Eu fico muito entristecido quando vejo pessoas - algumas até queridas, de meu círculo social - usando a fé como fonte de comércio. É o infame comércio da fé. Não preciso apontar o dedo para a Igreja A ou B pois acredito que todos saibam muito bem do que estou dizendo. Exemplos não faltam. É algo que no Brasil perdeu o controle. Mal fecha um mercadinho, um cinema ou uma bodega qualquer e de repente lá temos mais uma Igreja de ocasião, geralmente visando única e exclusivamente o dinheiro dos potenciais fiéis que venham a aparecer. Na revista Veja vi até mesmo o caso de um profissional que atua em Rio e São Paulo que é contratado exclusivamente para dar nomes a Igrejas - geralmente fundadas por ex-comerciantes que viram seu comércio ir a falência. Assim ao invés de abrir um mercadinho ou uma padaria essas pessoas resolvem abrir Igrejas, afinal o custo é baixo - vai se gastar apenas com cadeiras e alguns outros equipamentos - e não haverá qualquer custo com matéria prima uma vez que só se está vendendo fé e essa não tem fornecedor. Além disso não se paga impostos. Por outro lado se terá um dízimo muito atraente todos os meses.
E Jesus onde está? Jesus nesses lugares é apenas uma marca, um chamariz para se atrair mais clientes, digo, fiéis. É uma triste realidade desse país onde vivemos. Desde muito jovem sempre dissociei fé de bens materiais. A fé em Jesus deve ser separada da vida material de cada um. Jesus foi o mais pobre dos homens, e deixou claro que não se pode viver para dois deuses, o verdadeiro Deus e o dinheiro. É triste ver que o Cristianismo em nosso país está virando puro comércio. A tal teologia - ou teoria - da prosperidade prega sucesso material, dinheiro, carro, casa nova. Espiritualidade? Bem pouco, quase nada. Deus nessa visão vira um gerente de banco - você paga a Ele seu dízimo e supostamente Ele lhe retorna sucesso material na vida. Só que no final quem ficam realmente ricos são os tais donos dessas Igrejas. Compram carros de luxo, apartamentos milionários e até aviões. E a mensagem do Cristo? É praticamente ignorada.
Isso muitas vezes me lembra a passagem na Bíblia em que Jesus é tentado por Satã. Esse lhe oferece tesouros, riquezas sem limites, reinos inteiros e Jesus recusa. Será que ainda hoje não conseguiram entender a essência desse trecho? A mensagem de Jesus não é de promessa de vida material desfrutada em riqueza mas sim de vida espiritual plena. Francisco de Assis, o pobrezinho, certamente entendeu a mensagem de Jesus Cristo. Renunciou a todas as riquezas e foi viver na pobreza, ajudando ao próximo. O próprio Jesus afirmou que será mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus! Então porque tanta gente insiste em usar a fé como fonte de riqueza material? Será que nunca compreenderam a verdadeira intenção de Jesus em todos esses trechos em que Ele expôs seu pensamento?
Nesse jogo de comércio da fé os dois lados estão completamente equivocados. O fiel está errado pois entra em um jogo imaginário de barganha com Deus! Ele paga o dízimo e Deus lhe voltará sucesso, riqueza e poder. Já o líder religioso se coloca numa posição muito mais delicada e equivocada ao insistir nessa "troca de favores" e quando fica rico com isso acaba condenando sua própria alma. Não transformem algo tão lindo como a fé em Deus numa bodega comercial. Deus não é comércio, Deus não é dinheiro. É triste ver massas de brasileiros entrando nesse jogo insano. Quem acredita verdadeiramente em Deus sabe que a verdadeira riqueza é a espiritual e não bens e objetos materiais que mais cedo ou mais tarde serão corroídos pelas areias do tempo.
Pablo Aluísio.
Publicado originalmente no blog
ResponderExcluirCatolicismo em Maria
Pablo Aluísio.