sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Rock Hudson e o Western - Parte 3

Depois de mais esse fracasso Rock tinha que procurar por gêneros mais populares que resgatassem seu prestígio junto aos produtores. Voltou aos filmes de guerra no correto "Tobruk" e depois veio o que tanto esperava desde os tempos em que havia trabalhado ao lado de Kirk Douglas: um convite para atuar ao lado do mito John Wayne. O filme se chamava Jamais Foram Vencidos. O roteiro explorava as feridas deixadas pela sangrenta guerra civil tanto do lado da União como dos confederados. 

Rock interpretava esse derrotado Coronel confederado chamado James Langdon que após o fim da guerra juntava seus últimos resquícios de orgulho pessoal para recomeçar sua vida. Em sua autobiografia o ator Rock Hudson relembrou que inicialmente ficou um pouco receoso de trabalhar ao lado de Wayne, afinal o velho ator era considerado um símbolo do conservadorismo mais reacionário do Partido Republicano. Embora nunca tivesse assumido ser gay até aquele momento muita gente em Hollywood sabia de sua opção sexual. Rock tinha receios de que isso se tornasse uma barreira entre ele e Wayne durante as filmagens. Para sua agradável surpresa John Wayne foi um colega gentil e agradável durante todo o tempo em que trabalharam juntos.

Logo que foram apresentados John Wayne disse que havia sabido que ele, Rock, era um bom jogador de Bridge (um popular jogo de cartas da época). Rock confirmou sorrindo a informação. Aquele era um excelente gancho para iniciar uma boa amizade com John Wayne. E assim foi. Poucos sabem, mas a realização de um filme significa também muitas horas de espera para os atores. Enquanto tudo é preparado o elenco fica na espera, muitas vezes por horas a fio. Rock e Wayne aproveitavam esse tempo ocioso para jogar cartas ou xadrez, já que Wayne era um verdadeiro viciado do tabuleiro. Bom jogador, Rock acabou vencendo várias partidas de Wayne, o que o deixou surpreso já que o velho cowboy se considerava um bom jogador. O mais importante de tudo isso porém foi o fato de que ambos se deram bem, mesmo estando em lados opostos em termos políticos e ideológicos. Rock se considerava de certo modo um liberal, enquanto Wayne era o símbolo do conservadorismo americano. Ele era gay e Wayne representava o máximo da masculinidade em Hollywood. Nada disso impediu de serem bons amigos durante todo o período de filmagem.

A despedida de Rock Hudson dos faroestes se daria alguns anos depois com Inimigos à Força. Corria o ano de 1973 e a carreira do ator já começava a dar claros sinais de desgaste. Como havia sido um galã por toda a vida, agora Rock enfrentava problemas de arranjar filmes por causa da idade e da perda de um de seus maiores atributos: a beleza. Isso levaria Rock para o mundo da TV. Sem trabalho em Hollywood a solução foi entrar no mercado de séries televisivas. E até que ele não se saiu mal. A série policial McMillan & Wife fez sucesso e apresentou Rock para toda uma nova geração. Assim Hollywood resolveu capitalizar mais uma vez em cima justamente dessa popularidade trazida pela TV. Rock surgia com o mesmo visual que tinha na série, com um longo bigode. Ao seu lado outra estrelinha da TV, Susan Clark, integrava o elenco. Dividindo o estrelado do filme havia também outro veterano, o cantor e ator Dean Martin, naquela altura já meio debilitado por causa de seu conhecido alcoolismo. Era um bom faroeste para a época, porém não marcou muito dentro do gênero. Um adeus um tanto opaco de Rock ao mundo do Western. Mesmo assim pelos filmes que fez ao longo de todos os anos é inegável que Rock deixou sua marca nesse gênero cinematográfico tão amado e querido pelos fãs de cinema em geral.

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

James Dean - Hollywood Boulevard - Parte 18

Depois da decepção amorosa com Pier Angeli, Dean resolveu voltar à sua velha rotina. Acabaram-se os dias de ternos engomadinhos e cabelos penteados. Ele estava de volta ao seu modo Rebelde. Para esquecer a ex-namorada resolveu cair de cabeça em coisas que gostava de fazer. Uma delas era correr. Nos anos 1950 havia uma série de corridas amadoras em pistas profissionais realizadas geralmente nos fins de semana, principalmente no circuito de Los Angeles. Dean se achou nessas competições. Ele imediatamente se inscreveu em duas corridas, comprou um carro esporte novinho e se preparou para seu primeiro grande teste.

James Dean chamou logo a atenção, mas não pelos motivos certos. Os demais corredores se assustaram com seu estilo ousado demais, quase suicida de competir. Dean se mostrou um adversário ferrenho, que não se intimidava diante de ultrapassagens perigosas e quase impossíveis. Para ele a segurança na pista vinha em segundo lugar pois o que ele almejava mesmo era vencer, acima de tudo.  Sujo de graxa, roupa suada e imunda, Dean achou o máximo o clima que rolava nesse tipo de corrida esporte. Decidiu que iria participar sempre que fosse possível e iria investir em carros melhores e mais velozes, principalmente os da sua marca preferida, a alemã Porsche.

Também resolveu que era hora de reunir sua turma. Durante seu namoro com Pier Angeli, Dean ficou meio isolado pois sua namorada não conseguiu gostar muito de seus amigos. A turminha de Jimmy Dean realmente era formada por jovens fora dos padrões. A maioria deles era de bissexuais que estavam dispostos a se envolver com homens e mulheres, de acordo com seus desejos, fugindo das amarras moralistas de sua época. Certamente não era o tipo de gente que uma católica tradicional como Angeli estava acostumada a frequentar. Nos fins de semana esse grupo de jovens atores se reunia na badalada praia de Malibu para divertidas e extravagantes festas à beira da piscina. Era um meio onde tudo parecia valer, mas Dean conseguiu ultrapassar todas as barreiras, afinal ele era competitivo e não queria ficar atrás de ninguém. Nessas festinhas ele começou a criar o hábito de práticas masoquistas. Dean, sabe-se lá o porquê, começou a associar prazer sexual com dor física. Assim pedia para que seus amantes apagassem seus cigarros em seu peito. A prática bizarra acabou dando a James Dean um apelido no mínimo curioso entre a turma: O cinzeiro humano!

Também começou a sair com outras atrizes de seu interesse. Uma delas foi a loira Ursula Andress. Nascida em Ostermundigen, Suíça, ela era mais uma atriz européia exótica que Hollywood tentava transformar em estrela. O relacionamento de James Dean com ela porém foi bem diferente do que ele teve com Pier Angeli. Com Andress, Dean conseguiu ser ele mesmo, o que não foi lá muito bom para o namoro. Ursula começou a achar que seu novo namorado era bem estranho e nada fiel. A um jornalista deixou subentendido o bissexualismo do ator ao declarar: "Dean se relaciona com tudo... com qualquer um!". Como estava sendo cotado para ser um dos futuros astros da Warner tudo foi logo abafado para esconder maiores escândalos. Aos amigos Dean confidenciou que Andress não era "uma mulher para ser levada à sério, pois não passava de uma companheira de farras". Como nenhum deles estava disposto a abaixar a cabeça para o outro, o breve romance logo chegou ao fim.

Além das corridas e festas, James Dean também criou uma outra paixão por essa época: as touradas! Tudo começou em Nova Iorque quando ele foi presenteado com uma capa de um famoso Matador mexicano, um conhecido toureiro das arenas espanholas. Dean achou o máximo aquele presente e começou a pesquisar sobre sua vida. Logo estava fascinado pelo violento esporte. Todo fim de semana Dean procurava cruzar a fronteira até o México para assistir algumas competições. Acabou inclusive encontrando outro apreciador delas dentro do mundo do cinema ao conhecer o diretor Budd Boetticher, que havia dirigido vários faroestes de sucesso com Randolph Scott. Dean e Budd tinham gostos parecidos e se envolviam em longas conversas relembrando os grandes toureiros da história. A capa, ainda com sangue do último touro trucidado na arena, era levada por Dean a todos os lugares. Ele a colocava sobre os ombros e ia com ela para onde quer que fosse, mesmo que em hotéis sofisticados de Hollywood. Era um dos privilégios de ser uma celebridade na capital mundial do cinema.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Elvis Presley - All Shook Up / That's When Your Heartaches Begin

Como a RCA Victor estava sem material para lançamentos, Elvis entrou em estúdio logo em janeiro de 1957 para novas sessões. As gravações aconteceram no Radio Recorders, o preferido de Elvis na costa oeste. Desde quando começou a trabalhar na RCA, Elvis sempre escolhia o local por ter bom equipamento de gravação e acomodações acolhedoras. Dessa vez o principal objetivo era gravar novas músicas para um single a ser lançado o mais rapidamente possível. Elvis chegou com sua turma e começou a ouvir as sugestões do produtor. As músicas de demonstração eram passadas para ele escolher as que mais lhe agradava. 

Essa acabaria sendo a sua forma de trabalhar até o fim de sua carreira. As músicas eram reproduzidas para sua audição, caso Elvis gostasse de alguma, mandava separar e ao final com seis ou oito canções escolhidas ele se dirigia ao microfone e dava seu sinal de OK. Os microfones eram ligados e as sessões começavam de fato. Geralmente Elvis ouvia as demos sentado em uma confortável cadeira no centro do estúdio com um refrigerante em mãos, geralmente uma Pepsi, sua marca preferida. Nesse dia em particular Elvis resolveu tentar algo diferente. Iniciou com a canção gospel “I Believe”. Depois tentou a balada "Tell Me Why". Só no final da sessão é que se mostrou disposto a gravar a canção "All Shook Up". Era o que os produtores da RCA queriam.

