domingo, 6 de janeiro de 2013

Wall-E

Não há motivos para duvidar que hoje vivemos a era de ouro da animação no cinema. A Pixar é o grande nome nessa retomada. Algumas de suas animações são verdadeiras obras primas. E não estou aqui categorizando, afirmando que são apenas obras primas de animação mas sim de cinema em geral. Algumas dessas obras estão à altura de qualquer filme convencional que se possa comparar. Dentre todas as animações a que considero a melhor, sem medo de errar, é justamente esse Wall-E. Poucas vezes assisti a tanto lirismo e poesia em forma de arte como aqui. É impossível ficar insensível ao que se passa na tela. O pequeno robô que fica para trás em um planeta atolado em lixo industrial é um dos grandes personagens da história da Pixar. Apesar de ser um mecanismo criado pelo homem ele tem muitos sentimentos humanos como amor, compaixão e solidariedade. Uma inteligência artificial fundada nos bons sentimentos. Wall-E é tão inovador em sua estrutura que em sua parte inicial sequer existem diálogos! É de arrepiar realmente! Logo tomamos consciência de que será impossível não se emocionar com a ternura das cenas. Perdido em um mundo que parece não ter salvação o pequeno robozinho consegue criar vínculos emocionais genuínos com o que existe ao seu redor, formado basicamente por objetos inanimados e pequenos insetos. O personagem logo mostra uma personalidade muito rica, cativando o espectador de forma absoluta. Simplesmente emocionante.

Tamanha qualidade foi reconhecida pelos principais prêmios de cinema mundo afora. Venceu o Oscar de Melhor Animação embora para falar a verdade merecesse até mais do que isso, pois deveria ter vencido o Oscar de Melhor filme mesmo. No Globo de Ouro nova premiação, dessa vez na categoria Melhor Filme Animado. No Bafta mais um prêmio. A única injustiça cometida nesse mundo de premiações foi não ter vencido o Oscar de Melhor Roteiro Original. Nesse aspecto acredito que realmente houve um certo preconceito pelo fato de ser uma animação e não um filme convencional, o que penso ser um absurdo sem tamanho. Dá para acreditar que não premiaram algo tão maravilhoso apenas por essa razão? Infelizmente é o que ocorreu. Outro ponto muito importante do argumento que merece destaque é o fato dele mostrar os dois lados da tecnologia. Ao mesmo tempo em que se torna uma ferramenta fantástica para a humanidade pode também se transformar numa camisa de força. Isso é muito bem representado pelos humanos que surgem no filme, todos obesos, todos imprestáveis para o trabalho, para a recuperação de seu próprio planeta que afinal se transformou em um grande depósito de lixo! Um futuro sombrio para todos nós. É o que sempre digo, algumas animações trazem mais conteúdo e mensagem do que muitas bobagens por aí. Wall-E é sem dúvida uma obra prima, um primor, uma maravilha sem precedentes. Se ainda não viu corra atrás!

Wall-E (Wall- E, Estados Unidos, 2008) Direção: Andrew Stanton / Roteiro: Andrew Stanton, Pete Docter, Jim Reardon / Elenco (vozes): Ben Burtt, Elissa Knight, Jeff Garlin, Fred Willard, MacInTalk, John Ratzenberger, Kathy Najimy, Sigourney Weaver, Lori Alan / Sinopse: Sete séculos no futuro, o planeta Terra está transformada num enorme depósito de lixo. Nesse mar de detritos e sujeira se encontra um pequeno robozinho programado para recolher os materiais deixados para trás pela humanidade, que agora vive no espaço cercada de todos os confortos que a tecnologia pode proporcionar. Cheio de sentimentos humanos o robozinho em breve embarcará numa grande aventura.

Pablo Aluísio.

A Guerra dos Dálmatas

Primeiro filme de Walt Disney na década de 1960, “A Guerra dos Dálmatas” investe em uma estória ambientada em Londres. Disney tinha um velho sonho de construir um parque temático na Europa nos moldes da Disneylândia e uma produção assim, com personagens ingleses, caía muito bem em suas pretensões de tornar sua marca mais conhecida e familiar no velho mundo. Seu sonho porém só se tornaria realidade muitos anos após sua morte com a inauguração da Eurodisney em Paris (e não em Londres como ele inicialmente havia pensado). “A Guerra dos Dálmatas” tem muitas semelhanças com outra animação de Disney dos anos 50, “A Dama e o Vagabundo”. O traço é praticamente o mesmo e o enredo girando em torno de aventuras caninas até mesmo se assemelhava com a animação anterior. Deixando de lado as princesas e príncipes de “A Bela Adormecida”, Disney aqui se concentrou na estória de Roger, um compositor solteirão e seu cão de estimação, um dálmata de nome Pongo. Como seu dono só pensa em trabalho e não tem uma vida social, Pongo resolve dar uma forcinha para que ele arranje uma namorada. Ao ser levado para passear em um parque próximo ele faz de tudo para que Roger se aproxime da bela Perdita. Ela também é dona de uma bonita cadela Dálmata e assim os casais se formam. Após o casamento de Roger e Perdita, Pongo e sua nova companheira dão cria a 15 filhotinhos de Dálmatas. O problema é que uma grande amiga de Perdita, a fútil e fumante inveterada Cruella De Vil, tem especial interesse em comprar os filhotinhos. Embora se diga adoradora de animais ela na verdade está querendo colocar as mãos nos cachorrinhos para matá-los e com suas peles confeccionar um lindo casaco de pele com as pintas dos Dálmatas, algo que ela considera o máximo em beleza fashion.

Disney assim criou uma das primeiras animações realmente ecológicas da história do cinema. Indiretamente o enredo atacava a futilidade da alta costura que se utilizava de peles de animais mortos para a criação de todos aqueles casacos de peles luxuosos que naquele momento estavam na moda da alta costura em Paris. Disney pretendia denunciar essa situação com a personagem Cruella, uma perua rica e perversa que em muito se assemelhava a várias divas do mundo da moda. O curioso é que ao criar essa consciência ecológica nas crianças Disney acabou plantando uma semente que deu muitos frutos anos depois com a criação de várias entidades de defesa dos direitos dos animais, na Europa e no restante do mundo. De fato os antes glamourosos casacos de pele perderam ao longo dos anos seu status de alta costura para se transformarem em símbolos de mau gosto e perversidade contra animais em geral. Outro aspecto interessante sobre “A Guerra dos Dálmatas” foi a intensa popularização da raça após o sucesso do filme. De repente todas as crianças da época queriam criar um Dálmata após assistirem a essa animação. O problema é que os Dálmatas da vida real eram bem diferentes daqueles mostrados na estória do desenho. Raça diferenciada e geniosa, que precisa de cuidados especiais, os Dálmatas acabaram virando uma dor de cabeça para os donos menos preparados para lidar com o gênio desses cães. Infelizmente muitos foram abandonados depois de crescerem e hoje não é raro ver animais dessa raça vagando pelas ruas das principais cidades da Europa. Um efeito colateral jamais previsto por Walt Disney quando lançou o filme. Não faz mal, uma vez que sua mensagem ecológica se tornou muito mais perene e relevante. Não deixe de conhecer mais esse famoso clássico com a assinatura do genial Walt Disney.

