. Como não se citar Ma Rainey como uma de suas autoras na capa do disco, logo ela que é considerada a verdadeira "Mãe do Blues"?! Tão importante como Bessie Smith, ela é considerada um dos pilares fundamentais desse gênero musical. "C.C.Rider" foi um de seus maiores êxitos e sua contribuição nunca poderia ter sido ignorada pelos produtores da RCA Victor. Chuck Willis também é outro grande injustiçado nesse caso específico. Um dos grandes cantores negros de R&B das décadas de 40 e 50, Chuck Willis hoje está praticamente esquecido, mesmo que tenha composto grandes canções como "Story", "Going To The River" e "You're Still My Baby", além da famosa "I Feel So Bad", gravada também pelo próprio Elvis Presley nos anos 60.
Ambos foram também responsáveis pela longa evolução que o Blues percorreu até servir como base para o surgimento do Rock'n'Roll e apesar de toda sua relevância musical e histórica foram completamente ignorados pelos executivos da gravadora de Elvis. Racismo ou ignorância pura e simples? Não podemos afirmar nada, apenas lamentar. De qualquer maneira varrer o nome deles para debaixo do tapete foi no mínimo vergonhoso. Enfim, aqui está o novo arranjo para essa velha canção. A música seria utilizada em praticamente todos os seus shows, se tornando parte fixa de seu repertório nos anos setenta. Sua escolha não é mistério. Além de letra simples (que facilitaria a vida de Elvis nas apresentações), a canção é animada, contagiante e tem um embalo muito bom. Além disso remete todos que a ouvem para o sul, pois ela é derivada direta das tradições sulistas, sendo adaptada e cantada por vários nomes relevantes daquela região dos EUA, como inclusive já citei antes aqui. Curiosidade: Numa homenagem a Elvis nos anos 90 o "The Killer" Jerry Lee Lewis ficou responsável por uma nova versão desta canção, o que resultou num dos mais esquisitos tributos musicais a um artista da história. A nova versão de Lewis não lembrava nem a original e muito menos a versão de Elvis resultando em mais uma extravagância do "matador".
RELEASE ME (Eddie Miller / W.S.Stevenson) - Um antigo sucesso lançado por Esther Philips em 1962 pelo selo Lenox, sendo que em 1967 esta música foi novamente gravada por Engelbert Humperdink. Essa versão de Elvis em Las Vegas tem ritmo e desenvolvimento, se tornando outro grande momento deste disco. Uma coisa logo nos chama atenção na carreira de Elvis Presley. Em estúdio ele procurava principalmente, a partir dos anos 70, se firmar como um artista que se revelava inteiramente para todos, expondo muitas vezes seus dramas pessoais. Já nos palcos Elvis tinha que ter outro posicionamento. Sua função principal aqui era a de entreter sua grande plateia e para isso Elvis não se importava em fazer concessões, como apresentar hits de outros artistas, sucessos da época ou músicas da moda! Muito provavelmente no palco o que se sobressaía era sua postura de grande artista, de grande entertainer. "On Stage" é significativo nesse ponto. Aqui temos contato com o Elvis dos palcos, o cantor que muitas vezes mudava a lista de canções de acordo com as reações que colhia de seu público. Não raro Elvis sentia que as canções não estavam empolgando muito e então mudava a ordem das músicas que apresentava! Tudo em nome da diversão e do prazer de proporcionar uma grande noite para seus fãs que iam até Las Vegas. "Release Me" é um exemplo disso. A canção é muito boa, apesar de simples, tem ritmo empolgante, boa fluência melódica e proporciona para um artista como Elvis a oportunidade de divertir seu público de forma rápida, limpa e eficaz.
SWEET CAROLINE (Neil Diamond) - Deliciosa versão de Elvis para o grande sucesso do cantor Neil Diamond. A canção era muito recente, tinha sido lançada há pouco tempo por seu autor em disco do mesmo nome e tinha chegado na incrível marca de dois milhões de singles vendidos! Depois de apresentá-la no programa de Ed Sullivan, Neil Diamond finalmente alcançava o ápice de sua carreira musical e Elvis embarcava nesse sucesso todo a apresentando em Las Vegas durante seus shows na cidade. Não escrevi aqui que nos palcos Elvis às vezes fazia concessões para que os shows fossem de agrado ao seu público? Pois então! "Sweet Caroline" aparece para confirmar o que escrevi antes. Pois bem. Em relação a Elvis o que é pertinente de se perguntar nesse momento é por quê Elvis estava agora se alinhando a cantores como Neil Diamond? Legítimo membro da primeira geração de roqueiros, Elvis agora parecia cada vez mais distante do material produzido por roqueiros da época e cada vez mais seguia essa linha pop romântica, cujo Neil Diamond era um de seus maiores representantes, assim como também Tom Jones. Muitos fãs dos anos 50 certamente se perguntariam onde havia ido parar o legado do Rock na carreira de Elvis Presley? Afinal, porque ele não gravava algo do Led Zeppelin por exemplo?
