segunda-feira, 20 de junho de 2011

Arquivos do Vaticano - Edição I

Arquivos do Vaticano V
Segue a seguir uma série de textos de natureza religiosa que escrevi para o blog Catolicismo em Maria. Os textos estão resgatados com a finalidade de arquivo pessoal de meus escritos.

Papa Francisco no Paraguai - Papa Francisco no Paraguai - Nessa galeria de fotos vemos a maravilhosa visita do Papa Francisco no querido país vizinho do Paraguai. Francisco foi recebido pelo povo paraguaio de braços abertos, visitou uma favela, exaltou a firmeza e a força da mulher daquela nação que precisou se reerguer após uma guerra terrível e ainda pediu perdão pelos erros do passado em relação aos nativos da região. Essa visita marcou o fim de seu giro pela América do Sul, que começou pelo Equador, Bolívia e Paraguai. Muitos brasileiros e argentinos participaram de longas caravanas para encontrar o carismático Papa argentino. Ao fim dos trabalhos Francisco reconheceu que havia sido uma viagem que lhe exigiu muito fisicamente. A um padre amigo confidenciou que estava esgotado. Agora o nosso querido Papa retorna para o Vaticano, na paz de Deus! (fotos:

Papa Francisco na Bolívia
Dando prosseguimento em sua viagem pelos países da América do Sul o Papa Francisco chegou hoje na Bolívia. Em seu primeiro discurso no país o Papa elogiou os esforços que estão sendo feitos no sentido de incluir todos os cidadãos bolivianos na vida econômica, política e social daquela nação. O Papa Francisco ressaltou também a importância da liberdade de opinião de todos, inclusive dos membros do clero católico, que foram incentivados a se tornarem membros ativos daquela sociedade, opinando e comentando não apenas questões religiosas, mas públicas também. Com um pequeno atraso o Papa chegou na capital da Bolívia que é situada a quase 12 mil pés acima do nível do mar. Havia uma preocupação com o fato do Papa já ter 78 anos e apenas um pulmão para enfrentar o desafio de resistir ao natural cansaço causado pela grande altitude. Sua viagem entre Quito e La Paz durou três horas, mas a despeito de todo o esforço o Papa demonstrou grande força de vontade em saudar todos os que estavam à sua espera, por todo o trajeto que o levou do aeroporto ao lugar onde ficará durante sua breve visita.

O presidente boliviano Evo Morales recebeu o Papa no aeroporto, com honras de chefe de Estado. Embora tenha tido ao longo desses anos uma relação bastante conturbada com certos bispos da Igreja, Morales se mostrou muito satisfeito com a visita do Papa e o teceu de elogios para a imprensa local e internacional. A um jornalista estrangeiro disse: "Quem trai um pobre, também trai o Papa Francisco". Depois dirigindo-se diretamente ao Papa Francisco declarou: "Irmão papa: Em muitos momentos históricos, a igreja foi utilizada para a dominação, subjugação e opressão. Agora, o povo boliviano o recebe com esperanças e alegria. O povo boliviano o vê como o representante máximo da Igreja Católica, que veio à Bolívia para ajudar na libertação de nossos povos." O fato mais comentado foi um presente que o presidente da Bolívia deu ao Papa, uma imagem de Jesus Cristo crucificado sobre a foice e o martelo, símbolos máximos da ideologia comunista. O presente causou estranheza entre os convidados e o Papa não escondeu sua surpresa ao ter que lidar com tão diferente e pouco usual peça de arte.

A convivência entre a Igreja Católica e o governo boliviano não tem sido muito pacífica nos últimos anos, principalmente pela resistência que determinados líderes religiosos se empenham contra certos atos autoritários de Evo Morales. Diante disso o Papa não deixou passar a oportunidade de reforçar mais uma vez a questão da liberdade religiosa como um dos pilares de toda democracia sadia e forte. "A Igreja Católica tem raízes profundas no povo e na cultura dessa nação" - ponderou Francisco. Depois concluiu: "A voz dos bispos católicos deve ser profética, falando abertamente com a sociedade boliviana em nome de nossa Igreja, nossa mãe. Devemos priorizar a mensagem evangélica em prol dos mais pobres". O Papa Francisco ainda deixou claro que deve haver uma cooperação cívica em caminho ao diálogo envolvendo todos os setores da sociedade boliviana, seja por parte do governo, do povo ou da igreja.