A Guerra dos Dálmatas (One Hundred and One Dalmatians, Estados Unidos, 1961) Direção: Clyde Geronimi, Hamilton Luske / Roteiro: Bill Peet baseado na novela de Dodie Smith / Elenco (vozes): Rod Taylor, Betty Lou Gerson, J. Pat O'Malley, Betty Lou Gerson, Martha Wentworth  / Sinopse: A malvada Cruella De Vil deseja confeccionar um lindo casaco de peles com as pintinhas típicas da raça Dálmata. Para isso não medirá esforços para colocar as mãos nos 15 filhotinhos do casal de cães de propriedade dos simpáticos Roger e Perdita.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Southland

Brasileiro tem essa visão equivocada de que apenas em seu país a segurança pública está fora de controle. Isso é uma visão bem simplista e por demais míope da realidade do mundo em que vivemos. Nos Estados Unidos, principalmente nas grandes cidades, a coisa não está melhor. Com mais de dois milhões de pessoas encarceradas as autoridades americanas também procuram por uma solução. “Southland” é seguramente a melhor série policial atualmente em exibição sobre a rotina do dia a dia dos policiais de Los Angeles, uma das metrópoles mais importantes da grande nação ianque que também sofre com as drogas, os crimes e a desordem geral. O grande mérito de “Southland” é que seus roteiros não jogam panos quentes na realidade das ruas e nem tampouco procura transformar seus personagens em poços de virtude acima do bem e do mal. Pelo contrário, os tiras de “Southland” sofrem muitas vezes com problemas que eles próprios combatem em seu cotidiano. Há patrulheiros viciados em drogas, policiais violentos e beberrões e muitos deles com problemas emocionais, de relacionamento e pessoais interferindo em seu trabalho.

São vários os personagens em cena mas os episódios de uma maneira em geral são focados no novato Ben Sherman (Ben McKenzie). Recém saído da academia de polícia ele tem como parceiro o oficial John Cooper (Michael Cutlitz), um veterano das ruas casca grossa que sofre por ser dependente químico. Alguns episódios mais centrados nos conflitos da dupla são excelentes. Imagine ter um parceiro quase psicótico que não tem mais paciência com meliantes em geral. Ben até tenta seguir o regulamento mas é complicado quando se depara com uma verdadeira selva lá fora. As ruas vivem em eterna guerra de gangues em luta pelo controle do mercado de drogas. Muitos homicídios e medo imperando em cada beco de Los Angeles. Os dias de “Chips” realmente ficaram para trás. Agora impera o mundo cão nas melhores séries americanas. Que tal andar com esses tiras por aí, no meio do caos urbano? O convite está feito. “Southland” é uma boa pedida para quem gosta de seriados policiais americanos. Está mais do que recomendado.

Southland (Southland, EUA, 2009 - 2012)  Criado por Ann Biderman / Direção: Christopher Chulack, Nelson McCormick, J. Michael Muro / Roteiro: Ann Biderman, Heather Zuhlke, Chitra Elizabeth Sampath / Elenco: Michael Cudlitz, Shawn Hatosy, Regina King, Ben McKenzie, C. Thomas Howell / Sinopse: A série "Southland" acompanha o dia a dia de um grupo de policiais de Los Angeles. Detetives do departamento de homicídio e os patrulheiros de rua convivem de forma cotidiana com o caos e o crime pelas ruas da grande cidade.

Episódios Comentados:

Southland 5.05 - Off Duty
O cotidiano dos tiras de Los Angeles sempre rende ótimos episódios. Essa é outra série que está na minha lista de favoritos. Nesse episódio em particular temos a execução de um assassino em série. Capturado pela policial Lydia Adams, ele pede alguns momentos com ela antes de sua morte. Na outra linha narrativa Sammy Bryant salva uma celebridade de um atentado promovido por um maluco que sai atirando no meio da rua. Capturado pelas revistas de fofocas vira um herói instantâneo, embora a corregedoria esteja em sua pé por causa de problemas com sua ex-esposa. E por falar em ex-esposas, John Cooper reencontra com a sua ex-mulher no hospital após sofrer um ferimento na coluna em serviço (um grandalhão cai por cima dele). Como vimos nos episódios anteriores apesar de seu jeito de durão, John na realidade é um gay no armário. Para fechar o brincalhão e desbocado Dewey Dudek sofre um infarto enquanto persegue um ladrãozinho pé de chinelo. E o Ben Sherman? Sim, ele continua se envolvendo casualmente com as gatinhas que encontra pela frente. Bom episodio, sem dúvida. Estou chegando ao final dessa série e certamente ficarei com saudades - pois infelizmente ela já foi cancelada, para meu desapontamento! / Direção: Regina King / Roteiro: Ann Biderman, Zack Whedon / Elenco: Michael Cudlitz, Shawn Hatosy, C. Thomas Howell.

Southland 5.09 - Chaos
Que pena que estou chegando ao fim de Southland! Essa série policial já foi cancelada e me falta ainda apenas um episódio para chegar ao final. As temporadas são curtas, no máximo 10 episódios, e por isso é aquele tipo de seriado que logo chega ao seu final. Das séries policiais que acompanho certamente essa é disparada uma das minhas preferidas. Esse episódio "Chaos" é seguramente um dos mais violentos de toda a série. Dois patrulheiros são feitos de reféns, sendo um deles John Cooper (Michael Cudlitz). Seus sequestradores são dois viciados em metanfetamina, completamente alucinados pelas drogas, que podem promover qualquer tipo de violência insana contra eles - e é justamente isso que acontece. Enquanto a polícia de Los Angeles tenta encontrar os tiras eles são expostos a todos os tipos de terror, ameaça e tortura em um trailer abandonado no meio do deserto. Um episódio para testar os limites do espectador. Confesso que fiquei bem impressionado, principalmente pelo final, de uma brutalidade extrema, completamente irracional sob qualquer ponto de vista. Um grande episódio de uma série que deixará saudades - aliás já deixou! / Direção: Regina King / Roteiro: Ann Biderman, Zack Whedon / Elenco: Michael Cudlitz, Shawn Hatosy, C. Thomas Howell.

Southland 5.10 - Reckoning
Episódio final da série. É o que digo sempre, muitas vezes os roteiristas erram nos momentos finais de grandes seriados. Em "Southland" não foi diferente. O episódio anterior, "Chaos", é um primor, com ótimo enredo e cenas viscerais. Se tivesse sido o episódio final teria sido um grande desfecho. Infelizmente eles resolveram escrever mais um episódio para fechar tudo. Aqui o que temos é a mera tentativa de aparar as arestas do que aconteceu anteriormente. Se no capítulo anterior o policial Hank Lucero (Anthony Ruivivar) foi morto de forma brutal e covarde, aqui eles vão atrás da dupla de drogados responsáveis pelo crime. John Cooper (Michael Cudlitz) está tentando sem sucesso voltar às ruas e os demais policiais acabam encontrando os assassinos, sendo que um deles acaba fugindo para uma refinaria de combustível, o que torna tudo ainda mais perigoso, afinal um tiro pode explodir tudo pelos ares. No geral achei o episódio bem desnecessário, sem clímax e sem pegada. Para piorar o espectador teve que engolir o desfecho nada digno para o personagem John Cooper, que sinceramente falando me soou como uma grande tolice. E os roteiristas ainda tiveram a péssima ideia de escreverem um final em aberto, talvez por não terem certeza se a série seria cancelada ou não. De uma coisa porém tenho certeza, esse foi mais um episódio final a entrar no extenso rol de despedidas melancólicas de boas séries de TV. Espero que repensem melhor sobre isso daqui em diante. / Southland - Reckoning (EUA, 2013) Direção: Christopher Chulack / Roteiro: Ann Biderman, Jonathan Lisco / Elenco: Michael Cudlitz, Shawn Hatosy, C. Thomas Howell.

