No meio de uma grave crise musical, amenizada um pouco pelo recém lançamento de seu disco Gospel, How Great Thou Art, Elvis voltou aos estúdios em setembro de 1967 para gravar material convencional. Embora o número de canções agendadas fossem suficientes para compor um novo álbum a intenção dos produtores não era bem essa ao iniciar os trabalhos. O principal objetivo era produzir material com certa qualidade para compor os novos singles de Elvis. O problema era que o material das trilhas sonoras não mais chamava a atenção do público e os singles de Elvis cada vez mais derrapavam na parada. Ter um single de sucesso, coisa que Elvis não tinha desde 1962, era o principal motivo de todos estarem lá com o astro tentando reencontrar o caminho do sucesso.
No começo a RCA selecionou um amplo leque de opções de canções à disposição de Elvis para ele escolher o repertório da sessão. O problema é Elvis odiou a maioria das músicas. Elas lembravam muito a sonoridade de suas últimas trilhas sonoras e isso definitivamente não era o que Elvis procurava. Ele queria voltar a gravar material de qualidade, algo que causasse impacto novamente nas paradas de sucesso, algo realmente marcante. Com Felton Jarvis ao lado, Elvis sentiu segurança suficiente para escolher o que iria gravar com calma e paciência. Nada da correria que imperava nas sessões das trilhas dos estúdios de cinema. No fundo Elvis sabia que estava ali para voltar a produzir música de qualidade e não músicas que provavelmente só funcionariam nas cenas do filme.
E foi com esse pensamento que Elvis começou as sessões gravando Guitar Man e Big Boss Man. Duas canções com letras fortes e de auto afirmação. O que mais atraiu Elvis em Guitar Man foi justamente seu arranjo country, gênero que Elvis havia cada vez mais se afastado em seus anos de Hollywood. Já Big Boss Man deixou a todos empolgados, tanto que ela seria rapidamente lançada ainda naquele mês, junto a You Don´t Know Me. Para se ter uma ideia de como estava complicado o mercado de singles de Elvis para a RCA seu lançamento anterior nada mais era do que uma reprise do disco Something For Everybody, de 1960. Infelizmente a pressa e a vontade de ganhar rapidamente em cima do nome de Elvis atrapalharam os primeiros singles dessa sessão. A falta de publicidade fez com que Big Boss Man chegasse apenas em uma desoladora 34ª posição. O pior aconteceu com Guitar Man, que não conseguiu emplacar entre os 40 mais.
Essa sessão de setembro porém não foi realizada apenas visando o mercado de singles. A velocidade com que as trilhas sonoras chegavam no mercado e a insuficiência de músicas para completar cronologicamente um álbum fez com que a RCA inventasse as chamadas Bonus Songs. Músicas sem relação com os filmes mas que serviam como forma de se evitar que as trilhas fossem curtas demais. Infelizmente essas músicas, algumas delas ótimas, se perderam no meio de trilhas francamente ruins e jamais tiveram seus méritos reconhecidos, atoladas que estavam em meio a material sem importância. Foi visando justamente a produção de Bonus Songs que Elvis dedicou parte de seu tempo nessas sessões de setembro: Mine, Singing Tree e Just Call Me Lonesome, três boas músicas gravadas por Elvis nessa ocasião, tiveram esse infeliz destino.
Como não poderia deixar de ser, empolgado que estava pelo êxito de seu álbum religioso How Great Thou Art, Elvis se dedicou também a gravar algumas canções gospel, entre elas a linda You´ll Never Walk Alone, que acabou sendo lançada em single no começo de 1968 com We Call On Him, outra música gravada nessa mesma sessão. A interpretação de Elvis nessa música realmente demonstrava que em posse de material de qualidade Elvis ainda era plenamente capaz de emocionar e ser relevante musicalmente de novo. You´ll Never Walk Alone seria inclusive o último single de relevância de Elvis a ser lançado até If I Can Dream no final de 1968, o compacto que traria Elvis de volta definitivamente à parada de singles da Billboard. Embora a sessão de setembro de 1967 não tenha trazido o sucesso comercial de volta à carreira de Elvis Presley, ela serviu para que o cantor fosse novamente citado nas revistas e jornais especializados de forma elogiosa, pois os singles ganharam várias críticas positivas em seus lançamentos, algo que definitivamente ele não recebia desde a primeira metade dos anos 60. Não resta a menor dúvida que a gravação dessas músicas mostrou ao cantor e a seu empresário que o caminho a seguir não mais passava pela gravação das maçantes trilhas mas sim pela busca de material de excelência artística. Gravando bom material Elvis iria naturalmente voltar ao sucesso, fato que se confirmaria plenamente no ano que nascia, 1968, o ano do Comeback na carreira do cantor.
Pablo Aluísio - Setembro de 2009.
Blog Pablo Aluísio
ResponderExcluirElvis Presley - Elvis Studios Highlights 1967