Afinal qual seria a vantagem de gravar temas como esse de Neil Diamond, que apesar das bonitas canções, não iria trazer nada de mais relevante para a carreira de Elvis? Esse é um tema interessante e daria margem para muito debate. O mais importante é ter realmente a noção de onde Elvis se apresentava (Las Vegas) e qual era seu público nesse momento (certamente não seria de fãs das bandas de rock dos anos 70). De qualquer maneira Elvis não havia deixado seu legado de grande roqueiro para trás totalmente como podemos muito bem constatar aqui mesmo nesse disco em algumas faixas que seguem. Curiosidade: No filme "That's the Way It Is" (Elvis é assim, 1970), versão que foi exibida nos cinemas na época, o cantor dá um show de interpretação ao cantá-la. A versão presente neste disco foi gravada no dia 16 de Fevereiro de 1970 contando com o ótimo acompanhamento da Orquestra de Bob Morris.
RUNAWAY (Crook / Del Shannon) - Justamente para evitar críticas de que estaria apenas gravando e apresentando "babas" românticas em Las Vegas como Sweet Caroline, foi que Elvis resolveu mostrar que não deixaria seu legado de grande roqueiro para trás. "Runaway" certamente é indicada para quem pensa que em Las Vegas Elvis esqueceu seu título de Rei do Rock e virou apenas um símbolo da maioria silenciosa. Nada mais longe da verdade. Ao lado de músicas mais, digamos, ao estilo Las Vegas, Elvis certamente procurou apresentar canções mais rockers! "Runaway" foi um dos maiores sucessos de seu autor Del Shannon em 1961. Chegou ao primeiro lugar da Billboard e se tornou muito conhecida principalmente por causa de seu arranjo considerado "estranho" na época (e que não era nada demais, apenas foi usado um sintetizador modificado tocado por Max Crook, co-autor da canção).
Talvez a grande influência que a versão de Elvis tenha sofrido venha de uma versão de 1967, gravada pelo grupo britânico The Small Faces. De qualquer forma Elvis a levou para Las Vegas em sua segunda temporada na cidade e apesar de ter apresentado uma bela versão da canção ela não foi muito longe em seus concertos, sendo deixada para trás logo depois. Como você já deve ter notado nessa altura do texto, este disco de Elvis apresenta diversos "Covers" de músicas de outros artistas interpretadas pelo Rei, sendo que esta também não foge à regra. Como escrevi antes, nos palcos Elvis sempre procurava proporcionar um belo concerto para seu público. Se fosse necessário ele realmente iria utilizar de todo esse repertório alheio para apresentar um bom show para os presentes. Destaque para o ótimo desempenho do guitarrista James Burton que seria um substituto à altura de Scotty Moore.
THE WONDER OF YOU (Baker Knight) - Sucesso do cantor Ray Peterson em 1959. Talvez o grande sucesso desse disco, a música conseguiu um grande feito para Elvis na Europa: o single acabou chegando ao primeiro lugar na Inglaterra, ficando seis semanas seguidas em primeiro lugar! Os jornais britânicos na época davam como certa uma excursão de Elvis nas ilhas britânicas, principalmente depois desse grande sucesso nas paradas da terra da rainha. Infelizmente, como todos sabemos, Elvis nunca iria realizar essa turnê! Não que ele não desejasse isso, pelo contrário, em muitas entrevistas Elvis deixou claro que adoraria fazer uma turnê europeia mas... no meio do caminho havia um Coronel... Conforme foi desvendado anos depois por Albert Goldman, Elvis não faria shows fora dos EUA enquanto Parker fosse seu empresário! A razão?! Tom Parker era um imigrante ilegal e caso deixasse o país certamente não poderia mais voltar! De qualquer forma essa versão de Elvis Presley foi título do já citado single, que foi lançado em abril de 1970 junto com "Mama Like the Roses" (esta gravada em Memphis em 1969). O single chegou ao nono lugar nas paradas americanas, o que no final resultou em mais um disco de ouro na carreira do cantor.
