Em meados de 1970 estourou um debate dentro da MGM sobre os rumos da carreira cinematográfica de Elvis Presley. Ele ainda tinha a obrigação de fazer mais um filme pela empresa. Seria o último que faria para encerrar de vez o contrato que tinha assinado em 1963. Esse tipo de contrato de 7 anos era muito comum naquela época e virou padrão entre os astros de Hollywood. Apesar de ser extremamente vantajoso do ponto de vista comercial, assinar um contrato de longa duração desse tipo fazia com que o artista ficasse inteiramente nas mãos dos executivos dos grandes estúdios de Hollywood. E foi exatamente isso que aconteceu com Elvis. Preso contratualmente com os estúdios, Elvis foi estrelando um filme ruim atrás do outro durante os anos 60. Depois que ele renovou sua vida artística, com sua volta aos palcos em 1969, ficou completamente sem sentido fazer mais uma comédia musical romântica ao velho estilo. Era um total anacronismo retornar àquele ponto.
Sabendo disso alguns executivos da MGM tiveram a ideia de fazer um documentário com Elvis em Las Vegas. Seria um filme que retratasse a volta aos palcos do cantor, que capturasse todo o frenesi em torno de seu retorno e toda a agitação que envolvia seu nome quando ele fazia suas temporadas. Apesar de ter opositores dentro do estúdio, a ideia de Dennis Sanders, o cineasta escalado pela companhia para levar o projeto à frente, deu certo. Para Elvis seria uma ótima oportunidade de encerrar seu contrato. Não havia dúvidas que ele estava na presença de um belo projeto que poderia contribuir muito para essa nova fase que vinha vivendo. Ele não teria que decorar scrips e nem atuar naqueles filmes sem consistência e roteiro. Seria um alívio, além do mais seria uma forma de registrar definitivamente suas apresentações em Las Vegas e enterrar para sempre o velho fantasma de seus filmes medíocres dos anos 60. Tom Diskin, assistente por longos anos do Coronel Tom Parker, resumiu a situação: "Os filmes de Elvis não estavam mais com nada. Eles já não davam mais tanto lucro e a própria RCA já tinha avisado que não iria lançar mais trilhas sonoras depois do grande fracasso de Speedway! Esse disco foi uma bomba para a gravadora, ele não vendeu absolutamente nada, trouxe um tremendo prejuízo!" Como se pode perceber os argumentos a favor da realização do documentário eram imbatíveis.
Depois que a decisão foi finalmente tomada e tudo ficou pronto a equipe partiu para Las Vegas para filmar Elvis em sua terceira temporada na cidade. Eles filmaram Elvis não apenas durante as apresentações, mas também nos bastidores, no camarim, se descontraindo com os caras da máfia de Memphis, enfim a intenção foi realmente capturar todos os mínimos detalhes. Nos shows Elvis procurou dar o melhor de si, realmente empenhado em fazer belas apresentações. O próprio Coronel Tom Parker já tinha lhe avisado sobre a importância desse filme: "Elvis, o filme vai ser o grande veículo de seus concertos, ele será apresentado pelo país afora e irá promover muito suas futuras excursões, faça o melhor essa noite!". Elvis seguiu à risca o conselho. Em todos os concertos procurou cantar de forma impecável, interagir com a plateia, dançar da melhor forma possível, enfim mostrar todo seu grande talento. O resultado final foi ótimo. Todos concordaram que o filme se traduziu em um momento muito feliz na tão desgastada carreira de Elvis nos cinemas. Pela primeira vez em muitos anos Elvis conseguia boas críticas de um filme seu quando foi lançado.
