Superprodução que conta a vida do último imperador da China, Aisin-Gioro Puyi (John Lone). Como se sabe após séculos de uma dinastia forte e centralizadora a revolução socialista explodiu naquele país sendo a partir daí implantado um regime comunista linha dura que persiste até os dias atuais. Nesse processo o antigo regime veio abaixo. O imperador foi deposto e levado a ser doutrinado pela nova ideologia de poder. Embora discuta o tema político pois seria impossível realizar um filme com esse tema sem tocar nesse tipo de questão, O Último Imperador procura se focar mais na questão humana, no lado mais pessoal do monarca que se vê destituído de todos os seus poderes da noite para o dia terminando seus dias de vida como um simples jardineiro. Para quem era dono de um império continental é uma mudança brutal. Curioso é que nessa mudança de status um aspecto chama a atenção. Provavelmente se fosse um ocidental esse monarca decaído provavelmente faria alguma besteira com sua própria vida mas o modo de viver e pensar dos orientais é bem diferente do nosso, ele acabou aceitando a mudança. De certa forma até agradecido ao novo regime pois tinha caído em mãos de outro regime extremamente brutal, o soviético, que não pensou duas vezes em liquidar sua própria monarquia deposta, os Romanovs.
Deixando essa nuance mais filosófica de lado é importante chamar a atenção do espectador para a luxuosa produção de “O Último Imperador”. O filme foi o primeiro a ter autorização de realizar filmagens na chamada cidade proibida. Essa era uma enorme área no centro da capital chinesa ao qual era permanentemente proibida a entrada do povo chinês. Vivendo lá dentro com todo o luxo e riqueza que se podia imaginar, ficavam os nobres do país, completamente isolados da plebe. O local, hoje tornado atração turística, realmente dá uma dimensão da pompa e riqueza sem fim da dinastia chinesa. Tudo é ricamente trabalhado, detalhado, com uma arquitetura maravilhosa que chama muito a atenção por sua beleza e harmonia. Não é à toa que o filme tenha vencido tantos Oscars. Realmente é uma produção classe A, com o melhor que pode ter em termos de cinema espetáculo. O elenco de apoio também é excepcional, com destaque para o veterano Peter O´Toole, que a despeito dos anos ainda mantém todo seu talento intacto. O filme venceu todos os prêmios importantes em seu ano de lançamento, Globo de Ouro, Bafta, César e levou para o estúdio os Oscars de melhor filme, diretor (para o mestre Bertolucci), fotografia (Vittorio Storaro), direção de arte, figurino, edição, trilha sonora (que também levou o Grammy), melhor som e roteiro adaptado. Em suma, não deixa de conhecer esse maravilhoso momento do cinema da década de 80. Um filme com ares dos grandes épicos do passado.
O Último Imperador (The Last Emperor, Reino Unido, França, China, Estados Unidos, Itália, 1987) Direção: Bernardo Bertolucci / Roteiro: Mark Peploe, Bernardo Bertolucci / Elenco: John Lone, Joan Chen, Peter O'Toole, Ryuichi Sakamoto / Sinopse: Cinebiografia do último imperador da China, Aisin-Gioro Puyi (John Lone). Deposto por um novo regime ele passa seus últimos dias como um humilde trabalhador braçal em seu antigo império sob ruínas.
Pablo Aluísio.