A música escrita por Otis Blackwell caía como uma luva para o gosto dos jovens da época. Tinha um excelente ritmo, com muito swing, e uma letra que certamente criaria uma identificação imediata com a juventude. Era praticamente uma gíria que logo cairia na boca dos fãs de Elvis. Embora o cantor fosse creditado depois como um dos autores da música, a verdade é que novamente pouco participou da criação da canção. Apenas deu uma ideia para o que seria um bom refrão, daqueles bem pegajosos, que grudam na cabeça do ouvinte. Sugeriu a expressão “All Shook Up” se referindo obviamente a um estado de excitação, movimento, inquietação. O próprio cantor inclusive explicou depois em uma entrevista que só havia dado ideia para uma única música em toda sua vida e era justamente essa, “All Shook Up”. Ele havia tido um sonho estranho, onde não parava quieto e quando acordou imaginou que poderia sair uma música dali. Alguns historiadores porém acham que embora não estivesse mentindo a música já existia desde 1956 e tinha apenas sido retocada por Blackwell para que Elvis a gravasse depois.

Um fato curioso é que "All Shook Up" iria mudar com os anos. A versão original do compacto tem uma melodia com levada de jazz e swing, mas quando Elvis a levou para os palcos a partir de 1969 ela ganharia muito mais velocidade, se transformando em um rock vibrante, com pouca identidade com a gravação original. O lado B do single veio com a baladona “That's When Your Heartaches Begin”. A canção foi incluída praticamente como “tapa buraco” pois a RCA não tinha a menor intenção de trabalhar em cima dela. Era uma velha balada romântica, sem muito potencial comercial, que só foi gravada por Elvis porque ele a tentava gravar adequadamente desde os tempos da Sun. Como lado B de All Shook Up já estava bem posicionada. All Shook Up virou um tremendo sucesso em seu lançamento e seria o primeiro de quatro singles campeões nas paradas que Elvis iria emplacar de forma consecutiva. De fato esse foi um de seus períodos mais bem sucedidos em termos comerciais. Seus singles eram dados como certos no topo das paradas e tinham pré vendas de mais de um milhão de exemplares. Algo inédito para a RCA. All Shook Up chegou ao primeiro lugar na Billboard Top 100 em abril de 1957 tirando a canção “Round and Round” de Perry Como da primeira posição. No saldo final deu a Elvis Presley mais dois discos de platina. Um êxito comercial absoluto. Nada mal para o que era apenas um sonho agitado de fim de noite.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Rock Hudson e o Western - Parte 2

Provavelmente o melhor momento de Rock Hudson no gênero western tenha acontecido no filme O Último Por-do-Sol de 1961. O ator estava saboreando o sucesso de suas comédias românticas ao lado de Doris Day e procurava por algo um pouco diferente, para não ficar tão estigmatizado por só fazer um tipo de filme. Os dramas de Douglas Sirk tinham ficado no passado e assim Rock decidiu que seria uma boa oportunidade de atuar em mais um faroeste. Além do mais o elenco contava com Kirk Douglas, um dos astros mais populares da época. 

Não haveria qualquer risco de insucesso com todas as peças no lugar. E tal como Rock previa o filme realmente logo se tornou um sucesso de público e crítica. Mais importante do que isso, ele se deu muito bem com o próprio Kirk no set de filmagens que logo se mostrou um excelente colega de trabalho. Um dos conselhos que Douglas deixou para Rock ele jamais esqueceu. "Não deixe de trabalhar ao lado de John Wayne" - aconselhou o astro. Rock guardou o conselho para si.

Depois do êxito do filme Rock voltou para sua velha rotina. Fez mais dois filmes ao lado de sua querida Doris Day, "Volta Meu Amor!" e "Não me Mandem Flores". Essas duas produções eram basicamente releituras muito semelhantes ao sucesso "Confidências à Meia Noite". Os roteiros eram praticamente iguais, sem inovações. A crítica percebeu isso e apesar do sucesso de público de ambos os filmes Rock entendeu que aquele tipo de comédia era uma página virada em sua filmografia. Duas outras comédias românticas mostravam bem a saturação desse tipo de personagem. "Quando Setembro Vier" ainda conseguiu uma bilheteria razoável, mas "Um Favor Muito Especial" foi um tremendo fracasso comercial.

Rock procurou por outros caminhos para reencontrar o sucesso. Fez um filme interessante sobre a Força Aérea dos Estados Unidos chamado "Águias em Alerta", cujo roteiro explorava bem as paranoias da guerra fria e uma estranha ficção chamada "O Segundo Rosto", um filme que Rock havia adorado fazer e que acreditava muito, mas que não foi bem recebido nem pelo público e nem pela crítica que o achou estranho e bizarro demais. Em busca do sucesso Rock começou a procurar novamente por roteiros de filmes de faroeste.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 25

Marilyn Monroe tinha realmente problemas psiquiátricos? Como se sabe havia um extenso histórico de doenças mentais na família de Marilyn. Sua própria mãe foi internada em um hospício quando Marilyn era apenas uma criança. Levada para orfanatos ela definitivamente não teve uma infância feliz. Vivendo de lar provisório em lar provisório, muitas vezes sofrendo abusos psicológicos, Marilyn acabou criando uma personalidade cheia de traumas que ao longo dos anos só foram piorando. Uma coisa parecia certa, Marilyn não era uma pessoa fácil de conviver. Ela ia da doçura à fúria em questão de segundos. Também parecia demonstrar ter duas personalidades bem diferentes que se revezavam ao longo do dia. Uma delas era a da menininha órfã, que falava com uma voz de criança, parecendo muito vulnerável e indefesa. A outra personalidade era forte, decidida, dona de si e seu destino. Quem não a conhecia ficava realmente surpresa com essas mudanças.

Dorothy Manning, uma escritora que conviveu com Marilyn nos anos 1950 escreveu bem sobre essa dualidade do modo de ser de Marilyn Monroe em seu cotidiano. Dorothy relembra: "Marilyn era estranha. Quando a encontrei pela primeira vez tive a impressão de estar conhecendo uma menina em corpo de mulher. A vozinha de criança pequena era um tanto assustador. A falta de verbalização adulta, a mentalidade de uma menininha de nove anos! Ela parecia alguém com algum tipo de problema de retardo mental. Cerca de meia hora depois Marilyn surgia totalmente diferente! Ela parecia completamente dona de si, alegre, expansiva, independente, uma mulher moderna, de seu tempo, falando bem, uma diva do cinema. Suas percepções do mundo eram até mesmo brilhantes. Ela falava sobre política, os estúdios, a falta de credibilidade de certas pessoas... Era algo impressionante! Parecia duas pessoas completamente diferentes! Eu ficava sem saber como agir em sua presença!".

Teria Marilyn traços de esquizofrenia? Ou tinha um problema relacionado ao transtorno de personalidade esquizóide? Ninguém até hoje sabe ao certo qual era o problema de Marilyn. Ao longo da vida ela colecionou analistas. Em determinado momento Marilyn se convenceu que seus supostos problemas psiquiátricos poderiam ser curados com análise. Então ela virou uma cliente de inúmeros deles na Califórnia, não raro fazendo duas ou três sessões em um único dia! Nem todos esses analistas tiveram uma boa impressão sobre Marilyn. Como diria Dorothy Manning, Marilyn tinha mesmo problemas: "Todos que conheciam Marilyn tinham a sensação de que havia algo errado com ela. Havia uma sensação no ar de que Marilyn estava obviamente perturbada. Ela tinha ataques de ansiedade e insegurança. Lembrando do passado tenho a clara certeza de que Marilyn era uma pessoa bem estranha e confusa, cuja fraqueza psicológica nos atingia no coração."

O Dr. Milton Gottleb, que atendeu Marilyn, tinha opinião muito semelhante. Ele disse: "Marilyn era muito insegura, uma insegurança patológica. Era uma jovem mulher bem perturbada que tinha acima de tudo medo da vida. Não é errado dizer que tinha uma personalidade esquizóide. Muitos atores e atrizes acabam desenvolvendo algum tipo de neurose em algum momento de suas vidas.". Outro médico, o Dr. Elliot Corday, foi mais sombrio sobre sua avaliação sobre Marilyn: "Eu deixei de atender Marilyn porque ela não conseguia obter melhores resultados. As pessoas entenderiam melhor sobre sua morte se tivessem conhecimento das coisas que soube sobre Marilyn quando ela foi minha cliente. Marilyn havia tentado se matar inúmeras vezes, mais do que muitos pensam. Ela também começou a usar drogas pesadas e eu lhe disse que não seguiria sendo seu médico se aquilo continuasse. Marilyn também tinha ataques recorrentes de melancolia. Ela podia passar a tarde inteira, olhando pela janela, fitando o horizonte, sem falar nada ou pensar nada. Era um tipo de melancolia patológica que poderia levá-la a cometer atos insanos, como o suicídio, por exemplo",

Marilyn tinha muito medo de ficar louca como a mãe. Aliás a loucura não havia apenas atingido a mãe de Marilyn, mas também sua avó, suas tias, primas, etc. Estudos modernos já conseguiram provar que a depressão, por exemplo, pode por via genética, ser passada de mãe para filha. Então essa era uma possibilidade real. Por falar em depressão, Marilyn também sofria bastante com ataques dessa doença. Ela passava semanas trancada em seu quarto completamente escuro, com as portas fechadas, sem ver praticamente ninguém. Os inúmeros abortos a destruíam psicologicamente. Hoje em dia estima-se que Marilyn tenha feito ao longo da vida quatorze abortos. Em uma época em que a pílula anticoncepcional ainda não existia, o risco de surgir uma gravidez indesejada era algo constante na vida da atriz. Contraditoriamente o maior sonho de Marilyn era se tornar mãe. E isso foi apenas mais um fator para deixá-la ainda mais abalada do ponto de vista psicológico.

Pablo Aluísio.

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 25

Quando Brando foi expulso da escola militar por indisciplina, ele resolveu voltar para a casa dos pais. Não demorou muito para que o tempo fechasse sobre ele, até porque seu pai era muito rígido e ver o filho fracassar assim nos estudos era demais para o velho. Por essa época a irmã de Marlon, Jocelyn Brando, tentava vencer como atriz em Nova Iorque. Não era fácil. Havia muitos atores e atrizes desempregadas e os papéis, quando surgiam, eram muito disputados. Ela era uma jovem bem talentosa e até bonita, algo que sempre era levado em conta na época, porém os trabalhos eram escassos. Não era um futuro promissor, como ela bem deixou claro para uma carta enviada ao irmão que estava morando com seus pais em Omaha.

