Quando Brando foi expulso da escola militar por indisciplina, ele resolveu voltar para a casa dos pais. Não demorou muito para que o tempo fechasse sobre ele, até porque seu pai era muito rígido e ver o filho fracassar assim nos estudos era demais para o velho. Por essa época a irmã de Marlon, Jocelyn Brando, tentava vencer como atriz em Nova Iorque. Não era fácil. Havia muitos atores e atrizes desempregadas e os papéis, quando surgiam, eram muito disputados. Ela era uma jovem bem talentosa e até bonita, algo que sempre era levado em conta na época, porém os trabalhos eram escassos. Não era um futuro promissor, como ela bem deixou claro para uma carta enviada ao irmão que estava morando com seus pais em Omaha.
Marlon Brando logo pressentiu que não havia nenhum futuro para ele em sua cidade no meio oeste, já que os empregos que existiam para jovens de sua idade eram horríveis, duros e mal remunerados. Assim ele tomou sua decisão. Entre ser desempregado ou subempregado no Nebraska ou ser desempregado em Nova Iorque, tentando uma carreira como ator, a melhor opção era seguramente a segunda. Informou aos seus desiludidos pais que iria para Nova York atrás de sua querida irmã e que uma vez lá tentaria arranjar algum meio de vida. Na época havia um preconceito contra homens atuando, pois isso era considerado um meio de vida em que apenas homossexuais trabalhavam. Para Marlon Brando essa era uma visão preconceituosa e babaca e ele não daria atenção a essas pessoas que pensavam desse jeito. Ele achava sinceramente que tinha algum talento para ser ator. Já havia se dado bem em peças escolares antes. Como não tinha nada a perder, só a ganhar, pegou o primeiro trem para Nova Iorque no dia seguinte.
Os primeiros dias de Brando foram lembrados por ele em sua autobiografia. Marlon, que era um garoto do meio oeste dos Estados Unidos, obviamente ficou fascinado pela grande metrópole com seus prédios enormes e o grande movimento de pessoas por todos os lados. No começo Brando ficou um pouco inibido pelo gigantismo daquele lugar, mas não tardou muito a começar a amar aquela cidade de amplas possibilidades. Começou trabalhando em empregos eventuais e ao mesmo tempo deu início aos seus estudos de arte dramática. Nesse meio tempo seu pai lhe escreveu para avisar que ele poderia voltar para casa, pois a academia militar de Shattuck havia reconsiderado sua expulsão e o aceitaria de volta aos bancos escolares. Brando disse "não"! Ele jamais tencionaria retornar para aquele lugar, afinal ele odiava disciplina militar e estava amando a liberdade que agora desfrutava em Nova Iorque. Entre ser um oficial do exército e ser um ator ele preferia muito mais a segunda escolha.
Assim que arranjou algum dinheiro, trabalhando como mensageiro de hotel e garçom, Brando comprou uma moto de segunda mão. Com ela poderia ir aos testes de peças de teatro, às aulas de arte dramática ou simplesmente sair pelas ruas e bairros da "big apple" para passear. Brando adorava a noite e por essa época, não raras vezes, resolvia dormir em qualquer parque bonito que encontrasse pela frente. Como ele bem relembrou em seu livro, naqueles tempos não havia violência urbana e ninguém o incomodaria se resolvesse dormir debaixo de uma árvore e tampouco alguém iria tentar roubar sua moto enquanto estava tirando uma soneca. Para aguentar o frio Brando comprou uma jaqueta negra do mesmo tipo que pilotos de avião usavam. Também começou a colocar jornais dentro do casaco para espantar o frio - um velho truque que aprendera com vagabundos quando certa ocasião se aventurou a atravessar os Estados Unidos em vagões de trem de carga.
Assim a vida lhe parecia sorrir. Ao contrário de sua irmã, Brando não fazia de seu sucesso na carreira de ator uma obsessão. Ele queria vencer, é claro, mas caso nada disso desse certo, ele poderia viver com qualquer outro trabalho que estivesse à disposição na cidade. Sua sorte porém mudou rapidamente e Brando começou a ganhar alguns pequenos papéis em peças de teatro off-broadway. O cachê era fraco, mas só o fato dele ganhar dinheiro atuando já era uma conquista e tanto. E as coisas melhoraram ainda mais quando soube que havia passado no teste para entrar na prestigiada escola de atores do Actors Studio. Ele não sabia, mas sua vida estava prestes a mudar para sempre.
Pablo Aluísio.
Cinema Clássico
ResponderExcluirMarlon Brando - Brando em New York City
Pablo Aluísio.
Ótimo texto Dom Pablo, mostrando os primeiros anos de um dos grandes atores da história do cinema. O mundo perdeu um militar, que provavelmente iria morrer na guerra da Coreia ou do Vientã, e ganhou um tremendo de um artista da arte dramática. Algumas vezes os dados do destino caem de maneira certa.
ResponderExcluirObrigado pelo elogio Lord Erick. É isso, algumas vezes a decisão certa é tomada. Ele tomou a decisão de ir para Nova Iorque e embora todos à sua volta dissessem que ele nunca iria conseguir nada, o Brando foi em frente e pagou para ver. O resto, como todos sabemos, é história.
ResponderExcluirEu acho que se o Marlon Brando soubesse nessa época o quanto ele detestaria ser um grande astro do cinema ele nunca teria saído do meio teatral de Nova York para ir para Hollywood.
ResponderExcluirRealmente a fama excessiva seria rejeitada pelo Brando, anos depois. Porém é a tal coisa, sucesso sempre traz fama, não tem jeito.
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ResponderExcluirPablo, mais duas coisas:
ResponderExcluir"obviamente ficou fascinado pela grande metrópole com seus prédios enormes e o grande movimento de pessoas por todos os lados. No começo Brando ficou um pouco inibido pelo gigantismo daquele lugar, mas não tardou muito a começar a amar aquela cidade de amplas possibilidades."
Eu penso exatamente assim, por isso adoro Sao Paulo.
Sobre vida miltar:
Ja fui militar e é insuportável: gente burra se impondo sobre os menos graduados sem a menor coerência, ou lógica, apenas por prazer em insultar e rebaixar pessoas que já estão, pela hierarquia, submissas.
Serviço militar é uma grande perda de tempo, não serve nem para ensinar uma profissão aos recrutas...
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