O cantor ficou extremamente orgulhoso do projeto e sentiu que realmente estava no caminho certo novamente. Se o filme gerou debates na MGM o mesmo iria acontecer dentro da RCA com a trilha sonora. Alguns defendiam (entre eles o próprio Felton Jarvis) o lançamento de um disco duplo, trazendo canções gravadas em Nashville e músicas ao vivo tiradas das próprias apresentações de Elvis em Las Vegas. Seria basicamente a mesma ideia do disco "From Memphis to Vegas / From Vegas to Memphis". Material de sobra estava à disposição, alguns executivos da gravadora embarcaram na ideia mas o Coronel Tom Parker colocou tudo abaixo. Na sua visão um álbum duplo poderia representar um risco para as vendas, pois elas poderiam ser prejudicadas pelo preço mais elevado de um disco duplo. Para Parker seria bem mais acessível um disco normal, com um preço mais em conta e menor. Para Parker o preço baixo iria se transformar num incentivo para os fãs comprarem a trilha sonora. Depois que Tom Parker comunicou sua decisão o projeto inicial foi abandonado e Felton Jarvis teve que se arranjar para acomodar tanto material em um espaço tão limitado de um disco simples.
O LP alcançou um grande sucesso no Brasil quando lançado, principalmente por apresentar um dos maiores sucessos do cantor por aqui: "Bridge Over Troubled Water". Nos Estados Unidos o disco foi lançado em novembro de 1970. Foram extraídos dois singles da trilha oficial, o primeiro foi lançado em agosto desse mesmo ano com "I've Lost you / The next Step is Love" e o segundo com "You Don't Have To Say You Love me" e "Patch It Up" alcançando este o nono lugar da parada de singles da revista Billboard em janeiro de 1971. Sem sombra de dúvida é um excelente disco, que retrata um dos períodos mais produtivos de toda a carreira de Presley, onde ele voltava a ocupar a posição de destaque na música mundial a que seu talento tinha direito. Estas são as canções que fazem parte do disco "That's the Way it is" (LSP 4445) :
I JUST CAN'T HELP BELIEVEN (Mann / Well) - Abrindo o disco temos esta que é uma das mais belas baladas cantadas pelo cantor em sua carreira. No filme Elvis aparece extremamente preocupado em não esquecer sua letra durante o concerto! Discretamente ele leva até o palco um papelzinho com o início da canção como precaução. No final tudo ocorre bem e Presley nos brinda com mais outro grande momento de sua carreira. A canção na realidade era do repertório do cantor B.J. Thomas, bastante popular nos EUA na época. Uma das peculiaridades que mais nos chama a atenção é o contraponto entre um começo de canção suave, onde ele é praticamente acompanhando apenas por uma suave bateria e pontuais intervenções da orquestra e o final, bem mais, digamos, "Las Vegas", onde a orquestra assume o controle da canção, fazendo com que ela vá aos poucos crescendo em termos de grandiosidade instrumental. Se formos analisar bem, esse tipo de arranjo (muito característico de músicas como "Bridge Over Troubled Water") sempre está, de uma forma ou outra, presente nas canções de Elvis dos anos 70. Porém o interessante de "I Just Can't Help Believen" é que esse domínio total da orquestra, que todos acabam esperando acontecer, nunca consegue chegar a uma apoteose total, como ocorre com outras músicas do período. Para surpresa de muitos que já conhecem todos os clichês de arranjo dos cassinos de Nevada, a parte final da música acaba sendo um retorno à simplicidade de arranjo inicial o que não deixa de ser uma grata surpresa!
TWENTY DAYS AND TWENTY NIGHTS (Weisman / Westlake) - Balada romântica muito bem arranjada pelo produtor Felton Jarvis. Ela marca o início dos trabalhos de gravação do cantor em Nashville em 4 de Junho de 1970. Estas sessões são consideradas das mais produtivas de sua carreira, resultando em mais de trinta músicas gravadas! Todas elas foram lançadas posteriormente nos discos "Elvis Country" , "Love Letters" e "That's The Way It Is". Uma das coisas mais interessantes sobre essa música, que fala sobre solidão e arrependimento, é o salto de qualidade do compositor Ben Weisman. Autor de algumas das mais bobas, maçantes e infantis canções da fase de Elvis em Hollywood, Ben se supera de forma surpreendente e escreve finalmente um tema de relevância, adulto, falando de dramas reais, de pessoas reais, tudo com muita sobriedade e maturidade. Nada mais longe das bobagens que ele costumava escrever para Elvis em suas piores trilhas sonoras. Talvez a má qualidade desse material nem tenha sido sua culpa, talvez os próprios argumentos ridículos de alguns filmes de Elvis o tenha levado a escrever tantas bobagens, mas o que é importante destacar mesmo é que dessa vez ele finalmente apresentou um material digno e à altura de um astro como Elvis gravar. Em resumo: ótima canção, belíssimo arranjo e o mais importante de tudo, uma letra relevante com uma mensagem realmente importante a se passar adiante.