Por fim o Papa Francisco tocou em um tema relevante ao dizer que o trabalho é fator essencial para o desenvolvimento integral de cada pessoa e por isso todos os esforços devem trilhar nesse objetivo. Também é necessário que o Estado e a Igreja tenham em comunhão  especial cuidado pela proteção das pessoas mais vulneráveis, pelos pobres e desassistidos. Para Francisco não é possível crer em Deus Pai e ao mesmo tempo virar o rosto para essas pessoas. Devemos ver cada um membro da sociedade como nosso irmão e irmã. É necessário que o verdadeiro cristão doe sua vida ao próximo, como assim fez Jesus, que morreu na cruz por todos nós. Continuando seu discurso Francisco ressaltou mais uma vez o papel do Estado na busca pelo fim das desigualdades sociais. Para Francisco as leis e a constituição precisam reconhecer os direitos individuais, principalmente os das minorias. Além disso as instituições democráticas precisam ser fortes o suficiente para pavimentar o caminho em direção a concretização de todas essas providências importantes. O Papa também não deixou o meio ambiente de lado e chamou a atenção para a preservação ambiental como um forma de respeito à criação de Deus. Por fim Francisco reforçou a ideia de que os valores morais e familiares precisam ser fortalecidos a cada dia. "Numa época em que os valores básicos são muitas vezes negligenciados ou distorcidos, os méritos da família precisam ser cada vez mais valorizados. A família é a célula básica da sociedade" - concluiu o sumo pontífice.

Papa Francisco no Equador - O Papa Francisco começou sua viagem pela América do Sul. O primeiro país visitado é o Equador. A missa realizada no dia 7 de julho foi celebrada em comemoração ao bicentenário de Quito, capital da nação equatoriana. Na ocasião o Papa Francisco realçou a importância dos católicos de todo o mundo se unirem para levar adiante a palavra e a fé em Cristo. Para o Papa o momento é de superar velhas diferenças, antigas brigas, valorizando a paz e o anseio humano em busca da felicidade. O Papa ressaltou que isso não significa olhar o mudo de forma fantasiosa, como se estivesse vendo a realidade ao redor com um óculos de lentes cor-de-rosa, mas sim abraçar o sonho e a capacidade de seguir em frente em busca de um mundo melhor. "O mundo não é perfeito, existem falhas e erros sociais graves, mas devemos seguir o exemplo de Cristo, que amou o mundo e a humanidade como criação de Deus." - Explicou Francisco. 

O Papa resolveu homenagear a cultura do país vestindo uma roupa papal com detalhes de cultura equatoriana. Depois Francisco se dirigiu à multidão que o aguardava para seguir em sua pregação. "Não devemos ignorar que existem muitos problemas no mundo. Não podemos fingir que não vemos as dificuldades pelas quais muitos passam. É justamente nesse mundo conturbado que devemos viver e melhorar a cada dia. Ao invés de só reclamarmos é importante responder aos desafios, aceitando a graça de Deus em sermos construtores de um mundo melhor" - explicou o Papa. Francisco deixou claro a necessidade de evangelizar até como forma de promover uma nova revolução nas mentes e corações dos homens ao redor do mundo. A busca pela palavra do evangelho e a forma como ele entra na vida das pessoas é a nova revolução proposta pelo Sumo Pontífice.

Autoridades locais estimam que entre 800 mil a 1 milhão de pessoas compareceram ao evento. O país, um dos maiores exportadores de flores do mundo, caprichou na decoração, criando um verdadeiro tapete de pétalas de rosas espalhadas ao longo do trajeto do papa pela capital do país. O Papa Francisco fez questão que todos os setores da comunidade equatoriana estivessem presentes na missa. Grupos étnicos e sociais se fizeram representar. Visitantes de outros países sul-americanos também participaram de grandes caravanas em direção à capital equatoriana. Os membros do clero católico na região propuseram que a segunda leitura na missa fosse realizada na nativa língua Kichwa. O Papa adorou a sugestão e assim foi feito. Para reforçar ainda mais a identidade com o povo local Francisco se apresentou com uma roupa especial para o evento, com design indígena, próprio dos criadores de artesanato de Quito.

Na homilia o Papa relembrou da oração de Jesus na última ceia, quando ele proclamou suas preces com uma voz baixa e com um semblante de reflexão espiritual profunda. Para Francisco a oração quase silenciosa foi na verdade um grito de Jesus em direção à sua natureza divina. Para o Papa o desejo de unidade de todos os cristãos do mundo deve ser pavimentado também pela alegria reconfortante da evangelização. "Jesus nos consagrou para que possamos encontrá-lo pessoalmente. Esse encontro com Jesus também nos leva ao encontro do próximo, do nosso semelhante. Isso envolverá uma paixão coletiva do mundo em busca da evangelização." - Concluiu Francisco.


