segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Marilyn Monroe - Verdades e Mentiras

Marilyn Monroe realmente teve um caso amoroso com o presidente Kennedy? Ao que tudo indica sim. Embora a família Kennedy desminta até hoje esse fato, a verdade parece ser a que Marilyn e Kennedy tiveram realmente um ardoroso caso amoroso. Eram amantes e em algumas ocasiões isso ficou bem nítido (como o famoso “Parabéns Para Você” que a atriz cantou para o presidente em um de seus aniversários). E não para por aí, pois Marilyn também se envolveu com o irmão de John, Bob Kennedy, que também era casado e tinha muitos filhos, todos menores de idade. John havia enviado seu irmão para falar com Marilyn para lhe dizer que tudo estava acabado entre eles, mas o feitiço virou contra o feiticeiro e Bob acabou se apaixonando pela atriz. Esses escandalosos romances aliás se tornaram a base de praticamente todas as teorias da conspiração sobre a morte de Marilyn Monroe através dos anos. Teria a família Kennedy algo a ver com sua morte? A verdade sobre tudo o que aconteceu? Provavelmente nunca saberemos...

Marilyn Monroe era lésbica? Marilyn costumava dizer que nunca conseguia ficar plenamente satisfeita do ponto de vista sexual com nenhum homem, mesmo tendo inúmeros amantes ao longo da vida. Em certo período ela pensou seriamente que era, na realidade, lésbica. Mesmo tendo dúvidas sobre sua sexualidade, nunca avançou demais nesse campo, sempre preferido mesmo homens ao seu lado. Uma de suas professoras de interpretação porém era lésbica e tinha plena consciência disso. Até tentou algo com Marilyn, mas apesar da curiosidade a atriz recusou gentilmente a possibilidade desse tipo de relacionamento. Até hoje não existem fontes seguras e certas de que ela, em algum dia de sua vida, tenha tido qualquer tipo de relacionamento homossexual.

Marilyn Monroe usava drogas? Sim e em grande quantidade. Marilyn começou a usar drogas prescritas por médicos para amenizar sua terrível insônia. Ela tinha enorme dificuldade em dormir, causada principalmente por sua ansiedade e ataques de pânico. A atriz também tinha uma baixa auto estima, que piorava ainda mais seu quadro. Para combater um quadro psicológico tão complicado ela começou a tomar remédios receitados por seus médicos e analistas. Em pouco tempo perdeu o controle sobre seu uso, abusando muito das medicações e as misturando perigosamente com bebidas alcoólicas, o que acabou prejudicando demais sua vida pessoal e profissional. Ao que tudo indica a causa mais provável de sua morte tenha sido justamente uma overdose acidental desses mesmos remédios, embora seu falecimento esteja até hoje encoberto por muitos mistérios não resolvidos.Em relação a drogas não prescritas há suspeitas que tenha fumado maconha ao lado do ator Robert Mitchum. Isso porém foi apenas uma experiência porque ela odiava fumo e cigarros em geral.

A atriz foi realmente espancada por Joe Di Maggio? A maioria das biografias afirma que sim. O triste acontecimento ocorreu após as filmagens de Marilyn com calcinhas à mostra no filme “O Pecado Mora ao Lado” (a famosa cena da saia levantada). No meio da multidão lá estava o marido Di Maggio, que ficou simplesmente escandalizado com o que viu. Depois ao encontrá-la em casa começou uma violenta discussão com ela. Descendente de italianos, machista, não admitia aquele tipo de situação. Segundo algumas fontes Di Maggio teria mesmo agredido Marilyn a ponto da atriz surgir no dia seguinte com uma grande faixa em seu braço. Os acontecimentos posteriores também parecem comprovar esse fato, pois não demorou muito para Marilyn pedir o divórcio do marido.

Marilyn Monroe se suicidou ou foi um acidente? Ao que tudo indica foi um terrível acidente. Deixando de lado todas as teorias alternativas sobre sua morte (que afirmam que ela na verdade foi assassinada), o que parece ter acontecido foi que Marilyn, por estar abusando de bebidas (ela adorava champagne) e drogas, perdeu o senso, misturando muitas pílulas para dormir prescritas por seu analista, com altas doses de bebida alcoólica. Quando ela morreu estava segurando o telefone que ficava ao lado de sua cama. Há duas hipóteses: Ou ela teria simplesmente apagado tentando pedir por socorro ou então perdeu a consciência enquanto tentava ligar para alguém. Em nenhum dos casos a situação parece com a de um suicídio. Além do mais ela não deixou qualquer tipo de bilhete em seu leito de morte. A verdade porém nunca saberemos ao certo.

Marilyn Monroe era religiosa? A única vez que se aproximou mais da religião foi durante seu casamento com Arhur Miller. Ele era judeu e Marilyn ficou particularmente interessada na doutrina e nos dogmas judeus, tanto que se converteu à religião. Depois desse interesse inicial porém a aproximação dela com assuntos religiosos decaiu bastante. Sua mãe lhe havia dado um pequeno livro com frases religiosas retiradas da Bíblia quando ela era apenas uma criança e de vez em quando Marilyn o consultava. Mesmo assim nunca se considerou uma praticante de qualquer tipo de religião.
 
Como era Marilyn Monroe fisicamente? Marilyn Monroe tinha 1.67 de altura, 94 centímetros de busto, 61 cm de cintura e 89 cm de quadril. Quando estava em boa forma pesava 64 Kgs e calçava sapatos número 36. Infelizmente os inúmeros abortos e problemas de saúde, além dos abusos envolvendo álcool e drogas, também cobraram seu preço o que fazia Marilyn perder a linha de vez em quando na forma física. Em casa não usava maquiagem e nem se importava em se vestir bem – geralmente ficava desleixada e desarrumada. Adorava andar nua pela casa e chegou até mesmo a receber visitas assim. Sua higiene era problemática, pois havia sido criada de forma negligenciada em diversos lares onde não foi ensinada adequadamente sobre esse tipo de questão. Para se transformar no mito sexual que o público conhecia sempre tinha a mão uma equipe de maquiadores e cabeleireiros que eram não apenas muito próximos dela do ponto de vista profissional, mas pessoal também.

Marilyn Monroe foi realmente garota de programa? Muitas biografias afirmam que assim que chegou em Hollywood atrás de um emprego na indústria, Marilyn começou a sair com homens bem mais velhos, mas bem situados no meio. O objetivo dela era claro pois esses figurões poderiam lhe arranjar papéis em filmes dos estúdios. Ela tecnicamente não era uma profissional do sexo, tudo era feito de forma muito mais sutil, na realidade uma troca de favores de conteúdo sexual. Marilyn se submetia a esses homens e em troca ganhava pequenos papéis em filmes menores. Sobre essa época em sua vida ela declarou: “Quando se é uma jovem em busca de um papel importante no cinema nada mais tem valor e ficamos dispostas a praticamente tudo, deixamos até mesmo de comer para conseguir entrar em um filme”. Marilyn Monroe certamente fez várias concessões ao longo da vida para subir na carreira. Porém a prostituição propriamente dita nunca foi praticada por Marilyn.
   
