Primeiro filme de Walt Disney na década de 1960, “A Guerra dos Dálmatas” investe em uma estória ambientada em Londres. Disney tinha um velho sonho de construir um parque temático na Europa nos moldes da Disneylândia e uma produção assim, com personagens ingleses, caía muito bem em suas pretensões de tornar sua marca mais conhecida e familiar no velho mundo. Seu sonho porém só se tornaria realidade muitos anos após sua morte com a inauguração da Eurodisney em Paris (e não em Londres como ele inicialmente havia pensado). “A Guerra dos Dálmatas” tem muitas semelhanças com outra animação de Disney dos anos 50, “A Dama e o Vagabundo”. O traço é praticamente o mesmo e o enredo girando em torno de aventuras caninas até mesmo se assemelhava com a animação anterior. Deixando de lado as princesas e príncipes de “A Bela Adormecida”, Disney aqui se concentrou na estória de Roger, um compositor solteirão e seu cão de estimação, um dálmata de nome Pongo. Como seu dono só pensa em trabalho e não tem uma vida social, Pongo resolve dar uma forcinha para que ele arranje uma namorada. Ao ser levado para passear em um parque próximo ele faz de tudo para que Roger se aproxime da bela Perdita. Ela também é dona de uma bonita cadela Dálmata e assim os casais se formam. Após o casamento de Roger e Perdita, Pongo e sua nova companheira dão cria a 15 filhotinhos de Dálmatas. O problema é que uma grande amiga de Perdita, a fútil e fumante inveterada Cruella De Vil, tem especial interesse em comprar os filhotinhos. Embora se diga adoradora de animais ela na verdade está querendo colocar as mãos nos cachorrinhos para matá-los e com suas peles confeccionar um lindo casaco de pele com as pintas dos Dálmatas, algo que ela considera o máximo em beleza fashion.
Disney assim criou uma das primeiras animações realmente ecológicas da história do cinema. Indiretamente o enredo atacava a futilidade da alta costura que se utilizava de peles de animais mortos para a criação de todos aqueles casacos de peles luxuosos que naquele momento estavam na moda da alta costura em Paris. Disney pretendia denunciar essa situação com a personagem Cruella, uma perua rica e perversa que em muito se assemelhava a várias divas do mundo da moda. O curioso é que ao criar essa consciência ecológica nas crianças Disney acabou plantando uma semente que deu muitos frutos anos depois com a criação de várias entidades de defesa dos direitos dos animais, na Europa e no restante do mundo. De fato os antes glamourosos casacos de pele perderam ao longo dos anos seu status de alta costura para se transformarem em símbolos de mau gosto e perversidade contra animais em geral. Outro aspecto interessante sobre “A Guerra dos Dálmatas” foi a intensa popularização da raça após o sucesso do filme. De repente todas as crianças da época queriam criar um Dálmata após assistirem a essa animação. O problema é que os Dálmatas da vida real eram bem diferentes daqueles mostrados na estória do desenho. Raça diferenciada e geniosa, que precisa de cuidados especiais, os Dálmatas acabaram virando uma dor de cabeça para os donos menos preparados para lidar com o gênio desses cães. Infelizmente muitos foram abandonados depois de crescerem e hoje não é raro ver animais dessa raça vagando pelas ruas das principais cidades da Europa. Um efeito colateral jamais previsto por Walt Disney quando lançou o filme. Não faz mal, uma vez que sua mensagem ecológica se tornou muito mais perene e relevante. Não deixe de conhecer mais esse famoso clássico com a assinatura do genial Walt Disney.
A Guerra dos Dálmatas (One Hundred and One Dalmatians, Estados Unidos, 1961) Direção: Clyde Geronimi, Hamilton Luske / Roteiro: Bill Peet baseado na novela de Dodie Smith / Elenco (vozes): Rod Taylor, Betty Lou Gerson, J. Pat O'Malley, Betty Lou Gerson, Martha Wentworth / Sinopse: A malvada Cruella De Vil deseja confeccionar um lindo casaco de peles com as pintinhas típicas da raça Dálmata. Para isso não medirá esforços para colocar as mãos nos 15 filhotinhos do casal de cães de propriedade dos simpáticos Roger e Perdita.
Pablo Aluísio.