Papa Francisco e o casamento - O Papa Francisco afirmou hoje que, em casos extremos, quando é moralmente necessária a separação de um casal, os pais precisam ter a plena consciência do sofrimento que o fim de um casamento pode causar em seus filhos. O Papa Francisco explicou que em determinados casos, principalmente quando envolve situações de grave violência, a vida conjugal se torna impossível, o que abriria as portas para uma separação moralmente necessária entre o casal. O Papa exemplificou que o modelo sadio de família nem sempre ocorre no mundo real. Quando ao invés de amor, compreensão e paz surge a briga, a discórdia e as ofensas entre marido e mulher a situação se torna muito danosa para os filhos que acabam arcando com o maior sofrimento psicológico dentro dessa família. O Papa explicou a situação ao afirmar que as mágoas geralmente crescem com o tempo e quando não podem mais ser corrigidas, sendo ao invés disso negligenciadas, a vida do casal só tende a piorar. Com o passar dos anos tudo se transforma em arrogância, hostilidade e desprezo. Nesse ponto o amor que uniu o casal se rompe, criando lacerações profundas que dividem definitivamente marido e mulher, levando-os a procurar outro lugar para a compreensão, o apoio e a consolação. Quando isso acontece é melhor pensar no bem da família.

O Papa Francisco então explicou que nesse ponto os casamentos ficam esvaziados do verdadeiro amor conjugal. O ressentimento só cresce e a desintegração dos laços do casal acaba atingindo também os filhos. Muitos pais ficariam até mesmo anestesiados em relação às feridas que são abertas na alma de seus filhos. Isso porém não pode ser deixado de lado e tampouco se pode curar sua dor com presentes ou guloseimas. São feridas dolorosas e profundas, acrescentou Francisco. Assim é necessário uma profunda reflexão para que o peso da separação não esmague o espírito das crianças. Francisco afirmou: "Quando os pais perdem a cabeça, quando cada um começa a pensar apenas em si mesmo e tendem a se machucar um ao outro, se ofendendo mutuamente, as crianças é quem acabam sofrendo mais. Muitas delas experimentam uma verdadeira sensação de desespero por causa de tudo o que acontece ao seu redor".

Para o Papa Francisco a dor da separação deixa sempre uma marca para toda a vida na alma dos filhos. Muitos escondem o que sentem e choram sozinhos, por eles mesmos. Para o Papa Francisco esse tipo de ferida espiritual acaba afetando toda a família. "Marido e Mulher formam uma só carne" - explicou Francisco - "Assim seus filhos também são carne de sua carne. Numa separação todos sofrem, a dor e o abandono causam marcam profundas, ficam gravadas na carne viva de seus filhos".

O Papa Francisco então citou o Evangelho de Mateus, mostrando a importância do vínculo matrimonial como fundamento da vida familiar, mas lembrou também que em determinadas situações o casamento se torna impossível de seguir em frente. Francisco disse: "Há casos em que a separação é inevitável. Em determinados momentos a separação se torna moralmente necessária, principalmente quando há violência, humilhação e exploração, além de negligência e indiferença". Para Francisco a separação porém não significa o fim de vínculo matrimonial pois os cônjuges mesmos separados podem evitar novos relacionamentos. "Pessoas separadas podem, sustentadas em sua fé, optar apenas pelo amor de seus filhos. Seria um testemunho de sua fidelidade, naquilo que acreditam, mesmo com um casamento impossível de se reerguer". O Papa porém reconheceu que nem sempre isso acontecerá. "Nem todos os cônjuges separados, no entanto, sentem esta vocação. Nem todo mundo reconhece, na (sua) solidão, uma chamada do Senhor dirigida e cada um deles". Por fim o Papa pediu a Deus que olhe por essas famílias, que a e sua misericórdia eterna ajude a todos passarem por esse momento tão complicado na vida de cada pessoa que vê seu casamento ruir após anos de sonhos e esperanças.

Papa Francisco e o Sudário - O Papa Francisco tocou em silêncio o Santo Sudário e dedicou alguns minutos para uma oração em silêncio durante sua visita à exposição da histórica peça em Turim, na Itália. O Papa fez uma visita muito especial para rezar e ter alguns momentos de reflexão perante uma das mais famosas relíquias do cristianismo. Segundo a tradição esse pano teria sido usado no corpo de Jesus após sua crucificação. Até hoje cientistas e pesquisadores ainda não conseguiram chegar a uma conclusão sobre a maneira como a imagem que está no linho surgiu. Para o Papa Francisco essa é uma questão de menor importância pois ele qualifica a peça como um "Ícone do amor". É um símbolo de fé e de crença em Jesus Cristo e sua paixão, acima de tudo.