Pablo Aluísio.

Soldado Anônimo

"Soldado Anônimo" se propõe a mostrar o tedioso cotidiano de um soldado comum das forças armadas americanas durante a invasão do Iraque na Operação Tempestade do Deserto. Dessa safra de produções realizadas após essa operação em larga escala das tropas de libertação do Kuwait esse é um dos filmes mais interessantes. O roteiro é bem escrito e o filme se concentra no "antes" da invasão propriamente dita. Assim ficamos sabendo o que os soldados americanos faziam no deserto antes de cruzar a fronteira do país de Saddam Hussein. Bom, basicamente eles não faziam nada, mas isso acaba sendo o grande mérito do filme. Ele me lembrou vagamente "Nascido para Matar" pela estrutura do roteiro mas obviamente fica bem abaixo da obra prima do mestre Kubrick. Uma das coisas que chamam a atenção em tudo o que vemos na tela é a pouca idade dos combatentes e sua completa falta de maturidade sobre o conflito em que estavam prestes a se envolver. De uma maneira em geral o bate papo entre os soldados revelam personalidades ainda em formação, quase adolescentes bobos, falando sobre mulheres, esportes e demais assuntos típicos da idade. Eles na realidade mal sabiam os motivos políticos que os levaram àquele conflito. Em essência se comportam como se fossem estudantes de high school conversando sobre trivialidades da escola. A diferença é que fazem parte do poderio bélico da nação mais poderosa do mundo. Despreparados intelectualmente e psicologicamente para o que lhes esperam, só lhes restam seguir as ordens de seus superiores de maneira quase cega.

"Soldado Anônimo" foi dirigido pelo talentoso cineasta Sam Mendes de poucos, mas excepcionais filmes, como "Beleza Americana", "Estrada Para a Perdição" e a mais recente aventura do agente inglês James Bond, " 007 - Operação Skyfall". O roteiro foi inspirado no livro de Anthony Swofford, um marine que fez parte das forças de ocupação dos Estados Unidos durante a operação "Tempestade do Deserto". Isso é bem interessante pois o fato do relato ter sido escrito por alguém que esteve lá no front traz uma dose extra de veracidade ao material em si. O elenco também é muito bom. Atores jovens que entraram completamente nas peles de seus personagens. O destaque obviamente vai para Jake Gyllenhaal. Ele surge completamente à vontade como um soldado raso prestes a invadir o território inimigo. Sua narração em off traz uma dose extra de ironia, sarcasmo e melancolia, tudo junto em um mesmo caldeirão. Jamie Foxx como o sargento Sykes também é outro destaque. Ele mantém a tradição de se mostrar esses sub-oficiais durões durante o treinamento de seus subordinados. Entre as cenas mais marcantes destaco a transloucada festa e a cena final quando os soldados marcham no deserto com os poços de petróleo em chamas ao longe. Uma imagem tão surreal como bela. Enfim que tal acompanhar uma tropa de jovens "jarheads", garotos comuns recentemente saídos do colegial mas jogados num evento histórico que marcou bastante o século XX? Nada como um bom filme como esse para conhecermos os protagonistas anônimos desse marco histórico.

Soldado Anônimo (Jarhead, Estados Unidos, 2005) Direção: Sam Mendes / Roteiro: William Broyles Jr baseados no livro de Anthony Swofford / Elenco: Jake Gyllenhaal, Jamie Foxx, Lucas Black, Peter Sarsgaard,  Ming Lo / Sinopse:  Anthony Swofford (Jake Gyllenhaal) é um soldado comum que faz parte das tropas americanas que estão prestes a invadir o Iraque durante a operação Tempestade do Deserto. O filme mostra seu cotidiano ao lado dos amigos de farda. Em meio a tensão dos preparativos da invasão os jovens soldados agem como pessoas típicas de suas idades.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O Homem Que Fazia Chover

Poucos gostos são tão amargos quanto o da injustiça. Só quem foi injustiçado em sua vida sabe o que sente e o quanto dói passar por isso. O pior é quando a injustiça vem do sistema judiciário que foi criado justamente para evitar isso. "O Homem Que Fazia Chover" é o último grande filme da carreira de Francis Ford Coppola. Hoje em dia o grande mestre está mais empenhado em fazer fortuna com sua vinícola do que em produzir grandes obras primas. Esporadicamente ele lança um ou outro pequeno filme no mercado, muitas vezes indo direto para o mercado de vídeo mas na época em que dirigiu "O Homem Que Fazia Chover" ainda estava em plena forma, num pico de criatividade artística admirável. A trama mostra o primeiro caso da vida de Rudy Baylor (Matt Damon), jovem advogado recém saído da faculdade. Ele é contratado por um casal para defender os interesses de seu pequeno filho que sofre de Leucemia e precisa de dinheiro para se submeter a uma cirurgia de transplante de medula óssea. O problema é que a seguradora que administra o plano de saúde do garoto simplesmente não aceita pagar por esse procedimento. Rudy então terá que lutar como um titã para ganhar a ação e salvar a vida do garoto que está com os dias contados caso não realize a cirurgia. A trama é baseada no livro de John Grisham, autor consagrado de best sellers cujos livros já renderam excelentes filmes. Advogado de profissão ele conhece como poucos as trilhas sinuosas do sistema judiciário americano.

A essência do filme é mostrar a luta de um idealista advogado contra o poder econômico da empresa de seguros que fará de tudo para não pagar as despesas do garotinho doente. É cruel mas é a mais pura verdade - inclusive no Brasil onde esse tipo de situação tem se tornado comum nos tribunais. Eu realmente fico pasmo com a falta de humanidade de certos setores e empresas que se recusam, muitas vezes sem base legal nenhuma, a arcar com procedimentos caros e custosos. O pior é saber que dentro dos atalhos da lei e do poder judiciário existe a possibilidade de algo assim sair impune, sem salvação para os que estão doentes em estado de necessidade. Até que ponto vai a desumanidade dos executivos dessas empresas? Será que conseguem mesmo dormir à noite? Não possuem a menor consciência que seus atos são errados e colocam em risco a vida de muitas pessoas doentes? Eu nunca canso de me surpreender com a falta de caráter desse tipo de gente. Francis Ford Coppola, como sempre, dá show de direção. O filme tem um clima de sordidez fria que gela o sangue. Quem já teve a oportunidade de participar de alguma ação judicial vai se identificar. É um ambiente muitas vezes sórdido onde empresas poderosas defendem seus interesses escusos com pleno apoio dos magistrados - muitos deles corrompidos. E o cidadão onde fica nisso? Fica oprimido, sem chances de ver a justiça sendo feita. Roteiro, atuações e argumentos provam que quando quer Francis Ford Coppola é realmente um gênio na arte de dirigir. Uma produção que faz refletir e pensar sobre os descaminhos que um cidadão pode enfrentar ao tentar alcançar a justiça pelos meios oficiais. 

O Homem Que Fazia Chover (The Rainmaker, Estados Unidos, 1997) Direção: Francis Ford Coppola / Roteiro: Francis Ford Coppola baseado no livro de John Grisham / Elenco: Matt Damon, Danny DeVito, Claire Danes, Jon Voight, Mary Kay Place, Dean Stockwell, Teresa Wright, Virginia Madsen, Mickey Rourke / Sinopse: Advogado recém formado luta contra uma poderosa seguradora que se recusa a pagar o que deve para que a família de um jovem doente realize um tratamento médico do qual sua vida depende. Indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante pela atuação de Jon Voight.