POLK SALAD ANNIE (Tony Joe White) - Gravada originalmente por seu autor em 1968, "Polk Salad Annie" foi o trampolim que faltava na carreira de Tony Joe White, pois depois que a canção conseguiu chegar no Top 10 americano (um feito nada simples para uma canção com temática bem regional), ele rapidamente se viu entre os grandes nomes da música norte-americana: Elvis logo apresentou sua versão ao vivo em um disco oficial, Jerry Lee Lewis o chamou para participar de seu álbum "Southern Roots" e ele saiu em turnê com a banda Creedence Clearwater Revival e James Taylor. Quando Elvis voltou aos palcos em 1969 ele logo procurou revitalizar seu repertório e correu atrás de canções que lhe proporcionassem apresentar material de sucesso da época. Nessa segunda temporada em Las Vegas o grande momento de suas apresentações seria exatamente quando Elvis começava os primeiros acordes de "Polk Salad Annie", levando todos à loucura, pois Elvis enlouquecia a plateia durante a apresentação desta canção em decorrência de seus requebros.
Apesar de alguns colunistas se apressarem em afirmar que Elvis estava voltando aos bons tempos, aos anos 50 nesses concertos, a verdade era que pouca coisa havia sobrevivido de seu velho estilo de dançar. Os tempos eram outros e Elvis realmente iria se utilizar de uma nova coreografia baseada principalmente em uma de suas grandes paixões, as artes marciais e em especial o Karatê! Aliás a influência não iria só ser sentida na forma de dançar de Elvis mas também em seu figurino. Suas famosas roupas, chamadas de jumpsuits, nada mais eram que adaptações do quimono utilizado nesse tipo de arte corporal. Embora tenha utilizado variações na temporada de 1969, principalmente de cores escuras, foi nessa segunda temporada que Elvis acabou encontrando o que procurava em termos de roupa para suas apresentações. Com predominância em branco, as famosas jumpsuits entravam de forma definitiva nos shows de Elvis, criando a imagem definitiva do cantor durante os anos 70. Aliás o termo "definitivo" se aplica bem também no que diz respeito a canção em si no que se refere à carreira de Elvis. "Polk Salad Annie" foi o tipo de música que entrou nos concertos de Elvis e nunca mais deixou de frequentar a set list das apresentações. Ela caminhou ao seu lado até o fim de sua vida!
Elvis apresentou diferentes variações dessa canção ao longo dos anos, em versões mais completas e longas ou em versões mais simplificadas e curtas, tudo dependendo da época e da disposição do cantor. Apesar de existir centenas e centenas de registros de Elvis cantando "Polk Salad Annie", sendo alguns bem interessantes, posso afirmar sem medo de me equivocar que essa é a versão mais completa e mais correta do ponto de vista técnico. Muito bem executada e cantada por Elvis a versão se mostra à altura para sustentar o título de master definitiva. A lamentar apenas o fato de que grande parte dos shows apresentados por Elvis nessa segunda temporada não foram filmados, sendo que ótimas performances se perderam para sempre. Porém, para felicidade geral, a temporada seguinte seria muito bem documentada pois seria nela que seria realizado o filme "That's The Way It Is" (Elvis é assim, 1970) que registrou para a posteridade uma destas grandes performances de Elvis de forma magistral. Apesar daquela versão não ser melhor que essa, só o fato de terem filmado Elvis a apresentando com todos os cuidados técnicos que a canção e o concerto merecem, já justifica plenamente a existência desse maravilhoso filme.
YESTERDAY (Lennon / McCartney) - Vamos encarar a realidade: os anos 60 foram dos Beatles! Essa década, considerada uma das mais produtivas e maravilhosas na história da música mundial, se tornou símbolo de revolução artística, social e política! Durante esse período único na história os Beatles reinaram absolutos, sem nenhum concorrente à vista! Seus discos chegavam rapidamente aos primeiros lugares, vendiam milhões de cópias em poucas semanas e o quarteto era literalmente idolatrado pela juventude da época! E onde estava Elvis Presley durante os anos 60?! Infelizmente ele estava naufragando em Hollywood, participando de alguns dos mais estúpidos filmes já produzidos! Que tristeza! Aquele que sempre foi apontado como um dos maiores representantes da revolução do rock'n'roll na década de 50 agora era satirizado e ridicularizado por causa de seus filmes patéticos, de suas trilhas sonoras ridículas e de suas atuações constrangedoras! Depois que deixou Hollywood Elvis partiu para uma cruzada com o único objetivo de apagar esse verdadeiro "buraco negro" de sua carreira e voltar ao trono que sempre lhe pertenceu de direito. Em muitos aspectos ele conseguiu voltar lá, principalmente no período que vai de 1968 a 1973. Infelizmente depois daí Elvis, por problemas pessoais causados pelo uso excessivo de drogas, acabou novamente sofrendo uma série de reveses que novamente nublariam seu grande talento.
