terça-feira, 17 de abril de 2012

O Último Imperador

Superprodução que conta a vida do último imperador da China, Aisin-Gioro Puyi (John Lone). Como se sabe após séculos de uma dinastia forte e centralizadora a revolução socialista explodiu naquele país sendo a partir daí implantado um regime comunista linha dura que persiste até os dias atuais. Nesse processo o antigo regime veio abaixo. O imperador foi deposto e levado a ser doutrinado pela nova ideologia de poder. Embora discuta o tema político pois seria impossível realizar um filme com esse tema sem tocar nesse tipo de questão, O Último Imperador procura se focar mais na questão humana, no lado mais pessoal do monarca que se vê destituído de todos os seus poderes da noite para o dia terminando seus dias de vida como um simples jardineiro.  Para quem era dono de um império continental é uma mudança brutal. Curioso é que nessa mudança de status um aspecto chama a atenção. Provavelmente se fosse um ocidental esse monarca decaído provavelmente faria alguma besteira com sua própria vida mas o modo de viver e pensar dos orientais é bem diferente do nosso, ele acabou aceitando a mudança. De certa forma até agradecido ao novo regime pois tinha caído em mãos de outro regime extremamente brutal, o soviético, que não pensou duas vezes em liquidar sua própria monarquia deposta, os Romanovs.

Deixando essa nuance mais filosófica de lado é importante chamar a atenção do espectador para a luxuosa produção de “O Último Imperador”. O filme foi o primeiro a ter autorização de realizar filmagens na chamada cidade proibida. Essa era uma enorme área no centro da capital chinesa ao qual era permanentemente proibida a entrada do povo chinês. Vivendo lá dentro com todo o luxo e riqueza que se podia imaginar, ficavam os nobres do país, completamente isolados da plebe. O local, hoje tornado atração turística, realmente dá uma dimensão da pompa e riqueza sem fim da dinastia chinesa. Tudo é ricamente trabalhado, detalhado, com uma arquitetura maravilhosa que chama muito a atenção por sua beleza e harmonia. Não é à toa que o filme tenha vencido tantos Oscars. Realmente é uma produção classe A, com o melhor que pode ter em termos de cinema espetáculo. O elenco de apoio também é excepcional, com destaque para o veterano Peter O´Toole, que a despeito dos anos ainda mantém todo seu talento intacto. O filme venceu todos os prêmios importantes em seu ano de lançamento, Globo de Ouro, Bafta, César e levou para o estúdio os Oscars de melhor filme, diretor (para o mestre Bertolucci), fotografia (Vittorio Storaro), direção de arte, figurino, edição,  trilha sonora (que também levou o Grammy), melhor som e roteiro adaptado. Em suma, não deixa de conhecer esse maravilhoso momento do cinema da década de 80. Um filme com ares dos grandes épicos do passado.

 

O Último Imperador (The Last Emperor, Reino Unido, França, China, Estados Unidos, Itália, 1987) Direção: Bernardo Bertolucci / Roteiro:  Mark Peploe, Bernardo Bertolucci / Elenco: John Lone, Joan Chen, Peter O'Toole, Ryuichi Sakamoto / Sinopse: Cinebiografia do último imperador da China, Aisin-Gioro Puyi (John Lone). Deposto por um novo regime ele passa seus últimos dias como um humilde trabalhador braçal em seu antigo império sob ruínas.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Filadélfia

A nova doença que ficou conhecida por sua sigla, AIDS, pegou o mundo de surpresa na década de 80. Não se sabia ao certo do que se tratava nem como vencer seus terríveis efeitos. Só se sabia naquele momento que era fatal e que havia pouca chance de sobrevivência aos infectados. Milhões morreram, muitos na flor da idade, jovens e com uma vida pela frente. Philadelphia foi o primeiro filme de um grande estúdio a tratar a questão de frente, sem rodeios. Importante salientar que a AIDS trouxe consigo uma forte carga de preconceito contra os doentes. Os primeiros a ser diagnosticados eram homossexuais em sua maioria e por isso se criou todo um estigma ruim em cima desse novo mal. Hoje sabemos que a AIDS ataca a todos sem distinção, sejam heteros ou sejam gays e não há mais razão para esse modo de pensar, embora nos setores menos instruídos a idéia de ser um doença gay ainda persista. O roteiro do filme não ignorou esse aspecto e narra a estória do advogado Andrew Hackett (Tom Hanks). Jovem e bem sucedido ele é um profissional de sucesso. Os problemas começam a ocorrer quando os sinais da nova doença começam a se tornarem visíveis (manchas e feridos pelo corpo e rosto). Ao tomar conhecimento de seu estado de saúde o seu patrão o demite sem pensar duas vezes, revelando o lado mais cruel do preconceito. Sem trabalho e passando por dificuldades ele resolve buscar justiça. Contrata o advogado negro Joe Miller (Denzel Washington) e vai à luta nos tribunais. 

O argumento trabalha maravilhosamente bem com a dialética que existe no sistema judiciário americano. A lei é fria e abstrata mas infelizmente os homens que as aplicam não são. Nesse processo tudo se torna mais cruel, a situação dos litigantes acaba expondo o lado mais perverso da sociedade humana, onde ética, dignidade e honra são discutidas com rara beleza. Filadélfia marcou época pois tinha um tema relevante tratado com o devido respeito e seriedade. Os atores centrais brilham. Tom Hanks tem aqui a interpretação de sua vida, aquele que definiu toda sua carreira. Até aquele momento ele se limitava a interpretar personagens cômicos em comédias de verão mas a partir da coragem exibida nesse filme deu uma verdadeira guinada na carreira. Foi premiado merecidamente com o Oscar de melhor ator. O personagem de  Denzel Washington também é marcante pois se trata de um advogado tubarão que busca principalmente o dinheiro e a repercussão na mídia para se auto promover. Para completar pontuando tudo a ótima trilha sonora trazia Streets of Philadelphia em momento inspirado do cantor e compositor  Bruce Springsteen. Filadélfia demonstrou assim que o cinema também é um maravilhoso instrumento de conscientização social. Uma arte que quando bem utilizada serve para mudar atitudes e comportamentos arcaicos.


Filadélfia (Philadelphia, Estados Unidos, 1993) Direção: Jonathan Demme / Roteiro: Ron Nyswaner / Elenco: Tom Hanks, Denzel Washington, Jason Robards, Mary Steenburggen, Antonio Banderas, Joanne Woodward, Robert Ridgely, Charlies Napier./ Sinopse: jovem advogado é demitido por ser homossexual e portador de AIDS. Lutando por seus direitos ele decide levar o caso ao tribunal. Vencedor do Oscar e do Globo de ouro nas categorias de Melhor Ator (Tom Hanks) e Melhor Canção (Streets of Philadelphia - Bruce Springsteen)

Pablo Aluísio.

Mad Men

Compilo agora todos os textos sobre a série Mad Man que foram publicados no site. Segue texto compilado: Se você está cansado da mediocridade da TV aberta uma boa opção é procurar conhecer seriados e séries de canais mais alternativos. Geralmente nessas emissoras a pressão sobre o produto final é bem menor o que garante muitas vezes uma maior integridade do roteiro originalmente escrito. Um exemplo é a série Mad Men do canal pago AMC dos Estados Unidos. Longe de ser considerada uma das maiorais dentro do circuito de TV a cabo americano esse canal resolveu investir em produções ousadas e de bom gosto, coisa bem rara nos dias atuais onde impera a vulgaridade e a apelação para se conquistar a audiência a todo custo.

Conheci Mad Men justamente quando procurava algo diferente para assistir. Logicamente quando comecei a acompanhar a série ela era uma notória desconhecida do grande público, com poucos fãs, audiência e publicidade limitadas. Mad Men era basicamente um seriado cult para um público bem específico. E que público era esse? Basicamente admiradores de programas com mais conteúdo, que tivessem argumentos interessantes e instigantes. Mad Men, para quem ainda não sabe, retrata a vida de um grupo de publicitários americanos no começo da década de 1960. Embora traga um roteiro onde todo o elenco se destaca, a trama gira mais em torno de Don Draper, um típico cidadão americano, com uma bela esposa, uma casa, um carro do ano e filhos perfeitos e maravilhosos, ou seja, o próprio retrato do American Way of Life. Isso pelo menos em fachada pois ao longo dos episódios vamos descobrindo que nem tudo é o que parece ser e o bem sucedido publicitário tem um passado nebuloso e envolto em mistério.

Hoje em sua terceira temporada Mad Men perdeu muito do charme cult de sua estreia. O programa foi glorificado pela crítica americana (muito merecidamente é bom frisar) e acabou caindo no gosto popular nos Estados Unidos, vencendo inclusive vários prêmios importantes como o Globo de Ouro. Essa mudança de enfoque tem um lado bom e um ruim. O lado bom é que o trabalho de todos os envolvidos finalmente foi justamente reconhecido. O lado ruim dessa popularização é que agora com os holofotes em cima de si, Mad Men pode sofrer das mesmas pressões que costumam destruir boas ideias, principalmente no mundo da TV. Torço para que isso definitivamente não aconteça. Como admirador de bons seriados espero que o programa sobreviva ao seu próprio sucesso e que continue a surpreender aqueles que o assistem. Quer um bom conselho? Desliga o BBB e vá assistir Mad Men! (texto escrito em 2009).

Pablo Aluísio.

domingo, 15 de abril de 2012

Mistério na Rua 7

Numa Detroit abandonada, onde a população praticamente está desaparecida, um jovem luta para sobreviver com o pouco de luz que lhe resta pois a escuridão significa morte certa. Não adianta pegar apenas uma premissa simples para fazer um filme inteiro em cima dela sem nem ao menos desenvolvê-la. É isso que acontece nesse "Mistério na Rua 7". A tal premissa é a seguinte: todas as pessoas simplesmente começam a sumir após um pane que deixa toda uma cidade na escuridão completa. Essas pessoas que somem nas sombras deixam para trás apenas suas roupas pelo chão e simplesmente desaparecem sem deixar rastros. Só sobram cinco delas para tentar entender o que está acontecendo: um jornalista (o sempre inexpressivo Hayden Christensen), um projetista de cinema (John Leguizamo, péssimo), uma enfermeira, um garoto afro americano e uma garotinha misteriosa.