HOW THE WEB WAS WOVEN (Westlake / Most) - Aqui Clive Westlake, que assina a música anterior ao lado de Ben Weisman, emplaca mais um tema para o disco. Infelizmente Elvis Presley ainda não tinha, mesmo durante os anos 70, plena liberdade na escolha da seleção musical dos discos que gravaria. Havia toda uma série de interesses comerciais envolvidos nas gravações do cantor! Para se ter uma ideia do que acontecia basta citar que, antes de chegar a ele todas as músicas, era feita uma criteriosa seleção pelas editoras musicais, pelos executivos pela RCA e pelo Coronel Parker e só depois de passar por toda essa gente era que as demos finalmente chegavam nas mãos de Elvis em estúdio. Toda essa pré-seleção limitava muito sua escolha de repertório pois a liberdade de seleção por parte de Elvis ficava totalmente restringida dentro do que havia sido aprovado antes pela equipe responsável por sua carreira. Só depois de todo esse processo era que Elvis escolhia as músicas que finalmente gravaria. A maioria dessas demos eram trazidas de Nova Iorque e eram produzidas principalmente pelo produtor Phil Spector, que sempre arranjava um jeito de colocar seus protegidos ou canções que lhe trariam algum tipo de retorno financeiro na seleção final que chegaria a Elvis. Esse é o caso de Westlake, que aqui comparece com uma composição que de certo modo não acompanha o alto nível do restante do disco. Essa canção é sui generis por vários motivos. A primeira coisa que nos chama atenção é seu arranjo, que foge um pouco dos excessos orquestrais típicos de Vegas. Apesar de não ter grandes méritos musicais, temos que ao menos reconhecer que ela não deixa de ser razoavelmente bem executada. A letra, curiosamente, pode ser vista até mesmo como uma paródia da teia de interesses em que Elvis estava envolvido na gravação de seus discos, mas é claro que isso é apenas uma grande licença poética que estou tomando. Foi gravada no segundo dia de gravação da chamada "Maratona em Nashville".
PATCH IT UP (Rabbit / Bourke) - A pergunta pertinente nos dias de hoje sobre essa canção é se ela é apenas um embuste completo ou se ainda existe algum tipo de qualidade melódica em sua fraca estrutura rítmica e em sua péssima letra? Será que o Coronel Parker realmente um dia acreditou que canções tão fracas como essa iriam trazer algum tipo de retorno artístico para Elvis Presley?! Logo ele que gravou alguns dos maiores clássicos da história do Rock'n'Roll !!! SInceramente, Patch It Up não conseguem se impor em nenhum momento. Seu único mérito talvez seja a boa performance que trazia para Elvis nos palcos e só. Nem vou perder tempo analisando seus escassos méritos, apenas quero deixar claro que novamente uma canção menor foi desperdiçada em single, pois ela foi lançada como lado B do compacto "You Don't Have To Say You Love Me". Duas versões foram lançadas na época, a de estúdio saiu no já citado single e a versão ao vivo acabou indo parar na trilha sonora e sinceramente nada acrescentou para a melhora da qualidade artística desse lançamento. Desperdício total de tempo e dinheiro, não só por parte de Elvis e sua banda mas também de quem ouviu a música depois.