Depois, durante uma breve declaração, o Papa Francisco afirmou que todos os seus pensamentos estavam também em Maria, mãe amorosa e atenta a todos os seus filhos, a quem Jesus confiou na cruz, enquanto ele oferecia a si mesmo, no maior ato de amor pela humanidade. Para o Papa Francisco o Santo Sudário seria assim o "ícone do amor" de Cristo por sua criação. A presença do Papa na cidade de Turim levou mais de cem mil pessoas aos arredores da famosa catedral onde o Santo Sudário está exposto desde o dia 19 de abril.

Depois da visita o Papa Francisco ainda reservou um breve momento para prestar sua homenagem a um jovem nativo de Turim, um rapaz chamado Pier Giorgio Frassati que morreu com apenas 24 anos, em uma existência marcada pela ajuda aos mais pobres. Em seguida, durante sua homília, o Papa Francisco lembrou a todos os presentes dos três mais importantes aspectos do amor de Deus: O amor do Altíssimo é fiel, criou todas as coisas e é eterno.


Papa Francisco e o clero romano - O Papa Francisco se reuniu nesse domingo com membros do clero católico na Arquibasílica de São João de Latrão em Roma. O encontro contou com mais de mil sacerdotes provenientes de mais de noventa países. O Papa Francisco aproveitou o momento para em duas horas ministrar uma grande palestra para os presentes. Os sacerdotes estão reunidos para um retiro patrocinado pela Renovação Carismática Católica Internacional e pela Fraternidade Católica. O tema era a evangelização. Mas o Papa aproveitou a oportunidade para falar sobre uma variedade de outros temas também. O Papa começou chamando a atenção para o ambiente interno da Igreja. Em sua maneira de ver os pensamentos diferentes entre os membros do clero são bem-vindos. É natural que dentro da própria Igreja existam opiniões diferentes, argumentos diversos. Para o Papa uma Igreja sem esse tipo de contraste de ideias está morta, é um cemitério. Depois o Papa ressaltou mais uma vez a importância do papel das mulheres dentro da Igreja. "Elas são uma graça, afinal a Igreja é mãe, noiva, mais importante dos que os próprios apóstolos." - explicou o Papa.

Após essa abertura Francisco chamou atenção para que todos os sacerdotes sempre coloquem Deus em primeiro lugar nas suas vidas. Mesmo quando estão cansados, mesmo quando caírem em pecado, o sacerdote católico não pode desanimar de sua missão e nem ter medo de Deus. Para o Papa, Deus está sempre disposto a ajudar, a ouvir os choros e os pedidos de perdão. "Deus é terno e misericordioso!" - explicou Francisco. Um dos aspectos mais interessantes desse encontro é que o Papa fez questão de que os bispos se sentassem ao lado dos padres na plateia, todos misturados. Nada de lugares reservados ou lugares Vips. Essa foi a forma encontrada por Francisco para que todos estivessem e se sentissem no mesmo plano de importância, independente de seu título ou cargo dentro da Igreja Católica. O Papa Francisco aproveitou inclusive para fazer algumas comparações divertidas entre as diferenças entre padres e bispos dentro da hierarquia da Igreja, demonstrando no final de tudo que não deveria haver diferenças, já que todos eram iguais perante Deus.

O Papa Francisco deixou claro que o caminho do evangelho passa pelo amor, pelo cuidado para com os fiéis, em especial idosos, doentes, pessoas pobres e sem recursos. Para ele não pode haver escárnio ou desprezo dentro de um verdadeiro caminho que leve a Deus. Isso não seria o verdadeiro evangelho. Francisco ressaltou: "Existe tanta miséria no mundo! Essa miséria não é apenas material, está inclusive na alma dos ricos! Como eu desejaria que todos fossem livres e não escravos de seu próprio dinheiro". Depois Francisco dedicou algumas palavras sobre a Encíclica sobre o meio ambiente que será lançada na próxima semana. Francisco deixou claro que deseja que sua mensagem chegue aos mais diversos recantos do mundo, inclusive na África, continente que ele revelou ter vontade de conhecer em breve, talvez no outono próximo. O Papa aproveitou ainda a oportunidade para comunicar que muito provavelmente visitará a República Centro-Africana, Uganda e Quênia. Também chamou a atenção para os diversos problemas que muitos países africanos enfrentam na atualidade. O Ocidente deve olhar para o continente e promover políticas de ajuda, evitando assim que o número de refugiados aumente a cada ano.