E é isso. Não existe mais nada no argumento do filme. Nada é explicado, nada é esclarecido, as tais sombras na escuridão fazem sons estranhos mas nunca aparecem, o Christensen corre pra lá e pra cá com lanternas penduradas no pescoço (sim, as sombras não conseguem devorar a luz e pelo que entendi atores canastrões também, o que talvez explique a sobrevivência desse sujeito). Com 40 minutos de filme a paciência acaba e você fica torcendo para que esses chatos morram logo de uma vez para você não ficar mais nessa encheção de salsicha. Enfim, filme fraco, suspense capenga e atuações medíocres. O filme só vale mesmo pela ironia: nele acompanhamos a carreira do Hayden Christensen sendo engolida literalmente pelo buraco negro! Tomara que agora ele suma de uma vez por todas! Amém!

Mistério na Rua 7 (Vanishing on 7th Street, Estados Unidos, 2010) Direção: Brad Anderson / Roteiro: Anthony Jaswinski / Elenco: Hayden Christensen, Thandie Newton, John Leguizamo / Sinopse: Numa Detroit abandonada, onde a população praticamente está desaparecida, um jovem luta para sobreviver com o pouco de luz que lhe resta pois a escuridão significa morte certa.

Pablo Aluísio.

The Wonders

Não precisa entender muito de música para compreender que The Wonders é na realidade um filme que parodia a primeira fase dos Beatles. Isso mesmo. A banda, seus conflitos internos e até o empresário são releituras bem humoradas do famoso quarteto de Liverpool. O projeto aliás é fruto do empenho pessoal de Tom Hanks. Como ele mesmo explicou em entrevistas sempre foi muito fã dos Beatles, mas de sua primeira fase quando cantavam inocentes canções de amor, geralmente retratando as paixões adolescentes, os primeiros namoros e os sentimentos de decepção quando ainda somos bem jovens e inexperientes com a vida. Em certo momento Tom Hanks pensou em filmar esses primeiros momentos do sucesso mundial dos Beatles mas depois mudou de idéia pois havia muitos problemas relativos a direitos autorais envolvendo a imagem e a música do grupo. O filme sairia muito caro e não era certeza ter a aprovação de todas as pessoas que detém de alguma forma direitos sobre a obra do grupo. A própria Yoko Ono não era uma pessoa fácil de se convencer nesse sentido.

Assim Tom Hanks resolveu arregaçar as mangas e decidiu escrever o roteiro ele mesmo. Ao invés dos Beatles o roteiro mostraria uma daquelas bandas de um sucesso só. Grupos descartáveis que faziam grande sucesso com uma só canção e depois desapareciam tão rapidamente como surgiam. Além de escrever o argumento e o texto do filme, Tom Hanks resolveu ir mais além, produzindo, atuando e por fim dirigindo The Wonders. Ao custo muito razoável de apenas 26 milhões de dólares o ator colocou o projeto em frente. O resultado é muito agradável com roteiro redondinho e bem escrito. Muitos reclamaram que o filme era por demais inofensivo, que sua dramaticidade era muito pueril e adolescente. Eu não vejo esse aspecto do filme como demérito.

A produção retrata um período bem específico da música americana, na primeira metade dos anos 60 e essa época é realmente muito leve, romântica e pueril ao extremo. Arrisco a dizer que muito pouco se produziu de verdadeiro rock n roll nesses anos pois os grupos musicais (incluindo Beatles em sua primeira fase) eram muito chegados a um pop mais inofensivo, sem a garra revolucionária e pulsante da primeira geração de roqueiros da década de 50. Era um som muito açucarado para falar a verdade e o grupo The Wonders do filme é a síntese de todo esse quadro cultural daqueles anos. Por isso todas as críticas que foram feitas contra o filme não procedem. Não é que ele seja meloso ou bobinho demais, a época que ele retrata era assim e não se pode mudar muito isso. Deixando isso de lado encerro o texto elogiando a trilha sonora do filme. Incrível como músicas atuais conseguiram reproduzir o estilo e a cadência do som da época. A própria “That Thing You Do!” é saborosa! Assim não deixe de ver The Wonders, um filme sobre um tempo quando a música americana mais parecia um chiclete colorido! Assista para entender.


The Wonders (That Thing You Do!, Estados Unidos, 1996) Direção: Tom Hanks / Roteiro: Tom Hanks / Elenco: Tom Hanks, Liv Tyler, Charlize Theron, Tom Everett Scott,  Steve Zahn,  Rita Wilson, Chris Isaak  / Sinopse: Em 1964 um empresário astuto conhecido como  Mr. White (Tom Hanks) resolve acreditar e investor numa nova banda formada por jovens desconhecidos. Após estourarem nas paradas com o sucesso “That Thing You Do!” o grupo começa a desmoronar internamente por causa de brigas de egos e desavenças sobre o futuro do conjunto musical.

Pablo Aluísio.

Enterrado Vivo

Paul Conroy (Ryan Reynolds) é um motorista de caminhões de carga que trabalha em uma empresa que dá apoio a tropas americanas no Iraque. Capturado por um grupo de rebeldes iraquianos é literalmente enterrado vivo nas areias do deserto. Sua única possibilidade de sobrevivência é seu celular que lhe proporciona entrar em contato com autoridades americanas para que tentem salvar sua vida! "Enterrado Vivo" é mais um exemplo de filme recente cujo roteiro se desenvolve em apenas uma situação ao longo de todo o filme. Nesse aqui a situação é justamente a do personagem principal, enterrado vivo dentro de um caixão. Já estou consciente que esse tipo de filme está chegando para ficar. Vai ser um novo subgênero cinematográfico. Havia sido assim com "Pânico na Neve", foi assim com "127 Horas" e é assim com esse "Enterrado Vivo" que dos três é o mais radical pois o filme não sai de dentro do caixão (por mais estranho que isso possa parecer). Se o espectador sofre de claustrofobia, medo de lugares fechados, então deve evitar ao máximo a produção.

Eu confesso que achei o filme um pouco cansativo. Claro que o roteiro tenta driblar tudo isso se utilizando de um celular o que dá dinamismo a essa situação. Aliás se não fosse a existência desse meio de comunicação moderno esse filme jamais existiria, pois seria impossível filmar todo um filme dentro de um caixão sem o mínimo de interação com outras pessoas (justamente o que o fone proporciona para o roteiro). Tecnicamente falando o filme é competente. Embora a situação seja a mesma cena após cena o diretor tentou modificar um pouco o que seria um cenário único (e pra lá de tedioso) usando de um dos poucos recursos que sobraram: a iluminação do ambiente. Nesse ponto achei bem criativo. Fora isso nada demais. Não achei particularmente brilhante e nem muito marcante, apenas curioso. O que será que os produtores vão inventar nos próximos filmes? Quem viver verá...

Enterrado Vivo (Buried, Estados Unidos, 2010) Direção: Rodrigo Cortés / Roteiro: Chris Sparling / Elenco: Ryan Reynolds, José Luis García Pérez, Robert Paterson / Sinopse: Paul Conroy (Ryan Reynolds) é um motorista de caminhões de carga que trabalha em uma empresa que dá apoio a tropas americanas no Iraque. Capturado por um grupo de rebeldes iraquianos é literalmente enterrado vivo nas areias do deserto. Sua única possibilidade de sobrevivência é seu celular que lhe proporciona entrar em contato com autoridades americanas para que tentem salvar sua vida!

Pablo Aluísio.

007 Na Mira dos Assassinos

É o último filme de Roger Moore como James Bond. Assistindo realmente chegamos na conclusão que era o fim da linha para Moore. Ele já estava velho demais para bancar o agente inglês (sinais da idade estão em toda parte, até seu pescoço, por exemplo, que mostra claros sinais da passagem do tempo). Além disso ele surge usando um cabelo estranho, de cor nada natural, bem artificial. Roger Moore foi um bom ator para a franquia. Ele nunca se levava muito à sério, seu filmes sempre tinham um lado de chanchada bem diferente dos que foram feitos por Sean Connery que apresentavam uma postura mais séria com o personagem. O roteiro é baseado em um pequeno conto de Ian Fleming publicado em 1960 (praticamente todos seus livros já tinham sido adaptados e por isso tiveram que apelar para pequenos textos deixados pelo autor). Para completar a trama misturaram com outros filmes de James Bond e o resultado de tanta mistura surge em cena. O filme não é ruim, tanto que anos depois o próprio Roger Moore confessou ser esse seu filme preferido com o personagem, mas a sensação de Deja Vu é muito forte.

Os vilões são bacanas - o antagonista de Bond, o industrial Zorin, é interpretado por um Christopher Walken com peruca loira totalmente fake (o que torna tudo ainda mais divertido). Ele está totalmente sem freios em cena! Já a vilã é feita por uma estranha Grace Jones (ok, seu tipo exótico era bem curioso mas não tem como negar que ela era uma péssima, péssima atriz, daquelas que não conseguem falar uma linha de diálogo com veracidade). A trilha sonora é assinada pelo grupo Duran Duran (grupo extremamente popular na década de 1980). O interessante é que em seu último trabalho como o agente inglês as antigas galhofas que faziam parte dos filmes com Roger Moore são deixadas de lado. "007 Na Mira dos Assassinos" é bem mais sisudo e menos galhofeiro do que os outros filmes feitos por ele mas mantém o interesse por causa de algumas cenas legais (como as feitas na Torre Eiffel em Paris e na Ponte de São Francisco). Claro que a trama é uma bobagem, mas releve! Vale a curtição de se ver (ou rever).