Pablo Aluísio.

A Hora do Lobisomem

Stephen King criou algumas das melhores estórias de terror da literatura americana. Aqui um de seus livros mais populares ganha uma bela versão para o cinema. Inicialmente o filme foi lançado comercialmente no Brasil com o nome de “A Hora do Lobisomem”, numa clara tentativa de pegar carona no grande sucesso “A Hora do Espanto”. Como se passa em quase todos os escritos de King aqui ele resolveu revitalizar o antigo monstro clássico, o Lobisomem. Fruto de uma maldição o homem afetado por essa sinistra síndrome (também conhecida por Licantropia) vira um ser monstruoso, meio homem, meio lobo. A origem da lenda é incerta mas está presente em praticamente todas as culturas o que leva a crer que teve uma origem comum em algum momento da história da humanidade. King não foge da tradição em nenhum momento. A única forma de abater a besta é usando prata – ou para ser mais eficiente, balas de prata. Esse aliás foi o título utilizado algumas vezes quando o filme foi reprisado em nossa TV aberta (“A Hora do Lobisomem” foi bastante exibido pelo canal SBT).  Em minha opinião essa produção segue sendo uma das melhores envolvendo o monstro folclórico. Não chega ao nível de um “Lobisomem Americano em Londres” mas se destaca pela ótima trama que joga o tempo todo com a verdadeira identidade do ser amaldiçoado. Afinal quem seria o monstro? Tenho certeza que quando ele foi revelado muita gente foi pega de surpresa pois o caso é nitidamente daqueles em que o personagem está acima de qualquer suspeita!

O filme era estrelado pelo ídolo juvenil Corey Haim. Na época ele colecionava sucessos e estava no primeiro time de atores jovens de Hollywood. Infelizmente se envolveu com drogas pesadas e caiu em desgraça na carreira, vindo a falecer precocemente e de forma trágica em 2010. Sua estrela foi efêmera mas ele acabou participando de excelentes filmes da década de 80 como “A Inocência do Primeiro Amor” (ao lado do bad boy Charlie Sheen). Ao seu lado outro ator que foi a cara dos anos 80, Gary Busey. “A Hora do Lobisomem” não se destaca nem pela violência e nem pelos efeitos especiais (que hoje em dia soam realmente ultrapassados). O diferencial aqui está, como já afirmei, em uma trama muito bem arquitetada, fruto da genialidade de Stephen King. Produção barata, filmada no interior dos EUA (Carolina do Norte) conseguiu se destacar como um bom momento do cinema de terror daqueles anos. Passou longe de alcançar uma bilheteria tão expressiva como a de “A Hora do Espanto” mas mesmo assim fez diferença entre os filmes daquela época. Hoje merece ser revisto. King em grande forma encontra uma boa adaptação de seu texto para as telas. Não deixe de conferir e tente descobrir quem é o Lobo entre os personagens da estória.

A Hora do Lobisomem (Silver Bullet, Estados Unidos, 1985) Direção: Daniel Attias / Roteiro: Stephen King baseado em seu próprio livro / Elenco: Gary Busey, Everett McGill, Corey Haim, Megan Follows, Terry O'Quinn / Sinopse: Numa pequena cidade do interior dos EUA uma série de mortes e ataques colocam a população local em terror! Marty Coslaw (Corey Haim) é um jovem com problemas de locomoção que pretende descobrir quem é o verdadeiro lobisomem entre os moradores da região.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Amor Sem Fim

É possível esquecer o primeiro amor? Essa é a pergunta central de “Amor Sem Fim”, clássico romântico da década de 80. No filme acompanhamos o namoro de dois jovens adolescentes, Jade (Brooke Shields, linda e na flor da idade) e David (Martin Hewitt). No começo os pais de Jade levam o namoro com uma postura liberal, sem receios. Os problemas começam a surgir quando David e Jade começam a ter uma vida não apenas sentimental mas sexual também. Como os pais de Jade posam de compreensivos e liberais não tarda para que a jovem – de apenas 15 anos – comece a trazer o namorado para dormir em seu quarto. Eles iniciam um tórrido relacionamento sexual o que começa a incomodar a todos. O paizão antes posando de moderno não aguenta e em um acesso de fúria expulsa David de sua casa e o proíbe de ver sua filha. O irmão de Jade, Keith (interpretado por um muito jovem James Spader) também perde a compostura e parte para as vias de fato com seu ex-amigo (ele havia trazido David para dentro da casa da família, algo que se arrependeu amargamente após ele começar a namorar sua jovem irmã). Inconformado com a expulsão David acaba cometendo um ato impensado, colocando fogo na casa da namorada. A partir daí sua vida desce ladeira, ele é condenado e impedido de voltar a ver o amor de sua vida. Mas mesmo após tantos anos não parece disposto a abrir mão dessa paixão adolescente.

Como se pode perceber as tintas são fortes no quesito drama. A intenção realmente era essa – mostrar um amor verdadeiro mas cheio de obstáculos para se concretizar tal como um Romeu e Julieta contemporâneo. Não é à toa que o diretor do filme é Franco Zeffirelli. Acostumado com tramas de amores impossíveis o cineasta demonstra muita familiaridade com o tema. A produção é de bom gosto e respeita o espectador. Mesmo tendo uma das atrizes mais bonitas da época em seu elenco o filme não apela ou parte para vulgaridades. O elenco está todo coeso, apenas o ator que interpreta David, o namorado de Jade, deixa um pouco a desejar. Como curiosidade o futuro astro Tom Cruise faz uma pequena ponta, em um parque aconselhando seu amigo David a dar um susto na namorada, começando um incêndio por pura brincadeira (incêndio esse que foge do controle e destrói a casa da amada). Em essência é uma releitura dos velhos mitos românticos, da paixão impossível e do amor que vence a tudo e a todos. Bem realizado “Amor Sem Fim” sobreviveu muito bem ao tempo. Sua trilha sonora cheia de sucessos da época ainda é bastante evocativa. Um bom romance para corações apaixonados que não aceitam barreiras entre si. 

Amor Sem Fim (Endless Love, Estados Unidos, 1981) Direção: Franco Zeffirelli / Roteiro: Judith Rascoe baseado na novela de Scott Spencer / Elenco: Brooke Shields, Martin Hewitt, Shirley Knight,  Don Murray, James Spader, Tom Cruise / Sinopse: Jovem casal de namorados tem que lutar por vários anos por seu amor que sempre parece encontrar barreiras para se concretizar. 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Johnny & June

Johnny Cash (1932 - 2003) foi um artista diferente. Ele surgiu na mesma geração de grandes cantores descobertos por Sam Phillips na pequenina Sun Records em Memphis. Dessa gravadora despontou toda uma geração inovadora e revolucionária na música americana, grandes nomes como Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e Carl Perkins, tiveram sua primeira grande oportunidade lá. O que diferenciava Cash de todos esses outros intérpretes era o teor de suas músicas e o acentuado lirismo country que as embalava. Cash tinha um universo muito pessoal, suas canções geralmente retratavam a vida dos que estavam à margem da sociedade, como os presidiários, os pobres e os sofridos. Essa sua preferência pelo lado mais outsider da sociedade americana legou a ele um público muito fiel e devoto. A carreira de Cash também foi muito produtiva pois ele sempre estava gravando discos, fazendo shows, programas de TV e até cinema, era um verdadeiro workaholic em sua profissão. Transpor uma vida tão rica assim para um único filme não seria nada fácil. Por isso os produtores de “Johnny & June” optaram, de forma muito acertada, em focar o roteiro e o filme em cima do conturbado relacionamento de Johnny Cash com June Carter, também uma cantora que fazia parte de uma extensa linha familiar de artistas Country and Western.