Por fim, depois de falar por mais de duas horas, o Papa Francisco disse que iria terminar seu discurso para não aborrecer os membros do clero que estavam presentes. Todos riram. O Papa se despediu lembrando da importância da festa do sagrado coração de Jesus e do dia mundial de oração para a santificação dos sacerdotes que está sendo celebrada nas mais diversas paróquias católicas ao redor do mundo. Finalizando Francisco deixou as seguintes palavras: "Deixe-se ser amado por Deus! Sua presença nos atrai para os laços do amor. Ele veio ao nosso mundo e nos libertou da escravidão do pecado"

Papa Francisco na Bósnia - O Papa Francisco está nesse fim de semana na Bósnia-Herzegovina fazendo uma visita ao país que durará apenas um dia. A região é uma das mais instáveis do ponto de vista político e militar e 20 anos depois de um conflito sangrento entre as diversas etnias que compõe sua população ainda existem cicatrizes causadas pela guerra. Durante os anos em que durou a guerra, milhares de pessoas perderam suas vidas. O Papa Francisco está na Bósnia justamente para trazer uma mensagem de paz e reconciliação para aquele povo já tão sofrido. Em seu primeiro discurso do dia o Papa afirmou para todos os presentes: "Para superar o medo, a discriminação e o conflito todos devem ter um profundo desejo de abrir seu coração a Deus e a sua misericórdia. A paz deve ser trabalhada todos os dias, ativamente! Deus deseja a paz para toda a sua criação. Infelizmente isso nem sempre acontece, por causa da oposição que nasce dentro da própria humanidade". Depois o Papa chamou a atenção para a crise de paz que vive o mundo atualmente: "O mundo hoje está enfrentando uma espécie de terceira guerra mundial fragmentada. Existe uma atmosfera de guerra no ar! Devemos lutar contra essa situação" - alertou Francisco.

Para simbolizar esse estado de coisas o Papa Francisco pediu que fosse colocada no altar uma cruz cravada de balas, da época da guerra na Bósnia. Um símbolo poderoso da força de Deus, mesmo em épocas incertas, de muita violência. Também fez questão de chamar a atenção para os imensos cemitérios por toda a cidade. O número de mortos durante a guerra foi tão elevado que parques e praças públicas acabaram virando cemitérios improvisados para enterrar todos os mortos daquele terrível conflito. Também chamou a atenção do Papa as marcas da guerra que ainda estão em todas as partes, nas casas e nos edifícios cheios de buracos de artilharia pesada. Um triste cenário de morte e destruição que serve como alerta para as novas gerações. Estima-se que mais de cem mil pessoas morreram e mais de 2 milhões se tornaram refugiados de guerra, saindo de suas casas, procurando segurança em lugares onde batalhas não estavam sendo travadas. O Papa lembrou disso ao afirmar: "A guerra também significa que crianças, mulheres e idosos se tornarão refugiados. Deixarão seus lares para sempre. Os campos de refugiados, os deslocamentos forçados de grandes populações, as cidades destruídas, as ruas, as fábricas, isso tudo é o lado mais terrível da guerra. São incontáveis as vidas que são destroçadas em uma guerra como essa!".

Francisco então lembrou as palavras do próprio Jesus: "Bem-aventurados os pacificadores." Para Francisco, Jesus não estava se referindo aos pregadores da paz, sendo que muitos deles realmente não passam de hipócritas, mas sim aos verdadeiros pacificadores, aos que fazem a paz, que colocam fim às guerras. O Papa então salientou que alcançar a paz não é algo fácil. A pacificação exige paciência, experiência, paixão e tenacidade. É um objetivo que precisa ser buscado todos os dias, passo a passo. "A paz é um passo vital para a humanidade. Esse caminho é árduo, mas não pode ser ignorado. A paz passa pela conversão pessoal de cada um, pois nada pode mudar no mundo sem antes se transformar dentro do coração humano. É dentro do coração de cada um de nós que se abre o verdadeiro espaço a ser ocupado por Deus e sua misericórdia" - afirmou o Papa Francisco em sua homilia. 

A cerimônia do Papa Francisco na Bósnia atraiu uma multidão que o saudou durante toda a visita. Um coral ecumênico de 1600 pessoas de diversas religiões se apresentou. Representantes da Igreja Ortodoxa Sérvia estiveram presentes. Altas autoridades da Bósnia, inclusive seus líderes dos principais poderes de Estado, acompanharam o Papa durante toda a missa. O Papa chamou a atenção para os sorrisos e faces de alegria e esperança dos pequenos bósnios que encontrou pessoalmente. As principais autoridades religiosas do país, inclusive líderes muçulmanos, fizeram questão de estar na presença do Papa para agradecer e apoiar sua mensagem de paz para todos os católicos, islâmicos e ortodoxos da Bósnia. O clima de paz e harmonia encantou o Papa que finalizou dizendo: "Hoje eu vi esperança nos olhos das crianças desse país. Essa é a semente da paz, da esperança. Vamos apostar tudo nisso! Esse tipo de sentimento que vem do coração vai unir a todos. A beleza da harmonia e a melodia sublime da criação de Deus vai superar todos os gritos de ódio dos fanáticos". Ao dizer essas inspiradoras palavras o Papa Francisco foi ovacionado por todos os presentes e a multidão que lotou o estádio para ver e ouvir o Sumo Pontífice em sua peregrinação pela paz.