MARY IN THE MORNING (Cymball / Lemball) - Sucesso do cantor Al Martino em 1967. Aparece numa cena muito divertida em que Elvis, durante um ensaio, brinca de jogar água em alguns dos membros da famosa "Máfia de Memphis", o grupo que acompanhava o cantor e que servia como guarda-costas; na realidade eles eram os "amigos assalariados de Elvis". A versão oficial e final de "Mary in the Morning" foi gravada no dia 5 de Junho de 1970. Em 2003, na ocasião de lançamento de seu disco de estréia, a filha de Elvis, Lisa Marie Presley, confidenciou que adora "Mary in the Morning". Segundo ela, essas canções de Elvis que não eram grandes sucessos, considerados os verdadeiros "Lados B" da carreira do pai, a fazem lembrar de sua infância passada ao lado do Rei do Rock. E finalizou, dizendo que ama as "músicas tristes de Elvis". Certamente Lisa tem toda razão!
YOU DON'T HAVE TO SAY YOU LOVE ME (Wickham / Napier / Bell / Donaggio / Pallavicini) - Originalmente lançada com grande sucesso pelo cantor italiano Pino Donaggio com o título original de "Io Che Non Vivo Senza Te" em 1964 pelo selo Odeon. O cantor inglês Dusty Springfield em 1966 fez a primeira versão em língua inglesa, versão esta lançada pelo selo Philips. A versão de Presley é mais uma representante da feliz fusão de Elvis com a música da Itália como "It's Now or Never","No More" e "Surrender". O astro era fã do cantor Mario Lanza, o que talvez explique esta aproximação com este tipo de canção. De qualquer forma, apesar de todo esse importante histórico, não consigo deixar de ficar decepcionado com a má qualidade da gravação. A master mais parece um ensaio descompromissado de tão mal gravada. Certamente Elvis não está em um bom momento, na realidade é fácil perceber que ele na realidade está se comportando como se estivesse em um ensaio, nada mais do que isso. Porém o produtor Felton Jarvis resolveu escolher esse take como o master oficial o que deixou todos surpresos mesmo. Repare como até a vocalização de Elvis está ruim pois ele está com a boca excessivamente salivada, coisa que nenhum artista de seu nível deixaria passar em uma gravação oficial. Alguns autores até mesmo chegam a afirmar que ele estaria com um chiclete na boca na hora da gravação! Particularmente não acredito nisso, não vamos chegar a tanto. Apenas é uma versão abaixo da média. Se alguém errou aqui não foi Elvis mas sim Felton Jarvis que a escolheu para compor o disco oficial. Péssima escolha.
YOU' LOST THAT LOVING FEELING (Mann / Well) - E por falar em Phil Spector, aqui está uma de suas maiores obras primas. Embora apenas conste nos créditos a autoria do casal Barry Man e Cinthia Weil, a composição também contou com a mão certeira do produtor Phil Spector que, na época, primeira metade dos anos 1960, já era considerado um dos maiores produtores do mundo, tanto que ficou conhecido no meio como "Wall of Sound". Embora esse casal tenha composto várias músicas em mais de quatro décadas de carreira, é inegável que essa foi a maior canção escrita pela dupla, tanto que ela é considerada até hoje como uma das músicas mais executadas da história. Segundo algumas fontes a demo da canção teria chegado nas mãos de Elvis já no começo de 1964.
Infelizmente ela não se enquadrava dentro do padrão do que Elvis vinha produzindo na época (as trilhas sonoras de filmes) e por isso ela foi deixada de lado pelos produtores ligados aos estúdios de cinema. Em vista disso a música acabou indo parar nas mãos da dupla "The Righteous Brothers", sendo lançada pouco depois. O resultado? Primeiro lugar na Billboard, milhões de cópias vendidas e sucesso mundial. A ironia de tudo isso é que enquanto a canção explodia e virava um megahit, os singles de Elvis, trazendo músicas de seus filmes em Hollywood, patinavam nas paradas! Antes de Elvis gravar sua versão ao vivo em disco, com cinco anos de atraso, é bom deixar claro, a cantora Dionne Warwick lançava uma versão bem popular também que chegou ao 16º lugar nas paradas. Realmente é uma pena que Elvis a tenha desperdiçado no momento certo de gravá-la, ainda em 63 ou 64, pois se a tivesse gravado nesse período, teria certamente alcançado um êxito muito maior do que seus intérpretes originais. Apesar de tudo isso temos que reconhecer que a versão de Elvis é fantástica! A sua versão não fica nada a dever a original que foi produzida por Phil Spector, que iria produzir nesse mesmo ano de 1970 o disco "Let It Be" dos Beatles. Antes tarde do que nunca.