Qual era o maior medo de Marilyn Monroe? A atriz tinha muito medo de terminar como sua mãe, internada em um sanatório para pessoas com doenças mentais. A loucura vinha de longe dentro da genealogia de Marilyn com vários tios avôs que também tiveram diagnóstico de doença mental, por isso Marilyn tinha grande medo de um dia terminar do mesmo jeito. Outro medo recorrente em suas conversas com amigas próximas era o receio de terminar seus dias sozinha. Ela havia se casado várias vezes, mas nunca havia conseguido encontrar a verdadeira felicidade. A uma amiga atriz desabafou: “Parece que nasci para ser infeliz no amor!”.
   
Marilyn Monroe sofria de alguma doença mental? Ela esteve um período internada em um hospício e quem a tirou de lá foi seu ex-marido Joe Di Maggio. Seu diagnóstico médico sempre foi escondido do público. Oficialmente Marilyn dizia que foi internada por engano, mas existem fontes que afirmam que nesse período ela realmente perdeu a razão e o bom senso em sua vida mental. Era o velho fantasma da loucura de sua mãe que voltava a rondar a vida da atriz. Ela tinha consciência desse problema, tanto que ao longo da vida consultou inúmeros psiquiatras.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Taxi Driver

Para muitos críticos a maior obra-prima de Martin Scorsese é esse filme, "Taxi Driver". Uma ode à loucura para alguns, um manifesto sobre o processo de enlouquecimento do homem moderno pela vida urbana e massacrante, para outros. De qualquer forma é um daqueles filmes em que o espectador simplesmente não consegue ignorar, tal a sua força. E tudo isso, construído em cima de uma história, de um enredo que parece ser dos mais simples, mostrando a vida de um motorista de táxi, como tantos outros que conhecemos por aí, na vida cotidiana. O protagonista se chama Travis Bickle (Robert De Niro), Ele é um veterano da guerra do Vietnã que trabalha como motorista de táxi pelas ruas de uma Nova Iorque decadente, suja, imunda e amoral. Ao se deparar com a vida da adolescente Iris (Jodie Foster) que vive como prostituta pelos becos da grande cidade, acaba gradualmente perdendo o senso da realidade. Corroído pelo caos urbano e pela falta de humanidade no meio em que trabalha, ele acaba caminhando a passos largos para a insanidade completa. E tudo mesclado com uma explosão de violência que não chega a tardar.

Esse filme que mudou para sempre a carreira do ator Robert De Niro. Filho de um pintor do Greenwich Village em New York, o jovem De Niro só esperava por um grande papel para se destacar definitivamente no cinema. Formado no Actors Studio, a mesma escola de arte dramática onde estudaram Marlon Brando e James Dean, ele foi o grande representante da última e fenomenal geração de atores de Nova Iorque proveniente daquela instituição de ensino. Aqui um ainda jovem De Niro conseguiu desenvolver finalmente todo o seu talento nessa obra prima psicológica e insana do diretor Martin Scorsese, com quem ele faria uma longa e bem produtiva parceria nas telas de cinema. O interessante é que tanto Scorsese como De Niro sempre afirmaram amar a cidade de Nova Iorque, porém fizeram a ela uma estranha "homenagem". Um dos símbolos de NYC, os seus táxis amarelos, se tornam o cenário e o palco para um estranho personagem, o motorista vivido por De Niro. Um sujeito que foi a Vietnã e voltou de lá com sérios problemas psicológicos e traumas que aos poucos vão dominando sua mente, culminando para um clímax insano, violento e explosivo.

O "gatilho" para seu enlouquecimento acaba sendo uma estranha relação que desenvolve com uma adolescente prostituta, interpretada com brilhantismo por Jodie Foster (que consegue inclusive ofuscar em determinados momentos o próprio De Niro, algo impensável). Em determinado momento do filme ela o provoca dizendo que ele deveria provar seu amor matando o presidente dos Estados Unidos. Um louco da vida real acabou levando muito à sério o diálogo e realmente fez um atentado ao presidente Ronald Reagan, um fato amplamente explorado pela imprensa na época e que acabou marcando de forma definitiva o filme "Taxi Driver". Esse aspecto macabro e bizarro da história porém deve ser descartado, pois é um fato externo à obra de Scorsese. O que se deve mesmo levar em conta é que essa é uma verdadeira obra prima da sétima arte, um dos melhores filmes da década de 1970 e um marco do estilo realista que estava predominando naqueles agitados e produtivos anos para a indústria de cinema americana. Imperdível para todo cinéfilo que se preze. Merecia inclusive ter vencido em todas as categorias importantes do Oscar naquele ano. Só que a Academia, como sempre, estava mais disposta a fazer mais uma de suas injustiças históricas. Melhor assim, "Taxi Driver" realmente nunca foi um filme convencional, aliás sua estética era direcionada para o extremo oposto disso. Assim acabou sendo coerente em tudo, até no Oscar.

Taxi Driver (Estados Unidos, 1976) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Martin Scorsese / Roteiro: Paul Schrader / Elenco: Robert De Niro, Jodie Foster, Cybill Shepherd, Albert Brooks / Sinopse: Motorista de táxi de Nova Iorque, um veterano da guerra do Vietnã, começa a trilhar o caminho da loucura insana e violenta, após se relacionar com uma jovem garota, menor de idade, que trabalha como prostituta nas ruas escuras da cidade.  Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Robert De Niro), Melhor Atriz coadjuvante (Jodie Foster) e Melhor Música Original (Bernard Herrmann). Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Ator (Robert De Niro) e Melhor Roteiro Original (Paul Schrader). Vencedor do BAFTA Awards nas categorias de Melhor Atriz (Jodie Foster) e Melhor Música (Bernard Herrmann).

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Cine Western


 Paul Newman e Robert Redford

Um De Nós Morrerá

A história do famoso Billy The Kid (1859 - 1881) já foi contada inúmeras vezes ao longo dos anos pelo cinema americano. Geralmente o pistoleiro que surge nas telas é muito distante do que viveu no Novo México no século XIX. De fato a grande maioria dos filmes sobre Billy não tem qualquer tipo de ligação com os fatos reais. Acontece que Billy The Kid virou personagem de estórias fantasiosas que acabaram criando sua fama e mito. Isso já acontecia no século 19 e continuou ao longo das décadas. O personagem de ficção é um justiceiro, de esporas prateadas, defensor da honra, justiça e liberdade.