Marlon Brando logo pressentiu que não havia nenhum futuro para ele em sua cidade no meio oeste, já que os empregos que existiam para jovens de sua idade eram horríveis, duros e mal remunerados. Assim ele tomou sua decisão. Entre ser desempregado ou subempregado no Nebraska ou ser desempregado em Nova Iorque, tentando uma carreira como ator, a melhor opção era seguramente a segunda. Informou aos seus desiludidos pais que iria para Nova York atrás de sua querida irmã e que uma vez lá tentaria arranjar algum meio de vida. Na época havia um preconceito contra homens atuando, pois isso era considerado um meio de vida em que apenas homossexuais trabalhavam. Para Marlon Brando essa era uma visão preconceituosa e babaca e ele não daria atenção a essas pessoas que pensavam desse jeito. Ele achava sinceramente que tinha algum talento para ser ator. Já havia se dado bem em peças escolares antes. Como não tinha nada a perder, só a ganhar, pegou o primeiro trem para Nova Iorque no dia seguinte.  

Os primeiros dias de Brando foram lembrados por ele em sua autobiografia. Marlon, que era um garoto do meio oeste dos Estados Unidos, obviamente ficou fascinado pela grande metrópole com seus prédios enormes e o grande movimento de pessoas por todos os lados. No começo Brando ficou um pouco inibido pelo gigantismo daquele lugar, mas não tardou muito a começar a amar aquela cidade de amplas possibilidades. Começou trabalhando em empregos eventuais e ao mesmo tempo deu início aos seus estudos de arte dramática. Nesse meio tempo seu pai lhe escreveu para avisar que ele poderia voltar para casa, pois a academia militar de Shattuck havia reconsiderado sua expulsão e o aceitaria de volta aos bancos escolares. Brando disse "não"! Ele jamais tencionaria retornar para aquele lugar, afinal ele odiava disciplina militar e estava amando a liberdade que agora desfrutava em Nova Iorque. Entre ser um oficial do exército e ser um ator ele preferia muito mais a segunda escolha.

Assim que arranjou algum dinheiro, trabalhando como mensageiro de hotel e garçom, Brando comprou uma moto de segunda mão. Com ela poderia ir aos testes de peças de teatro, às aulas de arte dramática ou simplesmente sair pelas ruas e bairros da "big apple" para passear. Brando adorava a noite e por essa época, não raras vezes, resolvia dormir em qualquer parque bonito que encontrasse pela frente. Como ele bem relembrou em seu livro, naqueles tempos não havia violência urbana e ninguém o incomodaria se resolvesse dormir debaixo de uma árvore e tampouco alguém iria tentar roubar sua moto enquanto estava tirando uma soneca. Para aguentar o frio Brando comprou uma jaqueta negra do mesmo tipo que pilotos de avião usavam. Também começou a colocar jornais dentro do casaco para espantar o frio - um velho truque que aprendera com vagabundos quando certa ocasião se aventurou a atravessar os Estados Unidos em vagões de trem de carga.

Assim a vida lhe parecia sorrir. Ao contrário de sua irmã, Brando não fazia de seu sucesso na carreira de ator uma obsessão. Ele queria vencer, é claro, mas caso nada disso desse certo, ele poderia viver com qualquer outro trabalho que estivesse à disposição na cidade. Sua sorte porém mudou rapidamente e Brando começou a ganhar alguns pequenos papéis em peças de teatro off-broadway. O cachê era fraco, mas só o fato dele ganhar dinheiro atuando já era uma conquista e tanto. E as coisas melhoraram ainda mais quando soube que havia passado no teste para entrar na prestigiada escola de atores do Actors Studio. Ele não sabia, mas sua vida estava prestes a mudar para sempre.

Pablo Aluísio.

domingo, 25 de setembro de 2022

Downton Abbey II: Uma Nova Era

Downton Abbey fez uma excelente transição do mundo das séries para o cinema. Esse segundo filme vem justamente para confirmar isso. É um filme muito bom, diria até excelente mesmo. Toda a tradição de qualidade e excelência desse produto e dessa franquia se mantém em alto nível. A história também é particularmente saborosa para quem gosta de cinema. Com problemas financeiros, Robert Grantham aceita receber uma equipe de filmagem em sua casa. Estão filmando um filme em locação e precisam de um belo cenário para as cenas. E a vitoriana mansão cai justamente como uma luva para o diretor do filme. Assim, uma equipe de filmagem vai para sua tradicional casa e começam os trabalhos. E tudo soa muito inspirador e autorreferencial. Um belo exercício de metalinguagem cinematográfica. 

Para quem aprecia história do cinema, há aspectos muito interessantes. O filme está sendo filmado bem na época em que o cinema mudo está morrendo e o cinema falado começa a dominar o mercado. A atriz principal do filme é uma mulher extremamente bonita e glamorosa, mas com péssima dicção. Como ela vai sobreviver nesta transição? O galã, cobiçado por todas as mulheres, esconde um segredo pois na verdade é homossexual. Outro aspecto curioso acontece quando Violet Grantham herda uma bela propriedade no sul da França. Um amor do passado dela que se revela em um testamento. Isso esconde uma história que perturba o seu filho. E coloca em dúvida inclusive sua verdadeira ascendência. Como eu escrevi, Downton Abbey segue excelente. Já se tornou uma marca de elegância e sofisticação. Que venham novos filmes. 

Downton Abbey II: Uma Nova Era (Downton Abbey: A New Era, Estados Unidos, 2022) Direção: Simon Curtis / Roteiro: Julian Fellowes / Elenco: Hugh Bonneville, Maggie Smith, Jim Carter, Elizabeth McGovern, Michelle Dockery / Sinopse: Uma equipe de cinema chega para trabalhar na mansão de Downton Abbey, rompendo com os costumes e o modo de vida da elegante e tradicional aristocracia inglesa. E um velho amor do passado ressuscita em um testamento, para surpresa de todos.

Pablo Aluísio.

Invasão ao Serviço Secreto

Nesse bom filme de ação, o ator Gerard Butler interpreta Mike Banning, um veterano do serviço secreto dos Estados Unidos. Há muitos anos ele é o encarregado da segurança pessoal do próprio presidente, aqui interpretado pelo sempre ótimo Morgan Freeman. Ele passa, inclusive, a ser cogitado para se tornar o chefe do departamento em que trabalha, mas isso fica em modo de espera. Banning passa por uma situação complicada, pois ele está passando por problemas na vida pessoal. Está sofrendo de uma doença grave, mas esconde isso de todos, dos amigos, dos seus superiores e até mesmo de sua esposa. E sua vida vira de cabeça para baixo quando o presidente sofre um atentado terrorista com drones de alta tecnologia. Depois que vários agentes morrem e o presidente entra em coma, ele passa a ser o principal suspeito, pois sobreviveu sem grandes danos físicos. O FBI também descobre que ele recebeu 10 milhões de dólares em sua conta. O cerco se fecha sobre ele. Assim, fica numa situação limite. Precisando, ao mesmo tempo, salvar sua vida, provar sua inocência e manter protegido o presidente, pois ele é alvo de inimigos internos. 

Esse é um filme de ação a se recomentar. No começo, pensei que seria apenas mais um filme genérico nesse estilo, mas, para minha surpresa, me enganei. O filme tem bom roteiro e ótimas cenas de ação. Existe toda uma conspiração sendo traçada dentro dos prédios da burocracia de Washington. O presidente é, obviamente, o alvo principal. Tudo resultando em um filme coeso e bem realizado, bem-produzido, com ótimas cenas nas quais se destaca o ataque dos drones sobre uma enseada. E o tiroteio final com opositores armados com rifles de alta potência fecha muito bem o filme. Um thriller eficiente que realmente não vai decepcionar quem aprecia esse gênero cinematográfico.

Invasão ao Serviço Secreto (Angel Has Fallen, Estados Unidos, 2019) Direção: Ric Roman Waugh / Roteiro: Ric Roman Waugh / Elenco: Gerard Butler, Morgan Freeman, Frederick Schmidt, Danny Huston, / Sinopse: Após um grave atentado terrorista, um veterano agente do serviço secreto, responsável pela segurança do presidente, precisa provar sua Inocência. Ao mesmo tempo em que investiga uma grande conspiração dentro do próprio governo.

Pablo Aluísio.

sábado, 24 de setembro de 2022

Alguém Avisa?

O gênero comédia romântica já está saturado, e há muito tempo. Isso é bem nítido em cada novo filme que é lançado. Entretanto, esse aqui vai para um outro caminho e até que isso resultou em aspectos positivos. A história é bem interessante. A atriz Kristen Stewart interpreta uma jovem lésbica. Ela tem uma namorada que gosta muito, e elas estão se dando muito bem juntas. Elas se amam realmente. Então ela planeja pedir a namorada em casamento no dia de Natal. Só que sua garota a convida para passar o Natal na casa dos pais. Inicialmente, ela mente dizendo que os pais aceitam muito bem sua orientação sexual. Só que no caminho da viagem, tudo vem abaixo. Ela abre o jogo para a namorada e diz que o pai é um político conservador e a mãe é uma mulher que vive de aparências dentro da sociedade. Impossível que eles venham aceitar o fato da filha ser lésbica e ter uma namorada fixa. E isso embola totalmente o meio de campo. A personagem de Kristen Stewart precisa então mentir, dizer que é apenas a amiga da namorada e que vai passar o Natal com ela porque seus pais morreram. E assim está armada toda a trama deste filme. Duas garotas que são apaixonadas e que precisam fingir que são meras amiguinhas. E a tensão vai crescendo conforme o Natal vai passando. A família da namorada é bem disfuncional, esquisita para falar a verdade. Ela tem duas irmãs com problemas pessoais também. Passar o Natal naquela casa, definitivamente não vai ser nada fácil.

Eu gostei muito desse filme, sinceramente falando, ele tem um ótimo roteiro, uma excelente pegada. Só perde um pouquinho no final, quando apela para as soluções fáceis, mas aí o jogo já está ganho. É um filme que ao mesmo tempo diverte e traz temas importantes para serem discutidos. A questão da aceitação das pessoas LGBT por suas famílias é um tema central neste filme, embora ele tenha o formato de uma comédia romântica despretensiosa. Temas complexos tratados com leveza. Diverte e demole preconceitos arcaicos e obtusos. Eu gostei bastante do resultado final e recomendo. É uma das boas comédias românticas lançadas nos últimos anos.