A versão presente neste disco é a mesma do filme e foi gravada em Vegas no dia 12 de Agosto de 1970. Curiosidades: Phil Spector sempre foi um grande amigo de Doc Pomus, autor muito presente na obra de Elvis nos anos 60 e foi principalmente através dele que começou a produzir muitas das demos que seriam utilizados por Elvis nesse período. Outro fato curioso: infelizmente foi também Phil Spector que acabou apresentando Mike Stone a Elvis Presley que, impressionado por sua técnica nas artes marciais, também o apresentou a Priscilla Presley. O resto da história já conhecemos e sabemos que ela não terminou muito bem.
I' VE LOST YOU (Howard / Blaikley) - Belo momento do disco. Essa famosa dupla britânica de compositores, Ken Howard e Alain Blaikley, foi uma das mais populares durante os anos 60 e 70, tendo escrito temas para grandes astros da época como The Honeycomb e Peter Frampton. Quando escreveram I've Lost You eles jamais pensaram que Elvis gravaria uma versão dessa canção. Aliás a música chegou nas mãos de Elvis meio por acaso, quando um engenheiro de som a tocou de forma acidental durante as gravações em Nashville. Elvis se interessou e pediu que ele a tocasse novamente. O que aconteceu depois não é nenhuma novidade. A música virou título do primeiro single de Elvis composto com músicas desta trilha. A versão do disco foi gravada ao vivo e a que saiu em compacto é gravada em estúdio. A melhor sem dúvida é a do disco pois conta com a energia da plateia, o que dá um sabor especial à canção. A versão de estúdio foi gravada no dia 4 de Junho de 1970 em Nashville a a versão ao vivo foi gravada em Las Vegas no dia 11 de Agosto.
JUST PRETEND (Fletcher / Flett) - Elvis era um artista extremamente produtivo. Basta apenas darmos uma olhada na grande quantidade de canções que ele gravou em sua longa carreira. Com tanto material novo invadindo o mercado de uma só vez não haveria como evitar que certas injustiças fossem cometidas. Uma delas se chama "Just Pretend". Essa música é uma das mais bonitas gravadas por Elvis. Com vocalização sóbria e pleno domínio durante as gravações Elvis legou para a posteridade uma de suas maiores pérolas musicais, daquelas que ainda merecem ser redescobertas. Usada timidamente tanto no filme como na trilha sonora, "Just Pretend" merece novas e atentas audições! Com melodia e letra acima da média, a canção que fala sobre reconciliação e reencontro, sem sombra de dúvidas vai encontrar eco nos corações mais sensíveis. Ela guarda várias semelhanças de arranjo com outro momento precioso desse disco, "Bridge Over Troubled Water". Não poderia ser diferente pois ambas foram gravadas quase no mesmo dia e local, uma no dia 05 de junho de 1970 a outra um dia depois no mesmo estúdio, em Nashville. Nessa semana realmente Elvis estava extremamente inspirado para cantar belas e ternas canções de amor acompanhadas de belíssimos arranjos de teclados. O veredito final não poderia ser diferente pois essa é uma balada romântica sensível que foi injustamente subestimada na época, não tendo alcançado a devida repercussão que merecia. De qualquer forma nunca é tarde para se reparar uma injustiça, que tal ouvir "Just Pretend" hoje à noite? Certamente você terá uma grata surpresa!
