terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Double Trouble (1967)

Deve ter sido frustrante, no mínimo, para Elvis gravar a trilha sonora de "Double Trouble". A maioria das músicas eram esquecíveis, e com certeza não acrescentariam nada para o cantor. Logo ele que há um mês estava em Nashville gravando o espetacular disco gospel "How Great Thou Art", além de várias outras músicas incríveis como "Tomorrow is a Long Time", "Down in the Alley" e "I´ll Remember You". Elvis se atrasou para a sessão de gravação e como resultado a MGM mudou o endereço das gravações para o seu próprio estúdio, que era simplesmente horrível. A essa altura ninguém ligava mais para a qualidade de nada e o porquê de Elvis se submeter a essa humilhação, tendo que gravar para a trilha péssimas canções como "Old Mac Donald", é um dos grandes mistérios de sua carreira!

Uma das poucas coisas boas dessa sessão foi que Elvis teve a chance de conhecer pessoalmente seu ídolo Jackie Wilson, que estava pelas redondezas. Uma curiosidade é que Elvis, em 1975, ajudou financeiramente Jackie quando ele sofreu um ataque cardíaco. O filme "Double Trouble" (Canções e Confusões, no Brasil) não é tão ruim e teve a vantagem de teoricamente ser ambientado na Europa, mudando o ambiente. Teoricamente, pois foi todo filmado nos EUA. Possui alguns personagens interessantes como os dois ladrões, bem engraçados, uma trama previsível, mas bem legal e uma intrigante atriz como a principal. Annete Day fez sua estreia no cinema com Elvis nesse filme e aparentemente não gostou, pois esse foi seu único. Ela tinha apenas 18 anos quando contracenou com Elvis e os dois tiveram uma boa química, mais cômica do que romântica. O clima sombrio do filme envolvendo tentativas de assassinato de Guy Lambert (nome do personagem de Elvis) parece que previa o naufrágio nas bilheterias, sendo que este filme foi um dos cinco que menos renderam na carreira de Elvis. A trilha sonora foi a primeira a nem conseguir entrar para o top 40 americano conseguindo a lastimável 47ª posição. Na Inglaterra foi um pouco melhor sendo 34º lugar.

DOUBLE TROUBLE (D. Pomus / M. Shuman) - Doc Pomus e Mort Shuman foram responsáveis por grande parte do melhor material gravado por Elvis de 1960 a 1963, porém, sua última contribuição (Elvis ainda viria em 69 a gravar a belíssima "You´ll Think of Me" de Mort Shuman) não é lá essas coisas e seguia a mediocridade de músicas recentemente escritas por eles como: "What Every Woman Lives For" e "Never Say Yes". Não que "Double Trouble" seja ruim, mas comparada com músicas como "Little Sister" e "Viva Las Vegas", também escritas pela dupla, mostram claramente que Pomus e Shuman não estavam exatamente inspirados. Mas Elvis e a banda estão ok. A letra é bobinha e a música muito curta. Destaque para a escandalosa introdução da orquestra, fato raro em músicas de Elvis à época.

BABY IF YOU GIVE ALL OF YOUR LOVE (Joy Byers) - Mais uma excelente contribuição de Joy Byers para a discografia de Elvis. Essa música super animada é uma das melhores das últimas trilhas sonoras e junto com "City by Night", a melhor do filme. Merecia um lançamento em single, talvez como lado B de "Long Legged Girl". Foi bastante subestimada pela gravadora.

COULD I FALL IN LOVE (Randy Starr) - Os filmes de Elvis sempre possuíam boas baladas e esse aqui não é exceção. Pena que o arranjo dessa não seja tão bom quanto de "Am I Ready?" por exemplo, o que tirou seu potencial de single. Interessante é a cena em que Elvis a canta para Annete Day, onde o acompanhamento da música é oriundo de um pequeno single que Elvis bota para tocar. Na capa a foto de Guy Lambert! (o personagem interpretado por Elvis).