De qualquer maneira ficaram para sempre os registros desse grande cantor, como esse de "Yesterday". O maior sucesso musical de todos os tempos na opinião de muitos especialistas. A música mais gravada da história do Pop mundial. Estes são apenas alguns títulos que esta imortal canção dos Beatles ostenta. Paul McCartney pensou em chamar esta maravilhosa canção de "ovos mexidos", felizmente mudou de opinião. Ela foi lançada originalmente no LP "Help" em 1965 quando o grupo britânico estava no auge do sucesso. A versão de Elvis foi gravada em Las Vegas, no ano de 1969, naquela que foi sua verdadeira volta aos palcos, pois sua última apresentação havia sido em 1961! Uma maravilhosa interpretação que deixa registrado para a história uma pequena amostra do grande talento do Rei do Rock para essa música fenomenal.
PROUD MARY (John Forgerty) - Essa canção foi lançada originalmente pelo grupo Creedence Clearwater Revival em single no final de 1968. Chegou ao segundo lugar nas paradas e se tornou grande sucesso do conjunto quando incluída no álbum "Bayou Country" um ano depois. Esse era considerado um dos melhores conjuntos de Rock / Country daquele período, principalmente na opinião de feras como John Lennon. Aqui vemos nitidamente a tentativa de Elvis em contrabalançar sua carreira. Ao mesmo tempo em que gravava hits de cantores como Tom Jones e Neil Diamond, simplesmente para agradar o tipo de público padrão de Las Vegas, Elvis procurava também compensar tudo com temas de grupos de rock que estavam na moda como o Creedence. A versão de Elvis Presley ao vivo tem pique, embalo, ótimo arranjo e o mais importante de tudo: uma inspirada interpretação por parte do Rei do Rock. Embora essa seja uma das versões mais populares dessa música, a regravação de Tina Turner um ano depois, é considerada pela crítica especializada como a melhor. Embora não concorde com essa visão tenho que realmente dar o devido crédito a Tina Turner por sua versão, que sem dúvida é maravilhosa.
Já no que se refere a sua trajetória dentro da carreira de Elvis a música seria outra desse disco que iria se tornar parte constante dentro do repertório de shows de Elvis. Embora não a tenha gravado em estúdio de forma oficial podemos encontrar uma versão bem interessante dela durante os ensaios do filme "Elvis On Tour" (leia abaixo a crítica). Ela também está presente no melhor disco ao vivo de Elvis nos anos 70, o famoso "Madison Square Garden". Como acontece com "Polk Salad Annie", cada versão tem suas peculiaridades que variam de acordo com o gosto do freguês! Assim certamente cada um tem seu registro preferido. De minha parte escolho essa como a mais perfeita tecnicamente e a do disco "Madison Square Garden" como a de melhor pique e emoção! É fato notório a grande qualidade das versões das primeiras temporadas de Elvis em Las Vegas. Com o decorrer dos anos a qualidade iria diminuir na mesma proporção em que Elvis ia ficando entediado com a falta de desafios a cada nova temporada em Vegas. Por essa razão as três primeiras temporadas de Elvis em Las Vegas são realmente imbatíveis no quesito de profissionalismo e perfeição técnica por parte dele.
WALK A MILE IN MY SHOES (Joe South) - Alguns autores, de forma precipitada, escreveram que essa canção seria a exceção à regra desse disco, ou seja, seria a única versão original de Elvis Presley presente no On Stage. Todas as demais seriam apenas versões de Elvis para músicas conhecidas de outros artistas. Isso é um equívoco dos grandes. A canção já havia sido lançada antes por seu autor Joe South. Esse aliás não é apenas um compositor de Elvis como muitos afirmam. Pelo contrário, Joe South tem uma carreira firmada, com grandes sucessos como o single "Games People Play" de 1969. Além de grande cantor, premiado inclusive com o almejado prêmio Grammy, Joe é um dos mais gravados autores do Sul dos EUA, tendo ganhado versões de suas músicas nas vozes de artistas prestigiados como Lynn Anderson, Jerry Reed e Deep Purple. De qualquer maneira essa forte identificação entre a canção e a carreira (e a vida de Elvis também) é plenamente justificada, pois sua letra pode ser vista como um retrato perfeito dos caminhos percorridos pelo cantor na última década de sua carreira. Preste atenção no teor da canção e reflita bem se ela retrata bem ou não o tortuoso caminho percorrido pelo Rei do Rock nos anos setenta, tanto que acabou sendo utilizada como título da ótima caixa, com cinco CDs, lançada pelo grupo alemão BMG (Atual dono dos direitos autorais das canções do cantor) nos anos 90. Acompanhado por sua banda Elvis nos brinda com outro grande momento. Infelizmente a música não se firmou dentro dos concertos e também foi logo abandonada por Elvis. De qualquer maneira ela virou um símbolo dessa segunda temporada do cantor em Las Vegas, o que não deixa de ser um grande mérito para a música em si.