STRANGER IN THE CROWD (Winfield Scott) - Se "Just Pretend" e "Bridge Over Troubled Water" são músicas embasadas nos arranjos de piano, aqui o que se destaca mesmo é o pleno domínio dos arranjos de cordas e de instrumentos percussivos. A mais acústica música do disco não chega ao ponto de ser um dos destaques da trilha, sendo considerada apenas um complemento ao conjunto. Apesar disso, de ser uma mera coadjuvante, não podemos deixar de colocar em destaque seus méritos como a vocalização inspirada de Elvis e o belo solo de guitarra de James Burton, bem diferente do que ele costumava fazer em estúdio. Winfield Scott, autor dessa música, compôs várias canções dos filmes de Elvis nos anos 60. Ele esteve muito presente nessa fase e foi dele a descoberta de uma das maiores surpresas em termos de gravações perdidas de Elvis. Quase que por acaso ele acabou descobrindo o tape inédito de "I'm Roustabout", canção que havia sido originalmente composta para ser o tema principal do filme "Roustabout" (O carrossel de emoções, 1964). Assim que soube o que tinha em mãos entrou em contato com Ernst Jorgensen que não perdeu tempo em anunciar para o mundo que pela primeira vez em muitos anos havia sido descoberta uma nova música na voz de Elvis, até então totalmente inédita. A descoberta acabou sendo definida por Joe Di Muro, executivo da RCA / BMG, como a "mais inacreditável da música moderna"!
THE NEXT STEP IS LOVE (Evans / Barnes) - Quando Elvis resolveu retomar o rumo de sua carreira e deixar Hollywood para trás ele procurou encontrar inspiração e renovação em um novo grupo de compositores. Paul Evans, cantor, compositor e famoso produtor certamente se encaixava nesse novo perfil que Elvis tanto procurava. Antes de compor "The Next Step is Love", Evans já era muito conhecido nos EUA por causa de suas músicas românticas, doces e ternas, que fizeram muito sucesso principalmente na primeira metade dos anos 60 como, por exemplo, "Too Make You Feel My Love", "When" e principalmente "Roses are Red (My Love)", seu grande sucesso que chegou ao primeiro lugar nas paradas. Além disso ainda escreveu novas versões para o clássico sacro "Amazing Grace". Compositor de mão cheia foi ainda gravado por Pat Boone, La Vern Baker e Bobby Vinton. Pena que não tenha tido uma parceria de maior duração ao lado de Elvis, pois na visão estreita de Tom Parker ele ainda era considerado um compositor muito "caro"!!! De qualquer maneira a música acabou sendo lançada como Lado B do Single "I've Lost You". No filme Elvis aparece ouvindo e dando sua aprovação final ao resultado da gravação desta canção. É uma bela música sem dúvida, porém perde em comparação com alguns clássicos presentes neste disco. Foi gravada no dia 7 de Junho de 1970.
BRIDGE OVER TROUBLED WATER (Paul Simon) - Essa é uma das maiores canções populares já escritas. Gravada originalmente no final dos anos 60 e lançada em janeiro de 1970 no disco de mesmo nome da dupla Simon e Garfunkel a música logo virou símbolo de uma era e colecionou prêmios em sua vitoriosa trajetória: "Gravação do ano", "Álbum do ano", "Melhor canção escrita do ano" e outros. Além da aclamação da crítica o público também não deixou por menos colocando a música por seis semanas seguidas no topo da parada norte americana. Tanto sucesso não poderia passar despercebido por Elvis Presley. Ele amou a música desde a primeira vez que a ouviu e foi um dos primeiros intérpretes a gravar uma versão, apenas seis meses depois que ela foi lançada originalmente pela famosa dupla dos anos 70. Elvis não perderia a chance de fazer sua versão pessoal de uma canção tão significativa. Logo ele, que estava empenhado em renovar seu repertório e produzir material relevante e de importância, bem longe de seu passado recente de trilhas sonoras medíocres. Antenado no que estava acontecendo musicalmente ao seu redor, Elvis logo providenciou seu próprio registro da canção.