007 Na Mira dos Assassinos (A View to a Kill, Estados Unidos, Inglaterra, 1985) Direção: John Glen / Roteiro: Richard Maibaum, Michael G. Wilson / Elenco: Roger Moore, Tanya Roberts, Christopher Walken, Grace Jones, Patrick Macnee, Fiona Fullerton, Desmond Llewelyn, Robert Brown./ Sinopse: James Bond (Roger Moore) é o agente do serviço secreto inglês que tem que enfrentar o industrial Max Zorin (Christopher Walken), um empresário francês que planeja provocar um grande terremoto para destruir o Vale do Silício, na Califórnia, se tornando assim o único a explorar o mercado de tecnologia.

Pablo Aluísio.

sábado, 14 de abril de 2012

Incontrolável

Um enorme trem carregado com uma perigosa carga explosiva passa por diversas cidades norte-americanas sem qualquer tipo de controle, pois está sem maquinista. Logo o pânico se instala e um grupo de especialistas é enviado para tentar deter uma catástrofe que parece certa! Os eventos mostrados no filme foram baseados em fatos reais. Definitivamente um filme muito bom de um estilo que andava meio em baixa ultimamente, o do cinema catástrofe. Gostei muito de "Incontrolável" porque é um filme honesto, pois entrega exatamente o que se espera dele: um entretenimento de primeira qualidade, com um roteiro ágil e muito bem bolado que a despeito de focar em apenas uma situação o faz da melhor maneira possível, mantendo sempre a atenção do público, que não desgruda os olhos da tela por nenhum segundo. Não tem firulas e não inventa e por isso é extremamente eficiente, um dos melhores desse gênero que já assisti.

Denzel Washington é um ator esperto. Sabia que ao se envolver em algo assim terminaria ganhando muito. Tony Scott, por sua vez, mostra uma grande habilidade no desenvolvimento da situação. Não deixa a bola cair em nenhum momento e utiliza cada minuto da melhor maneira possível (o que era de se esperar já que o filme é curtinho, pouco mais de 90 minutos, outro ponto positivo). Até o Chris Pine se sai bem em cena. Só fiquei um pouco decepcionado com a solução encontrada para parar o tal trem desgovernado. Na minha opinião foi uma solução um pouco banal demais para o nível de adrenalina que o roteiro passou a cada cena. De qualquer forma isso não compromete o resultado final que é bem acima da média do que o cinemão americano vem apresentando ultimamente. Um entretenimento eficiente em suma. Recomendo.

Incontrolável (Unstoppable, Estados Unidos, 2010) Diretor: Tony Scott / Roteiro: Mark Bomback / Elenco: Denzel Washington, Chris Pine, Rosario Dawson, Ethan Suplee, Kevin Dunn, Jessy Schram / Sinopse: Um enorme trem carregado com uma perigosa carga explosiva passa por diversas cidades norte-americanas sem qualquer tipo de controle, pois está sem maquinista. Logo o pânico se instala e um grupo de especialistas é enviado para tentar deter uma catástrofe que parece certa! Os eventos mostrados no filme foram baseados em fatos reais.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Missão Madrinha de Casamento

Pensei que fosse ser uma comédia mais ao estilo "baixaria" uma vez que a coisa que mais ouvi ultimamente é de que se tratava de uma versão feminina de "Se Beber Não Case". Sinceramente não vi maiores semelhanças. Na realidade é uma comédia romântica bem na média do que o cinema americano anda produzindo ultimamente. Musiquinhas românticas, o velho clichê da solteirona de 30 anos louca porque ainda está solteira (de onde esses caras tiram a ideia de que o casamento é a solução para a infelicidade das pessoas?) e tudo o que você já viu em muitos e muitos filmes desse tipo. Na realidade achei tão convencional que me surpreendi. Acredito que a única grande diferença das demais "água com açúcar" é o clima acentuado de humor mas fora isso, nada de novo no front. Nesse aspecto os brasileiros são obviamente alvos, como se a culinária brasileira fosse tão indigesta a ponto de dar dor de barriga imediata nos americanos (e como se a comida deles, o tal de fast food, não fosse a pior refeição que um ser humano pudesse comer na face da terra), que o diga a gordinha Melissa McCarthy que sofre de obesidade mórbida e que, falando sinceramente, não faz nada no filme que justifique sua indicação ao Oscar.

O resto do elenco é formado por atrizes competentes devo confessar. Na realidade pode-se dizer que na falta de um roteiro melhor elas realmente carregam o filme nas costas. Eu pessoalmente gosto muito da Kristen Wiig desde os tempos em que via suas performances no SNL. Ela é uma comediante de mão cheia para interpretar balzaquianas neuróticas como a personagem do filme. Outra que se destaca é a Rose Byrne, o que é curioso, pois ela é atriz dramática na realidade (vide sua ótima participação em Damages). Em conclusão é como eu disse - tudo mais do mesmo. No final fica a pergunta: até quando vamos aguentar mais comédias românticas sobre casamentos? Será que o público não se cansa nunca disso?

Operação Madrinha de Casamento (Bridesmaids, Estados Unidos, 2011) Direção: Paul Feig / Roteiro: Annie Mumolo e Kristen Wiig / Elenco: Kristen Wiig, Maya Rudolph, Rose Byrne, Wendi McLendon-Covey, Ellie Kemper, Melissa McCarthy, Chris O'Dowd, Jill Clayburgh / Sinopse: O filme mostra as diversas confusões e problemas em que se envolve um grupo de mulheres na preparação do casamento de uma delas.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Coração de Caçador

Um diretor excêntrico leva toda uma equipe de cinema de Hollywood para a África onde pretende rodar um filme de sucesso para pagar seus inúmeros credores. Chegando no continente selvagem ele se torna obcecado em caçar um elefante africano nas extensas savanas da região. O filme foi baseado numa história real. O diretor de cinema que Clint Eastwood interpreta é na realidade o famoso John Huston e o filme que eles tentam concluir é na verdade o clássico "Uma Aventura na África" com Katherine Hepburn e Humphrey Bogart. De tão conturbadas essas filmagens na África selvagem entraram para a mitologia de Hollywood. O roteirista do filme escreveu seu próprio diário das filmagens que acabaria dando origem a um popular romance (do qual esse filme é baseado). Até mesmo Katherine Hepburn resolveu colocar no papel todas as aventuras que passou ao lado de Huston. Material do que se passou realmente não falta. Para quem não sabe John Huston foi um dos maiores diretores da era de ouro do cinema americano. Gênio na direção era também um cineasta complicado de se lidar. Geralmente comprava brigas com produtores e estúdios e colocava seu elenco em situações de saia justa durante as filmagens. Huston colecionou tantos sucessos como inimizades no meio e por isso era uma personalidade controvertida. Mais de uma vez largou um filme pela metade e abandonou tudo sem maiores explicações. Seus projetos inacabados são geralmente citados em várias passagens da história de Hollywood. "Adeus às Armas" é um exemplo disso. Um belo dia se encheu das exigências do estúdio, pegou seu chapéu e simplesmente foi embora sem dar satisfação. Geralmente era processado depois, perdia fortunas em indenizações mas não mudava seu jeito de ser. Se auto denominava um autêntico artista e odiava os aspectos comercias de seus filmes.

Coração de Caçador é seguramente um dos filmes mais inspirados do cineasta Clint Eastwood, um inteligente exercício de metalinguagem que passeia pela história do cinema americano. Também é sua homenagem muito particular a John Huston, diretor que ele sempre admirou e procurou seguir seus passos. Clint certamente aprendeu muito com o mestre. Sua direção aqui é um exemplo, firme, segura e muito correta mas não é só. Quem acha que Eastwood é um ator limitado, de poucas caracterizações, precisa ver o filme para assistir uma de suas melhores interpretações. Compondo um tipo bem diferente do habitual Clint traz de volta à tona todas as nuances de John Huston: suas excentricidades, seu jeito despojado de ser e sua incrível sede de viver intensamente. Recentemente vi cenas de Huston captadas por membros de sua equipe dentro dos sets de filmagens. Basta assistir a essas imagens para entender como Clint foi feliz em sua caracterização. Até nos pequenos gestos, no cigarro eternamente acesso no canto da boca, no olhar fixo e penetrante, Clint recriou a personalidade de John Huston com extrema fidelidade. Enfim, "White Hunter, Black Heart" (Caçador Branco, Coração Negro) é seguramente uma das melhores obras da filmografia de Clint Eastwood. Uma homenagem mais do que sincera de um cineasta para outro. Simplesmente imperdível.

Coração de Caçador (White Hunter, Black Heart, Estados Unidos, 1990) Direção: Clint Eastwood / Roteiro: Peter Viertel basedo no livro "White Hunter Black Heart" / Elenco: Clint Eastwood, Jeff Fahey, Charlotte Cornwell / Sinopse: John Wilson (Clint Eastwood) é um excêntrico diretor americano que decide filmar seu próximo filme em pleno coração do continente africano. Uma vez lá resolve partir para um safári em busca de um elefante. Logo isso se torna uma obsessão pessoal em sua vida.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

127 Horas

Parece que Hollywood tem cada vez mais apostado em filmes cujo enredo se baseiam em apenas uma situação. Só de relance me lembro aqui de "Incontrolável" e "Pânico na Neve", filmes cujos os personagens são colocados em uma situação limite e tentam de todas as formas saírem dela. Esse "127 Horas" realmente me deu agonia. A situação na qual o personagem de James Franco se encontra é realmente agonizante. Eu não gosto muito do cinema de Danny Boyle mas aqui devo confessar que ele teve muito talento em levar uma situação limite dessas por 90 minutos sem cansar o espectador. Claro que o filme em algumas ocasiões cai na monotonia mas felizmente quando tudo parece saturar os delírios de Aron Ralston fazem o filme ganhar um fôlego extra até seu desfecho.