Papa Francisco e as famílias - Nessa semana o Papa Francisco fez uma análise dos fatores que estariam destruindo as famílias ao redor do mundo. Para Francisco a guerra se tornou a grande mãe de todas as formas de pobreza e a principal destruidora de famílias. Em países onde existem  guerras civis é rotina que famílias inteiras deixem seus lares e fujam, se tornando refugiadas. Em outros países essas famílias são discriminadas por causa de sua origem, pobreza e falta de perspectivas. O abandono e a destruição dos laços familiares assim se torna uma constante, uma grande tragédia para a humanidade. "A Guerra é sempre algo muito terrível" - afirmou o Papa - "É um grande ceifador e predador de vidas e de almas. A alma humana é o bem mais precioso da nossa existência". A fuga da terra natal gera incertezas e insegurança para centenas de milhares de famílias, principalmente no Oriente Médio e Africa, onde atualmente se desenvolvem guerras civis sangrentas e sem perspectivas de uma solução a curto prazo. A situação em muitas regiões é simplesmente desesperadora. Além disso há uma onda de imigração em direção à Europa, muitas famílias se arriscam em travessias pelo Oceano, sem esperanças de que realmente irão sair vivas desse tipo de ato de extremo desespero.

Do lado ocidental o Papa chamou a atenção para a sociedade de consumo que está passando por cima até mesmo dos valores familiares tradicionais. A ganância por poder e dinheiro, o culto a uma aparência de riqueza e ostentação e a falta de valores morais estão corroendo a base tradicional da família. Para o Papa é quase um milagre que no meio de tudo isso ainda existam famílias unidas, amorosas e religiosas. "Devemos nos ajoelhar perante essas famílias que ainda se conservam puras e dignas perante Deus. Elas se tornaram as verdadeiras escolas da humanidade, as bases que estão salvando a nossa sociedade da barbárie" - observou o Papa. Muitas dessas famílias são pobres, mas mesmo assim conseguem viver com grande dignidade, colocando a plena confiança em Deus. Para o Papa isso criou um verdadeiro alicerce que sustenta toda a nossa sociedade.

Para o Papa a pobreza deve ser combatida, os Estados precisam colocar em prática políticas públicas que a combata. "Muitas famílias vivem em extrema pobreza, mas são exemplos de dignidade. No entanto não podemos ver a miséria como algo banal, gerando nossa indiferença. Pelo contrário, temos que ter vergonha da extensa miséria que ainda assola o nosso mundo" - observou Francisco. A violência e o culto ao dinheiro devem ser combatidos, ao mesmo tempo em que todos devem ter os meios para viverem vidas dignas. O Papa apontou uma contradição existente em muitas políticas econômicas ao redor do planeta ao afirmar: "As economias priorizam o bem-estar individual, mas ao mesmo tempo incentivam a exploração das pessoas. Os governos seguem ignorando a importância da família em suas análises e balanços econômicos, o que é uma enorme contradição". Para Francisco os responsáveis pela vida pública precisam adotar políticas que valorizem os laços sociais. Para o Papa "A luta contra a pobreza não pode ser feita apenas pensando em colocar o pão de cada dia em cima da mesa, mas sim em gerar empregos, estabilidade, educação, saúde, habitação e transporte para todos".

Para o Papa Francisco a família também está sendo alvo de deturpações pelos meios de comunicação em massa. Está se criando falsos modelos de famílias baseados em puro consumismo e culto da aparência. Isso acaba criando um grande abalo, principalmente nas famílias mais pobres que não conseguem manter um alto padrão de consumo. O garoto pobre que não pode ter a roupa de marca, a jovem humilde que é bombardeada pelos meios de publicidade para ter aquilo que não precisa e não pode ter. Isso tudo acaba gerando uma tensão dentro das famílias. O pai e a mãe que não possuem muitos recursos são pressionados pelos filhos para dar a eles um padrão financeiro fora de suas possibilidades. Ao invés de valorizarem o amor familiar muitos jovens se tornam revoltados por sua condição social. Para o Papa a sociedade precisa se unir para combater a pobreza e esse tipo de modelo de "falsa felicidade familiar". O Papa assim terminou seu pensamento exaltando a todos os católicos do mundo para que se unam contra a miséria material e espiritual dentro da sociedade.