Alguém Avisa? (Happiest Season, Estados Unidos, 2020) Direção: Clea DuVall / Roteiro: Clea DuVall / Elenco: Kristen Stewart, Mackenzie Davis, Mary Steenburgen, Victor Garber / Sinopse: No Natal, duas garotas que estão namorando e são apaixonadas, precisam fingir que são apenas amigas para a família conservadora de uma delas. E disso resulta uma série de confusões divertidas.

Pablo Aluísio.

Baywatch: S.O.S. Malibu

Essa é uma adaptação de uma famosa série dos anos 90. S.O.S. Malibu nunca foi grande coisa. Vamos ser sinceros. Fez sucesso na TV, mas pelos motivos errados. A série mostrava um grupo de salva-vidas nas praias da Califórnia. Para ganhar a audiência, colocaram garotas bonitas e com peitos de silicone balançando pelas areias escaldantes da praia. Garotas da Playboy, como Pamela Anderson. Claro que acabou fazendo sucesso, mas a série nunca me convenceu em nada. Sempre foi ruim. Então, fazer uma adaptação de um produto original que já não era bom, não poderia resultar em um bom filme. É justamente o que encontramos nesta versão cinematográfica de S.O.S. Malibu. Tudo muito ruim. O roteiro é capenga e, com uma situação básica, nada convincente. As piadas são sem graça, com linguagem chula por todos os lados. 

As cenas de ação são fracas. Até mesmo Dwayne Johnson não está nada bem no papel. Ele é um tipo truculento, brucutu e não tem o tipo físico ideal para interpretar um salva vidas, que são pessoas que precisam sim ser atléticas, mas que precisam ter agilidade. Coisa que ele não tem e deixa claro durante o filme. O mais interessante é que até mesmo no quesito beldades bonitas, o filme deixa a desejar. Ora, a série original tinha mulheres que eram símbolos sexuais da época. Já nesse filme, as atrizes são bem mais ou menos. Assim se perdeu a única coisa que prestava em S.O.S. Malibu, que era beleza estonteante das mulheres das praias da Califórnia. Cadê as loiras peitudas? Enfim, não sobrou nada que preste nesse filme mesmo.

Baywatch: S.O.S. Malibu (Baywatch, Estados Unidos, 2017) Direção: Seth Gordon / Roteiro: Damian Shannon / Elenco: Dwayne Johnson, Zac Efron, Alexandra Daddario, Pamela Anderson, David Hasselhoff / Sinopse: Um grupo de jovens tenta entrar na equipe de salvamentos de Malibu enquanto uma quadrilha de traficantes tenta dominar as praias da região.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Vera Cruz

O filme já começa à toda mostrando o encontro da dupla central, Cooper e Lancaster, numa cena com diálogos totalmente cínicos e dúbios. De certa forma isso se repetirá em todo o restante da fita. Curioso porque até mesmo o personagem de Gary Cooper parece não ter muitos escrúpulos. Coronel do exército confederado ele agora vaga pelo deserto mexicano para vender sua mão de obra ao grupo que lhe pagar melhor, ou seja, é um mercenário. Já o personagem de Burt Lancaster é bem pior, ladrão de cavalos, mentiroso e trapaceiro, desde o começo do filme já sabemos que não há nada o que esperar dele em termos éticos. Algo que se confirma no final quando teremos o tradicional duelo no meio das ruínas de uma cidade mexicana! "Vera Cruz" foi um dos primeiros westerns em que a ação foi colocada em primeiro plano, superando até mesmo os cânones dos faroestes mais tradicionais. Muitos especialistas inclusive qualificam "Vera Cruz" como uma espécie de predecessor do que seria feito no chamado Western Spaguetti. Não chegaria a tanto mas não há como negar que os faroestes italianos iriam utilizar de vários elementos que estão presentes aqui.

Um dos elementos é justamente a simplificação dos roteiros em detrimento da ação incessante. A trama da produção na realidade se desenvolve praticamente toda em torno de uma diligência com carregamento de ouro que tenta chegar até o porto de Vera Cruz. No meio do caminho Cooper e Lancaster, que estão protegendo o carregamento ao lado de um pelotão do exército mexicano, vão enfrentando todo tipo de desafios, conflitos e traições (sim, todos querem no final ficar com a fortuna e para isso não medem esforços em trair qualquer um). A produção é muito boa - bem acima da média dos faroestes da época. O figurino dos mexicanos na fita pode até ser considerada exagerado, mas é fiel no final das contas uma vez que eles realmente se vestiam daquela maneira. Em conclusão Vera Cruz é um bom western, talvez um pouco prejudicado pelo excesso de personagens e pirotecnia. Vale pelo carisma de Lancaster e pela presença sempre muito digna do grande mito Gary Cooper.

Vera Cruz (Vera Cruz, Estados Unidos, 1954) Direção: Robert Aldrich / Roteiro: Roland Kibbee, James R. Webb / Elenco: Gary Cooper, Burt Lancaster, Denise Darcel / Sinopse: Durante a revolução mexicana de 1866 um grupo de pistoleiros e aventureiros americanos são contratados pelo Imperador Maximiliano para escoltar uma condessa mexicana até o porto de Vera Cruz.

Pablo Aluísio.

10 Curiosidades - Matar ou Morrer

1. Quando o filme foi lançado o ator Gary Cooper estava com 51 anos de idade e muitos não acreditavam que ele retornaria ao sucesso do começo de sua carreira. Pois bem, com a ótima bilheteria desse faroeste Cooper voltou ao Top 10 dos atores mais populares de Hollywood.

2. O roteirista Carl Foreman era considerado um escritor brilhante, mas caiu nas garras do macartismo. Acusado de ser um comunista entrou na lista negra do senador Joseph McCarthy.

3.  Gary Cooper e Grace Kelly tiveram um breve romance durante as filmagens, apesar da diferença de idade entre eles. Cooper tinha 51 anos e Kelly apenas 21.

4. Gregory Peck queria muito fazer o filme após ler seu roteiro original. Por problemas de agenda acabou sendo impossível para ele interpretar o mitológico xerife. Anos depois confessou que no final havia ficado impressionado com a atuação de Cooper, reconhecendo que ninguém poderia fazer aquele personagem a não ser Cooper.

5. O xerife interpretado por Gary Cooper chamava-se inicialmente Will Doane, depois mudado para Will Kane por sugestão da atriz Katy Jurado.

6. Esse foi o filme de estreia do ator Lee Van Cleef. Inicialmente ele foi escalado para atuar como um dos auxiliares do xerife, mas o diretor Fred Zinnemann entendeu que Cleef tinha mais jeito para interpretar vilões.

7. John Wayne não gostou do filme. Ele achou que certas cenas escritas por Carl Foreman passavam mensagens subliminares comunistas. Sua má vontade contra o filme durou anos e anos. Ele explicou que o xerife isolado e abandonado pela própria cidade era uma metáfora sobre a vida do próprio escritor, abandonado depois que foi colocado na lista negra do macartismo.

8. Fred Zinnemann escolheu pessoalmente todos os figurinos pois ele queria que a fotografia preto e branco do filme fosse realçada também com as roupas dos atores. Por isso o xerife usa roupas pretas e brancas, para tornar tudo ainda mais forte na tela.

9. Henry Fonda não participou do filme porque caiu na garagem de sua casa, quebrando a perna. Ele lamentaria esse pequeno acidente pelo resto de sua vida pois perdeu a chance de atuar nesse grande clássico do western americano.

10. Em seu testamento o diretor Fred Zinnemann deixou claro que não autorizava em nenhuma hipótese a colorização do filme. Os herdeiros de seus direitos autorais deveriam seguir esse seu último desejo, o que acabaria resultando em um processo judicial anos depois.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

10 Curiosidades - Rastros de Ódio

1. John Wayne considerava o personagem Ethan o melhor de toda a sua carreira, tanto que resolveu batizar seu próprio filho com seu nome. Ethan Wayne, assim John resolveu chamar seu jovem filho, nascido logo após a conclusão do clássico western.

2. Durante as filmagens um jovem garoto Navajo, que trabalhou no filme como figurante, ficou seriamente doente. Vendo sua situação o ator John Wayne resolveu chamar seu avião particular para levar o garoto até um hospital de Los Angeles, onde poderia receber o tratamento adequado. Por causa do fato ele passou a ser chamado de "O Homem do grande pássaro" pelos nativos que trabalhavam no filme.

3. A atriz Natalie Wood era tão jovem quando participou do filme que muitas vezes o próprio John Wayne (ou seu coadjuvante Jeffrey Hunter) iam até sua escola para pegar Natalie para as filmagens. Isso obviamente acabou causando uma grande excitação entre os jovens estudantes. Afinal ter o ídolo John Wayne na porta da escola esperando por Natalie não era uma coisa costumeira de acontecer em nenhum lugar do mundo.

4. Baseado no roteiro do filme o cantor e roqueiro Buddy Holly (morto precocemente em 1959) resolveu escrever uma canção sobre a garota do filme. Essa música foi intitulada de "That'll be Day" e se tornou um de seus maiores hits.

5. O American Film Institute classificou "Rastros de Òdio" como um dos dez melhores filmes norte-americanos da história, de todos os tempos.

6. Na cena em que Ethan (Wayne) faz o discurso sobre o desaparecimento da jovem interpretada por Natalie Wood - uma das cenas mais importantes do filme - houve um fato inusitado. Wayne realizou perfeitamente o primeiro take, mas o diretor John Ford descobriu logo após sua atuação terminar que a câmera estava desligada! O ator Ward Bond havia tirado a tomada da câmera para ligar seu barbeador! Ford ficou possesso com o take perdido e tudo precisou ser refeito!

7.  O papel do jovem oficial da cavalaria foi interpretado pelo próprio filho de John Wayne, Patrick. O pai queria que o filho tivesse uma bela carreira no cinema como ele, mas Patrick Wayne nunca conseguiu se tornar um astro.

8. Segundo confessou anos depois David Lean, o grande cineasta de tantos clássicos, usou "Rastros de Ódio" como modelo para as cenas externas, explorando longas paisagens, em seu clássico imortal "Lawrence da Arábia". Lean qualificava o filme de John Ford como o "Filme Perfeito!".