O resultado do que se vê na tela é muito bom, beirando o excepcional. Joaquin Phoenix no papel principal conseguiu passar muito da personalidade de Cash. Ele tinha essa sensação de nunca se enquadrar, de nunca se sentir plenamente aceito. Phoenix inegavelmente deu muito brilho ao seu papel de Johnny Cash. Até mesmo pequenos detalhes, como maneirismos do cantor e a forma como ele segurava e tocava seu violão, o ator levou para seu trabalho no filme Já Reese Witherspoon também está muito satisfatória no papel de June Carter, muito embora ainda ache que seu Oscar de Melhor Atriz foi um pouco excessivo. Certamente ela está bem mas não a ponto de receber uma premiação tão importante. Provavelmente tenha sido premiada mais pela relevância de seu nome dentro da indústria do que pela atuação em si. Embora seja uma obra tecnicamente muito bem realizada o filme só desliza um pouco quando mostra Cash enfrentando problemas com drogas. Nesse ponto o filme perde muito de seu charme, se tornando um tanto quanto maniqueísta e forçado. Fora isso nada a reclamar. A trilha está recheada das imortais canções do homem de preto e conta ainda com cenas de shows muito bem realizadas. Após seu lançamento "Johnny & June" foi premiado com o Globo de Ouro de Melhor Filme na categoria Comédia / Musical. Um prêmio, esse sim, bem merecido.

Johnny & June (Walk the Line, Estados Unidos, 2005) Direção: James Mangold / Roteiro: Gill Dennis, James Mangold / Elenco: Joaquin Phoenix, Reese Witherspoon, Ginnifer Goodwin, Robert Patrick, Shelby Lynne, Dan Beene, Larry Bagby, Lucas Till, Ridge Canipe, Hailey Anne Nelson./ Sinopse: Cinebiografia do cantor e compositor Johnny Cash (Joaquim Phoenix) mostrando seu conturbado relacionamento amoroso com June Carter (Reese Witherspoon).

Pablo Aluísio.

Superman III

Terceira aventura da franquia original da década de 70, o filme Superman 3 deixa a desejar, não há como negar. Os filmes anteriores são maravilhosos, verdadeiros clássicos da cultura pop. Infelizmente nessa terceira aventura erraram a mão. Além da produção ter um orçamento muito mais modesto a tônica do filme, centrada em muito humor, desvirtua a proposta original dessa série. Há profusão de cenas cômicas, inclusive a cena inicial que beira o pastelão. Várias pessoas no centro de Metropolis vão sofrendo pequenos acidentes que geram outros maiores causando muita confusão na cidade. Ficaria bem numa comédia muda mas aqui soa deslocado. A presença do comediante Richard Pryor deixa o filme ainda mais engraçadinho. Como se não bastasse há várias modificações no elenco. Lex Luthor não participa da trama e é substituído por Ross Webster (Robert Vaughn), um magnata mal intencionado que deseja construir um super computador para dominar o mundo, manipulando desde o clima até o consumo e demanda do Petróleo mundial. Outra mudança é o afastamento de Lois Lane (Margot Kidder) que viaja de férias logo no começo do filme (só retornando na última cena). Após Clark Kent voltar a Smallville para uma reunião de sua turma colegial ele reencontra sua antiga paixão Lana Lang (Interpretada pela bonita Annette O'Toole). Ela agora está divorciada, com filho pequeno mas continua linda e apaixonante. Clark não demora a cair de amores por ela. Essas seqüências passadas em Smallville salvam o filme do desastre completo. Há um bom desenvolvimento da aproximação deles que acabam revivendo uma paixão colegial há muito adormecida.

Outro ponto positivo do argumento é a luta interior de Superman consigo mesmo. Após entrar em contato com uma pedra de Kriptonita modificada em laboratório ele começa a desenvolver reações inesperadas. Ele se torna cafajeste, dá em cima das mulheres de forma grosseira e deixa de ser uma boa pessoa. Até tomar uns pileques no boteco da esquina o famoso herói toma, ora vejam só! Para superar essa fase ruim ele acaba enfrentando a si mesmo num velho ferro velho. Essa provavelmente é a melhor parte de todo o filme. O duelo é daqueles momentos que salvam a produção. Por fim temos a seqüência final onde Superman enfrenta o que seria um computador invencível. Realmente o argumento soa muito infantil e sem graça hoje em dia. Com nuances que chega a lembrar de Metropolis, o famoso clássico da era do cinema mudo, a cena não consegue ter o impacto que promete. Tentando ser mais antenado com as novas tecnologias que surgiam naqueles anos o filme só consegue soar muito ultrapassado em uma revisão atual. Como foi realizado no começo da década de 80 os computadores acabam virando vilões involuntários. A era do PC estava chegando, havia toda essa dúvida e temor sobre os rumos que a tecnologia iria tomar e assim o roteiro materializa esse medo da forma mais extrema que existe. Aliás a tecnologia que surge em cena é bem curiosa. Velhos computadores baseados em linguagem Basic em um mundo digital inimaginável para os jovens de hoje acostumados com a facilidade do Windons e demais sistemas operacionais. Outra coisa bem curiosa é a pequena animação que a empresa Atari (a rainha dos videogames da época) produziu para o filme. Superman tenta se desviar de mísseis e bombas enquanto vemos aquele visual característico dos games da empresa surgir em cena. Impossível não sentir nostalgia nessa seqüência. Em suma, “Superman 3” é realmente uma película bem abaixo dos anteriores mas não pode ser considerado o pior filme da série original pois esse título certamente pertence a “Superman 4” que falaremos em breve aqui no Blog. Continue acompanhando. Até a próxima.

Superman III (Superman III, Estados Unidos, 1983)  Direção: Richard Lester / Roteiro: David Newman, Leslie Newman / Elenco: Christopher Reeve, Richard Pryor, Margot Kidder,  Jackie Cooper,  Annette O'Toole,  Robert Vaughn / Sinopse: Gus Gorman (Richard Pryor) é um desempregado crônico que após ver seu seguro desemprego cancelado resolve estudar informática. O que parece ser apenas uma solução para seu problema acaba se revelando uma vocação pois Gus se mostra gênio na área. Logo seus serviços são contratados pelo magnata Ross Webster (Robert Vaughn) que pretende usar a genialidade de Gus para seus interesses do mal. Ao mesmo tempo o jornalista Clark Kent (Christopher Reeve) resolve voltar em férias para Smallville onde o baile de encontro de sua antiga turma do colegial será realizada. Lá encontra a antiga paixão dos tempos de colégio, a bela Lana Lang (Annette O'Toole). Mal sabe ele que está prestes a enfrentar um dos maiores desafios de sua vida.