LET BE ME (Bécaud / Delanoe / Curtis) - Talvez um dos grandes problemas de Elvis Presley era o fato dele não escrever suas próprias músicas. Sempre dependendo das criações de outras pessoas, Elvis ficava muitas vezes de mãos atadas. Quando lançava uma nova canção dentro de sua discografia nos anos 70 era praticamente certo que seria apenas uma regravação de uma obra original de outro cantor ou grupo musical. Esse disco é um retrato fiel disso. Todas as dez músicas eram regravações de Elvis das músicas de outras pessoas. Duas coisas aconteciam quando Elvis colocava no mercado um disco desses. A primeira era a falta de novidades e de impacto nas paradas de sucesso. Embora sejam ótimas versões elas não tinham mais potencial (com raras exceções) de liderar as paradas dos EUA, pois já tinham chegado lá nas vozes de seus intérpretes originais. Outro problema era que Elvis estava agora vivendo em uma outra atmosfera musical, muito diferente da que ele viveu nos anos 50. Naquela década um cantor como Elvis, que praticamente apenas gravava material providenciado pela sua gravadora, sem criar nada de original, até poderia ser encarado como algo natural. Ele se colocava apenas como um intérprete e nada mais. Porém nos anos 60 a situação mudou de figura. Depois de toda aquela revolução musical, a originalidade se colocou em primeiro plano. Um artista era tão mais valorizado quanto mais original fosse sua obra.
Nesse ponto Elvis e suas regravações de temas de outros artistas era visto com certo desprezo por vários setores da crítica e principalmente do público jovem daqueles anos. Afinal a quem interessaria ouvir temas que já tinham sido lançados antes e que já estavam saturados nos ouvidos das pessoas daquela época? Certamente apenas os fãs de Elvis iriam apreciar com mais intensidade um disco como esse. Para o consumidor médio o interesse decaia pois afinal de contas não havia nada de novo nesse tipo de lançamento, o material já era por demais conhecido. Em vista disso os discos de Elvis, principalmente aqueles gravados ao vivo em Las Vegas, começaram a circular apenas entre seus próprios fãs. Let Be Me, a canção que fecha o disco é providencial nesse aspecto. Era uma regravação (a versão foi originalmente gravada pelo cantor francês Gilbert Bécaud com o título de "Jet'appartiens" pelo selo EMI em 1960, sendo que a primeira versão em língua inglesa foi a do grupo vocal "The Everly Brothers"), não trazia novidades para o mundo musical da época e por essa razão não conseguiria se sobressair nas paradas, mesmo sendo uma belissima versão, lindamente cantada por Elvis. Por essa e outras razões é que muitos discos de Elvis em sua última década de carreira não conseguiram atingir ótimos números em termos de cópias vendidas, mesmo sendo alguns deles o que de melhor Elvis produziu em toda sua vida artística.
Elvis Presley - On Stage - February 1970: / 2º temporada Las Vegas (Fevereiro de 1970): Elvis Presley (voz e violão) / James Burton (guitarra) / Jerry Scheff (baixo)/ Bob Lanning (bateria) / Charlie Hodge (violão e voz) / Glen Hardin (piano) / The Imperials (vocais) /The Sweet Inspirations (vocais) (vocais) / John Wilkinson (guitarra) / Bobby Morris e sua Orquestra / Produzido por Felton Jarvis / arranjado por Felton Jarvis, Glen D. Hardin, Glenn Spreen, Bergen White / Ficha Técnica / 1º temporada Las Vegas (agosto de 1969) (Yesterday e Runaway): Elvis Presley (voz e violão) / James Burton (guitarra) / Jerry Scheff (baixo)/ Ronnie Tutt (bateria) / Charlie Hodge (violão e voz) / Glen Hardin (piano) / The Imperials (vocais) /The Sweet Inspirations (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / John Wilkinson (guitarra)Felton Jarvis / arranjado por Felton Jarvis, Glen D. Hardin, Glenn Spreen, Bergen White / On Stage / February 1970: Gravado no Showroom do International Hotel, Las Vegas / Data de Gravação: agosto e setembro de 1969 e 15 a 19 de fevereiro de 1970 / Data de lançamento: junho de 1970 / Melhor posição nas charts:#13 (EUA) e # 2(UK)
Pablo Aluísio.
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