Ela me chamou a atenção pela primeira vez no excelente filme "Educação". De lá pra cá tem surpreendido pelas boas atuações em produções instigantes e inteligentes. Charmosa, sofisticada e muito sutil, Carey tem tudo para despontar como uma grande estrela. A atriz britânica tem demonstrado grande bom gosto na escolha de seus personagens que mesmo quando coadjuvantes conseguem chamar a atenção. Em seu novo filme "My FairLady" ela interpretará um papel à la Audrey Hepburn o que é muito conveniente uma vez que ambas as atrizes possuem o mesmo feeling de sofisticação e elegância. Agora é esperar para ver. A seguir algumas resenhas de filmes da jovem atriz.
Não Me Abandone Jamais
- Um grupo de crianças órfãs nasce e cresce sob o controle do Estado. Eles são afastados do mundo exterior e pouco sabem sobre seu passado. Na fase adulta uma dessas garotas começa a se questionar sobre sua situação pessoal e sai em busca por respostas. O que a levará a descobrir uma realidade terrível sobre sua origem. Devo confessar uma coisa: esse foi um dos filmes mais perturbadores que assisti nos últimos anos. Não vou aqui revelar o grande segredo dele mas antecipo dizer que conforme ele foi passando fui ficando cada vez mais absorvido e impressionado. Tudo é passado e mostrado numa terrível normalidade, dentro de uma situação completamente cruel para não dizer o mínimo. Esse sim é o tipo de roteiro e argumento que quanto menos se falar melhor para os que irão assistir ele. Eu adoraria revelar e debater mais sobre essa situação terrível pelo qual os personagens passam e vivem mas não quero estragar a surpresa de ninguém. Só digo que é muito original (e muito deprimente).
O elenco todo está muito bem. Desde a gracinha Carey Mulligan, passando por Keira Knightley (muito magra em decorrência do papel) mas o filme pertence mesmo a Charlotte Rampling. É incrível como grandes mestres da arte de interpretar precisam de tão pouco para dominar completamente a cena. A Charlotte (que sou fã desde Angel Heart) aqui aparece em 3 ou 4 cenas mas na última que aparece arrasa. Em uma frase e em um olhar ela resume todo o filme de forma avassaladora. Grande momento. Enfim, aconselho que leia o menos possível sobre o filme (sempre tem um critico que estraga tudo antes do tempo) e vá assistir ao filme como eu fui, sem saber quase nada. Só assim vocês terão a possibilidade de apreciar tanto quanto eu apreciei. Recomendo muito o filme. Por fim fica a bela frase que resume um dos aspectos mais interessantes de seu argumento: "Não fazíamos isso para enxergar suas almas. Fazíamos para saber se vocês tinham almas".
Shame - Uma vez que o casamento se tornou uma instituição fora de moda e cafona as pessoas nos dias atuais procuram alternativas para suprir suas necessidades emocionais e sexuais. "Shame" lida justamente com isso. No filme acompanhamos a rotina de Brandon Sullivan (Michael Fassbender), um nova-iorquino bem situado, com bom emprego e um apartamento bem localizado. Sua vida sexual e emocional se resume a breves encontros com garotas para sexo casual que conhece pela cidade. Seu cotidiano porém muda com a chegada de sua irmã Sissy (Carey Mulligan). Ela é bonita, atraente e assim como Brandon também adota um estilo de vida liberal. "Shame" na realidade é uma pequena crônica sobre a vida sexual do homem moderno. O personagem principal é um solteiro em Nova Iorque, com toda a liberdade moral e sexual a que tem direito. Assim não se furta em aproveitar todas as oportunidades que a grande cidade tem a lhe oferecer. O problema é que diante de tal grau de permissividade sua procura pelo sexo oposto logo acaba se tornando um ciclo vicioso sem limites. A realidade de Brandon em pouco tempo foge de seu controle e ele se torna um viciado em sexo anônimo e pornografia. É a velha metáfora de que a liberdade desacompanhada de responsabilidde e comprometimento pode facilmente se tornar lesiva.
