domingo, 20 de março de 2011

Arquivos do Vaticano - Edição VIII

A Origem de Satanás - É curioso que ao longo do velho Testamento o personagem Satã assumiu diversas moldagens teológicas. No começo Satã era considerado apenas um anjo adversário, mas ainda sob a submissão de Deus. Era o adversário, o acusador. Essa persona pode ser encontrada nas primeiras referências a esse anjo nas escrituras. Muitos inclusive defendem a ideia de que Satã aqui não se referia a um anjo em particular, mas a qualquer anjo que se colocasse como adversário do homem.

Depois, com o passar dos textos sagrados, ainda no Velho Testamento, Satã finalmente assume uma identidade própria. Deixa de ser um adjetivo, para se tornar um substantivo, vira realmente um personagem próprio e não uma referência um tanto vaga. Ele se torna um príncipe entre os demônios. Um líder do inferno. É interessante também notar que Satã continua sendo referido como a um anjo, mas agora como um chefe angelical de principados infernais. Outro ponto que muitos teólogos afirmam é que Satanás não é Lúcifer. São dois anjos diferentes. Satanás também não deve ser confundido apenas com a figura do Diabo. Esse termo diabo é um gênero, assim como demônio. Satã seria um ser dessa categoria.

Na língua aramaica Satã vira Satanás. Lembre-se que o aramaico era a língua falada por Jesus e seus apóstolos. No Novo Testamento Satanás ganha os contornos que conhecemos hoje em dia, uma criatura totalmente do mal. um ente que vive para destruir Deus e a humanidade. Nas palavras do próprio Jesus essa entidade maléfica seria "mentiroso e assassino desde o começo dos tempos". Por isso Jesus nunca dialoga com Satanás, ele simplesmente o expulsa quando o encontra.

Um aspecto a se levar em conta é que Satanás sempre surge como criatura, abaixo de Deus, mesmo quando identificado como um anjo. Ele seria um anjo caído, que foi expulso do céu. Por isso pessoalmente não acredito nas teorias que afirmam que Satanás seria apenas uma influência do Zoroastrismo, uma religião antiga em que existiam dois deuses, um do bem e outro do mal. Satanás nunca é retratado na Bíblia como um Deus, pelo contrário, ele jamais foi um criador, mas apenas uma criatura mesmo.

A Origem dos Anjos
Qual é a origem dos anjos? Essa pergunta pode ser respondida do ponto de vista da literatura, como também do ponto de vista da crença, da doutrina judaica. Na literatura não há como precisar a origem dos anjos nos textos. Ao que tudo indica a existência de seres angelicais era algo natural entre o povo judeu antigo. E mais do que isso, nas religiões persas, do Egito antigo e da Mesopotâmia já havia referências a seres alados que seriam uma intermediação entre os deuses e os homens. Assim os anjos não surgiram inicialmente nos textos religiosos dos povos judeus. Religiões ainda mais antigas já apresentavam esses personagens.

No ponto de vista da doutrina e da crença, rabinos do passado tentaram chegar na data exata da criação dos anjos. Alguns rabinos defendiam que os anjos tinham sido criados por Deus no segundo dia da criação. Outros defendiam que os anjos surgiram no quinto dia. O que não poderia ser aceito pelo judaísmo era a possibilidade dos anjos terem ajudado Deus na criação do universo. Eles também rejeitaram de todas as maneiras a possibilidade da criação dos anjos no primeiro dia do surgimento do universo criado por Deus.

Agora algo parece ser certo dentro da doutrina do judaísmo. Os anjos teriam surgido antes da criação dos seres humanos. Tanto que nas lendas mais antigas alguns dos anjos do Senhor teriam ficado enciumados e chocados com a criação dos homens. E isso teria piorado quando Deus teria determinado que os anjos protegessem a humanidade. A revolta de alguns anjos teria dado origem a uma guerra angelical, onde um terço dos anjos teriam sido jogados no inferno, sendo liderados por Lúcifer, que antes de sua queda seria o anjo mais maravilhoso do céu, o "filho da manhã". 

Papa Francisco mostra preocupação com Golpe Militar
O Papa Francisco mostrou solidariedade com o povo de Mianmar. O país sofreu um violento golpe militar nos últimos dias. Com brutalidade e o velho estigma de estupidez que caracteriza esse tipo de golpe de Estado, os militares daquele país retiraram do poder o governo civil de Aung San Suu Kyi. Depois fecharam e censuraram o acesso às redes sociais. Como se isso não fosse o bastante decidiram de forma arbitrária simplesmente cortar todo o acesso à internet no país. Quem tentasse acessar a net seria preso sem julgamento algum.

Sobre a situação, que vem sendo condenada por praticamente todos os países ao redor do mundo, o Papa assim se manifestou: "Expresso minha solidariedade ao povo birmanês. Rezo para que aqueles que assumem responsabilidades no país se comprometam, com sincera disponibilidade, com o serviço do bem comum, promovendo a justiça social e a estabilidade nacional a favor de uma coexistência democrática harmoniosa. Neste momento tão delicado, quero voltar a assegurar ao povo birmanês minha proximidade espiritual, minha oração e minha solidariedade."