Duas considerações: Apesar de ser digno de muitos aplausos um ator sozinho levar um filme inteiro nas costas devo dizer que James Franco não mereceu a indicação ao Oscar. Quero deixar claro que achei sua interpretação muito digna e muito bem feita, o problema é que a situação em que seu personagem se encontra não dá margens a maiores exercícios dramáticos. Sendo assim pela própria limitação de seu papel não vejo porque ele mereça estar ao lado de atores como Colin Firth (que realmente está ótimo em "O Discurso do Rei"). E por fim fica aqui registrado meus elogios à belíssima fotografia do filme (o que não poderia ser diferente). Essa região onde o filme foi realizado, Utah Canyon, realmente chama a atenção pela beleza natural. Curiosamente o filme não concorreu a melhor fotografia. Ou seja, concorreu pelo que não devia e não concorreu pelo que deveria. Vai entender essa Academia...

127 Horas (127 Hours. Estados Unidos, 2010) Direção: Danny Boyle / Roteiro: Simon Beaufoy, Danny Boyle baseados no livro "Between a Rock and a Hard Place" de Aron Ralston / Elenco: James Franco, Amber Tamblyn, Kate Mara / Sinopse: Um esportista fica preso numa fenda no meio do deserto. Ele cai em um buraco e uma pedra enorme prende seu braço no local.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Nosferatu: O Vampiro da Noite

Essa é a releitura do clássico filme alemão Nosferatu, de Murnau, de 1922. Naquele ano, sem possibilidade de filmar a estória de Drácula por não ter os direitos autorais, o diretor alemão ousou filmar um roteiro que basicamente tinha o mesmo argumento de Drácula mas sem usar o famoso nome e sem estar diretamente ligado à obra de Bram Stoker. Pelo uso inovador de tomadas de cenas, iluminação e jogo de luz e sombras Nosferatu acabou virando um grande clássico do terror, cultuado até nos dias de hoje, mesmo sendo um filme mudo. Uma obra maldita que foi redescoberta e se tornou um ícone da história do cinema. No final dos anos 70 o diretor Werner Herzog resolveu trazer de volta à tona o mesmo espírito da produção original, tanto que aqui há poucos diálogos, tal como se fosse uma homenagem ao cinema mudo. Eu só penso que a decisão de filmar em cores prejudicou um pouco o resultado final, fiquei imaginando o filme e suas imagens em preto e branco, tenho certeza que o impacto teria sido maior. A produção não é muito rica, é verdade, nada comparado ao que se vê no cinema americano, mas Herzog conseguiu superar essa situação muito bem. Outra coisa que chama bem atenção nessa produção e a total ausência de efeitos especiais. Tudo é conseguido apenas com o uso de boa maquiagem e jogos de luzes e sombras, tal como no filme de Murnau. A trilha sonora incidental também é muito inspirada, ajudando na criação do clima sórdido do filme em si.

Por fim duas curiosidades que me chamaram bem a atenção. A primeira foi a caracterização de um Van Helsing que não acreditava em vampiros, envelhecido e sem muito poder de ação e uma Isabela Adjani com maquiagem forte mas branquíssima, como convém a sua personagem gótica; Uma atriz extremamente bonita em uma interpretação um pouco abaixo do esperado. Talvez sua interpretação tenha sido assim para lembrar ao espectador da exagerada forma de interpretar do cinema mudo. De uma forma em geral achei bastante válida a ideia que deu origem ao filme. O cinema europeu tem um ritmo próprio bem diferente do americano e por isso alguns espectadores atuais poderão a vir estranhar seu desenrolar mas é bastante válida a experiência de assistir algo assim. Por fim não poderia deixar de citar a caracterização muito inspirada do ator Klaus Kinski. Ele está ótimo, com maquiagem adequada, tudo soando bem estranho, horrível, monossilábico, como aliás convém ao personagem Nosferatu. No final das contas só de ver o Klaus fazendo esse papel já vale o filme inteiro.

Nosferatu - O Vampiro da Noite (Nosferatu, Alemanha, França, 1979) Direção: Werner Herzog / Roteiro: Werner Herzog baseado no livro Drácula de Bram Stoker / Elenco Klaus Kinski, Isabela Adjani, Bruno Ganz, Walter Ladengast / Sinopse: Baseado na famosa obra "Drácula" de autoria de Bram Stoker, "Nosferatu" mostra a estória da ida de Jonathan Harker (Bruno Ganz) até a propriedade do misterioso Conde Drácula (Klaus Kinski), um homem isolado do mundo. Ele acaba desenvolvendo uma forte obsessão pela jovem a bela Lucy (Isabelle Adjani), esposa de Jonathan. Refilmagem do clássico alemão Nosferatu, de Murnau, de 1922.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Como Agarrar um Milionário

Curioso como o tempo muda os costumes (ou não). Essa comédia dos anos 50 traz três garotas bonitas que vão a Nova Iorque com o único objetivo de arranjar um marido rico para se casarem. Chegando lá elas alugam uma luxuosa cobertura (mesmo não tendo nenhum dinheiro) e para sobreviverem enquanto os tais maridos ricos não aparecem vão vendendo os móveis do local para comprar comida. O filme foi feito antes da revolução feminista e as garotas são desesperadas para arranjar logo um milionário. O mais curioso de tudo é que mesmo após a luta das feministas, muitas mulheres hoje em dia agem igualzinho às protagonistas desse filme que está prestes a completar 60 anos de seu lançamento. Parece que o mundo não mudou tanto assim depois de todo esse tempo! Tirando esse viés machista o roteiro escrito por Nunnally Johnson, um dos melhores roteiristas da história de Hollywood, tem um timing de bom humor muito afiado e divertido. Na moralista década de 50 nada poderia ser explicitamente mostrado então tudo era sutilmente sugerido. Até mesmo objetos de cena servem para materializar a ironia de certas situações. O texto é nitidamente uma comédia de costumes, pois ao mesmo tempo expõe e satiriza a condição das garotas no filme.

Estrelado por três atrizes o filme hoje é mais procurado por causa da presença de Marilyn Monroe em cena. Sua personagem não é a principal (lugar que cabe à mulher de Humphrey Bogart, Lauren Bacall) mas ela claramente chama todas as atenções para si. Bastante jovem, Marilyn faz um tipo cômico, uma garota bonita que não consegue enxergar um palmo à frente do rosto. No livro "A Deusa" há uma hilária passagem em que Marilyn procura o diretor do filme, Jean Negulesco, para lhe fazer mil perguntas sobre sua personagem, quais seriam suas motivações, seu perfil psicológico, etc. Monroe estava cada vez mais interessada no método do Actors Studio e por isso procurava desenvolver bem seus papéis. Surpreso pelo verdadeiro "interrogatório" Negulesco interrompeu a conversa dizendo: "Querida essa é uma simples comédia apenas e tudo o que você precisa saber de seu personagem é que ela é loira, burra e cega como um morcego!". Monroe obviamente não gostou nada da resposta! Já Bacall faz a mais velha das três, uma desiludida divorciada que quer tirar o pé da lama arranjando logo um maridão rico para resolver seus problemas financeiros. Completa o trio a atriz Betty Gable. Com um penteado pra lá de esquisito em relação aos padrões atuais, ela não acrescenta muito em seu papel de dondoca. Não era uma atriz particularmente engraçada ou carismática. O filme como diversão é muito bom, embora bem menos ousado que muitos dos futuros filmes de Marilyn. Como ponto negativo não tem nenhum número musical com a atriz, embora a trilha sonora seja ótima.

Como Agarrar Um Milionário (How to Marry a Millionaire, Estados Unidos, 1953) Direção: Jean Negulesco / Roteiro: Nunnally Johnson baseado na peça de Zoe Akins / Elenco: Lauren Bacall, Marilyn Monroe, Betty Grable / Sinopse: Essa comédia dos anos 50 traz três garotas bonitas que vão a Nova Iorque com o único objetivo de arranjar um marido rico para se casarem. Chegando lá elas alugam uma luxuosa cobertura (mesmo não tendo nenhum dinheiro) e para sobreviverem enquanto os tais maridos ricos não aparecem vão vendendo os móveis do local para comprar comida.

Pablo Aluísio.

domingo, 8 de abril de 2012

Filmografia Comentada: Tom Cruise

Tom Cruise é um sobrevivente em Hollywood. Em um meio onde carreiras surgem e desaparecem da noite para o dia o ator tem conseguido se manter entre os mais populares há pelo menos 25 anos. Cruise surgiu para o estrelado em filmes blockbusters como "Top Gun", "Dias de Trovão" e "Cocktail" mas logo procurou se desenvolver como bom ator em produções como "Nascido em 4 de Julho" e "Rain Man". Depois de sair de seu estúdio de longa data, a Paramount, Cruise vem trilhando um caminho interessante tentando alternar produções melhores com filmes pipocas como o recente "Missão Impossível 4". Aqui vai uma amostra de alguns títulos estrelados pelo ator.

Negócio Arriscado
O primeiro filme de repercussão de um jovem e novato ator de nome Tom Cruise. Ele interpreta um garotão de Chicago que aproveita a viagem de seus pais para chamar uma Call Girl em sua casa, agora vazia e totalmente à sua disposição. O que começa como uma pequena travessura de adolescente logo perde o rumo pois a garota acaba levando algumas outras colegas de profissão para atenderem seus próprios clientes na casa do rapaz. "Negócio Arriscado" é uma típica produção em formato de comédia adolescente dos anos 80. Não é tão forte ou apimentada como "Porkys" ou "O Último Americano Virgem" e nem tão pueril como outras comédias ao estilo John Hughes. Tom até se esforça mas o fato é que ele não era exatamente um comediante de mão cheia. Como bem provado em seus filmes que viriam Cruise se daria melhor mesmo em dramas ou blockbusters mais focados em sua imagem de galã. De qualquer forma "Negócio Arriscado" fez muito sucesso (rendeu dez vezes o seu custo em bilheteria) e colocou o nome do jovem em evidência perante os produtores.