9. Durante as filmagens o diretor John Ford foi picado por um escorpião do deserto. Os executivos da Warner ficaram preocupados pois havia muito dinheiro envolvido na produção. Ao entrar em contato com John Wayne sobre o incidente o produtor do filme ouviu sua opinião sobre o ocorrido: "Não se preocupe! John Ford é um sujeito durão! Quem acabou morrendo foi o escorpião!".

10. O roteiro foi inspirado no conto intitulado "Os Perseguidores Texanos". Anos depois o roteirista Frank Nugent explicaria que ele só tinha usado mesmo a ideia original, a base do enredo. Todo o resto foi criado já que um conto literário não tinha elementos suficientes para preencher um roteiro de um longa-metragem como o que John Ford queria filmar.

Pablo Aluísio.

À Beira do Inferno

Mais um clássico filme de guerra, só que nesse caso com uma abordagem um pouco diferente. Na história um oficial da Marinha americana chamado George R. Tweed (Jeffrey Hunter) está prestes a voltar para os Estados Unidos após um longo período prestando serviço militar na distante e isolada ilha de Guam, no Pacífico Sul, quando essa é violentamente atacada por tropas japonesas, forçando finalmente os americanos a entrarem na II Guerra Mundial. Enquanto a ilha é rapidamente invadida, Tweed e mais quatro marinheiros conseguem fugir, se isolando em um dos lugares mais remotos da região, tentando sobreviver ao cerco do exército nipônico. E lá ficam por um longo período de tempo, tentando sobreviver, cercados de inimigos por todos os lados. E como se trata de uma ilha no oceano, simplesmente não há para onde fugir.

Bastante interessante esse filme baseado em fatos reais. Ele mostra uma das histórias mais curiosas da chamada guerra do Pacífico, quando os japoneses invadiram uma das bases mais vitais para as forças armadas americanas na ilha de Guam. Poucos conseguiram escapar da brutalidade dos soldados do imperador e entre eles estavam justamente Tweed e seu pequeno grupo. Inicialmente eles se refugiam no meio da floresta mas aos poucos vão ganhando a ajuda dos nativos que odiavam as forças japonesas por causa de sua truculência com todos na ilha. Também os americanos encontram um grande aliado na sua luta de sobrevivência, um padre católico que resolve abrigar o personagem de Jeffrey Hunter em um hospital para leprosos, local que os japoneses evitavam por motivos óbvios pois não queriam correr o risco de pegar a doença, altamente contagiosa.

O título original do filme também dá uma boa ideia do argumento que encontramos aqui. "Nenhum homem é uma ilha" mostra bem que para sobreviver os americanos precisaram contar com a ajuda muito preciosa dos habitantes de Guam, inclusive na forma como eles conseguiram esconder o marinheiro George R. Tweed por mais de trinta meses! E isso tudo em uma ilha ocupada massivamente por militares japoneses. E é nessa relação de amizade que se apóia a terça parte final do filme pois o personagem de Hunter começa a ser ajudado pela família Santos que o alimenta e o esconde em cima de uma das colinas mais altas e inacessíveis de Guam.

Já para os que gostam do aspecto mais histórico de filmes como esse, o espectador é presenteado com cenas reais da invasão americana na ilha nos momentos finais do enredo. Enfim, "À Beira do Inferno" é um filme de guerra que valoriza os relacionamentos e os bons sentimentos dos moradores daquela ilha perdida que jamais deixaram de apoiar a presença americana no local pois para eles os militares dos EUA eram acima de tudo símbolos da liberdade que eles tanto queriam e desejavam.

À Beira do Inferno (No Man Is an Island, Estados Unidos, 1962) Estúdio: Gold Coast Productions / Direção: Richard Goldstone, John Monks Jr. / Roteiro: Richard Goldstone, John Monks Jr / Elenco: Jeffrey Hunter, Marshall Thompson, Barbara Perez / Sinopse: Um militar americano fica isolado em uma ilha que é dominada por tropas japonesas durante a II Guerra Mundial. Sobrevivendo a cada dia, ele tenta manter sua sanidade em uma situação limite e altamente perigosa.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Elvis Presley - Just For You (1957)

Poucos dias depois que o compacto duplo "Peace In The Valley" chegou nas lojas americanas a RCA Victor lançou no mercado outro compacto, igualmente duplo, apenas com músicas inéditas gravadas por Elvis Presley. O mercado de fato esperava por um novo single depois do grande sucesso de "All Shook Up", mas isso definitivamente não aconteceu. A razão é que os executivos da gravadora após ouvirem as novas faixas que Elvis havia gravado no Radio Recorders chegaram na conclusão que nenhuma delas tinha força suficiente para estourar nas paradas. Eram boas canções sim, bem gravadas e tudo o mais, porém não tinham vocação para virarem hits na Billboard. Excesso de zelo? Falta de confiança no novo material? Em parte sim. Realmente os engravatados da Victor não estavam errados. Elvis vinha de "All Shook Up", um tremendo sucesso e não seria interessante ver seu novo single ficar para trás nas principais paradas. A decisão então foi reunir quatro das novas músicas para lançamento no mercado em forma de Extended Play (o nome americano para o nosso compacto duplo).

A direção de arte da capa reciclou uma foto que havia sido tirada para fazer parte da capa do segundo álbum do cantor no ano anterior. Elvis inclusive está com a mesma camisa, o mesmo violão e no fundo o mesmo cenário. A única diferença é que ele está usando um casaco vermelho bem chamativo. A contracapa repetia o que era praxe na época: uma mera lista promocional de outros compactos duplos da RCA Victor nas lojas. Estão lá os nomes dos novos disquinhos de Perry Como, Harry Belafonte, Chet Atkins, Eddie Fisher, Glenn Miller, Eddy Arnold, entre outros. Na época isso era considerada mera propaganda, mas hoje em dia esse tipo de informação não deixa de ter um charme extra pois ficamos sabendo quais artistas estavam no mercado fazendo concorrência a Elvis. E foi justamente essa disputa feroz no mercado que fez com que a RCA lançasse esse "Just For You". A trilha sonora de "Loving You" só chegaria aos fãs no meio do ano e para evitar que Elvis ficasse vários meses sem nada de inédito nas lojas a gravadora se apressou em colocar no mercado o disco.

O curioso em "Just For You" é que ele logo se tornaria obsoleto para os colecionadores. Como vinha um novo filme de Elvis por aí nos cinemas, a RCA decidiu reaproveitar todas essas faixas para colocá-las no Lado B do álbum da nova trilha sonora. Os fãs que compraram o compacto logo tiveram que gastar dinheiro novamente com as mesmas músicas que voltavam no LP "Loving You". Era a velha estratégia do Coronel Parker de vender a mesma coisa duas vezes, algo que ele aprendeu muito bem em seus dias de circo. Assim todas as faixas de Just For You acabaram se tornando as primeiras “bonus songs” das trilhas sonoras de Elvis Presley. O que eram "Bônus Songs"? Basicamente eram gravações de Elvis que não faziam parte dos filmes, mas que eram incluídas no álbuns das trilhas para completa-las. Geralmente as trilhas de Elvis tinham de seis a sete canções e eram insuficientes para ocupar todo o espaço de um antigo LP. Dessa maneira as Bônus Songs eram adicionadas, se completando as dez ou doze faixas necessárias. Todos os artistas da época faziam isso e com Elvis não seria diferente.

O carro chefe de Just For You era a boa "I Need You So". Uma balada sentimental que apesar de bem executada nunca conseguiu boa repercussão. Completando o lado A temos o country "Have I Told You Lately That I Love You" cujo destaque é a boa sonorização do grupo vocal The Jordanaires. Por essa época eles já estavam completamente entrosados com Elvis e essa simbiose já surgia perfeitamente nos registros. Já o lado B abria com a deliciosa "Blueberry Hill". Falaremos melhor sobre ela quando formos analisar a trilha de "Loving You", mas de antemão quero dizer que é uma pena que a RCA nunca tenha trabalhado melhor nessa música. Eu a considero excelente. Seu potencial de virar hit na época já havia se esgotado pois ela já tinha feito sucesso na voz de outros cantores, porém mesmo assim merecia melhor destino certamente. "Just For You" fecha com outra boa balada," Is It So Strange", uma bela canção que também nunca encontrou bom espaço dentro da discografia de Elvis. Ela reaparecia anos depois no álbum "A Date With Elvis" quando o cantor estava servindo o exército americano na Alemanha.

Quando chegou no mercado "Just For You" surpreendeu e conseguiu emplacar um ótimo segundo lugar entre os compactos duplos mais vendidos. Isso incentivou a RCA a lançar novos EPs de Elvis nos anos seguintes, disquinhos que só deixariam mesmo de serem lançados por volta de 1966 quando a RCA lançou as últimas trilhas sonoras de Elvis nesse formato. Não se preocupe, ainda falaremos muitos sobre esses charmosos vinis que marcaram a discografia de Elvis Presley. Até lá.

Elvis Presley - Just For You (1957)
I Need you So
Have I Told You Lately That I Love You
Blueberry Hill
Is It So Strange

Elvis Presley – Just For You (1957) / Elvis Presley (voz e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Bill Black (baixo) / D.J.Fontana (bateria) / Gordon Stoker (piano) / Dudley Brooks (piano) / Hoyt Hawkins (órgão) / Jordanaires (acompanhamento vocal) / Produzido por Steve Sholes / Arranjado por Elvis Presley e Steve Sholes / Gravado nos estúdios Radio Recorders - Hollywood / Data de Gravação: 18 e 19 de janeiro de 1957 / Data de Lançamento: abril de 1957 / Melhor posição nas charts: #2 (EUA).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Loving You - Parte 1

Esse foi o segundo filme de Elvis Presley e o primeiro a ganhar um disco no formato LP ou álbum. "Love Me Tender", o filme anterior, teve sua trilha sonora vendida em compacto. Aliás é bom salientar que Elvis foi um dos primeiros artistas jovens a ganhar essa honraria de ter suas músicas lançadas em álbum. Naquela época as gravadoras usavam esse formato mais para o lançamento de música clássica ou óperas. Não era comum um artista pop como Elvis ter discos de longa duração como esse. Geralmente esse tipo de artista tinha seu trabalho lançado apenas em singles, conhecidos no Brasil como compactos.