O elenco de Shame é bom e o destaque vai para Carey Mulligan. Além de ser uma gracinha ela é talentosa e carismática. A atriz tem aparecido em diversas produções que se destacaram nos últimos anos como "Educação", "Drive" e "Não me Abandone Jamais". Sua personagem é muito interessante dentro da trama de "Shame" uma vez que logo cria uma desconfortável tensão sexual com seu próprio irmão dentro do apartamento onde vivem. Já Michael Fassbender está apenas correto. O diretor negro Steve McQueen (homônimo do famoso ator) escolheu uma produção naturalista, com uso de longos planos sequência. Sua opção em explorar o nu frontal dos atores pode vir a desagradar algumas pessoas mas particularmente achei uma decisão acertada uma vez que o filme tem como tema a sexualidade de seus personagens e como tal não poderia adotar atitudes de falso moralismo com eles. Aliás sua posição de não levantar qualquer bandeira moralista é um de seus pontos mais positivos. Em suma "Shame" tenta entender a vida sexual das pessoas que vivem dentro de uma sociedade tecnológica e liberal. Só o fato de levantar esse tema para debates já o torna extremamente válido.
Educação - A festa do Oscar premia blockbusters comerciais vazios como Avatar e ignora filmes menores mas com muito mais qualidade como esse lírico e instrutivo "Educação" O filme não teve maior repercussão quando foi exibido em poucas salas aqui no Brasil. Uma pena, pois privou o público de conhecer um belo retrato da sociedade inglesa no pós guerra. No filme somos apresentados a Jenny Mellor (Carey Mulligan) uma jovem estudante que anseia por uma vida melhor da que atualmente leva. Entediada com a vida banal e com a repressão moralista da rígida sociedade britânica da época ela resolve fazer o impensável naqueles tempos ao se envolver com um homem bem mais velho. Nem é preciso dizer o que tal decisão significaria em sua vida pessoal, em especial entre seus pais. Isso era algo como uma bomba sendo explodida dentro de seu núcleo familiar. A temática do roteiro foi inspirada em fatos reais e mostra como era o impacto de um relacionamento assim visto sob a ótica de uma típica família suburbana de Londres daquele período.
A personagem interpretada por Carey Mulligan é uma garota inteligente, que está prestes a ir para a universidade. Impaciente, ela procura alguma aventura emocional mais transgressora antes de ingressar definitivamente na chamada vida adulta. O argumento explora bem a ruptura que surge daí pois ao tomar uma decisão precipitada (típica de adolescentes) a personagem se vê jogada de forma abrupta nas responsabilidades de um relacionamento adulto. Além do roteiro bem escrito "Educação" também tem uma produção caprichada. A reconstituição de época do filme é do mais alto nível, tudo recriado com excelente bom gosto e finesse. Para quem gosta da chamada cultura vintage é um prato cheio. Já Carey Mulligan é um caso á parte. Mesclando ingenuidade com sensualidade ela traz à tela uma dose extra de carisma. Sua personagem, com toques de Lolita, certamente mexerá com o imaginário sexual dos quarentões. O roteiro também é muito bem escrito pois se contenta em apenas narrar os acontecimentos de forma espontânea e natural, sem cair nos perigos da simples e pura condenação moral. Enfim, recomendo "Educação" para o público que procura por um filme relevante do ponto de vista histórico. Uma produção que consegue mostrar velhos tabus e costumes que hoje em dia são totalmente ultrapassados mas que ainda teimam em persistir nas camadas mais conservadoras e atrasadas de nossa sociedade.