Vidas Sem Rumo
A primeira boa produção da carreira de Tom Cruise. Aqui ele é dirigido pelo grande cineasta Francis Ford Coppola. O roteiro foi baseado no livro de grande sucesso da escritora Susan E. Hinton. Talentosa, conseguiu captar a essência da alma juvenil daqueles anos. Em um elenco numeroso de jovens estrelas em ascensão (Ralph Machio, Matt Dillon, Rob Lowe, Patrick Swayze, Emilio Estevez, C Thomas Howell) Tom Cruise tenta se destacar. Em vão, seu personagem não é exatamente marcante e nem ele consegue chamar muito atenção para si. Aqui Cruise aprenderia uma lição importante: a de que para chamar a atenção ele deveria estrelar suas próprias produções sem dividir o estrelado com mais ninguém. De qualquer maneira sua participação não foi totalmente sem importância, pois o fato de ter trabalhado com o grande Coppola contou muito para seu curriculum como jovem ator.

A Lenda
Tom Cruise resolve finalmente assumir seu lado galã de vez. E nada melhor para isso do que interpretar um príncipe dos sonhos em uma fantasia juvenil. Dirigido pelo grande Ridley Scott (de Alien, o Oitavo Passageiro) o filme tentava transportar para as telas uma estória cheia de fadas, duendes, unicórnios e seres mágicos. A produção foi concebida para ser um grande sucesso ao estilo Star Wars. Não deu muito certo. O filme foi criticado por ser excessivo, com direção de arte duvidosa e kitsch. Cruise também não está bem em cena, seu personagem é vazio e destituído de profundidade, raso demais até para um conto de fadas. Com custo milionário "A Lenda" afundou nas bilheterias se tornando um grande fracasso. Não seria dessa vez que Cruise iria despontar para o estrelado, para o time das grandes estrelas.

Top Gun - Ases Indomáveis
Finalmente Tom Cruise encontra o filme que mudaria toda a sua carreira. Grande sucesso de bilheteria o transformou em astro de primeira grandeza! O filme continua muito bom, com ótimas cenas de combates entre caças F14 da marinha americana e um pano de fundo para trazer humanidade aos pilotos. Além disso o filme tem um bom romance envolvendo o personagem Maverick (Tom Cruise) e sua instrutora (a bonita Kelly MgGillis). Vendo hoje, depois de tantos anos, cheguei na conclusão que esse realmente deve ser um dos primeiros "filmes clips" da história do cinema. Essa denominação eu uso porque ele tem muito da linguagem MTV, tudo muito rápido, com edição esperta, trilha sonora de FM e nada de muito profundo ou pesado (mesmo quando seu companheiro de vôo Goose morre nada fica muito dramático). Até hoje eu não entendi porque Top Gun nunca ganhou uma continuação na época. Todo mundo sabe que nos anos 80 todos os grandes sucessos do cinema (Rambo, Caça Fantasmas, De Volta Para o Futuro, A Hora do Espanto, etc) tiveram sequências mas Top Gun não. Complicado entender. De qualquer forma foi melhor assim. Em breve teremos um remake, algo que acho sem sentido uma vez que esse filme pop dos anos 80 só funcionaria bem mesmo naquela década, onde todo mundo usava roupas pra lá de estranhas e penteados esquisitíssimos. Além disso canções como as do grupo Berlim (da famosa canção tema Take Me Breath Away) soam datadas hoje em dia. Vamos esperar pra ver no que dá. Esse original pelo menos ainda continua muito divertido.

A Cor do Dinheiro
Tom Cruise se une ao grande Paul Newman para rodar uma continuação tardia do clássico "Desafio à Corrupção". Cruise certamente deve ter adorado dividir os holofotes com uma lenda viva do cinema americano. Newman, muito generoso, não se importou em contracenar com o jovem galã, sempre se colocando à disposição para dicas e conselhos. O encontro entre o jovem e o antigo astro de Hollywood rendeu excelentes frutos para ambos. Paul Newman depois de longos anos finalmente venceu o Oscar de melhor ator e Cruise recebeu críticas elogiosas por sua atuação ao lado do veterano mito. O filme foi dirigido por Martin Scorsese, um dos grandes nomes da história do cinema americano. No saldo final "A Cor do Dinheiro" foi um marco muito positivo na carreira de todos os envolvidos em sua produção.

Rain Man
Dando continuidade à ótima fase de sua carreira Tom Cruise resolveu abraçar um projeto ousado. O roteiro contava a estória de dois irmãos, sendo um deles autista (interpretado por Dustin Hoffman em atuação soberba). Cruise deixou o estrelismo de lado e resolveu literalmente servir de escada para Hoffman. Muitos atribuem a participação de Tom nesse filme à sua ambição de vencer o tão cobiçado prêmio Oscar. Ele aspirava uma indicação ao prêmio e quem sabe até mesmo uma vitória. Quando lançado Rain Man ganhou imediata simpatia de público e crítica se tornando um enorme êxito. A produção ganhou todos os prêmios importantes em seu ano (Oscar, Globo de Ouro, Bafta, Berlim, César) mas Cruise ficou a ver navios. O grande consagrado foi mesmo seu parceiro em cena, Dustin Hoffman, que ganhou o Oscar de melhor ator por sua brilhante caracterização. Uma premiação mais do que merecida.

Cocktail
Após tantos filmes fortes Cruise resolveu estrelar um filme pipoca por definição. "Cocktail" é uma produção de 1988, feita única e exclusivamente para capitalizar em cima do lado galã do ator Tom Cruise. O filme é bem fraco, enredo bobinho e derivativo. Ele faz um sujeito que volta do serviço militar sem ter idéia do que fazer da vida. Sem emprego e sem perspectivas decide ir para Nova Iorque onde encontra todas as portas fechadas em sua cara pois não tem diploma de curso superior. Sem alternativas acaba se empregando como barman num pub local. Assim o filme se desenvolve, de noite Cruise faz malabarismos detrás do balcão ao lado de seu colega de trabalho (interpretado pelo sumido Bryan Brown) e de dia tenta se formar numa faculdade de administração de empresas. Não é fácil, trabalhando à noite ele geralmente acaba dormindo nas aulas de dia. Mesmo assim tenta seguir em frente atrás do chamado "Sonho Americano" O par romântico de Cruise no filme fica a cargo da bonitinha Elisabeth Shue, cuja carreira não decolou pois abandonou o cinema no auge de sua popularidade para se formar na prestigiosa universidade de Harvard. O diploma parece que não fez muita diferença na vida da moça pois atualmente ela tenta sobreviver fazendo filmes horríveis como Piranha 3D. Tom Cruise fez nos anos 80 alguns filmes bem vazios onde não havia conteúdo - apenas um fiapinho de enredo para ele desfilar suas caras e bocas. Eram produções que mais pareciam videoclips da MTV (essa linguagem estava em alta com a moçada da época)."Cocktail" é um produto assim. Junto com "Dias de Trovão" é o que há de mais banal na carreira do ator. Por isso não espere nada de "Cocktail" pois esse é na realidade apenas um clipão estendido com ares de cartão postal. Bonitinha a produção mas vazia como uma bola de chiclete.

Nascido em 4 de Julho
Cruise se une ao diretor Oliver Stone para estrelar aquele que para muitos é seu melhor filme. O EUA é uma nação que foi forjada na violência e no capitalismo selvagem. Em essência esses são os verdadeiros pilares da América. Nessa engrenagem o complexo industrial militar norte-americano sempre deve ser suprido por guerras e conflitos, façam sentido ou não. A Guerra do Vietnã é um exemplo claro disso. Um aparato militar jamais visto foi deslocado para um pobre país asiático sem importância em uma matança sem sentido. Jovens na flor da idade foram para aquela nação que nunca tinham nem ouvido falar para morrerem em suas selvas. Quem ganhou com o envolvimento dos EUA no Vietnã? Obviamente que não foram esses soldados. Quem lucrou realmente com essa barbaridade foi justamente o complexo militar da nação Ianque. Guerras são caras e alguém sempre lucra com elas, não se engane. Fortunas foram feitas com o sangue alheio. Violência e capitalismo, eis o segredo da existência desse conflito. Violência e capitalismo, eis o DNA da alma norte-americana. Nada mais, nada menos. Nesse ínterim o ser humano se torna peça descartável, sem a menor importância. Uma estatística, um número qualquer na mesa de algum burocrata. O indivíduo perde toda a sua importância. "Nascido em 4 de Julho" dá voz a uma dessas peças sem importância no tabuleiro da guerra capitalista. Em um roteiro excepcional acompanhamos a transformação de um jovem que ousou tentar de alguma forma lutar contra essa situação. O filme é sobre ele, Ron Kovic (Tom Cruise), que se tornou paralítico aos vinte e um anos de idade após levar um tiro durante uma batalha numa praia do Vietnã. Sua vida, seus pensamentos, seus conflitos internos, tudo ecoa na tela com raro brilhantismo. Oliver Stone, ele próprio um veterano da Guerra do Vietnã, já havia revisitado esse conflito no premiado "Platoon". O diferencial de "Nascido em 4 de Julho" para o filme anterior é que nesse acompanhamos os efeitos da guerra, as consequências. O tema já havia sido retratado no cinema antes em "Espíritos Indômitos" com Marlon Brando. O enfoque é sobre os soldados que voltam da guerra mutilados, feridos, estraçalhados emocionalmente. As bandeiras, as medalhas e os uniformes militares diante dessa situação perdem totalmente a relevância. O que fica é um dos efeitos mais cruéis desse tipo de luta armada. Homens jovens, incapazes de viverem em sua plenitude, condenados a uma cadeira de rodas pelo resto de suas vidas e o pior por um evento histórico sem qualquer sentido ou justificativa. Stone foi muito feliz nessa direção que na minha opinião foi a melhor de sua carreira. O enredo socialmente relevante faz pensar, desperta consciências. Filmes devem existir não apenas para entreter mas também para conscientizar. Nesse aspecto "Nascido em 4 de Julho" é uma obra prima do cinema americano.