Papa Francisco e o caminho da salvação - O Papa Francisco hoje tocou em um tema importante. Muitas vezes no caminho da salvação podemos cometer erros e falhas, mas Deus em sua imensa sabedoria usa esses tropeços pessoais de cada um para a transformação do ser humano. Seria uma maneira de Deus manifestar seu grande amor pela humanidade. Para ilustrar seu pensamento o Papa Francisco usou como exemplo a parábola dos maus lavradores no evangelho de Marcos. Nesse trecho do evangelho Jesus conta a história do dono de um vinhedo. Ele tem um grande sonho para suas terras. Ele prepara as sementes e cuidadosamente prepara a terra, mas erra ao escolher arrendar as suas vinhas para maus lavradores que começam a matar todos aqueles que ele envia para receber sua parte, até mesmo seu filho. Embora todo o seu planejamento tenha sido certo um erro eventual pode colocar tudo a perder. 

Assim está explicado no Evangelho de Lucas 20:9-18: "Então Jesus passou a contar ao povo esta parábola: "Certo homem plantou uma vinha, arrendou-a a alguns lavradores e ausentou-se por longo tempo. Na época da colheita, ele enviou um servo aos lavradores, para que lhe entregassem parte do fruto da vinha. Mas os lavradores o espancaram e o mandaram embora de mãos vazias. Ele mandou outro servo, mas a esse também espancaram e o trataram de maneira humilhante, mandando-o embora de mãos vazias. Enviou ainda um terceiro, e eles o feriram e o expulsaram da vinha. "Então o proprietário da vinha disse: 'Que farei? Mandarei meu filho amado; quem sabe o respeitarão'. "Mas quando os lavradores o viram, combinaram uns com os outros dizendo: 'Este é o herdeiro. Vamos matá-lo, e a herança será nossa'. Assim, lançaram-no fora da vinha e o mataram. "O que lhes fará então o dono da vinha? "Virá, matará aqueles lavradores e dará a vinha a outros". Quando o povo ouviu isso, disse: "Que isso nunca aconteça!" Jesus olhou fixamente para eles e perguntou: "Então, qual é o significado do que está escrito? 'A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular.' Todo o que cair sobre esta pedra será despedaçado, e aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó".

Para o Papa Francisco o erro, a falha, faz parte da experiência humana na Terra. Mesmo que todos os cuidados sejam tomados, sempre poderá haver erros, como no caso do dono do vinhedo. Ele fez tudo certo, mas errou ao escolher os lavradores errados, homens maus e criminosos em seus atos. Para Francisco as falhas e erros também fazem parte da salvação. O sonho de Deus é que todos os homens alcancem a salvação eterna, mas sabe que muitos errarão e falharão pelo meio do caminho. Francisco lembrou que a própria história da humanidade reflete isso, com muito derramamento de sangue, guerras, violência e assassinatos. Isso vem desde tempos remotos, do começo da vida do homem. Um exemplo vem do primeiro livro da Bíblia quando Abel foi morto por Caim.

O Papa Francisco lembrou que na Bíblia há muitos lamentos de Deus por causa das falhas de seu povo. Homens e mulheres que se tornaram incapazes de se libertarem dos erros, de seus desejos equivocados. "A história da salvação poderia muito bem ser chamada também de a história de fracasso" - observou o Papa. Assim é preciso que o fiel entenda que muitas vezes tropeçará no meio de sua longa caminhada. Cairá ao chão, pensará que tudo está perdido. É necessário nesses momentos levantar a cabeça, olhar para Deus e pedir sua ajuda para superar todos os seus erros e falhas. A chave para superar tudo é o amor. A morte de Jesus na cruz foi o maior exemplo de amor de Deus para com todos os homens. "Esse é ponto em que o amor vence! A história começa como um sonho de amor de Deus para com todos nós. Depois se desenvolve com muitas falhas e fracassos do homem, mas Jesus e seu exemplo marcam a vitória do amor, o amor de Deus representado pela cruz de Cristo superando todos os erros dos homens" - explicou o Papa Francisco.

Na párabola Jesus fala de uma "pedra que teria sido rejeitada pelos construtores". Essa pedra é o próprio Cristo, que foi rejeitado, julgado e morto pelos homens. Depois essa mesma pedra se torna "a pedra angular", ou seja, a mais importante de toda a construção. "A salvação se firma assim através da rejeição de Cristo. Através de Jesus todos serão salvos" - concluiu o Papa Francisco. Por fim o Papa lembrou a todos que "O caminho para nossa salvação é uma estrada em que existem muitas falhas". Isso porém não deve ser um fator para desanimar ou paralisar o cristão. Ele deve se levantar, seguir em frente, sempre pedindo a Deus para superar todos esse problemas, esses erros e essas falhas que afinal todos cometemos. Superar um erro e uma falha também é um passo a frente em busca da salvação eterna.