Não havia músicas suficientes para encher todo um álbum. Então a RCA Victor colocou no lado B do disco várias canções do "Just For You". Para os fãs o lado A era a grande novidade. Só músicas inéditas, todas gravadas para o filme "A Mulher Que Eu Amo" (Loving You, em seu título original em inglês). A boa notícia é que eram boas músicas, excelentes gravações por parte do cantor. A maioria delas foi gravada em Hollywood em janeiro de 1957. Para essas sessões Elvis trouxe sua banda habitual. Nada de músicos contratados pelos estúdios de cinema como havia acontecido em "Love Me Tender". Aqui Elvis fez questão de trabalhar com seus próprios músicos.

"Mean Woman Blues" foi escolhida para abrir o disco. Grande momento tanto do álbum, como do filme, quando Elvis a canta em uma de suas melhores cenas no cinema durante os anos 50. Essa era uma composição de Claude Demetrius, aqui aparecendo pela primeira vez em um disco de Elvis - e ele não se tornaria um compositor habital na discografia de Elvis, apesar de seu grande talento. O ritmo era até um pouco fora dos padrões, unindo a escala musical típica de um blues com a agitação do nascente rock ´n´roll. A mistura, apesar de ser original e muito bem composta, não chegou a agradar todo mundo. Alguns mais tradicionais criticaram, ignorando o fato de que o blues foi um dos gêneros musicais que deram origem ao rock. Enfim, erraram no ponto de vista.

"Blueberry Hill" abriu o lado B do álbum. Essa não fazia parte da trilha sonora de "Loving You" e foi colocada no disco para completar espaço. Isso de um ponto de vista puramente comercial, porque do ponto de vista artístico essa era uma grande canção. Foi composta por um trio (Vincent Rose, Al Lewis e Larry Stock) e virou sucesso na interpretação do ótimo Fats Domino. Seu toque de piano inicial era sua maior característica. Algo inclusive que levou Elvis a tentar tocá-la ao vivo algumas vezes durante os anos 50. Ficou muito bom, na maioria das vezes. Como a música já havia esgotado seu potencial de sucesso com Fats, ela nunca chegou a se tornar um hit na voz de Elvis, mas isso em nada tira seus méritos. É um dos melhores momentos de todo o disco.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

A História de Rock Hudson - Parte 11

Após terminar o colegial Rock ficou meio perdido, sem saber o que fazer da vida. A oportunidade surgiu quando um amigo sugeriu que ele se alistasse na Marinha dos Estados Unidos. O salário era bom e para ele que não tinha nenhuma formação em nenhuma profissão poderia ser um saída. Rock porém não sabia que estava prestes a explodir um dos maiores conflitos armados da história, a Segunda Grande Guerra Mundial! Ele estava com 23 anos de idade quando o presidente Roosevelt informou ao país que os Estados Unidos estavam entrando na guerra! E nessa época Rock era um marinheiro de um navio da frota do Pacífico.

Realmente participar de algo assim mudaria sua vida. Os anos no mar, as tensões de trabalhar em um navio de guerra, tudo colaborou para que Rock voltasse da batalha como um outro homem. Quando Rock entrou na marinha ele era apenas um caipira tímido, que mal havia saído do seu bairro onde nasceu. Agora ele era um militar, um veterano de guerra, um marinheiro que conhecia vários lugares do mundo por onde seu navio passou. Curiosamente os anos no Pacífico, em pleno auge da guerra contra o Japão, nunca foi dos assuntos mais corriqueiros para ele. Mesmo quando estava ao lado de grandes amigos, Rock evitava comentar sobre aqueles anos!

Muito se especulou sobre o que teria acontecido de verdade com Rock na guerra.  Ele costumava brincar, dizendo que havia passado quase toda a guerra descascando batatas no porão do navio, mas isso provavelmente era apenas uma pequena parte da verdade. Era uma piada de Rock para divertir seus amigos em Hollywood. Ele havia feito parte da tripulação de marinheiros de um cruzador da Marinha de guerra dos Estados Unidos na chamada batalha do Pacífico, a mais brutal guerra marinha da história. O navio era uma arma poderosa de guerra, enviada para enfrentar diretamente outros navios do Japão imperial. Não era brincadeira de criança. Muito provavelmente Rock presenciou atrocidades na II Guerra Mundial, mas essas lembranças ele queria apagar da mente. Rock era conhecido por não se abrir emocionalmente com ninguém. Ele nunca baixava a guarda sobre isso. Nem seus amigos mais próximos conseguiam tirar alguma confissão emocional do ator. Ele era completamente fechado. Por isso deixou também todas as suas lembranças da guerra bem fechadas, sem compartilhar com mais ninguém.

O que Rock mais gostava de lembrar era a chegada de sua frota no porto de Los Angeles após longos anos no mar enfrentando os japoneses. Esse dia para Rock foi realmente inesquecível, a tal ponto que ele se lembrava inclusive da música que estava tocando para os marinheiros - curiosamente o último sucesso de Doris Day, cantora e atriz que se tornaria uma de suas parceiras em Hollywood! Isso porém parecia tão distante quanto a Lua! Imagine todos aqueles militares, que tinham ficado anos no mar, voltando para os Estados Unidos após voltar da II Guerra Mundial Mundial, o mais sangrento conflito armado da história! Deve ter sido uma forte emoção voltar a ver o porto e as terras americanas à vista.

Rock desembarcou em Los Angeles para lutar por um sonho. O seu navio iria até San Francisco, mas Rock desembargou antes. O que ele estaria planejando? Durante seus anos na marinha muitos colegas de farda disseram a ele que seu lugar era o cinema, pois ele parecia um galã de filmes românticos. O que começou como uma brincadeira porém tinha um fundo de verdade e Rock resolveu apostar nisso. Ele agora queria ser ator! Era um velho sonho da juventude. Como ele estava de volta, como ele havia feito sua parte pelo seu país, agora era hora de tentar construir um futuro para ele. Rock sabia que uma vez em Hollywood as portas dos estúdios iriam acabar se abrindo para ele! Claro havia muito o que fazer, inclusive estudar, mas Rock sabia em qual porta bater! Havia um departamento de treinamento nos estúdios Universal. Era para novatos. O lugar ideal para Rock Hudson começar sua carreira no cinema!

Pablo Aluísio.

Os Filmes de Faroeste de John Wayne - Parte 6

Em 1932 John Wayne atuou no filme "Cavaleiro do Texas" (Texas Cyclone). A direção dessa fita foi do cineasta  D. Ross Lederman. Wayne era até então apenas o quarto nome do elenco, bem atrás do verdadeiro astro do faroeste, o cowboy Tim McCoy. Era um filme de matinê, uma fita rápida de apenas 60 minutos de duração. A  Columbia Pictures estava investindo bastante nesse tipo de produção, exibida para o público jovem, com preços promocionais. Filmes de orçamentos pequenos que traziam lucro certo a cada exibição. Dentro da carreira de John Wayne não trouxe muito em termos de qualidade, mas serviu para deixá-lo na ativa, trabalhando e se tornando mais familiar para o público espectador. Quanto mais conhecido ele ia ficando, melhor!

John Wayne se saiu tão bem na fita anterior que foi logo escalado para outro bang-bang de Tim McCoy. Esse segundo filme, também rodado e lançado em 1932 se chamava "A Lei da Coragem" (Two-Fisted Law). O roteiro era bem simples, mas movimentado e divertido. No centro da trama tínhamos um pacato rancheiro que acaba se vendo no meio de uma disputa por prata nas montanhas próximas de sua propriedade rural. Curiosamente nesse filme John Wayne usou o nome de Duke, que nomeava seu personagem e que também era o seu apelido pessoal, bem conhecido de todos que frequentavam sua recém comprada casa em Hollywood. O Duke do roteiro foi levado pelo próprio Duke, ou seja, ele mesmo, John Wayne.

Depois de dois filmes de western John Wayne resolveu variar um pouco aparecendo no drama esportivo "Homem de Peso" (Lady and Gent). Dirigido por Stephen Roberts essa produção foi a primeira da carreira de John Wayne a ser indicada a um Oscar na categoria de Melhor Roteiro Original (indicação dada aos talentosos roteiristas Grover Jones e William Slavens McNutt). Wayne interpretava um boxeador chamado Buzz Kinney. Após concluir a escola ele entrava para o mundo dos ringues, mas logo descobria que se tornar um campeão não dependia apenas de seus talentos e golpes, mas também de um intenso jogo de interesses envolvendo apostadores e membros da máfia.

E por falar em bons roteiros, a fita seguinte de John Wayne chamada "O Expresso da Aventura" também era muito bem escrita. O enredo mostrava um trem, onde um crime era cometido. As suspeitas iam para um estranho assassino conhecido apenas como "The Wrecker". John Wayne, ainda bem jovem, interpretava Larry Baker, um investigador que chegava no trem para descobrir o verdadeiro assassino. Com ecos de Agatha Christie, o filme ainda hoje é admirado pelas boas doses de suspense.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Pinóquio

Essa nova versão de Pinóquio foi extremamente criticada. Diria até que muitos críticos foram ofensivos em relação a esse novo filme. E no meu ponto de vista tudo isso não teve razão de ser. Eu gostei dessa nova adaptação. Não há nada nela que venha a envergonhar a tradição dos estúdios Disney. Oitenta anos depois do primeiro filme, da primeira animação, temos uma releitura em live action. O resultado é, a meu ver, muito bom. Claro que ninguém iria inovar em termos de roteiro. O roteiro original, que contou com a supervisão do próprio Walt Disney, era muito interessante. Na realidade só existem 3 contos originais do Pinóquio. Então, Disney juntou os 3 em um só roteiro, como se fosse uma história linear. E o roteiro deste novo filme segue a mesma ideia do pioneiro Disney. Os 3 contos são divididos em 3 atos bem nítidos no filme. A origem de Pinóquio, primeiro ato. A ida de Pinóquio até a ilha dos prazeres é o segundo ato. Finalmente, o terceiro e último ato traz o conto do Pinóquio e a baleia.