Dias de Trovão
"Dias de Trovão" é um blockbuster colorido, muito colorido. Os carros, os macacões, os capacetes, tudo foi pensado e produzido para parecer o mais berrante possível. O filme na realidade foi concebido para repetir o grande sucesso da carreira de Tom Cruise, "Ases Indomáveis". Assim os produtores reuniram praticamente a mesma equipe e resolveram tentar a sorte. Não deu muito certo. O filme acabou rendendo a metade do que era esperado e mostrou que não bastava apenas colocar o astro Cruise em um "Top Gun sobre rodas" para tudo dar certo. Agora o interessante é que o filme me pareceu bem pior quando vi pela primeira vez. Eu me recordo de ter achado tudo muito vazio, com cara de comercial de refrigerante mas hoje ele não me pareceu tão mal. A conclusão que chego é que o nível dos blockbusters piorou tanto ao longo do tempo e eu assisti tanto abacaxi nesse período que ao voltar para ver "Dias de Trovão" esse acabou melhorando após todos esses anos! Para quem gosta do mundo de celebridades e fofoquinhas é interessante saber que o filme acabou aproximando o futuro casal Cruise / Kidman. Ela aliás está linda, com cabelos encaracolados, esbanjando beleza e carisma (embora não tenha muito o que fazer dentro do roteiro). É isso, "Dias de Trovão" é superficial e cheio de clichês, como todo blockbusters afinal, mas tem os cachos da Kidman, então vale a espiada!

Um Sonho Distante
Após conhecer Nicole Kidman no set de Dias de Trovão e se apaixonar por ela, Cruise retorna à parceria nessa super produção com ares de filmes antigos. A pretensão do ator era realmente estrelar um épico ao velho estilo, com muitas cenas edificantes, músicas grandiosas e paisagens de cartão postal. Aqui ele interpreta um imigrante irlandês que vem tentar a sorte na América em 1892. O filme tem linda fotografia, uma direção de arte suntuosa e uma produção de encher os olhos mas não conseguiu cair no gosto do público. Feito para render milhões o filme comercialmente falando ficou bem abaixo das expectativas. De qualquer forma é um bom momento na carreira de Cruise, um filme que foi prejudicado por um marketing equivocado mas que mesmo assim vale a pena como bom entretenimento.

Questão de Honra
Depois do relativo fracasso de "Um Sonho Distante" Cruise resolveu apostar em um projeto certo. Ao lado de Jack Nicholson e Demi Moore estrelou esse "Questão de Honra". Ele interpreta um advogado das forças armadas americanas que tenta provar um crime militar ocorrido dentro de uma base aonde um jovem soldado foi morto por seus colegas de farda. Para tanto ousa convocar para depor um coronel casca grossa (brilhantemente interpretado por Nicholson). Sua frase durante o depoimento: "You can't handle the truth!" ("Você não suportaria a verdade!") foi considerada uma das mais marcantes da história recente do cinema americano. Verdade seja dita: Cruise não é páreo para Nicholson em cena mas mesmo assim tem atuação bem acima da média. O fato positivo porém é que "Questão de Honra" fez sucesso e recebeu várias indicações para as principais premiações, inclusive Oscar e Globo de Ouro.

A Firma
Cruise se une ao escritor de best sellers John Grisham e ao consagrado cineasta Sydney Pollack para levar o livro de sucesso aos cinemas. Interpretando um jovem advogado que se vê envolto numa teia de mentiras e conspirações, Tom Cruise consegue mais um êxito comercial em sua carreira. Embora sucesso o filme tem seus problemas - é frio e distante demais, não conseguindo criar um bom vínculo com o público. Embora Cruise aspirasse a pelo menos uma indicação ao Oscar o filme passou batido, em brancas nuvens pela Academia, não sendo premiado em nada.

Entrevista Com o Vampiro
O primeiro filme de terror da carreira de Tom Cruise. Aqui ele interpreta Lestat, um dos personagens mais disputados em Hollywood na época. Baseado no famoso livro da escritora Anne Rice o filme era considerado êxito certo por causa da popularidade dos livros nos quais era baseado. A produção porém foi conturbada para o ator. Logo no começo ele teve que enfrentar a oposição da própria Anne Rice que o achava totalmente inadequado para o papel. Fato que ela revelou publicamente, colocando em dúvida a capacidade de Cruise em fazer seu famoso personagem vampiro com a sofisticação necessária. Além de ter que lidar com Rice, Cruise ainda encontrou problemas dentro do próprio set. Ele não se deu bem com seu parceiro em cena, Brad Pitt. Ambos começaram a disputar entre si para ver quem roubaria o filme de quem. No final, apesar dos pesares o filme se tornou um grande sucesso e Cruise, para surpresa de todos, recebeu diversos elogios por sua caracterização de Lestat de Lioncourt. Para coroar ainda mais o bom momento a própria Rice acabou dando o braço a torcer e se desculpou (também publicamente) por ter criticado Cruise antes mesmo de ver seu trabalho em cena.

Jerry Maguire
Depois do grande sucesso de Entrevista com o Vampiro, Cruise entrou de cabeça em um projeto diferente. Um drama com ares de romance ambientando no competitivo mundo dos esportes, seus promotores e empresários. Dirigido pelo jovem cineasta Cameron Crowe e co-estrelado pela bonita atriz texana Renée Zellweger o filme acabou surpreendendo pelos bons números de bilheteria e pela ótima receptividade perante a crítica. O roteiro é uma alegoria sobre os sonhos de cada um e o desejo de torná-los realidade. Após seu lançamento o filme foi ganhando cada vez mais prestígio e acabou chegando na noite do Oscar como um dos favoritos. Tom Cruise foi indicado ao Oscar de melhor ator mas quem levou a melhor mesmo foi o coadjuvante Cuba Gooding Jr que levantou o troféu! Cruise continuaria na fila.

Missão Impossível
Desiludido por ter estrelado tantos bons filmes e nunca ter sido considerado pelo Oscar, Tom Cruise resolveu em 1996 desenterrar uma antiga série televisiva de sucesso para voltar aos filmes de verão, aos filmes blockbuster, às produções pipoca. Missão Impossível não é relevante do ponto de vista artístico pois no fundo é apenas mais um filme de ação e aventura sem qualquer conteúdo. Excepcionalmente bem produzido caiu logo no gosto popular se tornando mais um grande sucesso na carreira do ator (450 milhões de dólares em caixa) Ao longo dos anos seguintes Cruise iria adquirir todos os direitos relativos à produção e inauguraria sua própria franquia de sucesso, dando origem a três outras continuações.

Magnólia
Um filme estranho com proposta independente. Cruise só entrou no projeto por causa de sua amizade pessoal com Paul Thomas Anderson, o diretor. O filme viu seu orçamento inflar após Cruise divulgar sua participação. Seu personagem é meramente secundário, embora a performance do ator seja realmente digna de elogios. Seu lado showman desponta com destaque. A bilheteria não foi boa mas mesmo assim Cruise conseguiu uma nova indicação ao Oscar, só que na categoria Melhor Ator Coadjuvante. Infelizmente novamente não conseguiu ser premiado.

De Olhos Bem Fechados
O último filme do mito Stanley Kubrick. Ao que tudo indica Cruise não deixaria passar a oportunidade de estrelar um filme dirigido pelo famoso cineasta, mesmo que o roteiro e o argumento não fossem grande coisa. Ao lado da esposa (na terceira e última atuação juntos no cinema) Cruise se despiu de vaidades, aceitando protagonizar ousadas cenas de sexo e sensualidade. Após uma conturbada filmagem o filme foi lançado com reações adversas. Muitos não gostaram do resultado final e consideram a pior obra da filmografia do gênio Kubrick. Uma coisa porém é certa, mesmo não sendo unanimidade o filme segue como um dos mais marcantes da filmografia de Tom Cruise.

Vanilla Sky
Refilmagem do filme espanhol Abra Los Ojos de Alejandro Amenabar. O roteiro intrigante mostrava um personagem que após um acidente de carro ficava com o rosto deformado. Cruise assim passa quase o tempo todo em cena com uma estranha máscara. O enredo diferente não agradou muito aos fãs do ator que mesmo prestigiando a produção nas bilheterias não conseguiram gostar do resultado final. Nos bastidores Cruise se envolveu com a atriz Penelope Cruz após romper com sua esposa Nicole Kidman. Embora o filme não tenha tido a recepção que se esperava contou com um bônus mais do que especial: uma canção original de Paul McCartney composta exclusivamente para a produção. A música inclusive chegou a concorrer ao Oscar.

Minority Report
A primeira parceria entre Cruise e o diretor Steven Spielberg. Baseado no conto do famoso escritor Phillip K. Dick (o mesmo de Blade Runner), Cruise aqui interpreta um policial em um mundo futurista aonde se consegue prever os crimes antes que eles sejam cometidos. O roteiro era intrigante mas o filme funcionou bem apenas em parte. Com uso excessivo de efeitos digitais de última geração (quem se lembra das aranhas digitais?) a produção não conseguiu agradar á crítica que a achou abaixo das expectativas que se esperava da reunião de Tom Cruise em um filme dirigido por Steven Spielberg. O filme teve uma produção extremamente cara (mais de 100 milhões de dólares) mas mesmo assim não conseguiu marcar a filmografia do ator como outros de seus filmes.

O Último Samurai
Mais uma produção com ares de épico da carreira de Cruise. Aqui ele vai até o Japão para aprender a arte milenar dos samurais (famosos guerreiros nipônicos). A produção é de primeira linha, com ótima fotografia e direção de arte. O ator há muito é considerado um dos mais populares no Japão e o filme de certa forma aproveitou disso para faturar em cima de sua popularidade. O resultado comercial foi mais do que bem sucedido com 450 milhões de dólares em bilheteria.

Colateral
Na época de seu lançamento o filme foi vendido como o primeiro em que o astro Tom Cruise interpretaria um vilão. Para ajudar na caracterização ele surge em cena com um estranho corte de cabelo grisalho. Na trama Tom Cruise interpreta o assassino de aluguel Vincent que inferniza a vida de um simples motorista de taxi (interpretado por Jamie Foxx) ao sair com ele pelas ruas de Los Angeles cumprindo alguns "serviços". O filme dirigido pelo veterano Michael Mann tem seus momentos mas falha em cumprir tudo o que promete. Cruise definitivamente não se encaixa muito bem no perfil de seu personagem sádico. O público porém prestigiou e embora sua bilheteria tenha sido menos da metade de "O Último Samurai" o filme acabou sendo considerado um sucesso. De quebra ainda deu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante a Jamie Foxx. Cruise novamente ficou a ver navios.