Pablo Aluísio.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Quantum of Solace

Esse foi o segundo filme de James Bond com o ator Daniel Craig. O êxito do primeiro filme demonstrou que o público de uma forma em geral havia aprovado o novo ator na pele do mais famoso agente secreto da história do cinema. Craig surgia com uma caracterização bem mais séria, sem espaços para humor ou até mesmo chanchada (que se tornou marca característica de Roger Moore no papel). Com o fim da guerra fria Bond ficou sem os seus vilões preferidos, os comunistas soviéticos e assim as tramas de seus filmes foram modernizadas para a realidade sociopolítica do mundo atual. Os novos escritores responsáveis por essa revitalização se viram como podem para suprir essa lacuna (os agentes russos continuam imbatíveis como vilões da franquia Bond mas hoje em dia soam ultrapassados, anacrônicos). Talvez por essa razão – a falta de vilões mais consistentes – a trama desse filme tenha sido tão criticada. Outro ponto fraco do filme anterior aqui também é atenuado. No primeiro filme muitos reclamaram da falta do velho charme sedutor do agente e por essa razão os roteiristas aqui capricharam envolvendo Bond não apenas com uma Bond Girl mas com duas! Funcionou? Apenas em termos. A verdade é que Daniel Craig é ótimo em cenas de ação e violência mas quando tem que interpretar o lado mais romântico do personagem não se sai bem. Isso é uma característica muito pessoal desse ator. Talvez por essa razão os seus filmes tenham sido tão movimentados, com impecáveis cenas de ação e perseguições. Muito provavelmente os produtores queiram compensar sua falta de charme com muita correria e pirotecnia.

Na trama James Bond (Daniel Craig) passa por um momento de desilusão amorosa após ser abandonado por uma paixão. Procurando seguir em frente ele acaba descobrindo uma grande organização criminosa especializada em extorsões e chantagens. Para piorar o serviço secreto britânico descobre que há um traidor agindo dentro do sistema. Bond é designado para tentar descobrir de quem se trata. Suas investigações acabam levando o famoso espião ao encalço de Dominic Greene (Mathieu Amalric), um empresário poderoso que pretende ter sob controle os recursos naturais de uma extensa parte do planeta. Suas ligações incluem não apenas políticos locais corruptos como também membros do próprio serviço britânico e CIA, o que leva Bond ao descobrimento de uma extensa e complexa rede criminosa com vários tentáculos nos próprios governos dos principais países ocidentais. Como não poderia de ser o filme tem várias cenas espetaculares mas todos aqueles diálogos sobre controle de águas em terras áridas acaba cansando um pouco. Como é de praxe em filmes da série, Bond também viaja para várias partes do mundo. Aqui ele passa por Afeganistão, Chile, México, Áustria e Itália (locações onde o filme foi realizado). Ao custo de 200 milhões de dólares (orçamento digno dos maiores blockbusters da indústria americana), o filme rendeu ao redor do mundo mais de 500 milhões de dólares – um lucro excepcional. O sucesso absoluto sedimentou o caminho de Daniel Craig na franquia. Se tudo ia bem nas bilheterias o mesmo não se podia dizer nos bastidores pois brigas judiciais pelos direitos autorais nublavam o futuro de Bond no cinema. Felizmente ano passado os problemas foram finalmente resolvidos e celebrados com mais um lançamento com o personagem. Não foi dessa vez que acabaram com 007 que ao que parece terá ainda vida longa nas telas de cinema de todo o mundo.

Quantum of Solace (Idem, Estados Unidos, Inglaterra, 2008) Direção: Marc Forster / Roteiro: Paul Haggis, Neal Purvis, Robert Wade baseados no personagem criado por Ian Fleming / Elenco: Daniel Craig, Olga Kurylenko, Mathieu Amalric, Judi Dench, Giancarlo Giannini, Gemma Arterton, Jeffrey Wright / Sinopse: O agente secreto James Bond tem que superar uma desilusão amorosa ao mesmo tempo em que combate uma complexa organização liderada por um empresário poderoso e corrupto que pretende dominar vastos recursos naturais do planeta para atender seus interesses criminosos.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge

Há um velho estigma dentro do cinema que afirma que a terceira continuação de uma franquia é sempre a pior. Fazendo uma retrospectiva realmente temos muitos exemplos disso. Esse último filme de Batman sob a direção de Christopher Nolan não contradiz essa velha máxima. Realmente é o filme menos brilhante da franquia mas é bom ressalvar que apesar disso ainda consegue ser um filme realmente excepcional. Ainda considero “Batman Begins” o melhor roteiro escrito e “Batman O Cavaleiro das Trevas” como o mais marcante em termos de atuação e direção (basta lembrar do Coringa de Heath Ledger para entender isso). Esse último filme de trilogia se destaca por ser o mais caótico, diria até mesmo anarquista, de todos eles. A figura de Bane surpreende por se revestir de tons revolucionários, pregando o poder para o povo (mesmo que seja mera desculpa para seus atos terroristas). Sua retórica chega a lembrar até mesmo dos líderes populistas e falsos socialistas que proliferam na América Latina atualmente.

A trama é brilhantemente construída. É uma pena que não possa debater aqui todos os detalhes e reviravoltas que surgem em cena pois não daria qualquer tipo de spoiler que estragasse as surpresas do filme mas fica a observação de que, pela primeira vez em muito tempo, Hollywood conseguiu criar um argumento muito sólido que consegue explicar excepcionalmente bem a origem e as motivações de seus personagens. Mesmo com tantos acertos encontramos erros também no timing da película. Embora seja um grande filme temos que reconhecer que há certos momentos que quebram a espinha dorsal da trama. Achei excelente o uso de certos momentos mas também pude perceber nitidamente a presença de cenas desnecessárias que quebraram o ritmo frenético dos acontecimentos. Batman, ou melhor dizendo, Bruce Wayne, surge incrivelmente vulnerável nesse terceiro filme. Quase sempre se recuperando de alguma lesão ou fratura – o que lhe deu uma humanidade muito acentuada, valorizando o lado mais realista do personagem, algo bem típico dos filmes de Christopher Nolan, que sempre procura ficar com os pés no chão. Um exemplo disso vemos também no próprio vilão Bane. Nos quadrinhos e desenhos animados ele é basicamente um brucutu brutal que literalmente “infla” com músculos desproporcionais, virando uma espécie de gigante descomunal. Nolan ignorou tudo isso em favor de um maior realismo (algo que esperava embora no íntimo tenha ficado torcendo para ele virar o monstro que conhecemos dos gibis).

Em termos de elenco nada a acrescentar ou criticar. Certamente a atriz Anne Hathaway como Mulher Gato passa longe do carisma de Michelle Pfeiffer (que continua sendo a melhor personificação do personagem no cinema) mas mesmo assim não compromete no saldo final. Ela na verdade é pouco sensual, mais parecendo uma daquelas modelos sem sal das revistas de moda, mas não faz feio.  Christian Bale continua muito bem como Bruce Wayne / Batman. Ator sem muito carisma conseguiu se sair muito bem na pele do complexo e martirizado milionário. Seu jeito sorumbático caiu como uma luva para o personagem sombrio que vive em eterna crise existencial. O restante do elenco de apoio continua ótimo, todos grandes atores que trazem muito para o resultado final. Já analisar o trabalho do ator Tom Hardy como Bane fica mais complicado. Com uma máscara que lhe tira toda a expressão facial não há como qualificar como bom ou ruim sua performance. Bane é um personagem que não abre muitos espaços para interpretações inspiradas como Coringa ou Pingüim.