Nada desmerece a longa tradição dos estúdios Disney em relação a esse personagem. Além disso, eu sou da opinião de que Pinóquio é a prova de falhas. O conto original tem sua beleza infantil imortal e os produtos que dele derivam seguem essa mesma linha. A animação da década de 1940 então, dispensa elogios. A música tema do filme é tão marcante que virou tema principal dos próprios estúdios Disney. Uma melodia deliciosa de se ouvir com sabor de infância feliz. Enfim, essa nova versão está aprovada e não vejo razões para que ela tenha sido tão criticada. O velho sabor nostálgico fala mais alto, certamente. 

Pinóquio (Pinocchio, Estados Unidos, 2022) Direção: Robert Zemeckis / Roteiro: Robert Zemeckis / Elenco: Tom Hanks, Joseph Gordon-Levitt, Benjamin Evan Ainsworth / Sinopse: O sonho do velho Geppetto sempre foi ter um filho. Artesão de madeira talentoso, um dia ele resolve criar um boneco de Pinho. E o chama de Pinóquio. Seu desejo seria que aquele artefato de madeira ganhasse vida. E ele faz um desejo para isso. A Fada Azul ouve suas preces e transforma Pinóquio em um ser animado, com vida e consciência. E assim, esse novo boneco ganha vida e vai conhecer as experiências de menino, as pessoas e a maldade humana. Ao seu lado, em suas aventuras, surgindo como sua consciência, segue o pequeno Grilo Falante.

Pablo Aluísio.

A Casa do Dragão

Você gostou de Game of Thrones? Então, boas notícias para você com o surgimento dessa nova série. Se passa no mesmo universo da série anterior. Só que, tomando como base o primeiro episódio, eles vão se concentrar apenas em algumas casas bem específicas. No caso aqui temos a casa do dragão, como é também conhecido o clã Targaryen. E os eventos que assistimos aqui nessa série nova se passam no passado de Game of Thrones. Algo parecido ocorreu recentemente com O Senhor dos Anéis. Pelo visto, essas séries agora são novas franquias. Até porque a propriedade intelectual é a grande chave mestra na Hollywood dos dias atuais. A produção, como sempre e como se poderia esperar, é simplesmente perfeita. O mesmo clima de Game of Thrones se repete. 

Qual é a história que nos contam? Há um rei que está visivelmente enfraquecido. Seu irmão que almeja o trono é um sujeito violento que surge já provando sua índole no primeiro episódio, um príncipe bem inescrupuloso. Há uma rainha morta no parto com o único herdeiro masculino. E temos também a filha mais jovem, que poderia se tornar a rainha na sucessão, embora isso não seja o costume daquela casa secular. E, Claro, há também os dragões, porque afinal de contas os efeitos digitais devem aparecer em destaque, com sua qualidade inerente. Eu gostei do primeiro episódio e penso que vou acompanhar. Acho que essa nova série é bem promissora, realmente. E quem vai vencer a batalha entre Game of Thrones e O Senhor dos Anéis? Bom, isso apenas índices de audiência e o sucesso ou fracasso dessas novas séries vai dizer. Vamos aguardar os próximos capítulos.

A Casa do Dragão (House of the Dragon, Estados Unidos, 2022) Direção: Miguel Sapochnik / Roteiro: Ryan J. Condal / Elenco: Paddy Considine, Matt Smith, Emma D'Arcy / Sinopse: No primeiro episódio, surge uma grande crise na sucessão do rei. A rainha morre no parto e seu único filho, herdeiro masculino, também se vai. A tensão passa a ser entre sua jovem filha e o príncipe, irmão do rei, um sujeito sem qualquer caráter ou escrúpulo.

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de setembro de 2022

Thor: Amor e Trovão

Um ser vivendo em um planeta deserto e hostil, vê sua filha morrer de fome e sede. Imediatamente afunda na mais profunda dor. Não consegue entender a situação. Por que o seu deus não o ajudou naquela hora de extrema aflição? Ao se deparar com a própria divindade materializada em sua frente, ele descobre que o seu deus é um ente arrogante, egocêntrico e que não está nem aí para a sorte daqueles que o adoram. De sua revolta, nasce uma vingança. Ele toma posse de uma espada especial que consegue matar divindades. E parte em busca da vingança contra esses seres celestiais. Será que Thor poderia deter essa matança desenfreada de deuses no universo? Esse é o novo filme do personagem da Marvel, Thor. Poderia ser um excelente filme, pois tem um vilão especial. O Carniceiro dos Deuses causou sensação nos quadrinhos. As edições em que apareceu foram muito bem criticadas pelos especialistas na nona arte. Só que tudo isso virou desperdício nas mãos desse diretor. Incrivelmente, ele quis fazer desse filme uma comédia boba, tola! 

É inacreditável, mas o filme tem um tom totalmente errado de comédia e humor. E também se divide em duas partes bem distintas, como se fosse um bolo de aniversário cortado ao meio. Nas cenas que se concentram no vilão Carniceiro dos Deuses, o ator Christian Bale está muito bem. Concentrado em seu papel e atuando seriamente. Já nas cenas do Thor, tudo o que se encontra é pura palhaçada. Incrível, mas o diretor transformou o Thor em um idiota completo. É inacreditável como um filme como esse conseguiu se tornar tão ruim, com tanto potencial para agradar aos fãs da Marvel! Esse Carniceiro dos Deuses é um ótimo vilão. Deveria ter sido melhor aproveitado. Ao invés disso, o diretor Taika Waititi encheu o filme de piadinhas sem graça. Chega a ser totalmente constrangedor. O resultado de tudo isso é um dos piores filmes desse ano.

Thor: Amor e Trovão (Thor: Love and Thunder, Estados Unidos, 2022) Direção: Taika Waititi / Roteiro: Taika Waititi / Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Christian Bale, Russell Crowe, Idris Elba, Chris Pratt / Sinopse: A aposentadoria de Thor é interrompida por um assassino galáctico conhecido como Gorr, o Carniceiro dos Deuses, que busca a extinção dos deuses. Para combater a ameaça, Thor pede a ajuda da Rainha Valquíria, de Korg e sua ex-namorada Jane Foster, que – para surpresa de Thor – inexplicavelmente empunha seu martelo mágico, Mjolnir, como a Poderosa Thor. Juntos, eles embarcam em uma angustiante aventura cósmica para descobrir o mistério da vingança desse vilão para detê-lo antes que seja tarde demais.

Pablo Aluísio.

sábado, 17 de setembro de 2022

A Fera

A história do filme se passa na África. Após a morte da sua esposa, um médico decide levar suas duas jovens filhas para um passeio turístico no continente africano. Ele também deseja rever um velho amigo, que agora trabalha em uma reserva natural. Durante o safari, que inicialmente parece ser bem agradável, eles são atacados por um leão em fúria. Na fuga o carro bate contra uma árvore. Eles ficam presos naquela região, a mercê do ataque dessa fera assassina. O filme assim se desenvolve, em uma grande caçada em que o felino surge como o caçador e os seres humanos que tentam sobreviver como a caça. Uma Vila nas redondezas também é atacada, e todos os seus moradores são mortos por esse enorme leão branco selvagem, por essa besta sanguinária da natureza. Como se pode perceber, é um filme com a história simples, linear. Não espere grandes temáticas ou pensamentos filosóficos no desenrolar dessa história. É realmente um conto sobre sobrevivência numa região africana isolada. Em síntese, seres humanos tentando sobreviver a um ataque de um leão em fúria.

Por falar nisso, fazia bastante tempo que eu havia assistido um filme sobre Leões africanos selvagens, matadores de homens. O último que me recordo é o hoje já clássico "A sombra e a Escuridão", com Michael Douglas e Val Kilmer. De lá para cá, Hollywood não havia mais explorado esse filão que eu considero até muito bom. A grande novidade é que nesse novo filme os felinos são todos criados pela tecnologia digital. São todos frutos de computação gráfica. A tecnologia evoluiu ao ponto do espectador não conseguir distinguir mais entre animais reais e digitais, tal a perfeição tecnológica. No quadro geral, um filme bom, gostei. Nada de muito espetacular, mas que cumpre muito bem seu papel. A diversão certamente estará garantida.

A Fera (Beast, Estados Unidos, 2022) Direção: Baltasar Kormákur / Roteiro: Jaime Primak Sullivan, Ryan Engle / Elenco: Idris Elba, Liyabuya Gongo, Martin Munro, Daniel Hadebe / Sinopse: Um pai e suas duas filhas adolescentes são caçados por um enorme leão enfurecido em uma reserva natural africana.

Pablo Aluísio.

A Vida Por Um Fio

Esse filme traz John Travolta interpretando o chefe de um grupo de eletricitários que trabalham em linhas de alta tensão. Ele tem um grupo de trabalhadores sem muita experiência em mãos, o que dificulta ainda mais o seu serviço. Para piorar, uma grande tempestade surge no Horizonte. E uma tempestade traz inúmeros problemas para o ramo da eletricidade, como todos podemos prever. Na vida pessoal ele também tem problemas. A Filha está apaixonada e grávida de um dos membros de sua equipe. E ele não gosta nada do tal sujeito. Essa é a sinopse básica desse novo filme que me chamou atenção por alguns motivos. Eu não me lembro de ter assistido algum filme antes cujos protagonistas eram eletricitários. Esse tipo de trabalho é considerado o quarto mais letal da sociedade Americana. 

O filme foi bancado por uma fundação que ajuda os familiares de trabalhadores do ramo elétrico que morrem em serviço. É uma história simples, com o roteiro até muito cheio de clichês, mas que cumpre bem seu papel. O filme é, de certa forma, uma homenagem a esses trabalhadores que morreram. Tecnicamente, é bem quadrado. Do elenco, eu tive uma surpresa ao ver uma envelhecida atriz Sharon Stone, interpretando uma mulher com problemas de alcoolismo. Ela está amargurada com a vida e nada feliz em saber que vai ser avó. Levei um tempo para reconhecer a outrora bela Sharon Stone nesse filme. E fiquei pasmo como o tempo passa. Enfim, um drama que, se não surpreende, pelo menos cumpre bem seu papel de homenagear esses trabalhadores. Em uma história simples, passa sua mensagem.