Guerra dos Mundos
Refilmagem do antigo clássico da ficção. Dirigido por Steven Spielberg o filme era a aposta de Cruise para voltar ao topo das maiores bilheterias. O fato é que remakes que ousam mexer com filmes consagrados do passado sempre correm o risco de se darem mal. A crítica torceu o nariz para a produção mas a união de Spielberg, Cruise e efeitos especiais de última geração se mostraram imbatíveis nas bilheterias. O filme se tornou um grande sucesso, chegando quase aos 600 milhões de dólares em faturamento. Mesmo com todo esse êxito comercial a produção ainda não consegue, mesmo nos dias de hoje, agradar aos especialistas no gênero que a consideram megalomaníaca e desprovida de alma.

Leões e Cordeiros
Após romper definitivamente com a Paramount por causa de atritos ocorridos durante Missão Impossível 3 Cruise se lançou como ator free lancer. Um de seus primeiros projetos nessa nova fase de sua carreira foi esse bom drama dirigido por Robert Redford. O filme segue o estilo mosaico, várias estórias paralelas são contadas para no final se revelar as conexões que as unem. No filme Tom Cruise interpreta um astuto político em Washington. Ao lado de Meryl Streep e Robert Redford o ator fica um pouco ofuscado mas consegue disponibilizar uma boa atuação. O filme foi lançado discretamente e foi mais comentado apenas entre um público bem mais seleto, intelectualizado.

Operação Valquíria
Após vários anos de carreira Cruise estreia no gênero de filmes de guerra. Aqui ele interpreta um oficial alemão que faz parte de um grande complô durante a II Guerra Mundial para eliminar o ditador Adolf Hitler. Baseado em história real os eventos já tinham sido contados antes em outros filmes. Cruise se sai muito bem no papel do Coronel Claus von Stauffenberg, um herói de guerra que ousou se envolver em um plano dessa envergadura durante um dos períodos mais conturbados da história da nossa civilização. Embora a produção seja modesta (para os padrões Hollywoodianos) o filme conseguiu uma boa carreira rendendo em torno de 200 milhões, demonstrando que o ator ainda era viável mesmo sem um grande estúdio cinematográfico por trás.

Trovão Tropical
Um filme completamente fora do comum dentro da filmografia de Cruise. Nessa comédia que satiriza os filmes de guerra tradicionais ele interpreta um produtor de cinema careca, gordo e barrigudo! Para surpresa geral Cruise mostra um excelente timing de humor em cena, se despindo completamente de sua vaidade pessoal. O personagem é a antítese de sua imagem no cinema criada em todos esses anos. Para um papel totalmente sem pretensão Cruise acabou sendo indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante, uma surpresa e tanto! No saldo final o filme fez boa bilheteria e sua participação foi considerada mais do que positiva em sua carreira.

Encontro Explosivo
Tentativa mal sucedida de unir filmes de espionagem, comédia e ação estrelada por Tom Cruise ao lado novamente de Cameron Diaz (eles já tinha contracenados juntos em Vanillla Sky). O roteiro foi concebido para agradar ao público adolescente que frequenta os cinemas 3D atualmente. O resultado é não menos do que indigesto. Cruise em um papel indigno de sua longa carreira tenta mostrar algum serviço no meio de tiros e piadinhas. O filme rendeu apenas o dobro de seu custo nas bilheterias e isso é considerado um resultado muito morno em Hollywood. O resultado fraco deve afastar Cruise de produções como essa no futuro, para alívio de seus fãs.

Missão Impossível: Protocolo Fantasma
Não é de hoje que acompanho a carreira do ator Tom Cruise, pelo contrário. Desde 1985 quando assisti seu primeiro grande sucesso nos cinemas, "Top Gun - Ases Indomáveis" venho assistindo sempre seus filmes. Cruise é um dos astros de Hollywood que posso afirmar ter visto a filmografia completa, do primeiro ao último filme que ele fez. Apesar disso não me considero fã ou algo assim. Na verdade ele chegou ao estrelado com blockbusters até banais (como "Top Gun", "Dias de Trovão", "Cocktail" etc) mas logo depois começou a surpreender participando de filmes realmente muito bons ("A Cor do Dinheiro", "Rain Man" e principalmente "Nascido em 4 de Julho"). Parecia que fugia do rótulo de galã de filmes vazios. O que seria uma guinada na carreira porém parou repentinamente com essa franquia "Missão Impossível". O sucesso desses filmes levou Cruise de volta para os arrasa quarteirões sem conteúdo. Uma pena. Eu pessoalmente sempre achei esses filmes muito fracos, até porque a própria série televisiva que lhe deu origem nada mais era do que uma cópia das aventuras de James Bond no cinema. Se até os filmes de Bond não são muito adultos imaginem a cópia deles. Claro que quando "Missão Impossível" foi para o cinema deram uma recauchutada completa em sua concepção mas mesmo assim continuou a ser muito tolo e infantil. Há ótima produção, cenas muito bem realizadas, parafernálias tecnológicas de todos os tipos e toda a pirotecnia que você queira. O problema é que também pára por aí. Os filmes MI não possuem tramas mais bem elaboradas que fujam do chiclete, é tudo muito oco, vazio. Esse "Missão Impossível 4" segue a mesma trilha dos anteriores. Novamente há cenas de impacto como Cruise "escalando" um enorme edifício em Dubai ou então sua perseguição no meio de uma tempestade de areia. Tudo muito bem produzido e realizado não há como negar. As bugigangas da tecnologia de última geração também estão lá. Seu personagem também tem que salvar o mundo no último segundo... enfim, nada de novo no front. Esse enredo de espião tentando salvar o planeta de uma guerra nuclear causada por um megalomaníaco é a base de praticamente todos os filmes de James Bond da década de 1960. Se já não era original há 50 anos imagine agora! Qual afinal é a novidade disso? Nenhuma. Curiosamente o público não parece se importar pelo fato do filme ser no fundo mais do mesmo e lotou as salas. De fato MI4 foi o sucesso que Cruise tanto aguardava. Desde que foi despedido da Paramount ele não conseguia um grande sucesso de bilheteria então o êxito do filme veio como tábua de salvação. Bom pra ele já que a idade finalmente está chegando e o antigo galã de sorriso largo está demonstrando sinais na tela de que o tempo realmente chegou para ele. Em conclusão MI4 é isso, uma variação dos filmes de James Bond e praticamente uma cópia dos filmes anteriores da franquia. Se você gosta desse tipo de filme, bon appetit!

Pablo Aluísio.

sábado, 7 de abril de 2012

Filmografia Comentada: Richard Burton

Ele não foi apenas o marido de Elizabeth Taylor. Richard Burton também foi um dos atores mais populares do cinema americano durante as décadas de 1950 e 1960. Conseguiu superar a fase de galã e de herói de aventuras para se tornar um ator respeitado que ousou levar vários textos de autores importantes para o cinema, como Tennessee Williams. Foi sete vezes indicado ao Oscar de melhor ator mas por uma dessas ironias do destino não venceu nenhuma. Bom de copo e brigão Richard Burton se vangloriava de seus antepassados galeses que costumavam beber um litro de whisky religiosamente todos os dias. Ao que tudo indica Burton estava disposto a levar a tradição familiar em frente pois continuou beberrão e fumante até o fim de seus dias. Gostava de tomar um litro de vodka todas as manhãs para ajudar no despertar matinal. Tanto abuso cobrou seu preço depois. Acabou morrendo vítima de cirrose hepática aos 58 anos em 1984. Deixou uma fortuna mesmo tendo gasto quase todo o seu dinheiro com joias caras durante seu conturbado relacionamento com Liz Taylor ao qual chegou a se casar não apenas uma mas duas vezes! Burton definitivamente não era um homem de moderação como bem demonstra sua vida intensa. Segue abaixo alguns de seus grandes filmes (posteriormente novos comentários serão adicionados à lista conforme outros filmes do ator venham a ganhar novas resenhas em nosso blog).

Alexandre, O Grande
Roteiro e Argumento: A história de Alexandre é bem conhecida. O filme segue didaticamente sua biografia e mostra todos os grandes momentos de suas incríveis conquistas. Os primeiros 60 minutos focam completamente na complicada relação entre Alexandre e seu pai, o Rei Filipe. Existem cenas que são idênticas às que são mostradas no filme de Oliver Stone. De forma geral gostei da forma como o roteiro tratou essa história, tudo bem dividido e mostrado. / Produção: Não é tão rica como a de outras produções do mesmo período porém é luxuosa e bonita. O filme foi filmado em locações na Espanha, aproveitando inclusive antigas ruínas romanas. Isso deu um visual muito mais real às tomadas de cena, bem diferente dos épicos que eram filmados dentro dos estúdios em Hollywood e que muitas vezes soavam bem falsos. As cenas de batalha são boas e bem coreografadas, principalmente as finais, quando Alexandre enfrenta Dario no campo de batalha. / Direção: Robert Rossen era muito mais roteirista do que diretor. De fato ele só dirigiu dez filmes em sua carreira. A falta de experiência muitas vezes aparece no filme com quebras de ritmo e cenas avulsas que tão rápidas como surgem somem. Um diretor mais experiente faria um produto mais coeso e com maior agilidade. / Elenco: Só há uma estrela no filme, Richard Burton. De cabelos pintados de loiro sua caracterização quase caiu na caricatura mas felizmente Burton deu a volta por cima. Ele está empenhado e interpreta Alexandre com convicção. De certa forma seu papel antecipou o que faria depois em Cleópatra.