O Billy The Kid da história real ficava bem longe disso. Era realmente um assassino profissional ao qual são creditadas inúmeras mortes (algumas estimativas afirmam que matou mais de 20 pessoas). O que criou sua notoriedade foi a participação que teve na chamada guerra do Condado de Lincoln. Após ver seu patrão inglês ser morto por motivos comerciais, Billy e outros capangas formaram um bando chamado "Os Justiceiros", cujo principal objetivo era matar os assassinos de seu chefe. Nesse conflito, no qual morreram várias pessoas, Billy foi responsabilizado pela morte do Xerife de Lincoln. Condenado à forca conseguiu escapar, matando mais dois homens da lei na prisão onde se encontrava. Perseguido pelo Xerife Pat Garrett finalmente foi encontrado numa cidadezinha do Novo México, onde foi finalmente morto por Pat, que diziam ter laços de amizade com Billy.

O filme "Um De Nós Morrerá" conta essa história. Na época de seu lançamento os produtores anunciaram que seria o mais fiel retrato dos acontecimentos. A intenção era deixar o Billy The Kid da fantasia de lado para mostrar o verdadeiro homem por trás do mito. Em pouco mais de 90 minutos o roteiro se propõe a justamente isso. O problema é que o roteiro (baseado na obra do grande Gore Vidal) cortou passagens vitais para se entender Billy e a Guerra do Condado de Lincoln (que inclusive não é citada no filme). Assim em termos histórico o filme surge extremamente resumido, simplificado. A produção também contou com um orçamento muito restrito, que tirou da obra aquela grandiosidade que estamos acostumados a ver nos grandes filmes de western da década de 50.

O grande mérito de "Um de Nós Morrerá" surge porém na muito inspirada atuação do ator Paul Newman. Ele realmente surpreende ao mostrar um Billy The Kid nada glamouroso. Pelo contrário, o que vemos é um cowboy rústico, meio abobalhado e sem muita noção das coisas que faz (algo que bate certamente com o Billy real). Esse aliás deveria ter sido o primeiro faroeste de James Dean, que obviamente se encaixaria muito bem no papel do conturbado Billy. Quando morreu o estúdio pensou em arquivar o projeto mas com o surgimento de Paul Newman o filme renasceu das cinzas. "Um De Nós Morrerá" não é definitivo, nem muito menos completo, apresenta lacunas enormes da história do famoso criminoso, mas pelo menos adotou uma postura realista - algo que seria seguido em filmes posteriores. Não chega a ser um grande filme mas é um marco nesse sentido, certamente.

Um De Nós Morrerá (The Left Handed Gun, Estados Unidos, 1958) Direção: Arthur Penn / Roteiro: Leslie Stevens baseado na obra de Gore Vidal / Elenco: Paul Newman, Lita Milan, Hurd Hatfield, John Dehner, James Best, James Congdon, Denver Pyle. / Sinopse: Cinebiografia do famoso pistoleiro do velho oeste, Billy The Kid (Paul Newman). Após ver seu patrão morto por um grupo de assassinos contratados por um comerciante rival, Billy e seus colegas resolvem fazer justiça pelas próprias mãos.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Os Implacáveis

Durante muitos anos rolaram rumores de que os famosos criminosos Butch Cassidy e Sundance Kid não teriam morrido da forma como foi descrito nas investigações realizadas sobre suas mortes. Como se sabe oficialmente os dois bandidos foram mortos na Bolívia após sofrerem uma emboscada promovida por autoridades locais e homens da lei dos EUA que foram até o longínquo país da América do Sul para prender os famosos bandoleiros. Isso é a versão oficial. Para muitos porém Butch e Sundance teriam sobrevivido ao cerco e se embrenhando nas cordilheiras dos Andes onde conseguiram viver por longos anos. O filme “Os Implacáveis” parte justamente dessa premissa. Nele acompanhamos um já envelhecido Butch Cassidy (Sam Shepard, em ótima caracterização) morando em um pequeno rancho no sopé da montanha. Levando uma vida pacata e distante ele resolve finalmente voltar aos EUA para reencontrar um sobrinho. Após retirar todo o seu dinheiro do banco Butch é surpreendido ao perder seu cavalo (com o dinheiro) no meio de uma região inóspita. Lá encontra Eduardo (Eduardo Noriega), um espanhol que afirma estar sendo caçado por um rico minerador que o acusa de tê-lo roubado.

Juntos atravessando as pradarias mais hostis Butch e Eduardo tentam sobreviver aos seus algozes, ao mesmo tempo que tentam recuperar o dinheiro perdido. Obviamente que mesmo partindo de um suposto fato real (a fuga de Butch e sua sobrevivência até a velhice na Bolívia) tudo o que vemos na tela é mera ficção. A produção tem excelente fotografia, fruto da linda região onde o filme foi realizado. Além das montanhas ainda acompanhamos a dupla tentando sobreviver em extensas salinas bolivianas. O elenco é liderado pelo veterano Sam Shepard vivendo o personagem Butch Cassidy. Ele está muito bem por sinal. Tendo sobrevivido a tudo e a todos ele encara a velhice com melancolia e tristeza.

O ritmo é lento, contemplativo e cadenciado, por isso não recomendo para fãs de filmes dewestern mais viris, cheios de ação, tiroteios e mortes. Certamente há conflitos em Blackthorn mas eles são eventuais e pontuais, fazendo parte da trama em si. Curiosamente o filme foi dirigido por um cineasta espanhol, Mateo Gil, que mesmo não sendo americano demonstra boa desenvoltura no desenrolar dos acontecimentos. Em suma recomendamos o filme para os que gostaram do famoso “Butch Cassidy e Sundance Kid” com Paul Newman e Robert Redford. Esse aqui certamente passa longe do brilhantismo do clássico mas serve como curioso epílogo para o que vemos no original. Vale o preço da locação ou do ingresso.

Os Implacáveis (Blackthorn, Estados Unidos, 2011) Direção: Mateo Gil / Roteiro: Miguel Barros / Elenco: Sam Shepard, Eduardo Noriega, Stephen Rea / Sinopse: Envelhecido e escondido na Bolívia por muitos anos o famoso criminoso Butch Cassidy (Sam Shepard) resolve voltar para os Estados Unidos após trocar cartas com um sobrinho que mora lá. Na viagem de volta porém se vê envolvido em uma perseguição envolvendo um engenheiro espanhol que afirma estar sendo caçado por ter sido acusado injustamente de roubo na mina em que trabalhava.

Pablo Aluísio.