A Vida Por Um Fio (Life on the Line, Estados Unidos, 2015) Direção: David Hackl / Roteiro: Chad Dubea, Primo Brown / Elenco: John Travolta, Sharon Stone, Kate Bosworth, Devon Sawa / Sinopse: Uma equipe de homens que fazem o trabalho de consertar a rede elétrica é atingida por uma tempestade repentina e mortal.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Rio Vermelho

Assistir a esse filme foi um enorme prazer para mim. Primeiro porque eu sou um fã incondicional do ator Montgomery Clift. Segundo porque eu acho este um dos mais belos westerns de todos os tempos e terceiro porque John Wayne e Howard Hawks estão no auge de suas carreiras. Esta é uma película realmente nota dez, em todos os aspectos e por isso se tornou um filme atemporal, inesquecível e clássico. Montgomery Clift era um caso à parte. Considerado um dos maiores atores jovens de seu tempo, ao lado de Marlon Brando e James Dean, Clift era um profissional à frente de sua época. Cria do teatro americano, local onde ele sentia-se realmente à vontade, ele relutou muito antes de ingressar no cinema. Temia perder sua identidade e ser engolido pelo Star System. Sempre foi um ator independente e conseguiu se impor à indústria, fez poucos filmes, mas todos escolhidos a dedo, e muitos destes títulos se tornaram clássicos absolutos da história. do cinema americano. Basta lembrar de "Um lugar ao sol" e "A um passo da Eternidade", por exemplo. Complexo e torturado por demônios internos, Clift acabou por tabela imprimindo uma densidade ímpar em suas atuações. O conflito interno do ator era automaticamente passado para seus papéis. Aqui ele se sobressai mesmo interpretando um personagem sem grande profundidade, em sua estreia nas telas, curiosamente em um western estrelado pelo maior nome do gênero, John Wayne. O contraste entre a determinação e rudeza de Wayne com a sensibilidade de Clift se torna um dos grandes trunfos do filme.

E o Duke? Bem, ele está novamente ótimo no papel de um velho rancheiro dono de milhares de cabeças de gado, que tem como único objetivo levá-las, em uma grande caravana, para o Estado do Missouri. Conforme o tempo passa e as dificuldades se tornam maiores o personagem de Wayne vai ficando cada vez mais obcecado, tornando insuportável a vida de seus homens. O clímax ocorre em uma feroz luta entre Wayne e Clift. Um duelo entre os velhos e os novos paradigmas do velho oeste. A cena entrou para a história do cinema americano. Em relação à inspirada direção um famoso crítico americano resumiu a opinião da época: "Tendo como pano de fundo as belas paisagens do meio oeste americano, o mestre Howard Hawks faz um dos melhores faroestes dos últimos tempos, não se limitando, no entanto, a falar apenas do expansionismo capitalista americano, povoando terras desertas em meados do século 19. Vai além: realizando um belo painel sobre as relações humanas, através dp choque de personalidades de Dunson (Wayne) e Garth (Montgomery Clift). Criados como pai e filho, protagonizam uma estória de amor e ódio absolutamente emocionante". O filme concorreu aos Oscar de melhor roteiro e Montagem. Uma injustiça não ter ganho nenhum, mas se a Academia não o premiou ele acabou recebendo outro tipo de reconhecimento, e este bem mais importante, o reconhecimento popular daqueles que o assistiram e jamais esqueceram ao longo de todos esses anos.

Rio Vermelho (Red River, EUA, 1948) Direção: Howard Hawks / Roteiro: Borden Chase e Charles Schnee, baseado na novela The Chisholm Trail de Borden Chase. / Elenco: John Wayne, Montgomery Clift, Joanne Dru, Walter Brennan / Sinopse: Thomas Dunson (John Wayne) é um velho rancheiro, dono de milhares de cabeças de gado, que tem como único objetivo levá-las, em uma grande caravana, para o Estado do Missouri. Conforme o tempo passa e as dificuldades se tornam maiores Thomas vai ficando cada vez mais obcecado, tornando insuportável a vida de seus homens, entrando em conflito com Matt Garth (Montgomery Clift), um cowboy que participa da caravana.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Limite de Segurança

Título no Brasil: Limite de Segurança
Título Original: Fail-Safe
Ano de Produção: 1964
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Sidney Lumet
Roteiro: Walter Bernstein, Eugene Burdick
Elenco: Henry Fonda, Walter Matthau, Larry Hagman, Fritz Weaver, Edward Binns, William Hansen

Sinopse:
Durante uma operação padrão o sistema de segurança nacional dos Estados Unidos sofre uma pane técnica e um grupo de bombardeiros é enviado, por engano, para a União Soviética com a missão de jogar bombas atômicas sobre a capital da Rússia. No meio do pânico que se instala entre os comandantes das forças armadas, o presidente dos Estados Unidos, interpretado brilhantemente por Henry Fonda, é chamado para administrar a crise e tomar todas as decisões vitais! Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de melhor filme.

Comentários:
"Fail-Safe" é obviamente um produto da guerra fria. Naquela época o mundo vivia sob tensão, duas super potências, Estados Unidos e União Soviética, estavam empenhadas numa corrida armamentista sem limites e o conflito nuclear parecia cada vez mais próximo. O roteiro parte de uma premissa muito interessante: E se a guerra fosse iniciada por um erro do próprio sistema que comandava toda aquela máquina de destruição global? O argumento é de denúncia e de aviso, pois o texto é claramente uma crítica contra o perigo de se manter todo o arsenal atômico sob controle de meras máquinas. Conforme a tecnologia ia avançando os grandes poderios nucleares desses países acabavam sendo controlados por máquinas de alta precisão, mas como máquinas, elas poderiam um dia também falhar e quando isso acontecesse o que poderia ser feito?

É em cima desse tipo de crise que todo o enredo do filme se desenvolve. Muitos vão achar que o desfecho de tudo é radical demais, alguns poderiam qualificar até mesmo como absurdo, principalmente a decisão final tomada pelo presidente interpretado pelo excelente Henry Fonda. Porém temos que levar em conta que o roteiro foi escrito diante daquele momento histórico, que era por si só já era muito paranoico, cheio de tensão. Mesmo assim considero um grande filme, com suspense e ótimos diálogos em todos os momentos do desenvolvimento da trama. Um filme bem intencionado que procura mostrar a insanidade da guerra fria que imperava naqueles anos de medo e suspense sobre o que poderia acontecer em uma guerra nuclear total.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Elvis Presley - Too Much / Playing For Keeps

O primeiro material inédito de Elvis a chegar nas lojas americanas em 1957 nos Estados Unidos foi o single Too Much / Playing For Keeps. Havia uma grande ansiedade por canções inéditas de Elvis Presley pois seu sucesso inigualável no ano anterior o tinha elevado ao posto de cantor número 1 da América. Assim tudo o que levava a marca Elvis era esperado com grande expectativa pelo mercado. Um mês antes do lançamento a RCA enviava para as principais lojas do país o material promocional do novo single de Elvis – um enorme cartaz para ser exposto na entrada dos estabelecimentos com a capa do compacto e a data de lançamento. A frase “Elvis está chegando” podia ser lida em letras garrafais.

Pelos números alcançados em 1956 a RCA resolveu caprichar em cada novo produto de seu agora artista principal. Os fãs adoravam esse tipo de clima pré lançamento e não se faziam de rogados oferecendo uma bela soma pelos cartazes para adicionar em suas coleções de itens relacionados ao Rei do Rock. O curioso é que embora fossem esperadas como novidade absoluta a verdade pura e simples é que as duas canções desse compacto nada mais eram do que sobras das sessões do segundo álbum de Elvis. As músicas tinham sido arquivadas para serem lançadas depois, justamente para cobrir os primeiros meses do ano de 1957 pois Elvis descansaria por algumas semanas da correria dos compromissos do ano anterior para só então retomar o ritmo dentro do novo ano que nascia.

Dentro da RCA surgiu um debate sobre qual música deveria ocupar o lado A do compacto. Alguns defendiam que Playing For Keeps tinha mais potencial nas paradas pois lembrava em certos momentos a grande balada de seu último sucesso, Love Me Tender. Keeps também era uma balada cuja letra consistia em uma declaração de amor, ideal para os corações adolescentes apaixonados da década de 50. Outra corrente porém defendia que Too Much tinha mais forças para chegar ao topo da Billboard pois era um rock com pegada, com aquela vocalização “mastigada” de Elvis que todos os jovens adoravam. A indecisão fez com que a RCA imprimisse a capa do single com Playing For Keeps em primeiro lugar (obviamente ocupando o lado A) para logo depois mudar completamente de idéia ao colocar finalmente Too Much no lado principal. Indecisão é pouco.

Quem não estava gostando nem um pouco de Too Much ganhar todo esse destaque no lançamento era justamente Scotty Moore, o guitarrista da banda de Elvis. Ele tinha errado no solo, perdeu-se por um momento e só depois conseguiu voltar ao ponto certo. Quando Elvis escolheu aquele take como oficial, Moore se apressou em lhe avisar que ele tinha errado mas Elvis respondeu: “Eu sei disso, mas essa versão ficou ótima, vamos deixar assim”. A canção chegou ao mercado com a falha de Scotty Moore que falaria sobre esse seu erro por anos a fio, como que se quisesse se desculpar com os fãs de Elvis. Bobagem, a falha existe realmente mas não macula a gravação e nem a música que é contagiante e tem a marca registrado do vocal de Elvis – algo que ele já fazia desde os tempos da Sun e que usaria ainda bastante nos anos seguintes. Aquilo era o mais puro puro rock ´n ´Roll. O single chegou nas lojas e como era de se esperar vendeu muito, mas não o bastante para chegar ao topo da Billboard. O máximo que alcançou foi um honroso segundo lugar. O fato deixou alguns cabeças da RCA preocupados mas eles não teriam motivos para reclamar pois logo Elvis estaria de volta aos estúdios para produzir material realmente novo, fresquinho, saído do forno em um ano que ele reinaria absoluto nas paradas de sucesso. Elvis estava realmente chegando e dessa vez para ficar definitivamente.

Pablo Aluísio.