Os Velhos do Velho Testamento
O leitor da Bíblia leva um susto quando lê que personagens do velho testamento como Matusalém, viveram mais de 900 anos! Como um ser humano poderia viver tanto naqueles tempos antigos? É verdade que havia pessoas na antiguidade que viviam mil anos? Ora, há duas respostas para esse tipo de pergunta. A primeira é literária e teológica e a segunda é histórica.

Do ponto de vista da teologia e da literatura esses velhos do velho testamento são explicados de duas maneiras. Na época em que os textos da Bíblia foram escritos havia um princípio de teologia que dizia que quando mais perto da criação o homem vivesse, mais ele viveria. Os filhos de Adão, por estarem cronologicamente próximos da criação, iriam viver mais anos do que os netos de Adão e assim por diante. Por isso esses escritores colocaram idades absurdas para essas figuras do velho testamento. Porém, como se sabe, essas são questões inerentes apenas à literatura e à teologia.

Historicamente nenhum ser humano chegou a viver 900 anos. Essa parte da Bíblia é apenas uma alegoria, uma forma de defender uma visão teológica. Na realidade os homens da antiguidade viviam menos do que os homens da modernidade. isso porque não havia a tecnologia científica e médica dos dias atuais. Um homem de 40 anos de idade na era antiga era considerado um ancião, uma pessoa bem velha mesmo. Se Matusalém realmente existiu, se foi uma pessoa, uma figura histórica, ele deve ter chegado aos 80 anos de idade, o que espantava as pessoas que viviam naqueles tempos. Só não vá pensar que ele viveu 900 anos, pois isso seria biologicamente impossível, no presente e no passado também. 

A Existência Histórica de Pôncio Pilatos
Pôncio Pilatos realmente existiu? Ele foi uma figura histórica real? Ao longo dos séculos pouco se duvidou da existência histórica de Pôncio Pilatos. Ele havia sido citado não apenas no novo testamento, mas também em outras obras da época como Flávio Josefo. Para os historiadores todas essas citações já seriam válidas para determinar a certeza histórica desse romano.

Na década de 1960 uma pedra retirada do teatro romano em Cesárea Marítima colocou fim definitivo sobre a dúvida. Nessa pedra havia inscrições onde aparecia o nome de Pôncio Pilatos como prefeito daquela região. Ele era nomeado bem abaixo do nome do imperador Tibério, ou seja, todos os elementos históricos estavam no lugar certo, perfeitamente localizados naquela fase da antiguidade.

Essa pedra também foi importante pois além de citar Pôncio Pilatos, citava seu cargo, o de prefeito. Esse romano iria cair em desgraça alguns anos após a morte de Jesus. Ele era um déspota e um homem cruel que estava sempre provocando as crenças do povo judeu. Sua governança foi considerada tão complicada que não tardou e ele foi chamado de volta à Roma. Os eventos de sua morte e seus últimos anos não são bem conhecidos pela história, mas uma coisa é certa, ele de fato existiu, foi um homem real, confirmando mais um aspecto descrito nos evangelhos. Provavelmente morreu no ostracismo, em uma das muitas casas de nobres em Roma. 

Jesus Cristo e Apolônio de Tiana
Há muitas semelhanças entre as histórias de Jesus de Nazaré e o filósofo grego Apolônio de Tiana. Isso levou alguns a perguntar: seria a história de Jesus uma cópia, um plágio, da vida de Apolônio de Tiana? A resposta é negativa. E os historiadores concordam sobre esse aspecto por uma simples questão cronológica. Os Evangelhos foram escritos antes das principais obras que contam a história do grego Apolônio de Tiana. Embora Apolônio de Tiana tenha nascido no ano 2 da era cristã, as principais obras sobre sua vida foram escritas séculos depois de sua morte.

O fato é que esses livros que contavam a vida desse professor e pensador grego pecavam pela fantasia. Muitas das histórias atribuídas a Apolônio de Tiana não passam de mera ficção. O que aconteceu foi que sua obra foi muito popular no império romano. Imperadores como Adriano adoravam essas obras literárias que misturavam pequenos trechos do pensamento desse filósofo com camadas e mais camadas de pura literatura de ficção. Além disso esses textos foram escritos muitos anos depois da vida de Jesus.

Presume-se que muitos desses autores tardios sobre Apolônio de Tiana tenham inserido em suas narrativas, coisas que leram nos evangelhos. Assim Apolônio de Tiana poderia surgir como o filho de uma virgem, um homem que fazia milagres, que ressuscitava mortos, etc. Pedaços da vida de Jesus foram utilizados nesses livros de mera literatura sobre Apolônio de Tiana. Embora não seja de bom tom hoje em dia falar algo nesse sentido, o fato é que não foi Jesus um plágio de Apolônio de Tiana, mas justamente o contrário disso. 