Papa Franciscoe o Olhar de Jesus - Na semana em que o Papa Francisco foi eleito o líder mundial mais influente do Twitter, com mais de 20 milhões de seguidores ao redor do mundo, ele resolveu tecer algumas palavras sobre Jesus e sua capacidade de mudar a vida das pessoas com o poder infinito do perdão de Deus. Afirmou o Papa Francisco: "O Olhar de Jesus pode mudar a vida de uma pessoa, assim como ele mudou o próprio São Pedro". Depois continuou: "O Olhar de Jesus sempre nos olha com amor. Ele nos perdoa e nos dá uma nova missão de vida". Para o Papa todos os católicos devem receber Jesus e seu olhar em seus corações, principalmente com a oração da eucaristia: "Senhor, tu estás aqui entre nós. Fixa seu olhar em mim e me diga o que devo fazer, como eu deve chorar pelos meus erros, meus pecados, e com que coragem devo continuar no caminho que você percorreu antes de mim!"

Para sua homilia matinal o Papa lembrou um trecho bastante importante do evangelho, João 21:14-19 que diz: "Jesus aproximou-se, tomou o pão e o deu a eles, fazendo o mesmo com o peixe. 14 Esta foi a terceira vez que Jesus apareceu aos seus discípulos, depois que ressuscitou dos mortos. 15 Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: "Simão, filho de João, você me ama realmente mais do que estes? " Disse ele: "Sim, Senhor, tu sabes que te amo". Disse Jesus: "Cuide dos meus cordeiros". 16 Novamente Jesus disse: "Simão, filho de João, você realmente me ama? " Ele respondeu: "Sim, Senhor tu sabes que te amo". Disse Jesus: "Pastoreie as minhas ovelhas". 17 Pela terceira vez, ele lhe disse: "Simão, filho de João, você me ama? " Pedro ficou magoado por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez "Você me ama? " e lhe disse: "Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que te amo". Disse-lhe Jesus: "Cuide das minhas ovelhas. 18 Digo-lhe a verdade: Quando você era mais jovem, vestia-se e ia para onde queria; mas quando for velho, estenderá as mãos e outra pessoa o vestirá e o levará para onde você não deseja ir".19 Jesus disse isso para indicar o tipo de morte com a qual Pedro iria glorificar a Deus. E então lhe disse: "Siga-me!"

Para o Papa Francisco esse trecho é bem importante porque revela o poder da troca de olhares entre Jesus e Pedro. Nele Jesus pergunta por três vezes a Pedro se ele o ama. Quando Jesus pergunta pela primeira vez fixa seu olhar sobre Pedro e diz "Você é Simão, filho de João. Você será chamado de Pedro". Para o Papa Francisco esse olhar juntamente com a frase que dirige a Simão mostra que Jesus está determinando uma missão para seu apóstolo. "Foi esse primeiro olhar que determinou a missão de Pedro no mundo" - concluiu o Papa. Há assim uma estreita relação entre as três perguntas que Jesus fez a Pedro e as três negações que seu apóstolo fez quando o Messias foi preso. Foi uma maneira de Jesus em redimir e perdoar as negações de Pedro naquela noite triste, mostrando que o simples olhar de Jesus é capaz de mudar os rumos da vida de um pecador. Ao negar Jesus três vezes e depois afirmar três vezes que o amava, Pedro estaria perdoado por suas negações anteriores. Assim também acontece com os homens. Mesmo que tenham negado a Jesus várias vezes o Salvador está sempre pronto a perdoar, desde que a reconciliação com o Senhor seja sincera, vinda diretamente do coração.

Catedral Medieval de Reims
Uma das mais belas catedrais da Europa situa-se em Reims, França. Dedicada a Nossa Senhora, a magnífica obra religiosa foi erguida pela primeira vez em 401. No lugar havia um antigo templo pagão romano. As autoridades da Igreja Católica então resolveram erguer no mesmo terreno uma igreja realmente majestosa, simbolizando a grandeza do cristianismo sobre as antigas religiões sem Deus que varriam a Europa desde tempos imemoriais. Nessa Igreja, que se tornaria a preferida dos monarcas franceses, vários reis da dinastia carolíngia seriam coroados. Em 1211 um incêndio destruiu a maravilhosa obra, mas o povo de Reims se uniu e conseguiu reerguer a igreja, dessa vez de forma ainda mais majestosa. A catedral hoje em dia faz parte do patrimônio cultural da humanidade, sendo considerada uma das mais belas igrejas do continente europeu.

Pablo Aluísio.

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