Texas Rangers

Esse filme "Texas Rangers" lembra muito a fórmula de outro western moderno, o longa de sucesso "Jovens Demais Para Morrer". A fórmula é basicamente a mesma: junte um grupo de jovens atores e faça um filme com as regras clássicas do gênero faroeste. Interessante é que assim como acontece na já citada franquia cinematogrática "Young Guns" aqui a receita se mostra funcional, nada muito brilhante, mas que pode facilmente se transformar em um bom passatempo para quem gosta do estilo. Nesse filme em particular temos o ator James Van Der Beek liderando o elenco. Para muita gente seu nome hoje em dia nada significa, mas para quem acompanhou a série "Dawnson´s Creek" ele foi um dos atores jovens mais carismáticos de sua geração. Ele interpretava o protagonista do programa que foi um grande sucesso da televisão nos anos 90, tanto nos Estados Unidos como no Brasil. Infelizmente sua carreira não deslanchou após o fim do seriado e ele nunca mais conseguiu repetir o mesmo sucesso do passado.

Porém o elenco de Texas Rangers não se resume apenas a ele. Tem vários atores muito bons trabalhando no filme, como por exemplo, Robert Patrick (de filmes como "Exterminador 2", "Arquivo X'", etc). Outro destaque é Tom Skerritt, veterano ator que poderia render muito mais, se tivesse tido a oportunidade de desenvolver melhor seu personagem. Outras presenças que chamam a atenção são as de Alfred Molina como o vilão, anos antes de se destacar mais em "Homem Aranha 2" e finalmente Ashton Kutcher fazendo mais uma caracterização com um pouco de humor, numa espécie de alívio cômico sutil para o filme. Enfim, "Texas Rangers" pode ser uma boa opção para os que gostam de filmes western. Não é um filme brilhante, mas diverte acima de tudo.

Texas Rangers - Acima da Lei (Texas Rangers, Estados Unidos, 2001) Direção: Steve Miner / Roteiro: Scott Busby baseado no livro de George Durham / Elenco: James Van Der Beek, Robert Patrick, Tom Skerritt, Alfred Molina, Ashton Kutcher, Usher Raymond, Dylan Mcdermott / Sinopse: O filme narra a formação de um novo grupo de homens para combater o crime no velho oeste. Denominados de Texas Rangers, eles formam um grupo de justiceiros a serviço da lei.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

No Tempo das Diligências

Esse foi o primeiro grande sucesso comercial e de crítica que uniu dois dos maiores mitos dos filmes de faroeste: John Wayne e John Ford. Partindo de uma premissa até simples o roteiro consegue desenvolver extremamente bem todos os personagens mostrando que um grande filme não precisa necessariamente ter um argumento complexo ou complicado, pelo contrário. O enredo, olhando sob esse ponto de vista, é extremamente eficiente: uma diligência com sete passageiros resolve enfrentar uma viagem das mais perigosas, atravessando um território hostil dominado pelo bando Apache liderado pelo famoso chefe Gerônimo. De forma muito talentosa John Ford desenvolve cada passageiro da melhor forma possível. E cada um deles é um retrato de tipos que fizeram parte da colonização rumo ao velho oeste. Estão lá o médico Alcoólatra interpretado por Thomas Mitchell (vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante por seu desempenho), a prostituta Dallas (Claire Trevor) banida da cidade por motivos óbvios pela liga da moralidade, o jogador trapaceiro Hatfield (John Carradine), o Xerife Curley (George Bancroft) e finalmente o pistoleiro foragido, às do gatilho, que é procurado pela lei, o famoso Ringo Kid (John Wayne). Todos representando tipos comuns do oeste americano. 

O filme também tem todas as características que criaram a fama do cinema de John Ford. A produção foi rodada no cenário mais famoso de sua filmografia, o Monument Valley. Foi a primeira vez que Ford filmou no local e ficou tão fascinado pelo resultado na tela que resolveu voltar lá inúmeras vezes nos anos seguintes, como por exemplo, em "Paixão dos Fortes", "Sangue de Heróis", "Legião Invencível", "Caravana de Bravos", "Rio Bravo", "Rastros de Ódio", "Audazes e Malditos" a até mesmo em seu último faroeste, "Crepúsculo de Uma Raça". O personagem Ringo Kid foi escrito para ser estrelado inicialmente pelo ator Gary Cooper. Já a prostituta Dallas foi criada para ser interpretada pela famosa atriz Marlene Dietrich.

Curiosamente ambos foram descartados do projeto por não terem acertado um cachê adequado ao orçamento do filme. Ford assim escalou John Wayne e Claire Trevor para os personagens, algo que consideraria anos depois um grande acerto pois os dois estão muito bem em cena. Também visando economizar o diretor acabou contratando índios Navajos para a formação do bando Apache de Gerônimo. Tantas economias e cortes de custo acabou virando uma marca registrada da produção que apesar de ser bem simples e direta também é muito eficiente e marcante. Hoje "No Tempo das Diligências" é considerado um dos grandes clássicos do gênero western, de forma muito merecida aliás.

No Tempo das Diligências (Stagecoach, Estados Unidos, 1939) Direção: John Ford / Roteiro: Ernest Haycox, Dudley Nichols / Elenco: John Wayne, Claire Trevor, Andy Devine, John Carradine, George Bancroft / Sinopse: Diligência com sete passageiros tenta atravessar uma região dominada pelo violento e hostil bando do famoso chefe Gerônimo. Vencedor do Oscar nas categorias de melhor ator coadjuvante (Thomas Mitchell) e melhor canção. Indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, diretor, direção de arte (Alexander Toluboff), fotografia em preto e branco (Bert Glennon) e Edição (Otho Lovering e Dorothy Spencer). Vencedor do prêmio de melhor direção (John Ford) pela associação dos críticos de cinema de Nova Iorque.

Pablo Aluísio.

Pequeno Grande Homem

"Pequeno Grande Homem" é um western diferente. Baseado no livro de sucesso de Thomas Berger, lançado em 1964, o filme gira em torno da trajetória de vida de um homem comum que acaba presenciando momentos marcantes da história do velho oeste americano. O tom não é de seriedade, o próprio personagem principal é essencialmente o protagonista de uma comédia picaresca. A tônica também é de revisionismo, dando novas versões para as antigas lendas do faroeste. Misturando fatos reais com mera ficção, a fórmula seria copiada anos depois em "Forrest Gump". E tal como no filme de Tom Hanks aqui também funcionou bem.