O Desafio das Águias
General americano é feito prisioneiro por tropas alemãs. O alto oficial tem conhecimento dos planos aliados para o desembarque do dia D. Temendo que sob tortura ele revele esses planos uma equipe de elite do exército inglês é enviada com a missão de resgatá-lo de uma fortaleza quase inexpugnável onde ele é mantido sob rígida vigilância. Juntar o veterano Richard Burton ao jovem Clint Eastwood em um filme que une II Guerra Mundial e contra espionagem parece, a priori, uma ótima idéia. Foi justamente isso que o diretor Brian G. Hutton fez no finalzinho dos anos 60 com esse "O Desafio das Águias". O filme é ágil (apesar da duração) e mantém um bom nível nas diversas cenas de ação. Embora haja uma interessante subtrama de espionagem envolvida no roteiro o que dá o tom aqui realmente são as cenas de batalha, sabotagem e alpinismo. O filme em nenhum momento nega seu objetivo de ser um entretenimento de bom nível apenas. Em uma época em que os efeitos visuais eram primitivos, as cenas no teleférico da base alemã nos alpes impressiona. Embora o uso de back projection seja claro se percebe também que os dublês realmente ficaram pendurados por lá em diversos momentos, o que demonstra como eram bons em suas funções. Curioso entender que "O Desafio das Águias" faz parte da última geração de filmes de guerra aonde não se discutia ou se colocava em debate os problemas que conflitos como esse causavam. De certa forma os filmes de guerra mudariam radicalmente com o lançamento de "Apocalypse Now" alguns anos depois. Ao invés de simples filmes de ação as produções desse gênero iriam ser bem mais psicológicas, nada ufanistas ou patrióticas. Tudo iria desandar no chamado círculo do Vietnã com filmes que iriam invadir as telas na década de 80. Nesse aspecto não procurem nada parecido aqui em " Where Eagles Dare" pois o filme é pura diversão escapista apenas. Se o roteiro não inova o elenco pelo menos é de primeira linha. Richard Burton, já envelhecido e com olhos de ressaca (seu alcoolismo só aumentou ao longo dos anos) consegue dar conta do recado, apesar de estar visivelmente fora de forma. Já Clint Eastwood mostra porque iria se tornar um dos grandes astros de Hollywood. Jovial, com vasta cabeleira e pinta de durão o futuro Dirty Harry não economiza nas balas e nas porradas, ambas distribuídas fartamente ao longo do filme. Enfim, "Desafio das Águias" é indicado para apreciadores de filmes de guerra bem movimentados, com fartas doses de ação e que não se importem com um ou outro furo do roteiro. Faz parte de uma linha de produção que estava chegando ao fim. Filmes de guerra com muita ação e só. Se isso faz seu gosto pessoal procure assistir, não vai se arrepender.

Quem Tem Medo de Virginia Woolf?
Casal de meia idade decide receber um casal amigo em sua casa. A esposa interpretada por Elizabeth Taylor (em ótima caracterização) logo se excede na bebida. Em pouco tempo começa a ofender e destruir a imagem e auto estima de seu marido (Richard Burton, soberbo) o qualificando como um miserável, um derrotado e fracassado na vida. Logo a briga matrimonial foge totalmente do controle. O que posso dizer? Belo filme. Aqui o que importa mesmo é atuação do grande casal Elizabeth Taylor e Richard Burton. Basicamente tudo se passa em apenas uma noite, sendo explorada apenas uma situação. O problema básico é que os personagens em cena estão completamente embriagados e como sabemos quando a bebida sobe à cabeça as amarras sociais descem ladeira abaixo. Assim o que parecia ser apenas um tedioso encontro social vira uma verdadeira carnificina psicológica entre os presentes. Tudo é passado a limpo, desde segredos reveladoras a frustrações pessoais e profissionais. O argumento forte capta o momento de falência de um casamento quando a esposa transforma o marido em mero saco de pancadas, jogando todas as suas raivas reprimidas em cima dele de uma só vez.Do elenco o destaque absoluto é mesmo Elizabeth Taylor como Martha. Muita gente não dá o devido valor a Liz Taylor e geralmente usa seu estigma de estrela de Hollywood para rebaixar seu talento. Sempre fui contra essa visão preconceituosa em relação a ela, pois a considero uma das melhores atrizes da história do cinema americano (sendo estrela ou não). Aqui nesse filme provavelmente ela entrega sua melhor interpretação ao lado do maridão Burton (que vira quase uma escada para ela mas é salvo por outra brilhante atuação). Liz é intensa, visceral e não mede consequências. Engordou e se enfeou propositalmente para tornar sua personagem (uma dona de casa frustrada) mais verossímil. Richard Burton também se despiu de sua vaidade natural e imagem de galã viril para encarnar um pobre diabo que não consegue mais lidar com o inferno que sua vida se tornou. O mais curioso é que o casal real também se envolvia em bebedeiras homéricas e brigas públicas, o que provavelmente facilitou e muito em cena. Mas isso não tira seus méritos. Virginia Woolf é isso, excessivo, pesado, com cara de teatro filmado, mas que no final das contas se revela um filme simplesmente brilhante. Para quem gosta de grandes atuações é um prato cheio! Sirva-se à vontade.

O Homem Que Veio de Longe
Ótima produção do casal Taylor / Burton que para minha surpresa segue pouco conhecida. O roteiro é de Tennessee Williams baseado em sua própria peça "The Milk Train Doesn't Stop Here Anymore", o que por si só já é garantia de ótimos diálogos e cenas extremamente bem escritas. Obviamente o filme em nenhum momento nega sua origem teatral mas isso é compensado pelo uso de uma locação simplesmente maravilhosa: uma mansão em cima de um penhasco rochoso numa paradisíaca ilha no litoral italiano (localizada em Capo Caccia na Sardenha). É nesse cenário deslumbrante que Liz Taylor e Richard Burton duelam em cena, o que me lembrou muito em sua estrutura outro filme famoso do casal, "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?". Ela inclusive aqui está muito mais diva do que no famoso filme que a consagrou. A produção foi um projeto pessoal de Liz Taylor. Ela inclusive escalou o desconhecido diretor Joseph Losey para comandar as filmagens que pelas locações distantes tiveram um maior grau de dificuldade em relação aos filmes rodados em estúdio. Liz vinha de um filme complicado, "The Comedians", ao lado de Burton que não havia sido muito bem recebido nem pela crítica e nem pelo público. Produção muito cara (só Burton recebeu um milhão de dólares de cachê pelo filme) não trouxe bom retorno de bilheteria quando lançado. Para recuperar o fôlega Elizabeth então resolveu voltar para os textos de Tennessee Williams e exigiu que o mesmo fosse o próprio roteirista do filme. Era uma tentativa de voltar aos anos de glória de sua carreira. O personagem de Elizabeth Taylor é uma viúva milionária (foi casada com seis magnatas) que há muito passou seu apogeu. Vivendo solitária em sua mansão ela é servida dia e noite por um grupo de lacaios prontos a atender qualquer que seja seu desejo. Isso porém não a impede de ser desbocada, despudorada e abusiva com todos à sua volta. Ditando sua biografia para uma secretária servil ela se surpreende quando um dia chega um desconhecido em sua casa (Burton) que aos poucos vai colocando em xeque o modo de agir da milionária. Há um curioso subtexto no roteiro sobre a real identidade do desconhecido, inclusive a de que ele na realidade seria um anjo da morte, tal como vimos em outra produção mais recente, "Meet Joe Black" com Anthony Hopkins e Brad Pitt. Mas será mesmo? Enfim, altamente recomendado para quem quiser conhecer mais a filmografia do mito Elizabeth Taylor.

Ana dos Mil Dias
Uma boa dica para quem gosta de temas históricos e da série de sucesso The Tudors é assistir esse filme estrelado por Richard Burton. O tema todos conhecemos: as várias histórias de alcova envolvendo o rei absolutista inglês Henrique VIII. Nesse caso o filme é centrado especificamente sobre o romance do Rei com sua segunda esposa, Ana Bolena. Um caso de amor que envolveu até mesmo questões de Estado que até hoje repercutem na história mundial (O Rei rompeu com a Igreja Católica e fundou a sua própria Igreja, chamada Anglicana, por causa da recusa do papa na época em anular seu primeiro casamento). O filme tem produção requintada, ótimas atuações e um bom roteiro, que procura na medida do possível ser bastante fiel aos fatos históricos. Richard Burton está particularmente bem no papel, fazendo com primor essa figura tão controvertida que era Henrique. A atriz que faz Ana Bolena, Geneviève Bujold, também está bem correta em sua caracterização. Talvez o único senão do filme seja a pouca exploração de um dos personagens centrais da história de Henrique VIII, o chanceler Sir Thomas Moore, o principal opositor ao rompimento de Henrique com a Igreja Romana. Em detrimento de sua participação o filme enfoca mais a presença do Cardel Wolsey e do maquiavelico Cromwel, o segundo chanceler do Rei. De certa forma é até compreensível que isso tenha acontecido, já que são tantos os personagens a se enfocar que seria praticamente impossível não haver omissões em um longa metragem como esse. Apenas seriados conseguem mostrar todos os detalhes de uma biografia tão rica em intrigas, traições e vilanias como a de Henrique. Fato esse demonstrado por The Tudors. O Filme merece ser conhecido com absoluta certeza. Além da riqueza de produção a película tem um desenvolvimento bem mais leve e acessível do que "O Homem que não vendeu sua Alma" (esse sim centrado e muito na história de Thomas Moore, mártir da fé católica que acabou sendo canonizado pela Igreja de Roma). O resultado se vê na tela, Burton foi indicado ao Globo de Ouro pela produção e até arranjou uma participação não creditada de sua esposa Elizabeth Taylor no filme, o que é um divertimento a mais, já que tentar encontrá-la no meio de tantos figurantes e atores coadjuvantes não é uma tarefa das mais simples. Enfim, gosta de filmes de época? Quer saber mais sobre o absolutismo que imperou na Europa ou simplesmente quer conhecer mais sobre a biografia desse polêmico Rei? Então assista Ana dos Mil Dias e alie bom divertimento a enriquecimento cultural.

Pablo Aluísio.