Nos quadrinhos ainda é menos expressivo se limitando a ser uma montanha de músculos brutalizada. Aqui pelo menos ainda criaram toda uma estória em torno dele, tentando obviamente lhe passar alguma personalidade. De qualquer maneira as cenas de ação e lutas ficaram muito bem elaboradas e executadas. Impossível não sentir um frio na espinha na hora em que ele dá um golpe quase mortal no herói mascarado, quebrando suas costas. Em suma, reforçando minhas conclusões diria que “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge” é certamente o mais fraco da série mas isso não significa em absoluto que seja ruim ou deixe a desejar, pelo contrário. O que acontece é que os filmes anteriores são maravilhosos e esse também é excepcional mas um ponto abaixo dos demais. Parabéns a Christopher Nolan pelo talento, bom gosto e competência na realização dessa extremamente bem sucedida franquia que se encerra aqui. Não sei qual é o futuro do Homem-Morcego nas telas – provavelmente volte em uma nova franquia daqui alguns anos – mas sei de antemão que se igualar ao nível de qualidade dos filmes de Nolan não será nada fácil. De qualquer modo fico realmente feliz em saber que essa trilogia foi fechada com chave de ouro.

Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises,  Estados Unidos, 2012) / Direção: Christopher Nolan / Roteiro: Christopher Nolan, Jonathan Nolan / Elenco: Christian Bale, Gary Oldman, Morgan Freeman, Michael Caine, Anne Hathaway, JosephGordon-Levitt, Liam Neeson, Tom Hardy, Cilliam Murphy, Marion Cotillard, Juno Temple, Daniel Sunjata, Joey King, Matthew Modine / Sinopse Após os acontecimentos do filme anterior Bruce Wayne (Christian Bale) tenta se recuperar fisicamente dos ferimentos sofridos. Nesse meio tempo surge em Gotham City um terrorista mercenário chamado Bane (Tom Hardy) que deseja sob uma falsa retórica populista destruir a cidade. Apenas Batman pode deter seus planos de destruição.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A Entidade

Ellison Oswalt (Ethan Hawke) é um escritor em crise que em busca da criatividade perdida resolve tomar uma decisão radical. Especialista em livros sobre crimes bárbaros e famosos ele decide se mudar junto com sua família para uma casa onde vários homicídios contra crianças foram cometidos. Lá procura desvendar o terrível crime para assim escrever mais um best-seller. Conforme vai avançando nas investigações ele descobre que a morte das crianças tem ligação com vários outros crimes acontecidos em diversas cidades espalhadas pelos EUA. Ao mesmo tempo começa a notar vários eventos sobrenaturais ocorrendo ao seu redor na sinistra casa. "A Entidade" se propõe a ser muitas coisas ao mesmo tempo: terror de casas mal assombradas, filme de suspense, produção de investigação sobre assassinatos em série para no fim trazer um toque sobrenatural envolvendo um demônio secular. Também brinca metaforicamente com a figura do "bicho papão", tão presente no universo infantil. Atirando para todos os lados o roteiro até consegue enganar bem mas o resultado deixa a desejar. O argumento, por exemplo, lembra demais "O Chamado", aquele famoso filme de terror oriental que depois virou remake de sucesso nos EUA.

O grande problema do filme é que o personagem principal se torna muitas vezes cansativo, histérico. A produção também desperdiça ótimas oportunidades de criar suspense e terror com a família na casa onde os crimes foram cometidos. O uso de um velho equipamento de Super 8 talvez seja uma das boas idéias do filme mas é usado em excesso o que tira o fator surpresa de seu uso. A tal entidade também é bem decepcionante. Inspirada num velho demônio da antiguidade (Bagul, o devorador de almas inocentes) não consegue passar medo por ser estilizado demais, beirando a caricatura. Se fosse melhor trabalhado poderia facilmente virar mais um ícone do gênero como Freddy Krueger ou quem sabe até mesmo um novo Jason de "Sexta-Feira 13". Do jeito que está só vai criar pavor mesmo em criancinhas muito pequenas que ainda acreditam no bicho papão. Enfim, nesse ano de 2012 em que tivemos tantos filmes de terror envolvendo possessões e mundo sobrenatural "A Entidade" não conseguiu se destacar muito por causa justamente dessas suas falhas. O resultado final é certamente abaixo do esperado.

A Entidade (Sinister, Estados Unidos, 2012) Direção: Scott Derrickson / Roteiro: Scott Derrickson, C. Robert Cargill / Elenco: Ethan Hawke, Vincent D’Onofrio, James Ransone, Fred Dalton Thompson, Juliet Rylance / Sinopse: Escritor especializado em livros sobre crimes bárbaros decide se mudar com a família para uma casa onde várias crianças foram mortas de maneira hedionda. No curso de elaboração de seu novo texto descobre que as mortes estão relacionadas com ocultismo e forças demoníacas. Não tarda e perceber que está envolvido com forças sobrenaturais ao seu redor.

Pablo Aluísio.

domingo, 23 de dezembro de 2012

A Última Casa da Rua

Bons filmes de suspense andam em falta ultimamente. Por essa razão esse "A Última Casa da Rua" é uma bela surpresa. O filme conta a estória de Sarah (Elisabeth Shue) e Elissa (Jennifer Lawrence), mãe e filha, que alugam uma bela casa ao lado de um parque nacional florestal. O imóvel tem aluguel mais barato do que o normal porque é vizinho a uma casa onde aconteceu uma terrível tragédia no passado quando uma jovem com problemas mentais assassinou seus pais. Para surpresa delas a casa ainda é habitada pelo único remanescente da família, o jovem  Ryan (Max Thieriot) que leva uma vida discreta e afastada dos demais moradores da região. A coisa muda quando Elissa acaba se tornando amiga de Ryan e depois sua namorada. Reservado, tímido e retraído o jeito de Ryan se torna irresistível para Elissa. Ela só não contava com o fato de que a realidade é bem diferente das aparências. "A Última Casa da Rua" lida muito bem em seu roteiro com a dualidade dos personagens. Também manipula muito bem o espectador, ora simpatizando com o romance, ora temendo pelo pior. No começo o espectador pode até mesmo achar meio clichê mas conforme avança o filme o enredo vai melhorando bastante, revelando novos fatos para surpresa de todos. Particularmente gostei bastante do background psicológico envolvido onde fizeram uma bela miscelânea de fatores internos e externos que acabam levando alguém a cometer atos psicóticos. Revelar mais seria temerário por isso não me aprofundarei demais na análise da trama. A surpresa é uma grande parte do sucesso do filme.

Liderando o elenco temos duas atrizes bem interessantes. Jennifer Lawrence está no auge de sua carreira e popularidade. Depois do grande sucesso "Jogos Vorazes" ela sedimenta seu espaço em Hollywood. A boa notícia é que ela é realmente talentosa e tem muito potencial para se tornar uma grande estrela - a má notícia é que está gordinha além do ponto. Bochechuda demais terá que se policiar de agora em diante para não perder a linha. Já Elizabeth Shue tem uma história interessante no cinema americano. Quando sua carreira estava decolando ela largou tudo para se formar na prestigiosa Universidade de Harvard, uma das melhores instituições de ensino superior do mundo. Depois de estar devidamente graduada tenta um retorno às telas agora. Esse é seu melhor filme até o momento. Se souber escolher bem seus papéis terá também um belo futuro pela frente. Outro que tenta alcançar o seu lugar ao sol é o próprio diretor Mark Tonderai. Com apenas cinco títulos na carreira - nenhum expressivo – esse ex- DJ e ator de séries tenta agora chamar a atenção dos grandes estúdios. Se depender de mais bons filmes como esse será bem sucedido. Em suma, "A Última casa da Rua" é uma boa opção para quem estava com saudades de bons thrillers de suspense com várias reviravoltas na trama. Não chega a ser brilhante mas é muito bom no final das contas. Por isso está devidamente recomendado.