E o que é real e o que é ficção nesse filme? O personagem principal chamado pelos nativos de "Little Big Man" (O pequeno grande homem do título original) foi um personagem real. Ele foi um dos chefes Lakotas que participaram da batalha em que foram massacrados o General Custer e a sétima cavalaria. A questão é que as semelhanças entre a realidade e a ficção param por aí. Embora "Little Big Man" realmente tenha existido ele não era um branco criado por Cheyennes como mostrado no filme. Era um guerreiro do bando de "Cavalo Louco" e dizem ter sido o chefe que tirou o escalpo do famoso general americano após ele ter sido morto. Assim temos uma adaptação importante no enredo histórico. Sai o guerreiro índio e entra um branco, que acabou caindo no meio das guerras indígenas.

Já a visão de Custer no filme é, apesar da sátira, bem mais fiel do que o mostrado em filmes como "O Intrépido General Custer" com Errol Flynn, por exemplo. Se nos antigos filmes Custer era mostrado como um oficial valente e honrado, aqui ele é retratado como um assassino e genocida de crianças e velhos (algo que realmente ocorreu de fato na história). O filme também mostra Buffalo Bill e Wild Bill Hancock, grandes ícones do velho oeste, mas esses personagens, no final das contas, não possuem maior importância dentro desse roteiro de uma forma em geral. Muitas vezes eles acabam servindo apenas como alívios cômicos, o que destoa um pouco do que seria esperado.

O grande destaque do filme em si é a atuação de Dustin Hoffman. Ator extremamente talentoso, ele literalmente segura a produção nas costas, sendo sua atuação muito adequada ao feeling de humor do roteiro. Curiosamente ele não recebeu nenhuma indicação ao Oscar, sendo o ator nativo Chief Dan George lembrado em seu lugar. Uma forma da Academia se redimir um pouco com os índios dos Estados Unidos, que por anos foram retratados pelo cinema apenas como vilões sanguinários. Enfim, não é um filme historicamente correto. Passa longe disso, até porque essa aliás nunca foi a intenção nem do autor do livro original e nem dos produtores do filme. Porém esse faroeste pode certamente ser encarado como um divertido jogo onde realidade e ficção se misturam. O resultado disso não deixou de ser muito bom.

Pequeno Grande Homem (Little Big Man, Estados Unidos, 1970) Direção: Arthur Penn / Roteiro: Calder Willingham baseado no livro de Thomas Berger / Elenco: Dustin Hoffman, Faye Dunaway, Chief Dan George, Martin Balsam, Richard Mulligan, Jeff Corey / Sinopse: "Pequeno Grande Homem" (Dustin Hoffman) é um branco criado por tribos indígenas que ao longo de sua vida acaba presenciando vários eventos importantes na história do velho oeste americano. Filme indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Chief Dan George).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Por Um Punhado de Dólares

Esse é um dos grandes clássicos do chamado western spaghetti. O termo que pode até soar engraçado hoje em dia se refere aos faroestes produzidos e rodados na Itália com atores e equipe técnica daquele país, muitas vezes usando pseudônimos americanizados. Como se sabe o Western é um gênero tipicamente norte-americano pois o tema central é justamente a conquista do oeste daquela nação. Os italianos porém não se importaram muito com esse detalhe e a partir da década de 60 intensificaram a produção desse tipo de filme. Além da nacionalidade outras características distinguem bem os filmes italianos dos americanos. A ação é bem mais incessante, não há muita preocupação com roteiros bem elaborados e as interpretações tendem ao exagero, com vilões cartunescos e muita violência. Esse "Por Um Punhado de Dólares" tem tudo isso mas também é uma fita diferenciada. Essa singularidade tem nome: Sergio Leone. Cineasta talentoso, hábil, ele mostra nesse filme porque ainda hoje é um considerado um dos grandes mestres do cinema.

O uso de tomadas ousadas, cenas com muito clima e detalhes, além da combinação muito bem realizada entre trilha sonora e ação fizeram toda a diferença do mundo. As cenas de violência não são ainda tão bem elaboradas como às que veríamos em futuros trabalhos assinados pelo diretor mas aqui já há nitidamente um esboço de seu estilo e forma de trabalhar. O roteiro simplório não impede que Leone consiga mostrar grandes feitos em sua direção. O próprio duelo final é um exemplo, com ótima edição e enquadramento. Para coroar ainda mais esse faroeste temos a presença de um dos grandes atores desse gênero: Clint Eastwood. Aqui ele interpreta o pistoleiro sem nome que chega numa cidadezinha empoeirada no meio do deserto. O local é disputado por dois grupos rivais, ambos violentos e extremamente armados. O personagem de Eastwood então resolve tirar proveito dessa rivalidade. O que se sucede são muitos tiroteios, duelos e cenas de ação bem ao estilo do western spaghetti. A trilha sonora de Ennio Morricone pontua cada cena, cada tensão, cada troca de tiros. Parece ser onipresente. A conclusão que se chega ao final de sua exibição é que embora muitos aspectos do filme estejam datados e ultrapassados ele ainda resiste como um excelente exemplo do tipo de cinema que se realizava na Itália durante a década de 60. Além disso é um ótimo testemunho do talento de Sergio Leone, um diretor de muito tato e inspiração. 

Por Um Punhado De Dólares (Per un pugno di dollari, Itália, 1964) Direção: Sergio Leone / Roteiro: A. Bonzzoni, Víctor Andrés / Elenco: Clint Eastwood, Gian Maria Volonté, Marianne Koch / Sinopse: Clnt Eastwood interpreta o pistoleiro sem nome que chega numa cidadezinha empoeirada no meio do deserto. O local é disputado por dois grupos rivais, ambos violentos e extremamente armados. O personagem de Eastwood então resolve tirar proveito dessa rivalidade.

Pablo Aluísio.

Joe Kidd

Joe Kidd (Clint Eastwood) é preso por um crime menor. Ele foi pego pelo xerife caçando em uma reserva natural, o que era proibido por lei. Levado a julgamento, ele tem uma surpresa quando o tribunal é invadido por um bandoleiro mexicano chamado Luis Chama (John Saxon). Ele intimida o juiz, afirmando que não há mais justiça naquela região onde latifundiários americanos roubam as terras que eram tradicionalmente povoadas por colonos mexicanos. Ele cansou de esperar por lei e ordem e resolve agir por conta própria, comandando um grupo de pistoleiros e assassinos. Imediatamente uma força tarefa é organizada pelo xerife para capturar o foragido mexicano, mas tudo em vão. Entra em cena então o pistoleiro e caçador de recompensas Frank Harlan (Robert Duvall). Já que o xerife é um fraco, os grandes fazendeiros resolvem contratar um profissional. Seu objetivo é encontrar Chama e seus homens, para liquidar com todos eles. Harlan conhece o passado de Joe Kidd. Sabe que há muitos anos ele foi um conhecido caçador de recompensas e matador como ele. Assim resolve oferecer um valor irrecusável a ele, para entrar no bando que vai ao deserto em busca do revolucionário bandoleiro. Com certo receio Kidd acaba aceitando o convite, dando início a uma verdadeira caçada humana pelos desertos da fronteira entre Estados Unidos e México.

