Até o século X a Igreja não levou muito à sério a figura das bruxas. Elas já existiam como personagens de ficção na literatura há muito tempo, geralmente surgindo como antagonistas em contos e fábulas bem comuns na Europa medieval. Só a partir de alguns séculos depois foi que a Igreja começou a entender e associar os atos de bruxaria com heresias. Antes disso porém alguns estudiosos do tema afirmavam que o que era chamado de bruxaria nada mais era do que antigos rituais das religiões pagãs que tinham sobrevivido em cidades e vilas mais afastadas do continente europeu. O culto às forças da natureza provavam bem isso. Era uma espécie de revitalização de antigas deusas como Diana, por exemplo. Assim as autoridades da Igreja católica afirmavam que o ato de bruxaria certamente era um pecado, mas como pura mágica ou crentice não tinha como influenciar o mundo real e nem fazer o mal a quem quer que seja.
Curiosamente em países com influência nórdica começou a surgir a crença teológica que as mulheres que cometiam atos de paganismo estavam na verdade cultuando ao anjo caído, Satanás. Essa nova visão pregava que a bruxaria não era apenas um resquício pagão, mas sim um novo culto, de devoção ao diabo. A partir do século XIII essa visão foi se acentuando. Em 1258 o Papa Alexandre IV condenou toda prática mística que envolvesse atos de mágica, adivinhação e tentativa de contato com pessoas mortas. Em 1320 o Papa João XXII ficou extremamente preocupado ao ser informado de que atos de bruxaria estavam se espalhando em regiões da França, em especial Toulouse. Ele assim ordenou que autoridades religiosas do Vaticano fossem enviadas até lá para investigar tudo mais a fundo. Mesmo com o combate da Igreja contra esse tipo de prática ela não parecia surtir muito efeito. O Papa Nicolau V ficou extremamente irritado ao descobrir que a adivinhação por cartas ainda era muito comum em feiras mercantis por todo o continente.
Entre os séculos XIV e XV chegaram ao seio da Igreja diversos estudos e tratados sobre a bruxaria na Europa. Eles contavam que as mulheres que se dedicavam a esse tipo de coisa se diziam possuídas pelo próprio demônio, não apenas mentalmente, mas fisicamente também. Algumas iam além dizendo que tinham tido relações sexuais com seres das trevas. Havia também a descrição de inúmeros rituais de magia e feitiços, algo que alarmou a cúpula da igreja. Não era mais apenas uma questão de teologia, de paganismo ou algo semelhante. Era algo mais grave. Muitas mulheres confessaram que faziam parte de comunidades de adoração ao diabo que se reuniam para blasfemar contra Deus, a trindade e Maria, mãe de Jesus. De fato os velhos rituais pagãos tinham se tornado algo mais grave e severo, abraçando o satanismo em seus cultos. Era algo assustador.
Diante de tais relatos o Papa Inocêncio VIII editou a bula papal Summis desiderante affectibus que tinha como objetivo deter a proliferação de cultos satânicos por toda a Europa. Foram criados cargos de inquisitores para procurar, localizar, identificar e prender pessoas acusadas de bruxaria e satanismo pelas nações cristãs. A bula foi imediatamente apoiada por nobres e reis por toda a Europa. O imperador Maximiliano da Áustria, por exemplo, deu total apoio às novas medidas. Nesse mesmo ano foi publicado o livro Malleus Maleficarum, que passou a ser conhecido como "O Martelo das Bruxas" onde se procurava tratar a questão da bruxaria de forma codificada, estudada em cima de casos reais que aconteceram em cidades da Alemanha e Áustria. Esse livro escrito pela dupla de teólogos Krämer e Spengler afirmava que as bruxas existiam, faziam parte de grandes comunidades e que tinham como inspiração maior em suas vidas o próprio Satanás.
Com o livro em mãos qualquer inquisidor poderia identificar uma bruxa real ou um feiticeiro ou mago. Havia métodos de identificação, as principais características desses cultuadores do mal e elementos que provavam sua presença. Ignorar a existência de bruxas, de magia negra e de satanismo era por si só também um ato de heresia. Esse tipo de visão deu origem a uma série de perseguições por todo o continente, atingindo não apenas os católicos, mas também os protestantes que para muitos historiadores foram mais violentos e repressivos do que os próprios membros do catolicismo. Em países onde o protestantismo se disseminou a caça às bruxas deu origem à infame inquisição protestante que levou para a fogueira milhares de pessoas. A Europa passaria assim nas décadas seguintes por um novo e tenebroso período histórico de consequências imprevisíveis.
Pablo Aluísio.
Catolicismo em Maria
ResponderExcluirA história do Cristianismo.