Em grande parte do filme temos apenas dois personagens em cena. Ele são prisioneiros e estão dentro de uma cela. E são pessoas bem diferentes entre si. Valentin Arregui (Raul Julia) é um prisioneiro político. Socialista de formação, foi pego tentando passar um passaporte falso para outro companheiro de luta. Luis Molina (William Hurt) é um homossexual que seduziu um rapaz menor de idade. Acabou sendo condenado a oito anos de cadeia em uma prisão muito suja e super lotada. O filme não diz exatamente em que país eles cumprem pena, mas fica claro desde sempre que é no Brasil.
Precisando viver juntos, eles precisam superar as diferenças e acabam se tornando bem próximos. O personagem de William Hurt conta as histórias dos velhos filmes que assistiu no passado. Algumas vezes suas lembranças são deixadas de lado para a imaginação fluir e ele cria seus próprias enredos. Ele é um encarcerado, mas sua mente pode ir longe. O pior porém é que ele é levado pelo diretor da prisão a trair seu amigo de cela. Ele precisa trazer informações do preso político, saber suas conexões, uma espécie de traição sutil que vai desandar em um final trágico. Nesse aspecto o filme não nega suas origens bem teatrais pois tudo é desenvolvido em ambiente quase único, tudo fundado em ótimos diálogos.
"O Beijo da Mulher-Aranha" aliás foi o mais perto que o cinema brasileiro chegou de ganhar um Oscar. William Hurt venceu o Oscar de melhor ator naquele ano e fez uma saudação em português para o Brasil enquanto recebia o prêmio. O filme realmente é praticamente todo nacional, com elenco coadjuvante formado por atores brasileiros falando inglês e equipe técnica de nacionalidade verde e amarela. Então de fato, tirando Hurt e alguns outros profissionais estrangeiros, temos aqui um produto de nosso cinema. O resultado é dos melhores. O filme não envelheceu muito com o passar dos anos pela simples razão que é um daqueles filmes em que a atuação fica em primeiro plano. E nesse aspecto não há o que reclamar. É um belo momento do cinema brasileiro.
O Beijo da Mulher-Aranha (Kiss of the Spider Woman. Brasil, Estados Unidos, 1985) Direção: Hector Babenco / Roteiro: Manuel Puig, Leonard Schrader / Elenco: William Hurt, Raul Julia, Sônia Braga, José Lewgoy, Milton Gonçalves, Nuno Leal Maia, Fernando Torres, Herson Capri, Denise Dumont, Wilson Grey, Miguel Falabella / Sinopse: Dois prisioneiros vivem o drama de cumprir pena em uma prisão de um país da América Latina. Filme premiado com o Oscar na categoria de melhor ator (William Hurt). Também indicado nas categorias de melhor filme, melhor direção e melhor roteiro adaptado.
Pablo Aluísio.
O Beijo da Mulher-Aranha
ResponderExcluirKiss of the Spider Woman
Pablo Aluísio.
E o que significa o beijo da mulher-aranha? É a lágrima que desce na face antes da aranha matar sua presa na rede. Tal como o personagem de William Hurt antes de entregar Raul Julia para as autoridades da repressão do regime militar. Pouca gente pegou essa sutileza que o roteiro faz questão de não explicar no filme.
ResponderExcluirE a Sônia Braga? Ela está nas lembranças do Molina, nos filmes, mas surge bem caricata. Tudo bem, faz jus ao que o roteiro tenta passar, entretanto devo dizer, ela está bem canastrona no filme.
ResponderExcluirIsso mesmo. É o dilema da viúva-negra, onde o inseto lamenta, mas vai ter que devorar. Se bem que o personagem do William Hurt tem seu momento de redenção, nas ruas de São Paulo, fugindo da política local, dos gorilas da repressão. É uma história muito bem desenvolvida onde tudo está bem encaixado.
ResponderExcluirSobre a Sônia Braga... Bom, o roteiro pedia aquilo mesmo. As cenas dos filmes são meras lembranças na mente do William Hust e como tais elas surgem assim, caricatas, exageradas, com doses de canastrice. Ficou bem interessante esse aspecto do roteiro, embora passe longe de ser a melhor.
ResponderExcluirEu me lembro desse filme no seu lançamento. Não o assisti. Só depois de muitos anos acabei assitindo inteiro. Me arrependi. Tenho nojo ate hoje.
ResponderExcluirComo diz o ditado popular: "Cada cabeça, uma sentença". Uns gostam, outros não e o mundo segue girando...
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