Esse "Joe Kidd" é mais um filme da fase americana da carreira de Clint Eastwood. Como se sabe ele ficou muitos anos trabalhando na Itália ao lado do diretor Sergio Leone. Com o sucesso de produções como "Por um Punhado de Dólares", "Por uns Dólares a Mais" e "Três Homens em Conflito", Clint virou um astro dos filmes de faroeste. De volta aos Estados Unidos ele começou uma nova safra de filmes do gênero. Esse aqui foi rodado logo após Clint estrelar um de seus grandes sucessos, "Perseguidor Implacável", o primeiro com o personagem do policial durão Dirty Harry.Apesar do êxito comercial desse filme de ação, Clint não queria abandonar o gênero western. "Joe Kidd" é certamente um bom filme, mas ainda fica bem abaixo de outras obras primas que Clint ainda iria participar como "Um Estranho Sem Nome" e "O Cavaleiro Solitário". Esses dois são certamente os melhores que ele fez nos anos seguintes. Mesmo assim não deixa de ser muito bom ver Clint Eastwood dirigido pelo mestre John Sturges, um veterano dos filmes de faroeste, que havia dirigido um dos grandes clássicos do estilo, o aclamado "Sete Homens e um Destino". Com tantos nomes importantes envolvidos em sua realização esse "Joe Kidd" é certamente um item obrigatório na coleção de todo fã de western que se preze.

Joe Kidd (Joe Kidd, Estados Unidos, 1972) Direção: John Sturges / Roteiro: Elmore Leonard / Elenco: Clint Eastwood, Robert Duvall, John Saxon, Don Stroud, Stella Garcia, James Wainwright / Sinopse: Joe Kidd (Clint Eastwood), um ex-caçador de recompensas e pistoleiro, se une ao bando de Frank Harlan (Robert Duvall), para caçar um agitador e bandoleiro mexicano Luis Chama (John Saxon), que almeja vingança contra fazendeiros e colonos americanos que ocuparam terras que tradicionalmente eram pertencentes aos povos do México.

Pablo Aluísio. 

domingo, 22 de dezembro de 2019

Shalako

Um grupo de nobres europeus resolve fazer uma viagem pelo velho oeste, uma espécie de safári na América. A intenção é conhecer aquela região selvagem para caçar animais exóticos como leões da montanha e carneiros de chifres. Durante a jornada acabam entrando inadvertidamente em uma reserva Apache. Os brancos não são bem-vindos naquele lugar desde que os nativos firmaram um tratado com o exército americano e por essa razão começam a ser caçados pelos guerreiros da tribo. Apenas o ex-coronel do exército Carlin "Shalako" (Sean Connery) poderá salva a vida daqueles viajantes. Com vasta experiência de sobrevivência no deserto adquirida por anos de serviço militar, ele tentará salvar todas aquelas pessoas da morte certa. Embora Sean Connery tenha atuado em mais de 90 filmes ao longo de sua carreira, ele praticamente não trabalhou em faroestes. Uma exceção foi esse "Shalako", uma produção europeia com jeitão de filme americano que tentou lançar a atriz Brigite Bardot dentro daquele mercado cinematográfico. 

A atriz que era um ícone de beleza e fama na época não levava jeito com a língua inglesa e por essa razão estava confinada e interpretar estrangeiras de passagem pela América. É o caso dessa sua personagem nesse filme. Ela é uma condessa em busca de um bom casamento. Para isso acaba participando da expedição patrocinada por um rico barão inglês. Todos vão para o oeste americano em busca de aventuras e diversão, mas tudo o que encontram pela frente são nativos selvagens e hostis. No meio do deserto começam a ser literalmente caçados por Apaches. Apenas a ajuda de um ex-militar veterano que vive de caçar búfalos chamado Shalako poderá garantir que não sejam mortos.

Sean Connery dá vida ao protagonista, um sujeito que se veste como Daniel Boone que tenta sobreviver naquelas terras áridas. Embora se chame Moses Carlin ele acaba adotando o nome que os Índios lhe deram: Shalako! Como todo nome índigena esse também tinha um significado, "Aquele que traz chuvas", já que sempre que entrava nas reservas apaches havia sinais de chuva por vir. Como era de esperar com Connery e Bardot em um mesmo filme os roteiristas logo trataram de criar um improvável romance entre eles. O curioso é que Connery já estava passando da idade de posar de galã romântico e mesmo não estando muito à vontade nessa função até que acabou não se saindo muito mal. Bardot continuava linda, porém já com os primeiros sinais da idade chegando (embora estivesse apenas com 35 anos na época!).

O roteiro do filme é até bem tradicional, sem maiores novidades. Basicamente é um jogo de vida ou morte no meio do deserto entre Apaches e os turistas europeus. Há também um bando de bandidos que roubam esses estrangeiros e entram no meio desse jogo de gato e rato. Em praticamente três atos o filme tem uma conclusão muito boa, nas montanhas, quando Connery resolve levar os viajantes para o topo de platô no meio do deserto em busca de água. Além da escalada (o que já garante ótimas cenas de ação) há ainda um duelo de lanças entre Connery e um Apache no alto da colina (sem dúvida uma boa cena de luta, bem coreografada e executada). Tudo garantindo aquele clima de diversão e aventura bem típico dos filmes da época. A lamentar apenas o fato de que esse seria o último faroeste de Sean Connery que ao que tudo indica não gostou muito da experiência de filmar em um deserto como aquele (que apesar de parecer ser o deserto da Califórnia era na verdade a região de Andalucía, na Espanha, onde vários filmes de western spaghetti foram filmados).

Shalako (Shalako, Inglaterra, Alemanha, 1968) Estúdio: Palomar Pictures International / Direção: Edward Dmytryk / Roteiro: James Griffith, baseado no livro de Louis L'Amour / Elenco: Sean Connery, Brigitte Bardot, Stephen Boyd / Sinopse: Grupo de europeus da nobreza decide ir até o oeste dos Estados Unidos para caçar naquela região considerada selvagem por todos eles. Só que uma vez nesse deserto hostil eles passam a ser caçados por nativos e guerreiros locais.