A Última Casa da Rua (House at the End of the Street, Estados Unidos, 2012) Direção: Mark Tonderai / Roteiro: Peter Block, Hal Lieberman, Aaron Ryder baseados na novela de Jonathan Mostow / Elenco: Jennifer Lawrence, Elisabeth Shue, Max Thieriot, Gil Bellows, Nolan Gerard Funk / Sinopse: Mãe e filha alugam uma casa vizinha a uma residência onde no passado ocorreu um terrível crime. No isolado imóvel mora sozinho o único sobrevivente de uma família assassinada. Retraído e isolado ele vive em um lugar onde nada realmente é o que aparenta ser de verdade.

Pablo Aluísio.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Dredd

Violento, sujo e sem roteiro. Assim de forma simples poderia definir essa nova adaptação das estórias do Juiz Dredd para o cinema. Como se sabe o personagem futurista habita um mundo sem esperanças. O ar está contaminado com altas doses de radiação, o mundo é caótico, onde 96% das pessoas estão desempregadas. Os sobreviventes ocupam enormes cidades onde vivem apertados em pequenos cômodos imundos em prédios gigantescos. Como não há trabalho e nem meio de vida grande parte do povo vive do crime. Nesse quadro de hecatombe o Estado investiu a certos "juízes" a função de capturar, julgar e punir os criminosos. O juiz Dredd (Karl urban) é um desses combatentes. Esqueça o primeiro filme que foi estrelado por Stallone, esse aqui procura ser mais fiel ao mundo dos quadrinhos, o problema é que se esqueceram de escrever um roteiro melhor. Tudo se resume a uma longa caçada de gato e rato dentro de um dos edifícios de Mega City One, onde Dredd vai investigar um triplo homicídio. A partir daí não há mais nenhuma novidade. Ação sem freios, violência explícita e muita correria.

Karl Urban interpreta Dredd mas poderia ser qualquer um. Ele nunca tira o capacete e está sempre mandando chumbo em alguém. O ator que já apareceu em "Star Trek" e "Red - Aposentados e Perigosos" não compromete mas também não brilha, talvez pelo fato do roteiro simples não abrir espaço para isso. Melhor se sai Olivia Thirlby na pele de uma juíza novata que acompanha Dredd e que tem estranhos poderes de mediunidade (ela consegue ler os pensamentos das pessoas ao seu redor). A direção de arte não chega a impressionar também pudera, quase todo o filme é passado dentro do edifício onde Dredd e sua companheira são caçados pela mega traficante e ex-prostituta Ma-ma (Lena Headey com uma enorme cicatriz no rosto). Apesar dos pesares "Dredd" consegue ser bem melhor que o primeiro filme com Stallone, isso porém não significa que ele seja grande coisa  De certa maneira é apenas um filme de ação escapista extremamente violento. Se você gosta do estilo arrisque, caso contrário, se estiver esperando apenas por um bom filme Sci-Fi é melhor desistir.

Dredd (Dredd, Estados Unidos, 2012) Direção: Pete Travis / Roteiro: Alex Garland baseado nos personagens criados por John Wagner e Carlos Ezquerra / Elenco: Karl Urban, Olivia Thirlby, Domhnall Gleeson, Santi Scinelli, Lena Headey / Sinopse:  Em um prédio super povoado na metrópole Mega City One um juiz e sua colega em treinamento são encurralados por uma gangue extremamente violenta de traficantes liderado por Ma-ma, ex prostituta e agora homicida em série.

Pablo Aluísio

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Criação

Charles Darwin (1809 -1882) certamente foi um dos grandes gênios da humanidade. Cientista, teórico e naturalista brilhante foi uma figura chave no nascimento da teoria da evolução das espécies e da seleção natural. Seu livro "On the Origin of Species" publicado pela primeira vez em 1859 é um marco do pensamento científico. Nele Darwin expõe a evolução que todos os seres vivos passam ao longo dos séculos, evolução essa determinada pela seleção natural e por fatores internos e externos inerentes a todas as espécies do planeta, inclusive o homem, fruto direto dessa escalada evolutiva. Obviamente um pensamento tão profundo e marcante como esse bateu de frente com as idéias religiosas de seu tempo pois a origem divina do ser humano mostrada no livro do gênesis da Bíblia não admitia qualquer forma de questionamento. O interessante é que o próprio Darwin era uma pessoa religiosa. Quando chegou nas conclusões de seu livro mais famoso passou por uma grande crise existencial sobre o que havia descoberto. Ele sabia que colocaria por terra muitos dos fundamentos religiosos da doutrina Cristã judaica. O filme capta exatamente esse momento em que Darwin tinha que escolher entre publicar suas descobertas ou se calar. O que fez o cientista mudar de posicionamento foi o receio de que sua teoria fosse roubada e creditada a outra pessoa. Temendo isso ele finalmente optou pela publicação de seu livro o que lhe trouxe  uma série de críticas e ataques dos setores mais reacionários da sociedade inglesa da época.

A grandeza de seu pensamento segue firme e forte até os nossos dias. Suas teorias foram confirmadas nas últimas décadas pelos avanços da engenharia genética. Darwin certamente se mantém como um pensador de sólidas bases teóricas. Ao longo de tantos anos sua teoria foi atacada de todas as formas mas nunca perdeu a robustez. Ela segue tão brilhante como veio ao mundo no século 19. Dito isso chegamos a esse filme  "Criação" que tenta desmistificar o grande cientista, tentando mostrar o lado mais humano de sua personalidade. Apesar de ter lido criticas negativas gostei bastante desse filme. Aprecio muito esse tipo de biografias e se forem de grandes cientistas, melhor. O mais interessante é que mostra o lado mais íntimo de Darwin, as questões religiosas que teve que enfrentar e aspectos pessoais de sua vida familiar que eu desconhecia. Reconheço que sou suspeito pra falar porque adoro história (biografias ainda mais) e sou fã do Darwin e sua teoria da evolução. Esse tipo de filme (mesmo deixando a desejar em termos) jamais deixaria de assistir. Gosto demais desse tipo de produção. É sempre gratificante ver ali personificado em cena um cientista que admiramos. A produção é de bom gosto e a direção de arte também me agradou muito. Esse clima Vitoriano que vemos em cena sempre garante elegância aos filmes passados nessa época histórica. "Criação" é um excelente filme, muito bem realizado com produção luxuosa. Por tudo isso está mais do que recomendado.

Criação (Creation, Estados Unidos, 2009) Direção: Jon Amiel / Roteiro: John Collee / Elenco: Paul Bettany, Jennifer Connelly, Jeremy Northam, Toby Jones, Benedict Cumberbatch, JimCarter, Teresa Churcher, Zak Davies, Harrison Sansostri / Sinopse: "Criação" conta parte da história do famoso cientista inglês Charles Darwin (Paul Bettanny), que no século 19 abalou o mundo da ciência com a publicação de seu revolucionário livro onde explicava os mecanismos da evolução das espécies. Brilhante pensador, homem de família, o filme mostra a sua luta interior nascida da indecisão entre publicar seus escritos (que iam contra o pensamento religioso da época) ou se resignar completamente sobre isso.

Pablo Aluísio.