Quando foi informado da data das sessões de gravação em junho daquele mesmo ano ele logo entrou em contato com seu produtor Felton Jarvis e pediu que ele providenciasse logo a liberação da música pois ele já tinha inclusive feito alguns ensaios com sua banda na estrada e estava procurando achar o tom certo para sua versão. Elvis sabia que seu estilo vocal em pouco se aproximava da linha folk universitária de seus autores originais. Ele procurou adaptar a canção ao seu próprio estilo, deixando a simplicidade da versão original de lado e investindo em algo mais grandioso com presença marcante de orquestra (arranjo inexistente dentro da versão original da dupla Simon e Garfunkel). Isso também se justificava porque Elvis pretendia utilizá-la durante seus concertos e não havia como ele, sendo um barítono, fazer uma versão que se aproximasse da vocalização simplória de Paul Simon e seu companheiro de dupla. Alguns ajustes teriam que ser feitos e isso traria todas as características que fariam essa canção única dentro da vasta discografia de Elvis.
Esse tipo de material era o que ele iria procurar cada vez mais durante os anos 70. Canções que representassem de alguma forma um novo desafio, um novo pico a alcançar. Certamente os rocks que tanto caracterizaram sua carreira, ao ponto de receber o título de Rei do Rock, não mais significavam um grande desafio a ser superado em 1970. Elvis procurava algo mais, algo que demonstrassem a todos seu grande talento vocal, que deixasse claro para quem ouvisse seus discos ou assistisse seus shows que ele era, acima de qualquer coisa, um grande cantor, nada mais do que isso. Elvis procurava antes de qualquer coisa ser reconhecido por seus colegas profissionais, pela crítica especializada e principalmente por seu público que manteve-se fiel a ele, mesmo na pior fase de sua carreira nos anos 60. O saldo final é conhecido de todos: a canção é considerada uma das maiores interpretações de toda a carreira de Elvis Presley! A versão do Rei para o sucesso imortal da dupla "Simon e Garfunkel" emociona até hoje. Como toque final foram acrescentadas palmas para se dar a impressão que ela foi gravada ao vivo, porém esta é a versão de estúdio e não a versão que aparece no filme (e que também é ótima). Só foi lançada da forma como foi gravada muitos anos depois na caixa de CDs "Walk a mile in my Shoes" com nova mixagem e mostrando toda a extensão de sua beleza. "Bridge Over Troubled Water", sem a menor sombra de dúvida, é um dos maiores marcos da carreira de Elvis Presley.
Elvis Presley - That´s The Way It Is (1970): RCA Studio B, Nashville: Elvis Presley (vocal) / James Burton (guitarra) (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / Chip Young (guitarra) / Bob Lanning (bateria) / Charlie Hodge (violão e voz) / Glen Hardin(piano) / The Imperials (vocais) / The Sweet Inspirations (vocais) / Millie Kirkham (vocais) / John Wilkinson (guitarra) / Norbert Putnam (baixo) / Jerry Carrigan (bateria) / David Briggs (piano) / Charlie McCoy (orgão e Harmônica) (Banjo) / Harold Bradley (guitarra) / The Jordanaires (vocais) / Farrel Morris (percussão) / Bobby Morris e sua Orquestra / Produzido por Felton Jarvis / Arranjado por Felton Jarvis, Elvis Presley, Glen D. Hardin, Cam Mullins, David Briggs, Bergen White, Norbert Putnam / Ficha Técnica / International Hotel Showroom, Las Vegas: Elvis Presley (vocal e violão) / James Burton (guitarra) / Jerry Scheff (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / Charlie Hodge (violão e voz) / Glen Hardin(piano) / John Wilkinson (guitarra) / The Imperials (vocais) / The Sweet Inspirations (vocais) / Joe Guercio e sua Orquestra. That's The Way It Is: Gravado no RCA's Studios B, Nashville e Showroom do International Hotel, Las Vegas / Data de Gravação: 4 a 8 de junho e 11 a 13 de agosto de 1970 / Data de Lançamento: novembro de 1970 / Melhor posição nas charts:#21 (EUA) e #12 (UK).
Pablo Aluísio.
Avaliação:
ResponderExcluirProdução: ★★★
Arranjos: ★★★
Letras: ★★★
Direção de Arte: ★★★
Cotação Geral: ★★★
Nota Geral: 8.0
Cotações:
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★★★ Bom
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