Pablo Aluísio.
 

sábado, 21 de dezembro de 2019

Sem Lei e Sem Alma

Entre tantas histórias que ficaram célebres no velho oeste poucas conseguiram alcançar a fama do tiroteio ocorrido no Ok Corral em Tombstone, Arizona. De um lado o lendário xerife Wyatt Earp (Burt Lancaster), seus irmãos e Doc Holliday (Kirk Douglas). Do outro lado o bando dos irmãos Clanton. Ambos se enfrentaram face a face, cada um a poucos metros do outro, armas em punho, um duelo que entrou para a história e que foi fartamente explorado no cinema durante todos esses anos. Esse "Sem Lei e Sem Alma" é até hoje considerado uma das melhores versões já feitas sobre o evento. O roteiro é extremamente bem trabalhado, nitidamente dividido em dois atos que se fecham e se complementam de forma perfeita. No primeiro ato acompanhamos a chegada de Wyatt Earp numa pequena cidade do velho oeste. Ele vem no encalço de Johnny Ringo (John Ireland) e seu bando. Lá se aproxima do pistoleiro e jogador inveterado Doc Holliday e acaba salvando sua vida ao ajudá-lo a fugir de seu próprio linchamento. No segundo ato encontramos os personagens já em Tombstone, a lendária cidade, onde nos 15 minutos finais do filme ocorrerá o famoso confronto no O.K. Corral.

Burt Lancaster e Kirk Douglas estão perfeitos em seus papéis. Kirk Douglas em especial encontrou grande afinidade entre sua própria personalidade expansiva e extrovertida e a figura do lendário Doc Holliday. Esse como já tive a oportunidade de escrever é realmente um personagem à prova de falhas. Um dentista corroído pela tuberculose que ocupava todo seu tempo jogando cartas e se envolvendo em confusões pelas cidadezinhas por onde passava. O que fazia de Doc um ótimo pistoleiro é que seu instinto de preservação já não era tão acentuado pois sempre se via no limite, à beira da morte, por isso para ele tanto fazia morrer em um tiroteio ou escapar vivo para mais um duelo à frente. Sua frieza e pontaria certeira o transformaram em uma lenda do velho oeste. Já Wyatt Earp também encontrou um ator ideal em Burt Lancaster. Íntegro, honesto e temido, procurava manter a lei em uma região infestada de facínoras e bandoleiros. O duelo no O.K. Curral foi apenas uma das inúmeras histórias envolvendo esse famoso homem da lei.

Para finalizar é bom salientar que a despeito de sua imensa qualidade cinematográfica, "Sem Lei e Sem Alma" não é completamente fiel aos fatos históricos. O próprio duelo final, razão de existência do filme, não ocorreu da forma mostrada no filme. De fato os eventos reais foram bem mais simples, pois os dois grupos rivais estavam frente a frente, a poucos metros uns dos outros. No filme há toda uma sequência de cenas que não existiram, como a queima da carroça, por exemplo. Johnny Ringo, o famoso pistoleiro, também não estava no confronto do O.K. Ele foi morto tempos depois no meio do deserto. Suspeita-se que foi morto por Doc Holliday pois ambos tinham uma rivalidade antiga que só seria resolvida com armas em punho. De qualquer forma esses detalhes em nada diminuem a extrema qualidade de "Sem Lei e Sem Alma", que hoje é considerado merecidamente um dos melhores filmes clássicos de western já realizados. Uma obra-prima certamente.

Sem Lei e Sem Alma (Gunfight at the O.K. Corral, Estados Unidos, 1957) Direção: John Sturges / Roteiro: Leon Uris baseado no artigo escrito por George Scullin / Elenco: Burt Lancaster, Kirk Douglas, Rhonda Fleming, Jo Van Fleet, John Ireland, Frank Faylen, Ted de Corsia, Dennis Hopper, DeForest Kelley, Martin Milner / Sinopse: Wyatt Earp (Burt Lancaster), seus irmãos e Doc Holliday (Kirk Douglas) resolvem enfrentar cara a cara um bando de ladrões de gado no O.K. Corral em Tombstone, Arizona.

Pablo Aluísio.

De Arma em Punho

Ransome Callicut (Randolph Scott) é um forasteiro que chega na pequena vila de Los Angeles, um lugar inóspito perdido no meio do deserto, infestada de malfeitores. Ele desembarca no local afirmando ser um simples professor de crianças mas o oficial da cavalaria na região, o capitão Roy Giles (Philip Carey), acredita que ele esteja mentindo pois é bastante parecido com um major desertor das forças armadas durante a guerra civil. Enquanto investiga o recém chegado ele percebe que Ransome está cada vez mais envolvido nos problemas políticos locais. Há um grupo de rebeldes que deseja a separação do sul da Califórnia da federação americana, o que pode levar a uma nova guerra de secessão. Afinal qual seria a ligação entre o misterioso personagem de Randolph Scott com a turbulenta situação política em Los Angeles? “De Arma em Punho” é mais uma produção com o ator Randolph Scott para a Warner. Esse aqui tem um roteiro bem mais trabalhado com uma intrigada trama que provavelmente vá confundir um pouco o espectador menos atento. Callicut (Scott) pode ser tanto um desertor do exército como também um espião enviado pelo governo americano para investigar os problemas envolvendo os rebeldes californianos.

O filme foi rodado praticamente todo dentro do estúdio. Existem cenas em locações reais mas essas são geralmente pontuais, feitas com uma segunda unidade. As principais seqüências que contam com Scott e o elenco principal são praticamente todas recriadas em cenários dentro dos estúdios da Warner. Hoje em dia esse tipo de técnica é facilmente perceptível. Alguns não gostam pois soa artificial mas pessoalmente acho tudo muito charmoso e elegante. O horizonte ao longe é pintado, por exemplo, mas tudo com tão bom gosto que não há como se aborrecer com detalhes assim.

Além dos costumeiros tiroteios e perseguições “De Arma em Punho” ainda tem uma dupla de atores mais cômicos (um se veste de mulher para enganar os rebeldes) e duas sequências musicais com canções cantadas em espanhol pela atriz e intérprete Lina Romay. Para os fãs de Randolph Scott é bom salientar que "Stardust", seu lindo cavalo Palomino branco e marrom, está em cena, mostrando todo seu porte imponente e beleza. Em conclusão é isso, mais um bom filme com Scott que ainda conta com o diferencial de mostrar pequenos toques de mistério e tramas políticas. "De Arma em Punho" é um eficiente western da década de 50 que deve ser assistido pelos fãs do gênero.