O Barco de Jesus
Há um trecho no evangelho segundo Mateus em que Jesus acalma a tempestade no mar da Galileia. Ele estava em um barco nessa ocasião e acalmava o mar bravio e o céu chuvoso, da tempestade. Em 1986 um barco do século I, ou seja, da mesma época em que Jesus andou pela Terra, foi encontrado no Mar da Galileia, na mesma região onde Jesus pregou por anos e anos. Seria esse o barco de Jesus? Ou seria o barco que havia pertencido a Pedro, que era um pescador?

Infelizmente essas duas últimas perguntas não podem ser respondidas com certeza pela arqueologia. O que se pode afirmar através de exames que foram feitos na madeira desse barco antigo é que ele realmente pertenceu a um pescador do Mar da Galileia no século I da era cristã. Fazendo exercícios de imaginação poderíamos até pensar que esse mesmo barco foi um dia avistado por Jesus nas margens desse Mar ou então, indo mais longe, o próprio Jesus poderia ter navegado nele em algum momento de sua vida.

Apesar de não se afirmar com certeza sua ligação com Jesus de Nazaré, o fato é que esse artefato arqueológico é dos mais importantes já encontrados, mostrando uma peça da história do povo de Israel. Ali os historiadores encontraram também uma peça de argila e uma lâmpada antiga, mostrando artefatos que pertenciam aos povos que ali viviam há 2 mil anos! Algo muito raro e quase impossível de se encontrar nos dias de hoje. Se foi de Jesus ou de algum de seus apóstolos, nunca saberemos, mas que é uma peça incrível de um passado remoto, isso podemos afirmar com absoluta certeza. 

O Evangelho de Filipe
É um dos mais controversos textos antigos sobre Jesus que se tem notícia. Não faz parte do grupo de evangelhos canônicos, reconhecidos pela Igreja Católica e por essa razão é classificado como um texto apócrifo, de procedência e origem incertas. Mas o que chama tanto a atenção nesse texto antigo (escrito, segundo historiadores por volta do século I e II da era cristã)?

Há revelações (ou pontos de vista) bem interessantes aqui. Foi o próprio apóstolo Filipe que o escreveu? Não se sabe, mas muito provavelmente não! Historiadores acreditam que o texto foi escrito em cima de tradições orais, quase centenárias à época, que foram reunidos por seguidores de um grupo de cristãos que viveram muito provavelmente no norte da África ou no Egito.

Entre as coisas que mais chamam atenção nesse texto é a importância dada a Maria Madalena. Ela é mostrada como a seguidora preferida pelo próprio Jesus, sua companheira. O texto afirma que Maria Madalena era esposa de Jesus? Não, não chega a afirmar isso, mas ao mesmo tempo dá enorme importância a Maria Madalena no ministério de Jesus.

Inclusive é nesse evangelho que existe um trecho muito controverso que diz que Jesus havia beijado Maria Madalena na... Infelizmente não se pode saber onde Jesus a beijou. O trecho da palavra no papel foi destruído pela ação do tempo. Onde Jesus beijou Maria Madalena? Na boca? No rosto? Impossível se determinar. Até que se encontre outra cópia desse evangelho tudo o que existirá são suposições, para o deleite de teorias da conspiração. Que o diga o autor de "O Código Da Vinci". 

O Estranho Livro de Enoque
Hoje em dia se fala muito nesse livro de Enoque. Para alguns ele deveria estar na Bíblia pois é citado nela, em trecho escrito por Judas. Ora, se um dos autores da Bíblia o usa como citação, por que o livro de Enoque não está entre os livros do velho testamento? A Igreja Católica o retirou da Bíblia? Qual é sua origem? Por que não faz parte dos livros canônicos? Foi realmente escrito pelo profeta Enoque? Muitas perguntas ficam no ar, vamos responder algumas delas.

Antes de mais nada é importante dizer que historiadores e teólogos concordam que o chamado Livro de Enoque não foi escrito pelo Enoque que está na Bíblia. Esse é dito como o sétimo homem após Adão e o texto que chegou até nós data de aproximadamente dois séculos antes de Cristo. Logo as datas históricas não batem. Se Enoque realmente foi uma pessoa real e pertencia à sétima geração após Adão ele provavelmente viveu há aproximadamente 10 mil anos no passado!

O Livro de Enoque é basicamente um livro de fantasia, com monstros e gigantes vivendo entre os homens. É um livro que não se pode ler como se fosse um registro histórico do passado, a não ser que você queira ler livros como "O Senhor dos Anéis" como retratos fiéis de algo que realmente aconteceu. Esse livro de Enoque também tem origem desconhecida. Quem foi o seu verdadeiro autor? Ninguém sabe.

Judas realmente o cita na Bíblia, mas o faz para derrubar os argumentos de quem acreditava nele. Não é um texto de confirmação de nada, do valor de suas palavras. O Livro de Enoque nunca foi considerado como um livro inspirado por Deus, nem dentro do cristianismo e nem dentro do judaísmo. É um livro, repito, de pura fantasia. Um curioso caso de um livro antigo trazendo seres do mundo da fantasia, o que não deixa de ser, apesar de tudo, uma prova do pensamento imaginativo do homem antigo. É uma das obras de fantasia mais antigas que se tem notícia.

Pablo Aluísio.

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