LONG LEGGED GIRL (J.L. Mc Farland / W. Scotty) - Outro grande rock da trilha que sofre do mal de ser muito curto. Essa música agitada, com uma guitarra estridente, foi lançada como single alcançando a péssima 63ª posição nos EUA. Nunca um lado A de Elvis havia entrado nas paradas e conseguido como posição máxima, colocação tão baixa. E dessa vez a culpa não era da música, que era boa, e sim porque o público já não estava mais prestando atenção nos lançamentos de Elvis Presley por essa época! Curiosidade: Foi a música mais curta de Elvis a entrar no Hot 100, com apenas 1 minuto e vinte e sete segundos de duração.

CITY BY NIGHT (Giant / Baum / Kaye) - Definitivamente uma das melhores músicas de Elvis nas trilhas da década 60, essa canção foi o mais próximo que Elvis chegou de cantar um jazz em sua carreira. Com um trompete sinistro, a banda afiadíssima e a voz de Elvis em perfeitas condições, com um "yeah" no final que lembra "Trouble", essa verdadeira pérola não recebeu a menor atenção em sua época de lançamento. Talvez seu próprio estilo, diferente de tudo que Elvis havia gravado, tenha desagradado aos fãs mais tradicionalistas do cantor. Além disso, o disco "Double Trouble" foi um dos maiores fracassos da carreira de Elvis. Lançado em 1967, ano em que Elvis amargou o seu pior ano de apatia com o público, com a carreira praticamente arruinada por seus filmes em Hollywood. Em um cenário tão desolador, que chance de atenção essa preciosidade poderia ter tido?

OLD MAC DONALD (Randy Starr) - Você está escutando esse disco e pensa: "É, não é tão ruim quanto dizem". Porém seu pensamento é diluído com os primeiros acordes de simplesmente o pior momento de Elvis no cinema: o Rei do Rock cantando "Old Mac Donald"!!! A cena do filme é pior ainda, com Elvis na traseira de um caminhão cheio de animais (isso mesmo!), cantando a mais degradante de todas as suas canções. Como é que alguém se atreveu a por essa música no filme, e o pior, como Elvis aceitou cantá-la? A trilha e o filme até que não são ruins, mas tudo vai por água abaixo com essa música. Quem, em sua sã consciência, em pleno verão do amor de 67, iria pagar para ver Elvis se humilhando cantando porcarias? Entendam, a música em si, cantada para crianças é excelente. Mas botá-la num filme de Elvis foi a pior das ideias!

I LOVE ONLY ONE GIRL (S. Tepper / R.C. Bennett) - Adorava essa música quando tinha 10 anos, mas agora ela me parece bem bobinha, algo tirado de uma peça teatral para crianças. E o ritmo dela é uma marchinha! Que horror! A cena do filme com essa música, conta com um absolutamente desnecessário número de dança de uma garotinha. Detalhe: em 1972 algum gênio da RCA teve a brilhante ideia de botar no mesmo disco em que a fenomenal e clássica Burning Love foi lançada, vários besteiróis dos filmes. Adivinhem qual música estava presente também? Vou dar uma dica: uma marchinha bobinha de "Double Trouble". Ai... ai... se pudesse matar o Coronel Parker e os dirigentes da RCA...

THERE´S TOO MUCH WORLD TO SEE - Depois de duas músicas horrorosas, qualquer coisa de nível regular é um alívio. É o caso dessa música, da qual 2 minutos depois que você escutar não vai mais se lembrar dela. É a típica música que só Elvis consegue tornar audível. Pelo menos tem uma letrinha interessante, apesar do ritmo esquecível e se você for o tipo do cara aventureiro e que quer sua liberdade, ficando longe de qualquer relacionamento sério, vai se identificar com essa aqui.