Drive -
Drive é um filme seco, cru e pra falar a verdade bem cruel. O clima é totalmente insípido. O personagem Driver (que não tem nome e é interpretado por Ryan Gosling) é esquisito, quase não fala e não parece transparecer emoções. Até seu "quase relacionamento" com Irene (feito pela sempre gatinha Carey Mulligan) é destituído de calor verdadeiramente humano. A postura em cima desses personagens me deixou surpreso mas não vi isso como algo negativo por parte do roteiro. Na realidade entendi a intenção dos roteiristas em elaborar quase um "não personagem", ou seja, alguém sem passado, sem nome, sem objetivos, que apenas existe mas não interage bem com outras pessoas (a não ser quando se trata de ser violento e cruel).
Talvez por ser tão árido o filme seja bem melhor nas cenas de assalto e perseguições. A sequência inicial, por exemplo, é uma das melhores coisas de todo o filme pois achei realmente muito bem feita e editada. O elenco de apoio também é um dos pontos altos do filme. Cheio de estrelas da tv como Christina Hendricks (Mad Men), Bryan Cranston (Breaking Dad) e Ron Perlman (Sons of Anarchy). Fiquei impressionado também pela participação de Albert Brooks, fazendo um personagem completamente fora de seu habitual, um sujeito envelhecido e violento, que dá o tom ao resto da estória. Enfim, é isso. Drive não é um filme fácil, leve e nem pipoca. No saldo final esse é seu grande mérito.
Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme
- Eu não levava muita fé nesse "Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme". Isso porque já faz tanto tempo desde o lançamento do Wall Street original em 1987 que o público atual dificilmente se lembraria do fio da meada daquela estória. É o que eu denomino de continuação tardia, tardia demais é bom frisar. Além disso o projeto desde que foi anunciado sempre me pareceu apenas uma tentativa de ressuscitar a decadente carreira de Michael Douglas no cinema, ainda mais agora já que ele já está com idade avançada e sofrendo de uma doença grave. Eu pensei sinceramente que tudo seria uma nulidade, um ato de desespero de Douglas e Stone atrás do sucesso há muito perdido. Confesso que me enganei em termos. Esse novo Wall Street até que é digno, bem escrito, um bom filme afinal. Para falar a verdade tem mais conteúdo do que o primeiro, que se focava demais apenas nos aspectos técnicos do mundo financeiro. Esse aqui também tem disso mas o roteiro é muito mais humano e a família de Gordon Gekko ganha mais destaque. Ele não é apenas um tubarão unidimensional de Wall Street. Dessa vez Oliver Stone trouxe mais profundidade ao personagem Gekko. Ele é mostrado em cena com problemas familiares, problemas de relacionamento e isso no final trouxe muito ao resultado final.
No Wall Street de 1987 o roteiro centrava fogo no relacionamento entre Gekko e um pupilo (interpretado por Charlie Sheen que aqui no 2 faz uma pontinha bem humorada). Naquele ano Charlie Sheen estava sendo apontado como um novo Tom Cruise, ele vinha do sucesso "Platoon" do mesmo diretor Oliver Stone e era um ator mais do que promissor. Depois como todos sabemos ele afundou sua carreira com drogas e prostitutas. Já o elenco aqui está muito bem, com destaque para Michael Douglas e a gracinha Carey Mulligan (que despontou para o sucesso com o filme "Educação") O ponto fraco no quesito atuação porém é novamente de Shia LaBeouf, que não adianta tentar pois é um ator muito fraco, chegando a comprometer o filme em certos momentos. Em papel central tudo o que ele consegue em cena é confirmar sua fama de profissional medíocre. De qualquer forma Oliver Stone (em aparições à la Hitchcock) segura as pontas nessas horas. A fina ironia de tudo nessa continuação fora de hora porém é saber que apesar do filme falar sobre dinheiro o tempo todo, ele mesmo não conseguiu fazer grana nas bilheterias pois seu resultado comercial foi considerdo pífio. Com esse resultado Hollywood deve finalmente enterrar a franquia. Por essa nem Gordon Gekko esperava...
Em breve novas resenhas serão acrescentadas à lista.
Pablo Aluísio.