De Arma em Punho (The Man Behind the Gun, Estados Unidos, 1953) Direção: Felix E. Feist / Roteiro: John Twist, Robert Buckner / Elenco: Randolph Scott, Patrice Wymore, Dick Wesson / Sinopse: Um forasteiro recém chegado a Los Angeles pode ser tanto um simples professor como um perigoso pistoleiro e desertor do exército norte-americano. A região está instável pois um grupo rebelde luta pela secessão do sul da Califórnia do resto do país.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

O Matador

Jimmy Ringo (Gregory Peck) é um famoso pistoleiro do velho oeste que chega na pequena cidade de Cayenne. Ele almeja reencontrar a mãe de seu filho, além de finalmente encontrar o garoto que não vê há muitos anos. O problema é que Ringo não consegue se desvencilhar de sua fama de rápido no gatilho. Isso lhe causa todo tipo de problemas pois sempre encontra pela frente alguém que queira desafiá-lo para um duelo. Além disso as mortes que causou nunca o deixam em paz pois sempre há alguém na espreita tentando vingar um parente, um filho ou um amigo morto por Ringo. Esse “O Matador” é um clássico absoluto do chamado western psicológico. Aqui acompanhamos Ringo tentando ter um momento de normalidade em sua vida, algo simplesmente impossível pois sua fama o precede. Assim que chega na nova cidade a garotada corre para ver o famoso pistoleiro em pessoa. Os moradores obviamente ficam apreensivos com sua presença, pois é quase certo acontecer algo inesperado na pacata localidade. Essa é uma das mitologias mais caras ao oeste americano, a do pistoleiro errante que não consegue mais viver em paz pois a cada novo lugar que chega é desafiado. Com isso acaba colecionando um enorme número de mortes em sua trajetória, além de sempre ter que enfrentar potenciais vingadores aonde quer que vá.

O personagem Jimmy Ringo interpretado por Gregory Peck é inspirado no famoso pistoleiro Johnny Ringo. Esse foi um dos mais famosos foras-da-lei do velho oeste. Sua história é bem conhecida por historiadores e especialistas no assunto. Ele era inimigo declarado do famoso xerife Wyatt Earp e seus irmãos, além de possuir uma grande rixa pessoal com o famoso Doc Holliday. De fato ambos se odiavam. Quase sempre se encontrando em esfumaçados saloons a dupla entrou em confronto várias vezes. Infelizmente o roteiro de “O Matador” esqueceu de citar Doc na história de Ringo, embora não tenha esquecido de colocar Wyatt Earp no enredo. Aliás é bom frisar que muita coisa ficou fora da produção, o que é compreensível, pois o filme não se propõe a ser uma biografia de Ringo, mas apenas ser um bom western psicológico – o que faz muito bem.

Na história real Ringo foi o principal suspeito da morte de Virgil Earp, irmão do famoso xerife. Algum tempo depois foi encontrado morto no deserto e sua morte até hoje é motivo de controvérsias. Algumas teorias afirmam que ele encontrou-se finalmente com Doc Holliday em uma última e decisiva vez e que teria sido morto em um duelo mortal contra o famoso pistoleiro, mas nada disso é mostrado no filme. Seu destino aliás toma outros rumos no roteiro dessa produção, de forma totalmente ficcional. O resultado final, apesar das omissões históricas propositais, é de alto nível. Até hoje “O Matador” é citado em livros e revistas especializadas sobre cinema e western, sendo considerado um dos grandes faroestes do cinema americano. Johnny Ringo apareceria em muitas outras ocasiões no cinema, geralmente retratado como vilão sanguinário. O que importa aqui é a forma como parte de sua história é contada. Impossível não recomendar “O Matador”, um filme obrigatório para quem gosta da história do oeste selvagem.

O Matador (The Gunfighter, Estados Unidos, 1950) Direção: Henry King / Roteiro: William Bowers, William Sellers / Elenco: Gregory Peck, Helen Westcott, Millard Mitchell, Karl Malden, Jean Parker, Skip Homeier / Sinopse: Jimmy Ringo (Gregory Peck) é um famoso pistoleiro no velho oeste que vai até uma pequena cidade para conhecer seu filho, um garoto de 8 anos que há muito tempo não vê. No caminho começa a ser perseguido por três irmãos de um dos cowboys que matou durante um duelo em um saloon. O confronto se mostra inevitável e tudo se torna apenas uma questão de tempo.

Pablo Aluísio. 

Raça Brava

Martha Price (Maureen O'Hara) é uma viúva que ao lado de sua filha, Hilary (Juliet Mills), e do cowboy Sam Burnett (James Stewart) resolve partir para o distante Texas com o objetivo de implantar a criação de gado da raça Hereford na região. A iniciativa dela esbarra na mentalidade dos fazendeiros texanos que acham o animal inapropriado para criação por causa do clima hostil e inóspito."Raça Brava" é um "Western de pecuária", ou seja, um faroeste diferente que lida com um tema pouco comum no gênero - a implantação do gado Hereford nas fazendas do oeste, A raça Hereford é natural da Inglaterra e só chegou nos EUA no século XIX. Forte e resistente hoje domina as fazendas americanas, o que não deixa de ser irônico pois quando chegou na América encontrou grande resistência no mercado pecuarista. Embora baseado em fatos reais o filme toma várias liberdades, preferindo deixar o tom mais sério de lado para abraçar um desenvolvimento mais soft, leve, de pura diversão. Há cenas cômicas (como a luta inicial dentro de um curral) e uma abordagem mais romântica na fase final da produção mas no saldo final, mesmo não sendo um produto historicamente fiel aos fatos, vale como diversão familiar descompromissada.

O elenco é liderado por James Stewart. Aqui ele prefere uma caracterização bem mais caricata pois seu personagem, um cowboy caipira, fala com forte sotaque. Stewart parece seguir o tom mais cômico do roteiro. A grande surpresa no elenco feminino vem com a dama Maureen O´Hara de tantos filmes clássicos. Preferida de grandes diretores como John Ford, Henry King e Alfred Hitchcock aqui ela tenta se adaptar a um tipo de produção diferente. A elegante atriz empresta muito glamour à sua personagem, uma britânica viúva que tenta a sorte no velho oeste. Na direção temos o também britânico Andrew V. McLaglen que iria nos anos seguintes iniciar uma produtiva parceria ao lado de um de seus atores preferidos, John Wayne. Em suma, “The Rare Breed” é um faroeste bucólico, levemente bem humorado, com muitas paisagens de cartão postal e um elenco carismático. Uma produção bonita e bem fotografada que vai interessar em especial os criadores de gado da raça Hereford.

Raça Brava (The Rare Breed, Estados Unidos, 1966) Direção: Andrew V Mclaglen / Roteiro. Ric Hardman / Elenco: James Stewart, Maureen O'Hara, Brian Keith, Juliet Mills, Don Galloway, Jack Elam, Ben Johnson / Sinopse: Martha Price (Maureen O'Hara) é uma viúva que ao lado de sua filha, Hilary (Juliet Mills), e do cowboy Sam Burnett (James Stewart) resolve partir para o distante Texas com o objetivo de implantar a criação de gado da raça Hereford na região. A iniciativa dela esbarra na mentalidade dos fazendeiros texanos que acham o animal inapropriado para criação por causa do clima hostil e inóspito.

Pablo Aluísio.