IT WON'T BE LONG - Para encerrar a parte da trilha de "Double Trouble" temos essa música, que se não chega a ser excepcional, mantém a dignidade, com um ritmo bom e bem executado. Solando em toda a canção temos a preciosa participação do guitarrista Tiny Timbrell. É bem acima da média do restante do material do filme, porém não é nada demais, apenas correta no final das contas.

NEVER ENDING (Buddy Kaye / Phil Springer) - Nesse disco originalmente foram lançadas três músicas bônus, todas gravadas em 1963 e essa é a primeira delas. "Never Ending" é uma bonita balada, com um ritmo acima da média, contando com o ótimo trabalho da banda de Elvis em Nashville. A voz de Elvis parece diferente, lembrando algo como "I love you Because". Se não soubesse diria que essa música era de 54, ou então 55. Foi lançada em um single como lado B de "Such a Night" (gravada em 60 e cujo single tinha uma foto de Elvis em 56 na capa!) em 1964 e não conseguiu entrar nas paradas. Ganhou um pouco de destaque em um disco no Brasil lançado em 89: Good Rocking Tonight- The Best of Elvis vol 2.

BLUE RIVER (Paul Evans / Fred Tapias) - Em 1965, enquanto os Beatles dominavam a cena musical, os produtores de Elvis quebravam a cabeça para encontrar alguma música para lançar como single de fim de ano, visto que fazia quase dois anos que Elvis não gravava nada além de trilhas sonoras. Cavucando, encontraram uma gravação de 1957, "Tell Me Why", que foi lançada alcançando a mera 33º posição. Para o lado B do single lançaram uma música gravada em 1963, um roquinho bastante curto com conteúdo que lembrava ligeiramente "Heartbreak Hotel", mas que nem chegava ao dedão do pé desse grande clássico. A música era "Blue River" e alcançou a péssima 95º posição, quase nem entrando no Hot 100, merecidamente, pois não é lá essas coisas. Legalzinha, no máximo. Essa música foi lançada em fevereiro de 1966 na Inglaterra como lado A, tendo como lado B uma música gravada para a trilha de "Girl Happy" (!): "Do Not Disturb". Oh bagunça que eram os singles de Elvis dessa época! Os fãs ingleses apreciaram mais a música, que chegou ao 22º lugar nas paradas.

WHAT NOW, WHAT NEXT, WHERE TO (Don Robertson / Hal Blair) - O disco encerra com essa composição bem fraquinha de Don Robertson, que escreveu com certeza material muito melhor como "Love Me Tonight", gravado na mesma sessão dessa música. Com um ritmo arrastado e um letra esquecível não acrescenta nada ao disco. Curiosidade: Foi gravada em uma única tentativa.

Elvis Presley - Double Trouble (1967): Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Bob Moore (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harmon (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Pete Drake (Steel Guitar) / Charlie McCoy (Harmonica) / Boots Randolph (sax) / Richard Noel (Trombone) / The Jordanaires (Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker) / City By Night: Michael Deasy (guitarra) / Jerry Scheff (baixo) / Toxey French (bateria) / Michael Anderson (Sax) / Butch Parker (sax) / Gravado no Radio Recorders, Hollywood, California exceto "Never Ending", "What Now, What Next, Where To" e "Blue River" gravadas no RCA Studio B, Nashville / Data de gravação: 28 e 29 de junho de 1966, exceto "City By Night" gravada em 14 de julho de 1966 e "Never Ending", "What Now, What Next, Where To" e "Blue River" gravadas em maio de 1963 / Produzido e arranjado por Felton Jarvis e Jeff Alexander / Data de lançamento: junho de 1967 / Melhor posição nas charts: #47 (USA) e #34 (UK).

Pablo Aluísio e Victor Alves - março de 2005.

Um comentário:

  1. Avaliação:
    Produção: ★★★
    Arranjos: ★★★
    Letras: ★★★
    Direção de Arte: ★★★
    Cotação Geral: ★★★
    Nota Geral: 7.2

    Cotações:
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